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CADERNO – CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO – JAIME BARREIROS (FBDG) AULA NÚMERO 01 – INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA A Epistemologia consiste na teoria do conhecimento. Destacamos três principais maneiras para explicar fenômenos que acontecem na vida humana – o ramo teológico (associado ao mito/religião – imaginação – imposição), o ramo metafísico (vinculado à filosofia – razão sistemática – valorização das atitudes de duvidar e questionar – método dialético) e o ramo científico ou positivo (vinculado à ciência – experimentação – busca a comprovação através de métodos empíricos sem abandonar a lógica racional). Max Weber, sociólogo alemão, conceituou o desencantamento do mundo, no século XIX, como a racionalização do processo produtivo e do conhecimento, ou seja, o momento em que as narrativas míticas do homem em relação à natureza são substituídas por uma visão exploratória. A Ciência Política busca compreender as relações de poder em uma sociedade através de métodos de comprovação. Paulo Bonavides sintetiza o conceito de poder como uma energia abstrata que se sobrepõe aos homens, limitando a liberdade individual, estabelecendo normas de conduta em prol da convivência. O poder seria um equilíbrio entre a dominação (Hobbes, contratualista, defendida que a essência humana é má e, portanto, os indivíduos entram em frequentes conflitos no estado de natureza. Em Leviatã, sintetiza a máxima de que o homem é o lobo do próprio homem, estando em constantes conflitos em prol de dominar uns aos outros) e a convivência (para filósofos como Aristóteles, o homem é um animal político, ou seja, um ser social, necessitando da interação com outros seres para a sua consolidação). Normas – comandos que impõem comportamentos. Podem ser naturais (ex: a força gravitacional “puxa” qualquer homem para baixo na Terra) ou antrópicas, também chamadas de políticas ou culturais (estes variam a depender da localidade e da época – ex: legalização de bebida alcóolica em determinados países e a ideia de “mulher honesta” quando se discutia crimes de estupro). AULA NÚMERO 02 – NORMAS Nicolau Maquiavel definiu a política como a arte de chegar, se consolidar e exercer o poder. Todavia, na sua obra “Microfísica do poder”, Foucault sintetizou a máxima de que toda relação humana consiste em uma relação de poder, não necessariamente envolvendo aspectos estatais. Por exemplo, a dominação tradicional que os membros mais velhos da família exercem sobre os mais jovens; O direito, enquanto ciência política, busca determinar o mínimo ético-social para um convívio harmônico em sociedade. Destarte, no âmbito jurídico não há uma única verdade ou uma verdade absoluta, envolvendo-se constantemente a capacidade de interpretação e argumentação dos seus operadores em prol da defesa de um determinado ponto de vista (tese); O direito determina normas, ou seja, regras de convivência social as quais variam de acordo com os valores e escolhas em um determinada época e/ou determinado espaço; Conceitos importantes: ETIQUETA Vincula-se aos aspectos menos relevantes para convivência social Ex: Bom dia, boa tarde, boa noite, licença, comer com talheres, O descumprimento de normas de etiqueta implica em descortesias etc... (ex: um indivíduo não cumprimenta outro ao entrar no elevador). Dessa forma, há sanções difusas, ou seja, espontâneas e plurais, sendo menos severas e determinadas pelo convívio social MORAL Vincula-se aos aspectos mais relevantes para o convívio social Ex: O cumprimento dos dez mandamentos O descumprimento de normas morais leva a uma imoralidade (ex: No Brasil, é considerado estranho pessoas mais novas se relacionarem com pessoas 50 anos mais velhas). Apesar de mais severas, as sanções seguem difusas, ou seja, espontâneas e plurais, sendo determinadas pelo próprio convívio social DIREITO Vincula-se ao mínimo ético-social necessário para uma convivência pacífica em sociedade Neste caso o indivíduo pode fazer tudo aquilo que não é proibido por lei, sendo, portanto, a sua liberdade condicionada a determinações do Estado O descumprimento de normas jurídicas conduz a ilicitudes, como por exemplo, casos de assassinatos fora da atuação em legítima defesa. Destarte, ocorrem sanções jurídicas, sendo mais severas comparadas às anteriores e de responsabilidade exclusiva do Estado (não se deve realizar justiça com as próprias mãos). Neste caso do assassinato é provável que, sob interpretação da lei e mediado através de um processo, o indivíduo venha a pagar com a privação de sua liberdade por um certo período A Ciência Política se relaciona com diversas áreas do conhecimento, entre as quais, podemos citar algumas: É impossível compreendermos a evolução do Estado e das relações de poder sem o estudo da cronologia histórica; A Economia é imprescindível na compreensão dos fenômenos políticos por estarem extremamente vinculados, pois, muitas vezes, os fatos econômicos são determinantes para a formação de ideologias e comportamentos políticos (Segundo Karl Marx, a economia seria a base da sociedade – infraestrutura determinando a superestrutura); A Psicologia dedica-se ao estudo do comportamento humano, ou seja, de que forma e o porquê dos indivíduos agirem dessa forma em aspectos individuais e sociais. Assim, é de suma importância esse conhecimento para o entendimento de fenômenos políticos (Para Maslow, em sua pirâmide de prioridades, no topo estaria a sobrevivência, vista como o mínimo necessário para a dignidade humana); A Filosofia Política e a Ciência Política estão perfeitamente interligadas e muitas vezes são confundidas. A diferença básica consiste justamente entre Filosofia e Ciência – a primeira valoriza mais o método dialético, enquanto a segunda busca geralmente a comprovação mediante repetidos experimentos; A Ciência Política engloba também a Teoria Geral do Estado, apresentando um ramo de atuação mais amplo já que dedica-se ao estudo do poder, encontrado também nas relações envolvendo o Estado; Os cientistas políticos se dispõe de dois principais métodos de estudos – os institucionais, que levam em consideração os aspectos relacionados ao funcionamento de instituições (ex: partidos políticos) e os culturais, que levam em consideração os aspectos relacionados ao comportamento individual e coletivo, atuando em parceria com a Psicologia; De acordo com Leonardo Morlino, esses dois estudos são indissociáveis para os objetivos da Ciência Política, uma vez que a cultura molda as instituições e vice-versa, constituindo-se uma “via de mão- dupla”; AULA NÚMERO 03 – A ORIGEM DA SOCIEDADE E OS ELEMENTOS CONSTITUINTES DO ESTADO Sociedade: agrupamento de indivíduos que apresenta uma organização bem definida; As duas principais teorias reconhecidas para explicar o surgimento das sociedades e os motivos que levam ao homem a viver em sociedade são – A teoria do impulso associativo e a Teoria do Contratualismo; A primeira – a Teoria do impulso associativo – é definida por nomes de prestígio como Aristóteles, o qual defendeu a máxima de que o homem é um animal político, ou seja, um ser social. Partindo desse pressuposto, é sintetizada a concepção de que os homens se agrupam de forma natural e espontânea; A vertente contratualista é baseada na ideia de que a sociedade é um produto de um acordo de vontades (um contrato social). Pensadores como Hobbes, Locke e Rousseau, basearam seu pensamento na existência de um momento anterior ao estado de civilização – o estado de natureza; Os contratualistas se subdividem em dois grupos levando em consideração a direção a qual relacionaram a necessidade do contrato social – o equilíbrio social e o desenvolvimento humano; Na hipótese de que o contrato seria necessário para o equilíbrio social destacamos Thomas Hobbes e John Locke. O primeiro, conhecido por ser um dos teóricosdo absolutismo, aponta para a maldade existente na essência humana e, portanto, no estado pré-civilizatório, os homens viviam em intensa selvageria, caracterizada pela guerra de todos contra todos pois os indivíduos buscavam dominar uns aos outros (Leviatã – “o homem é o lobo do próprio homem”). John Locke compactuou com algumas ideias de Hobbes, todavia, se diferenciou ao defender a ideia de que o homem, em sua essência, não é ruim mas sim livre, cabendo ao Estado promover a garantia de direitos aos membros da sociedade – a vida, a liberdade e a propriedade; Jean-Jacques Rousseau foi o grande destaque do ramo que considera o contrato social importante para o desenvolvimento humano, ou seja, o objetivo do contrato seria potencializar as aptidões humanas, tendo em vista que na sociedade há um nítido conflito de vontades e interesses. Destarte, Rousseau considera que o ser humano, em sua essência, é um bom selvagem, inferindo-se que no estado de natureza os indivíduos encontram em plena harmonia com o ambiente, ocorrendo conflitos apenas quando se integram em sociedade (o homem é bom mas a sociedade o corrompe). O pensamento do suíço é visto, atualmente, como uma referência para a consolidação de regimes democráticos no que diz respeito à concepção de que o Estado deveria garantir a vontade geral. O Estado é crucial para o desenvolvimento do direito pois busca garantir o mínimo ético-social. O direito, por conseguinte, apresenta normas organizadas pelo próprio Estado. O Estado pode ser entendido como uma forma de organização política composta por três elementos essenciais – povo, território e soberania O direito apresenta relações com a moral (pontos de intersecção), embora, atualmente não seja obrigatória. Por exemplo, jogos de apostas são ilicitudes do ponto de vista jurídico mas moralmente aceitas em países como o Brasil Segundo Dalmo de Abreu Dallari, em Elementos de Teoria Geral do Estado, Estado consiste na ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território 1) Povo – conjunto de pessoas que guarda com o Estado vínculos de identidade permanente (ideia de reciprocidade vinculada ao exercício do poder). Ex: somente pessoas nascidas no Brasil ou naturalizados brasileiros apresentam direito ao voto nas eleições. OBS: Povo é diferente de população ou nação. O termo população corresponde à soma de todas as pessoas que se encontram no território do Estado em determinado momento, incluindo os imigrantes, inclusive os de passagem (temporários). Além disso, o termo nação expressa uma comunidade de base cultural semelhante, ou seja, apresenta um nítido caráter homogêneo; OBS: Embora o povo consista em um dos elementos de Estado, a população apresenta sua relevância para o direito, uma vez que um indivíduo em determinado território encontra-se submetido às normas jurídicas daquele Estado. Por exemplo, o jogador Vampeta estava proibido de consumir bebida alcóolica em países árabes, prática que é legalizada no Brasil para maiores de 18 anos; OBS: A população deve obediência ao direito local; OBS: Em tempos de paz, um brasileiro pode ser condenado à morte, basta que ele esteja situado em outro país que seja permitida tal condenação; 2) Território – área do globo terrestre sobre a qual o povo exerce o poder soberano, sendo delimitado por fronteiras (naturais ou artificiais); OBS: Os curdos consistem em uma nação mas não um povo, uma vez que estão situados em um território cujo domínio pertence a um outro povo; O território compreende os ambientes terrestre (solo e subsolo integrados às fronteiras estatais), marítimo (a regulamentação sobre a soberania do mar) e aéreo (compreende os limites acima do domínio terrestre e marítimo); OBS: Um Estado pode impedir que aviões sobrevoem determinados ambientes permanentemente ou pode, inclusive, proibir a circulação de aeronaves em todo o território temporariamente (ex: 11 de setembro de 2001); 3) Soberania - é o poder inerente ao Estado de criar as leis e fazê-las cumprir de forma independente. O Estado é soberano por causa de sua independência de outros poderes externos e por sua capacidade de impor sua vontade internamente, inclusive, podendo fazer uso da violência legítima; OBS: Mesmo com as pressões mundiais, o Estado de Cingapura, visando à consolidação da soberania nacional, castigou o jovem estadunidense que pichara um muro no país. O criminoso levou 4 surras amarrado em praça pública; Direito de nacionalidade – Conjunto de normas jurídicas que irá disciplinar quem é o povo do Estado. Cada país exercendo o seu poder soberano estabelece suas próprias regras para definir quem é o povo. Critérios – Nacionalidade primária x Nacionalidade Secundária: A Nacionalidade Primária, também é conhecida como nata ou originária, enquanto a Nacionalidade Secundária é também denominada adquirida. A base para a consolidação da nacionalidade primária consiste no nascimento. Destarte, dois critérios para determinar a nacionalidade primária: jus solis (predominante na América, vinculando-se ao local de nascimento) e jus sanguinis (mais tradicional na Europa, vincula-se à família, estabelecendo uma relação mais próxima com o conceito de nação); Com o decorrer dos anos, alguns países europeus como a Alemanha e a França, passaram a adotar em maior proporção o critério jus solis, entretanto, o jus sanguinis ainda é mais predominante; No Brasil, a regra geral é “nasceu no Brasil, logo é brasileiro”, existindo uma rara exceção que consiste no contexto em que os pais do indivíduo são estrangeiros que vieram ao Brasil a serviço de outro Estado (como dois diplomatas, por exemplo); Rodrigo Maia, embora nascido no Chile, é considerado brasileiro pelo critério jus sanguinis, possuindo direitos políticos, inclusive de assumir o cargo de Presidente da República; A Nacionalidade Secundária vincula-se aos atos de vontade (“naturalização”), quando o indivíduo nascido em outro Estado, por exemplo, viveu grande parte da sua vida em outro Estado e sente-se interligado a este por um vínculo. Petkovic, craque futebolista sérvio, é naturalizado brasileiro, sem, contudo, abandonar a nacionalidade sérvia; No Brasil, a Constituição de 1988 salienta que um brasileiro nato e um brasileiro naturalizado apresentam os mesmos direitos, salvo algumas exceções, principalmente relacionadas à ocupação de cargos políticos mais relevantes (presidente, vice-presidente, presidente da câmara, etc...); AULA NÚMERO 04 – SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DO ESTADO 1. Teorias do surgimento do Estado: 1.1 – Teoria da potencialidade: Parte do pressuposto de que nômades, já vivendo em sociedade, teriam desenvolvido as suas aptidões, culminando, posteriormente, na adoção de um estilo de vida sedentário, constituindo assim, um povo, exercendo uma soberania em um determinado território; 1.2 – Teoria familiar: Assemelha-se a anterior mas parte do pressuposto de que a família seria a base para o surgimento do Estado. Assim, as famílias passaram a conviver umas com as outras, estabelecendo-se normas de convívio; 1.3 – Teoria da força/ Teoria da conquista: Grupos teriam entrado em conflito ao longo da história por desejarem um mesmo fator. Dessa forma, a existência de vencidos e derrotados estabelece uma hierarquia baseada na força em um determinado território, ou seja, os vencedores começam a explorar os vencidos; 1.4 – Teoria econômica/ Teoria Patrimonial: Parte do pressuposto de que o surgimento da propriedade privada foi determinante para o desenvolvimento do Estado. Observa-se, nesse sentido, a existência de uma segregação cada vez mais evidente entre os que possuem e os que não possuem, sendo esses últimos passíveis de exploração da sua mão-de-obra; 2. A evolução política do Estado ANTIGUIDADE REMOTA Presença de governos teocráticos, ou seja, consolidados a partir da concentração depoderes nas mãos de um divino (Egito, Mesopotâmia, Hebreus...); Uma Cidade-Estado da Mesopotâmia, a Babilônia, ficou caracterizada pelo Código de Hamurabi, valorizando-se a jurisprudência e casos concretos da sociedade (diferentemente do Código Penal brasileiro que se baseia em hipóteses e casos abstratos); O Código de Hamurabi foi marcado pela Lei do Talião (“olho por olho, dente por dente”), que representou o desenvolvimento do direito ao sintetizar a justiça proporcional; ANTIGUIDADE CLÁSSICA Destaque para Grécia e Roma; Transferência dos poderes do divino para o homem; Na Grécia Antiga, caracterizada pela descentralização política, destacamos duas pólis: Esparta e Atenas; Esparta: oligarquia, educação voltada para o físico e forte presença religiosa); Em Atenas, o Código de Dracon, por prever as leis draconianas (inclusive a pena de morte), recebeu duras críticas já que mantinha a concentração de privilégios nas mãos dos Eupátridas; Solón e Péricles elaboraram as bases do sistema democrático de Atenas, que veio a se concretizar depois de muitos séculos desde a sua origem; A Democracia Ateniense é dita direta e excludente, já que os cidadãos participavam diretamente dos debates políticos na Ágora em prol do bem comum. Todavia, somente eram considerados cidadãos os homens, filhos de pai e mãe atenienses, adulto e livre; Mulheres, crianças, estrangeiros e escravos não eram considerados cidadãos; Na Roma Antiga, destacou-se o período da República (coisa pública), caracterizada pela separação dos poderes. Além disso, a criação dos Tribunos da Plebe foi crucial para a luta dos direitos das camadas mais baixas; A Teocracia volta a ganhar força a partir da época do Império Romano. Em 476 d.C, com a queda do Império Romano do Ocidente, inicia-se a Idade Média; IDADE MÉDIA Consolidação do Feudalismo como modo de produção, principalmente durante a Alta Idade Média (séc. V ao X); Formação de feudos – descentralização política – perda da concepção de Estado soberano; Pluralismo jurídico – disputa de poder (rivalidade) entre igreja, reis e senhores feudais, ou seja, um conflito entre ordenamentos jurídicos em um mesmo território e ao mesmo tempo; Forte presença da religião; Criação dos dois principais sistemas jurídicos que vigoram na atualidade – Civil Law e Common Law; Civil Law (caráter mais abstrato)– influenciado pelo direito romano- germânico, é caracterizado pelo estabelecimento de normas que buscam prever condutas e manter a ordem social; Common Law (caráter mais concreto)– predomina na Inglaterra e nas ex-colônias britânicas, baseando-se nos costumes, tradições e na jurisprudência; Vale salientar que o sistema Common Law apresenta maior segurança jurídica por ser nitidamente mais fácil romper com escritos a tradições; IDADE MODERNA O Renascimento Comercial e Urbano no final da Baixa Idade Média contribuiu significativamente para a decadência do sistema feudal e para a ascensão de uma nova classe social – a burguesia; A Idade Moderna se iniciou no século XVI e vigorou até o século XVIII, terminando com o marco da Revolução Francesa de 1789; A Burguesia passa a almejar e a se consolidar do poder político juntamente com a proximidade em relação aos nobres (busca por liberdade econômica); Formação dos Estados Nacionais, Grandes Navegações e a consolidação de regimes monárquicos absolutistas caracterizaram esse período; Vale ressaltar também a presença de um monismo jurídico, o que contribuiu para a consolidação de poderes nas mãos do Estado e na fixação de normas por ele determinadas; Nas monarquias absolutistas, predominantes durante a Idade Moderna, o rei encarna a centralização do poder e, portanto, a soberania; Forte presença da religião (Teoria do Direito Divino dos Reis) – o rei como representante de Deus na Terra; OBS: TRANSIÇÃO DA IDADE MODERNA PARA A IDADE CONTEMPORÂNEA Aos poucos, começa-se a perceber a decadência do poder do rei e uma ascensão do poder burguês; Ascensão do pensamento científico, retomada dos ideais humanistas, ruptura com a predominância católica no Ocidente Europeu...; Inglaterra (1485) – Guerra das Duas Rosas – Fortalecimento da Dinastia Tudor; 1628 – Petições de Direitos – A burguesia envia um documento ao rei pedindo uma consulta ao Parlamento; 1653 – Queda da Monarquia – República de Cromwell – Atos de Navegação; Posteriormente, o Rei (Jaime II) retoma o poder, porém mais enfraquecido; 1679 – Habeaus Corpus Act – garantia da liberdade, reduzindo-se ainda mais o poder monárquico; 1688 – Fuga do Rei Jaime II, não resistindo às pressões; 1689 – Revolução Gloriosa - Bill of Rights (Declaração de Direitos) – Guilherme de Orange assume o poder, mas obrigado a assinar um documento que limitava o seu poder – o Parlamento passa a ser o centro do poder França (1789) – Revolução Francesa Ruptura radical com a estrutura política vigente; Feudalismo Capitalismo liberal; Fortalecimento da Burguesia; Surgimento da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão; IDADE CONTEMPORÂNEA Pós-Revolução Francesa; Consolidação do Estado mínimo capitalista; Apesar do desenvolvimento significativo, ocorreu um aumento na concentração de renda; Dicotomia entre Liberalismo e Republicanismo torna-se mais evidente; Ascensão de movimentos político-sociais no século XIX – Socialismo, Anarquismo, Catolicismo Social (Encíclica Rerum Novarum – Papa Leão XIII)...; Defesa da igualdade material (tratar os desiguais de forma desigual a medida da desigualdade – dar a cada um a parte que lhe compete); Desenvolvimento das bases do Direito Trabalhista; No século XX, ocorrem duas Guerras Mundiais, a Revolução Russa (1917), a Crise de 29 e a ascensão de regimes baseados na lógica de um Estado forte e interventor (como, por exemplo, governos totalitários – nazismo e fascismo); Ocorrência da Guerra Fria – aumento intervencionista estatal (fortalecimento do pensamento keynesiano) – criação de políticas públicas voltadas para garantir o bem-estar social; Ascensão das sociais-democracias (Estado de bem-estar social) – meio- termo entre Liberalismo e Socialismo - busca por humanizar o capitalismo; Consolidação do Direito Constitucional, ou seja, agigantamento da Constituição; Retomada das ideais liberais por nomes como Hayek e Freedman; No século XXI, ocorrem duas grandes crises econômicas (2008 e 2020), evidenciando, novamente, a importância do papel exercido pelo Estado; Ainda há um debate atualmente entre essas políticas individualistas e as políticas coletivistas; OBS: Autoritarismo é diferente de Totalitarismo, uma vez que esse último é caracterizado por um corte das liberdades individuais mais acentuado, tanto no âmbito público quanto do privado; Tanto o Republicanismo quanto o Liberalismo realizaram uma oposição nítida à centralização do poder por parte de um monarca, contudo, também existem divergências entre essas teorias políticas: REPUBLICANISMO LIBERALISMO Concretização da cidadania a partir da participação do indivíduo na vida pública (as esferas pública e privada são indissociáveis); Defesa da soberania popular; O bem comum estaria acima dos interesses particulares (visão semelhante a de nomes como Rousseau); Defesa da ampla participação política; Separação evidente entre as esferas pública e privada (há uma nítida delimitação); Defesa da liberdade individual; Defesa da mínima intervenção estatal; Forte influência do Racionalismo; Separação dos poderes; Contenção dos poderes do Estado; Entra em decadência a partir da Crise de 29; AULA NÚMERO 06 – OS FINS DO ESTADO De acordo com Georg Jellinek, os fins de um Estado se subdividem em fins essenciais (jurídicos) e fins não essenciais(sociais) Os fins essenciais ou jurídicos são aqueles que necessariamente todo e qualquer Estado deve realizar e cumprir (associa-se à produção e à aplicação do direito). Ex: Garantia da paz social, da segurança nacional, da soberania nacional...; Os fins não essenciais ou sociais são aqueles que não são inerentes ao Estado, podendo este sobreviver sem cumprir com tais fins. Ex: Promoção de educação, saúde, moradia, alimentação, etc; OBS: Os fins sociais são construídos historicamente – agigantamento do Estado, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, sendo promovedor de tais fins; Uma outra classificação, porém não vinculada a um doutrinador específico, defende a existência de três fins do Estado no que se diz respeito a uma óptica relacional com os indivíduos – fins limitados, fins expansivos e fins solidários; Os fins limitados são aqueles evidenciados na presença de um Estado mínimo (Ex: O Estado mínimo liberal de Adam Smith); Os fins expansivos são aqueles que constituem um Estado forte, gigante e interventor, situado acima dos indivíduos (Ex: Estados totalitários – Nazismo, Fascismo, Stalinismo...); Os fins solidários são aqueles evidenciados quando o Estado se encontra em equilíbrio com o povo, realizando uma correspondência com os cidadãos (Ex: O Estado Federal Brasileiro – promove políticas públicas ao mesmo tempo em que garante a liberdade de iniciativa). Em síntese, o Estado caminha junto com o povo em solidariedade; AULA NÚMERO 07 – A QUEM PERTENCE A SOBERANIA DO ESTADO E A CLASSIFICAÇÃO DOS ESTADOS A Soberania consiste, juntamente com o povo e território, em um dos elementos constituintes do Estado. A soberania garante a independência em relação a outros Estados (soberania externa) e a imperatividade do poder estatal (soberania interna – capacidade de criar normas e fazê-las cumprir) Ex: Apesar das pressões realizadas por outros Estados, entre esses os Estados Unidos da América, o governo de Cingapura, em defesa da soberania nacional, castigou o jovem estadunidense que foi encontrado pinchando um muro através de quatro chibatadas em praça pública. A QUEM PERTENCE A SOBERANIA DO ESTADO? A resposta para essa pergunta pode levar em consideração aspectos histórico-culturais, ramificando-se em duas lógicas: a teocrática e a democrática 1. A perspectiva teocrática: baseia-se na concepção de que a soberania estaria em divindades, predominando na Antiguidade Remota e também no início da Idade Moderna 1.1 – Teoria da natureza divina dos reis: visão predominante na Antiguidade Remota (Egito Antigo, por exemplo), o rei era considerado um deus-vivo por si só, sendo um dos detentores do poder teocrático e, consequentemente, do poder político. Destarte, infere-se que o poder teocrático esteve bastante relacionado à consolidação, também, do poder político. 1.2 – Teoria da investidura divina dos reis: visão predominante no início da Idade Moderna (Monarquias absolutistas europeias, por exemplo), o rei era considerado o representante de Deus na Terra, ou seja, detém o monopólio da voz de Deus mas não era Ele propriamente dito. 1.3 – Teoria da investidura providencial – visão predominante a partir da decadência do poder absolutista real, o rei permanece como representante próximo de Deus, entretanto, a soberania (poder) estaria nas mãos do povo (“a voz do povo é a voz de Deus”). Por exemplo, a Revolução Gloriosa (1689) ocorrida na Inglaterra estabeleceu a assinatura da Declaração de Direitos, contribuindo para a limitação do poder do rei mediante o exercício de prestígios por parte do Parlamento 2. Perspectivas democráticas modernas (pós-Revolução Francesa) – defesa de que a soberania estaria nas mãos do povo. 2.1 – Doutrina da Soberania Nacional – a vontade do coletivo (povo) seria exercida através da escolha de representantes (uma elite), sem a necessidade, portanto, de que todos venham a opinar publicamente. O autor Abade Sieyes ilustrou essa perspectiva em sua obra O que é o Terceiro Estado, em francês, constituindo, por conseguinte, uma Teoria Democrática Elitista e predominante no início da Idade Contemporânea. 2.2 - Doutrina da soberania popular – defendida por nomes como o contratualista Jean-Jacques Rousseau, representa a ideia de que a soberania do Estado seria a soma das vontades individuais (“um homem, um voto”), ou seja, todos podem opinar e interferir na vontade geral. O pensamento de Rousseau ainda é resgatado na atualidade para a sustentação de regimes democráticos. Classificação dos Estados: OBS: Soberania x autonomia – Autonomia corresponde a uma relativa independência, uma capacidade de autorregulação (capacidade de criar normas jurídicas e fazê-las cumprir), contudo, apresentando um caráter menos amplo e mais restrito comparado ao conceito de Soberania. Ex: O Brasil é um Estado soberano, já o mesmo não se pode afirmar do estado da Bahia (autônomo). Dessa forma, todo soberano é também autônomo mas a recíproca não é verdadeira. Ex: O decreto do toque de recolher pelo atual governador baiano Rui Costa ilustra explicitamente essa questão da autonomia inerente a alguns estados. OBS: ATENÇÃO AO USO DAS LETRAS MAÍSCULAS SOMENTE QUANDO SE TRATAREM DE ESTADOS SOBERANOS Estado Unitário x Estado Federal – A diferença entre um Estado federal e um Estado Unitário evidencia-se internamente. No Estado Federal existe uma maior descentralização política, ou seja, os poderes locais são descentralizados. Entretanto, em um Estado Unitário, as elites locais são subordinadas a um poder concentrado. Por exemplo, o Brasil atual é considerado um Estado Federal (o Federalismo é previsto por cláusulas pétreas presentes na CF/88), porém, durante o período imperial era um Estado Unitário. Por último, é importante ressaltar a distinção entre Confederação e Federação. A Confederação consiste na união de estados soberanos que preservam a sua soberania mas que atuam em conjunto para alguns fins. Ex: A Confederação Suíça. Outra observação importante consiste na ideia de que, em tese, o Federalismo associa-se mais a princípios democráticos à existência de um Estado Unitário, embora nem sempre isso aconteça. A questão do Federalismo também é flexível, uma vez que, por exemplo, os Estados Unidos da América ilustram uma maior autonomia dos estados em comparação à realidade brasileira. AULA NÚMERO 08 – SEPARAÇÃO DE PODERES 1.1 – Origem remotas: 1.1.1 – O legado de Heródoto – tendência ao estudo da separação de poderes, porém muito mais relacionada às formas de governo 1.1.2 – O legado de Aristóteles – Inicia o desenho de uma Teoria de separação dos poderes, observando a existência de seis formas de governo. Essas formas de governo se dividem em formas retas (prevalência do bem comum) e corrompidas (prevalência de interesses particulares) Aristóteles, assim como Platão, realizou duras críticas à democracia pela tendência a essa se transformar em uma demagogia e, futuramente, em uma tirania, a pior forma de governo possível. Aristóteles considera que a politéia seria a mais vulnerável a sofrer corrupção e que a aristocracia seria a forma de governo ideal, representando um meio-termo no qual os mais sábios exerceriam o poder. 1.1.3 – Roma Antiga e Políbio – tese do governo misto – o rei governa representando o poder monárquico; o povo, o poder democrático; e o Senado, o poder aristocrático. 1.2 – John Locke e a moderna separação de poderes – O pensador inglês sintetizou a existência de uma bipartição dos poderes, constituída pelo executivo e legislativo. O poder executivo exerceria as funções administrativa e judicial, enquanto o legislativo exerceria as funções legislativa e fiscalizatória. Vale ressaltar que, de acordo com o liberal John Locke, o poder legislativo seria mais importante, tendo em vista à atuação em limitar o poder dos governantes 1.3 – Barão de Montesquieu – Iluminista francês,pertencente ao século XVIII, sintetizou uma tripartição dos poderes, diferenciando-se de Locke ao conferir o papel judicial a um outro poder – o judiciário. Nesse sentido, o judiciário seria importante para julgar o não cumprimento das leis e manter a paz social; o legislativo manteria as suas funções legislativa e fiscalizatória; e o executivo permaneceria com a sua função administrativa. Na óptica do pensador, esses poderes seriam independentes e harmônicos entre si, ocorrendo, por conseguinte, um equilíbrio permanente. Apesar de extrema importância, a teoria de Montesquieu apresentava-se incompleta, uma vez que era incapaz de explicar de que forma ocorreria a contenção dos poderes visando à manutenção desse equilíbrio. 1.4 – Beijamin Constant e o poder moderador – Visando a responder as lacunas deixadas por Montesquieu, defendeu a existência de um quarto poder – o poder moderador – responsável por garantir o equilíbrio entre os demais poderes. RETAS CORROMPIDAS MONARQUIA TIRANIA ARISTOCRACIA OLIGARQUIA POLITÉIA DEMAGOGIA/ REPÚBLICA O Brasil, durante a época do império, vivenciou a existência formal do poder moderador, contido nas mãos do imperador e responsável por controlar os demais poderes. A existência formal do poder moderador veio a ser extinta a partir da elaboração da Constituição de 1891, após a Proclamação de República dois anos antes. 1.5 – James Madison e o sistema de freios e contrapesos – Visão preponderante na contemporaneidade, inclusive em países como o Brasil, aponta para o exercício de funções típicas e atípicas por parte dos poderes. Partindo desse pressuposto, o poder legislativo, por exemplo, em determinadas ocasiões, além de legislar e fiscalizar, iria também administrar e julgar. A título exemplificativo, Arthur Lira, presidente da Câmara dos deputados, exerce a função executiva dentro de um órgão legislativo. 1.6 – Os poderes no Brasil Há um unicameralismo no Legislativo Estadual, do Distrito Federal e Municipal. Todavia, no âmbito federal há um bicameralismo, isto é, duas casas legislativas – Câmara dos Deputados e Senado Federal. Esse bicameralismo ocorre devido a duas principais questões: a questão da representatividade e do equilíbrio. A Câmara dos deputados representaria o povo (casa do povo – o número de deputados federais indicados por cada Estado varia de acordo com a população deste), enquanto o Senado Federal representaria os Estados da Federação, cumprindo o papel de equilíbrio (todos os Estados possuem três senadores – número constante). OBS: O bicameralismo britânico, diferentemente do brasileiro, é assimétrico, ocorrendo uma explícita hierarquia entre a Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns, sendo esta última a detentora de maior poder. PODER JUDICIÁRIO: A justiça especial trata de temas específicos como a matéria eleitorais, matérias militares e matérias trabalhistas. Todas as demais questões serão resolvidas pela justiça comum (tributárias, administrativas, penais, civis). O STF é o órgão de cúpula do poder judiciário, cabendo a ele a guarda e a interpretação da Constituição Federal (1988). O STF é composto por 11 membros denominados ministros (juízes da suprema corte), responsáveis pela última palavra. Esses cargos são privativos de brasileiros natos de 35 a 75 anos, notórios de saber jurídico e reputação ilibada (honestidade). A abertura de vagas ocorre através de três possibilidades – a morte de um dos ministros, impeachment ou aposentadoria. O preenchimento dessas vagas inicia a partir de uma indicação presidencial, avaliada em seguida pelo Senado Federal. Após ser escolhido, o ministro apresenta um cargo vitalício até os 75 anos ou em caso de morte. AULA 09 – O PODER JUDICIÁRIO E FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA Linhas gerais do poder judiciário: A justiça especial trata de temas específicos como a matéria eleitorais, matérias militares e matérias trabalhistas. Todas as demais questões serão resolvidas pela justiça comum (tributárias, administrativas, penais, civis). O STF é o órgão de cúpula do poder judiciário, cabendo a ele a guarda e a interpretação da Constituição Federal (1988). O STF é composto por 11 membros denominados ministros (juízes da suprema corte), responsáveis pela última palavra. Esses cargos são privativos de brasileiros natos de 35 a 75 anos, notórios de saber jurídico e reputação ilibada (honestidade). A abertura de vagas ocorre através de três possibilidades – a morte de um dos ministros, impeachment ou aposentadoria. O preenchimento dessas vagas inicia a partir de uma indicação presidencial, avaliada em seguida pelo Senado Federal. Após ser escolhido, o ministro apresenta um cargo vitalício até os 75 anos ou em caso de morte. A Justiça Militar da União, na primeira instância, e o Superior Tribunal Militar, na última instância, julgam os crimes militares cometidos por integrantes das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) ou por civis que atentem contra a Administração Militar federal. O TRE é responsável pelo cadastro dos eleitores, pela constituição de juntas e zonas eleitorais e pela apuração de resultados e diplomação dos eleitos em sufrágios em nível estadual. O TRE também deve dirimir dúvidas em relação às eleições e julgar apelações às decisões dos juízes eleitorais. A justiça do trabalho, criada na Era Vargas, também é federal, especializada em conflitos trabalhistas (relações de empregado e empregador, por exemplo). JT JRT TST; Tudo o que não envolve questões trabalhistas, militares ou eleitorais encontra-se sob responsabilidade da justiça comum (JD TJ STJ; JF TRF STJ); Garantias da magistratura: a) Vitaliciedade – o juiz apresenta cargo vitalício, o que lhe garante maior estabilidade no cargo, salvo morte, aposentadoria ou impeachment; b) Inamovibilidade – o juiz não pode ser removido do seu posto de trabalho contra a sua vontade; c) Irredutibilidade dos subsídios – o juiz não pode ter seu salário reduzido; Vedações à magistratura: a) Exercício de outro cargo ou função, salvo uma de magistério; b) Recebimento, a qualquer título ou pretexto, de custos ou participação em processo; c) Dedicação à atividade político-partidária; d) Recebimentos, a qualquer título ou pretexto, de auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei (como o recebimento de salário por lecionar em uma faculdade); e) Exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração; Funções essenciais à justiça: a) Ministério Público - Órgão autônomo que exerce papel crucial na fiscalização do Estado e da própria sociedade, podendo ingressar, sobretudo, nos âmbitos penal e cível; O Ministério Público é responsável, perante o Poder Judiciário, pela defesa da ordem jurídica e dos interesses da sociedade e pela fiel observância da Constituição (visto como um “guardião” da lei); Algumas funções atribuídas ao Ministério Público foram mantidas após a elaboração da CF/1988 como a titularização das ações penais públicas, isto é, ocorrendo um crime, a sociedade é vista como uma vítima indireta; Antes da CF/1988, o Ministério Público teve a função da Defensoria Pública, o que não ocorre mais atualmente; Após a CF/1988, o Ministério Público cresceu na defesa dos interesses transindividuais (aqueles que transcendem o indivíduo), ou seja, aqueles que tangem o interesse difuso – questões trabalhistas, ambientais, que envolvem pessoas com deficiência, eleitorais, etc; b) Advocacia – Não há justiça sem advogados; Para ser advogado é necessário o grau de bacharel em direito e aprovado no exame da ordem; O exame da ordem seria como filtro para selecionar osmais aptos a advogar; A CF/1988 delimitou a proibição dos rábulas, ou seja, pessoas que advogam sem a presença de um bacharelado em direito. A título exemplificativo, Cosme de Faria é um dos mais conhecidos; Vale ressaltar também a existência da advocacia pública que ocorre mediante concurso público; c) Defensoria Pública – Instituição autônoma que atua na advocacia dos hipossuficientes (vulneráveis); As causas são determinadas pelo órgão e não pelo defensor mesmo que contrarie os princípios deste. Dessa forma, o defensor público deve exercer a sua profissão da melhor forma possível; AULA NÚMERO 10 – FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO 1. Formas de governo 1.1 – Classificação de Aristóteles: Inicia o desenho de uma Teoria de separação dos poderes, observando a existência de seis formas de governo. Essas formas de governo se dividem em formas retas (prevalência do bem comum) e corrompidas (prevalência de interesses particulares) RETAS CORROMPIDAS MONARQUIA TIRANIA POLITÉIA DEMAGOGIA/ REPÚBLICA ARISTOCRACIA OLIGARQUIA Aristóteles, assim como Platão, realizou duras críticas à democracia pela tendência a essa se transformar em uma demagogia e, futuramente, em uma tirania, a pior forma de governo possível. Aristóteles considera que a politéia seria a mais vulnerável a sofrer corrupção e que a aristocracia seria a forma de governo ideal, representando um meio-termo no qual os mais sábios exerceriam o poder por estarem mais aptos. 1.2 – Classificação de Savonarola: O Frei Savonarola, na sua obra Tratado sobre o governo civil de Florença, sintetizou uma concepção acerca das formas de governo, dividindo-as em: Governo do Rei, Governo dos Otimates e Governo Civil; Para Savonarola, o Governo do Rei seria caracterizado por um poder centralizado nas mãos de uma única pessoa; o Governo dos Otimates seria uma espécie de Aristocracia, na qual os mais aptos tendem a exercer o poder; e o Governo Civil seria aquele que garantiria a soberania nas mãos do povo; Para Savonarola, o governo do rei quando é bom, é ótimo; e quando este é ruim, é péssimo. Dessa forma, o pensador considera essa forma de governo mais sucessível a sofrer oscilações; Savonarola constata que a definição da qualidade do governo ocorre mediante a análise dos aspectos culturais inerentes a cada sociedade. Nesse sentido, não haveria um modelo geral; Caso se tratar de uma sociedade homogênea, o ideal seria o Governo do Rei. Entretanto, caso se tratar de uma sociedade heterogênea, como evidenciada em Florença, o mais adequado para dialogar com as divergências de opiniões seria o Governo Civil; Esse Governo Civil seria caracterizado pela garantia da participação popular no poder, além do equilíbrio e da separação dos poderes; Savonarola é considerado um simpatizante do Republicanismo; 1.3 – Classificação de Maquiavel: Defensor e simpatizante da República, assim como Savonarola; Autor de O príncipe – manual de ações políticas voltado para o exercício do poder por parte dos Médici na Itália; Responsável por sintetizar a mais conhecida divisão de formas de governo nos dias atuais – a dualidade entre Monarquia e República; A Monarquia é caracterizada por um poder mais concentrado nas mãos de um governante, enquanto a República (do latim respublica, isto é, coisa pública) vincula-se a um poder mais difuso; 1.4 – República e Monarquia nos tempos contemporâneos: MONARQUIA REPÚBLICA Há uma certa desigualdade política devido à concessão de privilégios provenientes do nascimento. Nem sempre vincula-se a um cunho autoritário, podendo existir monarquias de caráter democrático como a evidenciada na Inglaterra. Destarte, pode-se, fazer referência à existência de “monarquias republicanas”; Contudo, por mais democrática que seja, sempre será pautada em um pressuposto de desigualdade (súditos x majestades); Garante igualdade política entre os cidadãos; Nem sempre vincula-se a um caráter democrático, embora apresente essa tendência; 2. Sistemas de governo 2.1 - Conceito de sistemas de governo: De acordo com Dirley da Cunha Júnior, sistemas de governo “são fórmulas concebidas para identificar o grau de independência ou de dependência no relacionamento entre os poderes executivo e legislativo no exercício das funções governamentais”; O poder judiciário, pelo fato de atuar em inércia visando à pacificação das relações sociais, se distancia das orientações políticas e, por conseguinte, não foi retratado na definição anteriormente mencionada; 2.2 – Parlamentarismo: Característica principal – diluição do poder Executivo entre o Chefe de Estado e Chefe de Governo, sendo esses cargos ocupados por pessoas diferentes; O Chefe de Estado consiste em uma figura mais diplomática, conciliadora, representativa da soberania nacional. Geralmente essa figura recai sobre o monarca ou o presidente; O Chefe de Governo é aquele responsável por exercer a administração estatal e por executar as políticas públicas. Geralmente essa figura consiste no primeiro ministro que governa até o momento em que apresenta apoio da maioria do parlamento (maior instabilidade no cargo em comparação ao presidencialismo); Maior proximidade entre o parlamento e o poder executivo; Origem: Inglaterra; 1689 – Concretização da Revolução Gloriosa através do Bill of Rights, responsável pelo término do absolutismo monárquico. Todavia, o rei continuava exercendo a função executiva apesar de limitado pelo Parlamento; 1714 – Ascensão de Jorge I (Hannover, Alemanha) ao trono inglês; O parlamentarismo na Inglaterra foi se consolidando paulatinamente a medida em que os monarcas abdicavam das suas funções executivas, transferindo-as ao parlamento; 1832 – Crise intensa entre parlamento e o rei, culminando na publicação do Reform Act, um ato do Parlamento que proibia a possibilidade de interferência nas questões parlamentares por parte do rei; Conforme retratado por Walter Bagehot, na França, devido à fragilidade dos partidos políticos, praticamente nenhum gabinete possuía estabilidade, o que contribuiu para o colapso do parlamentarismo durante a terceira república; O parlamentarismo no Brasil foi observado em dois momentos. Primeiramente, no Segundo Reinado (1840 – 1889), sendo denominado “Parlamento às avessas”. Entre 1961 e 1963, o presidente João Goulart teve o seu poder limitado pelo Parlamento devido ao receio existente de que Jango pudesse conduzir o país ao Comunismo; Em 1963, ocorreu um plebiscito e o povo votou pelo retorno do presidencialismo, sendo essa escolha reafirmada no plebiscito de 1993; 2.3 – Presidencialismo: O presidente é eleito diretamente ou indiretamente, sendo Chefe de Estado e Chefe de governo simultaneamente; O presidente possui maior autonomia perante o parlamento. Ademais, o presidente possui maior estabilidade no cargo em comparação ao primeiro ministro no parlamentarismo; O presidencialismo teve sua origem nos Estados Unidos e atualmente é adotado também, principalmente, na América Latina e em alguns países do continente africano; O presidencialismo somente é evidenciado em república; Apesar de previsto juridicamente em caso de crimes de responsabilidade, o impeachment, em países como o Brasil, vincula-se muito mais a um caráter político, isto é, se o presidente tem ou não o apoio do parlamento; 2.3.1 – Presidencialismo no Brasil 1889 – Deodoro da Fonseca assume o governo de forma provisória e, posteriormente, se consolida durante o início da República da Espada; Deodoro da Fonseca foi obrigado a renunciar devido às pressões coordenadas pelo seu vice Floriano Peixoto; O início do presidencialismo brasileiro após Deodoro e Floriano, foi caracterizada pela Política do Café com Leite, proporcionando a alternância entre pessoas a serviçode Minas Gerais ou de São Paulo no poder; Getúlio Vargas assume a presidência após um golpe coordenado pela Revolução de 30, rompendo com a República Velha do Café com Leite. Vargas governou, no seu primeiro mandato, durante quinze anos, destacando-se o caráter autoritário do Estado Novo; Em 1963 a população brasileira opta, através de um plebiscito, pela manutenção do presidencialismo, o que foi corroborado em 1993; Hoje, verifica-se um presidencialismo de coalizão no qual o presidente é eleito democraticamente e governa durante quatro anos com possibilidade de uma reeleição; Jair Messias Bolsonaro é o atual presidente do país; 2.4 – Semipresidencialismo: Maurice Duverger foi responsável pela criação desse termo, designando um sistema intermediário entre o parlamentarismo e o presidencialismo; Há controvérsias sobre a existência desse sistema de governo pois há quem afirme trata-se de somente um desdobramento do parlamentarismo; O presidente é Chefe de Estado e o primeiro-ministro é Chefe de Governo; Estabelecido pela Constituição de Weimar (Alemanha – 1919); Na França atual, há um semipresidencialismo. Nesse caso, o presidente da república é eleito por voto popular e este governa enquanto possui apoio do parlamento. O eixo do poder no caso francês encontra-se no presidente. Todavia, em caso de crises políticas, o presidente pode perder a condição de governabilidade – não é afastado do cargo mas algumas funções são transferidas ao primeiro-ministro; O modelo semipresidencialista adotado pela Islândia é caracterizado por duas cabeças (algo similar a uma diarquia) tendo em vista que os dois (presidente e primeiro-ministro) estão em igualdade nas ações do governo, isto é, dividem a quantidade de funções praticamente de forma precisa; O modelo russo se assemelha ao francês, contudo, na prática, tem sido um instrumento utilizado pelo presidente Vladmir Putin para se perpetuar no poder. Após reeleito e governar durante oito anos, Putin tornou-se primeiro-ministro russo, continuando a influenciar as decisões do presidente Dmitri Medvedev, seu antigo primeiro-ministro. Posteriormente, Putin retomou o poder como presidente; 2.5 – Diretorial: Origem: França – final do século XVIII; Destaca-se atualmente na Suíça; Uma equipe é responsável por exercer a chefia do governo. No caso suíço, esse colegiado é composto por sete membros, entre os quais um é, obrigatoriamente, o presidente da república; Em tese há um maior teor democrático por envolver mais pessoas nas decisões governamentais; Esse sistema de governo seria inviável em países como o Brasil devido a grande quantidade de ideologias existentes; 3. Elementos essenciais da democracia 3.1 - Sufrágio: poder inerente ao povo de participar da vida política do Estado, apresentando um caráter mais amplo que um voto. A CF/1988 brasileira estabelece o sufrágio universal como cláusula pétrea, sendo o voto obrigatório para pessoas entre 18 e 65 anos; Ao longo da história da humanidade, existiram vários exemplos de sufrágios restritos – sufrágio por gênero (as mulheres no Brasil só passaram a votar a partir de 1932), sufrágio racial (durante o Apartheid sul-africano os negros não tinham direito ao voto), sufrágio censitário (o início da República do Café com Leite no Brasil) e o sufrágio capacitário. O sufrágio capacitário, baseado no nível de instrução dos indivíduos é uma questão ainda polêmica e discutida nos dias atuais por alguns sustentarem a necessidade de um grau mínimo de conhecimento para o usufruto do sufrágio; Vale salientar que no Brasil, o voto para os analfabetos foi assegurado apenas nas constituições de 1824 e 1988; 3.2 - Mandato – instrumento de representação, também podendo ser compreendido como um instituto de direito público através do qual o povo delega poder aos seus representantes; O povo é o mandante e os representantes, os mandatários; No direito político existe limites ao mandato? Depende. Esse mandato pode ser representativo ou imperativo. O mandato é representativo quando em tese um mandatário representa toda a sociedade e, por conseguinte, não apenas de quem votou nele. Nesse sentido, o mandatário uma vez empossado atua de forma autônoma. O mandato imperativo é obrigado a seguir recomendações dos eleitores, tendo, portanto, a sua atuação limitada. Destarte, percebe-se um maior poder do eleitor de controlar o mandatário e interferir nas suas decisões. Além disso, o eleitor pode revogar o mandato do mandatário a partir do denominado recall; No Brasil, o mandato político é representativo, caracterizado por uma fidelidade partidária (o indivíduo possui um compromisso com o partido já que se sair do partido, por conseguinte, pode perder o mandato); OBS: Há uma diferença entre impeachment e recall. O impeachment somente acontece devido à ocorrência de crime de responsabilidade, enquanto o recall possui um caráter mais amplo, podendo acarretar na perda do mandato caso o mandatário esteja desagradando. Entretanto, devido à abrangência contida na expressão “crime de responsabilidade”, o impeachment, em países como Brasil, transformou-se em um recall. AULA NÚMERO 12 – SISTEMAS ELEITORAIS 1. Conceito: De acordo com Eneida Desiree Salgado, sistema eleitoral é uma fórmula que traduz a vontade popular em representação política. 2. Objetivos: O Sistema eleitoral busca, de alguma forma, dois principais objetivos – a governabilidade e a representatividade: 2.1 - Governabilidade: busca por um sistema viável e eficaz para o exercício do governo; 2.2 - Representatividade: representa a vontade da sociedade (o povo enxerga nos representantes uns porta-vozes das suas necessidades); OBS: O excesso da democracia pode ser prejudicial – por exemplo, o modelo ideal de democracia direta apresentado por J.J Rousseau seria ingovernável; OBS: Em contraste, em regimes que limitam o poder democrático – como as ditaduras – acentuam a governabilidade em detrimento da representatividade; OBS: O alcance de um equilíbrio entre governabilidade e representatividade trata-se de uma tarefa difícil, sendo alvo de intensos debates até os dias atuais; 3. Possíveis efeitos mecânicos do sistema eleitoral sobre o sistema político: 3.1 – Incentiva ou não a convivência entre os diferentes; 3.2 – Pode incrementar ou não a representatividade; 3.3 – Aumenta ou diminui o acesso à arena decisória; 3.4 – Pode garantir maior ou menor estabilidade; 3.5 – Aumenta ou reduz o sistema partidário; 3.6 – Aumenta a concentração ou a dispersão do poder; 3.7 – Aumenta ou reduz a oposição e o controle; OBS: Os primeiros atos institucionais decretados durante a Ditadura Militar corroboraram a defesa de um voto indireto para presidente, reduzindo, portanto, o acesso à arena decisória por parte do povo; OBS: A monarquia parlamentarista britânica evidencia uma grande estabilidade para o primeiro- ministro por este governar até o momento em que tiver apoio da maioria do Parlamento; OBS: O voto distrital reduz a representatividade eleitoral; OBS: Os opositores, aqueles que estão fora do poder, em determinadas ocasiões, aderem a métodos violentos como forma de protesto ou retaliação; 4. Efeitos psicológicos do sistema eleitoral: 4.1 – Efeito Manada – o eleitor opta por aquele que tende a ganhar; 4.2 – Efeito útil – raciocínio lógico construído em torno de um voto para impedir que um outro candidato venha obter êxito na eleição; 4.3 – Underdog effect - voto de protesto, geralmente o eleitor opta por aquele que possui poucas chances de vencer (e que às vezes pode até surpreender); 5. Elementos dos sistemas eleitorais: 5.1 – Circunscrição eleitoral, colégio ou distrito eleitoral – de acordo com José Antônio Giusti Tavares, trata-se da unidade territorial no interior do quala distribuição dos votos, entre partidos e entre candidatos, é convertida em cadeiras legislativas; 5.2 – Magnitude – de acordo com Jaime Barreiros Neto, corresponde ao número de cadeiras em disputa em cada distrito eleitoral. Distritos uninominais têm magnitude igual a um, enquanto os distritos plurinominais têm magnitude superior a um 5.2.1 – Magnitude baixa – até 05 cadeiras; 5.2.2 – Magnitude média – entre 06 e 14 cadeiras; 5.2.3 – Magnitude alta – a partir de 15 cadeiras; OBS: Para cargos estaduais e municipais, o eleitor somente pode votar nos candidatos inerentes à localização geográfica correspondente ao seu título; OBS: O voto para prefeito é uninominal. O voto para senador é plurinominal; OBS: Quanto maior a magnitude, maior a probabilidade de partidos pequenos elegerem mais candidatos – maior a possibilidade de uma minoria ter representatividade; 5.3 - Procedimentos de votação: 5.3.1 – Voto único – modelo tradicional no qual o eleitor apenas vota uma única vez; 5.3.2 – Voto múltiplo – o eleitor pode votar mais de uma vez. Dessa forma, o diferencial será o número de votos unido ao engajamento entre os eleitores; 5.3.3 Voto preferencial – o eleitor possui sua lista de preferências (primeira opção, segunda opção, terceira opção...); 5.3.4 Voto cumulativo – o eleitor pode destinar todos os votos para um único candidato como também pode dividir os votos destinados a alguns candidatos a depender da sua vontade; 5.3.5 Voto plural limitado – há um limite para a quantidade de votos em um candidato; 5.4 -Espécies de sistemas eleitorais: 5.4.1 – Majoritário – aquele que obter o maior número de votos vencerá; 5.4.1.1 – Sistema majoritário simples – os mais votados são eleitos; 5.4.1.2 – Sistema majoritário absoluto – o vencedor precisa ter mais votos do que a soma de todos os seus concorrentes. No Brasil, percebe-se um sistema majoritário absoluto na eleição de presidente, governador e prefeito, almejando, assim, uma maior legitimidade do resultado; OBS: Os votos brancos (nulos) são descartados, não podendo contribuir para a anulação de uma eleição. Todavia, esses votos podem proporcionar indiretamente um certo benefício ao primeiro colocado pelo fato deste necessitar de um menor número de votos válidos para ser eleito. 5.4.2 – Proporcional – divide a porcentagem de cadeiras a depender dos votos recebidos pelos partidos políticos; As fórmulas proporcionais são: 5.4.2.1 – Unioperacionais - Nas fórmulas unioperacionais, os votos totais de cada partido ou coligação são divididos por todos os divisores da série, sendo as cadeiras alocadas, dentre os partidos em disputa de acordo com os maiores quocientes obtidos; 5.4.2.2 – Bioperacionais – Nas fórmulas bioperacionais, o processo de distribuição das cadeiras é dividido em duas operações básicas: primeiramente, se calcula a distribuição das chamadas “cadeiras básicas”; posteriormente, em uma segunda operação, calculam-se os chamados “restos” ou cadeiras remanescentes; O Brasil adota o voto proporcional para deputados federais, deputados estaduais e vereadores. No nosso país, a lista partidária é aberta. Geralmente, quando um cidadão vota em um vereador, por exemplo, na verdade ele inicialmente está votando no partido. Em seguida, a depender da quantidade de cadeiras que o partido obteve, o candidato escolhido poderá ocupar uma delas a depender da quantidade de votos. Nesse segundo momento, portanto, prevalece o critério majoritário. Há atualmente algumas propostas defensoras da lista fechada, embora esta se demonstre menos democrática por contribuir para a concentração de uma oligarquia no poder; Ainda pode-se afirmar a existência dos defensores do voto distrital. Esse voto, a título exemplificativo, seria baseado na fragmentação de uma determinada localidade – Salvador – em algumas regiões (43, por exemplo) e cada uma elegeria um vereador. Entretanto, há o risco de que um partido venha a se consolidar em todas as cadeiras, minando, assim, a representatividade e contribuindo para a concentração de poder. Ademais, percebe-se a relação entre o voto distrital e o risco de Gerrymandering, isto é, a concepção de que a divisão dos distritos impacta, significativamente, no resultado proveniente da eleição. 5.4.3 – Misto – simultaneidade entre os sistemas eleitorais majoritários e proporcionais. Os exemplos mais explícitos são os evidenciados no México e na Alemanha. A diferença básica entre esses consiste no sistema que privilegiam, sendo majoritário e proporcional, respectivamente. Percebe-se um grande debate em relação ao caso alemão devido a um inchaço de cadeiras, pelo fato da Alemanha realizar sucessivas correções (aumento do número de cadeiras) visando atender ao critério da proporcionalidade; 6 O debate entre Bagehot e Stuart Mill: De acordo com Bagehot, o ideal seria um sistema eleitoral majoritário tendo em vista que o mais importante seria a garantia da estabilidade do Parlamento. Assim, o autor considera a governabilidade como um elemento de maior relevância em detrimento da representatividade. Entretanto, Stuart Mill defendeu o sistema eleitoral proporcional como o ideal, no qual as minorias poderiam ter maior representatividade mesmo que venha a prejudicar a governabilidade. AULA 13 – O ESTUDO DA DEMOCRACIA Autocracia x Democracia: Um regime autocrático é caracterizado pela concentração do poder nas mãos de autocratas. O totalitarismo seria, portanto, um exemplo de autocracia. Entretanto, em um regime democrático o poder é difuso e descentralizado. Atualmente, um dos grandes debates travados no Estado Democrático de Direito consiste na busca por equilibrar governabilidade e representatividade, o que constitui uma tarefa extremamente difícil. Etimologia do termo Democracia: vem do grego demos (povo) + kratos (autoridade), ou seja, o governo da autoridade do povo. Antecedentes históricos: Esse governo democrático teve uma grande importância durante a Antiguidade Clássica, ressaltando a experiência ateniense – um modelo de democracia direta, embora excludente, uma vez que nem todos eram considerados cidadãos (mulheres, escravos, crianças, estrangeiros...). Partindo desse pressuposto, aqueles que eram considerados cidadãos se reuniam em praça pública – a ágora e debatiam diretamente questões em prol do bem da comunidade. No século XIX, Abraham Lincoln proferiu o discurso de Gettsburg, ao final da Guerra de Secessão. Nesse discurso, Lincoln afirmou que nada nem ninguém seria capaz de superar o governo do povo, pelo o povo e para o povo – isto é, um governo essencialmente popular. Esse é um conceito de democracia ainda bastante contemplado nos dias atuais. Cinco critérios básicos para definir uma democracia (Robert Dahl): 1. Inclusão de adultos: perspectiva da existência de um sufrágio universal, ou seja, prevê a inexistência de barreiras visando à participação de todos – independentemente de orientação sexual, etnia, raça, religião ou qualquer outra condição; 2. Participação efetiva: a participação efetiva do povo na vida política do Estado significa a ideia de garantir que um eleitor tenha a possibilidade de engajamento e de participação do dia-dia político; 3. Igualdade de voto: cada indivíduo traz consigo uma parcela da soberania e cada parcela apresenta o mesmo peso - um homem, um voto (perspectiva de Rousseau); 4. Controle do planejamento: ideia da transparência, isto é, da possibilidade do cidadão interferir na decisão do Estado (accountability); 5. Entendimento esclarecido: ideia de que o cidadão deveria ser educado para votar, sendo apto a tomar decisões através de uma consciência política. Em síntese, o indivíduo precisa ter esclarecimento do seu papel na sociedade; Diante das características surge um problema, uma vez que, de alguma forma, pelomenos uma das características acaba sendo mutilada nos países. Isto significa que não há democracia que corresponda esses moldes estabelecidos. Seria, portanto, a democracia uma utopia, uma farsa? As concepções de Robert Dahl deve ser estudada conjuntamente com as de Geovani Sartori e de Noberto Bobbio, uma vez que esses discordam da ideia de que a democracia seria uma farsa. Os autores corroboram a tese de que a democracia é um processo, isto é, do caminhar em direção aos cinco pontos expostos anteriormente. Esse processo seria repleto de empecilhos e imperfeições. Winston Churchill, ex-primeiro-ministro do Reino Unido, afirmou que “a democracia é a pior forma de governo, com exceções de todas as outras”. Partindo desse pressuposto, é nítida que a democracia apresenta imperfeições mas ainda assim consiste na melhor forma de governo em comparação a todas as demais já experimentadas, principalmente no que diz respeito ao equilíbrio entre governabilidade e representatividade. Jürgen Habermas é um outro teórico que merece atenção, sendo defensor da democracia deliberativa. O filósofo e sociólogo alemão dá credibilidade à existência de debates entre o povo e os governantes, sendo de suma importância para a formação de um consenso em prol da garantia do bem comum. Minimalismo democrático x Maximalismo democrático: Democracia minimalista: Supõe que o povo é titular do poder político mas essa massa deve ter esse poder contido. As bases da democracia minimalista remetem à Antiguidade Clássica, tendo em vista a defesa da aristocracia e a refutação da democracia por parte de filósofos como Platão e Aristóteles. Os defensores do minimalismo democrático defendem que o poder político deveria ser exercido pelos mais aptos. Gustave Le Bon, autor de Psicologia das multidões, sintetizou a concepção de que as massas são irracionais, uma vez que o comportamento do indivíduo varia a depender do contexto em que ele se encontra em conjunto ou sozinho. Assim, o eleitor tenderia a votar errado, sobrepondo as emoções em detrimento da razão. Democracia maximalista: A Constituição Federal de 1988 prevê o maximalismo democrático em oposição ao minimalismo democrático - Art. 1, parágrafo único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Dessa forma, a soberania estaria, de fato, no povo, exercida por meio de uma democracia participativa. Referendo, plebiscito e iniciativa popular de lei são alguns dos exemplos que demonstram essa ampla participação e engajamento do povo na vida política. A democracia no Brasil: CF/1988: Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito. Nem sempre o Brasil se consolidou como um Estado Democrático de Direito, sendo a sua história marcada por sucessivos golpes. Assim, torna-se nítido que a implantação de um regime democrático no Brasil ocorreu após sucessivos momentos de instabilidade, o que persiste até os dias atuais. Em 1824, D. Pedro I realizou um golpe, fechou a Assembleia Constituinte e outorgou uma constituição de cunho autoritário; Em 1889, um novo golpe derruba D. Pedro II e instala a República no Brasil; Em 1930, Getúlio Vargas, através da Revolução de 30, assume a presidência a partir de um golpe, rompendo com a República Velha do Café com Leite; Em 1937, ocorre o golpe do Estado Novo, passando Vargas a governar através de um cunho autoritário; Em 1945, um novo golpe visando à redemocratização do Brasil ocorreu; No início da década de 1960, o governo João Goulart é marcado por uma grande instabilidade, tendo em vista que esse não assumiu de forma direta, tendo o poder controlado pelo parlamento; Em 1964, através de um novo golpe, é instalada uma Ditadura Militar no país, um dos momentos mais tensos da história nacional; Em 1967 é elaborada uma nova constituição e em 1968, um novo golpe contribuiu para a proclamação do AI-5; Em 1988, simbolizando a redemocratização do país após o término da Ditadura Militar, foi elaborada e proclamada a Constituição de 1988, também conhecida como “Constituição Cidadã”. Debates importantes: 1. Reforma partidária: A filiação a um partido político é condição de elegibilidade, conforme estabelece o artigo 14, parágrafo 3°, inciso V, da Constituição Federal. Nesse sentido, para que um candidato dispute a eleição e venha a assumir o cargo após eleito, Há um debate atual travado no que diz respeito à importância dos partidos políticos. Se por um lado existem os defensores da filiação partidária como condição de elegibilidade, existem os defensores da candidatura avulsa por enxergarem nos partidos meras instituições burocráticas constituídas de cunho ideológico. 2. Financiamento empresarial: Desde 2015, em virtude da lava-jato e mensalão, foi proibido o financiamento de campanhas eleitorais por empresas privadas. Os defensores dessa proibição sustentam essa tese alegando a possibilidade de corrupção nas eleições e na administração pública a partir das doações empresariais. Ademais, esses críticos afirmam que essas empresas agem mais por questões financeiras do que afinidade ideológica propriamente dita, tendo em vista que alguns bancos, nas eleições de 2014, financiaram, simultaneamente, as campanhas de Dilma Rousseff e Aécio Neves (a mentalidade seria a seguinte: “quem ganhar, estará em minhas mãos”). Outra observação interessante é que o financiamento empresarial abre espaço para uma segregação eleitoral – uma vez que campanhas milionárias apresentarão contraste em relação a campanhas com poucos investimentos financeiros. Por outro lado, há os defensores de que pessoas jurídicas podem financiar campanhas eleitorais sob a garantia da manifestação da liberdade de expressão além de possibilitar uma maior transparência à sociedade acerca das movimentações existentes e que são inevitáveis. Além disso, essa vertente sustenta que o foco encontra-se no combate à corrupção e essa continuará ocorrendo independentemente da proibição dessas doações empresariais. Esses defensores admitem uma possibilidade de se pensar somente em uma restrição no que diz respeito aos valores envolvidos nesses investimentos – visando a impedir uma segregação (campanhas milionárias x campanhas pobres) que poderá impactar no resultados das eleições. 3. Voto facultativo x obrigatório: Existem argumentos favoráveis ao voto facultativo que se baseiam na ideia de que os candidatos devem se esforçar para conquistar os eleitores e, assim, estes irão exercer o seu papel de votar sob uma consciência política mais ampla. Dessa forma, esses teóricos sustentam de que o ideal seria que grande parcela populacional venha a participar do debate político, mas essa conduta deveria partir do interior de cada um e não através de uma imposição legal. Somente dessa forma ocorreria um engajamento de fato. Os argumentos contrários ao voto facultativo consistem na interferência de fatores externos (como ambientais) na vontade de votar por parte do eleitor e na perda de efetividade pelo fato do voto facultativo desestimular o eleitor a exercer o seu papel. Além de abrir margem para a perpetuação de uma oligarquia no poder, pode prejudicar os que abdicaram de votar tendo em vista que algumas medidas tomadas pelos governantes podem impactá-los negativamente. Ademais, refutam essa crença de um engajamento político, uma vez que seria um idealismo, sendo algo talvez a ser pensado somente a longo prazo. 4. Forma de votar: Desde 1996, a urna eletrônica é utilizada no Brasil. Existem alguns defensores do uso de urnas eletrônicas, alguns defensores do voto escrito e alguns defensores de uma forma mista. Os defensores do uso da urna eletrônica sustentam que o Brasil é umareferência nesse aspecto, além de que as urnas eletrônicas encontram-se sob tutela de um órgão estatal que em tese deve ter a confiança dos cidadãos. Ademais, esse método de voto promove uma maior velocidade na realização e na computação dos votos. Por último, as urnas são lacradas até o momento do uso, sorteadas para o local de instalação e ligadas somente na tomada, sendo essa última observação utilizada para refutar uma possível interferência de hackers. Os críticos do uso da urna eletrônica sustentam a possibilidade da ocorrência de fraudes eleitorais e refutam essa confiança absoluta no Estado, sendo este constituído de pessoas. Ademais, os defensores do voto impresso ou do voto misto sustentam a necessidade de uma maior transparência e segurança no que diz respeito a prática de votar. 5. Participação política de grupos vulneráveis – como as mulheres : A concepção majoritária atualmente refuta a máxima de que as mulheres não possuem interesse pela política. O eleitorado brasileiro é constituído predominantemente por mulheres e, cada vez mais, mulheres tem ocupado cargos políticos e interessando-se por essa área. Entretanto, o Brasil ainda carece de promover uma representatividade eficaz da mulher na política. Hoje, todos disputam vagas independentemente do gênero e 30% no mínimo de candidatos enviados pelo partido a concorrência deve ser constituído por mulheres. Nesse sentido, se faz necessário repensar uma solução como a garantia da liberdade dos partidos poderem lançar quem quiserem, mas arcando com as consequências. Ademais, conforme adotado na Argentina, uma medida plausível entrelaçada a essa liberdade partidária corresponde à reserva de vagas de eleitos específicas para homens e para mulheres, sendo mais próximo de atingir o que se busca no que tange à representatividade. Destarte, os partidos buscariam, de forma mais eficaz, mulheres para a concorrência. A título exemplificativo, se um partido buscasse lançar somente homens, esse partido concorreria apenas à metade das cadeiras, perdendo, por conseguinte, representatividade na ocupação de cadeiras. Thiago Coelho – FBDG 2021.1 @taj_studies
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