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Solidão universal e Universo individual A morte em tempo de pandemia Apresentação Quando a professora Viviane Brito nos convidou para participar do Projeto: A pandemia do covid-19: impactos e desafios, sugeriu que cada professor, ao aceitar o convite, escolhesse um capítulo do livro “Notas sobre a pandemia”, de Yuval Noah Harari, para ser discutido com seus alunos. Ao iniciar a leitura do livro, encontrei essa pergunta no título de um dos capítulos: “O coronavírus transformará nossas atitudes diante da morte?”. Eu, já interpretando, ou tentando interpretar, os efeitos da morte na alma humana, em meus projetos e em minha vida cotidiana, aceitei o convite e achei que a morte – em tempo de pandemia – seria um tema que poderia ser interpretado pelos alunos da 2ª série B, do Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio. Já fazem alguns anos que escrevo sobre as interpretações da morte. E, como não poderia deixar de ser, venho me reinterpretando, igual a tantas outras pessoas, nessa fase tão nova, tão incerta, que são estes, quase, dois anos de convivência com os efeitos de um vírus que entrou e entra, sem pedir licença, nas casas e nas almas de tantas pessoas. Não sabemos quando, mas sabemos que a pandemia vai passar e, daqui a alguns anos, o número de mortos permanecerá, morto, nos livros de história. Mas as mães, pais, filhos e filhas, esposas, maridos, avós, tios, amigas, irmãos, amores, estes mortos, permanecerão vivos nos cantos de algumas memórias solitárias. E, nessas memórias, estarão, cada vez mais vivas, as palavras de Mia Couto: “morto amado nunca mais para de morrer”. As pequenas notas que compõem esse trabalho são interpretações do universo individual dos alunos da 2ª série B, mas, ao mesmo tempo, são interpretações que refletem a solidão universal da morte no coração de cada um, em tempo de pandemia, em todos os tempos. Prof.ª Ana Bittencourt “A morte é a tempestade de uns, é o arco-íris de outros, e eu acredito nas duas versões” Por Wesley Souza O que é a morte? Não vou mentir. Já me fiz essa pergunta em alguns momentos da minha vida e, todas às vezes, acabo chegando a conclusões diferentes. E, para falar a verdade, a morte é isso: um poço de incertezas. É a paz para alguns e o terror para outros; alguns adiantam sua hora e outros querem adiar o máximo possível; alguns acreditam em reencarnação, já outros acreditam que é o fim. Para mim a morte é um grito no vazio, onde a mente e o corpo descansam para sempre, e a única coisa que permanece vivo é o espírito. A morte é onde se percebe que não há diferença entre um ser humano e outro, e que da Terra nada se leva. A morte é a tempestade de uns, é o arco-íris de outros, e eu acredito nas duas versões. Certa vez, no livro “A culpa é das estrelas”, o autor citou que seu maior medo era ser esquecido e isso me levou a refletir com mais profundidade, já que meu maior medo não é ser esquecido, é ser sempre lembrado causando dor às pessoas que eu amo. Um grito no vazio.... “Manter a vida é a capacidade de superar a solidão coletiva” Por Ráina Vitória Oliveira A gente não morre de uma vez, morre no momento que deixa de fazer o que gosta. Um “atestado da vida” é um conjunto tão complexo de processos que é difícil definir a vida. É muito mais do que o bater do coração, do desprender de um filme, do correr dentro dos nossos nervos, das nossas conexões neurais. O homem é fruto de tudo que ele é. É fruto de seus valores, dos seus princípios. Então, a vida é um negócio muito complicado e, cada vez mais, complicado; porque coisas que a gente imaginava que não faziam parte central da vida como, por exemplo, a exploração estética e a beleza, nos afetam. Definir a vida ou, na verdade, a morte? A vida seria a capacidade de encontros? Eu vejo que está acontecendo muitos encontros... As pessoas não se chocam mais com uma representação, mas já foram mais de 500 mil corpos mortos. Pais, mães, filhos, irmãos... Infelizmente, a maior parte das desinformações são mentiras e não é achismo. Manter a vida é a capacidade de superar a solidão coletiva. Para a vida, negar a morte é exercitar ao máximo o encontro, a procura e a realização. A gente não morre de uma vez.... “Porque o silêncio não nos consola” Por Isabella Áurea Ferreira 460 mil mortos. Números frios, pois o sangue já não corre mais nas veias. A sociedade de consumo entorpeceu sua sensibilidade? Estamos falando do último abraço, do último suspiro, da hora derradeira. Cada vítima tinha um nome, um endereço, uma família. Que espécie não sente pelo seu igual? Quem pode ser indiferente diante da doença, da fome e do sofrimento? Qual o conceito de "novo normal"? Lutamos contra o invisível: o vírus, a ganância, o ódio. Em combate com as barreiras que foram construídas no passado. A pandemia, ainda que vivenciada por todos, É um palco onde o desigual é revelado. Ouvimos a sinfonia do desespero, Os manifestos de quem não se conforma, Os gritos por aqueles que não têm mais fôlego. Porque o silêncio não nos consola. A sinfonia do desespero “Espero que ele esteja em um lugar melhor, pode ser que não esteja, mas é importante acreditar...” Por Adolpho Lôbo O que há depois da morte? Muitas pessoas pensam sobre isso, mas não sabem responder. Talvez céu, talvez inferno? Há um tempo atrás, um amigo, do meu jogo de vôlei, morreu por uma reação do corpo ao medicamento que havia tomado. Foi um choque para todos. Ele era um garoto saudável e tinha apenas 19 anos... Não sei como reagir ao imaginar que nunca mais vou poder ver ele novamente. Espero que ele esteja em um lugar melhor, pode ser que não esteja, mas é importante acreditar... É importante acreditar... “Não me procure, fuja da minha família. Peço que não vá atrás dos meus amigos também. Mas se um dia você chegar, por favor, não me machuque tanto...” Por Laiza Castro A morte, para mim, é o fim. É o fim da presença, do calor dos corpos, do abraço. Eu a temo. Nunca perdi alguém especial na minha vida. Talvez seja esse o motivo da minha paralisia. Meu coração está batendo muito forte neste momento, eu tenho medo de atrair o que eu falo. Será que nós conseguimos chamar a morte? Não sei. Por precaução, evito comentar sobre. Sinto-me culpada por isso. Essa minha incapacidade de sentir essa dor me causa ânsia. O desconhecido não me agrada. Eu daria a minha vida para as pessoas que eu amo de verdade: minha família. Eu não seria nada sem a presença do meu pai, ele é minha base. Sou a sua versão em miniatura. Minha mãe é meu exemplo. Muito organizada, trabalhadora e persistente. Meu irmão é meu guia, sigo os passos dele. Se a morte chegar, levará metade da minha vida também. Algumas experiências eu não queria viver e esta é uma delas. O que me assusta é saber que ela é INEVITÁVEL. Onde existir a vida, veremos a morte. Ainda não caiu a minha ficha. Tem dias que o céu não brilha. Estamos vivendo um luto coletivo? Eu prefiro acreditar que sim. Se a dor do outro não te atinge, você está doente. Minha mãe sempre me dizia isso e eu só consegui compreender vivendo uma pandemia.Pandemia histórica, descaso governamental e uma sociedade que venda os olhos para não enxergar a realidade. Não é NORMAL morrer tantas pessoas. Tantas histórias. Filhos. Pais. Namorados. Tios. Avós. Todos farão falta aqui na terra. Morte, espero um dia conseguir entender o teu significado. Mas, hoje, eu corro de você. Não me procure, fuja da minha família. Peço que não vá atrás dos meus amigos também. Mas se um dia você chegar, por favor, não me machuque tanto. Faça-me acreditar que você não é só tragédia. Até lá, quero cuidar da minha vida. Por favor, não me machuque tanto... “Todos os dias morrem centenas de pessoas e você não vai ficar triste todos os dias por isso. A vida é assim” Por Kauane Rainara Nunes Todos os dias, toda hora, a todo momento existem pessoas morrendo no mundo. Uma pessoa chora desesperadamente por uma perda, enquanto outra chora desesperadamente feliz por dar à luz uma nova vida. Por mais que um dia você saiba que vai morrer e que a morte vai levar pessoas importantes, você não se acostuma, não se sente preparado, porque o depois da morte é uma incógnita sufocante que te aflige e traz medo. A todo momento alguém morre no mundo. Mas você só sente o impacto, verdadeiramente, quando a morte chega até alguém importante para você. A pandemia, avassaladora, do coronavírus afeta todas as pessoas em relação à economia, mudanças, amadurecimento, aprendizado e oportunidades. Mas as mortes decorrentes da pandemia não te afetam tanto quanto aqueles que realmente perderam alguém. "Ah, mas eu me importo”, claro que eu me importo, eu fico triste. Isso não é sobre se importar. Todos os dias morrem centenas de pessoas e você não vai ficar triste todos os dias por isso. A vida é assim. Você sente um impacto, sim, diante das mortes. Você pode sentir empatia, se colocar no lugar do outro e tentar entender o quão triste seria. Você pode até mesmo compreender a dor do outro, mas se você não perdeu alguém para o Covid-19, jamais vai sentir o que o outro sentiu, até porque cada pessoa sente de forma diferente. A morte dói pra todos, a morte afeta a todos, mas só no momento que chega perto de você. Eu não tenho voz para gritar que a pandemia me afetou tanto quanto as pessoas que perderam alguém. Não tenho esse direito. Eu não tenho voz. Eu não tenho voz “Sempre que paro para pensar no assunto, passo bastante tempo refletindo sobre o que, verdadeiramente, é a morte. Acredito que a morte nada mais é do que uma indagação...” Por Marcus Vinícius Félix O que é a morte? Sempre que paro para pensar no assunto, passo bastante tempo refletindo sobre o que, verdadeiramente, é a morte. Acredito que a morte nada mais é do que uma indagação, existindo diversas visões e crenças pessoais que expliquem o fim da vida. Alguns vêm a morte como um refúgio, um descanso eterno para a alma e o espírito, outros a temem, como os gregos antigos que evitavam reverenciar o deus Hades a fim de se afastarem da morte. Gostaria de indicar o livro “O Cemitério” de Stephen King, que destrincha o tema de forma excepcional. A história tem como protagonista o cético Louis Creed, um jovem médico que, após a morte do gato da família – Church – e seu súbito retorno à vida, descobre como reverter a morte e precisa lidar com as consequências disso. O livro aborda perfeitamente as diversas visões da morte através de seus personagens: o ceticismo de Louis; o medo e os traumas de sua esposa Rachel; a curiosidade e incerteza de sua filha Ellie; e os costumes radicais dos índios Micmac. As visões da morte... “A morte representa sonhos que não podem mais serem realizados, planos que não podem mais serem planejados. A morte representa os segundos, horas, dias que não existirão mais...” Por Danielly Rodrigues Segundo a minha fé, ou seja, aquilo em que eu acredito, a morte nada mais é do que o começo de uma nova vida, aquela que não tem prazo de validade e que chamamos de vida eterna. Porém, apesar de ter fé que a morte é apenas um processo para alcançarmos um outro plano, ainda assim, é difícil entender quando a morte chega em nossa realidade. No atual momento em que vivemos, a morte anda tão presente nos noticiários, na nossa cidade e, até mesmo, em nossas famílias, que passei a temê-la de uma forma gigantesca. Então acabo me esquecendo da fé que falei anteriormente e a morte se torna algo que leva as pessoas que amamos para sempre, sem ao menos dizer um adeus. A morte representa uma partida, partida essa de onde não se volta mais. A morte representa sonhos que não podem mais serem realizados, planos que não podem mais serem planejados. A morte representa os segundos, horas, dias que não existirão mais. E, por fim, a morte é um alerta constante para vivermos da melhor forma possível antes que a nossa última hora chegue. A fé e a morte... “Morte. Uma palavra tão pequena, com um sentimento tão enorme...” Por Bianca Dantas Já são 3,72 milhões de mortes mundialmente e 471 mil mortes no Brasil; pessoas que morreram com uma doença angustiante. Para muitos são apenas números e, cada vez que morre alguém, será só mais um que se foi. Mas só quem sentiu a verdadeira dor de perder alguém foram aqueles que perderam, principalmente, um parente ou alguém que consideravam muito, pois a dor dos outros para muitas pessoas é normal, porém quando acontece com a gente o verdadeiro sentimento sufocante aparece. Morte. Uma palavra tão pequena, com um sentimento tão enorme. E quando digo enorme não é apenas um sentimento qualquer e, sim, uma grande dor. É muita complexidade para tentarmos entender o porquê da vida acabar para todos. Essa é a lei da vida: nascer, se reproduzir e morrer. Mas aceitar ela dessa forma é muito difícil. Principalmente quando nos questionamos sobre tudo o que está acontecendo, pois essa dor não é uma dor para poucos sentirem, é uma dor mundial, onde vidas são perdidas por segundos. Vivemos a vida toda com a consciência de que a vida, um dia, irá acabar. Mas nunca queremos aceitar esse fato, mesmo sendo um fato real. A morte chega para todos, mas nunca imaginávamos que viria dessa forma, onde morrer virou a coisa mais normal ultimamente. A maioria das pessoas não tem mais esperança (será o fim?), porém muitas ainda acreditam que tudo isso irá passar. São muitos pensamentos e imaginações que nos intrigam e, quando isso acontece, o que mais fazemos é relevar esse tipo de pensamento. Se estamos vivos, nosso dever e direito é nos mantermos firmemente com a consciência que temos que aproveitar o quanto pudermos, cuidadosamente, sem a intenção de prejudicar alguém ou a si mesmo. A vida é uma só e ela é passageira. Precisamos ter fé de que tudo isso terá um fim. Nem todos estarão lá para sentir a sensação de ter vivido esse processo todo e de ter vencido esse vírus, mas o tanto que viveram foi o suficiente para entender que na vida não existe o amanhã. Aproveite o presente, pois essa é a verdadeira dádiva de viver. Uma palavra pequena “Como sonhar com o abraço de quem um dia nos deixou?” Por Jaciane Barbosa Como sonhar com o abraço de quem um dia nos deixou? Como sentir medo, saudade e, até mesmo, liberdade dentro de uma única palavra? A morte é como o fim de uma melodia. Assim como as mais belas partituras despertam sentimentos em nossos corações, da mesma forma, é o findar da vida. Pode parecer tarde, mas é o momento onde podemos entender com mais intensidadecada sentimento, interligando um ao outro. A morte é quando podemos transformar alguém estrela. Mesmo muito distante, iremos saber que todas as noites, ao olharmos para o céu, ela estará ali, brilhando intensamente. A morte, apesar de representar dor e perda para alguns, pode apresentar caminhos e recomeços, afinal, não vivemos apenas por nós mesmos e, sim, por todos os que amamos ao percorrer a nossa jornada. A morte e as estrelas... “...nunca serão apenas números enquanto houver a dor da ausência de alguém que se ama” Por Lívia Santos Pensar nas mortes decorrentes de causas naturais já era angustiante, mas, agora, diante do cenário que nos encontramos, com tantas mortes ocorrendo de forma abrupta, podendo fazer de qualquer pessoa sua vítima fatal, me deparei com sentimentos novos, sendo esses bem confusos; e não sei dizer, ao certo, quais são, mas com certeza me deixam com medo e apreensão. Nesses pensamentos quero ser verdadeira comigo mesma. Sei que, de forma alguma, essas perdas serão apenas números ou mais um que se foi. E sendo verdadeira com os meus sentimentos mais profundos, a cada anúncio de novas mortes nos jornais, me pego pensando nessas pessoas de forma individual. Porque a ideia de mortes coletivas, os números anunciados diariamente, as pessoas morrendo ao mesmo tempo e a todo o momento, é assustador. Por mais que não consiga mensurar a dor de cada um que perdeu alguém é inevitável o vazio que me causa. Para mim, Lívia, nunca serão “apenas números” enquanto houver a dor da ausência de alguém que se ama. Sentimentos confusos “A última visão que eu tive foi da esposa dele correndo atrás do carro da funerária; o corpo estava lacrado e, no último desespero, ela correu, correu como se tivesse que ir a algum lugar” Por Joanderson de Souza Eu estava ouvindo música, Nobady, da Mitski, quando chegou a notícia. A notícia foi um frio e seco: “Caso irreversível”. Depois: "Perdemos ele". Perdemos ele. No começo eu não acreditei. Depois fui tomado por uma náusea que nunca havia sentido. Fiquei tonto, vomitei e, por estímulos das pessoas, chorei. Chorei lágrimas que me eram estranhas, era como se tivessem tirado todos os órgãos do meu corpo e substituído por pedras. As pessoas começaram a ficar preocupadas comigo, acho que minha reação foi muito atrasada, mas eu não sou digno de me julgar, porque nem eu me mereço. A parte pior foi a noite. Eu estava indo para a casa de minha tia. Estava tudo calmo. Tudo calmo. Muitas vezes, me disseram que a morte era silenciosa, mas eu, realmente, tinha a impressão que as pessoas estavam dissociadas e somente o seu corpo estava lá. Com o toque todos despertavam e eu me vi no inferno. Eu não consigo descrever a partir daqui. Só sei que eu encolhi. Completamente. Eu só via pessoas gritando de desespero e dor. Vi minha tia caindo, meu tio que era o típico “cabra macho” estava aos prantos e a beira da loucura. Minha mãe tentou acalmar minha tia, mas não deu certo, e ela acabou indo embora por não aguentar mais. A última visão que eu tive foi da esposa dele correndo atrás do carro da funerária; o corpo estava lacrado e, no último desespero, ela correu, correu como se tivesse que ir a algum lugar, como se quisesse alcançar, mas não conseguiu, acabou desmaiando e o clamor das pessoas foi ficando cada vez mais alto, bem mais alto. Mas para mim tudo ficou escuro e, quando dei por mim, já estava na minha cama, 2h da manhã, dormindo de olhos abertos e com medo da morte passar e eu não conseguir impedi-la. A notícia “Ano passado foi a moça do povoado, mês passado o dono do mercadinho no centro, semana passada a senhorinha que sempre pedia para levarem as sacolas dela... e hoje? Hoje vai ser quem? Por Michel Reis Todos os continentes tiveram casos desse vírus. Todos os dias tem mortes. Todas as horas tem morte. Todos os minutos tem morte. A CADA SEGUNDO TEM MORTE. Leigos olham para um lado e veem que isso sempre existiu no mundo; os sábios sabem que muitas dessas mortes poderiam não ter acontecido. Mas isso é culpa de quem? Esse texto nunca vai lhe informar, mas saiba que o verdadeiro vilão, nesses tempos, é aquele que olha a morte e debocha dela, ignora ela, e ri da morte com aquela gargalhada barulhenta que um “basta” não é capaz de calar. Parece que estamos num funil, direto para o buraco. Ano passado foi a moça do povoado, mês passado o dono do mercadinho no centro, semana passada a senhorinha que sempre pedia para levarem as sacolas dela, ontem foi a mocinha que decidiu virar motogirl, e hoje? Hoje vai ser quem? Esse redemoinho, que não para de girar, vai chegar em mim? Em meus pais? Eu não sei, sinceramente não sei, quando isso vai acontecer e se vai acontecer. Mas eu tenho a plena certeza que esse redemoinho, dessa pequena cidade do interior da Bahia, se reflete nas outras 5.569 espalhadas por esse Brasil, que é recheado por belíssimas paisagens naturais, mas onde o verde das árvores não está mais verde, está vermelho. O sangue da Fernanda, da Carla, do seu João e do Daniel estão aí derramados nas copas e nos caules das árvores. Mas será que vai chegar em mim? Você sabia que esses 18 anos não completados de minha existência podem simplesmente desaparecer? Virar pó! É isso mesmo. Todo esforço foi em vão? Toda luta foi em vão? Todas as bandeiras, lutas, vivências e amizades que construí e destruí FOI TUDO EM VÃO? Possa ser que sim. Tem aquela música lá que diz que a vida é um sopro e é a mais pura verdade. E eu não sabia disso até chegar nessa linha desse texto. Eu coloquei um título nesse texto, mas retirei porque a dor que estou sentindo agora é muito difícil de descrever nesse celular. E vou ter que finalizar esse breve texto por aqui mesmo, porque eu não capaz de formular mais nada sobre isso que já me consumiu tanto. Texto sem título... “Vai vim e vai levar o abraço que me acolhe, o puxão de orelha que é para o meu bem, o sorriso verdadeiro e aquela saudade de voltar para casa” Por Carine Miranda Eu não tenho medo de morrer. Eu tenho medo de como vai ser minha morte. Sempre carrego comigo esse pensamento que, muitas vezes, me assombra; até porque falar sobre a morte é um assunto muito delicado, para o qual nunca encontrei uma resposta e nem quero. Quando digo que não tenho medo é porque sei que é o fim, vai ser meu último tchau, se der tempo... Mas o que me abala é saber que ela é inevitável e, infelizmente, um dia ela vai chegar. Vai vim e vai levar aquilo de mais precioso que tenho. Vai vim e vai levar o abraço que me acolhe, o puxão de orelha que é para o meu bem, o sorriso verdadeiro e aquela saudade de voltar para casa, por menos tempo que eu passe longe. E eu não quero perder nada disso, o que me faz querer que me percam antes. E é aí que vem o questionamento: como vai ser minha morte? Já pensei em inúmeras possibilidades. Sei que é estranho, mas é algo que me tira o sono: “E se eu morrer assassinada? Eu passo mal quando corto um dedo, imagina algo perfurando meus órgãos?” Mas nada me assusta tanto quanto a possibilidade de ser, apenas, só mais um número, de me acabar aos poucos e não ter ninguém comigo, de fazer parte destas mais de 470 mil mortes. Vou encerrar por aqui, porque dela quero distância. Ver ela [a morte] pertinho, todo dia, levando milhares e milhares de pessoas me causa arrepio. E se você não sente por essas famílias, e pelo mundo, você nem é humano. Mas e se amanhã for eu? Meus pais? Meus amigos? Não,não vou continuar, porque sempre vão aparecer perguntas que não vão ter respostas, só uma, aquela que infelizmente não podemos evitar: "ela vai vim". Ela vai vim... “Antes era tão fácil fingir que éramos imortais, fingir que as pessoas que amamos nunca iriam partir... já não é possível manter essa ilusão. A pandemia veio e os velhos monstros também” Por Déborah Coelho e Luiza Coelho A morte sempre esteve longe, mas nunca longe demais. Ela continua sendo, sempre, uma promessa que a gente insiste em ignorar. Antes era tão fácil fingir que éramos imortais, fingir que as pessoas que amamos nunca iriam partir, porém, já não é possível manter essa ilusão. A pandemia veio e os velhos monstros também. Quando éramos crianças era normal ouvirmos histórias sobre os monstros que estavam escondidos debaixo da cama e dentro do armário. E sempre quando achávamos que eles estavam nos observando a noite, costumávamos fechar os olhos, com muita força, na esperança que eles deixassem de existir. Queríamos que isso funcionasse com a morte. Mas com ela sempre foi diferente. Fechar os olhos é tentador, mas nunca resolveu nada. O “desconhecido” tem chegado cada vez mais perto. E isso nos assusta. Porque mesmo nos comovendo com a dor das perdas dos outros, a nossa volta, isso não é um sentimento permanente, entende? No final do dia, aquilo não está mais lá. Mas e se a morte chegar? E se os nossos forem afetados? O tão temido “desconhecido” vai se alojar em nós ou nos levar. E o que acontece depois disso? Ainda não temos a resposta e pretendemos não encontrar tão cedo. É por isso que continuamos insistindo em evitar o inevitável. Já não podemos fingir... “Meu maior medo é perder as pessoas que mais amo. Eu sinto muito medo da morte” Por Ana Júlia Carvalho Para mim, a morte não tem muito sentido, porque nunca perdi ninguém próximo. Então, eu não tenho um sentimento formado sobre a morte. Meu maior medo é perder as pessoas que mais amo. Eu sinto muito medo da morte. Não consigo entendê-la. Nesse cenário que estamos vivendo, não sei expressar meus sentimentos sobre as diversas mortes que estão acontecendo. Meus sentimentos estão muitos confusos. E, dentro dessa confusão, tento, pelo menos, imaginar o sofrimento de cada família ao perder alguém tão próximo... Medo... “Será que para ser mais humano, eu tenho que parar a minha vida para sofrer a dor de outras pessoas?” Por Maísa Dias Até que ponto eu sou realmente insensível? Será que para ser mais humano, eu tenho que parar a minha vida para sofrer a dor de outras pessoas? Várias vidas acabaram no meio dessa pandemia, mas, mesmo assim, eu não sinto nada. Eu estou bem, minha família está bem e ninguém que eu amo morreu. É muito assustador os números de casos, de mortes, e as porcentagens só aumentam a cada dia. Mas, para mim, é só isso. São apenas números que me assustam por uns instantes. Mesmo não sentindo a dor do outro, eu continuo sendo um humano sensível? Humanos “Para as almas que já estão cansadas, seria a chegada ao paraíso preparado pelo Senhor" Por Geovanna Requião O que é a morte? Não sei se tenho um conceito definido. Em certos momentos, vejo, apenas, como o fim de uma única vida. O famoso ciclo da vida: nascer, crescer, reproduzir e morrer. E apenas isso. Por outro lado, seguindo minha fé e religião, vejo a morte como um recomeço, fim de uma vida e início de outra, ou, para as almas que já estão cansadas, seria a chegada ao paraíso preparado pelo Senhor. É difícil apontar uma resposta correta, já que acho que não há. Diversas vezes parei para pensar sobre isso e me deparo com inúmeras dúvidas. Minha única certeza é que a morte é dolorosa para quem fica. Perder alguém importante não é fácil, um vazio imenso toma conta do viver e, por algum tempo, parece que nada faz sentido... Incertezas... “...dói, ainda mais, não ter dito o quanto amávamos aquela pessoa, o quanto ela era especial em nossas vidas” Por Clara Beatriz Reis Quando a morte chega perto de nós, o mais triste é quando não temos tempo para nos despedirmos da maneira que gostaríamos. Mas, talvez, se houvesse a despedida, a dor seria bem maior. O arrependimento de ter falado coisas que magoaram é muito doloroso, mas dói, ainda mais, não ter dito o quanto amávamos aquela pessoa, o quanto ela era especial em nossas vidas. Só sabemos o tamanho dessa angústia, desse sofrimento, quando acontece com uma pessoa próxima, com uma pessoa que faríamos de tudo para tê-la, sempre, por perto. Para mim, a morte é traiçoeira, no entanto, para muitos é a única forma de ter paz. A dor que dói mais “Talvez o que mais me assuste na morte seja saber que ela nem sempre ocorre, apenas, quando o nosso coração para de bater” Por Anderson Nascimento O que dizer sobre a morte? Devo dizer que ela me assusta? Que eu não a quero? A morte sempre foi um grande tabu em minha vida, algo que não gosto de falar, pois eu não sei o que pensar. Eu só sei que tudo relacionado a ela me assusta, me deixa mal. Assusta-me o fato de que perderei todas as pessoas que mais amo, para ela, e que, hora ou outra, também acabarei me perdendo. Em meio a pandemia, devastadora, da covid-19, muitas pessoas têm perdido os seus entes queridos diariamente, muitos de forma muito rápida. Muitas vezes, me pego pensando em como essas pessoas se sentem, em como estão física e mentalmente. Que consequências essas mortes terão em suas vidas? Elas seguirão normalmente depois de algum tempo? Ou essa ferida nunca vai cicatrizar? Elas voltarão a se sentirem felizes/alegres? Talvez o que mais me assuste na morte seja saber que ela nem sempre ocorre, apenas, quando o nosso coração para de bater. O que mais me assusta? A morte não me causa tanto medo, mas, sim, o desconhecido. Eu não sei explicar... O medo que eu tenho é de não saber o que acontece depois da morte. E se as pessoas descobrissem que depois da morte, realmente, existe um lugar melhor que esse onde vivemos? Será que elas deixariam de ter medo da morte? Laiza Emanuele Araújo A morte, para mim, é dor, tristeza, sofrimento... Infelizmente essa é a única certeza que temos! Raniele Amorin A morte é um repouso. Por que temos medo da morte? Talvez seja apenas um modo de descanso, um momento de paz. Talvez não seja tão ruim assim, talvez seja algo bom. Por que sempre que pensamos na morte levamos sempre para o lado negativo? Talvez seja, mas não sabemos. Só quem morreu sabe o real propósito da morte... Tainan Santos Stálin disse que “a morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões, uma estatística”. Isso me fez refletir sobre as pessoas que não se sensibilizam com a morte... Elas também estão mortas (por dentro). Adna Bezerra MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA BAIANO CAMPUS SENHOR DO BONFIM PROJETO DE ENSINO A pandemia do covid-19: impactos e desafios. Coordenadora: Prof.ª Viviane Brito Orientadora: Prof.ª Ana Bittencourt Ilustração da Capa: Marcus Vinícius Chaves Félix Realização: Alunos da 2ª série B do Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio Adna de Jesus Bezerra Kauane Rainara N. de Souza Adolpho Gonçalves Lôbo Neto Laiza Tailane Santana de Castro Ana Isabela de Souza Viana LaizaEmanuele Araújo Silva Ana Julia Batista de Carvalho Lívia Santos de Souza Anderson Matheus N. de Araújo Lucy Keren Alves Carvalho Bianca de Jesus Dantas Luiza Coelho Santana Carine Miranda dos Santos Maíza da Silva Dias Clara Beatriz Dias dos Reis Marcus Vinícius Chaves Félix Danielly Rodrigues Conceição Michel Reis da Silva Déborah Coelho Santana Nara Cailane O. dos Santos Geily Yasmim Souza Silva Ráina Vitória Oliveira Souza Geovanna Carolina dos S. Requião Raniele Amorim de Souza Isabella Áurea Ferreira de Jesus Tainan da Silva Santos Jaciane dos Santos Barbosa Wesley Souza da Silva Joanderson da Silva de Souza