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Câncer Câncer é o termo utilizado para designar doenças nas quais células anormais se dividem de maneira descontrolada e se tornam capazes de invadir outros tecidos. As células cancerígenas podem espalhar-se para outras partes do corpo através do sangue ou do sistema linfático. FATORES DE RISCO Apenas cerca de 5% a 10% de todos os cânceres resultam de alterações genéticas hereditárias. Os fatores observados em famílias com câncer hereditário incluem os seguintes: Muitos casos de tipo incomum ou raro de câncer Diagnóstico de câncer em idade inferior à idade comum para determinados tipos de câncer Indivíduos com um tipo de câncer que são diagnosticados com um segundo tipo de câncer Mais de um câncer infantil diagnosticado em um grupo de irmãos Certos tipos de câncer observados em populações étnicas específicas (p. ex., indivíduos com ascendentes judeus asquenazes com câncer de mama e de ovário) Síndromes de câncer reconhecidas (como câncer colorretal hereditário sem polipose ou síndrome de Lynch) que fazem que os indivíduos corram maior risco de desenvolver câncer. Uso de tabaco, consumo de álcool, dieta não saudável e inatividade física são os maiores fatores de risco de câncer em todo o mundo e também são os quatro fatores de risco para outras doenças não transmissíveis. Algumas infecções crônicas também estão nessa lista e têm grande relevância em países de baixa e média renda (ex. Helicobacter pylori, HPV, HBV, HCV, vírus Epstein-Barr). Os das hepatites B e C e alguns tipos de HPV aumentam o risco para o câncer de fígado e do colo do útero. Outros fatores de risco comuns são radiação, exposição solar e exposição a certas substâncias químicas. FISIOPATOLOGIA Carcinogênese → origem/desenvolvimento do câncer. Oncologia → estudo das formas do câncer. Os oncogenes são genes alterados que promovem o crescimento de tumores e alteram a apoptose celular. A inibição das vias de morte celular possibilita a sobrevida das células cancerosas geneticamente danificadas. Os genes supressores tumorais são o oposto dos oncogenes; esses genes tornam-se desativados nas células cancerosas. Essa perda de função pode levar ao crescimento desregulado da célula e, por fim, ao câncer. Um exemplo de gene supressor tumoral é o TP53, responsável pela proteína p53, controladora do ciclo celular. Tipos de tumor Tumor benigno Células bem diferenciadas mantendo estrutura típica do tecido de origem. Crescimento progressivo, passível de regressão; mitoses normais e raras. A massa geralmente encapsulada, expansiva, não invasiva nem infiltrativa. Nomenclatura: prefixo do tecido de origem + oma Ex: lipoma, mioma, adenoma Câncer de mesotélio (mesotelioma), de tecido hemolinfopoiético (leucemia, linfoma, pasmocitoma) e neuroblastoma, apesar da nomenclatura semelhante a tumores benignos, são malignos. Tumor maligno Células anaplásicas, atípicas e pouco diferenciadas; crescimento rápido; mitoses anormais e numerosas. A massa pouco delimitada, localmente invasiva e com possível metástase. Nomenclatura: tecido de origem + carcinoma ou sarcoma Ex: lipossarcoma, miossarcoma, adenocarcinoma Fases da carcinogênese Um carcinógeno é um agente físico, químico ou viral que induz a formação de câncer. A carcinogênese é um processo biológico em múltiplos estágios: iniciação, promoção e progressão. A iniciação envolve a transformação das células produzidas pela interação de substâncias químicas, radiação ou vírus com DNA celular. Essa transformação ocorre rapidamente, porém as células podem permanecer em um estado de dormência por um período variável até serem ativadas por um agente promotor. Após o início do dano celular, a transformação das células normais em câncer detectável pode levar muitos anos ou até mesmo décadas. Durante a promoção, as células iniciais multiplicam- se e escapam dos mecanismos existentes para proteger o corpo de crescimento e disseminação. Uma neoplasia (tecido novo e anormal sem nenhuma função útil) é estabelecida. Na terceira fase, chamada de progressão, as células tumorais agregam-se e crescem em uma neoplasia maligna ou tumor totalmente desenvolvido. No processo conhecido como metástase, a neoplasia tem a capacidade de invasão, podendo propagar-se para tecidos e órgãos a distância. Para um câncer metastatizar, precisa desenvolver seu próprio suprimento sanguíneo, a fim de sustentar o crescimento de células anormais em rápida divisão. A angiogênese tumoral ocorre quando os tumores liberam substâncias que ajudam no desenvolvimento de novos vasos sanguíneos necessários ao seu crescimento e à sua metástase. NUTRIÇÃO E CÂNCER Alguns carcinógenos dietéticos consistem em pesticidas ou herbicidas de ocorrência natural produzidos por plantas para a proteção contra fungos, insetos, animais predadores ou micotoxinas (p. ex., aflatoxinas, fumonisinas ou ocratoxina). Os métodos de preparação e conservação dos alimentos também podem contribuir para a ingestão de carcinógenos dietéticos. Os exemplos de intensificadores dietéticos da carcinogênese podem incluir a gordura saturada na carne vermelha ou os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP) que se formam na superfície da carne grelhada em altas temperaturas. Uma alteração em um componente importante da dieta pode precipitar uma alteração em outros aspectos. Por exemplo, a redução da proteína animal também diminui a gordura animal. Essa cascata de eventos torna difícil a interpretação dos achados de pesquisa, visto que os efeitos não podem ser claramente associados a um único fator. O consumo de álcool está associado ao risco aumentado de câncer para os cânceres de boca, faringe, laringe, esôfago, pulmão, cólon, reto, fígado e mama (mulheres na pré e na pós-menopausa). Já se constatou, através de estudos selecionados, que o consumo de álcool após o diagnóstico de câncer de mama aumenta o risco de recidiva, particularmente entre mulheres na pós-menopausa e naquelas com sobrepeso ou obesidade. O uso concomitante de tabagismo e álcool aumenta acentuadamente o risco de câncer, em especial cânceres do sistema digestório alto e do sistema respiratório. Além disso, a desnutrição associada ao alcoolismo tende a ser importante no aumento do risco para certos tipos de câncer. Felizmente, as dietas contêm tanto inibidores como intensificadores da carcinogênese. Os inibidores de carcinógenos dietéticos incluem antioxidantes (p. ex., vitamina C, vitamina A e os carotenoides, vitamina E, selênio, zinco) e fitoquímicos (componentes biologicamente ativos de plantas). Os alimentos de origem vegetal podem ajudar na prevenção do câncer, visto que funcionam como inibidores, por meio de mecanismos anti- inflamatórios e alterações na expressão gênica e na atividade hormonal. Fitoquímicos que podem ter propriedades protetoras e suas fontes Licopeno Tomates e produtos à base de tomate, toranja rosa, melancia Antocianinas, polifenóis Framboesa, amora, uvas, vinho tinto, ameixas Alfa e betacarotenos Cenouras, mangas, abóbora Criptoxantina e flavonoides Melão, pêssegos, laranjas, mamão papaia, nectarinas Luteína e zeaxantina Espinafre, abacate, melão, couve e nabo, verduras, aspargo Sulforafanos e indóis Repolho, brócolis, couve-de- bruxelas, couve-flor Sulfetos alílicos Alho-poró, cebola, alho, cebolinha A Food and Drug Administration (FDA) aprovou oito adoçantes não nutritivos (acessulfame-K, aspartame, extrato da fruta luo han guo, neotame, sacarina, estévia, advantame e sucralose) para uso no suprimento alimentar, os quais são regulados como aditivos alimentares; em geral, são reconhecidos como seguros quando utilizados com moderação. Os adoçantes não nutritivos fornecem pouca ou nenhuma energia, visto que adoçam em quantidades muito pequenas. Nas carnes processadas, são adicionados nitratoscomo conservantes. Os nitratos podem ser rapidamente reduzidos a nitritos, os quais, por sua vez, interagem com substratos dietéticos, como aminas e amidas, produzindo compostos N-nitrosos (CON): as nitrosaminas e nitrosamidas, que são mutágenos e carcinógenos conhecidos. Os nitratos ou nitritos são utilizados em alimentos defumados, salgados e em conserva. Os nitratos de sódio e de potássio estão presentes em uma variedade de alimentos e conferem aos cachorros-quentes e carnes processadas sua cor rosada, porém as principais fontes dietéticas são os vegetais e a água de beber. Os CON também são produzidos de forma endógena no estômago e no cólon de indivíduos que consomem grande quantidade de carne vermelha. Devem-se incentivar dietas com grande quantidade de frutas e vegetais contendo vitamina C e fitoquímicos capazes de retardar a conversão dos nitritos em CON. A carbonização ou o cozimento da carne em altas temperaturas sobre uma chama aberta (205 °C ou mais) podem causar a formação de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP) e aminas heterocíclicas (AHC). Os HAP demonstraram ter uma clara indicação de mutagenicidade e carcinogenicidade. Em geral, assar ou fritar os alimentos não produz grande quantidade de HAP, em comparação com a quantidade produzida quando cozidos sobre o fogo aberto. As proteínas animais que produzem maior gotejamento de gordura sobre as chamas registram maior formação de HAP. Por exemplo, um bife grelhado produz maior quantidade de HAP que o frango grelhado, que, por sua vez, produz quantidade mais elevada que o frango assado no forno. A fonte da chama pode influenciar a produção de HAP; o grelhado com carvão vegetal promove maior produção, seguido da chama de gás e, por fim, do grelhado no forno. O bisfenol A (BPA) é uma substância química industrial utilizada desde a década de 1960 na fabricação de muitas garrafas de plástico rígido e revestimentos epóxi de latas à base de metal para alimentos e bebidas. Estudos recentes demonstraram que o BPA pode interferir na função de alguns hormônios, incluindo os sexuais, a leptina, a insulina e a tiroxina, além de causar efeitos hepatotóxicos, imunológicos e carcinogênicos. O dano do BPA à saúde pode não ser tão evidente, visto que o BPA é rapidamente metabolizado no organismo, em vez de ocorrer acúmulo. Até que sejam adquiridos mais conhecimentos, a meta atual é reduzir o uso e a exposição ao BPA. PREVENÇÃO Quimioprevenção → uso de fármacos, vitaminas ou outros agentes para reduzir o risco ou retardar o desenvolvimento de câncer ou sua recidiva. Os exemplos incluem anti-inflamatórios não esteroides, que podem proteger contra o câncer de cólon, e a metformina, uma medicação utilizada com frequência no tratamento do diabetes mellitus; atualmente, essas substâncias estão sendo exploradas como agentes para prevenção e tratamento do câncer. Outros produtos naturais ou moléculas atualmente investigados incluem as centenas de polifenóis presentes em frutas e vegetais, chá verde, curcumina (açafrão-da-terra e curry) e resveratrol de uvas e frutas vermelhas. O ácido fenólico, os flavonoides, estilbenos e lignanas constituem os polifenóis mais abundantes; o potencial quimiopreventivo desses compostos provém de sua capacidade de modular as alterações epigenéticas nas células cancerosas. Os adultos devem praticar pelo menos 150 minutos de atividade física de intensidade moderada ou 75 minutos de atividade física de intensidade vigorosa por semana, ou uma combinação equivalente, de preferência distribuída durante a semana. Alcançar e manter uma massa corporal saudável ao longo da vida. Evitar o ganho excessivo de massa corporal em todas as idades. Consumir uma dieta saudável, com ênfase em fontes vegetais. Limitar o consumo de carne processada e carne vermelha. Consumir pelo menos 2,5 xícaras de vegetais e frutas por dia. Escolher grãos integrais em vez de produtos refinados. No caso de consumo de bebidas alcoólicas, limitar o consumo. Não exceder mais de uma dose por dia para as mulheres ou duas doses por dia para os homens. Café e chá contêm vários compostos antioxidantes e fenólicos, alguns, inclusive, que já demonstraram ter propriedades anticancerígenas. O café também contém cafeína, um composto da família fitoquímica de alcaloides. São importantes fontes de antioxidantes na dieta que podem proporcionar um efeito protetor contra o câncer. A soja é uma proteína vegetal que contém fitoestrogênios (estrogênios vegetais muito fracos) e isoflavonas, como a genisteína e a daidzeína. As dietas que contêm quantidades modestas de soja protegem contra o câncer de mama, particularmente se os alimentos à base de soja forem consumidos antes de se alcançar a idade adulta, aparentemente devido à exposição aos efeitos estrogênicos fracos das isoflavonas no início da vida. Entretanto, o uso de soja continua controverso para mulheres que já foram diagnosticadas com cânceres sensíveis a hormônios (p. ex., de mama, endométrio) e para aquelas na pós- menopausa. A American Cancer Society (ACS) recomenda que as sobreviventes de câncer de mama limitem o consumo de alimentos à base de soja para três porções ao dia, no máximo, e evitem o uso de produtos e pós de suplemento de soja preparados. Diferentemente das recomendações para mulheres, os homens com câncer sensível a hormônios, como câncer de próstata, podem beneficiar-se do consumo regular de alimentos à base de soja. O câncer de próstata é dependente de testosterona, e os estrogênios (ou fitoestrogênios) são antagonistas. SINTOMAS Constitucionais Anorexia, fadiga, perda de peso, febre, sudorese, anemia. CAUTION Change – mudança nos hábitos intestinais/vesicais A – uma ferida que não cicatriza Unusual – sangramento ou corrimento incomum Thickening – espessamento ou nódulo Indigestion – indigestão ou dificuldade na deglutição e mastigação Obvious – alteração óbvia em verruga ou sinal Nagging – tosse ou rouquidão persistente Metastáticos Dor, aumento dos linfonodos ou órgãos corporais, tosse com ou sem hemoptise, dor óssea com ou sem fratura, sintomas neurológicos. DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO DO CÂNCER Quando os sintomas ou testes de rastreamento sugerem câncer, os médicos utilizam os seguintes recursos para estabelecer um diagnóstico definitivo: avaliação da história médica, social e familiar do indivíduo; exame físico; exames laboratoriais; exames de imagem; e biópsia tecidual. A avaliação laboratorial consiste em análise de sangue, urina e outros líquidos corporais. Em particular, os oncologistas avaliam os marcadores tumorais e outras substâncias no sangue ou em líquidos corporais, que podem estar elevados no câncer. Exames de imagem: tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RM), tomografia por emissão de pósitrons (PET). Estadiamento Aplica-se o estadiamento para identificar o grau de disseminação de um câncer pelo corpo. O estágio do câncer por ocasião do diagnóstico constitui um forte preditor de sobrevida e orienta os oncologistas sobre o plano de tratamento mais efetivo. Com mais frequência, o estadiamento do câncer é descrito como estágios I, II, III ou IV — sendo o estágio I a menor quantidade de doença, e o estágio IV, a doença mais avançada. O sistema de estadiamento de tumor-linfonodo-metástase (TNM) também é comumente utilizado pelos oncologistas. T refere-se ao tamanho do tumor; N refere-se aos linfonodos ou se houve disseminação para os linfonodos; enquanto M representa a ocorrência de metástase ou a disseminação do câncer para órgãos distantes. TRATAMENTO As modalidades convencionais incluem terapia antineoplásica (p. ex., quimioterapia, bioterapia ou terapia hormonal), radioterapia e cirurgia usada isoladamente ou em associação com outras terapias para o câncer. Os tumores sólidos e as doenças malignas hematológicas,como leucemias, linfomas e mieloma múltiplo, podem ser tratados por meio de transplante de células hematopoéticas (TCH). Quimioterapia Uso de agentes químicos ou medicamentos para o tratamento sistemático do câncer. Esses agentes interferem nas etapas ou fases do ciclo celular, especificamente na síntese de DNA e na replicação das células cancerosas. Os agentes quimioterápicos são, em sua maioria, classificados com base em sua atividade bioquímica e no mecanismo de ação, como agentes alquilantes (inespecíficos do ciclo celular), antimetabólitos (específicos do ciclo celular, habitualmente da fase de síntese de DNA) e taxanos (específicos da fase de mitose). As vias de administração da quimioterapia incluem: Oral: cápsula, pílula ou líquido Intravenosa (IV): fornecimento do medicamento por meio de injeção ou cateter de demora em uma veia Intraperitoneal: administração do medicamento por meio de cateter diretamente na cavidade abdominal Intravesicular: fornecimento do medicamento por meio de cateter de Foley diretamente na bexiga Intratecal: administração do medicamento por meio de injeção no sistema nervoso central, utilizando um reservatório de Ommaya ou uma punção lombar. Cateter de Foley Reservatório de Ommaya É uma terapia sistêmica que afeta o tecido maligno, bem como as células normais. As células do corpo com rápida renovação, como a medula óssea, os folículos pilosos e a mucosa do trato alimentar, são as mais afetadas. Em consequência, a ingestão e o estado nutricional podem ser afetados de maneira adversa. Os sintomas relacionados à nutrição incluem mielossupressão (supressão da produção de neutrófilos, plaquetas e eritrócitos pela medula óssea), anemia, fadiga, náusea e vômitos, perda de apetite, mucosite, alterações do paladar e do olfato, xerostomia (ressecamento da boca), disfagia e alteração da função intestinal, como diarreia ou constipação intestinal. A neutropenia (redução dos leucócitos ou neutrófilos) e a mielossupressão constituem os principais fatores que limitam a administração de quimioterapia. Bioterapia Uso de agentes biológicos para produzir efeitos anticancerígenos indiretamente, por meio de indução, intensificação ou supressão da própria resposta imune do indivíduo. Os agentes antiangiogênicos são empregados para inibir o desenvolvimento de novos vasos sanguíneos necessários pelos cânceres (vascularização do tumor) e, assim, impedir seu crescimento, invasão e propagação. Os diferentes tipos de agentes de bioterapia usados para ajudar o sistema imune a reconhecer as células cancerosas e a fortalecer sua capacidade de destruí- las incluem: Citocinas, como a interferona e a IL-2, para o tratamento do melanoma maligno e do melanoma metastático. Anticorpos monoclonais, como o trastuzumabe, para o tratamento de tipos específicos de câncer de mama; e o rituximabe, para o tratamento do linfoma não Hodgkin. Os inibidores antiangiogênicos evitam ou reduzem o crescimento de novos vasos sanguíneos e impedem a invasão pelo tumor. Esses agentes são utilizados com mais frequência em associação com outros agentes quimioterápicos, a fim de maximizar sua eficácia. O bevacizumabe é um bom exemplo de agente antiangiogênico utilizado no tratamento do câncer de cólon ou do cérebro. Outros tipos de agentes de bioterapia incluem grupos de proteínas que induzem o crescimento e a maturação das células sanguíneas (fatores de crescimento hematopoéticos). Atualmente, as vacinas contra o câncer, como sipuleucel-T, preparadas a partir do próprio câncer ou de substâncias de células tumorais do indivíduo, estão em fase de pesquisa em ensaios clínicos sobre o câncer. Terapia hormonal Terapia sistêmica utilizada no tratamento de cânceres sensíveis a hormônios (p. ex., de mama, ovário, próstata) por meio de bloqueio ou redução da fonte de um hormônio ou seu sítio receptor. Os efeitos colaterais incluem comumente ondas de calor, diminuição da libido e dor óssea. Radioterapia Recorre a uma alta energia (radiação ionizante) em múltiplas doses fracionadas, ou substâncias químicas radioativas para tratar o câncer. Os efeitos colaterais agudos da radioterapia, quando usada isoladamente, ocorrem, em geral, em torno da segunda ou da terceira semana de tratamento e regridem habitualmente dentro de 2 a 4 semanas após o término da radioterapia. Os efeitos tardios da radioterapia podem ocorrer várias semanas, meses ou até mesmo anos após o tratamento. Os sintomas relacionados com a nutrição comumente apresentados incluem fadiga, perda de apetite, alterações cutâneas e queda dos cabelos na área tratada. A resposta ao tratamento do câncer é definida como resposta completa ou parcial (melhora), doença estável (igual) ou progressão da doença (agravamento). Os fatores que afetam a resposta do indivíduo ao tratamento incluem carga tumoral (quanto maior o tumor, maior o risco de doença metastática), a taxa de crescimento do tumor (os tumores de rápido crescimento são habitualmente mais responsivos à terapia) e a resistência aos fármacos (os tumores sofrem mutação à medida que vão crescendo, e, com mutações sucessivas, as novas células cancerosas tendem a ser resistentes à terapia). Outros fatores que contribuem para a resposta de um indivíduo ao tratamento do câncer incluem doenças comórbidas (p. ex., diabetes mellitus, doença renal, doença cardiopulmonar), idade, estado de desempenho, sistemas de apoio psicossocial, reserva de medula óssea e saúde geral. Se não for possível curar ou controlar o câncer, são oferecidos cuidados paliativos. Os cuidados paliativos ajudam o indivíduo a se sentir o mais confortável possível. O tratamento paliativo é desenvolvido para aliviar a dor e controlar os sintomas da doença; diminuir o isolamento, a ansiedade e o medo; e ajudar a manter a independência o maior tempo possível. DIETOTERAPIA Tto antineoplásico ou paliação 25 a 30 kcal/kg > 1g PTN/kg 1,2 a 2g PTN/kg se tiver inflamação sistêmica Sobreviventes 25 a 30 kcal/kg 0,8 a 1g PTN/kg Obesos 20 a 25 kcal/kg 1,2 a 1,5g PTN/kg Caquexia/desnutrição 30 a 35 kcal/kg 1,2 a 1,5g PTN/kg IMC < 18,5 32 a 38 kcal/kg 1,2 a 1,5g PTN/kg Recomendações hídricas: 30 a 35 ml/kg Pode ocorrer alteração do balanço hídrico na presença de febre, ascite, edema, fístulas, vômitos ou diarreia profusos, múltiplas terapias intravenosas concomitantes, comprometimento da função renal ou medicamentos, como diuréticos. Os indivíduos necessitam de monitoramento rigoroso à procura de desidratação, hipovolemia e efeitos nefrotóxicos de tratamentos para o câncer. Os sinais e sintomas de desidratação incluem fadiga, perda de peso aguda, hipernatremia, turgor deficiente da pele, mucosa oral seca, urina escura ou de odor forte e diminuição do débito urinário. Para uma avaliação cuidadosa da hipovolemia, devem-se avaliar também os níveis de eletrólitos séricos, ureia e creatinina. Se os indivíduos tiverem dificuldade na alimentação e efeitos colaterais relacionados com o tratamento, o uso de um suplemento multivitamínico e de minerais que não ultrapasse 100% das ingestões dietéticas de referência (DRI) é considerado seguro. EFEITOS ADVERSOS DA TERAPIA ANTINEOPLÁSICA Odinofagia ✓ Alterar a consistência da dieta, de acordo com a tolerância do paciente ✓ Aumentar o aporte calórico e proteico das refeições ✓ Ofertar suplemento oral conforme individualidade do paciente ✓ Evitar alimentos secos, duros, cítricos, salgados, picantes e condimentados ✓ Evitar alimentos em extremos de temperatura. Disgeusia ✓ Estimular a ingestão dos alimentos preferidos ✓ Preparar pratos mais coloridos e visualmente apetitosos ✓ Usar ervas e especiarias para acentuar o sabor dos alimentos. Náuseas e vômitos ✓ Oferecer bebidas à base de gengibre ✓ Realizar refeições em ambientes tranquiloscom mastigação lenta e pequenas porções de alimentos ✓ Alimentar-se em locais arejados, longe de odores forte de comida ✓ Preferir alimentos secos e sem alto teor de gordura ✓ Preferir alimentos cítricos e gelados ✓ Evitar líquidos durante as refeições, (consumir 30 a 60 minutos antes/depois). Inapetência ✓ Aconselhamento nutricional por profissional especializado em nutrição oncológica ✓ Aumentar a densidade calórica dos alimentos ✓ Orientar dietas hipercalóricas hiperproteicas fracionadas e em pequenas porções ✓ Introduzir suplementos orais hipercalóricos e hiperproteicos nos intervalos Neutropenia ✓ Lavar as mãos com frequência e manter as superfícies da cozinha e os utensílios limpos ✓ Evitar produtos de origem animal crus ou inadequadamente cozidos, incluindo carne de vaca, carne de porco, caças, aves, ovos e peixes. ✓ Lavar todas as frutas e vegetais frescos antes de sua ingestão. ✓ “Quando tiver dúvida, jogar fora” e “não comer nada velho ou mofado” Saliva espessada ✓ Beber líquidos durante todo o dia para manter a umidade da cavidade oral. ✓ Afinar as secreções orais com club soda, água com gás ou suco de mamão papaia. ✓ Tentar a guaifenesina para ajudar a afinar as secreções orais. ✓ Uso de um umidificador de vapor frio durante o sono. Caquexia Perda progressiva de peso, anorexia, perda generalizada da massa muscular e fraqueza, imunossupressão, alteração da taxa metabólica basal e anormalidades no metabolismo hídrico e energético. Há também perda aumentada de tecido adiposo, que está relacionada com o aumento da taxa de lipólise, e não com a diminuição da lipogênese. A caquexia do câncer é causada, em parte, por citocinas (agentes imunomoduladores), que são produzidas pelo próprio câncer ou pelo sistema imune em resposta ao câncer. As citocinas podem causar alteração e perda da massa muscular semelhantes àquelas observadas na inflamação. Embora a caquexia do câncer não possa ser revertida por meio de suporte nutricional convencional, a anorexia, que é uma condição frequente relacionada com o câncer, responde ao tratamento com aconselhamento nutricional, modificação da dieta e farmacoterapia. Outros efeitos Os vômitos persistentes estão associados a obstrução intestinal, radioterapia do estômago e do abdome ou cérebro, agentes quimioterápicos altamente emetogênicos (causadores de náusea), tumores intracranianos e câncer avançado. A verificação e a avaliação cuidadosas da causa da diarreia ou dos vômitos são de importância crítica para o manejo efetivo. A má absorção pode ser causada por disfunção pancreática relacionada com tratamento, síndrome do intestino curto pós-cirúrgica, enterite por radiação (inflamação dos tecidos do trato GI em consequência de radiação) aguda ou crônica, excesso de serotonina, esteatorreia ou diarreia crônica. Pode ocorrer hipercalcemia em indivíduos com metástases ósseas, que é causada pela atividade osteolítica das células tumorais que liberam cálcio no líquido extracelular. A hipercalcemia é potencialmente fatal e, com mais frequência, está associada a mieloma múltiplo, câncer de pulmão e câncer avançado de mama e de próstata. O tratamento clínico da hipercalcemia consiste em reidratação e uso de agentes anti-hipercalcêmicos. A restrição do consumo de alimentos contendo cálcio não está indicada, visto que a ingestão desses alimentos exerce pouco efeito sobre o manejo global da hipercalcemia. Conferir outros resumos para demais efeitos (xerostomia, disfagia, mucosite, diarreia, constipação, esofagite). CUIDADOS PALIATIVOS Os objetivos consistem em proporcionar uma boa qualidade de vida; aliviar os sintomas físicos; amenizar o isolamento, a ansiedade e o medo associados à doença avançada; e ajudar os pacientes a manter sua independência pelo maior tempo possível. As metas de intervenção nutricional devem ter como foco o controle dos sintomas relacionados com a nutrição, como dor, fraqueza, perda de apetite, saciedade precoce, constipação intestinal, ressecamento da boca e dispneia. A nutrição deve ser fornecida “conforme tolerada ou desejada”, em conjunto com apoio emocional, percepção e respeito das necessidades e dos desejos individuais. Por conseguinte, devem-se enfatizar os aspectos agradáveis da alimentação, sem preocupação quanto à quantidade ou ao teor de nutrientes e energia.
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