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ÉTICA PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL PROF.A FRANCIELE HOLANDA DE MOURA Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-reitor: Prof. Me. Ney Stival Gestão Educacional: Prof.a Ma. Daniela Ferreira Correa PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Gabriela de Castro Pereira Letícia Toniete Izeppe Bisconcim Luana Ramos Rocha Produção Audiovisual: Heber Acuña Berger Leonardo Mateus Gusmão Lopes Márcio Alexandre Júnior Lara Gestão de Produção: Kamila Ayumi Costa Yoshimura Fotos: Shutterstock © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 5 1 - A ORIGEM DA FILOSOFIA .................................................................................................................................... 6 2 - PARA QUE FILOSOFAR? ...................................................................................................................................... 8 2.1. ENTÃO TODA FILOSOFIA É CRÍTICA E RADICAL? ............................................................................................ 9 3 - A NECESSIDADE DE UMA ATITUDE CRÍTICA .................................................................................................. 10 4 - FILOSOFIA E REFLEXÃO ÉTICA ......................................................................................................................... 12 5 - ÉTICA E FILOSOFIA ............................................................................................................................................ 14 5.1. SÓCRATES (470-399 A.C.) ................................................................................................................................ 15 5.2. PLATÃO (428-347 A.C.) .................................................................................................................................... 15 5.4. TOMÁS DE AQUINO (1221-1274) ...................................................................................................................... 18 A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA ATITUDE CRÍTICA PROF.A FRANCIELE HOLANDA DE MOURA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: ÉTICA PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL 4WWW.UNINGA.BR 5.5. JEAN – JACQUES ROUSSEAU (1712 – 1778) ................................................................................................... 19 5.6. IMMANUEL KANT (1724-1804) ...................................................................................................................... 20 5.7. GEORG W. FRIEDRICH HEGEL (1770-1831) .................................................................................................... 20 5.8. JEAN-PAUL SARTRE (1905-1980) ................................................................................................................... 21 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 22 5WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A filosofia vem contribuir significativamente para o serviço social, tanto no embasamento teórico, em que é adotado o atual Projeto Ético-Politico na maneira de se pensar; além de vir para proporcionar uma inquietação constante de saberes e indagações que realizamos no exercício profissional do dia a dia. Além de tudo isso, o assistente social não só realiza as devidas indagações, como as responde e também age, por meio de suas intervenções. A filosofia vem para proporcionar esse rico e devasto aporte teórico para o serviço social, e vem para auxiliar na atuação profissional, no ensino e na pesquisa. Ela faz parte do nosso cotidiano! Por isso, espera-se que esta unidade possa contribuir significativamente para seu aprendizado e que você venha conhecer esse lindo universo que é a filosofia. 6WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - A ORIGEM DA FILOSOFIA Para discutir sobre a Origem da Filosofia, primeiro, é necessário conhecer o significado da palavra. Segundo Chauí (2010, p. 19): A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. Embora se atribua a Pitágoras de Samos a invenção da palavra “Filosofia”, o primeiro grande Filósofo Ocidental foi Tales de Mileto, que viveu entre 624 a.C. e 558 a.C., e foi considerado, por Aristóteles, como o “Pai da Filosofia e da Ciência”, por seu trabalho que buscava explicar o mundo de forma racional, a partir de Hipóteses. Tales de Mileto elaborou uma nova forma de pensar, o que o fez se distanciar de Pitágoras, fazendo com que se tornasse o primeiro a merecer o título de filósofo; e rompeu com os mitos e investigou elementos que pudessem produzir sabedoria. Com isto, ele mostra que é possível obter sabedoria a partir do estudo e por meio da natureza, em outras palavras, a sabedoria deixa de ser exclusividade dos deuses, como se acreditava naquele período, e passou a ser vista como possível de ser alcançada por qualquer homem que se dispor a usar a razão. Tales era nascido na cidade de Mileto na Jônia, (colônia Grega na Região, onde atualmente fica a Turquia) e recebeu influência de quatro povos muito importantes. Ele era Grego, mas tinha descendência Fenícia (de onde herdou conhecimentos em cosmologia), fez viagens para o Egito (e se aprimorou em matemática e geometria) e para a Babilônia (adquirindo conhecimentos de astronomia). O fato mais relevante que marca a origem da filosofia em Tales de Mileto é a busca de um princípio único que conseguisse explicar o mundo e todas as coisas, tendo como base um elemento (a água), negando os mitos e provocando uma ruptura com o pensamento vigente daquela época, através de um esforço investigativo realizado usando a racionalidade. Embora as certezas de Tales estivessem erradas, a sua ousadia de procurar na natureza as respostas para os fenômenos foi o que fez dele o primeiro grande filósofo ocidental, sendo reconhecido, inclusive, como um dos Sete grandes sábios da Grécia Antiga. A palavra “mito” vem do grego mythos, que significa um modo particular de discurso que é fictício, provenienteda imaginação, sendo que de certo modo é identificado como uma “mentira”. O mito, de uma forma individual, é ver e buscar a compreensão do mundo e das coisas por meio da imaginação. Quanto à Origem da Filosofia, talvez ninguém tenha conseguido explicar tão bem quanto o alemão Friedrich Nietzsche: A Filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário determo- nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida (estado latente, prestes a se transformar), está contido o pensamento: “Tudo é Um”. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e o mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego (NIETZSCHE, 1999, p. 55). 7WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Ao explicar a origem da filosofia, Nietzsche (1999) mostra que na primeira razão, o filósofo Tales apresenta a origem (gênesis) das coisas de forma simples e direta, mas, ainda assim, segue um costume religioso de explicar todas as coisas a partir de um princípio, por isso, ele explica que esta razão deixa Tales próximo dos religiosos e supersticiosos. Na segunda razão, Tales de Mileto mostra que, pela primeira vez, uma pessoa se recusa a usar imaginações fantasiosas com base em fábulas, e isso faz com que Tales se distancie das crendices religiosas e superstições comuns naquela época mostrando-o como investigador da natureza (um cientista). Na terceira razão, Tales de Mileto rompe com a ideia de que cada elemento seja uma divindade responsável por diferentes coisas, e embora afirme que “Tudo é Um”, este mostra a mutabilidade das coisas, contrariando as crendices e mitos que apresentava uma visão de que tudo que existe é imutável. Conforme a imagem a seguir, verificaremos a trajetória histórica da filosofia até no século XX Figura 1 – Trajetória histórica sobre a filosofia. Fonte: Fundamentos da Filosofia (2016). 8WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Para a ampliação sobre a filosofia, segue o vídeo para sua compreensão. As origens da Filosofia, por Rodrigo Silva. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=1LPq8VvV3wA 2 - PARA QUE FILOSOFAR? Iniciamos esse tópico com a conversa de Zezé e Mário, sobre “Para que Filosofar?” Figura 2 – Para que Filosofar?. Fonte: Barroco (2001, p. 13). 9WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Ao fazer essa pergunta, compreendemos que a filosofia não pertence à vida cotidiana, por isso necessitamos de uma “saída” da cotidianidade para compreendê-la, contribuindo, assim, para elucidar ideias que acreditamos na vida cotidiana. Face a isso, podemos definir algumas características da filosofia, por exemplo: é um saber teórico, crítico, desmistificador e criativo, um saber diferente daquele do senso comum. Costuma-se definir a filosofia como um modo de investigação, dessa forma as características citadas, dizem respeito mais da maneira de perguntar do que com as respostas. Diante disso, a atitude de um filósofo é sempre radial, ou seja, não se contenta com o que está posto e necessita da procura da essência dos fenômenos. (BARROCO, 2001). Ao longo da história da filosofia, várias concepções foram criadas, permanecendo, no entanto, a característica de indagar de forma radical sobre a essência das coisas. Assim, se quiser investigar sobre a ideia comum de que o filósofo é alguém que “vive no mundo da lua”, o filósofo perguntará: quais são as raízes desta ideia, porque pensamos assim? Qual é o significado deste pensamento? (BARROCO, 2001, p. 15). Há uma necessidade de manter uma atitude crítica radical, pois soma-se à postura valorativa. Isto ocorre porque em um determinado contexto histórico, quando indagado sobre o significado da realidade social e sobre as finalidades das formas de pensar, avalia-se como sendo boas ou ruins, verdadeiras ou falsas e socialmente necessárias. Diante disso, é possível afirmar que a filosofia não é um saber desinteressado, isto é, está implícito na pergunta filosófica a ideia de que, se algo está sendo assim, não poderia ser diferente? Isto indica que “a filosofia não trabalha somente com os fatos em sua existência imediata, mas aponta para o devir, ou seja, para a dinâmica da realidade, em suas possibilidades de vir a ser” (BARROCO, 2001 p. 15). 2.1. Então toda filosofia é crítica e radical? Sim, mas para alguns, a crítica teórica, ou a indagação, já são o bastante, enquanto que, para outros, é preciso que a crítica tenha uma função prática. E assim, estamos discutindo sobre a união entre a teoria e prática. Barroco (2001, p. 19) cita a fala de alguns pensadores: • “A práxis é a categoria central da filosofia que se concebe ela mesma como interpretação do mundo, mas também como guia de sua transformação” (VASQUEZ); • “Não se pode destacar a filosofia da política; ao contrário, pode-se demonstrar que a escolha e a crítica de uma concepção de mundo são, também elas, fatos políticos” (GRAMSCI); • “Os filósofos até hoje não fizeram outra coisa senão interpretar o mundo de formas diferentes. A partir de agora é preciso transformá-lo” (MARX). Ou seja, não estamos discutindo sobre qualquer filosofia, mas de uma determinada concepção filosófica (BARROCO, 2001). 10WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA [Para sermos assistentes sociais comprometidos, é necessário sermos inconformados e questionar de modo crítico a realidade, mas isso não basta. É preciso também agir porque senão ficamos só pensando e pensar não modifica a realidade. Além disso, é necessário que a crítica tenha a ver com a realidade, com o mundo concreto. Se entendemos que a crítica é importante para agir de modo comprometido, então é preciso começar perguntando, por exemplo, o que é compromisso? Com o que queremos nos comprometer? É essencial buscar o significado das palavras no mundo concreto e nos homens concretos que as criaram. Então, não basta fazer uso da razão, é necessário a existência das teorias na realidade.] 3 - A NECESSIDADE DE UMA ATITUDE CRÍTICA A racionalidade, a consciência e a capacidade de criar valores e de escolher entre eles são fatores que permitem nós sermos dotados de certas capacidades humanas essenciais, e diante dessas capacidades é que o ser humano pode considerar a condição de ser ético. É por isso que sua saída da singularidade, imergida nas requisições cotidianas, para o exercício de atividades intelectuais, requer o atendimento de certas exigências éticas e, ao mesmo tempo, de forma crítica, frente ao que está posto (BARROCO, 2010). Segundo Chauí (2000), a Filosofia exige uma atitude crítica e que possui duas características: uma negativa e outra positiva. A partir de uma atitude filosófica negativa, ou seja, de uma ruptura com o senso comum, com os pré-conceitos, com os pré-juízos de fatos e ideias do dia a dia, já estabelecidos. Ela também tem sua origem em uma atitude filosófica positiva, visto que propõe uma indagação sobre a essência das coisas a partir de perguntas como: O que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores de nós mesmos. É também questionado sobre o porquê disso tudo e de nós, e indagações sobre como tudo isso é assim e não de outra maneira. “O que é? Por que é? Como é?” (CHAUÍ, 2000, p. 9). A filosofia, desde a sua origem, adota uma postura de contestação das verdades absolutas.Ela parte do pressuposto de que não sabemos o que pensamos saber, partindo da frase de Sócrates: “Só sei que nada sei”. Tal constatação só é possível quando realizamos uma autocrítica e colocamos em xeque o nosso conhecimento sobre as coisas. Essa Crítica pressupõe uma ação, ou uma atitude, que nos tire de uma zona de conforto, onde já sabemos tudo o que necessitamos saber sobre um determinado tema ou assunto. 11WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA A palavra “Crítica” é originada da palavra grega Kritikos, que significa “capacidade de fazer julgamento”. No grego, ela ainda assume outros dois significados: “1) Exame racional de todas as coisas sem preconceitos e sem pré-julgamento; 2) Atividade de examinar e avaliar detalhadamente uma ideia, um valor, um costume, um comportamento” (ORÁCULO PHILOSÓFICO, 2010, p. 1). Ao abandonar o conhecimento baseado no senso comum e iniciar um julgamento racional, a atitude crítica vai em busca de uma verdade que: Nasce da decisão e da deliberação de encontrá-la, da consciência da ignorância, do espanto, da admiração e do desejo de saber. Nessa busca, a Filosofia é herdeira de três grandes concepções da verdade: a do ver-perceber, a do falar-dizer e a do crer-confiar (CHAUÍ, 2010, p. 122). Esta concepção de verdade é muito importante para o Assistente Social, tendo em vista que este profissional assume um dever moral de romper com a própria ignorância para adquirir conhecimento, ao ver e perceber a realidade onde este precisa atuar. Ao adotar uma atitude crítica, o profissional assume que nada sabe e vai em busca de conhecimento que lhe permite desmistificar a verdadeira natureza dos fenômenos que estão diretamente relacionados à prática social. Com uma atitude crítica, o assistente social é um profissional requisitado para atuar nas múltiplas facetadas da questão social. E para garantir uma intervenção Assim como a arte, a filosofia propicia, por seu caráter universalizante, a suspensão da singularidade e, com ela, a possibilidade de uma reflexão sobre questões que – mesmo tendo sido colocadas em tempos remotos – fazem indagar sobre o presente, pois falam do homem, de seus vícios e virtudes, de suas inquietações mais essenciais, e por isso permanecem atuais. Nesse sentido, a arte e a filosofia motivam, instigam, exigem, não apenas reflexões; dependendo de sua intensidade, podem interferir na condução de vida dos indivíduos, em termos éticos-morais e políticos (BARROCO, p. 82, 2010). Conforme Barroco (2010), a filosofia possibilita a reflexões de diversas questões, que são postas no nosso cotidiano, face a isso, colhemos essas questões e as indagamos na ânsia de suas explicações. 12WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 4 - FILOSOFIA E REFLEXÃO ÉTICA A filosofia, enquanto forma de consciência, expressa o conhecimento alcançado pelo ser humano atualmente. Filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentos que surgiu especificamente com os gregos e que, por razões históricas e políticas, tornou-se, depois, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada cultura europeia ocidental da qual, em decorrência da colonização portuguesa do Brasil, nós também participamos. Através da Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte (CHAUÍ, 2000, p. 21). Graças à filosofia, inaugurada pelos gregos, os homens passaram a sistematizar formas de revisar seus pensamentos a respeito da natureza, das coisas, do conhecimento historicamente acumulado, dando início ao que hoje conhecemos como “Reflexão”. É verdade que não foram os gregos que inventaram a reflexão, porém, foram eles os primeiros a estruturar a forma e as bases para refletir sobre as coisas. Assim, ao fazer o pensamento dar voltas sobre si mesmo ao pensar, repensar e pensar novamente (e assim por diante), eles criavam condições para que a consciência tomasse ciência sobre o grau de conhecimento que a pessoa tinha sobre si mesmo, e isso favorecia uma melhoria da capacidade de conhecer a essência das coisas. Como não havia equipamentos ou instrumentos científicos para que pudessem produzir evidências que fossem capazes de sustentar suas teorias, a reflexão se tornou o mais importante dos instrumentos daqueles que foram os primeiros cientistas da história da humanidade. Os gregos antigos acreditavam que era possível purificar intelectualmente o pensamento através da reflexão, e assim, possibilitar que o “Espírito Humano” conhecesse a verdade invisível, imutável, universal, necessária e impossível de compreender se a ajuda da reflexão. Para mostrar a importância da reflexão para a Filosofia, vamos dar o seguinte exemplo. Imagine um bolo de cenoura que você provou na casa de uma amiga e estava delicioso, e você tenta fazer igual, mas não tem a receita, e mesmo assim, tenta por conta própria. Ao imaginar quais ingredientes foram, a quantidade de ingredientes, e o tempo e temperatura de forno, mesmo com todos os seus esforços, seria praticamente impossível conseguir o mesmo resultado. No atendimento individual do assistente social, o usuário do serviço se apresenta com várias questões frente a sua vida cotidiana, e é nesse momento que “colhemos” todas essas informações e passamo-las para a dimensão do saber, da teoria e frente a isso realizamos as intervenções. E, apenas, conseguiremos realizar junto ao usuário a intervenção se refletirmos criticamente. Por essa razão, a necessidade de uma atitude crítica. 13WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Agora, imagine que outras três amigas suas também tentaram, assim, teremos cinco tipos diferentes de bolo de cenoura. Então, imagine se todas tivessem uma única receita, teríamos, então, cinco bolos que, se não fossem iguais, seriam, no mínimo, mais parecidos. Imagine também que, neste caso, a receita pode ser entendida como a forma como a reflexão organiza o pensamento para chegar a um fim, que é o bolo (conhecimento). Talvez a maior conquista da Filosofia foi mostrar que a todos os homens que estes poderiam ter conhecimento e sabedoria (que antes estava restrito aos deuses), se partissem de um mesmo princípio, da mesma receita, que, neste caso, era a reflexão. É importante deixar claro que a Filosofia não pode ser vista como a mãe da sabedoria e do conhecimento, pois estes já existiam muito antes da Filosofia, entretanto, graças a ela, foi possível aprimorar o conhecimento já existente e criar novas ciências a partir da forma de pensar e da reflexão organizada dentro da Filosofia. Outro elemento importante, que favoreceu o desenvolvimento da Filosofia, foi a ética. Ela possibilitou a realização da ação pela vontade orientada pela razão almejando o bem do indivíduo. Este “bem” pode ser entendido como as virtudes morais necessárias ao trabalho da ética dentro da Filosofia. Estas virtudes morais são compostas por temperança, honra, prudência, lealdade, coragem, clemência, justiça, amizade, modéstia, generosidade, fidelidade e alteridade. Para uma reflexão ética e filosófica existe uma grande ligação junto à sociedade. Segue uma ilustração para compreender o pensamento. Figura 3 – Relação da Ética na Sociedade. Fonte: Filosofia, Ética e Sociedade (2013). Conforme Chauí (2000, p. 434), “o campo ético é constituído pelos valores e obrigações que formam as condutas morais, ou seja, as virtudes. Estas são realizadas pelo sujeito moral, principal constituinte da existência ética”. O sujeito ético ou moral, isto é, a pessoa, só pode existir se preencher as seguintes condições: • Ser consciente de si e dos outros, ou seja, ser capaz de reflexão e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticosiguais a ele; • Ser dotado de vontade e de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos e de capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis; • Ser responsável e reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e consequências dela sobre si e sobre os outros, assumi-la bem como às suas consequências e responder por elas; • Ser livre e ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos, atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa. A liberdade não é tanto o poder para escolher entre vários possíveis, mas o poder para autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta (CHAUÍ, 2000, p. 434). 14WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Segundo Barroco (2010), para o exercício de atividades profissionais, requer certas exigências éticas e frente a isso, selecionou 5 (cinco) exigências, entendendo-as como fundamentais no agir ético: 1. Autodomínio, autocontrole das paixões em função da vontade e da razão; 2. Liberdade (autonomia); 3. Consciência moral (alteridade); 4. Responsabilidade; 5. Constância ou permanência. Segundo Chauí (2000, p. 67), a Ética é o “estudo dos valores morais (as virtudes), da relação entre vontade e paixão, vontade e razão; finalidades e valores da ação moral; ideias de liberdade, responsabilidade, dever, obrigação, etc.”. Por essas características, a filosofia é o lugar de nascimento da ética como conhecimento ético ou filosofia moral: sistematização das formas de existência ético-moral do ser social. Por essa herança, a ética se desenvolve como um ramo da filosofia, adquirindo várias configurações, dependendo da perspectiva de cada pensador, mas conservando determinadas características que fazem parte da natureza do conhecimento filosófico, como, por exemplo, seu caráter universalizante e sua preocupação com a essência dos fenômenos. (BARROCO, 2010, p. 83) 5 - ÉTICA E FILOSOFIA Diferentes são os filósofos, que percorreram os caminhos que podem nos levar à compreensão da objetivação da liberdade, ou seja, ao longo da história, se dedicaram sobre uma investigação da ética e dos dilemas humanos que fazem parte da reflexão filosófica. Uma vez que a liberdade é considerada uma categoria fundante da práxis e da capacidade ética do ser social (BARROCO, 2010). Para uma melhor compreensão sobre ética e filosofia, que estão interligadas e que sem uma, a outra não existira, Barroco (2010) nos apresenta alguns pensadores que influenciaram a formação do pensamento ético da sociedade contemporânea. Neste tópico iremos apresentar esses pensadores e destacar a relação entre liberdade e razão, por meio de uma concepção ética que consiste numa autodeterminação do sujeito nas decisões ética, temos então, “uma concepção inaugurada pelos gregos, negada pela ética cristã e retomada na sociedade moderna e contemporânea, em diferentes versões” (BARROCO, 2010, p. 114). 15WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 5.1. Sócrates (470-399 a.C.) A filosofia socrática consistia em garantir o aperfeiçoamento do sujeito, partindo do seu autoconhecimento. Nesta razão, um dos princípios éticos de Sócrates era: conhece-te a ti mesmo. Desse modo, também a ética era concebida como um processo de aperfeiçoamento interior que não ocorria a partir de exigências externas: o sujeito se auto-educa através do diálogo, que pode estimular sua própria busca. Quando Sócrates perguntava, por exemplo, “o que é justiça?”, e alguém respondia, “é um bem”, o filósofo voltava e perguntar: “mas o que é um bem?”; e assim sucessivamente” (BARROCO apud CHAUÍ, 2005, p. 313) Segundo Barroco (apud CHAUÍ, 2005, p. 313), Sócrates era um opositor da democracia ateniense, que concebia a ética como um conhecimento crítico e político. Então, suas perguntas conduziam-se para a consciência dos sujeitos, questionando-os sobre duas dimensões: seu conhecimento acerca de valores e dos fundamentos; e sobre o significado ou sentido dos costumes e dos valores ético-políticos, a vida da cidade. Enfim, para Sócrates, a filosofia não ensina a verdade, o que ele queria dizer era que ela contribuía para revelar a verdade. Por isso, vimos até aqui, que seu método filosófico se chamava de o parto das ideias; que consistia em dialogar com as pessoas, de modo que, por meio de sucessivas perguntas e respostas, as pessoas tomariam consciência de que não sabiam de nada e que, diante disso, seria o primeiro passo para que assumissem que agiam de acordo com o senso comum, e, logo, poderiam buscar a verdade, o bem, e o conhecimento (BARROCO, 2010). 5.2. Platão (428-347 a.C.) Platão foi um discípulo de Sócrates, e inaugurou uma das matrizes que marcaram o pensamento filosófico e a cultura ocidental: o idealismo filosófico. Conforme Barroco (2010), para Platão, existem dois mundos: o mundo sensível e o mundo inteligível. Sendo o primeiro onde tudo se transforma e o segundo onde tudo é perfeito, imutável e a absoluto. No mundo das ideias existem formas perfeitas, modelos imateriais, que são ideias ou os fundamentos de tudo o que existe no mundo sensível. No mundo sensível existem cópias imperfeitas dos modelos existentes no mundo das ideias (BARROCO, 2010, p. 121). E, assim, Platão vem nos afirmar que no mundo sensível é onde as coisas se transformam, já o mundo inteligível é um mundo perfeito, em que nada está errado e que são bases para a existência do mundo sensível (BARROCO, 2010). Por isso, o filosofo destaca que o conhecimento é uma recordação, entretanto, é também um aprendizado que consegue sair da escuridão. E, explica, essas ideais por meio da Alegoria da Caverna. O filósofo é como alguém que saiu de uma caverna escura, onde todos vivem prisioneiros, acorrentados, sem conseguir ver a luz a não ser pela sombra projetada na parede. A luz representa a verdade; as sombras, o senso comum, a ignorância que é confundida com a verdade; não mais enganado pela percepção sensível, o filósofo tem o dever de comunicar aos outros a verdade do mundo inteligível (BARROCO, 2010, p. 122). 16WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA O conhecimento é fundamental para a nossa posição ética, e para a conduta no mundo real e não-ideal. Por isso, a importância do saber ético, e do conhecimento com bases teóricas e metodológicas para sua ação. 5.3. Aristóteles (384-324 a.C.) Na história da filosofia e na cultura humana, Aristóteles é considerado um clássico, tendo em vista que o filósofo permitiu que pudéssemos refletir sobre questões que não perdem a sua atualidade ao longo do tempo. Aristóteles nos elucidou que a ética, assim como a política, é um saber prático, pois é um tipo de conhecimento que depende do nosso agir, ou seja, existe devido às consequências dos nossos atos. A ética, como um saber prático, contribui para definir sobre as condições em que é possível a liberdade ou as condições de como atingir o bem supremo, que para a filosofia é a felicidade. Assim, a prudência, torna-se, então, uma grande virtude ética, tendo em vista que proporciona a capacidade para discernir entre uma ação ou outra, ou seja, entre a melhor maneira e o melhor caminho a seguir. Aristóteles define que a ética é uma decisão humana acerca do que é possível decidir, isto é: os homens deliberam o que se encontra no campo de suas possibilidades: o campo da razão e das coisas que cada homem pode fazer, ou seja, deliberamos acerca das coisas que dependem de nós (BARROCO, 2010, p. 125). Segundo Barroco (2010), não conseguimos deliberar sobre os acontecimentos da natureza, tendo em vista que sua mudança ou duração não está sujeito a nós. Porém, quando se refere ao campo das ações humanas,torna-se o campo do possível e detemos o poder de decidirmos acerca das possibilidades, alternativas e dos fins possíveis e é aqui que exatamente consiste uma atuação ética. A capacidade ética do ser humano evidencia-se por meio de seu controle das paixões e instintos, ou seja, requisições para escolhas éticas. Por tanto, segundo Aristóteles, “o homem é um ser político e social; um ser racional que pode controlar as suas paixões e a maior prova disso é sua capacidade ética” (BARROCO, 2010, p. 126). Segundo Barroco (2010), Aristóteles realiza uma síntese da concepção ética de vontade racional autônoma, onde sua deliberação não necessariamente depende de agentes externos, mas sim, de uma vontade consciente que o atuante dá para si mesmo. Aristóteles também traz sobre a virtude, até em seus ensinamentos (Ética a Nicômoco) discute especificamente sobre as virtudes, afirmando que a virtude consiste na disposição de escolher racionalmente (BARROCO, 2010). 17WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Segue um quadro de Aristóteles que apresenta sobre os vícios e virtudes. Quadro 1 – Aristotélico das virtudes e dos vícios. Fonte: Chaui (2000, p. 448). Conforme Chauí (2000, p. 448), “Aristóteles distingue vícios e virtudes pelo critério do excesso, da falta e da moderação: um vício é um sentimento ou uma conduta excessiva, ou, ao contrário, deficientes; uma virtude, um sentimento ou uma conduta moderados”. Para concluirmos, é importante ressaltar que Sócrates, Platão e Aristóteles foram os primeiros filósofos a tratar sobre questões éticas, portanto buscaram uma forma de estabelecer um conhecimento apropriado para superar o conhecimento empírico e de se distinguir por sua fundamentação rigorosa. Por esta razão, a filosofia passou a caracterizar-se pela busca de fundamentos ou princípios do fenômeno que investiga, o que, na história da filosofia metafísica, se convencionou tratar a partir do ser, isto é, a filosofia busca principalmente, os fundamentos do ser, dando origem ao conceito de ontologia, que significa o estudo ou a teoria do ser em geral (BARROCO, 2010). Iniciamos esse tópico discutindo sobre os filósofos: Sócrates, Platão e Aristóteles, pois são estes que proporcionam uma reflexão e uma sistematização sobre a ética. São, também, pensadores que permanecem na história, tendo em seu núcleo central o valor da razão teórica e da liberdade. Agora, iremos apresentar Tomás de Aquino, filósofo que formulou os alicerces da ética cristã e da Doutrina Social da Igreja, e, na Idade Média, a ilustração de como a liberdade se transformou-se em livre-arbítrio, e a razão teórica passou a estabelecer uma subordinação da revelação e a fé. 18WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 5.4. Tomás de Aquino (1221-1274) A filosofia tomista, base da doutrina cristã, no período feudal permeou na vida social por sua sustentação político-ideológica, a Igreja. Tomás de Aquino foi o filósofo que elaborou sobre a Doutrina da Igreja, tendo como objetivo “oferecer uma interpretação racional às verdades da revelação, o tomismo: parte do dogma da existência de Deus, tratado com fim último da existência humana” (BARROCO, 2010 p. 129). Segundo Barroco (2010) apud Abbagnano (1985), a existência humana é naturalmente subordinada à fé e a revelação. Assim, não pertence à razão humana apresentar o que Deus revelou, ou seja, permanece no domínio da fé. Diante disso, a razão pode servir à fé, demostrando que Deus existe, que é único, que tem determinados atributos que podem interferir nos acontecimentos criados por Ele. Sendo Deus criador da natureza humana, a razão é também derivada de Deus. Desse modo, a razão pode se contrapor à revelação; a razão humana é subordinada à fé e se houver uma contradição é sinal de que não se trata de uma verdade racional, mas de contradições falsas (BARROCO, 2010, p. 130 apud ABBAGNANO, 1985, p. 26). Partindo dos princípios ditados pela fé, Tomás de Aquino desenvolve os fundamentos da ação humana, inserindo ações éticas e nos apresenta em sua obra “Suma teológica”. Para Tomás de Aquino, existem “três espécies de lei: a lei eterna ou divina, a lei natural e a humana, incluindo a lei moral” (BARROCO, 2010, p. 130). Segundo Tomás de Aquino, quando os homens obedecem às leis morais, alcançam a sua essência e, com isso, se aproximam de Deus. Isso ocorre, pois o homem tende naturalmente ao bem, ou seja, sua natureza humana é considera boa. “As leis morais, sendo derivadas das leis divinas, são leis humanas que tendem ao bem e contam com a confirmação dada pela revelação que determina as virtudes e os deveres derivados do Bem Supremo” (BARROCO, 2010, p. 130). Suma Teológica é o título da obra básica de São Tomás de Aquino, frade, teólogo e santo da Igreja Católica, um corpo de doutrina que se constitui numa das bases da dogmática do catolicismo e considerada uma das principais obras filosóficas da escolástica. Foi escrita entre os anos de 1265 a 1273. Nesta obra Aquino trata da natureza de Deus, das questões morais e da natureza de Jesus (AQUINO). Aquino reúne na SUMA a filosofia, a teologia e a mística, isto é, o saber humano, a tradição cristã, a ética pessoal e social, a contemplação e união com Deus, tendo sempre como objetivo maior de se alcançar a realização plena do ser humano e da sociedade. 19WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Mesmo tencionado para o bem, o homem é dotado de livre-arbítrio, ou seja, é um ser livre para escolher suas ações. Diante disso, o homem é livre para escolher entre o bem e o mal, tendo em vista ser um ser livre. (BARROCO, 2010) O homem é capaz de discernir entre o bem e o mal; tende ao bem por natureza; e além disso dispõe de uma capacidade de entender os princípios que levam ao bem, quer dizer, ele tem as condições para escolher o bem. Mas pode, por sua escolha consciente, afastar-se do bem (BARROCO, 2010, p. 131). O bem comum ou felicidade geral, é para filosofia tomista, compreendido como responsabilidade ética das instituições básicas da sociedade, por exemplo, a família se encarrega pela educação moral dos filhos e a igreja encarregada pela vida espiritual da comunidade (BARROCO, 2010). Na filosofia cristã, o conceito de pessoa humana é fundamental para identificar que os homens apresentam uma essência comum. Diante disso, temos Deus como o princípio e o fim da existência humana, fonte de dignidade e da perfectibilidade, de onde todo humano tenciona por natureza (BARROCO, 2010). Para a ética cristã, o conceito de livre-arbítrio refere-se a escolhas de virtudes. E para a Igreja elas estão divididas da seguinte forma, segundo Barroco (2010): • Virtudes teológicas, que dizem respeito frente a nossa relação com Deus, que são: a fé, a esperança e a caridade; • Virtudes cardeais, que definem o nosso comportamento social, que são: a coragem, a justiça, a temperança e a prudência; • Virtudes morais, que definem o nosso comportamento moral, que são: a sobriedade, a prodigalidade, a castidade, a mansidão, a generosidade, a modéstia, o trabalho. Para ter o paramento em oposição ao que são escolhas do homem para o mal, a ética cristã toma como base os pecados capitais e com isso determinam também o que são vícios. Os setes pecados capitais: gula, avareza, preguiça, luxúria, ira ou cólera, inveja, e soberba ou orgulho definem atos morais que afastam o homem do bem, ou seja, são atos do mal, pois o mal compreendido como a privação do bem (BARROCO, 2010). A ética cristã acaba despolitizando a liberdade no momento em que transfere o conceito de livre-arbítrio para a relação que cada homem tem com Deus, ou seja, uma relação que deveria ser ético-política e pública acaba sendo uma relação privada e subjetiva (BARROCO, 2010). 5.5. Jean – JacquesRousseau (1712 – 1778) Rousseau traz para nós a beleza de compreender que a liberdade é natural do homem e que com este estado de natureza os homens viviam em harmonia por meio do amor universal. Entretanto, uma sociedade marcada pela propriedade privada, rompeu com esse estado natural (BARROCO, 2010). Ao romper com esse estado natural, se rompe com a harmonia, transformando, assim, o amor em egoísmo. Assim, Rousseau defende que é preciso encontrar formas de convivência social, pronta para garantir uma união entre os homens (BARROCO, 2010). 20WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Rousseau tem a educação como um instrumento para o desenvolvimento de potencialidades naturais, pois se trata de um processo que proporciona a progressão de como agir, isto é, o que não deve e o que deve fazer para ser feliz, sendo um processo de educação moral voltado aos princípios que regem o dever da liberdade e igualdade (BARROCO, 2010). Sua proposta educativa é exposta em Emílio, um menino educado para conservação da natureza humana primitiva perdida com a educação tradicional. A educação não deve se voltar para a virtude e a verdade, e sim deixar a criança se desenvolver de modo espontâneo, de forma que nada venha do exterior, mas do íntimo, dos sentimentos que serão naturalmente disciplinados, dando origem aos valores morais (BARROCO, 2010, p. 137). Compreende-se que Rousseau apresenta sua concepção ética ao dizer sobre a educação. Embora ele apresenta e enfatiza a questão dos sentimentos na formação dos valores morais, isto é, deixa bem claro que o homem necessita ser educado para não aceitar nenhuma determinação externa, ou seja, deverá ser crítico frente ao que foi posto, e isso só conseguimos por meio da educação, do conhecimento e da ciência. 5.6. Immanuel Kant (1724-1804) Neste período histórico, Kant busca uma resposta ética em defesa do antagonismo entre a liberdade e a luta por interesses privados. Entretanto, o pensamento ético de Kant é transcendental e universal, o que faz com que se torna incompatível com a vida empírica. Kant distingue a razão pura da razão prática; a primeira tem como matéria a realidade exterior, determinada segundo leis necessárias de causas e efeito, que independem da ação humana. A razão prática, por sua vez, não opera com leis necessárias exteriores; cria as suas próprias leis, que são as leis morais. A lei moral tem, pois, fundamento interior: funda-se na consciência do dever. (BARROCO, 2010, p. 139) Kant vem discutir o princípio da universalidade, onde uma norma moral pode ser universalizável, quando ultrapassa os casos particulares e os interesses. 5.7. Georg W. Friedrich Hegel (1770-1831) Para Hegel, a liberdade é como autoconsciência que se realiza no mundo do ethos, do político, do jurídico, de uma cultura criada historicamente pelo homem. Hegel rompe com a distinção kantiana entre liberdade e necessidade, colocando a normativa da ação do homem nas instituições sociais. “A liberdade só é plena quando se faz ‘mundo’ [...]. A liberdade é energia que não fica presa na esfera da interioridade subjetiva, mas se realiza nas leis, nos costumes e nas instituições que regem a vida comum dos homens” (BARROCO, 2010, p. 147 apud OLIVEIRA, 1993, p. 219) 21WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 5.8. Jean-Paul Sartre (1905-1980) Para Sartre, a filosofia é inseparável da sua vida, no contexto do pós-guerra, em Paris. A liberdade é uma categoria ontológica na filosofia de Sartre. O homem se define como um ser que projeta e escolhe, ou como dizia o filósofo, o homem está por permanecer livre, o que caracteriza dizer que não se pode fugir do que naturalmente é, uma condição ineliminável de ter sempre (BARROCO, 2010). LIBERDADE E SOCIEDADE – EXTRATOS Você certamente conhece aquele ditado que diz que “a minha liberdade termina onde começa onde começa a do outro”. Você já pensou a respeito? Se a minha liberdade que termina na liberdade do outro é, de fato, uma liberdade? Ora, se a minha liberdade é limitada pelo papel do meu vizinho, significa que a dele também é limitada pela minha. Em outras palavras, nem ele nem eu somos livres. Se pensarmos bem, tal ideia de liberdade significa que apenas somos livres se vivemos sozinhos, isolados de outras pessoas. No entanto, a vida em sociedade é uma condição humana. Ser homem significa viver junto com outras pessoas. E viver juntos é conviver (compartilhar a vida, os espaços, os sonhos, as alegrias, as tristezas...) e não apenas coabitar (dividir o mesmo espaço; uma casa, por exemplo). Dessa maneira, devemos esquecer a hipótese de uma liberdade absoluta, na qual somo donos absolutos de nossos narizes porque não existem outros como nós para nos ameaçar. E além do mais, que graça teria eu ser livre se não houvesse outras pessoas para reconhecer em mim essa liberdade? (Silvio Gallo, 1999, p. 79 apud Barroco, 2010, p. 204) Para ampliação de sua compreensão sobre os fundamentos da ética no Serviço Social, se faz fundamental a leitura do seguinte artigo. BARROCO, Maria Lúcia Silva. Fundamentos éticos do Serviço Social. Brasília/ DF. CFESS/ABEPSS. 2009. Disponível em: http://www.cressrn.org.br/files/ arquivos/8QQ0Gyz6x815V3u07yLJ.pdf 22WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Espera-se que ao chegar aqui, o conteúdo trabalhado tenha contribuído para uma ampliação sobre filosofia e a necessidade de uma atitude crítica. Esta unidade especificou sobre a filosofia, a necessidade de se ter uma atitude crítica, e, no final, apresentamos alguns filósofos mais discutidos no serviço social. Observa-se a importância de manter uma atitude crítica frente as situações apresentadas no cotidiano profissional do serviço social. Sendo assim, podemos verificar que o conhecimento filosófico torna o ser humano um ser reflexivo, um ser dotado de teoria capaz de ir além do que está posto, ou seja, de sair do senso comum e ir além. Com essa qualidade reflexiva, o ser humano pode escolher ter sua autonomia, escolher sua verdadeira liberdade humana de pensar refletir e agir. O valor da filosofia está na qualidade de reflexão, já que ela nos tira dos dogmas, do preconceito e do senso comum e no enriquecem com os conteúdos de bases teóricas. 2323WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 24 1 - CONTEXTO HISTÓRICO DA MORAL .................................................................................................................. 25 2 -MORAL NAS SOCIEDADES PRÉ-CAPITALISTAS .............................................................................................. 27 3 - O CARÁTER SOCIAL DA MORAL ...................................................................................................................... 29 4 - ÉTICA ................................................................................................................................................................... 32 5 - ÉTICA E MORAL NA ATUALIDADE; AMBIGUIDADES E SINERGISMOS ........................................................ 35 6 - A IMPORTÂNCIA DA REFLEXÃO ÉTICA PARA O SERVIÇO SOCIAL .............................................................. 37 7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 39 EM BUSCA DOS FUNDAMENTOS ÉTICOS: OS CONCEITOS DE MORAL E ÉTICA (COM BASE NA VIDA COTIDIANA) PROF.A FRANCIELE HOLANDA DE MOURA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: ÉTICA PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL 24WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL EM S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Ética e Moral, palavras discutidas frequentemente, porém nunca traduzidas. Nesta unidade, apresentaremos a diferença existente entre Ética e Moral, de modo que são diversos os filósofos e os mais variados conceitos que trazem sobre essas duas palavras. Entretanto, para o serviço social, será apenas os conceitos elencados nesta unidade que se faz fundamental para a atuação profissional. Iniciaremos uma discussão inicial sobre o contexto histórico sobre a moral; a moral na sociedade pré-capitalista; o caráter social da moral e logo depois apresentaremos sobre a ética e seu conceito; além de uma reflexão ética. Você conseguirá compreender os conceitos e a importância da reflexão ética no serviço social. 25WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - CONTEXTO HISTÓRICO DA MORAL Moral é um conjunto de normas e regras destinadas a regular as relações entre os indivíduos numa comunidade social dada, o seu significado, função e validade não podem deixar de variar historicamente nas diferentes sociedades. Assim como as sociedades sucedem-se umas às outras, também as morais concretas, efetivas, se sucedem e substituem umas às outras. Por isso, pode-se discutir sobre a moral da Antiguidade, da moral feudal própria da Idade Média, da moral burguesa na sociedade moderna, entre outras. Portanto, a moral é histórica e, por consecutiva, a ética, como ciência da moral, não pode concebê-la como dada de uma vez para sempre, mas tem de considerá-la como um aspecto da realidade humana em constante mudança (VÁZQUEZ, 2014). A moral só pode surgir quando o homem supera a sua natureza puramente natural, instintiva, e possui uma natureza social, ou seja, a partir do momento que já é membro de uma coletividade (genes, várias famílias aparentadas entre si, ou tribo, constituída por várias gens). Neste sentindo, a moral surge como uma regulamentação do comportamento dos indivíduos, e, diante disso, a moral exige necessariamente que o homem não esteja apenas em relação com os demais, mas também com certa consciência da relação para que se possa comportar de acordo com as normas ou prescrições que o governam (VÁZQUEZ, 2014). [...] esta relação de homem para homem, ou entre o indivíduo e a comunidade, é inseparável da outra vinculação originária: a que os homens – para substituir e defender-se – mantêm com a natureza ambiente, procurando submetê-la. Esta vinculação se manifesta, antes de mais nada, no uso e fabrico de instrumentos, ou seja, no trabalho humano. Através do trabalho, o homem primitivo já estabelece uma ponte entre sim e a natureza e produz uma série de objetos que satisfazem as suas necessidades. Com seu trabalho, os homens primitivos tentam pôr a natureza a seu serviço, mas sua fraqueza diante dela é tal que, durante longo tempo, se lhes apresenta como um mundo estranho e hostil (VÁZQUEZ, 2014, p.39-40). A moral é histórica, porque é um modo de comportamento do homem, que por sua natureza é histórico, ou seja, um ser cuja as características se autoproduz constantemente tanto nos aspectos de sua existência material, prática, como no de sua vida espiritual, incluída nesta a moral (VÁZQUEZ, 2014). 26WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA A partir do momento que o homem mexe na natureza, ele começa a fazer sua história, e diante da fragilidade do homem primitivo com a natureza, é que surgem todos os esforços para dominá-la. O trabalho, a constituição de instrumentos, fazendo parte de uma coletividade, faz com que o homem garanta a subsistência e a sua afirmação perante aos outros. A própria fragilidade de suas forças diante do mundo que os rodeia determina que, para enfrenta-lo e tentar dominá-lo, reúnam todos os seus esforços visando a multiplicar o seu poder. Seu trabalho adquire necessariamente um caráter coletivo e o fortalecimento da coletividade se transforma numa necessidade vital. Somente o caráter coletivo do trabalho e, em geral, da vida social garante a subsistência e a afirmação da gens ou da tribo (VÁZQUEZ, 2014. p. 40). Neste sentido, surge as normas, mandamentos ou prescrições não-escritas, apenas com os atos ou qualidades dos membros da gens ou da tribo que beneficiam toda a comunidade. E com isso, surge a MORAL, com a finalidade de assegurar a concordância do comportamento de cada um com os interesses coletivos. Entretanto, essa moral coletivista não se aplicava para outras tribos, ou gens, consideradas como inimigas. Essa moral coletivista, característica das sociedades primitivas que não conhecem a propriedade privada nem a divisão das classes, é uma moral única e válida para todos os membros de uma comunidade, ou seja, trata-se, no entanto, de uma moral limitada pelo próprio âmbito da coletividade, fora dos limites das gens ou tribos, seus princípios e normas perdiam a legitimidade (VÁZQUEZ, 2014). Entendemos aqui, que se tratava de uma moral pouco desenvolvida, cujas normas e princípios são aceitos sobretudo pela força do costume e da tradição. Não existiam propriamente qualidades morais individuais, pois a moralidade do indivíduo o que havia de bom, seu valor, sua atitude com o respeito ao trabalho, entre outros, eram qualidades e atributos de qualquer membro da tribo, ou seja, o indivíduo existia somente em fusão com a comunidade (VÁZQUEZ, 2014). Observa-se que os elementos de uma moral mais elevada, baseada na responsabilidade pessoal, somente poderão efetivos quando forem criadas as condições para um novo tipo de relação entre o indivíduo e a sociedade. As condições econômico-sociais que tornarão possível a passagem para novas formas de moral são exatamente o aparecimento da propriedade privada e a divisão da sociedade em classes (VÁZQUEZ, 2014). É interessante compreender a origem da Moral, mais especificamente na sociedade primitiva, de modo que a moral se inicia com o trabalho, ou seja, a partir do trabalho que o homem se relaciona com outros homens e essa relação necessita lançar mão de regras e normas, e, então, eis que surge a MORAL. [...] esta moral coletivista, característica das sociedades primitivas que não conhecem a propriedade privada nem a divisão em classes, é uma moral única e válida para todos os membros da comunidade. Mas, ao mesmo tempo, trata-se de uma moral limitada pelo próprio âmbito da coletividade; além dos limites da gens ou da tribo, seus princípios e suas normas perdiam sua validade. As outras tribos eram consideradas como inimigas e, por isso, não lhes eram aplicadas as normas e os princípios que eram validos no interior da própria comunidade. (VÁZQUEZ, 2014 p 41) A moral primitiva provocava em um regulamento, regras ou normas de comportamentos de cada um conforme os interesses da coletividade, porém, nessa relação, o indivíduo apenas percebia si mesmo como parte da coletividade ou como um apoio. Portanto, não existia uma moral individual, apenas coletiva (VÁZQUEZ, 2014). 27WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Não existiam propriamente qualidades morais pessoais, pois a moralidade do indivíduo, o que havia de bom de digno de aprovação no seu comportamento (seu valor, sua atitude com respeito ao trabalho, sua solidariedade, etc.), era qualidade de qualquer membro da tribo; indivíduo existia somente em fusão com a comunidade, e não se concebia que pudesse ter interesses pessoais, exclusivos, que entrassem em choque com os coletivos (VÁZQUEZ, 2014, p. 41-42). Essa situação de não proporcionar em uma sociedade uma moral individual, não permite uma autentica decisão particular. Ou seja, a coletividade se apresenta como um limite para a moral. 2 -MORAL NAS SOCIEDADES PRÉ-CAPITALISTAS Segundo Simões (2009), nas sociedades pré-capitalistas, asrelações de trabalho, dentro do ciclo econômico, eram complexas, mas eram comunitárias, no sentindo de que não se distinguiam, ou não estavam separadas em seus diversos elementos. Por exemplo, a relação de trabalho de um camponês era econômica, mas era simultaneamente religiosa e moral (o próprio ciclo econômico pressupunha nexos morais sem os quais não funcionava). Se um camponês não cumprisse a palavra de honra, que é um valor moral, furava o ciclo. Se um trabalhador falhasse no trabalho, esta falha não era apenas uma “justa causa” como é hoje, ou restrita a uma questão legal- trabalhista. Era simultaneamente “pecado”, um ato imoral, e assim por diante. Ou, como dizia, Engels, era o mundo da teologia imbricado com o mundo do trabalho. Não havia distinção. (SIMÕES, 2009, p. 60-61). Simões (2009) quer nos dizer que, nessa sociedade, a relação de trabalho de um camponês era uma relação com a comunidade, global, instintiva e espontânea, visto que não havia a separação entre a vida privada e a comunitária, e, com isso, não havia uma concepção da vida privada. Existia uma moral do trabalho, mas não havia uma moral do trabalho especificamente, ou um sistema de normas, diante disso, não havia uma lei especifica do trabalho. Mudanças históricas vão ocorrendo e desde de então a moral vem se configurando, se transformando, criando várias percepções, ou seja, ela não é estática, ela se transforma a partir do momento que a sociedade se transforma também. Temos as condições socioeconômicas e o aparecimento de uma sociedade privada e a divisão da sociedade em classes que apresentaram novas formas de moral. 28WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Havia uma normativa única e geral, em que o indivíduo era apenas uma síntese do coletivo e do individual, não havia uma separação entre o público e o privado, ou seja, elas não estavam separadas. E, diante disso, gerava uma repressão violenta, impiedosamente e comunitária. Se o trabalhador errasse, ele estava errando contra o próprio coletivo, poderia levar até o suicídio. Há descrição de uma moça subindo em um coqueiro, onde faz um discurso de meia hora, dizendo que a comunidade também estava errada, mas se atira lá de cima. O aspecto coletivo de abete tragicamente sobre o indivíduo. As relações de produção eram simultaneamente de parentesco, e estas organizavam a produção. Não havia separação. (SIMÕES, 2009, p. 62). Por não ocorrer essa separação, e por não haver uma normativa do trabalho especificamente, a moral utilizada nessa sociedade provocava a situação que acabamos de ler. A história nos apresenta uma sucessão de morais que correspondem às diferentes sociedades que se sucedem no tempo. Mudam os princípios e as normas morais, a concepção daquilo que é bom e daquilo que é mau, bem como do obrigatório e do não obrigatório. Já na sociedade capitalista, em que a divisão técnica do trabalho e a divisão social do trabalho se aprofundaram ocorre a separação, ou seja, devido ao desenvolvimento da privatização e dos meios de produção, verifica-se que a sociedade se dividiu; constituiu-se uma sociedade civil e um Estado (SIMÕES, 2009). Conforme Simões (2009, p. 62), na sociedade capitalista, ao se formar uma sociedade civil e um Estado, o coletivo passa a separar do mundo privado. O coletivo separou-se do mundo privado, o mundo em que é legítima a imposição do interesse particular e egoísta. [...] Certamente, um mundo sob cuja ótica estrita não é legítimo exigir do indivíduo qualquer subordinação ao coletivo. Quando se pensa nessa ótica, nos interesses globais da sociedade, então vamos para o Estado. Falamos em cidadania. Cindiu-se a sociedade, passando a relação do trabalho para o campo privado, dos interesses individuais. Diante disso, chegamos nas relações de trabalho quando, por haver uma contradição entre as classes, passam a generalizar seus eixos morais para o conjunto da sociedade, da mesma forma que expressão interesses distintos e contraditórios. (SIMÕES, 2009). A moral, como um sistema de valores, de um DEVER-SER, de referências de comportamentos, passa a ser, uma referência para o coletivo. E, dessa forma, os valores morais passam a ter uma grande relevância social, já que passam a ser referência da conduta dos indivíduos em sua privacidade. (SIMÕES, 2009) 29WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA E, dessa forma, ocorre que numa sociedade onde os interesses particulares entram em contradição com os interesses gerais, passa a ocorrer uma MORAL DO PARTICULAR em conflito com os padrões pré-estabelecidos socialmente (SIMÕES, 2009). Para compreendermos melhor essa temática, se faz necessário um aprofundamento sobre a moral na sociedade. Frente a isso, no próximo tópico, contextualizaremos, brevemente, sobre o caráter social da moral, bem como o individual e o coletivo na moral. 3 - O CARÁTER SOCIAL DA MORAL A moral por se manifestar na sociedade, pode-se afirmar que ela possui uma essencial na qualidade social, dando respostas as suas necessidades e cumprindo determinadas funções. Vazquez (2014) nos informa três aspectos fundamentais da qualidade social da moral: • Os indivíduos, comportando-se moralmente, se sujeita a determinados princípios, valores ou normas morais. Porém, os indivíduos se sujeitam a certos princípios devido ao seu pertencimento em cada época determina e em uma determinada comunidade humana, trata-se de princípios e normas que valem segundo o tipo de relação social dominante. Ou seja, o indivíduo já se depara com um normativo já estabelecido, então não o compete criar ou modificar os princípios já existentes. Nesse sentido, a submissão do indivíduo com as normas já estabelecidas pela comunidade, manifesta perfeitamente o caráter social da moral. • O comportamento moral é tanto o comportamento individual quando as dos grupos sociais em sociedade, onde as ações têm um caráter coletivo, livre e consciente. Portanto, se trata da conduta de uma pessoa que afeta o coletivo, tal atitude proporcionará tanto uma aprovação ou uma reprovação. Por exemplo, o permanecer sentado durante algum tempo numa praça pública, não afeta ninguém, entretanto se alguém escorregar ao seu lado e permanecer sentado, o ato de não ajudar pode ou não ser um objeto de qualificação moral (negativa, no caso), tendo em vista que afeta os outros, ou seja, a relação com outro indivíduo. • Por último temos, as ideias, normas e as relações sociais surgem e se amplia devido há uma necessidade social. A sua necessidade e a sua respectiva função social esclarecem que nenhuma das sociedades conhecidas até hoje, tenha a ação do poder de dispensar a forma do comportamento humano. 30WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA O objetivo da função social da moral é regulamentar as relações entre os homens, para contribuir na manutenção e garanta da ordem social. Historicamente, ocorreram diversas transformações na moral, entretanto, a função social da moral permanece a mesma, ou seja, seu objetivo é regular as ações dos indivíduos nas suas relações sociais, pensando em preservar a sociedade no seu conjunto. Dessa forma, a moral contribui para com que as ações dos indivíduos se desenvolvam de maneira vantajosa para toda a sociedade ou uma parte dela (VAZQUEZ, 2014). Segundo Vazquez (2014), existem três pontos que identifica que o caráter social da moral: • A primeira é que os indivíduos se sujeitam aos princípios, normas e valores construídos socialmente; • A segunda é que ocorre a regulamentação somente de ações e relação que ocasionam consequências para os outros e exigem necessariamente a sanção dos demais; • E a terceira e último é que cumpre a função social de influenciar os indivíduos a aceitar determinados princípios, valores ou interesses.O caráter social da moral implica uma particular relação entre o indivíduo e a comunidade ou entre o individual e o coletivo. [...] Os indivíduos vivem numa atmosfera moral, na qual se delineia um sistema de normas ou de regras de ação. Em todas as partes aspira os miasmas da moral estabelecida e a sua influência é tão forte que, em muitos casos, o indivíduo age de forma espontânea habitual, quase instintiva (VAZQUEZ, 2014, p. 70-71). É na relação social que as pessoas exercem a moral, que nada mais é do que os nossos costumes, os nossos valores, ou seja, o que está enraizado e que repetitivamente é nos orientado a realizar de gerações para gerações, frente a isso, os costumes acabam representando o DEVER SER. O costume não desaparece completamente como forma de regulamentação moral, visto que as normas que vigoram na sociedade, as vezes sobrevivem por muito tempo ou sobrevivem a mudanças sociais importantes e estão intactas pelas tradições (VASQUEZ, 2014). Mesmo após o surgimento de novas estruturas sociais, os hábitos e costumes, por apresentar uma grande força, continuam por muito tempo dentro de uma dada sociedade. “Toda nova moral deve romper com a velha moral que tenta sobreviver como costume; mas, por outro lado, o novo, do ponto de vista moral, tende a consolidar-se como costume” (VASQUEZ, 2014 p. 72). De fato, o costume acaba operando um meio efetivo de permanecer o indivíduo na comunidade, de fazer com que suas ações contribuíam para mantê-lo em sociedade. Portanto, o indivíduo age conforme as normas aceitas por um determinado grupo social ou por toda comunidade. (VASQUEZ, 2014) 31WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Na figura vemos uma forma de como a moral atua em sociedade. Figura 1 – Representatividade da Moral e bons costumes. Fonte: O Andarilho (2016). O costume proporcionando uma intenção normativa acaba possuindo um caráter moral. Porém, esse tipo de regulamentação moral, não consegue abranger o domino na integra da moral. “A moral se caracteriza, entre outras coisas, por um aumento do grau de consciência e de liberdade e, por conseguinte, de responsabilidade pessoal no comportamento moral” (VASQUEZ, 2014, p. 72). A moral e o costume geram violência, morte, discriminação, preconceito e uma estigmatização daquilo que é considerado fora do “normal”, do “costume da sociedade”. - A partir do momento que na regulamentação moral do seu comportamento, o indivíduo, tem sua participação livre e consciente, o costume acaba diminuindo o seu papel como uma instancia reguladora. 32WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Para completar a questão sobre moral bem como a ética, segue um vídeo de Adolfo Sánchez Vázquez, titulado: Ética y Marxismo, disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=IvUwV3W5d5s 4 - ÉTICA Sabemos, então, que a moral são normativas, “forma mais elementar de objetivação da moral, se realiza através da reprodução de normas e regras de comportamento socialmente determinadas”, conforme aponta Barroco (2010, p. 59). E sua origem foi fundamental, nas sociedades primitivas, tendo em vista a necessidade de preservação e de integração da comunidade, bem como a relação entre os indivíduos em sociedade. E nessa relação no cotidiano entre os indivíduos, nascem múltiplas questões, ou conforme Vazquez (2014), surgem “problemas”, como: Será que devo cumprir a minha ida aquela festa que fiz ontem para o meu amigo, mesmo sabendo que isso causará prejuízos em meus estudos? Os soldados que executaram diversas pessoas na Segunda Guerra mundial, cumprindo ordens militares, devem ser moralmente condenados? Pode-se considerar “boa” que uma pessoa que se demostra gentil com um morador de rua, e este, como patrão explora impiedosamente os funcionários de sua empresa? Todas essas questões são exemplos de problemas práticos, ou seja, segundo Vazquez (2014, p. 15-16): [...] problemas que se apresentam nas relações efetivas, reais, entre indivíduos ou quando se julgam certas decisões e ações dos mesmos. Trata-se, por sua vez, de problemas cuja solução não concerne somente à pessoa que os propõe, mas também a outra ou outras pessoas que sofrerão as consequências de sua decisão e da sua ação. Segundo Barroco (2010), nem todas as ações geram implicações morais, ou seja, várias escolhas não permitem consequências para os outros, tendo em vista que são opções e escolhas pessoais. Podemos citar alguns exemplos: orientação sexual, a maneira de se vestir, a opção religiosa, a cor do próprio cabelo, tatuagens no corpo entre outras. Frente a isso, a autora faz reflexão frente ao modo e ser ético-morais, que são desenvolvidos historicamente pelos indivíduos, por meio de uma determinada fase de organização do trabalho e da vida social. O sujeito ético-moral é socialmente considerado capaz de responder por seus atos em termos morais, o que significa ser capaz discernir entre valores (certo/ errado; bom/ mau etc.), que é o mesmo que ter senso ou consciência moral. Uma ação moral consciente é aquela em que o sujeito assume que o(s) outros (os) pode(m) ou não sofrer as consequências por seus atos; por isso, a moral supõe o respeito ao outro (alteridade) e a responsabilidade em relação aos resultados das ações para outros indivíduos, grupos e para a sociedade em geral (BARROCO, 2010, p. 58). 33WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Para se relacionar com o outro, a condição com efeito e ação ética apenas tem sentido se o sujeito se ausentar de sua singularidade voltada especialmente para o seu “eu” e passar a se relacionar com o outro. Vamos pensar em algumas atitudes éticas como a “solidariedade, o companheirismo, o altruísmo” (BARROCO, 2010, p. 58), ou seja, pensar no outro e sair dessa condição egoísta e individual, tornando-se mais viável compreender sobre o ato moral. Se a solução dada aos problemas éticos influi na moral vivida, mesmo sem ser normativa, ela pode contribuir para fundamentar certa forma de moral, legitimando-a para toda a sociedade. Algumas doutrinas éticas do passado fizeram isso, tornaram-se uma justificação ideológica de determinada moral, correspondente a determinados interesses sociais, elevando seus princípios como normas universais, válidas para qualquer moral. Mas a função da ética, ao contrário, é a mesma de toda teoria: explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade (a moral), elaborando os conceitos correspondentes. A ética parte do fato da existência da história da moral, tomando como ponto de partida a diversidade de morais no tempo, com seus valores, princípios e normas. Deve explicar suas diferenças e investigar seu movimento e desenvolvimento. Quando cumpre sua função, a ética pode revelar uma relação entre o comportamento moral e as necessidades e interesses sociais, ajudando a desmascarar a moral de um grupo social que se pretenda universal, desconsiderando as necessidades e interesses concretos. Assim, não cabe à ética formular juízos de valor sobre a prática moral de outras sociedades ou épocas, mas explicar a razão de ser dessa pluralidade de morais e das mudanças pelas quais elas passam. Deve esclarecer o fato de os homens terem recorrido a práticas morais diferentes e até opostas. O campo da ética não pode ficar à margem da experiência moral efetiva, nem se limita a uma forma temporal e relativa da mesma. O que na ética se afirmar sobre a natureza ou fundamento das normas morais deve valer para a sociedade grega ou moderna. Isto assegura seu caráter teórico e evita sua redução a uma disciplina normativa ou pragmática. A ética não é normativa, pois seu valor está naquilo que ela explica e não no fato de prescrever normas ou recomendar condutas para a ação em casos concretos. “A ética é a teoria ou ciência docomportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é ciência de uma forma especifica de comportamento humano” (VASQUEZ, 2014, p. 23). A ética é a ciência da moral, ou seja, de uma esfera do comportamento humano. Não devemos confundir, aqui, a teoria com o seu objeto: o mundo moral. A ética deve ter o mesmo rigor e a mesma coerência e fundamentações teóricas das proposições cientificas. Já, os princípios, as normas ou os juízos de uma moral determinada não apresentam esse caráter cientifico (VASQUEZ, 2014). A moral é o objeto de estudo da ética. Não existe e não se pode existir uma moral cientifica (VASQUEZ, 2014). A ética e a moral se relacionam, pois como uma ciência especifica e seu objeto. Ambas palavras mantêm assim uma relação que não tinham propriamente em suas origens etimológicas (VASQUEZ, 2014). Moral vem do latim mos ou mores, “costume” ou “costumes”, no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito. A moral se refere, assim, ao comportamento adquirido ou modo de ser conquistado pelo homem (VASQUEZ, 2014). Ética vem do grego ethos, que significa “modo de ser” ou “caráter” enquanto forma de vida também adquirida ou conquistada pelo homem. De modo que ethos e mos, “caráter” e “costume”, assentam-se quanto a comportamento que não corresponde a uma disposição natural, mas que é adquirido ou conquistado por hábito. 34WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA O significado etimológico de moral e de ética não proporciona o significado atual dos dois termos, porém nos situam frente ao terreno humano, em que este é possível e fundamenta o comportamento moral (VASQUEZ, 2014). No quadro, verificamos sinteticamente a diferença entre Ética e Moral Quadro 1 – Diferença entre Ética e Moral. Fonte: Higiene Atual (2016). Para maiores informações sobre os conceitos de ética, acessar: VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. (Coleção Primeiros Passos, 177). Disponível em: https://politicaonlineblog.files.wordpress.com/2016/05/o- que-e-etica-c3a1lvaro-l-m-valls-primeiros-passos.pdf 35WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 5 - ÉTICA E MORAL NA ATUALIDADE; AMBIGUIDADES E SINERGISMOS Desde o período clássico, a Ética se define como um campo da investigação do comportamento Moral que dizia respeito essencialmente a Filosofia. Neste sentido, em sua origem, ela se distinguia da moral, que é pautada em regras, valores e se efetua sempre como uma prática ou um comportamento. É óbvio que a vocação mais teórica e reflexiva da Ética não a livrou de certa ambiguidade, posto que seu objeto de investigação é precisamente a Moral. Aristóteles, quando escreveu, no século IV a.C., a Ética a Nicômaco – obra destinada a educação de seu filho – buscou perscrutar tudo aquilo que poderia constituir a Moral: os valores, as virtudes, as qualidades, entre outros, para tentar entender como o comportamento moral poderia chegar o mais próximo de realizar o Bem. E entendeu que é quando as virtudes e os valores se elevam proporcionando a felicidade que então a moral cumpre seu fim. Note que mesmo a Ética sendo uma reflexão sobre a Moral – como ficou demonstrado anteriormente na reflexão de Aristóteles – as conclusões e os entendimentos a que ela chega influenciam e afetam seu objeto de investigação, de tal modo que com o decorrer dos anos e, sobretudo, em tempos contemporâneos, a inclinação reflexiva original foi praticamente ignorada e, gradual e acentuadamente passou a ser atribuído à Ética o significado igual ao da Moral (que é seu objeto de reflexão). Esse breve preâmbulo, mesmo tentando demarcar uma distinção importante entre Ética e Moral, admite, no entanto, que a definição sobre o que é Ética nunca foi expressa de modo uníssono. Em decorrência dessa linha tênue, mesmo no meio acadêmico, de modo que as formas de entendimentos divergem e, às vezes, até se opõem. A indissociabilidade necessária entre Ética e Moral (apesar de suas distinções) tem cada vez mais levado vasta parcela da sociedade a tomá-las como sinônimo. Com isso, frente a desmesurada crise no âmbito da moral e dos valores atualmente que degrada seriamente a conduta humana, a Ética acabou sendo, aos olhos de muitos, a dimensão humana que a brutal crise depauperou, vilipendiou e fez extinguir. Não os valores, as regras, as condutas, e a moral têm sido banalizadas pelos atos humanos. Ao contrário, a deterioração do caráter humano é consensualmente interpretada como “falta de ética”. Entretanto – isso é importante e curioso –, o uso impreciso dos conceitos acabou também provocando um clamor para que a Ética – supostamente posta em extinção pelo “mau caratismo” geral – seja resgatada e se faça valer na caótica sociedade contemporânea. E isso precisamente, ainda que motivado por uma imprecisão conceitual – pode ser uma relevante via para que a Ética, voltando moral como objeto de reflexão, possa ser de novo contributiva. É certo que ao apregoar com tanta contundência a “falta de ética” aos que incorrem em desmando e falcatruas, a sociedade pune e talvez até iniba em algum nível os criminosos morais que se creem impunes. Ou seja, mesmo tomada no lugar da moral, a Ética pode ter uma finalidade educativa quando usada contra aquele que falta com a moral (e assim “não tem ética na cara”). O estigma que o jargão “falta de ética”, hoje, impõe sobre aqueles que cometeram e cometem atitudes e atos moralmente vis transformaram esse pequeno lapso conceitual em uma ferramenta implacável para toda gama de infratores. Esse fenômeno não pode, de forma alguma, ser despotencializado por querelas conceituais, daí que a distinção aqui posta, jamais buscou impor o entendimento filosófico para condenar ou censurar o uso da ética – ou da falta dela – como adjetivo. 36WWW.UNINGA.BR ÉT IC A PR OF IS SI ON AL E M S ER VI ÇO S OC IA L | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Longe disso, o resgate do conceito e, sobretudo, a revelação do compromisso que a Ética filosófica tem com o estudo e a elevação dos atos morais visou apenas sublinhar a importância do resgate de seu papel original que pode abrir perspectivas e inteligibilidades para além destas zonas caóticas e turbulentas da crise moral. Adolfo Sanchez Vasquez, pensador de orientação materialista-histórico, tomando a Ética com a distinção aqui mencionada, procurou em sua obra definir o objeto da ética, a essência da moral, o determinismo, a liberdade e a avaliação moral – essa última em relação a transgressão, a responsabilidade e a culpa desses que usurpam as regras morais. Aparentemente, esse exercício reflexivo e teórico se distancia do contexto turbulento do mundo contemporâneo sem qualquer interlocução com ele ou contribuição para entender e sanar os problemas que lhe afetam. Entretanto, se a “caça às bruxas” pode até arrefecer o caos moral instaurado, a Ética, no âmbito teórico, buscará entender os fundamentos da moral contemporânea, as mutações sofridas nos valores, entre esses, a liberdade. A propósito desta última, é imperioso perceber que o modo de vida atualmente possui forte tendência individualista, competitiva, consumista, enfim, daí a liberdade ser vivida tão distorcidamente. Basicamente, a pedra basilar da moral, a liberdade sob o jugo de impulsos individualistas, incita a insubordinação frente às regras morais. Eis pois que os valores que orientam a vida para o bem comum, entre eles a liberdade, precisam de cuidadosa atenção. Não apenas como referências externas para a formulação das regras morais, mas também como hábitos, vícios, anseios que hoje estão fortemente disseminados e internalizados na alma humana. E seria bastante ingênuo até obtuso aquele que reconhecendo os danos à moral causados pelo individualismo, o egoísmo, entre outros. Ignora-se que esses sentimentos, e os homens que os expressam são engendrados
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