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EducaçãoMusical Núcleo de Pós-Graduação Teoria da Voz Apresentação. A presença da música na vida das pessoas é incontestável. Em muitas culturas vem acompanhando a história da humanidade e se fazendo presente em diferentes continentes. Ela é uma forma de expressão artística, tanto no campo popular, como no erudito. A linguagem musical faz-se presente especificamente no Brasil, em suas diversas classes sociais e também nas diferentes manifestações religiosas que se espalham por todo território nacional. Embora sua linguagem seja diversificada, dependendo de onde venha essa expressão cultural, a música acompanha o desenvolvimento e as relações interpessoais em suas comunidades, bairros e cidades. Existem muitas possibilidades de buscar as contribuições da música no desenvolvimento da criança, uma vez que ela se faz presente em suas vidas antes de sua alfabetização. A relação com a música, às vezes, já se inicia no ventre materno e segue no decorrer da sua infância. Nas brincadeiras infantis, as crianças usam a música como forma de expressão e também para estabelecer regras, relações sociais, diversão, alegria e aprendizagem. Esses exemplos dão um breve panorama da importância da música na educação infantil, seja ela escolar ou na família. O uso da música se dava apenas para reproduzir práticas, que muitas vezes já conheciam, mas sem entender o seu significado. Na hora do lanche ou almoço, por exemplo, as crianças e professores faziam uso de canções repetitivas apenas para dizer que estavam cantando, tornando esse momento mecânico e eliminando qualquer possibilidade de usar a música em uma proposta de socialização, desenvolvimento e aprendizagem. É importante perceber que o ensino de música não está somente ligado ao aprendizado de instrumentos ou de repetição de canções e cantigas decoradas e descontextualizadas, práticas muito frequentes no ambiente educacional. Loureiro (2008) explica que o aprendizado de música deve ser um ato de desprendimento prazeroso, que comungue com as experiências da criança sem ser uma imposição ou que busque a qualquer custo que a criança domine um instrumento, o qual pode minar sua sensibilidade e criatividade. Diante do exposto, entende-se que o grande desafio é que a música na educação infantil venha a colaborar com o desenvolvimento da criança, almejando que essa não seja apenas uma prática descontextualizada, mas um complemento, um meio para o melhor entendimento e trabalho das muitas atividades realizadas na educação infantil, que além de desenvolver a sensibilidade musical pode ainda ajudar no desenvolvimento de outras potencialidades da criança. As dificuldades percebidas em relação ao ensino de música instigaram à proposição de um problema norteador: como a educação musical poderá ajudar no desenvolvimento da criança da Educação Infantil? A busca por respostas a estas questões suscitam a necessidade do delineamento de objetivos que possam orientar essa pesquisa. Assim, o objetivo principal é analisar as contribuições que o ensino de música pode proporcionar no desenvolvimento das crianças na educação infantil e a forma como é usada pelos educadores que atuam nesta faixa etária. Os objetivos específicos que orientaram o estudo foram: - Entender os aspectos favoráveis que o ensino de música pode proporcionar às crianças da Educação Infantil. - Perceber as formas de interação da música com os demais eixos de trabalho, ou seja como a música pode auxiliar em diversas atividades pedagógicas na educação infantil. - analisar as contribuições que o ensino de música pode proporcionar no desenvolvimento das crianças na educação infantil. BREVE APRESENTAÇÃO DA HISTÓRIA DA MÚSICA A MÚSICA NO BRASIL A música do Brasil se formou a partir da mistura de elementos europeus, africanos e indígenas, trazidos respectivamente por colonizadores portugueses, escravos e os padres jesuítas que a usava em cultos religiosos e para atrair atenção à fé cristã. Os nativos que aqui já habitavam também tinham suas práticas musicais, fato que ajudou a estabelecer uma enorme variedade de estilos musicais, que se solidificaram com o decorrer da história. Em terras brasileiras, as primeiras manifestações musicais, que recebem registros históricos, são as dos padres jesuítas, que, naquele momento, queriam mais fiéis para sua igreja do que promover educação ou manifestações artísticas por meio de sua música. França mostra esse contexto histórico em sua obra A Música no Brasil (1953, p.7): O coral Gregoriano mágico instrumento de conversão de que se utilizou o jesuíta José de Anchieta, aquela magnífica figura de evangelizador. E com ele os jesuítas Aspicuelta Navarro e Manuel de Nóbrega. Este dizia que: „com a música e a harmonia, atrevo-me a atrair para mim todos os indígenas da América‟. A ligação dos índios com os jesuítas ficou mais estreita por meio da música que os padres usavam para catequizá-los. Logo após sua chegada, os jesuítas construíram aldeamentos que chamavam Missões ou Reduções, esses locais serviam para levarem sua fé aos índios e para se manter com certa tranquilidade no Brasil Colonial. Davidoff (1994, p.42) caracterizou como eram estruturadas as Reduções jesuítas: “O armazém geral, a casa de hóspedes e a casa das moças eram mais pobres e os alojamentos indígenas consistiam de longos edifícios de pau-a-pique ou adobe, abertos para uma varanda coberta". Apesar de haver ensino de cantos e apresentação de instrumentos pelos padres jesuítas, não havia conotação educativa nessa prática, esse processo era puramente religioso, usado para espalhar a fé dos padres pela população indígena. A partir do século XVII, a música popular ganha força no Brasil, principalmente o lundo ou landu, inicialmente uma dança africana, assim descrita por Mário de Andrade (1980). No período colonial e primeiro império chegam ao Brasil as valsas, polcas, tangos e outras diversas manifestações musicais estrangeiras, que nos Brasil achavam veículo de expressão. Em relação a isso, Renato Almeida expressa em seu livro A História da Música Brasileira (1926,p.108): Queremos dizer que, na nossa música popular, é fácil distinguir as origens rítmicas, embora não se conservem exatas e essenciais. Um mundo de influências e interferências, o clima, o caldeamento do sangue, o cultivo e as condições de vida de lugar a lugar, tudo isso, que a arte popular reflete, refrangendo no prisma de suas intenções fez com que os cantares fossem variando dia por dia, contornandose, modificando-se, mas sem perder o caráter básico e definitivo do ritmo. Aos africanos trazidos, como escravo ao Brasil, deve-se boa parte da formação da nossa música popular. Foi, certamente, o contato com o povo africano que enriqueceu a parte rítmica da música feita no Brasil e nos levou a nossa riqueza musical. Já no fim século XIX e início do XX, com o fim da escravidão em 1888, são abertas novas fronteiras para a vinda de imigrantes europeus, para o trabalho nas lavouras de café e algodão. Esses chegam com diversos ritmos de sua terra natal, como a mazurca, que acaba sendo abrasileirada (sic.) e transformada no maxixe. Essa transformação de ritmo dá origem ao choro. Mas, uma música popular brasileira só se formaria mesmo com o carnaval carioca e a chegada do gramofone ao Brasil na década de 1930 do século XX. Apareceria então o samba urbano, o ritmo mais famoso do Brasil. Depois disso, com o rádio, a televisão e a indústria fonográfica a música popular se consolida e chega à variedade gigantesca que hoje encontramos. Essa breve história da música no Brasil mostra como ela chega por aqui pelos povos africanos, os padres jesuítas, imigrantes europeus e a que já se fazia presente antes da colonização com os povos indígenas.A música é uma forte presença no povo brasileiro em todas as suas classes sociais, Mário de Andrade (1980, p.163) diz: “[...] o estudo científico da música popular brasileira ainda está por fazer. Não há sobre ela senão sínteses mais ou menos fáceis, derivadas da necessidade pedagógica de mostrar aos estudantes a evolução histórica da música brasileira”. Então, é preciso antes de tudo estudá-la e entendê-la, para levar à música a escola com propriedade. Em relação ao ensino de música, do descobrimento até meados do século XX, este acontecia de forma geral e aleatória, sem conotação educativa, sem registros que esclareçam uma organização pedagógica no seu uso. Era utilizada na perspectiva de ensinar a tocar instrumentos (cravo, piano, violão) ou para professar a fé cristã pelos padres jesuítas e como manifestação cultural. Só em 1854, por decreto real é regulamentado o ensino de música no Brasil, mas não havia formação compatível, por parte dos professores, e a música era usada para o controle dos alunos. Loureiro (2003) explica que nessa fase era dada pouca ênfase aos aspectos musicais pela escola. A visão de trabalhar na educação musical os aspectos culturais dos alunos, seu meio e a música como elemento de interação entre as outras disciplinas escolares, apareceria em nossa história a partir da metade do século XX, junto à evolução da educação infantil como instituição educativa. A INSERÇÃO DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Para entender como a música se manifesta na educação infantil é necessário compreender o seu contexto histórico e analisar seus antecedentes no Brasil. É difícil pensar a educação musical aplicada nos moldes que esse trabalho a propõe, pois nos primórdios da educação infantil no Brasil, já que essa tinha cunho estritamente assistencialista. Na esfera pública, o atendimento as crianças de 0 a seis anos, começa, em 1899, com a criação neste mesmo ano do Instituto de Proteção e Assistência a Infância no Brasil (KRAMER 2003). Na história da Educação no Brasil, cuidar das crianças surge como ideia pouco relevante na sociedade, e ainda permaneceria assim por muitos anos, com algumas mudanças acontecendo gradualmente, mas a ênfase era manter a ordem em sala de aula como diz Loureiro (2003) que para a escola, o que importava era utilizar o canto como forma de controle e integração dos alunos, desse modo, pouca ênfase era dada aos aspectos musicais na perspectiva pedagógica. Leis e normas que regulariam a educação infantil apresentam de forma clara como a criança foi tratada em nossa educação. Apenas com a nova LDBEN (Brasil, 1996) instituída como lei nº 9.394, se contemplaria o ensino de artes no seu Art. 26, da seguinte forma: “componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma que promova desenvolvimento cultural dos alunos”. A partir daí a música passa a ser uma linguagem possível na educação infantil já que faz parte da educação básica. A construção de uma metodologia para trabalhar a música na educação infantil está legalmente aberta. Em 1998, foi publicado, pelo Ministério da Educação (MEC) o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil – RCNEI (Brasil, 1998). Esse documento torna-se orientação metodológica para a educação infantil, nele, o ensino de música está centrado em visões novas como a experimentação, que tem como fins musicais a interpretação, improvisação e a composição, ainda abrange a percepção tanto do silêncio quanto dos sons, e estruturas da organização musical. O RCNEI da ênfase à presença da música na educação infantil, o documento traz orientações, objetivos e conteúdos a serem trabalhados pelos professores. A concepção adotada pelo documento compreende a música como linguagem e área de conhecimento, considerando que está tem estruturas e características próprias, devendo ser considerada como: produção, apreciação e reflexão (RCNEI, 1998). O documento apresenta ainda orientações referentes aos conteúdos musicais, estes se encontram organizados em dois blocos: “O fazer musical”- compreendido como improvisação (RCNEI, 1998, p.57), composição e interpretação e o de “Apreciação musical”, ambos referentes às questões da reflexão musical. A proposta do RCNEI é uma discussão sobre as práticas pedagógicas, aqui em específico a de música, e não engessá-las em modelos pré-definidos. Os avanços conseguidos foram importantíssimos, e o trabalho trata da importância da música enquanto área de conhecimento, possuindo conteúdos e metodologias próprias, o que deixa claro o RCNEI. Ainda que ela faça parte da educação infantil, e que não seja mais usada como se diz no jargão “como tapa buracos”, e sim com a propriedade que fica explicita nos documentos que embasam sua utilização e orientam suas metodologias. Para Chiarelli (2005), a música é importante para o desenvolvimento da inteligência e a interação social da criança e a harmonia pessoal, facilitando a integração e a inclusão Para ele a música é essencial na educação, tanto como atividade e como instrumento de uso na interdisciplinaridade na educação infantil, dando inclusive sugestões de atividades para isso. Assim, pensar as funções do ensino de música na educação infantil, nos leva ao cotidiano escolar e as práticas dos professores e seus alunos, de como a música aparece e suas particularidades, suas possibilidades e linguagens. Mas ainda é necessário refletir a respeito de novas possibilidades da música na educação infantil. O SIGNIFICADO DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Presente em diversas atividades da vida humana, a música se apresenta também de muitas formas no contexto da educação infantil. Podemos ver isso nas diversas situações, como nos momentos de chegada, hora do lanche, nas comemorações escolares como danças, nas recreações e festividades em geral. E não é diferente na vida das crianças em suas relações com o mundo. A música também possibilita a interação com o mundo adulto dos pais, avós e outras fontes como: televisão e rádio, que rodeiam o dia a dia das crianças, que vem formar um repertório inicial no seu universo sonoro. Brincando fazem demonstrações espontâneas, quando em família ou por intervenção do professor na escola, possibilitando a familiarização da criança com a música. Em muitas situações do seu convívio social, elas vivem ou entram em contato com a música. Em relação a isso o RCNEI explica que: “O ambiente sonoro, assim como presença da música em diferentes e variadas situações do cotidiano fazem com que os bebês, e crianças iniciem seu processo de musicalização de forma intuitiva. Adultos cantam melodias curtas, cantigas de ninar, fazem brincadeiras cantadas, com rimas parlendas, reconhecendo o fascínio que tais jogos exercem”. (Brasil, 1998. p.51) Para Nogueira (2003, p.01) a música é entendida como experiência que: “[...] acompanha os seres humanos em praticamente todos os momentos de sua trajetória neste planeta. E, particularmente nos tempos atuais, deve ser vista como umas das mais importantes formas de comunicação [...]. A experiência musical não pode ser ignorada, mas sim compreendida, analisada e transformadas criticamente”. Ao trabalhar a música na escola, não podemos deixar de considerar os conhecimentos prévios da criança sobre a música e o professor deve tomar isso como ponto de partida, incentivando a criança a mostrar o que ela já entende ou conhece sobre esse assunto, deve ter uma postura de aceitação em relação à cultura que a criança traz. Em algumas situações pode ocorrer o fato de o professor, de uma maneira despercebida, deixar de lado o meio cultural e social da criança, o que não é bom, pois isso pode levá-la ao desinteresse pela educação musical. usar uma determinada música na hora de entoar a oração da manhã. Isso pode ser entendido como umaforma de expressão e de louvor, porém é necessário ter cuidado, pois nem todos têm a mesma religião. A alternativa, neste caso, talvez fosse pedir que cada dia uma criança fizesse a oração ou cantasse uma canção, assim, todos teriam a chance de expressar sua cultura religiosa na sala de aula. O envolvimento das crianças com a música acontece desde quando são ainda pequenos. Essa presença desenvolve nelas conhecimentos novos, como vocabulário, socialização e autonomia o que, infelizmente. Nas atividades relacionadas ao estágio obrigatório na educação infantil, foi possível perceber o distanciamento da música como atividade pedagógica. O que se presenciou, foi a música sendo usada pelas professoras de forma descontextualizada, reproduzindo canções e gestos sem que se explicasse o porquê daquelas atividades. As professoras cantavam músicas de maneira repetitiva, diariamente na hora da chegada dos alunos na escola, depois da oração e antes do lanche, também cantavam o hino nacional. Ao cantarem essas músicas repetitivas, ou o hino sem saber o que estão cantando, estão fazendo do ato de cantar um ato mecânico, que só serve para reproduzir a canção, mas não leva conhecimento algum a criança. Na educação infantil, o momento que enfoca a música é um dos caminhos para alcançar tal objetivo. A música aparece, de forma genérica na parte que trabalha a educação em artes. Nas observações realizadas, ficou evidente a pouca ou até nenhuma formação específica das professoras, já que reproduziam de forma mecânica canções sobre o lanche, religiosas e ainda sobre profissões, não que isso seja impróprio ou totalmente sem valor, mas é necessário contextualizar a atividade proposta. Em relação a essa discussão Souza (2000, p.164), explica que: Ao incluir objetivos, justificativas, experiências e condições de ensino- aprendizagem resultantes de uma reflexão profunda, num diálogo permanente coma realidade sociocultural, os relatos apontam elementos importantes relacionados às praticas pedagógicas de sala de aula, como, por exemplo, a sua transformação numa ação pedagógica significativa. O que precisa ser esclarecido, nesses casos, não é a música ou o que se canta, mas a forma de repetir as canções de forma mecânica não explicando seus significados aos alunos, ou pior, forçando-os a somente cantar, tirando deles a oportunidade de se expressar e de participar do processo ativamente, não só reproduzindo o que é pedido. Ensinar música tem relação com a percepção e sensibilidade do professor em perceber como esta pode ajudar em sua aula, considerando o que as crianças querem trabalhar relacionado ao que o professor planejou. Ele pode propor atividades e coordená-las, mas é preciso que as crianças participem também, escolham músicas ou atividades musicais. A música tem como propósito favorecer e colaborar no desenvolvimento dos alunos, sem privilegiar apenas alguns alunos, entendendo esta, não como uma atividade mecânica e pouco produtiva que se satisfaz com o recitar de algumas cantigas e em momentos específicos da rotina escolar, mas envolve uma atividade planejada e contextualizada, como prevê o RCNEI, além de explorar as múltiplas possibilidades que a música tem em seu ensino, como explica Loureiro (2003, p.141): Atenção especial deveria ser dispensada ao ensino de música no nível da educação básica, principalmente na educação infantil e no ensino fundamental, pois é nessa etapa que o individuo estabelece e pode ser assegurada sua relação com o conhecimento, operando-o no nível cognitivo, de sensibilidade e de formação da personalidade. Algumas situações mostram o uso da musica de forma pouco producente, e às vezes até repetitiva. Brito (2003) critica as apresentações musicais que utilizam gestos repetitivos, pois acredita que esse molde não enriquece a proposta musical dentro da sala de aula, apenas perde-se tempo com repetições e excluem a possibilidade de criação, podando toda e qualquer chance de uma manifestação criativa da criança. Muitas vezes, ainda, vemos que a criança é impedida de usar sua criatividade, pois a elas são propostas músicas ou atividades já prontas, canções folclóricas já cantadas há décadas de maneira mecânica e em momentos específicos da rotina escolar, sem saber o significado e sentido daquilo do que está cantando, realizam apenas a memorização e gestos corporais estereotipados que deixam as crianças desinteressadas e poucos contribuem no seu desenvolvimento. Ensinar música, a partir dessa óptica, significa ensinar a reproduzir e a interpretar músicas, desconsiderando as possibilidades de experimentar, improvisar, inventar como ferramenta pedagógica de fundamental importância no processo de construção do conhecimento musical (BRITO 2003, p. 52). Para ser significativa e atingir seus objetivos, a música deve ser trabalhada de diferentes formas, como por exemplo, com exercícios de pulsação, parâmetros sonoros, canto, parlendas, brincadeiras cantadas, sonorização de histórias. Pode-se trabalhar com os alunos ruídos cotidianos, o que parece muito interessante, uma maneira de explorar os sons ou ruídos de uma forma muito completa. Na educação infantil, podemos buscar um trabalho que permita o aluno a experimentar sensações e sentimentos como de tristeza, alegria, e que ele venha a expressar esses sentimentos através da manipulação dos instrumentos musicais que lhes serão colocados a disposição pelo professor. Propor brincadeiras onde os alunos descrevem os sons que emitem quando acordam, escovam os dentes, comem e colocam suas roupas e sapatos. Eles ainda podem reproduzir sons de animais, cachorros, cavalos e o som dos carros. BRITO (2003) relata em especifico que “esses jogos trabalham usando ações dos cotidianos dando base para desenvolver muito a criatividade e atenção das crianças”. Snyders (1997, p.30) diz que “resta ao professor situar e não restringir”, situar aqui segundo as palavras do autor é contextualiza que o docente pode ser um mediador, orientando seus alunos nas atividades com a música e não minando sua criatividade. Para que o ensino de música na educação infantil relacione o prático com o pedagógico, ela deve ser usada como ferramenta educacional e para isso é necessário explorar diferentes possibilidades nos vários momentos da aula. Temos de lembrar que trabalhar a música na educação infantil não se restringe ao aspecto musical, mas também aos aspectos cognitivo e motor, o que promove o desenvolvimento do sujeito no todo. O uso ou o trabalho com a música tem como enfoque o desenvolvimento global da criança na educação infantil, respeitando sua individualidade, seu contexto social, econômico, cultural, étnico e religioso, entendendo a criança como um ser único com características próprias, que interage nesse meio com outras crianças e também explora diversas peculiaridades em todos os aspectos. O ensino de música não tem o objetivo de formar músicos, a ela cabe incentivar a criatividade, já que algumas vezes a escola deixa pouco espaço para a criança criar e a música pode ser um caminho muito fértil para essa prática. Em relação a isso, Bellochio (2001, p.46) explica: “bastam 45 minutos de aulas de música semanais, de modo desarticulado dos demais conhecimentos, que estão sendo trabalhados pelos professores, para potencializar a educação musical nas escolas? Uma possibilidade que vejo é da articulação mais consciente, crítica e madura entre o professor atuante nos anos iniciais de escolarização e os profissionais especialistas no ensino de música”. O caminho para a viabilidade da música nas escolas, aqui especificamente na educação infantil se dá pelo uso de ferramentas para sua reflexão, práticas para que se faça o uso correto da música, trabalhar a diversidade e o contexto do aluno, explorando suaspotencialidades. A atividade musical e as demais artes, unidas ao jogo recreativo, são uma base forte na educação infantil. Em relação a estes aspectos, Brito (2003, p.46) explica que, [...] importa, prioritariamente, a criança, o sujeito da experiência, e não a música, como muitas situações de ensino musical consideram. A educação musical não deve visar à formação de possíveis músicos do amanhã, mas sim à formação integral das crianças de hoje. Na prática escolar, o ensino de música deve ter atenção prioritária, já que falar em ensinar música ou musicalizar é falar em educar pela música, contribuir na formação do indivíduo, como um todo, lhe dando oportunidade de imergir em um imenso universo cultural, enriquecendo sua inteligência através de sua sensibilidade musical. O ensino e, consequentemente, o aprendizado da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso dessa linguagem irá transformar esse sujeito, tanto no que se refere a seus modos de perceber, suas formas de ação e pensamento, quanto seus aspectos subjetivos. Em consequência, transformará também o mundo deste sujeito, que adquirirá novos sentidos e significados, modificando também a sua própria linguagem musical. Nogueira (2003) diz que a música deve ser vista além de uma “arma” pedagógica, também como uma das mais importantes formas de comunicação do nosso tempo. No texto a autora ainda cita Snyders (1997), o qual contribui expressando que uma geração nunca viveu mais a música que a nossa, mas o autor ainda ressalta que para entendermos o processo de desenvolvimento de uma criança, temos de ir muito além de seus aspectos físicos ou intelectuais, é um processo que envolve uma grande rede de questões, questões que são uma complexidade muito além às da maturação biológica. Ao salientar atividades que trabalham gestos, dança, os sons do meio ambiente e dos animais, estimula-se a criatividade, as crianças ganham noções de altura, podem observar o próprio corpo em movimento, atentar-se ao meio onde vivem, prestar atenção nele e explorar a criatividade, já que ela tira base de qualquer ambiente em que a professora e seus alunos estejam. Snyders (1997, p.27) diz que: “os métodos modernos da pedagogia musical estão absolutamente corretos ao propor atividades de escuta ativa, não somente para evitar que os alunos, se não tiverem nada de preciso a fazer, conversem ou se evadam da aula através de devaneios, mas por que faz parte da natureza da obra musical despertar uma admiração ativa: o objetivo da escuta ativa não é chegar a uma espécie de êxtase teológico, mas despertar emoções controladas, que integrem a alegria ao conjunto da pessoa, tanto na sua sensibilidade quanto na sua compreensão”. Os campos de desenvolvimentos são os que lidam com a afetividade, na prática como a música, que se dá pelo aprendizado de um instrumento ou a apreciação dos sons, isso, segundo o autor, potencializa o aprendizado, tanto no emocional quanto no cognitivo. Particularmente no campo do raciocínio lógico, ressalta mais uma vez o autor, há um grande desenvolvimento da memória e nos espaço do raciocínio abstrato. Então é preciso mostrar e entender a prática de como a música pode ser usada na escola, ou seja, apresentar atividades com música que contribuam no desenvolvimento das crianças da educação infantil, bem como atividades musicais que possam contribuir no trabalho com o aluno e como pode ser usada. 3. A PRÁTICA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL A música é uma importante ferramenta pedagógica para auxiliar as crianças em seu desenvolvimento, se planejada e contextualizada. A prática da educação musical na educação infantil está relacionada a cultura e aos saberes que os educadores trazem de suas experiências pessoais, às vezes até do senso comum, pois, como vimos, a formação musical específica dos professores da educação infantil é muito rara. Essa cultura adquirida com a vivência possibilita a utilização da música em sua ação pedagógica. Os cursos de formação de professores, em geral não contemplam a música em nenhuma das suas disciplinas. Como exemplo, podemos citar o curso de pedagogia desta universidade, o qual teve seu currículo recentemente reformulado e em nenhuma disciplina contempla qualquer abordagem referente ao ensino de música em qualquer faixa etária. O que acontece na prática é o exercício realizado por alguns professores que trabalham músicas ou atividades do gênero, mais por conta própria, por entenderem a contribuição da música no desenvolvimento da criança do que mediados por um embasamento teórico. A música pode ser usada de forma constante nas salas de aula, como por exemplo, para cantar canções e quem as crianças digam seus nomes e os nomes de seus colegas, possibilitando uma interação muito interessante entre os alunos. Assim, além de promover a socialização, a música oferece grande apoio em todo processo de aprendizagem por favorecer a ludicidade, a memória e a criatividade. Quando falamos no processo de usar a música na educação infantil, temos de lembrar que as crianças usam sons de forma espontânea, cantam e criam músicas. Outra forma de se trabalhar a música são os jogos musicais, que podem ser realizados na educação infantil para trabalhar os sons. Um exemplo apresentado pelo pesquisador, compositor e educador francês François Delalande (1979) se relaciona à atividades lúdicas infantis proposta por Jean Piaget e propõe três dimensões para a música: 1) jogo sensório-motor, ligado a exploração de sons e gestos. Jean Piaget diz que o estágio pré-verbal se configura aproximadamente nos primeiros 18 meses da criança. Nesta fase Delalande (1979) entende que é construída a noção temporal como sucessão, aqui as crianças ouvem, percebem o som, manuseiam instrumentos musicais; 2) jogo simbólico, ligado ao valor expressivo da linguagem musical. Nesta fase o jogo acompanha a construção do pensamento representativo; 3) jogo com regras proposto por Piaget está relacionado com a estruturação da linguagem musical. O trabalho proposto por Delalande (1979) pode ser iniciado utilizando os sons corporais da criança, ela pode bater em sua barriga, seus braços, pernas, encher suas bochechas com ar e bater em sua boca etc. Todas essas ações emitem sons graves (som mais grosso) e agudos (mais fino). Esses sons podem ser trabalhados em jogos ou até com os sons que emitimos ao pronunciarmos as letras do alfabeto, como, por exemplo, se uma letra tem o som mais grave ou o som mais agudo, e comparar com o som que foi emitido por determinada região do corpo, fazendo ligação direta daquela atividade com os sons e o aprendizado das letras do alfabeto. Delalande (1979) ainda trás que a noção de ritmo também é muito importante e para isso usamos alguns instrumentos musicais, que podem ser adquiridos (comprados) e também construídos, como chocalhos, ocarinas (instrumento de sopro que emite sons graves e agudos), apitos e pandeiros, o que vai desenvolver na criança sua noção rítmica, alguns vão ter essa noção naturalmente, outros, vão desenvolvê-la com essas atividades. E caso o professor domine algum instrumento, como violão ou piano, ele pode acompanhar percussivamente a ação das crianças, ou pode cantar alguma canção, pois qualquer pessoa é capaz e tem conhecimento para fazê-lo. A autora Jeandot (1997) apresenta diversas possibilidades na construção de instrumentos como, por exemplo: selecionar chaves velhas que não são mais usadas presas a um suporte de madeira que as deixe suspensas, para a crianças passam as mãos, tem um som suave, ou, ainda com chaves velhas, colocá-las como o molho de chaves que conhecemos a criança só precisa balançá-las ou bater nelas com uma vareta. Também podemos usar várias tampinhasde garrafa de refrigerante, com um barbante passando ao meio delas e amarrado para sacudir isso dá o som de um chocalho, e é só ir passando de uma mão para outra. Ainda existem outras diversas possibilidades como encher latas de refrigerantes e copos de iogurte com arroz e construir chocalhos, usar tampas de panelas como pratos. A autora Jeandot (1997), ainda mostra possibilidades de usar cascas de coco vazias que podem se transformar instrumentos de percussão, cabaças, com sementes de flamboaiã, que dão um ótimo maracá, tubos de papel higiênico vazios, com uma extremidade coberta com papel de seda, quando a criança sopra produz o timbre de instrumentos de sopro e outras diversas possibilidades.Éfoi possível observar uma professora trabalhando com a música, cantou com seus alunos “o sítio do seu Lobato”, para trabalhar sons dos animais, ritmo, entonação e gestos. A pedido dos alunos cantou a canção “Fui ao mercado”, antes já tinha contado a história aos alunos da “Cotia e o fazendeiro”, para contextualizar a partir da história o tema dos animais que viria a ser trabalhado na musicalização. Essa mesma professora construiu com os alunos instrumentos feitos de sucata. As crianças trazem a sucata de suas casas, como latas, tambores de leite, doce e madeira e outras. A professora usa a banda para além da atividade musical, trabalhando também a consciência ecológica. Exemplos assim demonstram a validade da música enquanto ferramenta pedagógica que ajuda no desenvolvimento da criança na educação infantil. A autora Jeandot (1997) apresenta outra intervenção que se chama “atenção-concentração”, que consiste em batidas nas mãos e partes do corpo. Batese palmas 3 vezes sem perder o ritmo e mais 3 vezes depois de se dizer concentração, em seguida, no mesmo ritmo, pede-se aos alunos: Batam palmas, batam as coxas, batam no rosto, batam no pé, batam na barriga, batam no peito, e assim por diante. Para dificultar, se diz a palavra bata cada vez mais rápido. A autora ainda enfatiza que esse trabalho traz conhecimento de esquemas do copo e noção de andamento e ritmo. É possível trabalhar também os sons da boca e para tal Jeandot (1997) nos mostra algumas experiências, como vibrar os lábios com os dedos, estalar a língua, bater nas bochechas cheias de ar, e depois dessa atividade perguntar à criança o que ele achou de cada som, qual ele mais gostou de ouvir e fazer, de como se sentiu fazendo esse som. A autora também apresenta a possibilidade de se emitir som com os pés, é uma atividade livre onde as crianças ouvem uma música, e batem os pés no ritmo dela, podem pular correr etc., essa atividade pode ser feita com as crianças descalças ou calçadas, o jogo possibilita diversas movimentações com os pés e o reconhecimento corporal e auditivo. Rosa (1990) também apresenta exemplos de atividades que trabalham os sons, como por exemplo, usar uma parte de mangueira de jardim para as crianças aos pares conversarem com a boca nos orifícios das extremidades da mangueira. Elas vão notar como o som de suas vozes se propaga pelo ar da mangueira, ou ainda, que a criança fale consigo mesma, colocando um orifício da mangueira na boca e outra em no seu ouvido. A autora dá o exemplo do uso de um sarrafo de madeira colocado junto a um relógio, uma extremidade no relógio e outra encostada no ouvido da criança, desta forma ela vai sentir a vibração do som em seus ouvidos. Chiarelli (2005, p.4) explica a importância de realizar um trabalho em que haja a participação do aluno em conjunto com o professor e apresenta como sugestão: “gravar sons e pedir para que as crianças identifiquem cada um, ou produzir sons sem que elas vejam os objetos utilizados e pedir para que elas os identifiquem, ou descubram de que material é feito o objeto (metal, plástico, vidro, madeira) ou como o som foi produzido (agitado, esfregado, rasgado, jogado no chão). Assim como são de grande importância as atividades onde se busca localizar a fonte sonora e estabelecer a distância em que o som foi produzido (perto, longe). Para isso o professor pode andar entre os alunos utilizando um instrumento ou outro objeto sonoro e as crianças vão acompanhando o movimento do som com as mãos”. Outro exemplo de atividade, por exemplo, é a música cantada, com estas, as crianças dançam, se soltam, descobrem seu corpo e como ele se movimenta. Batem os pés no chão, batem palmas e, além disso, aprendem com a letra da música vem com assuntos que tratam do cotidiano escolar. Felinto (2000) apresenta uma versão politicamente correta para a canção atirei o pau no gato: Não atire! O pau no ga-tô-tô! Por que isso-sô! Não se faz-faz-faz! O gati-nhô-nhô, É nosso ami-gô-gô, Não se deve, Maltratar os animais, Miau! É importante ressaltar que o trabalho não se limita a cantar em sala de aula, é necessário discutir o tema da canção a ser cantada, ouvir o que as crianças querem dizer, o que entendem e se têm alguma canção para sugerir sobre o assunto pertinente aquele momento da aula. As crianças possuem uma bagagem musical, mesmo que pouca e podem contribuir com suas opiniões e sugestões vão se aproximando da música de forma alegre, podendo potencializar suas visões de mundo pela música, tendo o professor a sensibilidades de tratar a música com exercícios alegres e interessantes e pedagógicos que ajudem as crianças a se desenvolverem e a aprenderem mais. Silva (2001, p.140) propõe uma atividade muito interessante e muito simples que tem como finalidade trabalhar o ritmo com as crianças da seguinte forma: uma ao lado da outra, levantam uma perna podendo começar com a esquerda ou direita e ao levantar tirando a perna do chão ele conta 1, depois colocam as pernas juntas voltando ao normal e conta 2 isso seguindo um ritmo ditado pela professora. Uma variação dessa atividade seria levar a perna a frente, ora a esquerda ora a direita e contando 1 e 2 como na anterior, a última forma levantando e abaixando, contando 1 e 2, dobrando os joelhos e se erguendo, sempre seguindo um ritmo na voz ao contar os números 1 e 2. A autora apresenta ainda outra atividade de exercícios rítmicos ao acentuarem as sílabas tônicas (que para crianças pode ser colocado como a sílaba, forte da palavra) exemplo: Cai, chuvinha, neste chão, cai chuvinha, vai molhando a plantação. Uma variação é para as crianças baterem os pés no chão ao invés de palmas nas silabas tônicas. Ou seja, no ritmo das palmas nas silabas tônicas e com uma melodia que a professora pode improvisar ou pedir que os alunos cantem como quiserem. Também é possível trabalhar uma canção bem popular: A cobrinha, como uma proposta interdisciplinar. 1-A cobra não tem pé, A cobra não tem mão Como é que a cobra sobe No pezinho de limão 2-A cobra vai subindo Vai, vai , vai. Vai se enrolando, Vai, vai ,vai... A autora Silva (2001) expõe ainda as seguintes possibilidades a serem usadas para trabalhar essa canção: depois de cantar, as crianças desenham a cobra se desenrolando e se enrolando, como fala a canção, executando assim, exercícios musculares, pode até trabalhar ciências, colocando que a cobra é um animal vertebrado, ou seja, possui ossos e que existe também na natureza animais invertebrados que não possuem ossos, e por fim, a matemática, pedindo às crianças que desenhem a cobra de diversas formas, em linhas retas, curvas abertas e fechadas (círculos). Uma maneira muito interessante de trabalhar outras canções pela professora da educação infantil é pedir para que a criança depois de ouvir uma determinada canção, com um tema mais simples relate algo corriqueiro da vida delas ou de seus familiares relacionado ao tema, peça que desenhem, ou achem figurasque representem elementos daquela música que ouviram, mas o importante é que elas expressem o que lhes chamou a atenção, o que entenderam sem haja imposição por parte do professor na escolha da criança. Outra canção que pode colaborar é a dos indiozinhos, onde podemos trabalhar os números de 1 até 9, ou apenas contando os números usando objetos para simbolizar a contagem, não é necessário usar instrumentos para tocar e cantar, mas se o professor tocar violão, ou utilizar instrumentos de percussão, pode enriquecer a atividades. Segue a letra da canção: 1,2,3, indiozinhos. 4,5,6, indiozinhos. 7,8,9, indiozinhos. 10, num pequeno bote. Iam navegando pelo rio abaixo quando o jacaré se aproximou e o pequeno bote dos indiozinhos quase, quase, virou! Rosa (1990, p73-74) propõe exercícios motores que são de muita ajuda para auxiliar na aprendizagem da escrita: “o exercício motor dirigido dá condições para o aperfeiçoamento da escrita, mas isto não impede que, a partir dele, a criança crie e recrie cada vez mais por meio da escrita”. Neste caso, a criança vai ouvindo uma determinada canção como, por exemplo: “Bate, bate reloginho, bate, bate sem parar, marca as horas direitinho, bate sempre sem parar”. Assim, a criança vai ouvindo ou cantando junto com a professora esses versinhos usando a melodia da música ciranda, cirandinha. A professora pede que os alunos façam desenhos circulares em sentido horário, como círculos, ondas sempre acompanhando a pulsação da canção. Na educação infantil existem inúmeras possibilidades de se trabalhar a música e os benefícios que ela pode oferecer. Os materiais podem ser diversos, não necessariamente é preciso dispor de materiais caros. Isso evidencia que um trabalho criativo e competente colaborará com a criança para desenvolver sua criatividade, socialização, expressão e também serve como estímulo para o aluno da educação infantil aprender mais e de forma contextualizada. A música e suas utilidades De acordo com os documentos do Referencial Curricular para a Educação Infantil (RCNEI): A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música está presente em todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas, políticas etc. (BRASIL, 1998, p. 45). Podemos observar que a música está presente em acontecimentos diversificados; existem músicas infantis, músicas religiosas, músicas para dançar, música instrumental, vocal, erudita e popular, músicas cívicas. Se compararmos dois tipos de música distintos, iremos constatar que existe uma grande mudança no que diz respeito a organização do material sonoro, na variação dos instrumentos musicais presentes, na forma e no material como são construídos esses instrumentos. Se analisarmos somente à utilização da voz no canto, constataremos alterações de timbre1 e também e de como ela é empregada em músicas distintas. Para Sekeff (2007): [...] o fazer musical não é o mesmo nos diversos momentos da história da humanidade ou nos diferentes povos, pois são diferenciados os princípios de organização dos sons. E esse aspecto dinâmico da música é essencial para que possamos compreendê-la em toda a sua riqueza e complexidade. (p. 20). Dessa maneira verificamos essa diversidade cultural no fazer musical identificando as mudanças que ocorreram na organização do som e do material sonoro utilizados na confecção musical. Essas transformações acompanham a evolução da humanidade no que se refere às transformações causadas pelo avanço tecnológico e também pelas características ideológicas que acompanham o ser humano nos diversos períodos da história. A criança e a música Independentemente do seu papel dentro da sociedade, a música exerce forte atração sobre os seres humanos, fazendo mesmo que de forma inconsciente que nos relacionemos com ela, muitas vezes quando a ouvimos começamos a nos familiarizar, movimentando o corpo ou cantarolando pequenas partes da melodia. As crianças quando brincam ou interagem com o universo sonoro, acabam descobrindo mesmo que de maneira simples, formas diferentes de se fazer música. De acordo com Joly (2003): A criança, por meio da brincadeira, relaciona-se com o mundo que descobre a cada dia e é dessa forma que faz música: brincando. Sempre receptiva e curiosa, ela pesquisa materiais sonoros, inventa melodias e ouve com prazer a música de diferentes povos e lugares. (p. 116). Por meio das brincadeiras de explorar como: brincar com os objetos sonoros que estão ao seu alcance, experimentar as possibilidades da sua voz e imitar o que ouve, a criança começa a categorizar e a dar significado aos sons que antes estavam isolados, agrupando- os de forma que comecem a fazer sentido para ela. Pensando na importância que essa experiência pode proporcionar para a criança Maffioletti (2007) escreve que: “É isso que fará dela um ser humano capaz de compreender os sons de sua cultura [...]” (p. 130). Por meio desse contato o ser humano começa e desenvolver uma identidade a música que está a sua volta. É por isso que ela assume significados diferenciados em cada cultura, pois segundo Penna (2008) devido a ela ser: [...] uma linguagem cultural, consideramos familiar aquele tipo de música que faz parte de nossa vivência; justamente porque o fazer parte de nossa vivência permite que nós nos familiarizemos com os seus princípios de organização sonora, o que torna uma música significativa para nós. (p. 21). Dessa maneira acabamos nos acostumando com esses padrões de organização o que nos permite estabelecer vínculos com as pessoas, com os costumes e tradições do local onde vivemos. Ainda de acordo com a autora, dessa forma: [...] a compreensão da música, ou mesmo a sensibilidade a ela, tem por base um padrão culturalmente compartilhado para a organização dos sons numa linguagem artística, padrão este que, socialmente construído, é socialmente apreendido – pela vivência, pelo contato cotidiano, pela familiarização – embora também possa ser aprendido na escola. (PENNA, 2008, p. 29). Podemos detectar que mesmo reforçando a importância desse contato com um determinado padrão, o ensino de música nas escolas pode também contribuir para que esse processo ocorra. Dessa forma torna-se importante para a criança começar a se relacionar com a música ainda que seja no ambiente escolar, pois é nessa fase que ela constrói os saberes que irá utilizar para o resto de sua vida. Mas para isso é importante que elas consigam entendê-la. Gordon (2000) ressalta que: Através da música, as crianças aprendem a conhecer-se a si próprias, aos outros e à vida. E, o que é mais importante, através da música as crianças são mais capazes de desenvolver e sustentar a sua imaginação e criatividade ousada. Dado que não se passa um dia sem que, duma forma ou doutra, as crianças não ouçam ou participem em [sic] música, é-lhes vantajoso que a compreendam. Apenas então poderão aprender a apreciar, ouvir e participar na música que acham ser boa, e é através dessa percepção que a vida ganha mais sentido. (p. 6). Para o autor é importante que a criança consiga compreender a música, dessa forma ela poderá estabelecer vínculos com os gêneros e estilos que mais tenham significado para ela. Mas como podemos trabalhar com o ensino musical com crianças pequenas? Aproximando-as desse universo, sensibilizando as mesmas para que elas possam se apropriar desse conhecimento? A presença da música na escola Podemos realizar inúmeras atividades com a presença da música no cotidianoescolar. Nos documentos do Referencial Curricular para a Educação Infantil (RCNEI), o volume número 3 tem uma parte dedicada a esse conteúdo, dessa forma verificamos a importância dada pelos mesmos ao assunto. Verificamos em Brasil (1998) que para a criança a vivência musical pode proporcionar a integração de experiências que passam pela prática e pela percepção, como por exemplo: aprender, ouvir e cantar uma canção, realizar jogos de mão ou brincar de roda. Dessa maneira por meio do desenvolvimento e da compreensão dessas atividades, as crianças atingem patamares cada vez mais sofisticados, visto que começam a dominar tais conteúdos o que permitem a elas uma transformação e uma recriação dos mesmos. Os RCNEI destacam ainda uma parte importante no processo, aliando a essa prática o movimento corporal: O gesto e o movimento corporal estão ligados e conectados ao trabalho musical. Implica tanto em gesto como em movimento, porque o som é, também, gesto e movimento vibratório, e o corpo traduz em movimento os diferentes sons que percebe. Os movimentos de flexão, balanceio, torção, estiramento etc., e os de locomoção como andar, saltar, correr, saltitar, galopar etc., estabelecem relações diretas com os diferentes gestos sonoros. (BRASIL, 1998, p. 61). Assim sendo, o corpo torna-se um aliado no processo de ensino aprendizagem musical, proporcionando por meio dos diferentes movimentos oportunidades para o aprendizado. Por meio desse recurso podemos desenvolver atividades que envolvam a percepção e interiorização do ritmo, intensidade e altura, trabalhar com a forma musical e também desenvolver a expressividade das crianças. Para Fonterrada (2005) o educador musical Dalcroze desenvolveu em sua prática educativa musical um meio para trabalhar com a escuta, a música e movimento corporal de uma maneira que fossem ligados e interdependentes. Ainda para a autora: O sistema Dalcroze parte do ser humano e do movimento corporal estático, ou em deslocamento, para chegar à compreensão, fruição, conscientização e expressão musicais. A música não é um objeto externo, mas pertence, ao mesmo tempo, ao [sic] fora e ao [sic] dentro do corpo. (FONTERRADA, 2005, p. 120). Podemos averiguar que para Dalcroze as diversas possibilidades de movimento corporal podem levar o aluno a vivenciar, praticar e compreender os conteúdos musicais, pois para ele essa atividade acontece simultaneamente dentro e fora do nosso corpo. Outra maneira de trabalhar o ensino musical com as crianças proposta pelos RCNEI é a apreciação musical. De acordo com Brasil (1998), o trabalho com apreciação musical poderá proporcionar a ampliação e o enriquecimento de saberes relacionados à produção da área, além de ampliar o repertório das crianças. Por meio da escuta e de conversas podem ser trabalhados aspectos referentes à diversidade de instrumentos musicais existentes e suas maneiras de produção de som e também as diferentes possibilidades de combiná-los resultando em diversas formações instrumentais. Podem também serem discutidas as diferentes formas como a voz é trabalhada, suas possibilidades, classificação (tessitura2) e diferentes formações onde são empregadas. Outro ponto que pode ser desenvolvido está ligado à diversidade de estilos e gêneros musicais existentes no mundo. Dessa maneira o aluno passa a ter contato com obras não só de seu país, mas também de outras localidades o que pode resultar com que o mesmo consiga fazer comparações entre produções de diferentes épocas e lugares. Como resultado dessa comparação o mesmo pode verificar como cada grupo social constrói sua música e identifica diferenças entre os instrumentos utilizados, a organização do som, a forma musical entre outros. Como podemos observar a forma com que utilizamos a música pode ser diversificada, e assim é possível verificar que a prática musical é apenas uma possibilidade dentre várias. Por meio da música podemos expressar nossas ideias e sentimentos, compreender valores e significados culturais presentes na sociedade ou no grupo onde ela foi criada. Por meio do movimento e da dança nós interagimos corporalmente com a mesma, apreciamos sua beleza ao escutar com atenção uma obra musical. Transmitimos nossas emoções ao interpretar uma peça seja tocando um instrumento ou cantando. Comunicamos nossos pensamentos e por meio da composição, trabalhamos com o aspecto cognitivo quando pensamos e construímos uma obra. Entendemos dessa forma, que a maneira como alguém se apropria de uma determinada obra simplesmente pelo fato do prazer do ouvir é diferente da forma como uma outra utiliza os elementos sonoros para fazer uma composição. O ensino de música nas escolas tanto de Educação Infantil, pode contribuir não só para a formação musical dos alunos, mas principalmente como uma ferramenta eficiente de transformação social, onde o ambiente de ensino e aprendizagem pode proporcionar o respeito, a amizade, a cooperação e a reflexão tão importantes e necessárias para a formação humana. Dessa forma, é interessante que ela esteja presente no ambiente escolar. Na escola, o ensino musical não tem a intenção de formar o músico profissional, assim como o ensino das ciências não visa à formação de cientistas. Para as educadoras musicais Hentschke e Del Ben (2003) as funções da música no contexto escolar são: [...] auxiliar crianças, adolescentes e jovens no processo de apropriação, transmissão e criação de práticas músico-culturais como parte da construção de sua cidadania. O objetivo primeiro da educação musical é facilitar o acesso à multiplicidade de manifestações musicais da nossa cultura, bem como possibilitar a compreensão de manifestações musicais de culturas mais distantes. Além disso, o trabalho com música envolve a construção de identidades culturais de nossas crianças, adolescentes e jovens e o desenvolvimento de habilidades interpessoais. Nesse sentido, é importante que a educação musical escolar, seja ela ministrada pelo professor unidocente ou pelo professor de artes e/ou música, tenha como propósito expandir o universo musical do aluno, isto é, proporcionar-lhe a vivência de manifestações musicais de diversos grupos sociais e culturais e de diferentes gêneros musicais dentro da nossa própria cultura. (p. 181). Por meio da fala das autoras constatamos as finalidades do conteúdo musical no currículo escolar. Assim sendo, o professor deve ter como proposta colocar os alunos em contato com uma gama maior de estilos e gêneros, proporcionando a diversidade e expandindo o universo musical dos mesmos. Dessa forma ele fortalecerá os traços culturais já existentes e também poderá fazer com que entendam e respeitem os gostos e a cultura de outras pessoas. Nas aulas de música em grupo são trabalhados aspectos como, por exemplo, o respeito pelos colegas, a cooperação que as atividades realizadas em coletivo exigem e a união da turma na busca de alcançar objetivos que sejam comuns a todos, como por exemplo, cantar e dançar em roda ao mesmo tempo. Dessa maneira, fortalecemos a ideia de que este conteúdo específico deve ter seu lugar reservado nas grades curriculares escolares. A educadora Hentschke (1995) destaca algumas razões que justificam a presença da educação musical nas escolas: Entre elas, estão proporcionar à criança: o desenvolvimento das suas habilidades estéticas e artísticas, o desenvolvimento da imaginação e do potencial criativo, um sentido histórico da nossa herança cultural, meios de transcender o universo musical de seu meio social e cultural, o desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor, o desenvolvimento da comunicação não-verbal. (apud JOLY, 2003, p. 117). Constatamos que os conteúdos musicais devem ser desenvolvidos nas aulas de música paracrianças, mas outras habilidades como a socialização, a afetividade, a criatividade, a imaginação, a comunicação entre outros, também estarão sendo trabalhadas simultaneamente. De acordo com o RCNEI: A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de integração e comunicação social, conferem caráter significativo à linguagem musical. É uma das formas importantes de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na educação infantil, particularmente. (BRASIL, 1998, p. 45). Podemos verificar que todas essas características que a linguagem musical pode proporcionar através da aula de música justificam a sua presença na educação infantil. Para Guilherme (2006) isso deve-se ao fato de que: “A música é um dos estímulos mais potentes para ativar os circuitos do cérebro na infância. Os estudos atuais apontam que a janela de oportunidade musical, ou a inteligência musical, abre-se aos 3 anos e começa a se fechar aos 10 anos”(p. 158). Assim sendo, essa faixa etária torna-se o momento ideal para que ocorram os primeiros estudos musicais por meio do processo de musicalização com as crianças. O conceito de musicalização De acordo com a educadora musical Gainza (1988) “O objetivo específico da educação musical é musicalizar, ou seja, tornar o indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de índole musical”. (p. 101). Para Penna (2008) musicalizar é: [...] desenvolver os instrumentos de percepção necessários para que o indivíduo possa ser sensível à música, apreendê-la, recebendo o material sonoro/musical como significativo. Pois nada é significativo no vazio, mas apenas quando relacionado e articulado ao quadro das experiências acumuladas, quando compatível com os esquemas de percepção desenvolvidos. (p. 31). Como podemos verificar por meio das autoras, nesse processo desenvolvem-se a sensibilidade e a percepção ao som, atribuindo-lhe qualidades. A criança dessa maneira conseguirá compreender melhor as músicas que a rodeiam e é assim que estas começam a fazer sentido na vida da mesma. Verificamos que ambas as autoras focam suas atenções na sensibilização para o som, que faz parte dos conteúdos musicais, mas existem outros tipos de aprendizagem que podem estar relacionados a essas aulas? Outro ponto de destaque nos RCNEI diz que a aprendizagem musical é uma forma de conhecimento e expressão que deve estar ao alcance de bebês e crianças, incluindo as que apresentem necessidades especiais. Além disso, enfoca que a linguagem musical é uma importante fonte para o desenvolvimento humano e também uma ferramenta valiosa de transformação e integração social. Verificamos que embora sejam nos conteúdos musicais que a Educação Musical deva construir suas justificativas para sua presença não só no contexto escolar (seja ele em que nível for), mas também na grade curricular escolar, podemos constatar que ela também pode proporcionar diversos outros tipos de aprendizagens nos alunos. A partir das reflexões obtidas no decorrer do estudo do referencial teórico, a questão norteadora para a coleta e análise de dados foi: Quais são as aprendizagens que podem ocorrer em uma aula de musicalização no contexto escolar de educação infantil? Com a intenção de responder os questionamentos e as curiosidades levantadas no decorrer do trabalho buscou-se alcançar o objetivo de observar, descrever e analisar quais foram as aprendizagens que podem ocorrer nas aulas de musicalização. A abordagem utilizada no trabalho foi a pesquisa-ação que consiste em um processo cíclico onde a prática é sempre transformada pela reflexão. Para Tripp (2005) nesse tipo de pesquisa: [...] se aprimora a prática pela oscilação sistemática entre agir no campo da prática e investigar a respeito dela. Planeja-se, implementa-se, descreve-se e avalia-se uma mudança para a melhora de sua prática, aprendendo mais, no correr do processo, tanto a respeito da prática quanto da própria investigação. (p.445-446). Podemos ressaltar que na pesquisa-ação a prática está em constante transformação, transformando a atuação do investigador nas suas ações. Para Franco (2005) quando o pesquisador opta por trabalhar com essa metodologia: [...] por certo tem a convicção de que pesquisa e ação podem e devem caminhar juntas quando se pretende a transformação da prática. No entanto, a direção, o sentido e a intencionalidade dessa transformação serão o eixo da caracterização da abordagem da pesquisa-ação. (p. 485). No contexto escolar, essa metodologia pode beneficiar a prática educativa em sala de aula. Para Tripp (2005) “A pesquisa-ação educacional é principlamente uma estratégia para o desenvolvimento de professores e pesquisadores de modo que eles possam utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e, em decorrência, o aprendizado de seus alunos” [...] (p. 445). Percebemos que tanto educador (pesquisador) como educando são beneficiados, pois por meio da ação podem ser identificados quais aspectos do processo de ensino e aprendizagem podem ser modificados em busca de aperfeiçoar o ensino em sala de aula. A reflexão sobre essa ação proporciona ao investigador uma forma de transformar seu trabalho em busca de melhorias na sua prática educacional. [...] a transformação é previamente planejada, sem a participação dos sujeitos, e apenas o pesquisador acompanhará os efeitos e avaliará os resultados de sua aplicação, essa pesquisa perde o qualificativo de pesquisa-ação crítica, podendo ser denominada de pesquisa-ação estratégica. (p. 486). [...] é pessoal e intransferível. Sobre ele o pesquisador se debruça no intuito de construir detalhes que no seu somatório vai congregar os diferentes momentos da pesquisa. Demanda um uso sistemático que se estende desde o primeiro momento da ida ao campo até a fase final da investigação. Quanto mais rico for em anotações esse diário, maior será o auxílio que oferecerá à descrição e à análise do objetivo estudado. (p. 64). O canto O canto esteve presente em todas as aulas por meio de canções, sempre com as adequações necessárias para se ajustar a tessitura vocal dos alunos. O repertório utilizado foram músicas infantis, folclóricas e brincadeiras de roda. Para Brito “A cultura popular e, especialmente, a música da cultura infantil são ricas em produtos musicais que podemos e devemos trazer para o ambiente de trabalho das creches e pré-escolas”. (BRITO, 2003, p. 94). O meio da fala das crianças “eu conheço essa música!” que essas músicas já estão presentes no seu cotidiano dentro e fora da escola, mas nas aulas elas puderam ser trabalhadas de maneira mais criteriosa com cuidados com a afinação e também com a forma como elas cantam cuidando para que não forcem a voz. De acordo com Fonterrada “A voz infantil se desenvolve pela prática e a repetição é um fator fundamental. Daí a importância de que lhe seja oferecido um modelo vocal de qualidade, pois é a partir dele que sua voz se desenvolverá”. (FONTERRADA, 2005, p. 188). Para Joly se a criança “for solicitada a cantar, por exemplo, perceberá com alguma orientação e pouca dificuldade, as diferenças entre cantar e gritar”. (JOLY, 2000, p. 11). Nas aulas buscava-se deixar claro para elas que cantar forte não é o mesmo que gritar, nesses momentos algumas crianças comentavam que gritar poderia prejudicar a garganta deixando-as com dores e rouquidão. Quando uma nova canção era apresentada, primeiramente trabalhávamos a letra com o ritmo, na sequência era tocada a melodia na flauta doce e por último cantávamos todos juntos com o acompanhamento harmônico do violão. Como podemos verificar em Granja (2006): Cantar um simples “Parabéns pra você”, juntamentecom outras pessoas, requer habilidades de escuta notáveis, que ocorrem de maneira quase inconsciente: a busca de uma tonalidade comum, a coordenação dos ritmos, a articulação entre a palavra e a melodia, entre outras. (p. 66). É interessante verificarmos a quantidade de habilidades musicais que estão sendo desenvolvidas no ato de cantar em grupo. Brito (2003) reforça a idéia acima, pois segundo a autora “Cantando coletivamente, aprendemos a ouvir a nós mesmos, ao outro e ao grupo todo”. (BRITO, 2003, p. 93). Por meio dessa coletividade conseguimos encontrar algo que seja comum e unificador para o grupo naquele momento. Pensando na integração do som com o corpo e nas reações que este apresenta na presença do primeiro, se faz necessário dar liberdade para as crianças expressarem-se também por meio do canto. Como salienta Brito (2003): É certo que música é gesto, movimento, ação. No entanto, é preciso dar às crianças a possibilidade de desenvolver sua expressão, permitindo que criem gestos, que observem e imitem os colegas e que, principalmente, concentrem-se na interpretação da canção, sem a obrigação de fazer gestos comandados durante o tempo todo [...] (p. 93). Por diversas vezes, as crianças trocaram e inventaram uma nova letra para a canção, achando esse processo divertido e engraçado. Outro fato recorrente era o de criar gestos enquanto cantavam, eles imitavam os gestos dos colegas ou fingiam que estavam tocando um instrumento musical. Em uma aula um menino relatou que não gostava de cantar, foi proposto que o mesmo não precisa assim fazer, mas que seria importante que continuasse na roda com os colegas. Mesmo não cantando como os colegas, ele ficou gesticulando na canção o que pode ser considerada como uma participação na atividade. O Repertório As crianças em um repertório que não estava presente na escola. Entre as obras do repertório escolhido podemos destacar o “Andantino Op. 139 nº 1” do compositor Mauro Giuliani e o “Adágio” do compositor Johann Kaspar Mertz ambos tocados no violão, a “Sagração da Primavera” do compositor Igor Stravinsky (CD), “Tontinha” do grupo Anima (CD), “Gavota Choro” e o “Trenzinho do Caipira” do compositor Heitor Villa Lobos (CD). Dessa forma foram trabalhadas músicas de diferentes estilos e gêneros entre eles podemos destacar o estilo Clássico, o Romântico e o Contemporâneo e gêneros populares como o Baião e o Choro. Como podemos constatar em Fonterrada, para o educador Rao “a criança deve ser posta em contato desde cedo com a literatura musical, pois somente assim sua musicalidade se desenvolverá com tranqüilidade e sem sobressaltos”. (FONTERRADA, 2005, p. 188). Verificamos a importância dessas audições para o ensino musical da criança, além disso, é importante destacar que a mesma começa a ter contato com um repertório diferenciado se compararmos com as canções da cultura infantil que ela normalmente tem acesso. Segundo Joly (2000): A expressão Corporal [...] o professor de música está inserido num ambiente privilegiado, à medida que tem um contato constante com obras-primas de grandes mestres da música, com manifestações folclóricas e culturais de seu povo, e contato com as expressões musicais do mundo contemporâneo, de forma que possa criar boas oportunidades de desenvolvimento cultural de seu aprendiz. (p. 69). Por meio desse repertório variado foi proporcionado para a turma um momento de enriquecimento cultural, onde puderam conhecer por meio da escuta outras formas de produção musical. As conversas sobre as impressões das crianças foram realizadas sempre que o som terminava, nessas discussões elas falavam sobre os instrumentos que executavam na obra e o que sentiam durante a escuta como, por exemplo, medo, alegria e tranquilidade. Inicialmente as propostas eram apenas de escuta, com objetivos de proporcionar um repertório diversificado, mas quando era colocado um som ou uma música e era cobrada a escuta silenciosa, foi identificado que algumas crianças não conseguiam ficar paradas e quietas em seus lugares, começavam a expressar corporalmente o que estavam escutando, então foi decidido que essa parte dos movimentos livres deveria ser uma parte importante da aula. Segundo Fonterrada para o educador musical Willems “A escuta sensível raramente vem só, sendo acompanhada por efeitos autônomos, concomitantes e consecutivos, de ordem física e mental”. (FONTERRADA, 2005, p. 131). Nas atividades a proposta era trabalhar essa expressividade que aparentemente já carregavam com elas, antes de colocar a música ou tocá-la no violão era combinado que elas podiam se movimentar ou dançar da maneira como quisessem e que deveriam aproveitar o espaço da sala para isso. A única restrição era com relação uma tentativa de minimizar os conflitos entre eles como empurrões e evitar que ficassem caindo no chão já que algumas vezes elas tropeçavam uma nas outras. Fonterrada destaca que na proposta do educador musical Orff existe uma “grande ênfase no movimento corporal e na expressão plástica, interligados à experiência musical”. (FONTERRADA, 2005, p. 148). Nesse tipo de atividade não havia um certo ou errado, mas sim era permitido que as crianças ficassem livres (sem movimentos pré-estabelecidos) para expressarem a música da maneira como a compreendiam. Durante a execução do Andantino Op. 139 nº 1 do compositor Mauro Giuliani, elas se movimentavam de forma expressiva. Quando foram questionadas sobre a forma como dançaram disseram que “fizeram por graça”, mas elas conseguiram representar de maneira clara uma parte da música e sua intensidade. Por meio de seus movimentos elas representavam um trecho tocado forte com movimentos rápidos e curtos e quando o trecho era fraco elas faziam movimentos lentos e amplos. Como ressalta Fonterrada para Dalcroze “As estruturas musicais vão sendo abordadas nas próprias atividades, de modo que, dirigidas pela escuta, as pessoas expressem o que ouvem por meio de movimentos”. (FONTERRADA, 2005, p. 123). Quando a música chegou à parte final a Coda3 as crianças conseguiram mesmo que de forma inconsciente expressar por meio de movimentos e gestos toda a dinâmica desse trecho. No Adágio do compositor Johann Kaspar Mertz , elas também dançaram de forma bem expressiva, essa música possuía um andamento mais lento do que a anterior. Algumas meninas da turma perguntaram se a música era de “bailarina”, foi respondido que não, mas que combinava devido a esse caráter lento e bem expressivo. Essas alunas fazem aulas de ballet, assim a dança torna-se uma forte referência para as mesmas. Na música “A volta da Asa Branca” de Gilberto Gil onde foi utilizado o recurso do rádio e CD, as crianças deveriam andar livremente se movimentando (dançando) pela sala quando ouviam a voz do cantor, quando tocava a parte instrumental elas deveriam se movimentar (dançando) paradas no local. Os objetivos da atividade eram: desenvolver a percepção da música com e sem a presença da voz, desenvolver a concentração e a expressão corporal de forma livre. As crianças demonstraram euforia ao se movimentar expressando o caráter alegre e contagiante do som que escutavam, dançaram em pequenos grupos e aos poucos foram entendendo o momento correto onde deveriam andar e parar. Como ressalta Fonterrada para Dalcroze “O corpo expressa a música, mas também transforma-se em ouvido, transmutando- se na própria música. No momento em que isso ocorre, música e movimento deixam de ser entidades diversas e separadas, passando a constituir, em sua integração com o homem, uma unidade”. (FONTERRADA, 2005, p. 120). Dessa forma as crianças reproduziam por meio de expressões corporais conscientes ou não aquilo que escutavam e utilizavam-se do próprio corpo para exteriorizar essa percepção.Aprendizagens não musicais Nessa parte são apresentados outros tipos de aprendizagens que ocorrerão nas aulas de musicalização, entre elas estão as regras, o convívio com os colegas, o respeito e a afetividade, que poderão contribuir para a formação humana das crianças. Para que as aulas pudessem acontecer e o planejamento pudesse ser colocado em prática, fez-se necessário o estabelecimento de algumas regras que nos ajudaram a atingir tais objetivos. De acordo com Chateau “A regra é a ordem posta em nossos atos”. (CHATEAU, 1987, p. 62). Para que possamos conviver de maneira pacifica na sociedade é importante o cumprimento de regras que são estabelecidas nas nossas relações com o outro. Ainda segundo o autor “obedecendo à regra, a criança procura ainda afirmar o seu eu. [...] a submissão à regra social é um dos meios de que a afirmação do eu pode se utilizar para sua realização. A regra é o instrumento da personalidade”. (CHATEAU, 1987, p. 55). Por meio dela a criança se compreende no mundo em que vive e entende como funcionam as relações sociais presentes na sua vida. Combinamos algumas dessas regras que deveriam ser respeitadas para que a aula pudesse ser desenvolvida, entre elas podemos destacar: a permanência na roda mesmo para as crianças que diziam não gostar de música (nos momentos em que fosse necessário), fazer silêncio quando era solicitado (as mãos fechadas representavam essa regra) e nas atividades com movimento ou locomoção pelo ambiente elas não deveriam agarrar os amigos e ficar caindo no chão (nesse último muitas vezes elas caiam e outros colegas tropeçavam ou pisoteavam que estava no chão). Nas aulas foi constatado que a prática musical em grupo contribuiu para o desenvolvimento de uma união do mesmo, nos momentos em que deveriam trabalhar em equipe como, por exemplo: no canto coletivo, essa colaboração se fez presente. Para Brito quando cantamos coletivamente “desenvolvemos também aspectos da personalidade, como atenção, concentração, cooperação e espírito de coletividade”. (BRITO, 2003, p. 93). Percebemos que a partir do desenvolvimento da própria concentração a criança começa também a utilizá-la em benefício do grupo, trabalhando para a realização do combinado. Em certa ocasião, as crianças chamaram um aluno que havia saído da roda para voltar, esse menino não demonstrava muito interesse nas aulas. Por diversas ocasiões ele foi solicitado a participar das atividades, suas participações eram sempre elogiadas, mas por diversas vezes ausentava-se por vontade própria. Demonstrávamos satisfação em vê-lo participar das atividades, mas nessa aula foram as crianças que apresentaram essa necessidade de estarem juntos. Como ressalta Chateau “O homem atrai o homem, é um fato. Tudo se passa como se, em cada um de nós, houvesse uma espécie de pré conhecimento e como uma necessidade do outro. O sorriso, primeira reação social, é a melhor prova disso”. (1987, p. 44). Ainda sobre essas relações humanas, Granja afirma que “ninguém se constitui sozinho no mundo. Cada pessoa se constitui como um nó de uma complexa rede de relações sociais e, dessa forma, sempre depende do outro”. (GRANJA, 2006, p. 103). Podemos verificar a necessidade do ser humano de se relacionar, assim as crianças sentiram falta da presença do colega, pois era importante para eles que o mesmo estivesse presente com o grupo na brincadeira. Para terminar as aulas que ocorriam no período da tarde cantávamos a canção “Com a música sou mais feliz”, na parte final a letra dizia: “com a música sou mais feliz”, em uma aula duas alunas se abraçaram e sorriram, foi um belo gesto de carinho por parte delas. Podemos destacar aqui a construção e manutenção dos laços afetivos presentes na vida das crianças. CONDERAÇÕES FINAIS O ensino de música pode proporcionar às crianças da educação infantil, bem como verificar a importância do seu aprendizado e sua contribuição na socialização das crianças e perceber as formas de interação desta com os demais eixos de trabalho. Apontar a maneira que a música pode ser trabalhada nas salas de aula da educação infantil e entender o significado da música enquanto ferramenta pedagógica também foram destacadas neste estudo. Com esta pesquisa verificar se que a música deve ser trabalhada com brincadeiras e canções, aqui compreendidas como atividade de canto liderado pelo educador e acompanhadas pelas crianças de forma criativa. É com base no dia a dia com a música na sala de aula, com as atividades desenvolvidas pelos professores no cotidiano da educação infantil e das experiências pessoais com a música, que nascerá uma prática pedagógica que contemple a música como elemento importante que venha a colaborar com o trabalho e o desenvolvimento da criança. A música aliada ao ensino é entendida por muitos autores pesquisados como importante ferramenta pedagógica. O ensino de música aqui discutido não é o de formação de instrumentistas, concertistas e nem dominar instrumentos ou cantar almejando uma carreira profissional como músico. O aluno pode sim no futuro almejar uma dessa carreiras, mas o ato do professor cantar, trabalhar a música ou tocar alguns instrumento, deve ter como objetivo o desenvolvimento da criança, aliando a música a elementos pertinentes do currículo da educação infantil. Sendo assim para que seja repensado o papel da música na educação infantil, não só criticando os professores, mas revendo sua formação, os recursos que eles tem a sua disposição, e tentando ressignificar a música na educação infantil, mostrando que é possível uma prática consistente com a música na educação infantil. Acredito ser importante que as professoras tenham essa consciência, mas ainda são necessárias politicas que envolvam a formação dos professores para atuação com música e melhores recursos para seu trabalho em sala. REFERENCIAS ALMEIDA, Renato. 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