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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Biociências Departamento de Microbiologia e Parasitologia Trichomonas vaginalis e tricomoníase Docente: Discentes: Amanda Kelly Silva do Nascimento Ana Beatriz Viana Leal Brenda Caroline Alves Monteiro Janderson Menezes Xavier Luiz Fellipe Barbosa da Luz NATAL 2019 RESPOSTA DAS QUESTÕES 1. Justifique a importância do estudo da tricomoníase, abordando os dados de prevalência mundial dessa doença. Esses dados são fidedignos? Explique. O Trichomonas vaginalis é o causador da doença sexualmente transmissível (DST) não-viral mais comum no mundo, a tricomoníase. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou em 170 milhões de casos de tricomoníase no mundo anualmente entre pessoas de 15 a 49 anos, com a maioria (92%) ocorrendo em mulheres. Devido ao fato da tricomoníase não ser grande causadora de sequelas, tem sido considerada a doença apenas como um incômodo do que um problema de saúde pública. No entanto o T. vaginalis tem se destacado como um dos principais patógenos do homem e da mulher e está associado a sérias complicações de saúde, inclusive com a transmissão do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), é causa de baixo peso em bebês, nascimentos prematuros, predispõe a mulher a doença inflamatória pélvica atípica, câncer cervical e infertilidade. Tendo isso em vista a alta prevalência dos riscos associados a tricomoníase pouco é conhecido sobre a variabilidade biológica do parasito. Deste modo, é de suma importância os estudos sobre a tricomoníase e seu agente etiológico, uma vez que estes estão relacionados a grandes problemas de saúde pública que envolvem desde o patológico, mas também a fatores socioeconômicos e clínicas que tem mais disposição a infecção do parasito, como clínicas ginecológicas, pré-natal e serviços de DST. 2. O que é tricomoníase? Quais são os sinais e sintomas dessa doença? E as complicações? Que outras comorbidades são comuns na tricomoníase? A tricomoníase é a doença sexualmente transmissível não-viral mais comum no mundo. Seus sinais e sintomas são variáveis de pessoa para pessoa. Nas mulheres, pode causar vaginite aguda, sendo o corrimento varíável (sendo o clássico: amarelo, abundante, espumoso e mucopurulento só em 20% dos casos - que pode estar associado a gonorréia, clamídia e herpes simples); prurido ou irritação vulvovaginal; odor vaginal anormal; dores no baixo ventre, que podem caracterizar uma infecção do trato geniturinário superior; dispaurenia; disúria; poliúria; vagina e cérvice podem estar edematosas e eritematosas com erosão e pontos hemorrágicos na parede cervical, conhecidos como colpitis macularis ou cérvice com aspecto de morango e é mais sintomática durante a gravidez ou em mulheres que tomam anticoncepcional oral. Em sua fase crônica, os sintomas são leves e com secreção escassa. Possui complicações como: displasia/metaplasia intra-epitelial, infecção do trato geniturinário superior, infertilidade, parto prematuro e baixo peso ao nascer em grávidas infectadas, predispõe a doença inflamatória pélvica atípica e câncer cervical. Nos homens, a infecção pode assintomática, aguda e assintomática leve. O estado agudo é caracterizado por uretrite purulenta abundante, com corrimento escasso, disúria, prurido, ulceração peniana e sensação de queimação imediatamente após a relação sexual. Já a assintomática leve é clinicamente indistinguível de outras causas de uretrite. Suas complicações são: epididimite, infertilidade, prostatite, cistite. Outras comorbidades comuns na tricomoníase são: gonorreia, clamídia, herpes, HIV, pois é possível que o T. vaginalis possa atuar também como vetor para outros patógenos. Além disso, ele pode ter um papel crítico na ampliação da transmissão do HIV devido a uma agressiva resposta imune celular local, induzindo uma grande infiltração de leucócitos incluindo as células-alvo do HIV e também por causar pontos hemorrágicos na mucosa, permitindo o acesso direto do vírus para a corrente sanguínea. 3. Qual o agente etiológico da tricomoníase? Como se caracteriza morfologicamente? Onde esse parasito habita? Como é o seu ciclo de vida? Quem são seus hospedeiros? Quais as fontes alimentares do parasito e seu tipo de metabolismo? O agente etiológico da tricomoníase é o Trichomonas vaginalis. Caracteriza-se por polimorfia, quando vivos apresenta forma elipsóide, oval ou até mesmo esférica, possui capacidade de formar pseudópodes para capturar alimentos e se fixar em partículas sólidas. Nas preparações coradas, é comumente elipsóide, piriforme ou oval. As condições físico-químicas afetam o aspecto deles. Possui quatro flagelos anteriores livres e desiguais em tamanho, que se originam no complexo citossomal. A membrana ondulante e a costa nascem no complexo granular basal, a margem livre de membrana: filamento acessório fixado ao flagelo recorrente. O axóstilo é uma estrutura rígida e hialina, que se projeta através do centro do organismo e prolonga-se até a extremidade posterior, conectando-se a pelta (pequena estrutura em forma de crescente). O blefaroplasto está antes do axóstilo, sobre o qual se inserem os flagelos. O núcleo é elipsóide próximo a extremidade anterior. Não possui mitocôndrias mas apresenta grânulos densos chamados de hidrogenossomos dispostos em fileiras. Habita no trato geniturinário do homem e da mulher, se multiplicam por divisão binária sendo o cariótipo constituído por seis cromossomos e não há formação de cistos. Os seres humanos são seus hospedeiros naturais, portanto, a transmissão só acontece entre eles através da relação sexual, pois o parasito pode sobreviver por mais de uma semana sob o prepúcio do homem sadio após o coito com a mulher infectada. O homem é o vetor: com a ejaculação os tricomonas presentes na mucosa da uretra são levados a vagina pelo esperma. O T. vaginalis é um organismo anaeróbio facultativo e cresce bem na ausência de oxigênio, em meios com faixa de pH entre 5 e 7,5 e em temperaturas entre 20° e 40°C. Como fonte de energia, utiliza glicose, frutose, maltose, glicogênio e amido. Além disso, é capaz de manter em reserva o glicogênio e também pode realizar a síntese de um certo número de aminoácidos. 4. Como esse parasito consegue lesar os tecidos? Porque esse parasito necessita de lesar os tecidos humanos? Que tipo de alterações o parasito causa que podem se relacionar com infertilidade feminina? O T. vaginalis consegue lesar os tecidos liberando substâncias que são tóxicas (glicosidases e CDF) ao tecido epitelial, ajudando na aderência do parasito as células hospedeiras para que o mesmo possa realizar suas atividades, que por usa vez, são patológicas. O T. vaginalis também pode fagocitar hemácias para a obtenção de ferro e ácidos graxos, uma vez que ele é incapaz de sintetizar essas substâncias. Essa hemólise é mediada pela inserção de poros na membrana da hemácia, formado pela liberação de proteínas do tipo perforinas ou através da interação entre receptores eritrocitários e adesinas do parasito, que provoca a aderência entres as células e a eritrofagocitose pelo protozoário. O parasito está relacionado com doença inflamatória pélvica, pois infecta o trato urinário superior, causando a resposta inflamatória e destruindo a estrutura tubária, lesando as células ciliadas da mucosa tubária e posteriormente inibindo a passagem de espermatozoides ou óvulos através da tuba uterina, causando infertilidade nas mulheres. 5. Cite três os métodos de diagnóstico laboratorial para a tricomoníase. Que tipos de amostras biológicas são necessárias para cada tipo de método? Explique o que se evidenciam a partir da aplicação desses métodos e quais são suas vantagens e desvantagens. Para realizar o diagnóstico dessa patogenia, pode-se usar de diversas técnicas laboratoriais, como: Microscopia, método de cultura e PCR (reação em cadeia de polimerase). Para realizar o exame de amostra vaginal para microscopia, será recolhida uma amostra através da qual poderão ser apresentadas alterações citomorfológicas induzidas pelos tricomonas. O esfregaçoé tipicamente rico em elementos polimorfonucleares e há grande número de células epiteliais isoladas. Através do método de cultura é definido como o padrão-ouro para o diagnóstico porque é simples de interpretar, entretanto, demora mais a ficar pronto devido a necessidade de alguns dias para que os parasitos sejam identificados e durante esse tempo os pacientes infectados podem continuar a transmitir a infecção. Já a técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR) que recolhe o material biológico tornou-se uma nova alternativa para realizar diagnósticos, visto que muitos testes com sensibilidade e especificidade próximas a 100% têm sido desenvolvidos recentemente. Porém, infelizmente, não são utilizados rotineiramente no laboratório clínico devido a seu alto custo. Em relação ao material biológico coletado para análise, o mesmo pode ser coletado nos homens no sêmen, urina, secreção prostática e nas mulheres a secreção vaginal. 6. Que tipo de resposta imune o nosso corpo produz contra este parasito? A resposta imune, quando presente, é protetora? O parasito evade da mesma? Em caso positivo, explicar como. Quando ocorre a infecção pelo parasito na mucosa vaginal, há a presença de uma resposta imune humoral com a liberação de anticorpos ou imunoglobulinas do tipo IgG, IgM e IgA. Embora ocorra a resposta, o parasito tem a capacidade de evadir do sistema imune, pois uns de seus fatores de virulência conhecido como cisteína-proteinases que é citotóxico e hemolítico, tem a capacidade de degradar essas imunoglobulinas presentes na vagina. A expressão dos genes que codificam as proteinases é modulada por fatores externos, como os níveis de cálcio e ferro. A partir disso, o ferro contribui para a resistência do parasito ao complemento por regular a expressão desse fator, que degrada a porção C3 do complemento depositada sobre a superfície do organismo. Por isso, os fatores de virulência mediados pelo ferro contribuem para a exacerbação dos sintomas na menstruação e, além disso, o parasito pode se auto-revestir de proteínas plasmáticas do hospedeiro, não permitindo que o sistema imune reconheça o parasito como estranho. 7. Como se dá a transmissão desse parasito e como deve fazer o controle da infecção e da tricomoníase? Que perspectivas pode se ter para isso? O T. vaginalis é transmitido através da relação sexual e pode sobreviver mais de uma semana sob prepúcio do pênis do homem após o coito com uma mulher infectada. O homem é o vetor da doença; com a ejaculação, os tricomonas presentes na mucosa da uretra são levados a vagina pelo esperma. Atualmente, admite-se que a transmissão não-sexual é rara. A tricomoníase neonatal em meninas é adquirida durante o parto. Alguns autores já defendem que o uso de duchas, assentos de vaso sanitário e espéculos contaminados já podem causar a transmissão em mulheres. O controle da infecção deve ser realizado através da prática de sexo seguro (uso de preservativos), abstinência sexual com pessoas infectadas, tratamento dos parceiros e da pessoa infectada. Visto que a tricomoníase é uma IST, se todas as pessoas com a doença fossem tratadas, teríamos a erradicação da infecção e não mais de 100 milhões de casos por ano. 8. Como se faz o tratamento para tricomoníase? Considerar as condições de gravidez e lactação, persistência da infecção e coinfecções. O tratamento mais comum para tricomoníase, inclusive durante a gravidez, é tomar uma dose alta de metronidazol, secnidazol ou tinidazol. O medicamento ministrado por via oral é muito mais eficaz para tricomoníase que a inserção de um creme ou gel no órgão sexual. O metronidazol penetra na célula através de difusão e é ativado nos hidrogenossomos, possui substituintes nitro e a ativação se dá pela redução desses grupos pelas ferredoxinas, encontradas apenas em organismos anaeróbicos, daí sua toxicidade seletiva. Estudos mostram que eles destroem as células através de reações com macromoléculas intracelulares, como DNA, proteínas e membranas. No entanto o medicamento tem demonstrado um possível potencial carcinogênico, devido ao fato de que o tratamento de longo prazo com altas doses de metronidazol poderia induzir tumores nos pulmões de animais. Porém dados clínicos sobre câncer provocado pelo mesmo, são raros, com isso os benefícios do metronidazol superam as desvantagens. No caso de mulheres no primeiro trimestre da gravidez, o uso do metronidazol não é recomendado, devido ao mesmo atravessar a barreira placentária. Devido a frequência de infecção na gravidez, a toxicidade do metronidazol e ao aparente desenvolvimento da resistência, alternativas terapêuticas aos nitroimidazóis estão sendo estudadas. Embora os índices de curas serem altos, falhas durante o tratamento podem ocorrer, devido a reinfecção ou não-adesão a terapia. Outras possíveis causas podem ser, baixa concentração de zinco no soro, baixa absorção do fármaco, distribuição não efetiva do fármaco na região genital ou inativação do fármaco, por ação de bactérias presentes na flora vaginal nas pacientes.
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