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Áyla Marques Oliveira David Nogueira Silva Marzzoni Rafael da Silva Pereira Do município a união: o tributo na salvaguarda do meio ambiente 1ª ed. Piracanjuba-GO Editora Conhecimento Livre Piracanjuba-GO Copyright© 2020 por Editora Conhecimento Livre 1ª ed. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Oliveira, Áyla Marques O49D Do município a união: o tributo na salvaguarda do meio ambiente / Áyla Marques Oliveira. David Nogueira Silva Marzzoni. Rafael da Silva Pereira. – Piracanjuba- GOEditora Conhecimento Livre, 2020 50 f.: il DOI: 10.37423/2020.edcl87 ISBN: 978-65-86072-79-2 Modo de acesso: World Wide Web Incluir Bibliografia 1. Ecologia 2. Cuidado 3. Governo I. Oliveira, Áyla Marques II. Marzzoni, David Nogueira Silva III. Pereira, Rafael da Silva IV. Título CDU: 333.72 https://doi.org/10.37423/2020.edcl87 O conteúdo dos artigos e sua correção ortográfica são de responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores. EDITORA CONHECIMENTO LIVRE Corpo Editorial Dr. João Luís Ribeiro Ulhôa Dra. Eyde Cristianne Saraiva-Bonatto MSc. Anderson Reis de Sousa MSc. Frederico Celestino Barbosa MSc. Carlos Eduardo de Oliveira Gontijo MSc. Plínio Ferreira Pires Editora Conhecimento Livre Piracanjuba-GO 2020 Do município a união: o tributo na salvaguarda do meio ambiente 10.37423/2020.edcl87 Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 4 Resumo: Nas últimas décadas, os direitos humanos receberam ampla proteção jurídica, passando a ser afirmados em tratados, convenções e diplomas constitucionais de diversos Estados e Organismos Internacionais.Uma das principais manifestações dessa evolução está consignada na Constituição Federal brasileira de 1988, que apontou expressamente a dignidade da pessoa humana como princípio fundamental.A partir de então, todos os demais conjuntos de normas, constitucionais e infraconstitucionais, devem pautar-se por esse princípio geral. Nesse sentido, o sistema tributário delineado pela Constituição exige estrita observância da dignidade humana na instituição de impostos, taxas e contribuições de melhoria. Ainda com fundamento na dignidade humana, a proteção ao meio ambiente ganhou status de norma constitucional. Assim, a sociedade e as instituições democráticas passaram a perseguir a concretização desse princípio das mais variadas formas, foi então que os tributos começaram a ser concebidos também como instrumentos de tutela ambiental, atingindo o objetivo maior de preservar a dignidade da pessoa humana. Este trabalho tem por objetivo apenas identificar a necessidade de modo simples e sistemático esse regime jurídico, que se pode intitular de direito ambiental tributário. Abordando, de forma básica e simples os temas tributários relacionados ao meio ambiente natural. Palavras-Chave: Tributo, meio ambiente, equilíbrio, Constituição Federal. Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 5 DEDICATÓRIA: “Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seus semelhantes. Vivemos numa época perigosa. O homem domina a natureza antes que tenha aprendido a dominar-se a si mesmo”. (Albert Schweitzer) “Há falta de oxigênio e sol dentro do mundo jurídico. O direito não amanhece. Não chove. Dentro do direito não transitam nuvens e nem sopram ventos. As entidades do mundo jurídico não têm carne e nem temperatura. Jamais foi escutado canto de pássaro dentro do Código Florestal Ou vislumbrado peixe no Código das Águas. Da Lei brotam artigos, parágrafos, alíneas, remissões. Sequer uma flor ou ramo verde. A vida do animal humano é muito curta e eu só tenho uma. Entre o direito e a abóbora eu optei pela abóbora’’ (Carnaval tributário, Alfredo Augusto Becker) Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 6 AGRADECIMENTOS A todos que direto ou indiretamente contribuíram para que fosse possível a realização deste trabalho. A todos os nossos mestres que contribuíram com a nossa formação acadêmica e profissional. Muito obrigado em especial a nossos Familiares. Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 7 Sumário INTRODUÇÃO: ............................................................................................................................................................ 8 CAPÍTULO I: A CONSTITUIÇÃO FEDERAL COMO GENÊSE DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO .................................. 9 1.1.BRASILEIROS E ESTRANGEIROS RESIDENTES NO PAÍS COMO DESTINATÁRIOS DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS NO ÂMBITO CONSTITUCIONAL E O DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO ............................ 11 1.2.OS DIREITOS E DEVERES CONSTITUCIONAIS COLETIVOS, A PROTEÇÃO DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS E O DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO ........................................................................................................................12 1.3.O DIREITO AO MEIO AMBIENTE EM FACE DO ART.225 DA CF- ASPECTOS FUNDAMENTAIS QUANTO AO SEU CONTEÚDO ............................................................................................................................................................... 13 CAPÍTULO II: IMPOSTOS, TAXAS E CONTRIBUIÇÕES DE MELHORIA COMO INSTRUMENTOS DESTINADOS A TUTELAR BENS AMBIENTAIS ................................................................................. ..................................................................17 2.1. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO FUNDAMENTO DESTINADO A INTERPRETAR OS IMPOSTOS, AS TAXAS E A CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA ................................................................................................................ 18 CAPITULO III: A NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA: A RELEVÂNCIA DOS ASPECTOS QUE COMPÕEM A CHAMADA HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA ..................................................................................................................... 23 CAPÍTULO IV: OS TRIBUTOS, CASOS DE SUA APLICAÇÃO COMO MEIO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE .................. 32 4.1.EM FACE DAS CIDADES ....................................................................................................................................... 32 4.2.EM FACE DOS ESTADOS ...................................................................................................................................... 34 4.3.EM FACE DA SAÚDE ............................................................................................................................................ 36 4.4.EM FACE DOS RECURSOS NATURAIS ................................................................................................................... 38 4.5.ITR AMBIENTAL .................................................................................................................................................. 39 4.6.ICMS AMBIENTAL ............................................................................................................................................... 41 4.7.O IPTU ................................................................................................................................................................ 43CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 45 NOTAS ...................................................................................................................................................................... 46 Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 8 INTRODUÇÃO: Em meio à sociedade complexa e de rápido crescimento, nasceu um novo valor constitucional que também pode ser considerado princípio: a sustentabilidade, que vem sendo estudada hodiernamente de forma mais intensa. Mais precisamente, nesta quadra do século observam-se os estudos sobre a temática, dando a ela visão nova dotando maior importância. Neste contexto, vale comentar que, a própria sustentabilidade, que antes não passava de mera palavra conceitualmente postada em dicionários passou a ser enfocada como valor constitucional no Brasil a partir de 1988 - bem como princípio, o que dota de maior repercussão, importância e valoração à sustentabilidade. Nesta senda. Não resta dúvida de que as formas de proteção ao ambiente e a sustentabilidade podem ser preventivas ou ainda repressivas. Nesta linha vê-se o tributo como uma das saídas para a proteção destes direitos fundamentais que devem ser respeitados por sua importância sistêmica, jurídica e real. Então encontrar um equilíbrio entre o meio ambiente e o desenvolvimento econômico é uma tarefa difícil para os dias de hoje, e que deverá ser feita através de políticas públicas, principalmente aplicando o Direito Tributário como harmonizador deste conflito uma vez que, cabe ao incentivo tributário ambiental gerar a precaução e a prevenção ambiental no desenvolvimento econômico de uma nação e suas cidades. Fomentamos o presente trabalho partindo da análise do modelo de Estado liberal, sua intervenção na ordem econômica e sua afetação na economia no meio ambiental, para demonstrar a importância do desenvolvimento econômico e ambiental juntos. Através de breve analise dos princípios econômicos, fazendo um paralelo entre os artigos 170 e 225 da Constituição Federal, demostrando a possibilidade de congruência entre a economia e o desenvolvimento sustentável através das políticas públicas que o Estado desenvolve, e quais os benefícios trazem para sociedade. Tratar-se-á aqui, do meio ambiente saudável como direito fundamental, seu posicionamento como bem jurídico do Estado, além dos princípios ambientais que dão sustentação para a aplicação da extra fiscalidade ambiental para o seu perfeito equilíbrio, principal base de desenvolvimento deste trabalho. Nossa proposta parte do entendimento de que a sociedade deverá através da sua educação ambiental compatibilizar o seu consumo com produtos ecologicamente equilibrados, assim aumentando as externalidades positivas, que produzem um equilíbrio na economia ambiental. Além do mais este pressuposto demostrará no decorrer do presente trabalho, quais instrumentos econômicos que o Estado pode empregar na realização do desenvolvimento sustentável. Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 9 Neste contexto, o tributo aparece de forma eficaz, principalmente na sua acepção extrafiscal como viabilizador para o equilíbrio ambiental e de uma melhor qualidade de vida junto ao desenvolvimento econômico equilibrado. Procuraremos demonstrar no decorrer deste trabalho a aplicação dos benefícios fiscais no âmbito econômico destacando a - extra fiscalidade fiscal, para encontrar o ponto de equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e o meio ambiente. Todas as abordagens serão realizadas respeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal de modo a ajudar o crescimento econômico garantindo o meio ambiente sadio. CAPÍTULO I: A CONSTITUIÇÃO FEDERAL COMO GENÊSE DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO A Constituição Federal de 1988, ao estabelecer as bases constitucionais do Sistema Tributário Nacional, fixou seus princípios gerais, sem olvidar os fundamentos que constituem a estrutura normativa do Estado Democrático de Direito brasileiro no que diz respeito à atividade tributária desse Estado. A relação fisco- contribuinte tem sua gênese não apenas nas regras ditadas pela economia capitalista ou, ainda, por uma superada visão fixada em parâmetros que interessam tão somente a abstração jurídica criadora do Estado ainda em moldes pretéritos, mas fundamentalmente na dignidade da pessoa humana, como razão de ser do sistema constitucional da República Federal do Brasil. Assim, os tributos de competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios têm sua hipótese de incidência tributária caracterizada a partir do novo desenho constitucional, desenho este que procura privilegiar muito mais do que a relação Fisco-contribuinte: primordialmente, o cidadão, o cidadão portador de direitos materiais fundamentais assecuratórios de sua dignidade. Por outro lado, atenta a realidade brasileira e claramente preocupada em atingir os objetivos apontados no art. 3º1 , a Carta Maior assegura não só os direitos materiais antes indicados, mas também a possibilidade concreta de viabilizar seu conteúdo através de meios instrumentais de acesso à Justiça, não só no plano individual, mas, principalmente, no plano adaptado a realidade demográfica brasileira (os direitos metaindividuais). A Carta Magna de 1988, ao estabelecer, em seu Título VIII, Capítulo VI (Do meio ambiente), art. 225, a existência do direito “ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”, não só fixou de maneira clara a existência no plano constitucional do direito ambiental brasileiro como estabeleceu seus parâmetros, ou seja, os critérios fundamentais destinados à sua correta interpretação. Sendo um produto cultural, como já tivemos oportunidade de salientar, o direito ambiental brasileiro tem de ser observado no contexto de nossa Carta Maior, ou seja, é um direito que não só obedece aos Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 10 princípios fundamentais elencados nos arts. 1° a 4° como se organiza na condição de direito e garantia fundamental destinada a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no País, no âmbito direcionado pelos arts. 5° e 6° de nossa Constituição Federal. Destarte, a existência de um direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado pressupõe, inicialmente, a obediência a alguns fundamentos específicos2, que adiante serão comentados de forma breve.Primeiro aspecto a ser observado. O direito ambiental brasileiro está vinculado a dignidade da pessoa humana (art.1°, III), ou seja, a pessoa humana é a verdadeira razão de ser do direito ambiental brasileiro. Claro está que nossa Carta Magna assegura o valor da dignidade como aspecto central, “primeiro fundamento de todo o sistema constitucional posto e último arcabouço da guarida dos direitos individuais”, conforme a feliz manifestação de Rizzatto Nunes3 , que procura estabelecer o começo de sua sistematização, como temos reiterado4, pela referência aos direitos fundamentais” na dupla vertente da técnica jurídica de limitação do poder do Estado e de afirmação de um ‘espaço pessoal’ na existência política” (FIORILLO, p. 30, 2013). O direito ambiental brasileiro, por via de consequência, é constituído a partir da dignidade da pessoa humana. Segundo aspecto a ser relevado. O direito ambiental brasileiro está vinculado aosvalores sociais do trabalho e da livre iniciativa (art.1°, IV), a saber: a economia capitalista que visa a obtenção do lucro estar sempre presente nas relações jurídicas ambientais, balizada pelos valores maiores e superiores da dignidade da a pessoa humana, o que significa harmonizar a ordem econômica com a defesa do ambiente (art. 170, VI, da Constituição Federal). Terceiro aspecto a ser considerado. O direito ambiental brasileiro está vinculado a soberania (art. 1°, I), ou seja, nosso direito ambiental está situado dentro de nosso poder de fazer e anular leis de forma exclusiva em nosso poder de fazer e anular leis de forma exclusiva em nosso território, organizando nossa racionalização jurídica. Daí a soberania estar inclusive ligada ao patrimônio cultural brasileiro (FIORILLO, 2013), art.216 da Carta Magna, já que as leis (e o próprio direito em nosso país, como já afirmamos) representam verdadeiramente formas de expressão portadoras de referência a identidade, a ação, a memória dos diferentes grupos formadores de nossa sociedade (FIORILLO, 1999). Quarto aspecto á analisar. O direito ambiental brasileiro está vinculado a cidadania (art.1°, II), vale dizer, harmoniza-se com nosso entendimento de cidadania (CARAZZO, 2013), que é atributo de todos os brasileiros e estrangeiros residentes no País (art. 5° da Constituição Federal), adaptado ao conceito de igual dignidade social, independentemente da inserção econômica, social, cultural e política. Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 11 Quinto aspecto importante para análise em torno da questão. O direito ambiental brasileiro está vinculado ao pluralismo político (art.1°, V), o que significa que depende das formas de controle ligadas ás estruturas de poder dentro do Estado Democrático de Direito (FIORILLO, 2013). Por outro lado, constituem objetivos fundamentais do direito ambiental brasileiro, além daqueles especificamente organizados em proveito de sua atuação, os mesmos propósitos da República Federativa do Brasil, estabelecidos no art.3° da Constituição Federal: a erradicação da pobreza e da marginalização; a redução das desigualdades sociais e regionais; a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, não só visando construir uma sociedade livre, justa e solidária como se destinando a garantir nosso desenvolvimento nacional (art.3°, I,II,III e IV). Assim, nosso direito ambiental tem princípios gerais (tanto no plano interno como no externo) e objetivos claramente positivados, que serão articulados em proveito do povo dentro de uma estrutura de poder realizada por meio de três grandes funções, indicadas no art.2° da Carta Maior, os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, que hoje configuram uma estrutura normativa na qual cada Poder exerce função preponderante. É certo que o direito ambiental também estará compreendido entre as funções de legislar e “gerenciar” o Estado Democrático de Direito (FIORILLO, 2013). Para melhor entendimento, falaremos acerca dos princípios regentes da ordem constitucional do meio ambiente. 1.1.BRASILEIROS E ESTRANGEIROS RESIDENTES NO PAÍS COMO DESTINATÁRIOS DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS NO ÂMBITO CONSTITUCIONAL E O DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO É importante ressaltar que os fundamentos e objetivos do direito ambiental anteriormente mencionado, também estruturam sua visão no plano internacional, com evidente destaque para o que estabelece a correta interpretação do art.4°, sempre em harmonia com as necessidades do povo brasileiro. As normas constitucionais brasileiras, nelas incluídas as ambientais, visam organizar nossa população em dado território em decorrência da existência de determinada economia e cultura. Daí o Título II, Capítulo I, art.5°, de a Constituição Federal brasileira estabelecer a igualdade de todos perante a lei, necessariamente vinculada a uma série de direitos e deveres que se destinam a assegurar não só o exercício de direitos sociais e individuais, mas também a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade como valores maiores de uma sociedade fundada na harmonia social. Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 12 Nesta linha, a existência de um direito ambiental se estabelece, portanto, em nosso país não apenas como direito de brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil (art. 5°), direito este que, para um país com 180 milhões de habitantes, é garantido fundamentalmente em sua feição coletiva, mas sim por força do que determina o art. 1°, III, da Carta Magna, em seu aspecto social (art.6°), o que compreende a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção a maternidade e à infância, assim como a assistência aos desamparados como conteúdo fundamental para a compreensão de qualquer direito em nosso país, nele incluído o direito ambiental. 1.2.OS DIREITOS E DEVERES CONSTITUCIONAIS COLETIVOS, A PROTEÇÃO DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS E O DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO Exatamente para fixar a existência concreta dos direitos constitucionais coletivos no Brasil, nossa Carata Magna não só disciplinou sua existência (art.5°) como propiciou sua proteção, não excluindo da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça a direito (art.5°, XXXV). Assim, o art. 129, III, da Constituição Federal foi didático ao atribuir a proteção dos interesses difusos e coletivo, e especificamente do meio ambiente, ao Ministério Público e também a terceiros, segundo o disposto na própria Constituição, bem como na lei (§1° do art.129 da CF), exatamente no sentido de reconhecer sua dimensão metaindividual. Os direitos constitucionais coletivos passaram, consequentemente, a ter uma dimensão maior e mais bem organizada, o que levou o legislador a estabelecer, no plano infraconstitucional, mas evidentemente em obediência à Constituição Federal, nova disciplina, destinada à proteção da coletividade, fixada na Lei federal n. 8.078/90, que estabeleceu a existência dos direitos metaindidividuais da seguinte forma, de acordo com Fiorillo (2013): Direitos difusos, que se apresentam como direitos transindividuais, possuindo objeto indivisível e titularidade indeterminada e interligada por circunstâncias de fato (art.81, parágrafo único, I). Direitos coletivos, que se apresentam como direitos transindividuais, com objeto indivisível e determinabilidade de seus titulares (art.81, parágrafo único, II). Direitos individuais homogêneos, que são direitos individuais, com objeto divisível e decorrente de origem comum (art.81, parágrafo único, III). Agora faremos um breve comentário acerca do art. 225 da CF. Senão vejamos. Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 13 1.3.O DIREITO AO MEIO AMBIENTE EM FACE DO ART.225 DA CF- ASPECTOS FUNDAMENTAIS QUANTO AO SEU CONTEÚDO Conforme explicado por Fiorillo (1999), o art.225 da Carta Magna estabeleceu pela primeira vez na história do direito constitucional brasileiro o direito ao meio ambiente, regrando, em consequência, no plano normativo mais elevado, os fundamentos do direito ambiental constitucional. Trata-se de um direito vinculado ao meio ambiente, e não de um direito do ambiente, ou seja, é um direito destinado a brasileiros e estrangeiros residentes no País. A análise do art. 225 da Constituição Federal conduz o interprete, na condição de operador do direito, a verificar alguns aspectos fundamentais no que se refere ao seu conteúdo. O primeiro delesé a existência do direito material constitucional caracterizado como “direito ao meio ambiente”, meio ambiente este “ecologicamente equilibrado”. Este primeiro aspecto do direito material ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direitos de todos no plano constitucional, quanto a este e seu ao conteúdo do art.225 da Constituição Federal. Devemos falar que o mesmo deve assegurar a todos a existência do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Nossa Constituição entendeu por bem não definir seu conteúdo, validando, todavia, conforme a orientação do art.23 VI5 , a competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para proteger o meio ambiente e combater a poluição6, em qualquer de suas formas. Dessa maneira, elevou ao plano constitucional a definição jurídica de meio ambiente descrita pelo art.3°, I, da Lei federal n. 6.938/81, que, já na década de 80, embora sob a égide de uma Constituição estabelecida ainda em plena ditadura militar7,definia a denominada Política Nacional do Meio Ambiente8 . Deriva daí a definição jurídica de meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Fica bem claro que a definição jurídica de meio ambiente está atrelada à tutela da vida em todas as suas formas, a saber, o direito ambiental se ocupa das relações jurídicas vinculadas a vida, conforme descrito no art. 225 da Carta Magna, é evidentemente observando os demais fundamentos, objetivos e destinatários do direito constitucional em vigor9. O direito à vida em todas as suas formas é garantido no plano constitucional de maneira ecologicamente equilibrada, ou seja, assegurou a Constituição Federal em vigor o direito à vida Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 14 relacionado ao meio, ao recinto, ao espaço em que se vive, envolvendo para a pessoa humana- principal destinatária do direito constitucional brasileiro- um conjunto de condições morais, psicológicas, culturais e materiais que vinculam uma ou mais pessoas. Isso nos autoriza a concluir que a definição jurídica de “meio ambiente ecologicamente equilibrado” criada pela Carta Magna diz respeito à tutela da pessoa humana, assim como de outras formas de organismos, adaptadas ao local onde vivem10. Primeiro aspecto fundamental em relação ao conteúdo do art. 225 assegura, no plano normativo, as seguintes tutelas jurídicas: A) tutela jurídica da pessoa humana – principal destinatária da norma constitucional - em face de suas inter-relações com o meio ambiente; B) tutela jurídica da fauna, em face dos princípios fundamentais e demais dispositivos constitucionais aplicáveis; C) tutela jurídica da flora, diante dos princípios fundamentais e demais dispositivos aplicáveis. Por outro lado, fica bem estabelecido em nossa constituição que os destinatários do direito ambiental brasileiro são aqueles a quem se dirige a norma constitucional, com amparo nos princípios fundamentais que organizam todo o sistema jurídico no Brasil. Daí se entender que, embora o conteúdo do art. 225 assegure as tutelas jurídicas antes referidas, os principais destinatários do direito ambiental brasileiro são as pessoas humanas, conforme estabelecem os fundamentos do Estado Democrático de Direito brasileiro (art.1°). A expressão “todos”, presente no art. 225, refere-se fundamentalmente às pessoas humanas apontadas em face de sua condição de cidadania, abarcadas que são pela soberania no plano de nossa Constituição Federal. Os brasileiros e estrangeiros residentes no País (art. 5°, caput) revelam-se os principais personagens, os verdadeiros protagonistas, em torno dos quais veio a ser construído o direito constitucional ambiental em vigor. Isso não significa que a fauna e a flora, conforme já aduzido, não tenham recebido importante proteção. Reconhecidas que foram no plano maior de nosso sistema jurídico como bens ambientais, passaram a ser consideradas, a partir do advento da Lei n.9.985/2000 (que regulamenta o art. 225, § 1°, I, II, III e VII, da CF), recursos ambientais, entendimento já observado no art. 3°, V, relativo à Política Nacional do Meio Ambiente. A existência, no plano constitucional, do direito material ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, como direito de brasileiros e estrangeiros residentes no País, constitui o primeiro dos quatro aspectos fundamentais vinculados ao conteúdo do art. 225 da Carta Magna. Outro ponto devendo ser considerado como o segundo: é o da confirmação no plano constitucional de que referido direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado diz respeito à existência de uma relação jurídica que envolve um bem estabelecido pela Carta Magna de 1988 (o bem ambiental)11 . Esse bem, para que possa ser reputado constitucionalmente como “bem ambiental”, vincula-se Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 15 somente àqueles considerados no plano constitucionais essencial á sadia qualidade de vida, tendo como característica estrutural ser ontologicamente um ‘bem de uso comum’ do povo. Ademais o direito ambiental revelado no plano constitucional diz respeito a existência de uma relação jurídica que vincula a pessoa humana aos denominados bens ambientais, ou seja, bens que são considerados constitucionalmente essencial á sadia qualidade de vida (art.225 da CF). Destarte, os bens ambientais são aqueles reputados essencial á sadia qualidade de vida da pessoa humana, no âmbito do que determina a Constituição Federal e em decorrência específica do comando estabelecido por nossa Carta Magna por meio de seus princípios fundamentais, ou seja: os bens ambientais são os considerados essencial á sadia qualidade de vida de brasileiros e estrangeiros residentes no País. Assim, são bens ambientais os considerados juridicamente essenciais, no sentido de preencher o conceito constitucional antes aludido, a saber, não só os valores disciplinados juridicamente em decorrência da tutela da vida da pessoa humana (o próprio patrimônio genético, a fauna, a flora, os recursos minerais etc.) como fundamentalmente em face da dignidade da pessoa humana (art.1°, III, da CF), verdadeiro fundamento a ser observado no plano normativo. Nossa Constituição Federal, tendo em vista exatamente situar de forma concreta o significado dos direitos considerados essenciais à dignidade da pessoa humana, disciplinou no art.6° um mínimo destinado aos brasileiros e estrangeiros residentes no País, ser assegurado pelo Estado Democrático de Direito, garantindo fundamentalmente: o direito a educação; o direito a saúde; o direito ao trabalho; o direito à moradia; o direito ao lazer; o direito a segurança; o direito à previdência social; o direito a proteção a maternidade; o direito a assistência aos desamparados. Referidos direitos são estabelecidos no âmbito constitucional como verdadeiro piso vital mínimo a ser necessariamente assegurado por nosso Estado Democrático de Direito12 , ou seja, a definição jurídica de “bem ambiental” está adstrita não só a tutela da vida da pessoa humana, mas principalmente a tutela da vida da pessoa humana com dignidade. Além disso, nossa Constituição fixou a natureza jurídica do bem ambiental ao asseverar ser referido bem “de uso comum do povo”, eliminando relação jurídica fixada em conceitos absolutos como os de gozar, dispor, fruir e principalmente destruir determinado bem, autorizando fazer com ele, de forma absolutamente livre, tudo aquilo que possa ser única e exclusivamente da vontade, do desejo da pessoa humana no plano individual ou meta individual. O bem ambiental, em resumo,por estar estruturado na vida em todas as suas formas, não guarda no âmbito constitucional qualquer Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 16 compatibilidade com institutos outros que não estejam adstritos ao direito de usar aludido bem (FORILLO, 2013). A existência, no plano constitucional, do bem ambiental13destinado ao uso comum do povo diz respeito ao segundo dos quatro aspectos fundamentais vinculados ao conteúdo do art.225 da Constituição Federal. Analisemos o terceiro aspecto fundamental quanto ao conteúdo do art.225 da Constituição Federal. Á imposição da Carta Magna14 ao Poder Público e a coletividade do dever de defender e preservar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado deve ser considerado como o terceiro aspecto fundamental do art. 225 da CF em face dos princípios fundamentais constitucionais e demais disposições aplicáveis. Também mereceu por parte de nossa Carta Magna garantias processuais, ou seja, instrumentos destinados a submeter á apreciação do Poder Judiciário lesões ou principalmente ameaças ao direito ambiental (art. 5°, XXXV, da CF). Especificamente, restou caracterizado pelo art.225 da Carta Magna o dever tanto do Estado como da sociedade civil não só de defender como de preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, dentro de uma concepção jurídica de que não basta tão somente defender os bens ambientais de lesão eventualmente ocorrida, mas é preciso sobretudo preservar a vida de ameaça que possa ocasionalmente surgir15 . Decorre dessa afirmação que o direito processual ambiental tem sua origem constitucional na necessidade de um direito processual ambiental preventivo, ainda que seja possível observar alternativas a lesão a vida por meio de critérios econômicos. De qualquer forma, o processo ambiental passou a ter, a partir da Constituição Federal de 1988, princípios próprios, que necessariamente deverão ser observados quando existir qualquer ameaça ou lesão aos bens ambientais (FIORILLO, 2013). A imposição constitucional apontada ao Poder Público e á coletividade, destinada a estabelecer o dever de defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, criando os princípios do processo ambiental com o objetivo de uma tutela preventiva, constitui o terceiro dos quatro aspectos fundamentais vinculados ao conteúdo do art.225 da carta Magna. Quarto aspecto: A defesa e preservação do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado para os presentes e futuras gerações. A Carta de 1988, ao garantir pela primeira vez na história constitucional brasileira determinado direito ás presentes e ás futuras gerações, apontou para a necessidade de assegurar a tutela jurídica do meio ambiente não só em decorrência da extensão de tempo médio entre o nascimento de uma pessoa humana e o nascimento do seu descendente (dentro Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 17 de sua estrutura jurídica, fundamentada na dignidade da pessoa humana), mas também devido à concepção de geração como grupo de organismos que têm os mesmos pais ou ainda como grau ou nível simples numa linha de descendência direta, ocupada por indivíduos de uma espécie, que têm um ancestral comum e que estão afastados pelo mesmo número de crias do ancestral. Reforçou juridicamente a Constituição, no âmbito jurídico material, a necessidade de tutelar um direito ambiental a partir do patrimônio genético, observando, no plano jurídico processual, um critério preventivo como único meio de garantir um direito ambiental efetivamente direcionado às futuras gerações. Este quarto e último aspecto fundamental ao conteúdo do art.225 da CF, somado aos demais já comentados, possibilita-nos estudar de forma mais didática e ordenada o direito ambiental brasileiro, com base nos dispositivos observados de forma sistemática em nossa Constituição Federal, classificado da seguinte forma, a saber16,: o patrimônio genético; o meio ambiente cultural; o meio ambiente artificial; o meio ambiente do trabalho; o meio ambiente natural. CAPÍTULO II: IMPOSTOS, TAXAS E CONTRIBUIÇÕES DE MELHORIA COMO INSTRUMENTOS DESTINADOS A TUTELAR BENS AMBIENTAIS Com base no capítulo anterior, podemos concluir para o início e contextualização deste outro que, a Constituição Federal de 1988 ao estabelecer as bases constitucionais do Sistema Tributário Nacional, fixou seus princípios gerais, sem olvidar os fundamentos que constituem a estrutura normativa do Estado Democrático do Direito Brasileiro no que diz respeito a atividade tributária desse Estado. Então, a relação Fisco- contribuinte tem sua gênese não apenas nas regras ditadas pela economia capitalista ou, ainda, por uma superada visão fixada em parâmetros que interessam tão somente à abstração jurídica criadora do Estado ainda em moldes pretéritos, mas fundamentalmente na dignidade da pessoa humana, como razão de ser do sistema constitucional da República Federativa do Brasil. Assim, os tributos de competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios têm sua hipótese de incidência tributária caracterizada a partir do novo desenho constitucional, desenho este que procura privilegiar muito mais do que a relação Fisco- contribuinte: primordialmente, o cidadão portador de direitos materiais fundamentais assecuratórios de sua dignidade. Dessa forma, faz-se necessário indicar, tanto quanto possível de forma didática, os princípios fundamentais garantidores dos direitos do cidadão/contribuinte na defesa de alguns de seus valores fundamentais (e, dentre esses valores, aqueles que envolvem as relações jurídicas adaptadas ao direito Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 18 ambiental, ou seja, de acordo com os direitos relacionados à saúde e à segurança do trabalhador, ao território vinculado às cidades, à fauna, flora e recursos naturais, ao patrimônio cultural e ainda ao patrimônio genético, garantidor da continuidade da espécie humana), bem como o acesso coletivo e organizado à justiça em proveito dos valores jurídicos fundamentais de brasileiros e estrangeiros residentes no País neste início de século XXI. Sendo assim falaremos sobre o sistema constitucional tributário e seus princípios gerais, para melhor entendermos o título do presente capítulo. 2.1. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO FUNDAMENTO DESTINADO A INTERPRETAR OS IMPOSTOS, AS TAXAS E A CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA O entendimento do que venham a ser os princípios e de sua relevância no sistema de direito positivo tem sido tema dos mais analisados e debatidos pela doutrina brasileira. O Ministro José Delgado (1988) ensina que o vocábulo “princípio” tem origem sediada no latim, principium, significando começo, origem, ponto de partida. Prossegue afirmando que a ampliação do conceito compreende, ainda, a causa primária de algo, o elemento predominante de um corpo orgânico ou preceito fundamental, regra essencial, base nuclear de qualquer entidade. Geraldo Ataliba17 , com clareza e a lucidez de sempre, afirmavam que os princípios eram as linhas- mestras, as diretrizes magnas do sistema jurídico, apontando sempre os rumos a serem seguidos por toda a sociedade e obrigatoriamente pelos poderes constituídos. Por sua vez, Diva Malerbi18, de forma sempre segura, assevera: “Os princípios constitucionais ostentam, em sua natureza jurídica, normatividade incontestável, sendo superiores a quaisquer outras normas, em razão do conteúdo (expresso ou implícito) neles cristalizados”. E continua: “Por isso mesmo, desempenham uma função positiva, consistentena afirmação do conteúdo de todas as regulações jurídicas, pois toda norma que a forma deve-se identificar com os princípios constitucionais, haurindo a sua validade na coerência e compatibilidade com eles. E desempenham, ainda, função negativa, consistente na recusa de introdução no sistema jurídico de norma cujo conteúdo se contraponha aos princípios acolhidos constitucionalmente”. Daí por que a importância e a relevância do tema na presente abordagem. Não se pode conceber a análise de qualquer sistema de direito sem antes compreender a análise de qualquer sistema de direito sem antes compreender e analisar com alguma precisão os princípios que o norteiam. Com a edição da Carta Constitucional de 1988, em oposição clara à carta anterior, o que se podia entender pelo “espírito” do texto fundamental foi radicalmente alterado. Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 19 De simples confronto entre o texto de 1967, com redação dada pela Emenda n.1, de 1969, e o texto de 1967, com redação dada pela Emenda n.1, de 1969, e o texto de 1988, nota-se que a preocupação maior na Carta de 1967 (Emenda n. 1/69), como se denota da exegese dos dezessete primeiros artigos, foi a de organizar o Estado delimitar os bens pertencentes aos entes da Federação e distribuir entre estas suas competências, estabelecendo, dessa forma, sua autonomia. Preocupação com os direitos e garantias individuais a carta pretérita só demonstrou a partir dos art.153 e seguintes, especificamente em 36 incisos compreendidos no artigo já citado. Assim é que, em 1988, encontramos encartados a partir do art.5° direitos e garantias fundamentais do cidadão brasileiro (artigo que, diversamente da Carta anterior, conta com 77 incisos e dois parágrafos). Trouxe, ainda, a nova Carta, entre seus princípios fundamentais, e como fundamento do Estado Democrático de Direito brasileiro (art. 1°), a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Esses quatro primeiros artigos destacados por si só demonstram os contornos do Estado Democrático de Direito brasileiro a partir de 1988. Dessa forma, faz-se imperioso, curial, que qualquer análise sobre qualquer tema de direito positivo que se queira realizar após 1988 passa por trilha iluminada pelos princípios fundamentais amparados e consagrados nestes quatro primeiros artigos da Constituição em vigor. Só se chegará a uma correta análise dos direitos e garantias individuais e coletivos trazidos pela Carta Maior à luz dos princípios fundamentais por ela amparados, indicados e explicitados. Assim, o Sistema Constitucional Tributário brasileiro deve necessariamente se guiar e se conformar com essas novas diretrizes, buscando, na medida do possível, adaptar seus conceitos calcados na superada Carta de 1967 (com alterações da Emenda n.1/69) a esse novo delineamento do Estado Democrático brasileiro, sob pena de flagrante vício de inconstitucionalidade. Os quatro primeiros artigos a Carta de 1988 se aplicam de forma indistinta e indiscutível também ao Sistema Tributário Nacional, não se podendo de forma alguma deixar ao largo e ignorar solenemente que, a partir de 1988, decidiu soberanamente o Poder Constituinte Originário por criar um novo Estado brasileiro, que em nada se confunde com o Estado superado de 1967, e mais, que as linhas que dirigem o Sistema Tributário estão todas “Plasmadas”, para usarmos a feliz expressão de Geraldo Ataliba na Carta Constitucional. Nesse sentido, ao prefaciar a magistral obra de Aliomar Baleeiro (2000) intitulada Limitações constitucionais ao poder de tributar, já exortava Geraldo Ataliba19, sempre de forma pioneira, que “não se conhece” – e, consequentemente, não se aplica corretamente – o Sistema tributário brasileiro, sem Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 20 amplo, maduro e profundo domínio dos princípios e regras constitucionais, abundantes e minuciosos, no que respeita à disciplina do exercício da tributação. Pois a parte básica, essencial, nodular desse imprescindível regime está nas chamadas ‘limitações constitucionais ao poder de tributar’, hoje designação formal da Seção II do capítulo do “Sistema Tributário Nacional”, no Texto Constitucional. Aliomar Baleeiro (p. 55, 2000), por sua vez, acertadamente já asseverava que: “O sistema tributário movimenta-se sob complexa aparelhagem de freios e amortecedores, que limitam os excessos acaso detrimentosos a economia e à preservação do regime e dos direitos individuais. (...) A defesa do sistema tributário e do próprio regime político do país processa-se por um conjunto de limitações ao poder ativo de tributar”. Com efeito, verificamos que a partir da promulgação da Carta de 1988 não se pode, de forma alguma, analisar a relação Fisco- contribuinte ignorando que o valor maior da dignidade da pessoa humana foi alçado a fundamento da República Federativa do Brasil, assumindo nítida feição no sentido de situar a arrecadação de quantia em dinheiro advinda da atividade tributária como um todo, em proveito da pessoa humana, a fim de que o Estado possa cumprir sua função social, assegurada pelo art.6° do texto Maior, o chamado Piso Vital Mínimo20 . No que se refere especificamente ao direito tributário, observamos que o Poder Público, no exercício do direito impositivo – que consiste em tirar do particular, compulsoriamente, parcela de seu patrimônio, representada pelo tributo previsto em lei, para fazer face às chamadas despesas públicas -, acaba interferindo diretamente em direitos fundamentais dos cidadãos, como a liberdade, a propriedade e outros direitos materiais constitucionais. Essa linha de pensamento justificativa que a arrecadação de quantia em dinheiro por parte do Estado haveria que se dar necessariamente tendo em vista o aludido interesse público, sendo certo e correto afirmar que o Estado, nesse sentido, já não podia tributar, nem poderia fazê-lo licitamente apenas e tão somente para “enriquecer”. Cabe reiterar que a tributação, tendo por fim último o chamado interesse público, era a realidade do Estado brasileiro até 1988, quando vigorava e direcionava as atividades de nosso Estado a Carta Magna de 1967, com as alterações experimentadas pela Emenda n. 1/69. No novo Estado brasileiro, todavia a pessoa humana passa a orientar a correta interpretação de nossa Carta Magna. Destarte, o Estado passa a ter como principal função fornecer serviços públicos, a fim de realizar o que a Carta de 1988 convencionou chamar de dignidade da pessoa humana, ou seja, a atividade de tributar nesse novo Estado brasileiro passa a ter por fim último o atendimento e a satisfação dos direitos sociais Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 21 elencados no art. 6° do texto Maior, a bem do interesse de toda a coletividade de brasileiros e estrangeiros residentes no País, assegurando de forma serena a dignidade da pessoa humana. A arrecadação de quantia em dinheiro por parte dos entes dotados de competência tributária, na forma do texto Constitucional, para “angariar” recursos financeiros para o Estado certamente constitui imposição do direito tributário, a Carta de 1988 houve por bem determinar que a dignidade da pessoa humana constitui objetivo fundamental desse novo Estado. A tributação não pode, dessa forma, servir para atropelar tal desiderato constitucional. O meio será a arrecadação compulsória por parte do Estado, mas o fim último, que deverá ser observado também pelo moderno direito tributário, há queser a observância da dignidade da pessoa humana, até por questões de sobrevivência da própria economia capitalista – opção do Estado brasileiro, de acordo com o texto constitucional. O Estado brasileiro não apenas admite, mas antes direciona toda a atividade tributária no país a bem da coletividade de pessoas. O fim último da tributação no Brasil frise-se novamente, há que ser sempre a pessoa humana, e este é o direcionamento traduzido pela Constituição Federal. Da forma como se apresenta a atividade tributária hoje no Brasil notamos, de forma evidente, que os interesses do Estado (e indiretamente de quem o governa em dado momento histórico) acabam sempre atropelando o desiderato constitucional; a carga tributária vem sofrendo reiterados aumentos, e sempre a bem dos interesses desse Estado, ignorando – se de forma compulsória as diretrizes constitucionais e fazendo com que a Carta de 1988 se transforme em mero periódico. Não se pode admitir de forma alguma tal confusão. O contribuinte não pode ser penalizado pela má gerência da chamada “coisa pública”, pagando com os recursos obtidos em sua atividade produtiva, por exemplo, empréstimos realizados pelo Governo Federal sem a concordância ou mesmo sem a consulta desses contribuintes, que acabam, por assim dizer, pagando a conta. Já vaticinava o grande mestre Alfredo Becker, nos idos de 1999, que aos contribuintes só restará a tanga e além desta, apenas a fé e a esperança na mudança desse estado de coisas simultaneamente com a mudança dos ministros da Fazenda e do Planejamento. O Estado Democrático de Direito brasileiro passou a traduzir, a partir de 1988, regras claras sobre a forma pela qual se deve processar a atividade tributária no Brasil. De forma inovadora, como já afirmado, o Sistema Tributário Nacional se encontra todo delineado na Constituição, ou seja, as regras, as diretrizes, as balizas estão todas lá. No que se refere ao chamado direito ambiental tributário, verificamos que a atividade pública de tributar, nos entes que compõem a Federação brasileira, revela balizas rígidas e diversas limitações, Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 22 representadas pela necessária observância dos princípios constitucionais tributários, tais como: isonomia, capacidade contributiva, legalidade ou estrita legalidade, irretroatividade, anterioridade, proibição de confisco e outros princípios encontrados na Carta Magna. Na verdade, esses princípios, de acordo com doutrina inaugurada por Aliomar Baleeiro (2000) e alçada a texto Constitucional, apresentam-se, em matéria de direito tributário, como verdadeiras amarras, a limitar a atividade estatal dentro dos parâmetros por eles traçados. São as chamadas limitações constitucionais ao poder de tributar, que compõem o chamado Estatuto do Contribuinte. Vejamos agora de forma breve alguns aspectos gerais sobre a competência em matéria tributária. No Estado Democrático de Direito brasileiro as competências (legislativa e administrativa) das pessoas políticas se encontram perfeitamente discriminadas no corpo do texto Constitucional, mormente no que se refere a chamada competência legislativa tributária (competências constitucionalmente definidas para elaborar leis tributárias). Sobre o assunto, Roque Carrazza (p. 00, 2013) precisamente nos ensina que “no Brasil, por força de uma série de dispositivos constitucionais, não há que se falar em poder tributário (incontestável, absoluto), mas tão – somente em competência tributária (regrada, disciplinada pelo Direito) ”. Explicando a colocação acima reproduzida, o ilustre Professor esclarece que entre nós a força tributante estatal não atua livremente, mas antes dentro dos limites impostos pelo direito positivo. Dessa forma, terminologicamente não seria correta a afirmação de que as pessoas políticas no Brasil são dotadas de poder tributário, mas sim de competências tributárias. Estas foram repartidas entre os entes políticos a fim de afirmar de forma definitiva sua autonomia e sujeição ao ordenamento jurídico – constitucional. Continua o Professor Roque Carrazza (p. 62, 2013) apresentando o conceito definitivo do que venha a ser competência tributária, a saber: “Competência tributária é a aptidão para criar em abstrato tributos. No Brasil, por injunção do princípio da legalidade, os tributos são criados, in abstrato, por meio de lei (art. 150, I, da CF), que deve descrever todos os elementos essenciais da norma jurídica tributária os que de algum modo influem no an e no quantum do tributo; a saber: a hipótese de incidência do tributo, seu sujeito ativo, seu sujeito passivo, sua base de cálculo e sua alíquota. Esses elementos essenciais só podem ser veiculados por meio de lei”. Das diretrizes traçadas pelo ilustre Professor, observamos claramente que, de acordo com as regras amparadas pelo texto Constitucional em vigor, as pessoas políticas no Brasil não são dotadas de poder Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 23 tributário, mas sim de competência tributária, sendo esta manifestação inequívoca da autonomia outorgada a cada uma das pessoas políticas que formatam o Estado Democrático de Direito brasileiro. A competência tributária se exaure com a edição da lei pela pessoa política competente. Após esse momento, não mais se falará em competência tributária, mas sim em capacidade tributária ativa, ou seja, o poder de arrecadar o tributo após efetiva ocorrência da hipótese de incidência. Dessa forma, extrai-se do próprio Texto Constitucional que as competências tributárias foram repartidas entre os entes que compõem a Federação, consagrando-a definitivamente. A competência tributária caracteriza-se por ser privativa, indelegável, incalculável, inalterável, irrenunciável e de exercício facultativo. CAPITULO III: A NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA: A RELEVÂNCIA DOS ASPECTOS QUE COMPÕEM A CHAMADA HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA Chegamos ao ponto crucial do desenvolvimento do presente trabalho, chegamos a questão. Geraldo Ataliba (p. 42, 2000), em minuciosa obra, ao expor seu pensamento sobre a estrutura da norma jurídica, e seu ponto de partida, em nosso entendimento, para chegar à norma jurídica tributária, esclarece: “A estrutura das normas jurídicas é complexa; não é simples, não se reduz a conter um comando pura e simplesmente. Toda norma jurídica tem uma hipótese, um mandamento e uma sanção. Verificada a hipótese o mandamento atua, incide”. Continua o consagrado autor (p. 37): “Na hipótese de incidência se concentram as questões mais tormentosas e complexas. Diante de cada problema, a dissecação da hipótese é que desafia o jurista.Reconhecer as coisas e pessoas qualificadas, desvendar as imputações e seus efeitos, contidos na lei, inter- relacionar as normas, aí está a grande e difícil tarefa do hermeneuta, em cada caso concreto”. Amparado dessa forma pelas conceituações de Kelsen a respeito da estrutura da norma jurídica, o eminente Professor assevera que a norma jurídica tributária, como qualquer outra norma jurídica, tem sua incidência condicionada ao acontecimento de um fato previsto na hipótese legal, fato este cuja verificação acarreta automaticamente a incidência do mandamento. Dos critérios acima adotados, temos que a norma jurídica tributária é constituída pelos mesmos componentes que estruturam as demais normas jurídicas: hipótese de incidência, mandamento e sanção. Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 24 A hipótese da incidência é, portanto, a descrição hipotética e abstrata de um fato. É o meiopelo qual o legislador institui um tributo. Nada mais é do que o desenho hipotético de um fato tributável com previsão legal. Aricê Moacyr Amaral Santos, que se debruçou sobre o assunto em questão, buscando amparo nos conhecimentos de Ataliba, nos ensina com clareza que, consumado tal fato (fato imponível) – expressão adotada pelo autor-, desencadeia-se inexoravelmente o mandamento contido na norma tributária, obrigando, destarte, alguém a pagar uma certa soma de dinheiro ao Estado. Já a sanção da norma tributária reveste-se de característica toda específica, não somente por implicar um castigo, mas por compreender, além disso, outros preceitos jurídicos, como salienta o tratadista na passagem que se transcreve (ATALIBA, p. 94, 2013): “Descumprido o mandamento ‘pague Cr$ 1, 00 ao estado’, incidem automaticamente os preceitos que incrementam o volume do débito com juros, multas, correção monetária, etc. e tem lugar a execução coativa do total assim devido”. Temos por certo que no Brasil a norma padrão de incidência, a regra matriz de cada uma das exações, encontra-se descrita de forma direta ou mesmo indireta na Carta Constitucional. É a Constituição quem dará sempre ao legislador ordinário o “caminho das pedras”, quem indicará o caminho que este poderá lidimamente trilhar a fim de afastar possíveis inconstitucionalidades, instituindo tributo à revelia do traçado previamente estabelecido pelo legislador constitucional. A respeito do assunto não há como deixar de citar novamente Roque Carrazza (p. 14, 2013). O ilustre Professor houve por bem colocar definitivamente fim a qualquer controvérsia porventura existente sobre o assunto. Vejamos: “A constituição, ao discriminar as competências tributárias, estabeleceu – ainda que, por vezes, de modo implícito e com uma margem de liberdade para o legislador – a norma padrão de incidência (o arquétipo, a regra – matriz) de cada exação”. Noutros termos, ela (a Constituição) apontou a hipótese de incidência possível e a alíquota possível, das várias espécies e subespécies de tributos. Em síntese, o legislador, ao exercitar a competência tributária, deverá se manter fiel à norma – padrão de incidência do tributo, pré-traçada na Constituição Federal. Temos, portanto, que compete ao legislador constitucional à descrição primeira da hipótese de incidência dos tributos que ela mesma permite sejam instituídos no Estado Democrático de Direito brasileiro. É ao legislador constitucional que primeiramente compete fixar as balizas de cada um dos tributos trazidos pelo texto Maior. Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 25 Analisando os aspectos essenciais da hipótese de incidência tributária, temos que este se encerra na verdade da análise apta a identificar o próprio tributo. Cada hipótese de incidência só é igual a si mesma, distanciando-se dessa forma das demais de forma evidente. Nas palavras de Geraldo Ataliba (p. 78, 2013), “a hipótese de incidência é o núcleo do tributo- cada tributo só é igual a si mesmo (aliás é o que permite classificar os tributos em espécie e subespécies) ”. Continua (p. 87): “Assim, uma e única é a h.j ‘vender mercadorias’, ou ‘receber rendimentos’ ou ‘ introduzir mercadorias no território do país’, embora se refira a atos complexos ou fatos constituídos de elementos heterogêneos e múltiplos. Uma e incindível é a h.i., ainda quando a realidade que conceitua seja integrada por elementos vários, como, por exemplo, ‘transmitir um imóvel’. Não constitui h.i., só o ato de transmitir, nem só o imóvel, mas a conjugação dos dois termos, conceitualmente, que só se reporta ao ‘ ato de transmitir que tem por objeto um imóvel’. Este complexo é que, por lei, é qualificado como hábil a determinar o nascimento de obrigações tributárias, erigindo- se, pois, em hipótese de incidência tributária”. Como podemos ver para o renomado Mestre, a hipótese de incidência é parte da norma tributária; o legislador institui um tributo quando descreve sua hipótese de incidência, associando a ela o mandamento “pague”. Realizada no mundo fenomênico a descrição hipotética contida na lei, está-se diante do fato imponível. O fato imponível, ainda de acordo com Geraldo Ataliba (2013), está para a hipótese legal assim, logicamente com o objeto está para o conceito. Os aspectos da hipótese de incidência são as qualidades que esta tem de determinar hipoteticamente os sujeitos da obrigação tributária, bem como seu conteúdo substancial, local e momento de nascimento. Daí designarmos os aspectos essenciais da hipótese de incidência tributária por: a) aspecto pessoal; b) aspecto material; c) aspecto temporal e d) aspecto espacial. Pois bem, analisadas as premissas básicas e necessárias para o estudo que envolve o direito ambiental tributário, passaremos a tratar de forma sucinta as espécies de tributos previstas no ordenamento jurídico brasileiro. A classificação dos tributos: impostos, taxas e contribuição de melhoria. A carta de 1988, como não poderia deixar de ser, não conceitua de forma definitiva o que venha a ser “tributo”, deixando essa tarefa ao legislador infraconstitucional. O bem da verdade, o legislador de 1988 acabou indicando as espécies tributárias admitidas, oferecendo uma classificação jurídica dos tributos. Esse direcionamento se traduz o art.145, no qual o Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 26 legislador constituinte confere às pessoas políticas de competência tributária para criar impostos, taxas e contribuições de melhorias. Roque Carrazza (2013) esclarece que a Carta de 1988 não apenas classificou as espécies e subespécies tributárias, mas ainda estabeleceu o regime jurídico que cada uma delas deverá necessariamente observar, vinculando o legislador ordinário da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A classificação, no entendimento do ilustre Mestre, longe de ser apenas nominal, é conceitual, sendo o modelo de cada tributo traçado de forma permanente no próprio Texto Maior. O legislador de 1988 indicou ainda outras duas espécies de tributos, quais sejam, as contribuições especiais (tributos com destinação específica) e os empréstimos compulsórios (tributos restituíveis). Essas duas espécies ora podem assumir a feição de impostos, ora de taxas e eventualmente até, no que se refere aos empréstimos compulsórios, de contribuição de melhoria, sendo, assim, espécies tributárias que se subsumem nas três espécies, outras antes apontadas – tudo de acordo com a hipótese de incidência e a base de cálculo que apresentarem. Verifica-se, assim, que o legislador de 1988 houve por recepcionar a classificação das espécies tributárias traduzida no art.5° do Código Tributário Nacional (os tributos são impostos, taxas e contribuição de melhoria), acrescendo a estas outras duas espécies de tributos, quais sejam, as contribuições especiais e o empréstimo compulsório. Estas últimas duas espécies, a par de traduzir inequívoca natureza jurídica tributária, ora podem revestir natureza de imposto, ora de taxa e excepcionalmente, no que se refere ao empréstimo compulsório, de contribuição de melhoria, conforme acima destacado. Releva ressaltar que, por revestirem natureza jurídica tributária, todas as espécies e subespécies acima apontadas se submetem ao regime jurídico tributário (princípios e normas) indicado na Constituição Federal e em sua integralidade. Dos impostos, as taxas e a contribuição de melhoria como instrumentos destinados a tutelares bens ambientais. De acordo com a classificação acima indicada, passaremos a analisar a possibilidade de utilização dos impostos, taxas e da contribuição de melhoria em razão do bemambiental. Verificamos que a Constituição Federal estipula, de forma peremptória: “Art.145”. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I – Impostos; II – Taxas, em razão do exercício efetivo do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; III – contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas”. Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 27 Com base no direcionamento oferecido pela Constituição Federal, analisemos de forma mais próxima essas três espécies de tributos, verificando se de fato é ou não viável sua utilização em razão dos bens ambientais, seja de forma direta, seja de forma indireta. Os impostos representam, de forma objetiva, a aparte mais substancial das receitas arrecadadas pelo Estado em países de estrutura capitalista. O produto arrecadado a título de impostos é sem sombra de dúvida, bem mais representativo aos cofres públicos do que as receitas provenientes das taxas ou da contribuição de melhoria. Imposto, de acordo com o estipulado no art.16 do Código Tributário Nacional, vem a ser “o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal especifica, relativa ao contribuinte”. O imposto difere de taxa e da contribuição de melhoria por representar, segundo a classificação amparada por Geraldo Ataliba (2000), espécie de tributo não vinculado a nenhuma atividade estatal especifica. Nas palavras do insigne Mestre (p. 45): “É tributo cuja hipótese de incidência consiste na conceituação legal dum fato qualquer que não constitua numa atuação estatal, mas antes um fato qualquer da esfera jurídica do contribuinte”. Se paga o imposto independentemente de qualquer prestação estatal específica direcionada ao contribuinte ou por ele provocada. Tendo em vista o fato de que o fim último da tributação no Brasil, conforme já afirmado, há que ser sempre a pessoa humana, e que os bens ambientais correspondem àqueles bens considerados, no plano normativo, essencial á sadia qualidade de vida, reprisamos que a definição jurídica de bem ambiental está vinculada de forma direta e imediata não só à tutela da pessoa humana, mas antes à tutela da vida da pessoa humana com dignidade. Esta será preenchida de forma adequada de acordo com o preceito normativo indicado pelo legislador de 1988 no art.6° da Constituição Federal, com a implementação do que chamamos de piso vital mínimo. Resta-nos agora saber se de fato os impostos poderiam ser instrumentos úteis à implementação do chamado piso vitais mínimos, assegurador e garantidor da dignidade da pessoa humana no plano normativo brasileiro. Desde logo destacamos a real dificuldade de utilização dos impostos a favor dessa finalidade, por conta de sua estrutura normativa, o que inclusive nos chamou a atenção para a escolha do assunto para a monografia presente. Senão vejamos. Um dos princípios que devem necessariamente ser seguidos pelo detentor da competência tributária quando da instituição dos impostos discriminados pela Constituição Federal é o da não vinculação do Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 28 produto arrecadado a fundo, órgão ou despesa, princípio expresso na Carta Constitucional em seu art. 167, IV. Explica-nos, didaticamente, Luciano Amaro (2013) que impostos não incorporam em seu conceito a destinação a esta ou aquela atuação estatal, que de alguma forma possa ser referida ao contribuinte. E é justamente a inexistência de tal característica que integra o conjunto de notas distintivas dessa espécie tributária. É natural que o dinheiro arrecadado no exercício da tributação pela via dos impostos tenha destinação pública. Entretanto, os benefícios recebidos pelo cidadão não são diretos, mas antes indiretos, difusos, em favor de toda a comunidade. Roque Carrazza (p. 67, 2013) elucida: “Deveras o imposto encontra seu fundamento de validade, apenas, na competência tributária da pessoa política, não havendo necessidade, para que ele seja instituído e cobrado, de que o Poder Público desenvolva, em relação ao contribuinte qualquer atividade específica”. Dessa forma, não se pode falar em correlação entre certo serviço prestado pelo Estado e os contribuintes de modo geral, embora seja correta a afirmação de que algumas vezes a renda obtida com determinado imposto seja especializada para suportar certo serviço ou encargo. A utilização de impostos em favor dos chamados bens ambientais fica na verdade extremamente dificultada por conta do fundamento acima explicitado. O produto da arrecadação proveniente da receita dos impostos não pode, assim, ser destinado, afetado, a determinado aparelhamento estatal ou paraestatal nem a entidades privadas que persigam finalidades de interesse público. Expliquemos melhor. Os valores provenientes da arrecadação por meio dos impostos não podem ser destinados, por exemplo, a custear, financiar a proteção ambiental, em nenhuma de suas formas, por força de imperativo constitucional traduzido por princípio expresso na Carta Maior. Isso não quer dizer, no entanto que nossa Constituição não tenha amparado determinados impostos e lhes conferido, indiscutivelmente, como no caso do IPTU, natureza típica de tributo ambiental, imposto direcionado à viabilização de um bem ambiental, como as cidades. Na maioria dos casos apresentados no Texto Maior verificamos que a alternativa encontrada pelo legislador ordinário no sentido de adequar a chamada tributação ambiental na modalidade dos impostos segue no sentido da concessão de isenções, incentivos fiscais, benefícios e assim por diante. Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 29 As taxas, por sua vez, caracterizam-se como modalidade de tributo vinculado a uma atividade estatal especifica, de acordo com o sistema normativo brasileiro, identificadas como taxas de polícia ou taxas de serviço. O Código Tributário Nacional, no art.77, já estipulava, no mesmo sentido: “Art.77: As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público especifico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição”. Parágrafo único. A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador idênticos aos que correspondam a imposto, nem ser calculada em função do capital das empresas”. O contribuinte que paga a taxa recebeu efetivamente do ente estatal o serviço ou vantagem que foi colocada à sua disposição. Aliomar Baleeiro (p. 35, 2000) nos auxilia oferecendo um conceito relativo às taxas. Para ele, taxa é “a contraprestação de serviço público, ou de benefício feito, posto à disposição, ou custeado pelo Estado, em favor de quem a paga, ou se este, por sua atividade, provocou a necessidade de criar-se aquele serviço público”. Convém ressaltar que a retributividade é o princípio norteador das taxas no sistema normativo brasileiro. Assim como a capacidade contributiva informa os impostos, o caráter da contraprestação é de fato inerente a essa espécie tributária. Sobre as taxas, Geraldo Ataliba nos ensina que sua hipótese de incidência deverá ser sempre uma atuação estatal direta e imediatamente referida aos obrigados. O nascimento do tributo se dará no exato momento em que a atuação estatal se referir concretamente a alguém. Basta,para a efetivação da cobrança das taxas, apenas e tão-somente a atuação estatal; a hipótese de incidência da taxa é unicamente está. A atuação estatal, dentro dos precisos contornos traçados pela Constituição Federal, pode consistir em um serviço público ou em um ato de polícia. Roque Carrazza (2013), com a clareza dos mestres, assevera que as taxas são o tipo de tributo que mais divergências tem suscitado entre os estudiosos do direito tributário. Verifica-se, dessa forma, que grande parte das taxas instituídas e cobradas pelos entes dotados da competência tributária para tanto acaba por instituir verdadeiros impostos, mascarados com o nome de taxas – exemplo bastante claro foi à tentativa de cobrança da chamada Taxa Ambiental (Lei n. 9.960/2000), tributo considerado inconstitucional pelo STF, ainda em processo cautelar em ação direta Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 30 de inconstitucionalidade, por apresentar hipótese de incidência de verdadeiro imposto, caso este que analisaremos de forma mais pormenorizada em momento oportuno. Importa ressaltar que, de acordo com o dispositivo constitucional constante no art.145, §2°, as taxas não podem ter base de cálculo própria de impostos. Para taxas, a base de cálculo será uma medida da atuação estatal prestada ou posta à disposição do contribuinte – na maioria das vezes, o próprio custo do serviço. As taxas cobradas ao fundamento do exercício de poder de polícia serão aquelas que guardarem em seus critérios identificadores o interesse do ente que exercitará a competência tributária, no sentido de restringir ou mesmo impedir atividades e mesmo atitudes no interesse de toda a coletividade de brasileiros e estrangeiros residentes no país. O art.78 do CTN estabelece: “Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente a segurança, a higiene, a ordem, aos costumes, a disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, a tranquilidade pública ou ao respeito a propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”. Lembramos que essa definição oferecida pelo Código Tributário Nacional data de 1966, baseando-se nos ditames estipulados na Constituição de 1946. No que se refere ás taxas cobradas ao fundamento do chamado poder de polícia, Roque Carrazza (p. 473, 2013) tece oportunas considerações: “Não é qualquer ato de polícia que autoriza a tributação por meio desta modalidade de taxa, mas tão-somente o que se consubstancia num agir concreto e específico da Administração, praticado com base em lei, que levanta uma abstenção ou que mantém ou fiscaliza uma exceção já existente. O simples exercício do poder de polícia” continua o mestre, “não enseja a cobrança da taxa de polícia. O que enseja tal cobrança é o desempenho efetivo da atividade dirigida ao administrado”. Já as taxas de serviço terão por fundamento, a embasar sua cobrança, a efetiva ou potencial prestação do serviço aos contribuintes. Serviço público, para Maria Sylvia Zanella Di Pietro (p.98, 2000), vem a ser: “Toda atividade material que a lei atribui ao Estado para que a exerça diretamente ou por meio de seus delegados, com o objetivo de satisfazer concretamente ás necessidades coletivas, sob- regime jurídico total ou parcialmente público”. Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 31 Dessa forma, importa ressaltar que não é qualquer serviço público que comporta tributação por via de taxa de serviço, como os ensina Roque Carrazza (2013), mas antes aquele serviço público específico e divisível de acordo com o mandamento constitucional. Já no que se refere a utilização das taxas em razão e direcionadas aos chamados bens ambientais, temos que de fato se trata de tributação mais fácil de ser concretizada. Ocorre que, até o momento, as taxas instituídas traduzem materialidade ou base de cálculo de impostos, ferindo de forma flagrante os dispositivos constitucionais e legais atinentes a espécie tributária; em grande parte foram afastadas pelo Poder Judiciário, por uma ou outra razão. A contribuição de melhoria, de acordo com o indicativo constitucional, é tributo que deve decorrer de obra pública. Geraldo Ataliba (2000), acertadamente, assevera que também aqui, assim como nas taxas, estamos diante de tributos vinculados a uma atuação estatal. A contribuição de melhoria é na verdade, tributo que consiste em uma atuação estatal indireta e mediatamente direcionada, referida ao contribuinte. A consequência no caso da contribuição de melhoria é a efetiva valorização imobiliária decorrente de obra pública. A base de cálculo no caso da contribuição de melhoria é uma medida da circunstancia intermediária (ATALIBA, 1999) ou seja, a própria valorização experimentada da forma acima identificada. O Código Tributário Nacional, em seu art.81, estabelece que: “A contribuição de melhoria cobrada pela união, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face aos custos de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado”. Sujeito ativo é a pessoa que realiza obra, e sujeito passivo é o dono do imóvel valorizado pela obra pública. Obrigado ao pagamento da contribuição de melhoria é o proprietário, que recebeu de fato o verdadeiro benefício consistente na valorização de seu imóvel. Geraldo Ataliba (p. 175, 2013) entende a contribuição de melhoria como: “o instrumento jurídico pelo qual se transfere aos cofres públicos a valorização imobiliária, causada por obras públicas cuja expressão financeira (da valorização) é atribuída pela ordem jurídica ao estado. É que a Constituição atribui tais valorizações (total ou parcialmente, conforme a lei, segundo critérios políticos – financeiros) à pessoa pública que empreende tais obras”. Do Município A União: O Tributo Na Salvaguarda Do Meio Ambiente 32 A distinção entre o imposto, a taxa e a contribuição de melhoria reside, para o emitente tributarista, na materialidade da hipótese de incidência. Distingue - se a contribuição de melhoria da taxa e do imposto porque sua: “Hipótese de incidência não é a obra (do imposto), mas a diferença do valor de uma propriedade antes e depois de uma obra. Para que se configure o fato imponível, não basta que haja incremento patrimonial que ensejaria (imposto). É preciso haver direta relação de causa e efeito entre a obra e a valorização” (ATALIBA, p. 174, 2013). CAPÍTULO IV: OS TRIBUTOS, CASOS DE SUA APLICAÇÃO COMO MEIO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE 4.1.EM FACE DAS CIDADES Quanto a utilização de tributos para defesa e preservação do chamado Meio Ambiente do Patrimônio Cultural, verificamos que na cidade de São Paulo, que desde a edição da chamada Lei Mendonça, de autoria do então Vereador Marcos Mendonça, União, Estados e Municípios , em consonância com o estabelecido no art.23,V, combinado com os arts.24, IX, 215 e 216, todos da Constituição Federal de 1988, e dentro dos limites de suas competências tributárias expressas, passaram a legislar de forma a conceder isenções, benefícios e incentivos fiscais relativos aos tributos de sua competência. Assim é que a lei antes referida (Lei municipal n.10.923, de 30-12-1990 – regulamentada pelo Decreto n.41.940,
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