Buscar

Apostila Ética Ética Profissional Ética Empresarial

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 95 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 95 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 95 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Núcleo de Educação a Distância
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
 Ética /
Ética Profissional / Ética Empresarial
Créditos e Copyright	
GAZETA, Alexandre Perles.
Ética. Revisado por Juliana Janaína Tavares Nóbrega em 2015.1. Santos: Núcleo de Educação a Distância da UNIMES, 2008. (Material didático. Curso de Filosofia).
 
Modo de acesso: www.unimes.br
1. Ensino a distância. 2. Filosofia. 3. Ética
CDD 100
	
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PLANO DE ENSINO
CURSO: Licenciaturas / Bacharelados / Tecnológicos
COMPONENTE CURRICULAR: Ética / Ética Profissional / Ética Empresarial
SEMESTRE: 3º
CARGA HORÁRIA TOTAL: 80 horas
(*) Disciplina que contempla a transversalidade.
 
EMENTA: As principais teorias filosóficas de pensadores de diferentes épocas históricas sobre os fenômenos humanos da ética e da moralidade. As relações entre ética e liberdade.  A ética na contemporaneidade. Bioética. Os fundamentos ontológicos da dimensão ético-moral da vida social, organizacional e seus rebatimentos na ética profissional. O processo de construção do ethos profissional: valores e implicações no exercício profissional.
 
OBJETIVO GERAL: Conhecer as principais teorias filosóficas sobre os fenômenos humanos da ética e da moralidade.
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 
UNIDADE I – Introdução à Ética
Conhecer as diferentes concepções filosóficas de ética em um breve histórico do conceito de ética na filosofia moral. Discutir a crise ética do mundo contemporâneo e conhecer os pensadores da pós-modernidade.
UNIDADE II – Ética, moral e sociedade
Conhecer o conceito e o caráter histórico de moralidade segundo a filosofia. Relacionar ética, moral e direito.
UNIDADE III – Ética e liberdade
Investigar os conceitos de liberdade e determinismo. Relacionar ética e liberdade e suas diferentes concepções.
UNIDADE IV – Ética e sociedade contemporânea 
Analisar o problema da ética no mundo contemporâneo. Discutir a ética aplicada ao mundo do trabalho, no nível familiar, na sociedade da informação. Relacionar ética e cidadania.
 
CONTEÚDO  PROGRAMÁTICO:
Unidade I 
Aula 01 - O que é ética?   
Aula 02 - Origens da Ética: A Grécia Antiga
Aula 03 - Idade Média e a Ética cristã
Aula 04 - A ética na Idade Moderna
Aula 05 - A ética no mundo contemporâneo (I)
Aula 06 - A ética no mundo contemporâneo (II)
Aula 07 - Civilização e valores
Aula 08 - A ética na pós-modernidade
 
Unidade II 
Aula 09 - Ética e moral: distinções e aproximações
Aula 10 - Ética e religião
Aula 11 - A busca pela Ética laica
Aula 12 - Os ideais éticos
Aula 13 - Entre o bem e o mal: considerações sobre o comportamento moral
Aula 14 - Moral e Direito
Aula 15 - Vício e Virtude
Aula 16 - O caráter histórico e as transformações das normas morais 
 
Unidade III 
Aula 17 - Racionalidade e Liberdade
Aula 18 - Liberdade:  predestinação e livre-arbítrio    
Aula 19 - A liberdade absoluta é possível?      
Aula 20 - Determinismo versus liberdade absoluta    
Aula 21 - Concepções filosóficas de liberdade (I)
Aula 22 - Concepções filosóficas de liberdade (II)
Aula 23 - Concepções filosóficas de liberdade na contemporaneidade
 
Unidade IV 
Aula 24 - Por que ainda hoje falamos em Ética?        
Aula 25 - A ética profissional
Aula 26 - A ética relativa à família e à sociedade civil
Aula 27 - A ética na política
Aula 28 - A ética na sociedade tecnológica (I): origens do problema         
Aula 29 - A ética na sociedade tecnológica (II): A crise de valores do mundo contemporâneo
Aula 30- A ética na sociedade tecnológica (III): possibilidades de futuro
Aula 31 - Ética e responsabilidade: a construção da democracia
Aula 32 - Por uma ética planetária 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA: 
KANT, Immanuel. Metafísica dos Costumes.  Petrópolis: Vozes, 2013. (Pearson-19-02-19)
MARCONDES, Danilo. Textos básicos de ética: de Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Zahar. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788537801888. Acesso em: 19 fev. 2019.
MÁTTAR NETO, João Augusto. Filosofia e ética na administração. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. ISBN 9788502110588. Disponível em: <http://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788502110588>. Acesso em: 27 fev. 2019.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
BONFANTI, Janete; KUIAVA, Evaldo Antonio (orgs.) E. Ética, política e subjetividade. Caxias do Sul: Educs, 2010. (Pearson-19-02-19)
GALLO, Silvio (coord.). Ética e cidadania, caminhos da filosofia. Campinas: Papirus, 2015. (Pearson-19-02-19)
HERMANN, Nadja. Ética e educação: outra sensibilidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2014. (Pearson-19-02-19)
NODARI, Paulo Cesar. Sobre ética: Aristóteles, Kant, Levinas. Caxias do Sul: Educs, 2010. (Pearson-19-02-19)
PERISSÉ, Gabriel. Filosofia, ética e literatura. São Paulo: Manole, 2004. (Pearson-19-02-19)
METODOLOGIA: 
A disciplina está dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por meio de recursos didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas, fóruns e atividades individuais. O trabalho educativo se dará por sugestão de leitura de textos, indicação de pensadores, de sites, de atividades diversificadas, reflexivas, envolvendo o universo da relação dos estudantes, do professor e do processo ensino/aprendizagem.
 
AVALIAÇÃO: 
 A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações a distância e Prova Presencial, de acordo com a Portaria de Avaliação vigente.
Sumário
Aula 1_O que é ética?	10
Aula 2_Origens da Ética: A Grécia Antiga.	12
Aula 3_Idade Média e a Ética cristã.	14
Aula 4_A ética na Idade Moderna.	16
Aula 5_A ética no mundo contemporâneo (I).	19
Aula 06_A ética no mundo contemporâneo (II).	21
Aula 07_Civilização e valores.	24
Aula 8_A ética na pós-modernidade.	27
Vimos nas aulas anteriores como as concepções éticas contemporâneas percorreram diferentes caminhos analíticos para dar conta das transformações e desafios impostos pelo mundo capitalista contemporâneo. Outro momento importante das reflexões filosóficas acerca da ética corresponde a chamada pós-modernidade. Tal período compreende as transformações do pós-guerra e a construção de modelos analíticos que buscam explicar a realidade a partir de novos paradigmas. Isso porque os modelos teóricos e analíticos dos autores dos séculos XVIII e XIX seriam incapazes e insuficientes de por si, interpretar a nova realidade criada pela Terceira Revolução Industrial e a nova ordem mundial.	27
Resumo_Unidade I	30
Aula 9_Ética e moral: distinções e aproximações.	32
Aula 10_Ética e religião.	34
Aula 11_A busca pela Ética laica.	36
Aula 12_Os ideais éticos.	38
Aula 13_Entre o bem e o mal: considerações sobre o comportamento moral.	42
Aula 14_Moral e Direito.	45
Aula 15_Vício e Virtude.	47
Aula 16_O caráter histórico e as transformações das normas morais.	49
Resumo_Unidade II	51
Aula 17_Racionalidade e Liberdade.	53
Aula 18_Liberdade:  predestinação e livre-arbítrio.	56
Aula 19_A liberdade absoluta é possível?	58
Aula 20_Determinismo versus liberdade absoluta	60
Aula 21_Concepções filosóficas de liberdade (I).	64
Aula 22_Concepções filosóficas de liberdade (II).	66
Aula 23_Concepções filosóficas de liberdade na contemporaneidade.	69
Resumo_Unidade III	71
Aula 24_Por que ainda hoje falamos em Ética?	73
Aula 25_A ética profissional.	75
Aula 26_A ética relativa à família e à sociedade civil.	78
Aula 27_A ética na política.	80
Aula 28_A ética na sociedade tecnológica (I): origens do problema	82
Aula 29_A ética na sociedade tecnológica (II): A crise de valores do mundo contemporâneo.	84
Aula 30_A ética na sociedade tecnológica (III): possibilidades de futuro.	86
Aula 31_Ética e responsabilidade: a construção da democracia.	88
Aula 32_Por uma ética planetária.	90
Resumo_Unidade IV	92
	
Aula1_O que é ética?
 
Prezado aluno
Vamos iniciar nossa disciplina com uma breve conceituação palavra “ética”, considerando o uso cotidiano e o pensamento de filósofos de diferentes períodos históricos. É muito comum ouvirmos alguém dizer que fulano não possui ética ou que uma determinada atitude é antiética. E você, o que vem a sua mente quando pensa em ética? Você concorda ser possível ora agirmos com ética e ora sem ética? Afinal, o que é ética? Esses e outros questionamentos serão objetos de discussão de nossa primeira aula. 
Também chamada de “filosofia moral”, ética é a parte da filosofia que reflete sobre os princípios da vida moral, isto é, sobre os valores em sociedade. É a reflexão crítica sobre a moralidade e busca a consistência dos valores morais. A ética não estabelece regras, mas questiona o fundamento dessas regras, a partir de uma concepção de homem determinada.
Porque a ética é necessária e importante?
A ética tem sido o principal regulador do desenvolvimento histórico-cultural da humanidade. Sem ética, ou seja, sem a referência a princípios humanitários fundamentais comuns a todos os povos, nações, religiões etc, a humanidade já teria se despedaçado. No entanto, também é verdade que a ética não garante o processo moral da humanidade.
O fato de que os seres humanos são capazes de concordar minimamente entre si sobre princípios como justiça, igualdade de direitos, dignidade da pessoa humana cidadania plena, solidariedade etc., cria chances para que esses princípios possam vir a ser postos em prática..
As nações do mundo já entraram em acordo em torno de muitos desses princípios. A "Declaração Universal dos Direitos Humanos", promulgada pela ONU, é uma demonstração da importância da ética. Porém, a ética não basta como teoria, nem como um conjunto de princípios gerais acordados pelas nações. Não é suficiente também que as Constituições dos países reproduzam esses princípios — como a Constituição Brasileira o fez, em 1988). É preciso que cada cidadão incorpore esses princípios como uma atitude prática na vida cotidiana, de modo a pautar por eles, seu comportamento.
 
Ética e a convivência humana 
Falar de ética é falar de convivência humana. São os problemas da convivência humana que geram os problemas da ética. Os seres humanos não vivem isolados, e convivem não por escolha, mas por sua constituição vital. Há necessidade da ética surge quando um ser humano se vê diante de outro ser humano.
O “outro”, para a ética, não é apenas o outro imediato, próximo, com quem convivemos ou com quem casualmente nos deparamos. Está presente também no futuro (temporalidade) e está presente em qualquer lugar, mesmo que distante (espacialidade).
O principio fundamental que constitui a ética é o reconhecimento do outro como um sujeito de direitos, cuja vida deve ser tão digna quanto a nossa dever ser. Ou seja, trata-se do fundamento dos direitos e da dignidade do outro e da sua própria vida e liberdade (possibilidade) de viver plenamente. As obrigações éticas da convivência humana devem se pautar não apenas por aquilo que já temos, já realizamos ou já somos no presente,mas também por tudo aquilo que poderemos vir a ter, a realizar ou ser no futuro. As possibilidades de ser são parte de nossos direitos e de nossos deveres. São partes da ética da convivência.
A atitude ética é uma atitude de amor pela humanidade.
Aula 2_Origens da Ética: A Grécia Antiga.
Nessa aula, convido você para uma viagem ao túnel do tempo, a fim observar as mudanças e os diferentes olhares sobre a ética ao longo da história. O inicio de nosso resgate histórico é a Grécia Antiga.
Nessa aula você vai estudar:
·  As concepções de Ética para os principais pensadores da Filosofia Grega: Sócrates, Platão e Aristóteles.
· As contribuições desses pensadores para o desenvolvimento dos estudos filosóficos da Ética.
Desde a antiguidade, o ser humano foi obrigado a pensar em padrões de comportamento que viabilizassem o convívio social e político entre os membros das comunidades. A partir desses padrões, criaram-se normas de conduta, muitas vezes, transformadas em leis. Em muitos casos, essas leis não foram consensuais, e sim impostas pelo pode constituído. Porém, as leis tratam de causa e efeito. Elas ditam o que se pode ou não fazer e trazem embutido, as penalidades para os desobedientes.
Desde os primórdios das sociedades, surgiram situações que exigiram a diferenciação entre o certo e o errado — o que para alguns era o certo para outros, parecia incorreto. Essa distinção desponta como um dos grandes dilemas sociais. A partir das definições filosóficas chegamos à ética, que pretende clarear as interpretações do certo e do errado ou do que se deve e se pode ou não fazer.
Para ajudar a compreender a  definição de ética, podemos fazer um breve relato histórico da evolução do conceito, a partir dos grandes filósofos e pensadores.
A história da ética se entrelaça com a história da filosofia.
Na Grécia, no século VI a.C., Pitágoras desenvolveu uma das primeiras reflexões morais a partir do orfismo[1], afirmando que a natureza intelectual é superior à natureza sensual e que a melhor vida é aquela dedicada à disciplina mental.
Foi a partir de Sócrates (469 a.C -399 a.C.), que a Filosofia passou das questões da cosmologia e investigação da natureza, para se ocupar de problemas relativos ao ser humano e suas ações. Enquanto os sofistas se mostraram céticos, no que se refere aos sistemas morais absolutos, Sócrates acreditava que a virtude surgia do conhecimento e a educação podia fazer as pessoas serem e agirem de acordo com a moral. Os ensinamentos de Sócrates modelaram a maior parte das escolas posteriores de filosofia moral,  entre as quais se destacaram os cínicos, os cirenaicos, os megáricos e os platônicos.
Para Platão (427-347a.C.), o mal não existe por si só, mas é apenas um reflexo imperfeito do real que é o bem, essência da realidade presente no mundo perfeito das ideias. Platão Afirmava que o intelecto tem que ser soberano na alma humana, seguido da vontade e sujeitando as emoções.
O primeiro a organizar de forma sistemática essas questões foi o filósofo grego Aristóteles (384 - 322 a.C.). Em sua obra, entre outros pontos, destacam-se os estudos sobre a relação entre a ética individual e a social, e entre a vida  teórica e a prática. Ele também classifica as virtudes como valores morais que derivam dos costumes e servem para promover a ordem política. Já a  sabedoria e a prudência estão vinculadas à inteligência ou à razão. Para Aristóteles, a finalidade da vida do ser humano era a felicidade (εὐδαιμονία, eudaimonia) resultante do único atributo humano: a razão, sendo as virtudes intelectuais e morais apenas meios para sua realização.
Para o estoicismo, a natureza é ordenada e racional, o indivíduo tem que se tornar independente das circunstâncias materiais  e entrar em harmonia com a natureza através da prática de algumas virtudes como a prudência, a temperança e a justiça.
O epicurismo, por sua vez, identificava como o bem, o prazer, principalmente intelectual e, tal como os estoicos, preconizava uma vida dedicada à contemplação.
[1] Seita religiosa filosófica da Grécia Antiga
Aula 3_Idade Média e a Ética cristã.
 
Esperamos que você tenha gostado de conhecer as diferentes concepções éticas da antiguidade. Os gregos antigos eram impressionantes, você não acha? Entretanto, devemos considerar que os modelos éticos do período clássico eram aplicáveis, apenas, às classes dominantes.
 Em relação ao segundo modelo ético da história ocidental, o modelo medieval, grande parte do apelo do cristianismo se explica pela extensão da cidadania moral a todos, inclusive aos escravos. A doutrina cristã revolucionou a ética, ao introduzir uma concepção religiosa de bem no pensamento ocidental. De acordo com a ideia cristã, toda pessoa depende inteiramente de Deus e só pode alcançar a bondade com ajuda de sua graça. À medida que a Igreja medieval se tornava mais poderosa, desenvolvia-se um modelo de ética que associava castigos aos pecados e recompensaàs virtudes.
Com a forte influência do cristianismo sobre a moral, entraram em cena valores como a autonegação, a humildade e a prontidão para obedecer, uma vez que, com a concepção cristã, o homem passou a ser considerado a imagem e semelhança de Deus, sendo Deus, por sua vez, considerado o início e fim de tudo, inclusive da lei moral. Alguns valores morais como a fé, a esperança e a caridade, além da igualdade, passaram a fazer parte da ética cristã que regulava a vida das pessoas. A religião estava muito presente na filosofia.
A reforma protestante trouxe um retorno aos princípios básicos, unindo-os à tradição cristã. A responsabilidade individual passou a ser mais importante do que a obediência à autoridade ou à tradição. Essa transformação possibilitou, indiretamente, ao surgimento da ética moderna.
A Idade Média foi vista pelo renascimento [1] de forma preconceituosa, como um período de obscuridade e ignorância. Entretanto, nesse período, houve realizações significativas no campo cultural, filosófico e científico, como a preservação da cultura greco-romana, organização do sistema educacional e criação de escolas. A ética cristã, difundida amplamente nesse período, visava regular a vida das pessoas, apontando para o mundo futuro. 
Os dois pensadores mais conhecidos da Filosofia Medieval Ocidental são:
Santo Agostinho, que em um a época em que a razão estava em decadência,  tentou restaurá-la através da fé, pois para ele, era preciso "compreender para crer e crer para compreender". Segundo Agostinho, Deus é a bondade absoluta e o homem tem o livre-arbítrio para optar entre os ensinamentos divinos e o pecado e a graça divina para se redimir se optar pelo pecado.
São Tomás de Aquino pregava que o fim último é Deus, do qual depende a felicidade humana, considerando a fé mais importante que a razão e a filosofia. O caminho para atingir o fim e, consequentemente, a felicidade, seria a contemplação de Deus e o conhecimento dele e de seus atributos.
Essas visões, apresentadas na Idade Média, transformam a ideia de felicidade como busca individual para a de algo atingível somente com a "ajuda" de Deus. A felicidade passou a ser uma bem-aventurança associada à fé cristã.
Aula 4_A ética na Idade Moderna.
Vimos nas aulas anteriores que a ética, desde a Grécia Antiga até a Idade Média, fora entendida como a busca pela virtude, isto é, pelas ações virtuosas que assegurariam a felicidade humana. É claro que há diferenças fundamentais entre a abordagem dos antigos gregos e dos pensadores cristãos medievais, mas é inegável que a questão da ação orientada por um bem supremo encontra-se tanto em uma quanto em outra abordagem.
Nesta aula estudaremos como os pensadores da chamada Idade Moderna consideraram o tema da ética. 
O movimento cultural que sucedeu no tempo e que criticou o sistema filosófico medieval foi o Renascimento. Esse movimento buscou no humanismo[1], estabelecer uma nova abordagem da moral humana, centrada na noção de autonomia. Esse será o tema de discussão em nossa aula: a passagem de uma ética teocêntrica (o centro é Deus) para uma ética antropocêntrica (o centro é o homem).
Desejamos que ao final dessa aula você possa entender melhor:
·  A contribuição do movimento renascentista à concepção antropocêntrica de ética.
· A influência do Iluminismo sobre a construção de uma noção de ética baseada na concepção de uma natureza racional do homem.
[1] O humanismo foi um movimento intelectual iniciado na Itália no século XIV com o Renascimento e difundido pela Europa, rompendo com a forte influência da Igreja e do pensamento religioso da Idade Média. O teocentrismo (Deus como centro de tudo) cede lugar ao antropocentrismo, passando o homem a ser o centro de interesse. O humanismo procura o melhor nos seres humanos e para os seres humanos sem se servir da religião. A filosofia humanista oferecia novas formas de reflexão sobre as artes, as ciências e a política, revolucionando o campo cultural e marcando a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna. Através das suas obras, os intelectuais e artistas passaram a explorar temas que tivessem relação com a figura humana, inspirados pelos clássicos da Antiguidade greco-romana como modelos de verdade, beleza e perfeição. [...] Nas artes plásticas e na medicina, o humanismo esteve representado em obras e estudos sobre anatomia e funcionamento do corpo humano. Nas ciências, houve grandes descobertas em vários ramos do saber como a física, matemática, engenharia, medicina, etc.[...].
(fonte: http://www.significados.com.br/ )
Com a ascensão do capitalismo, o desenvolvimento científico, o fortalecimento da burguesia e com a perda de influência da Igreja Católica na Idade Moderna, o indivíduo passou a ter valores próprios, tornando-se fim e fundamento, e agregando os outros valores através da ciência, política, arte e da moral.
Entre a época medieval e a modernidade, o italiano Nicolau Maquiavel apareceu como “o Colombo do novo mundo moral” e provocou uma revolução na ética.
Maquiavel negava as concepções grega e cristã de virtude, construindo modelo moral com base na virilidade dos antigos romanos. Para ele, a ética cristã é “efeminada”. Maquiavel influenciou o inglês Thomas Hobbes e o holandês Baruch Spinoza (Benedito em hebraico), pensadores modernos, extremamente realistas no que se refere à ética.
Hobbes, em sua obra Leviatã, afirmava que os seres humanos no estado de natureza são maus e necessitam de um Estado forte que os reprima. Para Spinoza, a razão humana é o critério para uma conduta correta e só as necessidades e interesses do homem determinam o que pode ser considerado bom e mau, o bem e mal.
A maior parte dos grandes descobrimentos científicos afetaram diretamente as concepções éticas. As pesquisas de Isaac Newton foram consideradas prova da existência de uma ordem divina racional.
Nos séculos XVIII e XIX, o francês Jean- Jacques Rousseau e os alemães Emmanuel Kant e Friedrich Hegel foram os principais filósofos que discutiram a ética. Segundo Rousseau, o homem é bom por natureza e seu espírito pode sofrer um aprimoramento quase ilimitado. Em seu livro O Contrato social, atribuía o mal ético aos desajustamentos sociais e, principalmente, a propriedade.
Para Kant, “ética” é a obrigação de agir segundo regras universais com as quais todos concordam. O reconhecimento dos outros homens é o principal motivador da conduta individual. 
Uma das maiores contribuições à ética foi a de Immanuel Kant, em fins do século XVIII. Segundo Kant, a moralidade de um ato não deve ser julgada por suas consequências, mas sim pela sua motivação ética. Kant falava de um princípio de moral implícito, questionando a origem dos princípios implícitos: seriam oriundos da experiência humana? Esta é ambígua e incompleta. São, então, princípios a priori, gerados pela razão e não por generalizações da experiência.
Kant elaborou a doutrina que afirma que a lei moral era apresentada ao homem em sua própria consciência e que a "boa vontade" é que define as ações do homem. A moral kantiana está baseada na pura razão e no puro dever. A prática moral deve se basear apenas nas orientações da razão deixando de lado o mundo empírico. Dessa forma, o comando moral que determina nossas ações como sendo moralmente boas, se apresenta no imperativo categórico: “[...] age só segundo máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal” (KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes e Outros Escritos. São Paulo: Martin Claret: 2004, p.51). 
Aula 5_A ética no mundo contemporâneo (I).
 
Na aula anterior aprendemos que a ética na modernidade compreendia uma crítica radical à concepção ética medieval na relação pessoal, individual, de cada um com Deus, concebido como o criador onipresente e onisciente. Para os filósofos da modernidade, a moral não mais deveria ser fundada em valores religiosos, mas em valores oriundos da compreensão racional acerca do que seja a natureza humana.
 A reflexão ética na Idade Contemporânea (século XIX em diante) apresenta umadiversidade de concepções que tratam da ética e da moral a partir de diferentes perspectivas. A despeito das diferenças analíticas, podemos afirmar que existe um ponto em comum entre as correntes filosóficas que refletem sobre a ética contemporânea: a negação de uma fundamentação exterior, isto é, de caráter transcendental para a ética e a moralidade. Tal recusa está alicerçada no entendimento de que a origem dos valores e das normas morais reside no próprio homem e nas relações sociais estabelecidas pela sociedade.
O objetivo desta aula consiste em apresentar as concepções éticas contemporâneas a partir da pluralidade de enfoques filosóficos. De um modo geral, estudaremos a reação dos autores contemporâneos contra o formalismo presente na ética kantiana.
A ética kantiana é considerada formal, porque ela defende o dever como uma norma universal que desconsidera a dimensão individual e o contexto em que cada um se encontra no cumprimento do dever. Kant se preocupou excessivamente com a forma da ação moralmente correta, em detrimento do conteúdo dessa ação. 
A Idade Contemporânea tem sido um período de grande progresso científico e de valorização do ser humano concreto; a época que viu consagrados os princípios básicos de igualdade e liberdade.
A inovação científica que mais afetou a ética, depois de Newton, foi a teoria da evolução apresentada por Charles Darwin. Suas conclusões formaram o suporte teórico da chamada ética evolutiva, do filósofo Herbert Spencer, para quem a moral resulta apenas de certos hábitos adquiridos pela humanidade ao longo de sua evolução.
Para o filósofo alemão Karl Marx o homem não é essência nem um “recipiente” no qual o Espírito se manifesta, tal como imaginava Hegel, mas sim, um ser situado num campo preenchido por relações sociais determinadas pela produção social da vida material.
Marx foi o fundador e maior representante do materialismo histórico e entendia que o ser humano era, ao mesmo tempo, social e histórico, objetivo e subjetivo, capaz de criar, interferir e transformar a realidade. Para ele, a moral serve de justificação para as relações materiais e sociais que os seres humanos estabelecem entre si. A moral para Marx é relativa, pois está condicionada ao momento, às condições históricas e de classe.
Com isso, Marx deixa claro seu entendimento com relação à ética: por ser o homem um ser eminentemente social, a ética corresponde a uma produção social que visa contribuir para a regulação das relações sociais que, por sua vez, transformam-se ao longo da história. Sendo assim, para o filósofo alemão a ética é produto de uma forma de consciência própria a cada momento histórico do desenvolvimento da existência social. 
O que podemos observar é que a eticidade só emerge em processos de interação em que indivíduos humanos interagem em situações relacionadas com valores éticos. Os próprios valores, não podem ser considerados anteriores, nem posteriores à instauração do grande processo histórico de interação: eles emergiram juntamente com as diversas formas de convívio e diálogo entre indivíduos humanos no contexto de um grupo ou de uma comunidade humana.
Aula 06_A ética no mundo contemporâneo (II).
Como você pôde perceber as concepções éticas que marcaram o início da Idade Contemporânea tiveram o mérito de desconstruir a noção formal de ética e moral, legadas pela filosofia de Kant. Nesta aula iremos conhecer outras correntes filosóficas que contribuíram significativamente para as reflexões filosóficas acerca da ética e moralidade humanas. Podemos situá-las em dois eixos de análise: as filosofias que abordam a ética a partir de uma concepção comportamentalista, isto é, o centro da análise é o modo como o homem se comporta eticamente; e outras que partem da crítica ao racionalismo ético presente nas sociedades ocidentais cristãs e burguesas. 
No final do século XIX, as teses do utilitarismo, formuladas por Jeremy Bentham, sugeriam o princípio da utilidade como meio de contribuir para aumentar a felicidade da comunidade.
Charles Sanders Peirce definiu o pragmatismo como método por seu objetivo que consistia em auxiliar a compreensão da ciência e da filosofia. Ele procurava compreender a relação entre teoria e prática, pensamento e ação. Portanto, para ele não existem valores absolutos.
Georg Wilhelm Friedrich Hegel afirmava que a história do mundo consiste em “disciplinar a vontade natural descontrolada, levá-la a obedecer a um princípio universal e facilitar uma liberdade subjetiva”.
 Outro nome de fundamental importância para reflexão contemporânea sobre ética foi o do filósofo Friedrich Nietzsche. Nietzsche explicou que a chamada conduta moral só é necessária para o fraco, que por meio dela, pode impedir a auto realização do mais forte. O filósofo criticou o racionalismo ético ocidental devido ao elemento repressor, considerado por ele, um empecilho ao desenvolvimento da liberdade humana.
Nietzsche desenvolveu uma crítica contundente à moralidade cristã-ocidental, considerada uma moral de rebanhos, de vencidos que perderam a vontade de potência. As noções de pecado, de culpa e de inferno são formas de dominação da força vital individual. 
Abaixo, uma citação de sua obra Genealogia da Moral:
 
— Alguém quer descer o olhar sobre o segredo de como se fabricam ideais na terra? Quem tem a coragem para isso?… Muito bem! Aqui se abre a vista a essa negra oficina. Espere ainda um instante, senhor Curioso e Temerário: seu olho deve primeiro se acostumar a essa luz falsa e cambiante… Certo! Basta! Fale agora! Que sucede ali embaixo? Diga o que vê, homem da curiosidade perigosa — agora sou eu quem escuta. —
— “Eu nada vejo, mas por isso ouço muito bem. É um cochichar e sussurrar cauteloso, sonso, manso, vindo de todos os cantos e quinas. Parece-me que mentem; uma suavidade visguenta escorre de cada som. A fraqueza é mentirosamente mudada em mérito, não há dúvida — é como você disse” —
— Prossiga!
— “e a impotência que não acerta contas é mudada em ‘bondade’; a baixeza medrosa, em ‘humildade’; a submissão àqueles que se odeia em ‘obediência’ (há alguém que dizem impor esta submissão — chamam-no Deus). O que há de inofensivo, fraco, a própria covardia na qual é pródigo, seu aguardar-na-porta, seu inevitável ter-de-esperar, recebe aqui o bom nome de ‘paciência’, chama-se também a virtude; o não-poder-vingar-se chama-se não-querer-vingar-se, talvez mesmo perdão (‘pois eles não sabem o que fazem — somente nós sabemos o que eles fazem!’). Falam também do ‘amor aos inimigos’ — e suam ao falar disso.”
— Prossiga!
— “São miseráveis, não há dúvida, esses falsificadores e cochichadores dos cantos, embora se mantenham aquecidos agachando-se apertados — mas eles me dizem que sua miséria é uma eleição e distinção por parte de Deus, que batemos nos cães que mais amamos; talvez essa miséria seja uma preparação, uma prova, um treino, talvez ainda mais — algo que um dia será recompensado e pago com juros enormes, em ouro, não! Em felicidade. A isto chamam de ‘bem-aventurança’, ‘beatitude’.”.
— Prossiga!
— “Agora me dão a entender que não apenas são melhores que os poderosos, os senhores da terra cujo escarro têm de lamber (não por temor, de modo algum por temor! E sim porque Deus ordena que seja honrada a autoridade) — que não apenas são melhores, mas também ‘estão melhores’, ou de qualquer modo estarão um dia. Mas basta, basta! Não aguento mais. O ar ruim! O ar ruim! Esta oficina onde se fabricam ideais — minha impressão é de que está fedendo de tanta mentira!” (NIETSZCHE, F. Genealogia da moral: uma polêmica. São Paulo: Cia. das Letras, 1998, p. 37,38).
 
 Nietzsche, que chegou a cogitar seguir o protestantismo dos seus pais, afastou-se para criticá-lo. Em suas obras, Nietzsche promoveu uma grande inversão de valores, colocando em segundo plano os valores que a sociedade julgava fundamentais e certos. Procurou dissolver a afirmação que colocava a verdade como um bem e o erro como um mal, questionando o porquê da valorização de alguns atos e não de outros.
 A ética moderna também sofreu influênciasda psicanálise de Sigmund Freud e das doutrinas behavioristas. Freud atribuiu o problema do bem e do mal em cada indivíduo, à luta entre o impulso do eu instintivo para satisfazer a todos os seus desejos e a necessidade do eu social de controlá-los ou reprimi-los (id, superego e ego como elementos formadores do inconsciente). O behaviorismo, através da observação dos comportamentos animais, reforçou a idéia da possibilidade de mudar a natureza humana, facilitando as condições que favoreçam os desejos de mudança.
Aula 07_Civilização e valores.
Algumas reflexões éticas da Idade Contemporânea, como as de Nietzsche e de Freud demonstraram o aspecto repressivo da moral, questionando o aspecto racional como elemento determinante da ação moral.
Nesta aula conheceremos mais sobre a contribuição da psicanálise — por meio das formulações teóricas de seu maior expoente Sigmund Freud — para o campo das reflexões éticas, mais especificamente, questionando o conceito de civilização e a construção de valores na sociedade ocidental. 
As reflexões desta aula, que se apresentam na discussão abaixo, são baseadas na leitura da obra Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia, de Sílvio Gallo.
 
A civilização parece não respeitar a lei fundamental que criou para que pudesse existir: “é proibido matar!” Se existem práticas homicidas, os critérios de bondade e justiça não são cumpridos. Os assassinatos revelam o conflito irremediável entre a liberdade e a lei. “Lei” que foi construída para garantir o exercício da liberdade. (GALLO, Silvio, Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia, SP: Papirus, 1997, p. 56).
 
No entanto, acaso deveríamos julgar livres os indivíduos que praticam crimes? Seriam eles livres em suas ações ou não? O critério de justiça determina a prisão (perda da liberdade) para quem cometer homicídio. Mas por que só os pobres são condenados à prisão? Por que os chamados "crimes de colarinho-branco" não são punidos com a prisão? Observe que essas questões remetem ao campo da reflexão ética.
Em 1930, Sigmund Freud — o criador da psicanálise — publicou um livro com o título O mal-estar na civilização. Nessa obra, Freud fez um diagnóstico do processo civilizatório e constatou que os seres humanos estão condenados a viver nesse conflito irremediável entre as exigências pulsionais (a liberdade) e as restrições sociais (as leis).
Freud retomou a clássica questão aristotélica que atravessou a história ocidental: O que os homens pedem da vida e o que desejam nela realizar? A resposta é categórica: a felicidade. Os homens querem ser felizes e assim permanecer. Toda ação humana tem em vista a conquista da felicidade.
Para analisar por que nos afastamos desse propósito, Freud apresenta uma reflexão que é decisiva para pensarmos a ética civilizatória como promessa de felicidade: grande parte das lutas da humanidade centraliza-se em torno da tarefa única de encontrar uma acomodação conveniente que traga felicidade. Entre a reivindicação do indivíduo (liberdade) e as reivindicações culturais do grupo (leis), incide o problema de saber se tal acomodação pode ser alcançada por meio de alguma forma específica de civilização (religião, ciência, filosofia, arte) ou se esse conflito é irreconciliável. A posição de Freud é clara: o conflito é irremediável.
A tarefa da civilização é humanizar esse animal racional chamado homem. Acompanhando os argumentos de Freud na obra citada, podemos encontrar elementos para caracterizar o processo civilizatório construído pelos seres humanos. A civilização é concebida como tudo aquilo por meio do que a vida humana se elevou acima de sua condição animal. Os humanos são seres da cultura. A cultura é a morada do homem. O acesso aos bens culturais produzidos em toda a história define nossa condição humana. O homem é um animal cujo maior desejo é tornar-se humano.
A elevação apontada por Freud é o que nos diferencia dos outros animais. A vida humana difere da vida dos animais em dois aspectos: os conhecimentos e as capacidades adquiridas para controlar as forças da natureza; e os regulamentos (leis, normas, regras) para ajustar as relações dos homens, uns com os outros.
Na luta pela sobrevivência o animal racional precisa enfrentar três grandes desafios: o poder superior da natureza, que nos ameaça com forças de destruição; a fragilidade de seu próprio corpo, condenado à dissolução; e as leis que regulam suas ações sociais. Os conhecimentos científicos e tecnológicos e  as práticas religiosas, os sistemas de crenças procuram responder a esses desafios. As teorias filosóficas e as produções artísticas inserem-se nessa tarefa de encontrar caminhos para esse os percalços e significações da vida humana.
Aula 8_A ética na pós-modernidade.
Vimos nas aulas anteriores como as concepções éticas contemporâneas percorreram diferentes caminhos analíticos para dar conta das transformações e desafios impostos pelo mundo capitalista contemporâneo. Outro momento importante das reflexões filosóficas acerca da ética corresponde a chamada pós-modernidade. Tal período compreende as transformações do pós-guerra e a construção de modelos analíticos que buscam explicar a realidade a partir de novos paradigmas. Isso porque os modelos teóricos e analíticos dos autores dos séculos XVIII e XIX seriam incapazes e insuficientes de por si, interpretar a nova realidade criada pela Terceira Revolução Industrial e a nova ordem mundial.
 Alguns pensadores lançaram-se na tentativa de estabelecer novos parâmetros para a análise em torno da ética dessa sociedade pós-moderna, pautada numa incrível renovação dos meios de produção e das comunicações. Dentre as principais correntes filosóficas podemos citar o existencialismo, representado dentre outros filósofos, por Jean Paul Sartre, e a teoria crítica da Escola de Frankfurt, cujos principais expoentes são Herbert Marcuse, Theodor Adorno, Max Horkheimer e Jürgen Habermas.
Jean Paul Sartre, filósofo e representante do existencialismo ateu, rejeita toda a verdade metafísica assim como todo valor universal. Como para ele não existe destino ou Deus, o ser humano deve sempre escolher, e é totalmente responsável por suas escolhas. Para ele, a ética baseia-se na liberdade como fim: “o homem está condenado a ser livre”, já que não é possível a não escolha, sendo esta já uma escolha, a de não escolher. Portanto, o valor moral não se da através da submissão a princípios pré-estabelecidos. 
Sartre afirma que o homem é um ser no mundo, não havendo uma natureza humana, mas sim uma condição humana, que faz com que o homem seja responsável pelo todo. Dessa forma, ao fazer uma escolha, o homem não escolhe somente a si mesmo, mas escolhe toda a humanidade. Ao escolher o que deseja ser, ele julga como todos deveriam ser. Afirma Sartre: “O homem está condenado à subjetividade humana. O homem é responsável por toda a humanidade”. (SARTRE, J. P. O Existencialismo é um Humanismo. (Os Pensadores). 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1987)
Escola de Frankfurt 
Grande responsável pelos debates sobre os estudos da razão e as críticas sobre as consequências da atividade científica, o surgimento da escola de Frankfurt se deu no momento em que a confiança cega na razão foi desfeita, dando lugar à crítica no seu poder de levar os seres humanos a situações verdadeiramente humanas. É conhecida pela ênfase que deu aos estudos sobre a razão. Suas reflexões partiram das teorias marxistas e freudianas, assim como também possui influencias de Hegel, Kant e Max Weber.
Theodor Adorno criticou o otimismo de Walter Benjamin sobre o poder revolucionário do cinema, pois acreditava que ele não discutia o antagonismo existente no interior da técnica. Discute também a indústria cultural como portadora da ideologia dominante e comprometida em determinar o consumo.
Max Horkheimer, que tem participação na discussão sobre a cultura em conjunto com Adorno, delineou os traços principais da teoria crítica, em oposição à teoria tradicional que, segundo ele, era assentada no pensamento cartesiano. Sua proposta é no sentido de os indivíduosreagirem às imposições totalizadoras impostas pelo positivismo.
Herbert Marcuse, fortemente influenciado por Marx e Freud, analisa que a relação entre a liberdade e a servidão passou a ser considerada algo natural, assim como o amalgama que se fez entre a libertação e a agressão, produção e destruição. Prega que é necessário mudar os rumos da ideia do progresso.
Por ultimo, Jürgen Habermas, que faz parte do segundo momento da escola de Frankfurt, tenta dar continuidade ao pensamento frankfurtiano através da teoria da ação comunicativa. Achava que a sociedade havia se reduzido a uma força produtiva, pois utiliza critérios positivistas para analisar questões práticas. A ética elaborada por ele é baseada no princípio de que a razão surge da ação comunicativa, do uso da linguagem como meio de chegar a um consenso comum, e para isso se teria que criar um ambiente de liberdade e não constrangimento das ideias. 
Dessa forma, podemos considerar que os novos paradigmas sociais, políticos e culturais trouxeram perspectivas de uma discussão ética voltada para a questão da liberdade, não só das escolhas pessoais, mas das ideias.
Resumo_Unidade I
 
Nesta unidade vimos algumas diferentes concepções de ética numa perspectiva histórica, isto é, conhecemos um pouco as mudanças e transformações nas regras e ideias que orientam as condutas humanas nas sociedades ocidentais em diferentes momentos históricos.
Com a Grécia Antiga, aprendemos que Platão e Aristóteles desenvolveram o racionalismo ético iniciado por Sócrates. Platão aprofundou a diferença entre corpo e alma. Aristóteles procurou construir uma ética mais realista, mais próxima do homem concreto.
Na Idade Média, as reflexões éticas tiveram como centro a relação individual, pessoal, de cada um com Deus, concebido como criador onisciente e onipresente. Ao contrário dos gregos, que acreditavam que a liberdade era uma capacidade do indivíduo entendido como cidadão, a ética cristã passou a conceber a liberdade não mais no terreno da vida política, mas na relação interior de cada um com Deus.
Na Idade Moderna, as reflexões éticas se caracterizaram por um profundo questionamento dos pressupostos da ética cristã. O Renascimento retomou o humanismo da antiguidade grega e desenvolveu uma nova concepção moral, centrada na autonomia humana. O movimento iluminista seguiu o mesmo caminho e passou a defender que a moral humana deveria ser formulada não mais com base em valores religiosos, mas sim, em valores provenientes da compreensão acerca do que seja a natureza humana.
A ética para os filósofos da Idade Contemporânea foi objeto de uma pluralidade de enfoques. No entanto, a despeito das diferentes visões, podemos identificar um ponto comum entre elas: a recusa de uma fundamentação exterior, isto é, transcendental para a moralidade, cujo centro encontra-se na premissa de que a origem dos valores e normas morais está no próprio homem.
  
 
Referências Bibliográficas
 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo, Mestre Jou, 1982.
ARANHA, M.L.A e MARTINS, M. H. P. Filosofando. São Paulo: Moderna, 1990.
ARISTÓTELES. Ética à Nicômaco. Tradução: Pietro Nassetti. São Paulo: Editora Martin Claret,  2002.
BOEHNER, P. & GILSON, E. História da Filosofia Cristã. Petrópolis: Vozes, 1982.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. Sao Paulo: Ática, 1996.
KANT, E. Crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (col. Os pensadores).
____. Fundamentação da Metafísica dos Costumes e Outros Escritos. São Paulo: Martin Claret: 2004.
NIETZSCHE, F. A filosofia na época trágica dos gregos. In: Os pré-socráticos. 2. ed. São Paulo: Nova cultural, 1988, 3v. (col. Os pensadores).
NIETSZCHE, F. Genealogia da moral: uma polêmica. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.
OSBORNE, R. Filosofia para principiantes. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998.
REALE, M. Introdução à Filosofia. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1988.
SÁNCHEZ VÁZOUEZ, Adolfo. Ética. 20. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
SARTRE, J. P. O Existencialismo é um Humanismo. (Os Pensadores). 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1987.
TUGENDHAT, Ernst. Lições sobre ética. Petrópolis: Vozes, 1997.
VALLS, Álvaro L.M. O que é ética? São Paulo. Coleção Primeiros passos. Ed. Brasiliense, 1996.
Aula 9_Ética e moral: distinções e aproximações.
 
Na unidade I aprendemos um pouco sobre o que é a ética e suas transformações ao longo da historia, enquanto objeto da reflexão filosófica de pensadores de diferentes épocas. Nesta unidade, trataremos das diferenças entre ética e moral.
Desejamos que ao final desta aula você compreenda melhor:
·  Quais os aspectos que diferenciam ética das normas morais.
· Será possível pensar a ética sem a moral?
· Os problemas do moralismo. 
A ética não se confunde com moral. A moral é a regulação dos valores e comportamentos legítimos por uma determinada sociedade, um povo, uma religião, ou por certa tradição cultural. Há regras morais específicas, também, em grupos sociais mais restritos, uma instituição ou um partido dentro de uma sociedade. Assim, existem muitas e diversas morais, pois uma moral é um fenômeno social particular, que não tem compromisso com a universalidade, isto é, que não é necessariamente válida igualmente para todos os homens. 
Mas, então, todas e quaisquer normas morais são legitimas?  O que chamamos de ética é justamente uma forma de julgamento da validade das morais. 
A ética é uma reflexão crítica sobre a moralidade, mas esta não é somente teoria. A ética é um conjunto de princípios e disposições, historicamente produzidos, com o objetivo de balizar as ações humanas. A ética existe como uma referência universal para a vida em sociedade entre os sujeitos, tornando-a cada vez mais humana.
A ética deve ser incorporada pelos indivíduos, enquanto uma atitude crítica diante da vida cotidiana, tornando-os capazes de julgar os apelos da moral vigente. Todavia, a ética, assim como a moral, não é um conjunto de verdades fixas e imutáveis. A ética se move, historicamente se transforma. Como exemplo desta transformação na historia da humanidade, basta pensarmos que, um dia, a escravidão foi considerada "normal" (natural).
Entre a moral e a ética há uma tensão, já que a ação moral busca uma compreensão e uma justificação crítica universal, enquanto a ética exerce uma permanente vigilância crítica sobre a moral, seja para reforçá-la ou transformá-la. 
A ação do homem no mundo é orientada por valores, isto é, as coisas do mundo e as ações sobre o mundo não são indiferentes, elas obedecem uma hierarquia de acordo com as noções de bem e de justo, compartilhadas entre os homens num determinado momento histórico. Em outras palavras, o homem é um ser eminentemente moral capaz de avaliar sua ação a partir de valores.
A Ética é a disciplina filosófica que reflete sobre os sistemas morais construídos historicamente pelos homens, buscando entender a fundamentação das normas e interdições de cada sistema moral criado pelo homem.
 O moralismo é a petrificação de normas morais, isto é, corresponde ao entendimento equivocado e ingênuo de que os conteúdos das normas morais são absolutos e válidos para todos os outros sistemas morais. É o caso do moralismo presente nos costumes tradicionais e na tradição religiosa: ambos se fundamentam na noção de que os valores morais são eternos e imutáveis, devendo ser seguidos por todos para que sejam aceitos pelos membros que deles compartilham.
O moralismo se transforma em um problema social, à medida que se traduz em formas de preconceito e discriminação sociais, uma vez que a sociedade não aceita as diferenças de grupos que não compartilham ou não reconhecem como legítimos, os valores morais vigentes na sociedade.
Aula 10_Ética e religião.
Na aula anterior, vimos que há diferenças entre ética e moral. Quando pensamos na moral humana logo a relacionamos à religião. Embora seja possível pensar em uma aproximação entre as duas coisas, na prática a moral não se reduz a moral religiosa. Essa questão será o assunto desta aula. Para discuti-lo iremos resgatar os diversosmodos de ligação entre a religião e a moral, desde a antiguidade grega até a contemporaneidade.
A religião grega, como muitas outras mitologias antigas, era bastante naturalista.  Os deuses geralmente, personificavam forças naturais, como o raio, a força, a inteligência, o amor e até a guerra. A grande mudança ocorreu com a religião judaica: O Deus de Abraão, Isaac e Jacó não se identifica com as forças da natureza, estando assim acima de tudo o que há de natural.
Em termos éticos ou morais, isso tem uma consequência profunda: quando o homem se pergunta como deve agir, não pode mais se satisfazer com a resposta que manda agir de acordo com a natureza, mas deve adotar uma nova posição que manda agir de acordo com a vontade do Deus pessoal. Para tanto, torna-se necessário conhecer a vontade desse Deus pessoal. Nesse caso a Filosofia torna-se insuficiente:  os homens procuram, então, a “revelação” da vontade divina. E esta passa a ser conhecida não somente como uma exposição teórica, mas como fundamento da educação e do aperfeiçoamento do homem. O homem busca ser santo como Deus o é no céu.
Em relação à religião de Abraão e Moisés, expressa nos livros do Antigo Testamento, os ensinamentos de Jesus Cristo representam certa continuidade, uma evolução. O Novo Testamento não nega a lei antiga, mas a relativiza num mandamento renovado: o mandamento do amor. Este amor cristão é diferente do amor grego e mesmo do amor judaico, pois inclui o perdão e muitas outras coisas. E, sobretudo, o amor cristão é um amor que vem de cima: Deus nos amou primeiro, por isso, na relação com os irmãos (que são agora todos os homens, resumidos na categoria do “próximo”) cada um deve procurar amar primeiro.
A religião trouxe, sem dúvida alguma, uma transformação moral à humanidade. A meta da vida moral foi elevada, numa santidade, sinônimo de um amor perfeito, e que deveria ser buscada, mesmo que inatingível, permaneceria como meta. Entretanto,  não se pode negar que, muitas vezes os fanatismos religiosos ajudaram a obscurecer a mensagem ética profunda da liberdade, do amor e da fraternidade universal. 
A própria religião serviu de estímulo para os filósofos e moralistas, levantando novas questões, como a do relacionamento entre a natureza e a liberdade ou a da fraternidade universal em oposição a uma solidariedade mais restrita, grupal ou nacional ou, ainda, a da valorização e relativização do prazer, do egoísmo, do sofrimento.
Aula 11_A busca pela Ética laica.
Como vimos na aula anterior, várias foram as influências da moral cristã na conformação do próprio pensamento racional do Ocidente. Filósofos de diferentes correntes tentaram um afastamento dos pressupostos morais cristãos, porém, muitos dos elementos de suas formulações filosóficas carregam as marcas da moral cristã, como por exemplo, a noção de bem e mal, justo e injusto, e a concepção de dever. Nessa aula, estudaremos a tentativa dos filósofos da modernidade de estabelecer uma ética laica, isto é, cujos pressupostos se fundamentam em bases exclusivamente racionais.
A cultura ocidental se formou, em grande parte, durante a Idade Média e, esse período foi marcado pela predominância do cristianismo. O pensamento ético que conhecemos está, portanto, em grande parte,  ligado à religião, à interpretação da Bíblia e à teologia. Mas, na Idade Moderna  formaram-se duas tendências éticas: por um lado, a busca de uma ética laica, racional, muitas vezes fundamentadas numa lei natural ou numa estrutura (transcendental) da subjetividade humana, comum a todos os homens, e, em contrapartida, novas formas de síntese entre o pensamento ético-filosófico e a doutrina da Revelação (especialmente a cristã).
Pensadores como Kant e Sartre, por exemplo, tentaram formular teorias éticas aceitáveis pela pura razão. Pensadores como Hegel, Schelling, Kierkegaard e Gabriel Mareei, ou mesmo Martin Buber, discutiram apenas a maneira de relacionar as doutrinas religiosas com a reflexão filosófica.
Ao lado desta tendência moderna que busca maneiras de unir a ética religiosa e a reflexão filosófica, desenvolveram-se, no mundo moderno e contemporâneo, práticas e teorias que ignoram as contribuições da religião. Estas tendências são as mais variadas. Dentre elas,  a concepção determinista, que ignora, por princípio, a liberdade humana considerando-a uma ilusão. Há uma concepção racionalista que procura na "natureza humana" (numa perspectiva naturalista, fisicalista, materialista ou numa perspectiva transcendental kantiana - que define a natureza humana como liberdade e a consciência humana como "legisladora universal") as formas corretas da ação moral. Esta concepção, na sua linha kantiana, investiga procedimentos práticos que possam ser universalizáveis, isto é, considera uma ação moralmente boa somente aquela que pode ser considerada universal, de tal modo que os princípios que eu sigo possam valer para todos ou, ao menos, que eu possa querer que eles valham para todos. O chamado "formalismo kantiano" procura basear-se nas leis do pensamento e da vontade, definindo assim, critérios práticos de serventia inegável.
Enfim, há outras tendências bastante difundidas, como a do utilitarismo: o bem é o que traz vantagens para muitos (e daí se deduziu até uma matemática ou cálculo moral). Tendência que aparece nas formulações definidas como pragmatismo: deixam-se de lado as questões teóricas de fundo, apelando-se para os resultados práticos, muitas vezes imediatos. Este pragmatismo parece estar bastante ligado ao pensamento anglo-saxão, e se desenvolveu, sobretudo, nos países de língua inglesa.
Próximo ao pragmatismo há duas outras tendências atuais importantes, para um estudo da ética. Há uma prática, desenvolvida principalmente nos países de capitalismo mais avançado, que busca a utilidade e a vantagem particular: bom é o que ajuda o meu progresso (econômico, principalmente) e o meu sucesso pessoal no mundo (carreira, amizades úteis, etc.). Tal concepção se aproxima das formas gregas do hedonismo —  com a busca do prazer terreno — mediada pelas condições que o progresso técnico e o econômico viabilizaram ao mundo atual.
Aula 12_Os ideais éticos.
Até o presente momento, você conheceu, brevemente, a relação entre moral e religião e, a partir da discussão da aula anterior, a tentativa de vários filósofos da modernidade de criar um critério de moralidade que não dependesse dos valores religiosos.
Diante do que aprendeu, talvez tenha se perguntado:  afinal, existe um critério de moralidade? Agir moralmente seria agir de acordo com a própria consciência. Buscando o quê? Qual seria o ideal da vida ética?
Nesta aula, veremos algumas possíveis respostas para estas perguntas, com alguns trechos da obra O que é ética, de Álvaro L. M. Valls.
Para os gregos, a ideal ético estava ou na busca teórica e prática da ideia do Bem, da qual as realidades mundanas participariam de alguma maneira (Platão), ou estava na felicidade, entendida como uma vida bem ordenada, uma vida virtuosa, onde as capacidades superiores do homem tivessem a preferência, e as demais capacidades não fossem, afinal, desprezadas, na medida em que o homem, ser sintético e composto, necessitava de muitas coisas (Aristóteles).
Para outros gregos, o ideal ético estava no viver de acordo com a natureza, em harmonia cósmica. (Esta ideia, modificada, foi depois adotada por teólogos cristãos, no seguinte sentido: viver de acordo com a natureza seria o mesmo que viver da acordo com as leis que Deus nos deu através da natureza.) Os estoicos insistiram mais nesta vida bem natural. Já os epicuristas afirmavam que a vida devia ser voltada para o prazer: para o sentir-se bem. Tudo o que dá prazer é bom. Ora, como certos prazeres em demasia fazem mal, acabam por produzir desprazer, uma certa economia dos prazeres, uma certa sabedoria e um certo refinamento, até uma certa moderação ou temperança eram exigências da própria vida de prazer.
No cristianismo, os ideais éticos se identificaram com os religiosos. O homem viveria para conhecer, amar e servir a Deus,diretamente e em seus irmãos. O lema socrático do "conhece-te a ti mesmo" volta à tona, em Santo Agostinho, que agora ensina que "Deus nos é mais íntimo que o nosso próprio íntimo". O ideal ético é o de uma vida espiritual, isto é, do acordo com o espírito, vida de amor e fraternidade. Historicamente, porém, muitas formas dualistas, que separavam radicalmente, por exemplo, o céu e a terra, esta vida e a outra, o amor a Deus e o amor aos homens, acabaram dificultando a realização dos ideais éticos cristãos. Nem sempre os cristãos estiveram à altura da afirmação do seu Mestre: "Nisto conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros".
Com o Renascimento e o Iluminismo, ou seja, aproximadamente entre os séculos XV e XVIII, a burguesia que começava a crescer e a impor-se, em busca de uma hegemonia, acentuou outros aspectos da ética: o ideal seria viver de acordo com a própria liberdade pessoal, e em termos sociais o grande lema foi o dos franceses: liberdade, igualdade, fraternidade. (Há quem afirme que a Revolução Francesa buscou concretizar apenas a liberdade, a Russa, a igualdade e a Africana, ou a do Terceiro Mundo, a fraternidade.) O grande pensador da burguesia e do Iluminismo, Kant, identificou bastante, como temos visto, o ideal ético com o ideal da autonomia individual. O homem racional, autônomo, autodeterminado, aquele que age segundo a razão e a liberdade, eis o critério da moralidade.
Se Kant e a Revolução Francesa acentuaram de maneira talvez demasiado abstrata a liberdade, o ideal ético para Hegel estava numa vida livre dentro de um Estado livre, um Estado de direito, que preservasse os direitos dos homens a lhes cobrasse seus deveres, onde a consciência moral e as leis do direito não estivessem nem separadas e nem em contradição. A profunda perspectiva política de Platão e Aristóteles transparece de novo, portanto, em Hegel. Mas parece que a realidade histórica não acompanhou muitas de suas teorias. Os valores espirituais, éticos e religiosos foram se tornando, nestes últimos duzentos anos, sempre mais assunto particular, e os assuntos gerais foram sendo dominados pelo discurso da ideologia.
No século XX, os pensadores da existência, em suas posições muito diversas, insistiram todos sobre a liberdade como um ideal ético, em termos que privilegiavam o aspecto pessoal ou personalista da ética: autenticidade, opção, resoluteza, cuidado, etc.
Já o pensamento social e dialético buscou como ideal ético, na medida em que aqui ainda se usa esta expressão, a idéia de uma vida social mais justa, com a superação das injustiças econômicas mais gritantes. A ética se volta sobre as relações sociais, em primeiro lugar, esquece o céu e se preocupa com a terra, procurando, de alguma maneira, apressar a construção de um mundo mais humano, onde se acentua tradicionalmente o aspecto de uma justiça econômica, embora esta não seja a única característica deste paraíso buscado.
[...] Finalmente, não há como negar que exatamente a maioria dos países ricos atuais se caractariza por uma ética que em muitos casos lembra a busca grega do prazer, porém, nem sempre com moderação. O prazer, depois do século XIX, época da grande acumulação capitalista, reduziu-se bastante, de fato, à posse material de bens, ou à propriedade do capital. Em nome da defesa do capital, ou, mais modestamente, em nome da defesa da propriedade particular, muito sangue já foi derramado e muita injustiça cometida. O grande argumento do pensamento de esquerda é que não foi a esquerda quem inventou a luta de classe. E que a propriedade é um direito básico para todos.
A reflexão ético-social do século XX trouxe, além disso, uma outra observação importante: na massificação atual, a maioria hoje talvez já não se comporte mais eticamente, pois não vive imoral, mas amoralmente. Os meios de comunicação de massa, as ideologias, os aparatos econômicos e do Estado, já não permitam mais a existência de sujeitos livres, de cidadãos conscientes e participantes, do consciências com capacidade julgadora. Seria o fim do indivíduo?  (VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2005 (Coleção Primeiros Passos), p. 43 – 47). 
 
Assim,  encerramos a aula de hoje com este questionamento realizado pelo autor estudado: seria o fim do indivíduo? Em um contexto em que a consciência e capacidade individual de julgamento se perdem na massificação e alienação dos sujeitos, a liberdade ainda é de fato vivenciada? Ou uma pseudoliberdade em que as escolhas já são determinadas pelo sistema vigente?
Aula 13_Entre o bem e o mal: considerações sobre o comportamento moral.
Você já deve ter se perguntado alguma vez sobre o qual a melhor maneira de se comportar perante as outras pessoas. Após ter conhecido os diferentes pressupostos da relação entre ética e moral e da ética com a moral religiosa, veremos, nesta aula, como diferentes pensadores, ao longo da historia, refletiram sobre o agir moral.
Com a Idade Moderna e movimentos culturais como o Renascimento, surgiram várias inovações na Europa: o desenvolvimento de escolas, da imprensa, a difusão da cultura e das letras (enquanto na Idade Média quase todos os letrados eram clérigos), a urbanização, o fortalecimento do Estado e de uma nova classe social surgiram, naturalmente, novos estudos de moral, tanto sobre os aspectos individuais quanto sobre os aspectos sociais e políticos. Nessa fase aparecem as grandes obras de Maquiavel, Rousseau, Spinoza e Kant.
 
O que a ética agora desenvolve principalmente é a preocupação com a autonomia moral do indivíduo. Este indivíduo procura agir de acordo com a sua razão natural. O mundo medieval (pintado magistralmente por Umberto Eco em O Nome da Rosa), baseado na autoridade da "palavra divina revelada", já está longe. Os homens querem fundamentar o seu agir na natureza. Assim temos o "direito natural", que contém uma ideia revolucionária em relação ao "direito divino dos reis", do regime antigo. (VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2005 (Coleção Primeiros Passos), p. 63, 64).
 
Assim temos o "direito natural", que contém uma ideia revolucionária em relação ao "direito divino dos reis", do Antigo Regime. No bojo dessa ideia aparece Rousseau (1712-1778) com o ideal de um retorno às condições naturais, anteriores à civilização para uma vida melhor. Na mesma época, Kant (1724-1804) busca descobrir em cada homem uma natureza igual e livre (neste sentido é antiaristocrata e burguês).
 
O “agir de acordo com a nossa natureza” em Kant  é bem diferente dos ideais aparentemente paralelos dos gregos (estóicos e outros), dos medievais e de Rousseau. Para os gregos, isto significava uma certa harmonia passiva com o cosmos. Para o medievo,, significava uma obediência pessoal ao Criador da natureza. Para Rousseau o agir de acordo com a nossa natureza significava um agir de forma mais primitiva. Para Kant, a natureza humana é uma natureza racional, o que equivale a dizer que a natureza nos fez livres, mas com isso não nos disse o que fazer, concretamente. Sendo o homem um ser natural, mas naturalmente livre, isto é, destinado pela natureza à liberdade, ele deve desenvolver esta liberdade através da mediação de sua capacidade racional.
Hegel (1770 -1831), por sua vez, ligou a ética à história e à política, à medida que afirmava que o agir ético do homem precisa concretizar-se dentro de uma determinada sociedade política e de um momento histórico variável, dentro dos quais a liberdade teria uma existência concreta, na organização de um Estado.
Finalmente, em termos de comparações históricas, vale lembrar que Marx (1818 - 1883), relacionando todo comportamento humano à economia e, acentuando as relações econômicas que interferem no agir ético, abriu novas perspectivas, mas também um novo problema. Como saber o que é o ético e o que é o econômico, em um dado comportamento concreto? (VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2005 (Coleção Primeiros Passos), p. 65, 66).
 
 Na segunda metade do século XX, a questão do comportamento éticose modificou mais uma vez. As atenções se voltaram principalmente para a questão do discurso, de duas maneiras mais ou menos independentes (crítica da ideologia e crítica da linguagem). A análise da linguagem, dentro principalmente das diversas linhas da filosofia analítica, tem os méritos do rigor formal, quando se concentra na análise das formulações linguísticas, através das quais os homens definem ou justificam o seu agir.
Novamente voltamos a questão da aula passada, a saber, se os homens ainda se sentem em condições de agir individualmente, isto é, agir moralmente. A massificação, a indústria cultural, a ideologia, a ditadura dos meios de comunicação, e mesmo as ditaduras políticas são fenômenos a ser analisados também nesta perspectiva, para compreendermos até onde o homem de hoje pode escolher conscientemente entre o bem e o mal.
Aula 14_Moral e Direito.
 
Em geral, as regras morais se impõem sobre o comportamento dos indivíduos na sociedade, de tal forma que é quase impossível pensar numa conduta humana livre das pressões exercidas por elas. Nessa aula veremos como a moral e o direito se relacionam no campo da normatização do agir humano. Desejamos que ao final dessa aula você possa compreender melhor as diferenças e semelhanças entre moral e direito, bem como a importância de uma reflexão crítica sobre cada um desses campos para o estudo da ética.
Qual a relação entre moral e direito? Será que nada tem a ver essas duas esferas?
Moral e direito são criações da própria sociedade, isto é, ambos têm como finalidade a regulamentação das condutas humanas e as relações entre os homens. Podemos destacar elementos que aproximam essas duas esferas, tais como:
1.    o caráter imperativo que permeia cada uma delas, isto é, moral e direito se constituem como normas que devem ser seguidas por todos.
2.    A finalidade de promover uma melhor convivência entre os indivíduos, por meio de normas estabelecidas pela sociedade.
3.    Tanto a moral quanto o direito são orientados por valores estabelecidos pela própria sociedade de referência.
4.    O caráter histórico e cultural que faz com que as normas morais e jurídicas mudem de acordo com as transformações sócio-históricas.
 
Podemos pensar também no que diferencia a moral e o  direito. Vimos que eles se aproximam no que diz respeito ao conteúdo e à forma. Veremos quais elementos atuam como diferenciadores nessas duas esferas:
 
1.    o cumprimento das normas morais se dá por uma crença subjetiva e íntima de cada indivíduo, ao passo que as normas jurídicas devem ser cumpridas sob pena de punição do Estado em casos de desobediência.
2.    No caso das normas jurídicas, a pena ou punição pelo não cumprimento de suas regras encontra-se prevista num código de leis escrito e impessoal, enquanto que na moral, a punição não passa de uma retaliação ao próprio indivíduo, imposta pelos outros membros da sociedade, quando a ação agredir os valores da coletividade. De qualquer forma, o julgamento moral depende da consciência moral do sujeito que transgrediu a norma moral.
3.    A esfera da moral e a do direito se diferenciam fundamentalmente pela dimensão que cada uma possui no contexto social. Enquanto no campo da moral é maior abrangência social, o campo do direito compreende contextos específicos da conduta humana.
4.    No direito há um código formal que se expressa na forma de leis escritas, ao passo que a moral se expressa por meio do convívio e do contato social entre os indivíduos.
5.    O direito apresenta uma vinculação essencial com o Estado, ao passo que a moral não possui essa relação. 
Vimos então, as fronteiras que separam moral e direito, embora, se deva considerar que essas fronteiras não são tão rígidas assim. Talvez, a diferença mais evidente entre moral e direito seja o caráter coercitivo das normas jurídicas. No caso do direito, ele possui o respaldo da força e da repressão policial do Estado, executada por órgãos da justiça e da polícia. O mesmo não ocorre com relação às normas morais, isto é, as pessoas obedecem às regras da moral por uma convicção subjetiva, dependendo, portanto, da escolha individual para ser aceita e obedecida.
Aula 15_Vício e Virtude.
 
Na aula anterior pudemos perceber que as normas morais e as normais jurídicas possuem, entre si, diferenças e semelhanças. Nesta aula, vamos estudar um tema bastante interessante: o uso da liberdade com responsabilidade. Isso mesmo! Para tanto, vamos abordar o papel da virtude na construção do agir moral com responsabilidade, bem como o vício enquanto o oposto do agir virtuoso.
Com certa frequência, a pessoa virtuosa é apresentada por meio da imagem de uma pessoa amável, dócil, capaz de renunciar e sempre disposta a servir aos outros. Trata-se, porém, de uma representação inadequada e, por vezes, perigosa. De acordo com Nietzsche, é na “moral dos escravos” que as falsas virtudes se fundam na fraqueza, no servilismo, na renúncia do amor de si e, portanto, na negação dos valores vitais.
A consciência moral, geralmente, nos fala como uma voz interior que nos conduz para o caminho da virtude. A palavra “virtude” deriva do latim virtus e significa a qualidade ou a ação digna do homem. Ela designa, portanto, a prática constante do bem, correspondendo ao uso da liberdade com responsabilidade moral.
O oposto da virtude é o vício, que consiste na prática constante do mal, correspondendo ao uso da liberdade sem responsabilidade moral. Mas, afinal, o que é essa responsabilidade? O termo vem do latim respondere e significa estar em condições de responder pelos atos praticados, isto é, de justificar as próprias ações.
Nesse sentido, a responsabilidade pressupõe uma relação entre a pessoa responsável e “algo” ao qual ou pelo qual ela responde.
Para Erich Fromm, a responsabilidade tem como base, num primeiro momento, a relação do homem com sua própria condição humana, isto é, com a realização de suas potencialidade de vida.
Portanto, o virtuoso nada tem a ver com frágil ou servil; ao contrário, virtude é capacidade de ação, é potência. Para Kant, a “virtude é a força da resolução que o homem revela na realização do seu dever”. 
A virtude, como disposição para querer o bem, exige a coragem de assumir os valores escolhidos e enfrentar os obstáculos que dificultam a ação. Por isso, a noção de virtude não se restringe a um único ato moral, mas envolve a repetição e a continuidade do agir moral. Ao afirmar que “uma só andorinha não faz verão”, Aristóteles queria dizer que a virtude não se resume a um ato, mas resulta de um hábito.
Aula 16_O caráter histórico e as transformações das normas morais.
Como já vimos, o sistema moral de cada grupo social é construído ao longo do tempo e varia de acordo com os valores reconhecidos por aquele grupo como significativos para a convivência social. Este será o tema de nossa aula: a reflexão acerca da historicidade das transformações das normas morais. Estudaremos o caráter social das normas morais e como elas mudam ao longo do tempo.
Verificamos que, num primeiro momento, os valores morais são transmitidos culturalmente e atuam como uma espécie de herança que acompanha os indivíduos desde o nascimento. Quando nascemos somos inseridos num contexto social rico em noções do que seja o bom e o mau, o justo e o injusto, o aconselhável e o repugnante. Quando crescemos, em geral, passamos a atuar e a julgar a partir desses valores, de modo que nossa conduta e a avaliação da conduta dos outros terá como referência os valores do grupo de origem.
Como estudamos em aulas anteriores, dentre as diferenças entre moral e direito, figura a questão das regras morais se apresentarem como escolha do indivíduo, dependente dele próprio e de sua consciência moral. Sendo assim, a liberdade é a base da conduta moral do indivíduo.
Podemos então dizer que existe uma relação de mão dupla entre a moral e a sociedade, uma vez que os indivíduos na sociedade reafirmam a moral existente e ao mesmo tempo se tornam responsáveis por promover mudanças nas regras morais, quando elas já não dão contadas inovações introduzidas nas sociedades.
Nesse sentido, podemos dizer que, à medida que os indivíduos assimilam as regras morais e as reconhecem como legítimas e válidas, eles também as transformam de acordo com suas necessidades. O que significa afirmar o caráter sócio-cultural das regras morais, uma vez que os indivíduos não compartilham e reproduzem passivamente os princípios da moral, ao contrário, interferem em sua formulação, modificando-os de acordo com as condições histórico-sociais, vindo a transformar as normas e costumes morais.
Por isso, afirmamos que a moralidade necessita incorporar questões emergentes de cada época. As atitudes dos indivíduos situam-se entre esses dois extremos: o consentimento e a negação da moral vigente. Dizemos que ocorre o consentimento quando indivíduo adere conscientemente a uma norma moral e cumpre-a, reconhecendo-a como legítima. Ou então, há a possibilidade de o indivíduo contrariar uma determinada norma moral sem, no entanto contestá-la como norma universal.
A ação é considerada moralmente incorreta e indigna quando há a recusa consciente de uma normal moral, por parte do indivíduo, por considera-la ilegítima ou ferir seus interesses particulares e imediatos. Quando há uma inadequação entre o modo de ver o mundo e as normas morais podemos dizer que há um conflito moral. Essa situação caracteriza-se pela negação radical de todo e qualquer valor moral. O permissivismo moral, seria uma versão deteriorada e individualista do niilismo ético, na qual, por trás da negação dos valores vigentes, se escondem interesses particulares.
 
Resumo_Unidade II
 
Nesta unidade estudamos as inúmeras e complexas relações entre ética e moral. Pudemos ver que a ética é diferente da moral não só porque consiste num ramo do conhecimento filosófico, mas também devido ao fato de que a ética preocupa-se com os princípios que fundamentam a ação moral. É importante lembrar que a ética não se reduz a moral, nem muito menos consiste num campo da moral. Enquanto a moral preocupa-se com a normatização das relações humanas, a ética reflete sobre a fundamentação filosófica dos valores que orientam as noções de bem e mal, justo e injusto, estabelecidos pela moral.
Vimos também a polêmica relação entre moral e religião, especialmente, nas sociedades ocidentais — herdeiras da tradição cristã— nas quais a moral religiosa encontra-se fortemente presente direta ou indiretamente na formação da moral burguesa europeia, e por consequência, em maior ou menor medida, podemos sentí-la na normatização ética das tradições filosóficas e intelectuais do Ocidente.
Vimos, ainda, a tentativa de vários filósofos da modernidade de criar um critério de moralidade que não dependesse dos valores religiosos. Também estudamos que a moral e o direito são criações da própria sociedade, isto é, ambos têm como finalidade a regulamentação das condutas humanas e as relações entre os homens. A diferença mais evidente entre moral e direito se expressa no caráter coercitivo das normas jurídicas.
Compreendemos o papel da virtude na construção da agir moral com responsabilidade, bem como o vício enquanto o oposto do agir virtuoso. O oposto da virtude é o vício, que consiste na prática constante do mal, correspondendo ao uso da liberdade sem responsabilidade moral.
E por fim, realizamos uma reflexão acerca da historicidade das transformações das normas morais. Estudaremos o caráter social das normas morais e como elas mudam ao longo do tempo.
 
 
 Referências Bibliográficas
  
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo, Mestre Jou, 1982.
ARANHA, M.L.A e MARTINS, M. H. P. Filosofando. São Paulo: Moderna, 1990.
ARISTÓTELES. Ética à Nicômaco. Tradução: Pietro Nassetti. São Paulo: Editora Martin Claret,  2002.
BOEHNER, P. & GILSON, E. História da Filosofia Cristã. Petrópolis: Vozes, 1982.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1996.
KANT, E. Crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (col. Os pensadores).
____. Fundamentos da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (col. Os pensadores).
NIETZSCHE, F. A filosofia na época trágica dos gregos. In: Os pré-socráticos. 2. ed. São Paulo: Nova cultural, 1988, 3v. (col. Os pensadores).
 ____. Genealogia da Moral. São Paulo: Cultrix ,1983.
OSBORNE, R. Filosofia para principiantes. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998.
REALE, M. Introdução à Filosofia. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1988.
SÁNCHEZ VÁZOUEZ, Adolfo. Ética. 20. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000
SCHOPENHAUER. A arte de ter razão. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
TUGENDHAT, Ernst. Lições sobre ética. Petrópolis: Vozes, 1997.
VALLS, Álvaro L.M. O que é ética? São Paulo: Coleção Primeiros passos. Ed. Brasiliense, 2005.
Aula 17_Racionalidade e Liberdade.
Só podemos falar em ética se pensarmos num agir livre do homem em relação aos seus semelhantes. Mas, é possível pensar em uma liberdade absoluta? Esse será o tema dessa unidade e particularmente, dessa aula. Desejamos que ao final dessa discussão você seja capaz de compreender um pouco melhor a complexa relação entre ética e liberdade. A seguir, uma passagem da obra Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia, de Sílvio Gallo.
Aristóteles caracterizou os humanos como seres racionais que falam. A dimensão anímica ou psíquica (psiqué = alma) dos humanos foi concebida pelo filósofo como um composto de duas partes: uma racional e outra privada de razão. A primeira expressa-se pela atividade filosófica e matemática. A segunda, por seus elementos vegetativos e apetitivos. Tal caracterização permitiu a hierarquização dos seres vivos.
Pela segunda parte da alma, nós humanos, somos iguais a todos os outros animais. Movidos pelos instintos (fome, sede, sono, reprodução), somos guiados pela necessidade de sobrevivência, que é uma problema comum para todos os seres vivos.
Necessitamos de alimentos para aplacar nossa fome; de água para saciar a sede; dormir para recuperar as forças, do mesmo modo que os outros animais. Mas o que  nos diferencia dos outros animais? Segundo Aristóteles, é a racionalidade. Nós somos capazes de planejar nossas ações, de realizar escolhas e julgá-las, determinando seu valor. Agimos acreditando que estamos fazendo o bem e, mesmo quando agimos mal, é o bem que estabelece o critério de tal julgamento.
Assim, os seres humanos identificam-se como tais pelas distinções que são capazes de estabelecer com os outros animais e, por conseguinte, com todo o reino da natureza. Os seres humanos definem-se pela capacidade de pensar, falar, criar e amar.
Ainda segundo Aristóteles, podemos identificar três coisas que controlam a ação: sensação, razão e desejo. A primeira não é princípio para julgar a ação, pois também os outros animais possuem a sensação, mas não participam da ação.
A ação é um movimento deliberado, isto é, a origem da ação é a escolha. Os homens diferem dos demais animais porque são capazes de realizar escolhas. O desejo está na raiz dessas escolhas: razão é o seu guia. Para Aristóteles, o desejo é a força motriz, o impulso gerador de todas as nossas ações. Mas essa força motriz deve seguir o curso traçado pela razão. A razão guia, conduz o desejo ao encontro de seu objeto.
Realizar escolhas é eleger objetos para o desejo. O critério das escolhas é sempre racional. O motivo é sempre emocional, ou seja, somos impulsionados pelo desejo e movemo-nos em direção aos objetos. Nesse sentido, a capacidade racional de realizar escolhas permite-nos afirmar nossa condição de liberdade. O exercício da liberdade é a capacidade de escolher. Nisso os humanos podem se desviar do determinismo que rege o mundo da natureza.
As escolhas dos outros animais são, em grande parte, determinadas pelo instinto de suas espécies. Quando olhamos um filhote de cachorro, por exemplo, de um modo geral podemos predizer seu comportamento futuro. Porém, um bebê, jamais revela o adulto que será um dia.
É a escolha que define o caráter de um ser humano. Suas virtudes se manifestam nas escolhas que realiza no curso de sua condição normal.

Continue navegando

Outros materiais