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Sumário Apresentação da obra .....................................................................................................2 As luzes na escuridão (gratidão) .....................................................................................3 Osho ensina sobre Zorba e o Buda .................................................................................4 Capítulo 1 - Tantra - visão geral ......................................................................................8 Drávidas - Origens tântricas ......................................................................................... 10 Capítulo 2 - Deeksha - iniciações tântricas .................................................................. 16 Capítulo 3 - Kundalinî-shaktí - o poder da serpente ................................................... 27 Capítulo 4 - Chakras, kundalini e nadis ........................................................................ 30 A saúde dos chakras ..................................................................................................... 38 Capítulo 5 - Mudrás - Apoio ao Tantra e Maithuna .................................................... 42 Capítulo 6 - Chakra puja mantrificando a deusa ......................................................... 47 Capítulo 7 - Massagem tântrica ................................................................................... 54 Capítulo 8 - Maithuna – porta para o êxtase .............................................................. 64 Capítulo 9 - Angas maithuna ........................................................................................ 67 Capítulo 10 - Puja (adoração) e leelas ......................................................................... 86 Capítulo 11 - Formas de carícia e sexualidade ............................................................ 91 Capítulo 12 - Asanas - intenção e saudação a deusa .................................................. 96 Capítulo 13 - Absorção, retenções e meditações finais ............................................ 107 Capítulo 14 - Meditação – Dhyana e Iluminação ...................................................... 113 Revisão ........................................................................................................................ 116 Capítulo 15 - Benção da egrégora tântrica e hindu .................................................. 120 Epílogo - Fim das buscas ............................................................................................. 122 Glossário ...................................................................................................................... 124 Bibliografia .................................................................................................................. 126 Anexo ...................................................................................................................................... 128 1 Que todos os mestres tântricos abençoem a ti e a essa obra. Que todos os seres possam ser felizes e saudáveis. 2 Apresentação da obra Este livro trata de tema controverso e apaixonante, além de estabelecer uma nova visão na divulgação dessa arte milenar e de difusão hermética, que passou a ser conhecida entre nós a menos de um século, portanto, recentemente. O que me tranqüiliza nesta tarefa é o fato de conhecer o autor há duas décadas e saber de seu interesse, sua capacidade de pesquisa e da sua preocupação em vivenciar o tema antes de emitir opinião. Otávio é daquelas pessoas que estuda longamente, busca autores diferentes, participa de cursos, de treinamentos, viagens e desafios que poucos se disporiam, e o faz por acreditar que assim é que nos tornamos atores e autores de estudo. Imputo ao ator características tais como: estudioso, dedicado, quase obstinado, ousado, pesquisador, comunicador... e tudo com forte carisma! O sexo tântrico e o maithuna, nos dias de hoje, em que todos os temas, mesmo os milenares e herméticos, são comercializados, vulgarizados e desprezados, como tema de estudo e livro, só poderia ser dignificado por alguém que dedica sua vida à difusão de artes e técnicas que melhorem o entendimento do bem viver. A hora é de mudança e são poucos os que já enxergam saídas para se livrar do envelhecimento sem gratificação, baseado em uma vida sem gosto e propósito, na qual até o sexo se banaliza, perde o senso, o gosto e a razão. Este texto visita a história por intermédio de mestres e autores diversos, passa por experimentos no longínquo Oriente e retorna ao nosso meio permeado pela vivência do autor, que prega a delicadeza, a ritualização e o amor como antídoto ao desânimo da atualidade. Portanto, este é um livro para ser estudado com atenção e respeito – respeito a você mesmo –, praticado com o (a) companheiro (a) amado (a), cuidando dos mínimos detalhes e ritos, para depois ser compreendido e julgado. “Somos a metade de um continente Que se rompeu há muito tempo. Vim cruzando os oceanos lentamente movido a correnteza e vento. Agora que nós vamos unindo, sinto os ajustes de nossos litorais e estremeço. Onde eu findo Aí é o seu começo”. Latner Armando Austregésilo Fundador da AMOR Associação de Massagem Oriental, criador da massagem xamânica e mestre maior de massoterapia de Otávio Leal (Dhyan Prem) 3 As Luzes na Escuridão Meus mestres - Gratidão Eterna “Existem muitos gurus, como lâmpadas que ardem em diversas casas; mas difícil de encontrar, ó Devî, é o guru que ilumina todas as coisas como o Sol”. * Gratidão eterna a Ananda Larissa sol da minha existência. “Existem muitos gurus que possuem a fundo o conhecimento sagrado revelado e os Shastras (escrituras sagradas); mas difícil de encontrar, ó Devi, é o guru que chegou à Verdade Suprema”. * Profunda gratidão aos mestres Osho, Monja Coen, Edmundo Pellizardi (Vrajra Nath), Dalai Lama e Ramana Maharshi. Todos vocês apontaram em direção à única Verdade Suprema. “Existem muitos gurus sobre a Terra que dão outras coisas que não o Si Mesmo; mas difícil de encontrar em todos os mundos, ó Devi, é o guru que revela o Si Mesmo”. * Gratidão a Diana Prem Zeenat que me fez olhar “Quem Sou”, olhando como você vê “quem é”. “Muitos são os gurus que roubam o discípulo de sua riqueza, mas raro é o guru que elimina as aflições do discípulo”. * Agradeço a Armando Austregésilo e Katalina Fernandez Mera, que me colocaram no meu (não) caminho sem aflições. “É um verdadeiro guru aquele que, pelo contato, flui a suprema Bem-Aventurança (ânanda- felicidade). Só a este, e a nenhum outro, deve o homem de inteligência escolher como seu guru”. * Gratidão ao caminho do Tantra me foi transmitida por ti professor Datatreya (a 1ª iniciação), Levi Leonel de Souza, Vrajra Nath (iniciação na tradição Nath), Ananda Ram (iniciação no Aghori Tantra), Georg Feuerstein, Harish Johari, Gerson D´Addio, Pedro Kupfer e Juliana (Krishna Priya) (o Yoga levado a sério). Gratidão ainda a todos esses amigos e cúmplices, sem vocês nada de prático seria possível: Karuna e Fabio (no comando do computador, e serem tão generosos); Elemi (minha amiga e secretária); Mirian Maria do Canto que cuidou das minhas deusinhas em forma de cães: Durga e Dhara (amo-as como a Nicole e a Chandra – cara de lua) e dos Deuses gatos Nirvana, Nirvano, Moksha e Sidarta; pelos desenhos de Fabinho, Claudia Defendi e Raquel (que coisa linda fizemos, hein?); aos milhares de alunos da Humaniversidade Holística, uma escola de iluminação, Yoga e formação de alguns dos melhores terapeutas do planeta Terra e a todos os mestres da tradição tântrica, gratidão eterna. * (textos do Kula-Arnava Tantra) Otávio Leal (Dhyan Prem) Ensinamento A seguir um texto que recebi nos anos 80 do mestre Osho. Isso foi uma benção em minha vida: Viver plenamente o espirituale o material – nada mais tântrico. 4 Osho Sem Zorba não há Buda. O terço e a champanhe. Zorba, o Buda é o fim de todas as religiões. Ele é o início de um novo tipo de religiosidade que não precisa de rótulo – cristianismo, judaísmo ou budismo. A pessoa simplesmente curte a si mesma, curte este imenso universo, dança com as árvores, brinca na 5 praia com as ondas do mar, coleciona conchinhas do mar sem qualquer propósito – apenas por pura alegria. A maresia, a areia fresca, o sol nascente, uma boa corrida – o que mais você quer? Para mim, isto é religião – curtir o ar, curtir o mar, curtir a areia, curtir o sol – porque não existe outro Deus além da própria existência. Zorba, o Buda, por um lado, é o fim do velho homem – de suas religiões, suas políticas, suas nações, suas discriminações raciais e todos os tipos de estupidezes. Por outro lado, Zorba, o Buda é o início de um novo homem – um homem totalmente livre para ser ele mesmo, permitindo sua natureza desabrochar. Não existe conflito algum entre Zorba e Buda. O conflito foi criado pelas chamadas religiões. Existe algum conflito entre seu corpo e sua alma? Existe algum conflito entre a sua vida e a sua consciência? Existe algum conflito entre a sua mão direita e sua mão esquerda? Todos eles são um em uma unidade orgânica. O seu corpo não é algo a ser condenado, mas sim algo ao qual se deve estar agradecido, porque ele é uma das grandes coisas da existência, a mais milagrosa; o seu funcionamento é simplesmente inacreditável. Todas as partes de seu corpo funcionam como uma orquestra. Os seus olhos, as suas mãos, as suas pernas têm uma comunhão interna. Não acontece de seus olhos quererem ir para o leste e suas pernas irem para o oeste, ou que você esteja faminto, mas sua boca se recuse a comer: a fome está no estômago, e o que isto tem a ver com a boca? - A boca está fazendo greve. Não, o seu corpo não tem conflito algum. Ele se move com uma sincronicidade interna, sempre junto. E sua alma não é algo oposto ao seu corpo. Se o seu corpo é a casa, a alma é a sua hóspede. E não há qualquer necessidade do hóspede e o anfitrião brigarem continuamente. Mas as religiões não conseguiriam existir sem que você brigasse consigo mesmo. A minha insistência em sua unidade orgânica, para que o seu materialismo não seja mais oposto ao espiritualismo, é basicamente para demolir todas as religiões sobre a terra. Uma vez que seu corpo e sua alma comecem a se mover de mãos dadas, dançando juntos, você se torna Zorba, o Buda. Então você pode curtir tudo desta vida, tudo o que está fora de você, e também pode curtir tudo o que está dentro de você. Na verdade, o dentro e o fora são dimensões totalmente diferentes; eles nunca entram em conflito. Mas, milhares de anos de condicionamento, de que se você quiser o interior tem que renunciar ao exterior, criaram raízes profundas em você. Do contrário, isto é, uma ideia tão absurda... você tem que desfrutar o interior – E qual o problema em desfrutar o exterior? O desfrute é o mesmo; este é o elo de ligação entre o interior e o exterior. Ouvir uma bela canção, ou ver uma grande pintura, ou assistir um dançarino como Nijinski – isto está do seu lado de fora, mas não é de jeito algum uma barreira para o seu desfrute interior. Ao contrário, é uma grande ajuda. A dança de Nijinski pode despertar uma qualidade dormente de sua alma de modo que você também possa dançar. A música de um Ravi Shankar pode começar a tocar nas cordas de seu coração. O exterior e o interior não estão divididos. É uma só energia, dois polos de uma existência. Zorba pode se tornar Buda mais facilmente que os seus santos. Não há qualquer possibilidade dos seus chamados santos, se tornarem realmente espirituais. Eles nem mesmo conhecem as alegrias do corpo. Como você pode achar que eles serão capazes de conhecer as verdadeiras alegrias sutis do espírito? O corpo é a escola onde você aprende a nadar em águas rasas. E uma vez que você tenha aprendido a nadar, então não interessa qual a profundidade da água. Então você pode ir para a parte mais profunda do lago; tudo será a mesma coisa para você. (...) Mas é preciso lembrá-lo a respeito da vida do Buda. Até os seus vinte nove anos, ele era um puro Zorba. Ele tinha disponível, às dúzias, as melhores garotas de seu reino. Todo o seu palácio era cheio de música e dança. Ele tinha as melhores comidas, as melhores roupas, belos 6 palácios para viver, jardins fantásticos. Ele vivia mais profundamente que o pobre Zorba o Grego. Zorba tinha apenas uma Babulina – uma mulher velha e enrugada, uma prostituta que tinha perdido todos os seus clientes. Ela tinha dentes e cabelos postiços – e Zorba era seu cliente somente porque ele não tinha como pagar. E você o chama de Zorba? – Você se esqueceu completamente dos vinte e nove anos da vida do Buda que era muito mais rica. Dia sim, dia não, ele vivia no luxo, cercado por tudo que ele podia imaginar. Ele estava vivendo numa terra de sonhos. Foi essa experiência que o tornou um Buda. Isto não tem sido analisado desta maneira. Ninguém se preocupa com a primeira parte de sua vida – que é a verdadeira base. Ele ficou enfastiado daquilo. Ele experimentou todas as alegrias do lado de fora, agora ele queria algo mais, algo mais profundo, que não estava disponível no mundo exterior. Para ir ao mais profundo você tem que se lançar para dentro de si. Com a idade de vinte e nove anos ele deixou o palácio à noite em busca do interior. Era o Zorba partindo em busca do Buda. Zorba o Grego nunca se tornou um Buda pela simples razão que a sua qualidade de Zorba estava incompleta. Ele é um belo homem, cheio de vivacidade, mas um pobre homem. Ele quer viver a vida em sua intensidade, mas ele não tem oportunidade de vivê-la. Ele dança, ele canta, mas ele não conhece as nuances mais altas da música. Ele não conhece a dança na qual o dançarino desaparece. O Zorba no Buda conhecia as partes mais altas e mais profundas do mundo exterior. Conhecendo tudo isso, ele estava pronto agora para continuar uma busca mais interior. O mundo é bom, mas não é bom o suficiente; algo mais é necessário. Ele lhe dá uns vislumbres momentâneos; o Buda quer algo eterno. E todos esses jogos acabarão com a morte. Ele quer conhecer algo que não se acaba com a morte. Se eu tivesse que escrever a vida de Gautama Buda, eu começaria do Zorba. E quando ele já conhece completamente o mundo exterior e tudo o que ele pode dar e descobre que ali está faltando sentido, ele parte em busca – porque ir para dentro era a única direção que ele não tinha olhado. Ele nunca olhou para trás – não havia motivo para ele olhar para trás, ele já tinha vivido tudo aquilo. E ele não era um buscador religioso que desconhecia o mundo exterior, de modo algum. Ele era um Zorba – ele foi para dentro de si com a mesma vivacidade, com a mesma força, com o mesmo poder. E, obviamente, ele descobriu em seu ser mais interno o contentamento, o preenchimento, o sentido, a benção que ele estava procurando. É possível que você consiga ser um Zorba e pare nisso. É possível que você possa não ser um Zorba e comece a procurar pelo Buda – você não irá encontrá-lo. Somente o Zorba pode encontrar o Buda; de outra forma você não terá a força: você não viveu no mundo exterior, você o evitou. Você é um escapista. Para mim, ser um Zorba é o começo da jornada, e tornar-se um Buda é alcançar a meta. E isto pode acontecer no mesmo indivíduo – isto só pode acontecer no mesmo indivíduo. É por isto que eu estou insistindo continuamente: não crie qualquer divisão em sua vida, não condene coisa alguma de seu corpo. Viva-o – não de má vontade – viva-o totalmente, intensamente. Este próprio viver torná-lo-á capaz de uma outra busca. É por isto que eu digo que meus sannyasis não têm que ser ascetas, que meus sannyasis têm que deixar suas esposas, seus maridos, seus filhos. Todas essas tolices têm sido ensinadas háséculos, e quantas pessoas – dentre esses milhões de monges e freiras – quantas pessoas floresceram? Nem mesmo uma simplesmente. Eu quero que vocês vivam a vida sem divisão. E primeiro vem o corpo, primeiro vem o seu mundo exterior. No momento em que a criança nasce e abre os olhos, a primeira coisa que ela vê é todo o panorama da existência ao seu redor. Ela vê tudo, exceto a si mesma – isto é para as 7 pessoas mais experientes. Isso é para aqueles que viram tudo do mundo externo e se libertaram dele. Livrar-se do mundo externo não acontece através do escapismo. A libertação do mundo externo chega, quando se vive esse mundo totalmente, até já não mais haver para onde ir. Resta então apenas uma dimensão e é natural que você queira buscar internamente essa dimensão remanescente. E ali está o seu buda, a sua iluminação. Você está dizendo, ‘É possível o encontro de Zorba e Buda? ’ Esta é a única possibilidade. Sem Zorba não há Buda. Zorba, naturalmente, não é o fim completo. Ele é a preparação para o Buda. Ele é a raiz; Buda é o florescimento. Não destrua as raízes; de outra forma não haverá florescimento algum. Aquelas raízes suprem continuamente a nutrição das flores. Todas as cores nas flores vêm das raízes. Toda a dança das flores no vento vem das raízes. Não dívida. Raízes e flores são dois lados de um mesmo fenômeno. Osho – From Bondage do Freedom – capítulo 40 8 Capítulo 1 Tantra – visão geral “Você não estuda o Tantra. Você vive o Tantra” Otávio Leal “O corpo físico é o templo da alma, o microcosmo do universo. Dentro deste templo, podem ser encontrados todos os princípios cósmicos. Os Tantras ensinam que nenhum templo supera em santidade o "Templo do Corpo”. Todos os elementos — éter, ar, fogo, água e terra — são encontrados dentro do corpo, junto com suas propriedades. O templo corporal tem os seus "jardins”, “rios”, "santuários” e "portais”. Por definição, um templo é um local de adoração, um edifício dedicado ao serviço de Deus. Este Deus, de acordo com os Tantras, é o nosso mais elevado ser ou alma, que deve ser conhecido e servido através do Templo do Corpo. ” (Tantra Kaula) “Quando existe apenas prazer mundano, não há libertação. E quando existe apenas libertação não há prazer mundano. Porém tanto o prazer quanto a libertação estão ao alcance daqueles devotados ao ser superior. ” (Kaularahasya) Apesar desse texto ser um estudo do Maithuna o ato sexual tântrico, o Tantra não é somente sexo, não é Kama-Sutra, nem um místico prometendo orgasmo cósmico ou um massagista de algo chamado “neo Tantra”. Talvez somente algo em torno de 1% de todos os textos e ensinamentos tântricos é de contexto sexual. Insisto que neste livro é abordado o maithuna – ato sexual tântrico, mas que fique bem claro: o Tantra não é somente sexo. O tantrismo não é seita ou religião, apesar de estreitar as relações entre o homem e os aspectos sutis do Universo. Não é magia, apesar de possuir rituais mágicos, e não possui nenhuma prática de sacramentos maléficos. Apesar de o mestre Osho citá-lo muito, este hindu iluminado, no final de sua visita nesse planeta, apontava muito mais na direção do zen do que do Tantra. O Tantra não é voltado só ao prazer orgástico. É, sim, encontrar o êxtase masculino e o êntase feminino, conhecido como Ananda Mahasukha que visa muita saúde, bem-estar, alegria, consciência e amor-próprio. Tantrik ou Tantra é uma filosofia antiguíssima, originária da Índia e que busca o reconhecimento do Purusha (Consciência, Essência, Espírito) através de métodos práticos e técnicos, como posturas físicas (ásanas e Yoga), respirações, concentrações, cuidados com a alimentação, e um universo de técnicas que se utiliza da vida como um todo de forma prazerosa e libertária. É a união de Purusha com Prakriti (matéria). Como filosofia de vida prática e não especulativa não há energia gasta no “por quê” e sim no “como”; um exemplo é em vez de se preocupar com o “por quê” do sofrimento, se busca o “como” ser feliz, daí o Tantra é conhecido como uma filosofia comportamental que o estimula a saber quem você é, como ser feliz, livre, energético e, dentro do possível, autossuficiente. Encontramos várias linhas de Yoga e várias escolas filosóficas comportamentais de origem tântrica. O praticante de Tantra é chamado de sádhaka (homem) e sádhika (mulher) ou tantrika (ambos), e buscam um modo de vida que oferece a transcendência, a iluminação (realização), pela alegria, arte e celebração. Que sacraliza tudo da existência: homens, animais, natureza, dança, música, alimentos, perfumes, ciclos naturais, coisas simples do cotidiano e também o 9 sexo, que tem como base a vitalidade do prazer, da brincadeira e do compartilhar. O sexo que leva ao carinho, à amorosidade, ao amor universal expresso no companheiro (a); o sexo que leva à integração homem (Shiva) / mulher (Shakti), Yin (energia feminina) / Yang (energia masculina; corpo / mente, pênis (lingan) / vagina (yoni). O Tantra aponta em direção a tudo que é natural no ser humano, o contato com a natureza, a descoberta do seu ser por meio do amor e do respeito ao próximo, a exaltação do companheiro em nível de deus/deusa tudo com a maior naturalidade e desprendimento, sem tabus ou regras retrógradas e anti-libertárias. A palavra Tantra tem a sua magia, ela instiga a imaginação do leitor, porque permanece guardada num arquivo de memória de milênios, assim é um mantram (som metafísico, palavra de poder) a qual muitas pessoas, ao ouvir a sua pronúncia sentem vibrar seu inconsciente coletivo, despertando interesse por esse assunto. Foi assim comigo. Grande parte da transmissão dos ensinamentos tântricos são feitos de forma de boca-ouvido (Vakrat Vak Tantraram). O termo Tantra vem do sânscrito, é uma palavra do gênero masculino e significa “teia”, crescer, desenvolver (prefixo Tan), salvação, instrumento (sufixo Tra), origina-se dos termos tanoti (elevação, expansão) e trayati (consciência). É aquilo que expande a consciência. Gosto muito da definição do yogue belga André Van Lysebeth: Tantra é “um corpo de doutrinas e, principalmente, de práticas milenares ou instrumento de expansão do campo da consciência comum, para alcançar a supra consciente, raiz do ser e receptáculo de poderes desconhecidos, que o Tantra quer despertar e utilizar. Pode ainda designar doutrina mística e mágica, ou obra nela inspirada”. Para o famoso místico e yogui Harish Johari, “o Tantra é como um belo rosário com suas inúmeras contas. Um instrumento único, que permite a busca da expansão do físico, do mental e da vida espiritual do homem e da mulher”. Finalizando, cito a auspiciosa definição que o Iluminado Osho nos dá do Tantra: “O tantrismo é uma busca experimental que visa eliminar o sentido ilusório e conflitual de ser um ego. Separado, a fim de nos conduzir à consciência de nossa verdadeira realidade, que é eterna as nossas energias físicas, sexuais e mentais, ensinando-nos a ver o caráter sagrado de toda a vida. O Tantra é ciência pura. Você pode transformar a si mesmo, e essa transformação precisa de uma metodologia científica. As centenas de técnicas tântricas constituem a ciência da transformação. O Tantra diz que não se pode mudar um homem, a menos que se dê a ele técnicas autênticas para mudar. Apenas pela pregação, nada é alterado. Tantra é o grande ensinamento. Pequenos ensinamentos dizem a você o que fazer e o que não fazer. Eles lhe dão os ‘10 Mandamentos’. Um grande ensinamento, não lhe dá mandamento. Ele não cuida do que você faz. Ele cuida do que é, do seu centro, da sua consciência. O Tantra diz para aceitar o que você é. Você é um grande mistério de energia multidimensional; aceite isso e mova-se com toda a energia, com profunda sensibilidade, atenção, amor e compreensão. Mova-se assim e então cada desejo torna-se uma ajuda para sua iluminação, então este próprio mundo é Nirvana, este próprio corpo é Templo - um TemploSagrado”. Depois dessas definições fica claro que o Tantra é vivenciado em todos os momentos da vida, por ter um caráter comportamental de teu ser em relação ao universo, mostrando que você é tão sagrado assim como qualquer outra criatura existente; seja Deus, homens ou borboletas. Não é possível determinar a época exata em que a palavra Tantra começou a ser usada ou narrar a sua história com a mesma precisão com que se descreve a trajetória de outras 10 culturas. Isso porque os caminhos e práticas tântricas são transmitidos oralmente, de mestre para discípulo, Gupta Vidya (conhecimentos Secretos), transmitidos pelo sistema de Parampara que significa “um após o outro”. Além disso, sempre existiu uma tradição em se manter sigilo sobre alguns ensinamentos, passando-os somente a alguns discípulos realmente interessados, provavelmente, para que eles não caiam em mãos profanas que possam desvirtuá-los. É o que o Iluminado Jesus ensinava: “Não dê pérolas aos porcos”. Certamente o Tantra não é para qualquer pessoa, como você poderá ler e julgar no decorrer deste livro. Drávidas - Origens tântricas Drávida é o nome de um povo que floresceu ao longo do rio Indo e do rio Saraswati numa área desértica no atual Paquistão que revela-nos a cultura do Vale do Indo – Berço do Tantra e que data de aproximadamente 6.500 a.C. de existência, sendo uma das mais antigas culturas espiritualistas e místicas juntamente com as origens do Xamanismo (inclusive no Tantra há muitos elementos xamânicos). Alguns estudiosos dizem que o Tantra só foi criado no século VI, pois a palavra Tantra foi amplamente divulgada nessa época, mas para provar tal absurdo, lembremo-nos que a palavra sexo (do latim Sexus = separação, divisão), só surgiu em meados do século XII, e, nem por isso, a partir de então as pessoas começaram a praticá-lo. O Tantra arcaico tem sua origem no período paleolítico junto com as próprias origens do homem tribal (20.000 a.C.) e se afirma no neolítico (8000 a.C.) no culto a Deusa Mãe entre os Drávidas ou dravídicos, em cidades como Harappa e Mohenjo Dharo, conhecidas como grandes centros comerciais da época. Deusa mãe Para elucidar melhor o que vem a ser o Tantra, é importante observar que ele se encontra em qualquer cultura primitiva, ligada à terra, a leis naturais, aos ciclos sazonais, aos rituais de oferendas aos deuses (Lua /Sol) e ao reconhecimento do mundo espiritual. Para um drávida a criação é uma obra divina, todo ato se torna sagrado, como uma comunicação com o “mundo celeste”, não existe futuro, amanhã ou planejamento. Tudo se baseia no aqui e no agora, no silêncio que é facilmente percebido e vivenciado pela possibilidade de isolamento da época (população esparsa e rarefação demográfica). A religião era a natureza e todo o necessário era fornecido por ela e fundamentado nos mistérios dos elementos: terra, fogo, água e ar. Como a maioria das tribos primitivas, cuidavam da natureza (deixavam ela em paz), porque dela dependiam, e viviam cercadas de animais e de vegetação abundante. 11 Eram coletores de frutas e vegetais, mas também caçavam pequenos animais. Os esqueletos encontrados nos sítios arqueológicos demonstravam que o povo era bem nutrido, evidenciando não haver escassez de alimentos. Como civilização em desenvolvimento começaram a produzir e comercializar mais, fabricando instrumentos eficientes e domesticando animais (ovelhas, cabras) até o aparecimento da agricultura. Surgiram, assim, as primeiras aldeias, que mais tarde se transformaram em cidades e registraram o aparecimento da cerâmica. Fabricavam peças de esteatita ou argila, com figuras de animais e divindades, como o selo de Pashupati que faz alusão ao deus Shiva e ao significado de senhor dos animais (pati-senhor, pashu-animais), onde um homem sentado de pernas cruzadas rodeado por um tigre, um rinoceronte, um elefante e um búfalo. “Num desses selos há a representação de uma mulher de cujo útero nasce uma planta, indícios de crenças e rituais de fertilidade que esperávamos encontrar numa sociedade agrícola-primitiva...” cita o yogue Georg Feuerstein, tudo isso muito antes do povo mesopotâmico desenvolver um sistema de escrita, tido como um dos primeiros do mundo, foram encontrados milhares de selos desse povo drávida. Selos Drávidas Vrishashwa Pashupati Os Drávidas eram baixos, morenos e de cabelos lisos, tinham uma cultura matriarcal, centrada na mulher e nas suas potencialidades de reprodução da vida. A cultura do vale do Indo não deixou textos sagrados ou religiosos. O que se especula é que seu idioma pode ter sido incorporado ao sânscrito, “escrita dos deuses”, como é conhecida segundo histórias mitológicas, e que provavelmente foi a língua mãe de muitos outros idiomas e muito utilizado para práticas de mantra e todos os nomes de posições físicas e exercícios de respiração encontrados neste livro e nos vários estilos de Yoga, hoje famosos em todo o planeta – o Yoga é uma parte (anga) da cultura drávida. Essa civilização do Vale do Indo foi a maior e mais extensa das civilizações pré-clássicas. A antiga Harappa dominava cerca de 130 mil quilômetros quadrados, era uma cidade cuidadosamente planejada, bem dividida, com largas ruas orientadas na direção do vento, casas ordenadas construídas de tijolos cozidos com o mesmo traçado. No leste, na parte mais baixa da cidade, ficavam os comércios e habitações. Na parte alta, um bairro administrativo, com salas de rituais, reuniões e celeiros. Havia também construções de muralhas para aplacar a fúria das enchentes e proteger as plantações. O que nos chama a atenção foi a falta de grandes templos e impérios, levando-nos a considerar a liberdade do povo daquela época, sem grandes reis ou deuses punidores. 12 O arqueólogo inglês Sir Mortimer escreveu a respeito dessa civilização: “Nada do que foi pesquisado no Egito antigo ou da Mesopotâmia ou de qualquer lugar da Ásia pode ser comparado com os banhos da excelente arquitetura e as casas espaçosas dos cidadãos de Mohenjo-Daro. Enquanto que naqueles outros locais era empregado muito dinheiro para construção de templos magníficos para cultuar deuses e túmulos para reis, o povo tinha de se contentar com casas feitas de terra. No vale do Indo as mais belas estruturas são as que se erguem para a comunidade do povo”. Todas as casas possuíam banheiros, salas de banhos, salas de visitas e salas de meditações. “As salas de banhos eram revestidas de tijolos cozidos, impermeabilizados com gipsita. A água escorria por uma calha na base da parede e dali para valas cobertas, construídas nas ruas. Esse sistema inovador de encanamento, que incluía vasos sanitários, era mais do que uma conveniência: ajudou a reduzir doenças entre os 400 mil harapenses. As moradias – muitas vezes unidas uma a outra – formavam conjuntos habitacionais. Os historiadores descobriram ainda uma medicina extremamente adiantada que provavelmente inspirou ou originou o sistema ayurvédico, com suas visões psicológicas do homem, massagens, fitoterapia, aromaterapia, etc. Os Drávidas cuidavam do corpo, da saúde, expressavam sua forma de vida na arte, viviam o Tantra puro, absolutamente mágico no qual cultivava-se a energia de shakti (energia feminina), que representa a grande mãe ou esposa sagrada, também designada como Kundalinî, a energia da vida. Não guerreavam, pois não havia vestígio algum de armamentos, eram grandes navegadores, atuavam na arquitetura e nas artes. Nos milênios de tirania, de insegurança, de religiões e magias oficiais, uma conclusão é surpreendente ao constatarmos no vale do Indo a preocupação pelo destino das pessoas, quando no resto do mundo até hoje se faz tão pouco caso disso. A mulher era venerada como Deusa, pois a sabedoria da mãe natureza está intimamente ligada à mulher, aos ciclos da Lua com o ciclo hormonal e gestacional. O culto àfeminilidade pelo poder de produzir e plantar evidenciava o aumento populacional; é a partir daí que a sociedade conhecida como dravídica começa a entrar em declínio. É árdua a tarefa de identificar todas as causas, origens, datas e até mesmo o que determinou o fim deste sistema social pré-clássico um gigantesco Império de mais de um milhão de quilômetros quadrados, caracterizado por um sistema de poder central, poder central não tirânico, organizado e unificado. São inúmeras as possíveis causas do desaparecimento: 1. Mudanças progressivas do clima que se tomou muito quente e seco; 2. Desgaste do solo, devido a séculos de agricultura intensiva, deixando a terra árida e estéril; 3. Desmatamento sistemático das florestas em busca de madeira, principalmente para alimentar os fornos das inúmeras olarias, além de granjear espaço para a própria agricultura, provocando o aparecimento de áreas desertas; 4. Sucessivas inundações catastróficas – possível causa das várias reconstruções de cidades como Mohenjo-Daro e ainda devido a diversas etnias que habitavam a mesma região que contribuiu para o surgimento de novos ritos, religiões, línguas e a história do desenvolvimento, a entrada da era moderna. Não houve guerras, invasões ou total destruição desta cultura. Em todo o planeta Terra as culturas tribais de milhares de anos foram aos poucos sendo substituídas por civilizações. No Brasil, até seu suposto descobrimento (invasão bárbara de portugueses, holandeses e franceses), vigoravam os sistemas tribais. 13 Há um mito ou paradigma errôneo de uma invasão ariana, povos nômades vindos da Europa central – que invadiram a Índia e misturaram-se aos drávidas. Não sabemos ao certo se foi uma invasão ou somente uma miscigenação de dois povos e de duas culturas muito distintas. Aceito a versão de mudanças de paradigmas tribais a civilizatórios, de união cultural dos drávidas e arianos que provavelmente eram um povo da própria Índia e não de invasores europeus. Saiba mais no site www.yoga.pro.br/inicial.php em textos de Pedro Kupfer) O Tantra, que era praticado pelos Dravídicos, tornou-se, com a fusão da cultura ariana, uma ciência secreta, foi a partir de então perseguida, escondida e o culto à grande mãe, proibido. É interessante notar como até hoje a Kundalinî ao ser mencionada, provoca um verdadeiro pavor aos adoradores do Patriarcalismo. Os Arianos tinham uma cultura repressora, anti-sensorial e patriarcal de base, chamada Bramacharya, que é a cultura que domina sensivelmente as opções espiritualistas do séc. XX, com uma preponderante utilização de práticas e rituais masculinos. Alguns textos também aparecem no Tibet, no século VII. No Ocidente, o Tantra só chegou mais tarde com o primeiro livro traduzido no século XVIII: O Maha – Nirvana Tantra (O livro da grande libertação). Essa trajetória permitiu ao Tantra ser incorporado por muitas correntes iniciáticas e religiosas práticas: ele encerra em si mesmo muitos dos conhecimentos necessários à consciência do ser e, por reunir em si muitas ciências, o Tantra extrai a essência de cada uma delas, permitindo que o praticante tenha as mais profundas experiências. Algumas Escolas Gnósticas e Teosóficas apontam os rituais e práticas tântricas como originários da Lemúria e de Atlântida, aspecto esse rejeitado por mim, por experiência própria, por haver tantas descobertas atuais sobre o povo drávida e por tudo o que me foi transmitido por mestres no Himalaia e na Índia. Na tradição tântrica reverencia-se a Shakti, princípio universal de energia, que representa o poder e a criação personificados sob a forma feminina. A Shakti é a Mãe Universal e não pode se separar do princípio básico masculino que é Shaktiman ou, de acordo com o Tantrismo, Shiva. O Tantra estuda várias áreas da vida, sendo assim, ele estuda a própria vida. É uma maneira integral, holística de vivenciar e sentir a origem e o desenvolvimento dos seres. Dentro das práticas tântricas, temos acesso a centenas de itens, como a Alquimia, a Psicologia dos Budas, o Yoga em suas múltiplas divisões, a Astrologia, a Matemática, a Geometria, as mais diferentes técnicas de Meditações, a Magia, a Massagem, a Gemoterapia, a Medicina Sagrada, o maithuna (ato sexual sagrado), a Aromaterapia, o conhecimento das divindades, das egrégoras e muito mais. O Tantra recorre à verdade da experiência, à sensação, à certeza obtida a partir daquilo que é palpável. O praticante tântrico não decora livros nem fica preso a pregações ou dogmas (aceitar se questionar) seu trabalho é prático, ele busca o real; percebe que é parte integrante de toda a forma de vida no Universo. Não há separação nem a dualidade de certo/errado, bom/mal, moral/imoral etc. A prática tântrica traz ao buscador consciência plena do momento presente, ou seja, viver o aqui e agora. Na tradição tântrica deve-se buscar o auxílio de um mestre ou guru que é uma pessoa que lhe passará instruções de como trabalhar com esses aspectos. Esse mestre deve ter experimentado, na prática os ensinamentos que irá transmitir (vide capítulo iniciação). É de suma importância que o praticante caminhe rumo ao reconhecimento do ser a conduta interior daquele que o pratica. Ela possibilita compreender qual o nosso Dharma (caminhos sociais) neste mundo, permite a consciência do corpo e da mente, dos sentidos físicos e, para isso, utiliza seus múltiplos elementos. Ele nos fornece meios de liberar a consciência por meio das mais diferentes técnicas: Os conceitos de Karma (ação) e Dharma, o Yoga, os Mantram, o conhecimento sobre os Mudrás (gestos simbólicos), Chakras (centros energéticos) e a Kundalinî. http://www.yoga.pro.br/inicial.php 14 As linhagens tântricas principais estão relacionadas com as divindades cujos respectivos rituais são: a) Shaivas = Adoradores de Shiva b) Vaishinavas = Adoradores de Vishnu c) Shaktas = Adoradores de Shakti ou energia feminina. Esses grupos dividem-se em várias sub-seitas. Nos estudos tântricos há a analogia, entre o homem e o todo e, principalmente, entre a união do masculino (Purusha ou Shiva, consciência cósmica) e o feminino (Prakriti ou Shakti - força da natureza), um não existiria sem o outro. É a união de energia e consciência, Shakti e Shiva, além da elevação sexual, buscando a inseparabilidade dessas duas energias. O desejo do tântrico é atingir a integração das polaridades por meio das práticas ativas, tornar-se Shiva-Shakti unidos em um só. Daí o Tantra ser uma tradição viva que tem como um dos seus objetivos “a descoberta do mistério da mulher”. Nos rituais, cada mulher é tida como uma duplicata do feminino maior e torna-se uma reencarnação da energia cósmica, simbolizando a essência básica da realidade. Shakti é a senhora de todas as manifestações da vida e seu poder é o do primeiro movimento no ventre materno, dos ciclos repetitivos do Universo manifesto. O poder de Shakti com o Absoluto ou o Todo é identificado nela como a bi-unidade divina dos princípios feminino e masculino. Durga Dentro de nosso corpo existe uma enorme reserva de força latente esperando ser despertada, tal reserva chama-se “Kundalinî Shakti” e deve ser despertada, para finalmente se unificar à consciência cósmica, que é Shiva. Quando Kundalinî está adormecida no homem comum, este só está consciente de suas limitações sociais e materiais. Quando desperta, o homem dissolve-se no imensurável, não ficando limitado somente a suas percepções, mas sim à consciência de Shiva e principalmente de Shakti – o poder feminino. “A mulher cria o Universo, é o próprio corpo deste Universo. A mulher é o suporte dos três mundos, é a essência do nosso corpo. Não existe outra felicidade senão a que procura a mulher. Não existe outro caminho senão o que a mulher pode nos mostrar. 15 Nunca existiu ou existirá, hoje, ontem ou amanhã, outro destino que não seja a mulher. Nem outro reino, peregrinação, oração, fórmula mágica ou outra plenitude queaquelas que a mulher proporciona. ” (Shaktisangama - Tantra tt. 52) Outra originalidade do Tantra é que tudo no Universo é inteligente e ordenado, assim existem diversos métodos para satisfazer as necessidades de cada indivíduo que tem a liberdade (dentro do possível) de seguir a senda tântrica, buscando que o autoconhecimento torne-se conhecimento universal. Há milhares de anos que os mestres, filósofos e místicos têm pesquisado e praticado o Tantra, a fim de aperfeiçoá-lo, buscando nessa filosofia respostas aos anseios de cada um deles em cada época sem, é claro, deixar de lado a busca pela iluminação em todas as suas partes e, assim, buscar o prazer maior em tudo o que fazemos no dia-a-dia. Há três linhas principais no tantrismo que são o Dakshinachara, da mão direita (escola purista), Vámachara da mão esquerda (escola contestadora) e algumas escolas do caminho do meio que não admitem extremos. Finalizando, o Tantra é o culto ao prazer, ao lúdico e à mulher, ao contrário de muitos outros caminhos de cultos ao masculino, cheios de misérias, dores, remorsos e culpas, e buscas de paraíso no além. O Tantra é o paraíso no agora porque não existe absolutamente nada que não seja o agora, o presente. (Se não concorda com isso, eu o desafio a sair do agora, agora. Sair do presente, agora! Agora, agora, agora, agora...). Quando se iniciam as práticas de Tantra, a vida se torna mais meditativa e bela. Essa perspectiva nos leva de onde estamos para onde podemos estar. É o reconhecimento da Alma, do nosso interior e exterior, é a percepção ampliada e sensibilizada, que nos abre para um mundo maior, um mundo de cuidar e amar, características essenciais do feminino. Shiva e Shakti 16 Capítulo 2 Deeksha – Iniciações tântricas “Fala-se e se escreve sobre “Yoga do sexo”, e aventureiramente algumas pessoas, por ignorância ou malandrice, definem Tantra como “Yoga do Sexo”. Em geral, aqueles que, já engajados numa vida erótica irresponsável, aspiram encontrar nas venerandas escrituras uma absolvição religiosa para o que já vêm fazendo e não desejam parar. Para que tal homologação?! Se querem continuar onde estão, que continuem, mas não tentem fazer o sagrado abençoar o profano. Sugiro que se esclareçam. Estudem, por exemplo, a tese da psiquiatra Elizabeth Haich publicada no livro Energia Sexual e Yoga-Tântrica: A Canalização da Força Criadora Divina*. ” José Hermógenes A maior parte do amálgama tântrico de práticas, sexuais ou não, como já citei são Gupta Vidyá – linguagem e liturgias secretas, transmitidas por mestres, gurus, sadhus e yogues que são experientes em suas práticas e não por teóricos e inexperientes. Iniciação é um ritual metafísico onde é “colocado”, insuflado, no discípulo alguma tradição mística ou metafísica. É a transmissão espiritual (sancara). No cristianismo, o batismo é considerado como uma iniciação de origem essênia que é chamada de kabôl – transmissão. Jesus foi iniciado por João Batista, um iniciador de buscadores essênio. Em todas as culturas místicas há rituais iniciáticos. Normalmente só se é permitido uma iniciação religiosa. Eu, por exemplo, como sacerdote tântrico (Budismo Madhyamika Tantrayama), faço retiro com padres, mas não posso comungar, (segundo eles); pois não tenho mais essa iniciação, ao fazer uma conversão (parâvritti) do cristianismo ao budismo e ao Tantra. Algumas correntes iniciáticas dizem que pertencer a duas religiões causaria briga de egrégoras*. Em minha experiência, sei que cada caso é um caso a ser estudado. Realmente, algumas egrégoras são incompatíveis, outras não (se você necessitar de maiores informações sobre esse riquíssimo assunto consulte as obras de Mircea Eliade e Joseph Campbell). Vamos a minha iniciação. O que é possível compartilhar. O 1° livro de Yoga que tive em minhas mãos foi-me dado por minha Maha-Shakti, minha mãe, e se chamava “Yoga e Saúde”. Eu tinha não mais que 15 anos e não só me interessei de coração pelo assunto como iniciei a prática do Yoga, mas queria conhecer mais sobre Yoga, Índia e, é claro, realizar práticas tântricas. Percorri várias escolas secretas (não tão secretas assim) como a Eubiose, Teosofia, Gnose e Rosa-Cruz. Algumas, aliás, não recomendavam o Tantra, em busca das iniciações e dos mestres. No início da década de 80 estudava massoterapia com o pioneiro e mestre nessa arte, Armando Austregésilo, na A.M.O.R. – Associação de Massagem Oriental, que além de terapeuta é professor de Yoga e conduzia práticas maravilhosas e, a seu conselho, fui procurar um Yoga de inspiração tântrica. Fiquei fascinado pelos belos movimentos, a filosofia libertária, prazerosa e todo o Tantra. Aprendi em escolas místicas um Yoga muito fragmentado com práticas de simples pranayamas e pouquíssimos mantram. Junto com as práticas do Swasthya Yoga estudei com Levi Leonel um dos maiores conhecedores de Tantra que já conheci e li centenas de livros de Tantra e Yoga de todos os 17 tipos (veja a bibliografia), desde grandes textos até bobagens especulativas sobre o Tantra. De toda forma queria algo mais que a prática e o conhecimento teórico. Almejava do coração a iniciação Tântrica, A Deeksha da tradição. Já havia esgotado a necessidade de compreensão intelectual. Queria sentir o toque do mestre (ou por que não da mestra?). A partir daí fui, ansiosamente, atrás do mestre e até encontrei vários deles, que conheciam uma parte, fragmentos de práticas tântricas, misturadas com Taoísmo, Rosa-Cruz, Gnose, Magia, etc., mas todas as práticas eram realizadas a sós, sem a presença da mulher, sem a sexualidade sagrada tântrica e, quando esse era a sexualidade era mencionada, era para a retenção, ou a sublimação total da mesma, eram ensinamentos que tornavam o discípulo um celibatário. Não era o que eu desejava apesar desse caminho celibatário e’ bem-vindo a alguns buscadores que tem esse caminho como um Dharma espiritual mais não era o meu Dharma, o meu caminho. Já havia lido a respeito em livros sérios uma das máximas do Tantra: “Shiva sem Shakti é Shava – o homem sem a mulher é um cadáver”. Depois de muito procurar e treinar as artes marciais (kung-fu, karatê-do e Iai-dô), para ser o discípulo que todo mestre procura, sério, saudável, de bem com a vida e sabendo fazer as perguntas certas, fui apresentado e finalmente iniciado no Tantra, especificamente na técnica do Giro Tântrico e depois no maithuna. Demorou, mas aconteceu. O que passei tentarei descrever com palavras, mas o que senti é impossível de se transmitir: O nome místico do mestre era Datatreya, e o conheci num local afastado, envolvido por muita natureza. Pessoas lindas estavam junto dele e o local era inspirador: boa música, perfumes, incensos, tapetes hindus, flores, obras de arte etc. * Egrégora: palavra latina que significa união, junção, uma corrente gregária e segundo escolas iniciáticas uma assembleia de personalidades terrestres e supraterrestres, constituindo uma unidade hierárquica e movida por um ideal. Também é conhecida como uma parte do inconsciente coletivo. Quanto mais antiga uma tradição, maior a egrégora. Datatreya, com aproximadamente 60 anos, vestia-se de maneira alegre e elegante. Falava de maneira objetiva, forte, mas por trás daquelas palavras sentia amor e carinho. Entramos em um quarto decorado com incenso, velas, esculturas de Shiva e uma cama baixa. Depois de me explicar teoricamente o que faria, apresentou-me sua Shakti (parceira) que se sentou a minha frente e, passo-a-passo, durante horas, ia me apresentando o Giro-tântrico – Chakra- Puja. Nós íamos girando no sentido horário e Datatreya ia me sugerindo movimentos, pensamentos de amor a serem transmitidos com as mãos por mim à parceira, mantram, sequências de toques, beijos, abraços, mordidas, etc. E ela, delicadamente, ia me dizendo se os movimentos estavam prazerosos ou não. Ela era uma iniciadora na arte do amor. Uma Devadasi, “serva dos Deuses”, como é conhecidana Índia. A cortesã do sagrado que domina a dança, Yoga, rituais e me ensinou muito da arte do maithuna e principalmente como fazer amor de forma absolutamente prazerosa ao casal, mas principalmente a mulher. Ao final da prática, tinha alcançado aquilo que vários místicos, santos e monges atingiram. A iluminação passageira sim, um bija samadhi, mas um estado de felicidade que até hoje alegra-me quando me lembro desse casal mestre/mestra e de suas bênçãos e iniciações, estado que antes nunca havia atingido em várias outras práticas meditativas que, inclusive, se tornaram “sem graça”. É como dançar sozinho e, como amantes, abraçados, os dois se tornam um. A união mística que a Devadasi me proporcionou foi um dos momentos mais celebrativos da minha vida. Não só no Tantra a mulher é a grande iniciadora, mas, também em tradições místicas fortíssimas na China, na Arábia, na Índia, nas culturas tribais etc. Todos os seres humanos vêm de uma yoni (vagina). O Hevajra Tantra ensina: “Aquele que é conhecedor dos Tantras deve honrar todas as mulheres a fim de alcançar a libertação” e o Kaularahasya afirma: “A mulher faz a iniciação através da mesma yoni da qual, 18 numa vida anterior, o homem nasceu. A mulher inicia com os mesmos seios que, em uma vida anterior, o homem sugou. A mulher inicia com aquela mesma boca que no passado acalmou gentilmente o homem. A mulher é a iniciadora suprema”. Após receber de maneira prática os ensinamentos do Giro-tântrico e todos os seus segredos fui iniciado no maithuna, passo-a-passo, da maneira que lhe transmito, leitor, nos capítulos seguintes. Após minha iniciação, durante anos, iniciei mais de 200 Shaktís nessa técnica e a maioria das mesmas reconheceram a iluminação do momento e entraram em profundo êxtase. Esses depoimentos ilustram um pouco desses sentimentos: Depoimentos do giro tântrico: “As oportunidades são únicas e não podemos desperdiçá-las por medo do desconhecido ou insegurança. O Tantra aconteceu na minha vida e poderia ter mil motivos para não me aprofundar, poderia dizer que era loucura sentir prazer com alguém a quem não estava ligado sentimentalmente comigo. Posso até dizer que fui uma privilegiada! Mudou muito minha vida, era como se eu tivesse me libertado e ao mesmo tempo nascido novamente. O Tantra me deixou mais mulher e mais segura e com mais tesão, com certeza sim. Todo aquele ritual, luz de velas, incenso, música, deixava-me muito relaxada, quando eu girava o meu útero dançava, o meu corpo todo sentia, era um tesão apenas com um toque suave... Não tem carícia melhor quando você se entrega, relaxa... É muito difícil fazer um relato sobre o Tantra, é muito sensual, não dá para colocar em palavras, só de relembrar... Bom, o que eu posso dizer é que foi muito bom sentir prazer, sem me culpar, um prazer mais energético do que físico, é ter sensações carnais de forma imaginária e sensações reais, é como se conhecer com a alma em um mundo particular, privado e único. ” (Alessandra) “Sentei-me... e girei. Girei enquanto o toque, o cheiro e o som inundavam meus sentidos, fazendo com que eu me entregasse para simplesmente... sentir. O toque irradiava amor e ultrapassava cada camada de pele... ultrapassava cada parte do meu corpo, tocava minha alma. A cada giro, um momento, uma plena descoberta de sentir-me única, amada e reconhecer- me completa... esbanjando luz e brincando com esta doçura. ” (Samadhi Devi) “Fascinante a experiência que tive através do giro. Logo nos primeiros instantes percebi que algo estava acontecendo, meu corpo inteiro vibrava intensamente, podia sentir ondulações em minha barriga, aos poucos os pensamentos desapareciam e davam lugar a uma Paz indescritível ou parecia estar flutuando, mas alguma coisa em mim podia observar tudo isso. De repente senti uma pressão muito forte na cabeça e certa tontura. Ao abrir os olhos o tudo e o nada estavam presentes. Era como se eu tivesse sonhando e o sonho era real. Podia ver tudo ao meu redor e mesmo assim a Sensação prevalecia, eu estava em pleno êxtase, não havia limitações o Amor e Eu éramos uma coisa só. ” (Andrea Prem) No passado, eu convidava pessoas para a realização da técnica “sentindo” quando as mesmas estavam preparadas. “Quando o discípulo está pronto o mestre aparece”. Por representar Shiva, eu só iniciava Shaktis. 19 Atualmente iniciou milhares de pessoas em Reiki, Chi-Kung, Sannyas (mudança de nome) budista, etc e raramente inicio no Tantra, mas quando o faço, é motivo sempre de alegria, atingir o êxtase a dois, e ministro regularmente, junto com Diana Prem Zeenat e Neelama Gayatri cursos teóricos de maithuna e giro-tântrico. (Ao final desse livro há uma liturgia de auto-iniciação na egrégora tântrica para quem desejar praticar o giro ligado à egrégora tântrica). Após minha iniciação com Datatreya e sua Shakti, como não poderia deixar de ser, segui com uma parceira, Gisele, rumo à Mãe-Índia, a fim de buscar outras iniciações com mestres sérios e não aqueles Gurus-estrelas que vivem na Índia para serem adorados por discípulos que só querem saber de teorias e não da prática. O Tantra é secreto na própria Índia e quando algum ocidental pergunta pelo mesmo, normalmente é visto como alguém que só quer sexo. Um curioso, um achador e não um buscador sério. Procurei o mais secreto de todos os Tantras: o Aghorî, que trabalha com o desapego e com práticas realmente fortes. Aghorî, o não terrível, é um dos muitos nomes de Shiva aqui representado por sua face destruidora. Essa escola renuncia a todos os valores sociais e convenções criados pela “sociedade humana”. É uma renúncia para valer. Olha-se a liberdade como caminho maior na vida (adoro isso). Olha-se para a própria sombra e a social. Não se vota, se paga os impostos, casa-se, não se considera ninguém autoridade e as “autoridades” sociais são consideradas ilegítimas e seus membros impotentes e não líderes, as leis são vistas como injustas e absolutamente idiotas. “Aghorî não é permissividade, é a transformação, a força, da escuridão em luz, da opaca personalidade individual ao ápice do absoluto. Quando se chega ao absoluto, a renúncia deixa de existir, pois não há mais o que renunciar. O aghorî penetra tão fundo na escuridão, em todas as coisas com que o comum dos mortais não ousaria sequer sonhar, que, ao sair, sai na luz. ” (Texto: Aghorî). Fui iniciado em Varanasi, na Índia antiga à beira do Rio Ganges pelo mestre Ananda Ram Baba, após recitarmos alguns mantram e Ásanas tântricos e sermos sondados sobre nossa linhagem e mestres anteriores, ficamos horas junto ao guru que ativou todos os nossos Chakras, despertando um calor interno nunca antes sentido (Kundalinî) com o Kripá-Guru, o toque do mestre que transmite toda a tradição desde Shiva-Shankara, que hoje eu retransmito a discípulos. Também fui iniciado no Tantra Kaula (kaulismo) que é uma escola com milhares de iniciados e centenas de escrituras que tem sua transmissão (santati) baseada no despertar de Kundalinî-shakti. A iniciação que recebi na Índia foi de uma iniciadora feminina (yogini-kaula) dentro de um templo esculpido na caverna. A escola kaula segundo George Feuerstein “é a síntese das escolas da mão esquerda (vama-marga) e da mão direita (dakshina-marga) ”. Concordo plenamente com ele. Ananda Ram 20 “Ó Deusa! O kaula é o mais secreto dos segredos, a essência da essência, o mais elevado do elevado, dado diretamente por Shiva e transmitido de um ouvido a outro. ” (Kula- Arnavatantra) No início do século 21 recebi, após 30 anos de prática, a iniciação maior como sacerdote do Tantra Natha, uma escola arcaica, xamânica, de Yoga antigo que teve como um de seus mestres o guru Babaji e Gorakshanatha (ordem Kanphata) um dos criadores do Hatha Yoga. Quando você viajar à Índia ou encontrar um guru sério procure receber a mágica iniciação Nyâsa – rito de apalpação que é realizado nas florestas e consisteem ter todo o corpo tocado ou apalpado como um “templo do Divino” (dehanyâsa). É uma técnica absolutamente deliciosa. O Giro-tântrico, conhecido na Índia por Chakra Puja Nyâsa Devanyâsa, tem origem nessa iniciação. Datatreya me dizia que: “a iniciação nos dá o tão sonhado Livre Arbítrio da Bradigênese (frear o ritmo de um acontecimento), Taquigênese (acelerar o ritmo de um acontecimento) e Gestaltgênese (aproveitar, através da plena consciência, todos os momentos da vida). Não necessariamente concordo com isso, mais coloco essa questão a você leitor. Quanto você tem o controle de sua vida? O que é destino, o que é livre arbítrio na sua existência? O que posso te dizer aqui é relaxe no que você pode mudar e seja dedicado e um guerreiro no que pode e sabe modificar. Divisões das iniciações tântricas: • GURU SEVÁ Quando há interesse pelo Tantra, é o discípulo (chêla) que se mostra receptivo. O candidato ingressa nessa fase e recebe uma iniciação tântrica que busca dilacerar o Ego Social. Sabendo aproveitá-la, terá contato com alguma técnica profunda de Samyama (meditação e equilíbrio corporal; pois se toca muito o corpo). A técnica do Giro-tântrico se encaixa nessa iniciação, que como todas, muda sensivelmente a vida do discípulo e mostra uma liberdade de valores sociais e “pseudo” morais inimagináveis. Se o aspirante pratica com regularidade as técnicas, passa a ser aceito como discípulo e o mestre começa a lhe passar ensinamentos da próxima etapa que se chama Santati. • SANTATI É a transmissão oral. É uma iniciação usada principalmente no Tantra, Xamanismo, Yoga iniciático e Kabbalah. Nessa fase há técnicas mais avançadas que na anterior; trabalha-se intensamente Kundalinî e os Chakras, ativando-os e despertando os seus poderes (Sidhis) e ainda buscando a iluminação temporal ou não (Samadhi). “Na iniciação, o mestre como que leva o discípulo em si mesmo, assim como a mãe (leva) o embrião em seu corpo. Depois dos três dias da cerimônia (de iniciação), o discípulo nasce. ” (Texto do Tantra Kaula) • ATHARVA-VEDA KRIPÁ GURU Quem gosta de práticas que nada fazem sentir, estarão fora dessa iniciação, pois aqui há o objetivo de atingir um alto grau de hiper consciência. Esta iniciação pode ser realizada em três níveis: Kriyá-Dîkshâ É um toque simples, uma bênção recebida por ritual, que qualquer pessoa pode receber de seu mestre. Essa iniciação pode ser solicitada a mim pessoalmente em encontros com a verdade (sat-sang). 21 Sparsha-dîkshâ É um toque iniciático poderoso, que transforma o discípulo em retransmissor do Tantra, podendo iniciar e preparar outros alunos. Nessa iniciação normalmente, cria-se vínculos de amor entre o mestre e o discípulo. É uma iniciação secreta que, embora seja definida simbolicamente como um derramamento de óleo sobre a cabeça, sabemos que ela representa a própria iniciação, pois é feita na fronte de quem recebe – Chakra Ajnã. Tantra Kripa É um toque indescritível e secreto que desperta Chakras e Kundalinî através da libido. Esse toque é pouco utilizado no Ocidente devido a bloqueios ao corpo e sua transmissão foi interrompida no passado em quase todas as tradições, restando hoje poucos mestres que ainda mantêm a transmissão. Isso faz dessa iniciação uma oportunidade rara e possível somente àqueles que possuem coragem e audácia bem acima do comum. Sempre ensino que sem coragem nessa vida, “nada feito”. A vida é uma grande aventura. Tudo ou nada. Quando o discípulo recebe essa iniciação (shâktika) o mestre desperta sua consciência da iluminação ou lhe fornece técnicas para práticas (ânavîdîkshâ). Dentro das iniciações tântricas modernas, temos a entrega do novo sannyas (visão Osho) que, diferentemente do antigo sannyas hindu, aonde o iniciado renunciava a todos os seus bens, família, paixões, como fez Buda, e vive nas montanhas meditando, o novo sannyas aponta na direção do iniciado viver e fazer tudo o que este mundo oferece até para perceber que mesmo tendo tudo, se não descobrir quem se é, nada adianta, nada é suficiente. Nesse tipo de iniciação, há uma mudança de nome que simboliza abandonar o passado e renascer no agora. Somente alguém que reconheceu o final das buscas (se iluminou) pode “iniciar” ministrar o neo-sannyas. “O guru é a primeira letra (do alfabeto). O discípulo é a última letra. O conhecimento é o ponto de encontro. A instrução é o elo. ” Taittirîya-Upanishad Definições de iniciação por Georg Feuerstein: “O Tantra é estritamente uma tradição iniciatória, o que significa que seus ensinamentos secretos e sagrados são passados de mestre para discípulo na antiga forma de transmissão oral. Nesse aspecto, o Tantra é bastante diferente do neotantrismo, que é também com muita frequência praticado e promulgado por entusiastas que não foram iniciados adequadamente, mas que adquiriram em livros boa parte de seu conhecimento. Mas como o Mahābhārata afirmou muito tempo atrás, os livros são um fardo enquanto não conhecemos a realidade por trás de suas palavras. Nenhuma quantidade de aprendizado intelectual é libertadora. O Yoga-Shikhā-Upanishad até mesmo fala do “embuste dos livros didáticos” (shastra- jala). O Vīnā-Shika-Tantra assinala que os livros são fáceis de comprar, mas as regras para a prática real são difíceis de obter. Sem conhecimento de execução correta das práticas tântricas, porém, especialmente a recitação mantra, pode haver pouca esperança de sucesso. É também verdade, todavia, que a tradição tântrica produziu um vasto número de textos. Obviamente, os sādhakas e siddhas que os compuseram devem ter sentido que a palavra escrita poderia ser útil a outros praticantes. Em qualquer caso, as autoridades tântricas insistem que só aquela instrução recebida direto da boca do mestre é potencializada e pode trazer um genuíno crescimento interior. 22 “Iniciação” declara o próprio Shiva no Mantra-Yoga-Samhitā, “é a raiz de toda vitória”. Ele continua: Ó Deusa! Aquele que é destituído de iniciação pode não ter nenhum sucesso e nenhum destino afortunado. Portanto, deveria se empenhar em buscar a iniciação de um mestre (qualificado). ” Georg Feuerstein “Apenas o conhecimento comunicado pela boca do guru é produtivo [da libertação]; do contrário ele é infrutífero, fraco, e causa de muita aflição. Aquele que faz um esforço para agradar o guru [através de sua dedicação à autodisciplina e serviço] recebe o conhecimento [secreto]. No devido curso, ele obterá também o fruto desse conhecimento. O guru sem dúvida é pai, o guru é mãe, o guru é divindade (deva). Portanto, todo mundo deveria segui-lo em ações, pensamentos e discurso. Pela graça do guru é possível se obter tudo de auspicioso. Daí, dever-se-ia sempre seguir um guru, ou então não haverá nenhum benefício. ” Texto clássico Segundo George Feuerstein temos ainda 3 divisões de iniciações dentro do amalgama tântrico: 1. Kriyā-vatī-dïkshā – Iniciação por meio de todas as atividades rituais para todos os discípulos comuns; isto em geral coincide com o māntrī-dīkshā já mencionado. Varna-manī-dikshā – Iniciação consistindo em colocar as letras do alfabeto sânscrito no corpo do discípulo e assim despertar nele o poder do som, e que conduz ao despertar do poder da Consciência. 2. Kalā- ātma-dikshā – Iniciação que consiste no mestre colocar as Kalās (formas sutis de energia) no corpo do discípulo, despertando assim o seu poder. 3. Vedha-mayī-dikshā – Iniciação por “penetração”, na qual o guru concentra sua mente no poder serpente do discípulo (Kundalinī-shakti), despertando no centro psicoenergético na base da espinha e o conduz a salvo para o centro no topo da cabeça, concedendo assim ao discípulo o dom da libertação. Segundo o Kula-Amava-Tantra (4.64), “penetração” (vedha) pode fazer com que o discípulo experimente bem- aventurança intensa, tremor corporal, uma sensação de rodopio, de ter renascido, de sono profundo súbito ou desfalecimento.*(Existem outros nomes e terminologias e práticas tântricas) Na visão de Georg Feuerstein abaixo, do Tantra, e na minha há 3 tipos de discípulos que buscam a iniciação (Diksha) na tradição: “Ao avaliar a aptidão (yogayatā) dos seus discípulos, os iniciados tântricos distinguem os três seguintes tipos de disposição, ou temperamento (bhāva): 1.O pashu-bhāva (caráter bestial) é o resultado da forte integração de rajas e tamas (as qualidades dinâmicas e iniciais da natureza), com quase uma completa ausência de sattva (fator de lucidez). Essa combinação profeta produz traços indesejáveis como ilusão (bhrānti), irritação (tandrā) e indolência (ālasya), embora nem todo indivíduo desse tipo vá necessariamente manifestar estas tendências. Segundo a Kula-Arnava-Tantra, o pashu está 23 atado por oito laços (pashā), a saber: desprezo, dúvida, medo autoconsciência, (lajjā) aversão, família, costume e casta. Não seria difícil aplicar todos estes a um contexto ocidental contemporâneo. A imaturidade psicológica responsável por estes traços desclassifica os praticantes do temperamento “bestial “para certos rituais e práticas. Espera-se que eles adotem uma abordagem mais convencional à vida espiritual e sejam excluídos particularmente do ritual das “cinco substâncias” (panca-tattva. Segundo Kaula-Avalī-Nirnaya, elas nem mentalmente deveriam participar deste ritual. Em vez disso, deveriam fazer o máximo esforço para servir o guru a fim de purificar seus traços inauspiciosos. O temperamento “bestial” não é explicado de modo uniforme nos Tantras, presumivelmente porque muitos, se não a maioria de praticantes, caem nesta categoria. Com frequência o termo pachu refere-se a adeptos que praticam o Tantra de uma maneira mais tradicional, ou seja, tratando as “cinco substâncias” – carne, peixe, vinho, grão e intercurso sexual – literalmente em vez de figurativamente. Em lugar do intercurso sagrado real com mulheres iniciadas, os praticantes masculinos fazem oferendas de dois tipos de fores representando órgão sexual literalmente em vez de figurativamente o órgão sexual masculino e feminino, respectivamente. 2.O vīra-bhāva (caráter heroico) é o produto da integração de rajas e sattva predominante, com interferência mínima de tama. Segundo o Mahānirvāna-Tantra, os praticantes com esses temperamentos só são adequados para a prática do Tantra. Essas escrituras negras inclusive a existência dos outros dois temperamentos da idade da treva, mais isto faz pouco sentido, uma vez que as características do temperamento “bestial” parecem dispersas. O divya-bhāva (caráter divino) é também o produto da interação da interação de rajas e sattva, mas com a qualidade predominante da última. Os que têm esta característica à moda divina são muito raros, especialmente na Kali-yuga. A diferença entre este caráter e o temperamento heroico parece ser grau, com o último sendo mais dinâmico, o que combina com a abordagem tântrica. O Tantra segue a trilha do herói espiritual (vīra), que é definido assim: Como ele está livre da paixão, orgulho, aflição, raiva, inveja e ilusão, e como está bem afastado de rajas e tamas (isto é, as qualidades de agitação e inércia), ele é chamado de “herói”. Leia aqui um resumo do que é uma iniciação segundo Alain Danielou no recomendado livro Shiva e Dionísio (Editora Martins Fontes) esse texto é bem profundo e deve ser lido com atenção e reflexão): “Certas técnicas rituais vão nos permitir agir sobre as energias latentes presentes no ser humano e, desse modo, transformá-lo, fazer dele o veículo da transmissão de certos poderes, elevá-lo a um plano superior na hierarquia dos seres, torná-lo uma espécie de semideus ou de super-homem mais próximo do mundo invisível aos espíritos. E esse o papel da iniciação. Tal processo de transformação do ser humano é longo e difícil, é por isso que a iniciação só pode se fazer por graus. O pashu (o homem animal) irá se tornar primeiro um sâdhaka (aprendiz), depois um vira (herói) ou adepto, ou seria, um ser que pode dominar e ultrapassar as aparências do mundo material. O grau seguinte é o de siddha (realizado), chamado também, entre os tantrikas, de o estágio de kaula (membro do grupo), palavra que corresponde ao título de "companheiro" na iniciação maçônica, onde também se encontra o grau de aprendiz. O kaula atingiu o "estado de verdade". É só então que se desfazem as barreiras entre o humano e o divino e que o adepto pode ser considerado divya (divinizado). Na linguagem dos mistérios greco-romanos, chamava-se de "herói" o adepto, o iniciado. Os graus 24 superiores provavelmente eram mantidos secretos. Essa transformação concerne ao ser humano inteiro. E o próprio corpo que é transfigurado com todas as suas energias funcionais, assim como na concepção cristã é o homem inteiro, físico e mental, que deve ressuscitar, transfigurado, dentre os mortos. A iniciação é a passagem de um estado de ser para um outro estado de ser. E uma espécie de morte, uma "morte ativa", da qual nasce uma pessoa diferente. Há sempre, portanto, um rito funerário nos ritos de iniciação. Esse rito sobreviveu nas cerimônias de ordenação dos padres católicos. Apenas um iniciado pode transmitir poderes a um novo iniciado. Isso é essencial para que a transmissão iniciatória seja válida. E por essa razão que não se pode restabelecer uma tradição interrompida. A iniciação é a transmissão real de um Shakti, de um poder, transmissão que toma a forma de uma iluminação. A continuidade da transmissão de uma chama que acende uma outra. Os iniciados formam grupos de homens diferentes dos outros. Esses grupos são denominados Kula (famílias) no tantrismo, daí o nome Kaula (membro da família ou "companheiros") dado a seus adeptos; Kula corresponde ao Thiase dionisíaco. "O corpo físico do iniciador é uma imagem de Shiva; os serviços que lhe são prestados são equivalentes à veneração ao deus. Serviço significa submissão corporal, mental e verbal, a oferta de tudo o que se possui, até de seu corpo, ao preceptor. O discípulo deve servir-lhe a comida, só pegando a sua depois, com a permissão dele... A língua do preceptor é como um sexo que derrama o suco vital dos mantras no receptáculo que sanas orelhas ao aprendiz. Cada membro do preceptor, dos pés à cabeça, e, com efeito, como um sexo, um Linga. Para satisfazê-lo, o discípulo deve massagear seus pés, levar-lhe as sandálias, lavá-lo. Oferecer alimento e dinheiro, e todas as outras práticas que possam satisfazê-lo (Shiva Purâna, Vidyeshvara Samhitá, cap. 18,86-94) Ritos de iniciação por Alain Danielow: “Os ritos de iniciação são explicados, minuciosamente nos Purunas Shivaístas e nos Tantras. O discípulo deve venerar sem reticências o seu preceptor de acordo com seus meios. Pode oferecer a seu mestre: elefantes, cavalos, carros, joias, terra, casas, ornamentos, roupas e ganhos diversos. “O preceptor fará o discípulo tomar um banho para aprender a controlar suas aptidões. O discípulo permanecerá com ele e servirá em um primeiro período de prova que durará um ano. Depois de um dia favorável de acordo com os astros, o preceptor conduzirá então o discípulo a um lugar sagrado para praticar os primeiros ritos de iniciação. O lugar pode ser a praia. O lugar pode ser praias, margens de um rio, um templo ou um lugar purificado na própria casa do mestre” O templo de Shiva é sempre o mundo natural, a floresta, a montanha. Os santuários são apenas monumentos em honra do Deus. Não são lugares onde se reúnem os fiéis nem onde se praticam os ritos que concernem à vida ordinária dos homens; iniciações, casamentos, funerais etc. Os ritos iniciatórios realizam-se de preferência na floresta ou à margem dos rios e dos lagos. Diferentes aspectos de Shiva, depois ordenará ao aprendiz para um local ao sul do diagrama, onde este deverá dormir numa cama de ervas dharma. De manhã, um rito de oferenda (Homa) deve ser realizado com a manteiga purificadarepetindo-se cento e oito vezes o mantra de Aghora (AUM ou Hamsah.) Que afasta o medo e pelo qual se pode ser purificado dos sonhos nefastos ". Em seguida, ocorre o banho ritual. O banho ritual precedia, para os mistérios de Eleusis, a fase considerada como a mais misteriosa das iniciações. Segundo Plutarco, antes de sua realização, havia uma abstinência 25 durante dez dias de qualquer relação sexual. A mesma regra é aplicada na Índia. "Quando o discípulo toma um banho ritual em jejum, deve preparar-se com cuidado e vestir-se com um tecido adequado (sem costura) enrolado na parte inferior do corpo e um xale sobre os ombros." "Não longe do altar onde foi consagrado o yantra, o preceptor vem sentar-se numa almofada de ervas dharma. O discípulo deverá estar sentado de frente para o Norte, o preceptor para o Leste... O preceptor tocará levemente nos olhos do noviço, depois irá fechá-los com uma tira de seda repetindo certas fórmulas." "O noviço é então conduzido ao interior da área de iniciação, cuidadosamente marcada no chão. A entrada situada a Oeste é a melhor para os discípulos de todas as castas, mas em particular para os da casta real, os kshatriyas... O noviço deve dar três voltas em torno da imagem fálica e, segundo seus meios, oferecer ao Deus uma porção de flores misturadas com ouro, ou apenas ouro na falta de flores, recitando o hino a Rudra (Rudráidnyaya). Depois meditará sobre Shiva, repetindo apenas o prânava, a sílaba OM." Do mesmo modo, no rito dionisíaco, "o iniciado tem a cabeça encoberta e deixa-se guiar pelo oficiante... Uma cesta cheia de frutas e de objetos simbólicos, entre os quais se unem em forma de falo, é colocada na cabeça do iniciado. O quadro... é um jardim onde se ergue um ídolo de Dioniso. Mas é um Dioniso que tem caracteres de Priapo e em primeiro lugar itifalismo". "A venda que cegava o discípulo é tirada. Fazem então que se acomode num assento de ervas dharma, com o rosto voltado para o Sul... Após o quê, acontece o rito de consagração dos princípios dos cinco elementos... O preceptor coloca a mão na cabeça do noviço, enquanto este repete o mantra com o qual lançou flores sobre o deus. Borrifa-o com água consagrada a Shiva e aplica cinzas em sua cabeça, repetindo o mantra de Aghora, depois venera o noviço com perfumes e outros ingredientes." O preceptor tira o discípulo de sua casta, depois integra-o ao grupo dos companheiros de Rudra.... Com uma só mão, o preceptor entra então no corpo do discípulo com o rito da saída da respiração (Prana - Nigamas). "Os ritos de adoração devem ser realizados na ordem: samprok- sharia (molhar), tádana (apertar), harana (tirar), samvada (unir), e vik - shepa (rejeitar). Em seguida, vêm os ritos de inseminação, de gestação (garbhadhârana) e de dar à luz (janana). "O rito solar do conhecimento e da dissolução deve ser realizado primeiro com o mantra de Ishâna, acompanhado vela sílaba mágica hrim representando o órgão feminino, o yoni... O rito termina com os ritos de uddhâra (levantar), prokshana (molhar) e tâdana (apertar), com o mantra de Aghora, concluindo com o som mágico phat. Durante todo o rito, o preceptor deve guiar o discípulo, segurando seu pulso. O preceptor, em seguida, verte água santa sobre o noviço, que é doravante um companheiro de Shiva... A iniciação acontece na presença de Shiva, do fogo e do preceptor. Após a iniciação, o discípulo deve agir segundo as instruções do preceptor." "O preceptor, depois de secar o corpo do discípulo, pegará cinza com as duas mãos e a passará no corpo do discípulo, repetindo o nome de Shiva. Murmurará então o mantra de Shiva no ouvido do discípulo. Depois, diante do fogo sagrado, repetirão juntos à fórmula da iniciação. O discípulo deverá, em seguida, morar perto do mestre, servi-lo em tudo, executar todos os seus pedidos. Doravante é chamado de samaya (integrado) ... O mestre dá-lhe então um Linga de Shiva. Prende um cordão sagrado na mecha de cabelos que parte do alto da cabeça do discípulo, que permanece em pé, e deixa pendurado esse cordão até seus pés, depois bate em seu peito, ata-o com o cordão, bate em sua cabeça, manda-o sentar e dá-lhe para comer arroz consagrado.... Durante a noite, o discípulo deve dormir numa cama de ervas coberta com um lençol novo (não lavado) e consagrado. Pela manhã, o discípulo deve informar ao mestre se sonhou... O cordão sagrado, então, é desfeito e pende da mecha como na véspera. A veneração do adhara (o centro na base da coluna vertebral) é então 26 efetuada, e os ritos de penetração em todas as espécies de seres vivos, nos deuses, animais, pássaros e homens. Em seguida, são realizados os ritos do novo nascimento... O preceptor purificará o corpo do discípulo das impurezas deixadas pelo contato sensual, liberando-o dos três tipos de ligação. Ao trair para si a alma do discípulo, como o fizera anteriormente, deposita – em sua própria alma ... após ter levado a tesoura, o preceptor cortará a mecha sagrada do discípulo e seu cordão sagrado, queimando-os no fogo consagrado a Shiva. Depois disso, restituirá sua consciência individual ao corpo do discípulo... após fazer sentar o discípulo, obterá de Shiva a autorização para ensinar-lhe o conhecimento Shivaista.... Faz com que repita então o triplo mantra: Aum, Hrīm, Shivaya Namah Hrim Aum." Para ser iniciado como Pashupatê (amigo dos animais), o discípulo deverá, após ter recebido os ensinamentos do preceptor, levar, durante um certo período, a vida de monge errante. "Depois de ter realizado o rito de ablução, de sacrifício e os outros ritos do sol. O discípulo observará os ritos do banho de Shiva, do banho de cinzas e da veneração do deus." "No quarto dia depois da lua cheia, ele apagará o fogo e reunirá, cuidadosamente, as cinzas. Raspará os cabelos e todos os pelos do corpo. Pegará então um bocado de barro e passará em todo o corpo, da cabeça aos pés com os olhos fixos no sol. Depois, tomará um banho e cobrirá todo o seu corpo de cinzas." "Em seguida, manterá seus cabelos hirsutos ou os raspará completamente, ou conservará só uma mecha. Em princípio, permanecerá sempre nu. No entanto, se preferir, também poderá usar uma veste cor de açafrão ou uma vestimenta de casca de árvore. Tomará um bastão de peregrino e trará um cordão como cinto." Partirá então em peregrinação. ” Alain Danielou ensina baseado em suas iniciações dos textos “Linga Purana” e “Shiva Puruna” e em sua experiência pessoal. Seus textos e livros são abençoados e indicados a ti. Monja Coen minha mestra de zen ensina que a iniciação é como uma sucessão apostólica que no Zen que pratico vem de Dogen (sec. XIII), mestre Kaizen (sec. XIV) e assim sucessivamente, esses ensinamentos devem ser passados de mestre a discípulo em sucessão direta (face a face). Quando ensinamos o Zen e o Tantra não devemos criar nada e sim transmitir os ensinamentos do fundador da tradição seja Buda no budismo ou sua linhagem no Tantra e seus sucessores de geração em geração. Monja Coen é a 91ª geração sucessora desde Buda. Me orgulho e sou muito feliz de ser discípulo de Zen. 27 Capítulo 3 Kundalinî-Shaktí O Poder da Serpente “A Kundalini adormecida é extremamente fina, como a fibra da haste do lótus. Ela é a desnorteadora do mundo, gentilmente cobrindo a “entrada” para o Grande Eixo. Como a espiral de uma concha, sua forma de cobra brilhante é enroscada três vezes e meia; seu brilho é como um forte facho de luz; seu doce murmúrio é como o zumbido indistinto de enxames de abelhas loucas de amor. Ela mantém todos os seres deste mundo por meio da inspiração e expiração, e brilha na cavidade da região sexual. ” Satchakranirupana “A contemplação de três tipos: bruta, luminosa e sutil. Quando uma figura particular, como o próprio guru da pessoa ou uma divindade pessoal, é contemplada, isto é conhecido como contemplação bruta. Quando Brahma (o divino) ou princípio da Natureza é contemplado como uma massa de luz, isto é chamado
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