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1 2 Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 SUMÁRIO 1 CONCEITO ........................................................................................ 6 2 PERÍODO ANTERIOR DAS CARTAS ............................................... 7 3 CÓDIGOS DE POSTURA INTERNACIONAIS: AS CARTAS PATRIMONIAIS .................................................................................................. 8 4 PRESSUPOSTO DAS CARTAS ........................................................ 8 5 CARTA DE ATENAS – 1931/1933 ..................................................... 9 6 RECOMENDAÇÃO DE NOVA DELHI – 1956 ................................. 10 7 RECOMENDAÇÃO PARIS – 1962 .................................................. 11 8 CARTA DE VENEZA – 1964 ............................................................ 12 9 RECOMENDAÇÃO PARIS – 1964 .................................................. 13 10 NORMAS DE QUITO – 1967 ........................................................ 13 11 RECOMENDAÇÃO PARIS – 1968 ............................................... 14 12 COMPROMISSO BRASÍLIA – 1970 ............................................. 15 13 COMPROMISSO SALVADOR – 1971 .......................................... 16 14 CARTA DO RESTAURO – 1972 .................................................. 17 15 DECLARAÇÃO DE ESTOCOLMO – 1972 ................................... 17 16 DECLARAÇÃO DE ESTOCOLMO – 1972 ................................... 18 17 RECOMENDAÇÃO PARIS – 1972 ............................................... 18 18 ANAIS DO II ENCONTRO DE GOVERNADORES – 1973 ........... 18 19 RESOLUÇÃO DE SÃO DOMINGOS – 1974 ................................ 19 20 DECLARAÇÃO / MANIFESTO DE AMSTERDÃ – 1975 .............. 19 21 CARTA DO TURISMO CULTURAL – 1976 .................................. 20 22 RECOMENDAÇÕES DE NAIRÓBI – 1976 ................................... 20 23 CARTA DE MACHU PICCHU - 1977 ............................................ 21 24 CARTA DE BURRA – 1980 .......................................................... 21 25 CARTA DE FLORENÇA – 1981 ................................................... 22 4 26 DECLARAÇÃO DE NAIRÓBI – 1982 ........................................... 22 27 DECLARAÇÃO DE TLAXCALA - 1982 ......................................... 23 28 DECLARAÇÃO DO MÉXICO – 1985 ............................................ 23 29 CARTA DE WASHINGTON - 1986 ............................................... 24 30 CARTA DE PETRÓPOLIS – 1987 ................................................ 24 31 CARTA DE WASHINGTON – 1987 .............................................. 25 32 CARTA DE CABO FRIO – 1989 ................................................... 25 33 DECLARAÇÃO SÃO PAULO – 1989 ........................................... 26 34 RECOMENDAÇÃO PARIS – 1989 ............................................... 26 35 CARTA DE LAUSANNE – 1990 ................................................... 26 36 CARTA DO RIO – 1992 ................................................................ 27 37 CONFERÊNCIA DE NARA – 1994 ............................................... 27 38 CARTA BRASÍLIA – 1995 ............................................................ 27 39 RECOMENDAÇÃO EUROPA – 1995 ........................................... 27 40 DECLARAÇÃO DE SOFIA – 1996 ............................................... 28 41 DECLARAÇÃO DE SÃO PAULO II – 1996 .................................. 28 42 CARTA DE FORTALEZA – 1997 .................................................. 28 43 CARTA DE MAR DEL PLATA – 1997 .......................................... 29 44 CARTAGENAS DE ÍNDIAS, COLÔMBIA – 1999 ......................... 29 45 RECOMENDAÇÃO PARIS – 2003 ............................................... 30 46 CARTA DE NOVA OLINDA – 2009 .............................................. 30 47 I FÓRUM NACIONAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL – 2010...... 30 48 CARTA DE BRASÍLIA – 2010....................................................... 31 49 CARTA DOS JARDINS HISTÓRICOS, DITA CARTA DE JUIZ DE FORA – 2010 ................................................................................................... 32 50 AS CARTAS PATRIMONIAIS E O PATRIMÔNIO URBANO ........ 32 51 PRIMEIRAS PREOCUPAÇÕES SOBRE PATRIMÔNIO HISTÓRICO NO BRASIL ................................................................................. 37 5 51.1 A primeira carta patrimonial de proteção arqueológica no brasil 38 52 MONUMENTOS HISTÓRICOS, PATRIMÔNIO CULTURAL E PLANO DE CONSERVAÇÃO .......................................................................... 41 53 A NECESSIDADE DA CONSCIENTIZAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E A VIABILIDADE DA APLICAÇÃO DAS CARTAS PATRIMONIAIS BRASILEIRAS ....................................................................... 44 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 47 6 1 CONCEITO Fonte: prezi.com Medidas administrativas foram adotadas há bastante tempo em antigos impérios e reinos para a proteção de edificações importantes para suas sociedades. A partir do século XIX um pensamento mais estruturado sobre a proteção do patrimônio cultural começa a ser organizado. Mas somente no início do século XX que posturas, legislações e atitudes mais abrangentes e concretas são postas em prática. Em 1931, surge a Carta de Atenas, que discute a racionalização de procedimentos em arquitetura e propõe normas e condutas em relação à preservação e conservação de edificações, para terem caráter internacionais e para garantirem a perpetuação das características históricas e culturais nos monumentos a serem preservados. As técnicas e as teorias dominantes a cada momento da evolução do pensamento preservacionista, muitas vezes possibilitaram a descaracterização de prédios de valor histórico, ao permitirem certas adaptações de técnicas construtivas ou ao consentirem na modernização de instalações para a readequação dos espaços às demandas da vida moderna. 7 Os documentos gerados inicialmente, em geral, não têm maior grau de observância com a explicitação de detalhes para o restauro ou para outras intervenções nos monumentos de patrimônio histórico. Assim, com a evolução do pensamento e frente a avaliações de casos ocorridos, outras regulamentações e orientações foram sendo editadas, no esforço de controle das modernizações que eram introduzidas pelas intervenções, e para o equacionamento de diretrizes de resgate da memória e da cultura na conservação do patrimônio edificado. Uma maior e mais criteriosa abordagem sobre restauro aconteceu em 1964 com a elaboração da carta de Veneza - Carta Internacional do Restauro. As cartas ao longo do tempo,permanecem atuais e são complementadas por novas normas e recomendações que nos descortinam novos ou mais amplos procedimentos na preservação do patrimônio cultural. Muitas cartas, recomendações e leis propõem tipos de atitudes em relação aos bens patrimoniais, que é necessário analisar os conceitos nelas contidos para uma atitude consciente na adoção de políticas preservacionistas do patrimônio. 2 PERÍODO ANTERIOR DAS CARTAS Para muitos, as Cartas Patrimoniais uniformizam os discursos do cuidado (SALCEDO, 2007, p.26). Entretanto, ao serem elaboradas por grupos de interesses diversos, muitas vezes, competem nas suas lógicas quanto aos princípios de autenticidade, de restauro do objeto, de inventário, de hierarquia, de valores artísticos, embora tenham influenciado a formulação de políticas de visitação e utilização diversas. No processo de conservação dos bens, as abordagens ideológicas e construtivas de duas personalidades antagônicas constituem a base de sua fundamentação: John Ruskin e Eugenio Violet Le-Duc (CESAR, 2007). São marcos fundamentais para a definição do conceito o III Congresso degle engegneri e architetti italiano (1883), além do Congresso Internacional sobre a Proteção de Obras de Artes e dos Monumentos (1889) e do Congresso Internacional de História e de Arte (1921) (LUSO, LOURENÇO e ALMEIDA, 8 2004). No encontro de outubro de 1930, realizado pela Liga das Nações, atinge- se em uma dimensão internacional, e estudam-se os métodos científicos para o exame e preservação da obra de arte. 3 CÓDIGOS DE POSTURA INTERNACIONAIS: AS CARTAS PATRIMONIAIS O século XX foi marcado pelo debate das questões de preservação, especialmente em decorrência da Segunda Guerra Mundial, cujos bombardeamentos destruíram inúmeros monumentos históricos do Velho Mundo. Dessas discussões, surgiram instituições internacionais como: a ONU (Organizações das Nações Unidas); a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura); o ICOM (Conselho Internacional de Museus), o ICCROM (Centro Internacional para o Estudo da Preservação e Restauração de Bens Culturais); e o ICOMOS (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios), entre outras organizações que promoveram eventos e encontros entre as nações, cujas discussões resultaram nas chamadas Cartas Patrimoniais. Esses documentos passaram, dentre outras recomendações, a indicar códigos de posturas internacionais e a orientar a conduta dos profissionais atuantes na área da conservação-restauração, além de proporcionar a ampliação das noções de patrimônio e bem cultural para os países signatários. Desses documentos, destacamos alguns cujos conteúdos relacionam-se diretamente, ou tangenciam, a discussão do restauro do Grande Hotel. 4 PRESSUPOSTO DAS CARTAS As Cartas Patrimoniais têm como intuito uniformizar os discursos do cuidado ao bem cultural (SALCEDO, 2007, p.26). Entretanto, ao serem formuladas por grupos de interesses diversos, não se atende tal perspectiva. Existem, muitas vezes, idéias que competem, em suas lógicas, com os princípios de autenticidade, de restauro do objeto, de inventário, de hierarquia, de valores 9 artísticos. Questão que tem influenciado a formulação de políticas de visitação e utilização diversas. A preservação e utilização do patrimônio sempre estiveram ligadas a conceitos distintos. Inicialmente, duas personalidades antagônicas constituem- se como idealizadores deste pensamento: John Ruskin e Eugenio Violet Le-Duc (CESAR, 2007). Entretanto, ambos são vistos com ressalvas por não constituírem uma base científica. Porém, suas perspectivas possibilitam um estudo mais amplo da análise do patrimônio, sendo que a eles, até hoje, é atribuído o mérito de formadores do pensamento da conservação e uso patrimonial. Uma nova geração de profissionais se ressente da carência metodológica desses antecessores. Instiga-se, assim, a criação de novas abordagens, e, para tanto, realizam-se encontros mundiais para definir conceitos e estatutos. São marcos fundamentais para a formação desses novos parâmetros o III Congresso degle engegneri e architetti italiano (1883), além do Congresso Internacional sobre a Proteção de Obras de Artes e dos Monumentos (1889) e do Congresso Internacional de História e de Arte (1921) (LUSO, LOURENÇO e ALMEIDA, 2004). Entretanto, no encontro de outubro de 1930, realizado pela Liga das Nações, atinge-se uma dimensão internacional. Nele, os métodos científicos são colocados em discussão para o exame e preservação da obra de arte. Têm-se, então, as bases das cartas patrimoniais. 5 CARTA DE ATENAS – 1931/1933 São duas Cartas de Atenas, uma escrita em 1931 e outra em 1933, que exprimem ideias importantes quanto à preservação do patrimônio e ao novo urbanismo. A primeira, contou com o Escritório Internacional dos Museus Sociedade das Nações trazendo para discussão questões das principais preocupações da época, que envolviam a legislação, as técnicas e os princípios de conservação dos bens históricos e artísticos. Nesse sentido, o documento mostra a necessidade tanto organizações que trabalhem na atuação e consultas 10 relacionadas à preservação e restauro dos patrimônios, como de legislação que ampare tais ações, garantindo o direito coletivo (IPHAN – Carta de Atenas, 1931). Já a Carta de Atenas de 1933 envolve questões das novas cidades, no período de grande crescimento urbano. Resultado do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), este manifesto teve como tema principal a cidade funcional e contou com renomados arquitetos e urbanistas, dentre eles Le Corbusier. Foi debatido o “Urbanismo Racionalista”, levando em pauta o planejamento regional, a infraestrutura, a utilização do zoneamento, a verticalização das edificações, bem como a industrialização dos componentes e a padronização das construções, buscando novos rumos para o urbanismo. Fonte: eficienciaenergtica.blogspot.com.br 6 RECOMENDAÇÃO DE NOVA DELHI – 1956 A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1956, resultou a Recomendação de Nova Delhi, que possui um conteúdo que apoia princípios internacionais sobre pesquisas e preservação arqueológicas. Este documento 11 define a proteção do patrimônio arqueológico, programas educativos, instituição de órgãos governamentais e criação de acervo como responsabilidades do Estado. 7 RECOMENDAÇÃO PARIS – 1962 A Recomendação Paris a Paisagens e Sítios, elaborada em uma Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), foi o primeiro documento com a ideia principal sobre proteção da beleza e do caráter das paisagens, bem como seus respectivos territórios. Com esta Recomendação, o conceito de patrimônio cultural se tornou mais amplo, estendendo à beleza e caráter das paisagens e sítios, naturais, rurais ou urbanos. Ficou evidente a necessidade de estímulo nas áreas da educação e proteção aos bens, complementando as medidas de proteção à natureza. 12 8 CARTA DE VENEZA – 1964 Fonte: pt.slideshare.net Em 1964, no II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) elaborou a Carta de Veneza, com o foco na carência de um plano internacional para conservar e restaurar os bens culturais numa ação interdisciplinar. Primeiramente, monumento histórico é definido como uma criação isolada, sítio urbano ou rural que testemunha uma civilização particular, evolução significativa ou acontecimento histórico. Posteriormente descreve sua finalidade como sendo a busca de conservação e restauração dos monumentos, visando preservar tanto a obra propriamente dita, quanto o seu testemunho histórico.Este documento defende que a conservação exige uma manutenção constante, sendo sempre favorecida quando sua destinação é útil para a sociedade, mas vale ressaltar que não podem ocorrer mudanças de disposição ou decoração da construção. Outro ponto levantado é a proibição de deslocamento do monumento, salvo quando sua preservação exige tal ação, ou 13 quando há interesses nacional e internacional. A restauração é tratada como uma ação de caráter excepcional, tendo por objetivo a conservação e revelação dos valores estéticos e históricos do monumento, se fundamentando essencialmente no respeito ao material original e aos documentos, bem como à época de criação. Como diretriz importante, os elementos que substituírem as partes faltantes devem ser integrados de forma harmoniosa, porém é imprescindível que se distinguem das partes originais a fim de que a restauração não falsifique o objeto em questão 9 RECOMENDAÇÃO PARIS – 1964 Ainda em 1964, acontece a Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que publicou a Recomendação Paris que fala sobre medidas de proibir e impedir a exportação, a importação, bem como a transferência de propriedade ilícita de bens culturais. Foi enfatizada questões como a identificação e inventário dos bens culturais, a instituição de órgãos oficiais adequados para proteção do patrimônio, legislação para aplicar medidas administrativas adequadas, a colaboração internacional em acordos e ações que impeçam operações ilícitas, etc. 10 NORMAS DE QUITO – 1967 As Normas de Quito foram elaboradas em Quito, no Equador, para tratar da conservação e utilização dos monumentos e lugares de interesse histórico e artístico. Foi recomendado que os projetos de valorização de bens fossem parte integrante dos planos de desenvolvimento nacional, sendo tal ação responsabilidade do governo. A difusão dos conhecimentos acerca dos bens culturais objetiva eficiência na preservação e, ainda, como produtos a serem explorados, assim como a legislação adequada ou disposições governamentais para o interesse público. O documento ainda relatou a importância da coordenação de projetos por instituto idôneo, contando com equipe técnica 14 11 RECOMENDAÇÃO PARIS – 1968 Fonte: viajeibonito.com.br Diante das problemáticas enfrentadas com o crescimento das cidades, em 1968, a Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) publicou a chamada Recomendação Paris de Obras Públicas ou Privadas, na qual considerações foram dispostas sobre intervenções urbanas que estejam relacionadas com a preservação do patrimônio, sendo um indicativo da necessidade e importância de assegurar o vínculo entre a população e os bens. Este documento deixou clara a responsabilidade governamental sobre as medidas de preservação e salvamento do patrimônio, mesmo assegurando a expansão e/ou renovação urbana, obras em locais onde os bens possam correr qualquer tipo de perigo de destruição, modificações e reparos, construção ou alteração de vias de grande fluxo, implantação de barragens, oleodutos e trabalhos de desenvolvimento de indústria. Deve, ainda, ser garantido, a fim de proteger o patrimônio, o uso de uma legislação adequada, financiamento, medidas administrativas, métodos de preservação e salvamento dos bens, sanções, reparações, recompensas, assessoramento e programas de educação. 15 12 COMPROMISSO BRASÍLIA – 1970 Em 1970, o Brasil vivia um momento importante, e, influenciado pelos documentos internacionais relacionados ao patrimônio, foi promovido o 1º Encontro dos Governadores de Estado, Secretários Estaduais da Área Cultural, Prefeitos de Municípios Interessados, Presidentes e Representantes de Instituições Culturais, do qual resultou o Compromisso de Brasília. Tal documento foi baseado na necessidade de cuidados com o patrimônio cultural brasileiro, e recomenda a criação de órgãos estaduais ou municipais onde ainda não houver, todos ligados aos Conselhos Estaduais de Cultura e ao DPHAN. Quanto ao plano de proteção da natureza, é importante a criação de legislação e serviços estaduais articulados com o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. Chegou a ser discutida a carência de mão de obra especializada em níveis superiores, médio e artesanal, criando programas de formação de arquitetos restauradores, conservadores de pintura, escultura e documentos, arquivologistas e museólogos de várias especialidades. Nesse sentido outra recomendação se dá na criação de um programa que abarque todo o sistema de educação, com a visão de que saber da história da arte do Brasil é primordial para a formação da consciência. Junto a este Compromisso, foi anexada uma carta assinada por Lucio Costa, na qual ele relata a problemática encontrada na recuperação e na restauração de monumentos pela dependência de técnicos qualificados, inventário histórico-artístico, estudo de documentos, tombamento, eleição do que mereça restauro, recursos financeiros, etc. Foi relatada também a questão da ação da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o DPHAN, em restauro de alguns monumentos e na ausência de preservação de outros. 16 Fonte: acervoleiloes.com.br 13 COMPROMISSO SALVADOR – 1971 Já em 1971, aconteceu em Salvador o II Encontro de Governadores para Preservação do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural do Brasil com o objetivo de reafirmar os itens do Compromisso de Brasília e propor novas ideias, resultando o Compromisso Salvador. Fez parte deste documento a recomendação de criação do Ministério da Cultura e Secretarias, elaboração de legislação para aumentar o conceito de visibilidade do bem tombado e proteção mais eficiente. O fomento da indústria do turismo também foi pauta do Compromisso, marcando o estímulo à implantação de turismo visando a preservação e valorização dos monumentos naturais. Foram descritas também recomendações aos governos sobre a inclusão de curso complementar de estudos brasileiros e museologia no ensino de 2º grau, permitindo novos profissionais fora dos grandes centros urbanos, onde não tivesse profissional de nível superior, mas mesmo assim possibilitando a formação de auxiliares. 17 14 CARTA DO RESTAURO – 1972 A Carta do Restauro foi elaborada em 1972 pelo Ministério da Instrução Pública da Itália. São 12 artigos que descrevem diretrizes para intervenções de restauração em todos os tipos de obra de arte, desde monumentos arquitetônicos, pinturas e esculturas a conjunto de edifícios de interesse monumental, histórico ou ambiental, centros históricos, coleções artísticas e jardins de especial importância. Neste documento, a restauração é definida como qualquer intervenção, não necessariamente direta, a fim de manter em funcionamento, facilitar a leitura e transmitir integralmente as obras anteriormente citadas. São descritas todas as diretrizes, etapas, responsabilidades, trabalhos, técnicas e programas para a preservação e restauração de bens históricos, artísticos e culturais. 15 DECLARAÇÃO DE ESTOCOLMO – 1972 Foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, no ano de 1972, o documento divulgado chamado Declaração sobre o Ambiente Humano, também conhecido como Declaração de Estocolmo, atentou para a carência de critérios comuns para preservação e melhoria do meio ambiente. A Declaração evidencia itens como a necessidade de utilização consciente dos recursos não renováveis; a importância de não descartar de substâncias que sejam prejudiciais aos ecossistemas; desenvolvimento econômico e social; atenuação das consequências dos graves problemas de subdesenvolvimentoe desastres naturais; estabilidade econômica; políticas ambientais; utilização de recursos para a preservação ambiental; planejamento urbano; educação ambiental; etc. 18 16 DECLARAÇÃO DE ESTOCOLMO – 1972 Foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, no ano de 1972, o documento divulgado chamado Declaração sobre o Ambiente Humano, também conhecido como Declaração de Estocolmo, atentou para a carência de critérios comuns para preservação e melhoria. A Declaração evidencia itens como a necessidade de utilização consciente dos recursos não renováveis; a importância de não descartar de substâncias que sejam prejudiciais aos ecossistemas; desenvolvimento econômico e social; atenuação das consequências dos graves problemas de subdesenvolvimento e desastres naturais; estabilidade econômica; políticas ambientais; utilização de recursos para a preservação ambiental; planejamento urbano; educação ambiental; etc. 17 RECOMENDAÇÃO PARIS – 1972 Ainda no ano de 1972, foi aprovada na Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a Recomendação Paris sobre a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, no qual é proposto um programa de proteção nacional e internacional de bens por meio da promoção da consciência de preservação para as gerações presentes e futuras. 18 ANAIS DO II ENCONTRO DE GOVERNADORES – 1973 Realizado em 1971, o II Encontro de Governadores ocorreu em Salvador, porém a publicação do documento resultado deste evento foi somente em 1973. Com o tema sobre a defesa do patrimônio histórico, artístico, arqueológico e natural do Brasil, este encontro foi marcado pela análise dos resultados decorridos do Encontro de Brasília, ocorrido em 1970, pela discussão acerca da 19 proteção dos acervos naturais e de valor cultural, bem como a relação do acervo de valor cultural e os monumentos naturais em face da indústria do turismo. 19 RESOLUÇÃO DE SÃO DOMINGOS – 1974 O I Seminário Interamericano sobre Experiências na Conservação e Restauração do Patrimônio Monumental dos períodos Colonial e Republicano (República Dominicana) foi realizado com a Organização dos Estados Americanos e Governo Dominicano em 1974. A partir deste evento, foi publicada a Resolução de São Domingos que registra os serviços operativos que materializam e tornam possível a defesa dos bens culturais. A Resolução descreve recomendações no plano social, econômico, no plano da preservação monumental, das propostas operativas e do reconhecimento. 20 DECLARAÇÃO / MANIFESTO DE AMSTERDÃ – 1975 O Congresso de Amsterdã, em 1975, reuniu delegados de diversas partes da Europa, onde foi promulgada a Carta Europeia do Patrimônio Arquitetônico, que fala sobre a arquitetura característica da Europa como um patrimônio comum, sendo importante a cooperação dos países europeus para sua proteção. O documento descreve considerações essenciais que envolvem a preservação e valorização do patrimônio europeu. 20 Fonte: prezi.com 21 CARTA DO TURISMO CULTURAL – 1976 Criada em 1876, pelo Conselho Internacional dos Monumentos e dos Sítios (ICOMOS), a Carta de Turismo Cultural define, entre outros conceitos, o turismo cultural como sendo uma forma de turismo que objetiva o conhecimento de monumentos e sítios histórico-artísticos, o que se expressa extremamente positivo, como fato social, humano, econômico e cultural. Assim, o turismo cultural justifica e incentiva os esforços para manutenção e preservação do patrimônio histórico e artístico. Para garantir tais feitos, são necessárias a criação e a aplicação de medidas políticas dirigidas aos instrumentos fundamentais para contínua manutenção e orientação do movimento turístico. 22 RECOMENDAÇÕES DE NAIRÓBI – 1976 Criadas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1976, as Recomendações de Nairóbi tem como tema central a salvaguarda dos conjuntos históricos e sua função na vida contemporânea. Este documento descreve a importância da salvaguarda do patrimônio histórico e de sua ambiência, que envolve a proteção contra deterioração e 21 transformações abusivas ou desprovidas de sensibilidade que atentam contra sua autenticidade. 23 CARTA DE MACHU PICCHU - 1977 Fonte: vitruvius.com.br Em 1977, no Encontro Internacional de Arquitetos em Machu Picchu, foi elaborada a Carta de Machu Picchu que propõe uma revisão na Carta de Atenas de 1933. O documento ressalta a reafirmação da unidade dinâmica das cidades e a importância do planejamento urbano como instrumento de interpretação e realização das necessidades da população.. 24 CARTA DE BURRA – 1980 Baseada nos conhecimentos dos membros do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), a Carta de Burra segue linhas de orientação e conservação e gestão dos sítios com significado cultural. Escrita na Austrália, ela reconhece a necessidade de envolver pessoas nos processos de formação das decisões. 22 Com 29 artigos, a Carta aborda questões relacionadas às definições de conceitos, conservação e preservação por meio de manutenção e restauração, reconstrução (dadas às exceções, circunstâncias e características de elementos a serem implantados e mantidos) e procedimentos de intervenção. 25 CARTA DE FLORENÇA – 1981 Criada em 1981, pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), a Carta de Florença visou o cuidado com os jardins históricos, sendo estes uma composição arquitetônica e vegetal que apresenta interesse público. Os jardins históricos possuem características que devem ser preservadas, como o traçado e a topografia, vegetação, mantendo espécies, volumes, cores, distâncias e alturas, elementos estruturais e/ou decorativos. Cuidados devem ser tomados para a manutenção, conservação, restauração e reconstrução dos jardins. A reestruturação e reconstrução dos jardins devem acontecer depois de estudos através de documentos para assegurar o caráter científico da intervenção. A sua utilização precisa ser controlada e o seu acesso para visitação deve ser limitado para conservar a sua substância e sua mensagem cultural. O documento ainda defende a importância de identificar, inventariar e proteger os jardins históricos, criar medidas legais financeiras para manutenção, conservação e restauro. 26 DECLARAÇÃO DE NAIRÓBI – 1982 A Declaração de Nairóbi foi elaborada em 1982, pela Organização das Nações para o Meio Ambiente na Assembleia Mundial dos Estados, no Quênia. Foi uma comemoração do décimo aniversário da Conferencia das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano de Estocolmo, recapitulando todas as diretrizes e o plano de ação, ambos descritos na Declaração de Estocolmo. A análise realizada deixou clara que a Conferência de Estocolmo contribuiu para uma conscientização acerca da fragilidade do meio ambiente, um 23 progresso na educação, nos meios de informação e na capacitação profissional, programas ambientais, organizações governamentais e não governamentais. Porém, o plano implantado foi um instrumento com resultados pouco satisfatórios, uma vez que, entre outras questões, os objetivos e as ações não garantem disponibilidade e distribuição dos recursos naturais. Por fim, a Declaração de Nairóbi reafirma o apoio ao fortalecimento do programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e, ainda, convoca toda a população e todos os governos para assumirem suas responsabilidades na garantia de vida do planeta. 27 DECLARAÇÃO DE TLAXCALA - 1982 O 3º Colóquio Interamericano sobre a Conservação do Patrimônio Monumental “Revitalização das Pequenas Aglomerações” foi realizado pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) no México. Neste evento foi elaborada a Declaração de Tlaxcala que diz respeitoaos perigos e ameaças ao patrimônio na América, recomendando revitalizações envolvendo etapas de pesquisa e prática, reafirmação de responsabilidades de serviços públicos e aperfeiçoamento na educação e profissionalização de técnicos da restauração. 28 DECLARAÇÃO DO MÉXICO – 1985 Em 1985 foi realizada a Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais, no México, com o intuito de discutir e conceituar cultura, identidade cultural e patrimônio cultural acerca da dimensão cultural do desenvolvimento, da cultura e da democracia. Foi destaque também a relação entre elementos da sociedade como cultura, educação, ciência e comunicação, bem como recomendações que envolvem principalmente a aproximação cultural entre os povos. 24 29 CARTA DE WASHINGTON - 1986 A Carta de Washington foi criada pelo Conselho Internacional dos Monumentos e dos Sítios (ICOMOS), no ano de 1986, em Washington (EUA), é a Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas. Este documento diz respeito às grandes ou pequenas cidades, centros ou bairros históricos, com seu ambiente natural ou edificado, que expressam valores próprios das civilizações urbanas tradicionais. Salvaguardar as cidades históricas significa adotar medidas para proteção, conservação e restauro, assim como ao seu desenvolvimento coerente e à sua adaptação harmoniosa à vida contemporânea. Os valores a preservar são: Forma urbana definida pela malha fundiária e pela rede viária; As relações entre edifícios, espaços verdes e espaços livres; A forma e o aspecto dos edifícios (interior e exterior) definidos pela sua estrutura, volume, estilo, escala, materiais, cor e decoração; As relações da cidade com o seu ambiente natural ou criado pelo homem; As vocações diversas da cidade adquiridas ao longo da sua história. Segundo esta Carta, qualquer ataque a estes valores comprometeria a autenticidade da cidade histórica. 30 CARTA DE PETRÓPOLIS – 1987 A Carta de Petrópolis foi elaborada no 1º Seminário Brasileiro para Preservação e Revitalização de Centros Históricos, em 1987. Nela, é tratada a questão de preservação e consolidação da cidadania, ao reforçar a necessidade de dar ao patrimônio função na vida da sociedade. A preservação do sítio histórico urbano deve ser pensada desde o planejamento urbano, entendido como processo contínuo e permanente. É fundamental a ação integrada de órgãos federais, estaduais e municipais, bem como a participação da comunidade interessada. 25 Os instrumentos de proteção descritos no documento são: tombamento, inventário, desapropriação, isenção e incentivos fiscais, normas urbanísticas e a declaração de interesse cultural. Fonte: prezi.com 31 CARTA DE WASHINGTON – 1987 A Carta de Washington, de 1987, é conhecida como a Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas e descreve sobre cidades e centros/bairros históricos que expressam valores históricos ameaçados, seja por degradação, desestruturação ou destruição. Como um complemento à Carta de Veneza, de 1964, este documento traça princípios, objetivos, métodos e instrumentos que visam à proteção da qualidade das cidades históricas. 32 CARTA DE CABO FRIO – 1989 A Carta de Cabo Frio foi redigida no Encontro de Civilizações nas Américas que comemorou os 500 anos da vinda de Colombo América e homenageou o navegador Américo Vespúcio. 26 33 DECLARAÇÃO SÃO PAULO – 1989 A Declaração São Paulo, elaborada em 1989, teve como tema a comemoração do 25º aniversário da Carta de Veneza e uma análise sobre este documento de 1964. Foi pauta de debate: A insuficiência de trabalho com relação à preservação e ao restauro; Necessidade de revisão conceitual de determinados elementos; Necessidade de levantamento de informações de áreas naturais, graças ao avanço tecnológico; Importância da preservação do patrimônio natural; Utilização de sistemas de tecnologia avançada para trabalhos de restauro; etc. Por fim, o documento ressalta a importância da permanência da Carta de Veneza como modelo e fonte de consulta. 34 RECOMENDAÇÃO PARIS – 1989 A Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1989, realizou a Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular. A Recomendação Paris abordou itens para identificação, conservação, salvaguarda, difusão, proteção e cooperação internacional no que diz respeito à cultura tradicional e popular. 35 CARTA DE LAUSANNE – 1990 Foi elaborada uma Carta para a Proteção e Gestão do Patrimônio Arqueológico que descreve, além da definição e introdução, sobre políticas de conservação integrada; legislação e economia; inventários; intervenções no sítio; preservação e conservação; apresentação; informação; reconstituição; qualificações profissionais; e cooperação internacional. 27 36 CARTA DO RIO – 1992 A Carta do Rio foi elaborada na Conferência Geral das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992. Ela reafirma a Declaração aprovada em Estocolmo, de 1972, e apresenta 28 princípios a fim de estabelecer nova aliança e novos níveis de cooperação para alcançar os acordos internacionais que visam a integridade do sistema ambiental e do desenvolvimento mundial. 37 CONFERÊNCIA DE NARA – 1994 A Conferência de Nara, realizada em 1994 no Japão, trata sobre Autenticidade em relação a Convenção do Patrimônio Mundial. Este documento traz o reconhecimento do valor da autenticidade do patrimônio, assunto já comentado em 1964 na Carta de Veneza, porém, visando estudos científicos, planos de conservação e restauração, etc. 38 CARTA BRASÍLIA – 1995 Novamente o tema de Autenticidade é abordado, dessa vez em Brasília, no ano de 1995. Representantes do Cone Sul discutem a questão diante da situação regional de uma cultura “sincretista” e de resistência, no qual relaciona a autenticidade e a identidade; autenticidade e a mensagem; autenticidade e o contexto; a autenticidade e a materialidade. Outros pontos são levantados como a graduação e a conservação da autenticidade. 39 RECOMENDAÇÃO EUROPA – 1995 Elaborada pelo Comitê da Europa em 1995, a Recomendação Europa fala sobre a conservação integrada das áreas de paisagens culturais e indica que os governos adaptem suas políticas com a finalidade de conservar e evoluir com orientação as áreas consideradas de paisagem cultural. Para isso, são propostos 28 10 artigos que relacionam o campo de aplicação de tal recomendação; objetivos; o processo de identificação e a avaliação das áreas de paisagem natural; níveis de competência e estratégia de ação; estrutura legal ou reguladora; a implementação de políticas de paisagem; proteção legal e conservação das áreas de paisagem cultural, procedimentos específicos de proteção, aplicação de medidas específicas de proteção, medidas específicas para conservação e evolução controlada; informação e incremento da conscientização; treinamento e pesquisa; e cooperação internacional. 40 DECLARAÇÃO DE SOFIA – 1996 A XI Assembleia Geral do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), em 1996, elaborou a Declaração de Sofia que faz recomendações sobre a utilização, a proteção e exploração do patrimônio subaquático. Todos os processos devem contar com a participação da sociedade civil em parceria com Estados, entidades públicas e órgãos do governo, a fim de garantir a efetiva preservação e desenvolvimento equilibrado dos recursos naturais. 41 DECLARAÇÃO DE SÃO PAULO II – 1996 Membros do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) do Brasil se reuniram em São Paulo com o objetivo de discutir o tema central da Declaração de Sofia, tendo em vista a necessidade de enfrentar os conflitos entre expansão urbana e preservação do PatrimônioCultural no país, resultando na Declaração de São Paulo II. 42 CARTA DE FORTALEZA – 1997 A Carta de Fortaleza foi escrita em 1997, comemorando aos 60 anos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O evento foi marcado pelo Seminário do Patrimônio Imaterial: Estratégias e Formas de Proteção, que teve o objetivo de recolher subsídios que viabilizassem a elaboração de diretrizes e instrumentos legais e administrativos para identificar, 29 proteger, promover e fomentar os processos e bens do patrimônio cultural brasileiro. 43 CARTA DE MAR DEL PLATA – 1997 Ainda no ano de 1997, foi elaborada a Carta de Mar Del Plata sobre Patrimônio Intangível que recomenda, entre outras ações, a promoção do registro documento e catalogação do patrimônio intangível, criação de banco de dados com todas as publicações, incrementar pesquisas, organizar informações acerca do patrimônio cultural intangível, estimular educação. 44 CARTAGENAS DE ÍNDIAS, COLÔMBIA – 1999 Fonte: estevampelomundo.com.br O Conselho Andino de Ministros das Relações Exteriores da Comunidade Andina elaborou, em 1999, escreve sobre proteção e recuperação de bens culturais do patrimônio arqueológico, histórico, etnológico, paleontológico e 30 artístico da Comunidade Andina. Composto por 9 artigos, este documento propõe políticas e normas comuns para a identificação, registro, proteção, conservação, vigilância e restituição, assim como o impedimento de importação, exportação e transferência ilícita dos bens culturais. 45 RECOMENDAÇÃO PARIS – 2003 A 32ª Sessão da Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) elabora em 2003 a chamada Recomendação Paris. Tal documento é uma convenção para a preservação do patrimônio cultural imaterial, visando o respeito aos bens das comunidades, a conscientização e reconhecimento nacionais e internacionais, etc. 46 CARTA DE NOVA OLINDA – 2009 A Carta de Nova Olinda foi elaborada em 2009, no I Seminário de Avaliação e Planejamento das Casas do Patrimônio, visando avaliar as Casas do Patrimônio, elaborar diretrizes e instrumentos legais que assegurem o cumprimento de tais propostas 47 I FÓRUM NACIONAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL – 2010 O I Fórum Nacional do Patrimônio Cultural ocorreu em 2009 na cidade de Ouro Preto, porém, foi somente em 2010 que o trabalho foi publicado com o objetivo de disponibilizar para consulta os conteúdos dos relatórios e análises realizados no evento. O Fórum foi uma parte do processo de instituição do Sistema Nacional do Patrimônio Cultural (SNPC) que busca a coordenação e realização de ações na área de gestão do patrimônio cultural. 31 48 CARTA DE BRASÍLIA – 2010 Fonte: embarquenaviagem.com A Carta de Brasília de 2010 foi um documento elaborado no Fórum Juvenil do Patrimônio Mundial Brasil Brasília, que contou com a participação de 46 jovens de diferentes países, como Brasil, Argentina, Paraguai, Chile, Colômbia e Uruguai. O encontro reuniu diferentes realidades e experiências com o patrimônio sendo um denominador comum. Foram propostas nove ideias como a participação ativa dos jovens no Comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO); a promoção do turismo sustentável e responsável, divulgando o patrimônio sem comprometê-lo; etc. 32 49 CARTA DOS JARDINS HISTÓRICOS, DITA CARTA DE JUIZ DE FORA – 2010 Fonte: http://auepaisagismo.com Em Juiz de Fora, no ano de 2010, foi elaborada a Carta dos Jardins Históricos descreve conceitos, diretrizes e critérios para a defesa e preservação dos jardins históricos como sítios e paisagens criados pelo homem. 50 AS CARTAS PATRIMONIAIS E O PATRIMÔNIO URBANO Na Carta de Restauro de Atenas, de 1931, não se fala em patrimônio urbano, porém fala-se em vizinhança, e sublinha-se o respeito ao caráter histórico e artístico do monumento, do qual tal vizinhança faz parte. A próxima carta que toca a questão do patrimônio urbano, sem utilizar, no entanto, o termo, é a Recomendação de Paris de 1962, um documento da UNESCO (United Nations Educational, Scientific, Cultural Organization) e do ICOM (International 33 Council of Museums), que ainda que dirigida a paisagens naturais, trata de paisagens e sítios urbanos. Na Carta de Veneza (1964), em seu primeiro artigo, afirma que a noção de monumento histórico: “Estende-se não só às grandes criações, mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, significação cultural." Nota-se, portanto, que os termos, ambiência, vizinhança, entorno e paisagem das primeiras cartas estão relacionadas com o patrimônio urbano, porém apenas o edifício isolado é considerado monumento (valor excepcional) ou documento (valor histórico), a mudança só será sentida a partir da Carta de Veneza. A próxima carta patrimonial a tratar do patrimônio urbano é a Norma de Quito, um documento da OEA (Organização dos Estados Americanos). Nesta carta recomenda-se que os planos de valorização monumental devem ser vistos juntamente com planos de desenvolvimento nacional, além disso, recomenda- se zonas de proteção tanto para conjuntos monumentais urbanos ou ambientais. O ponto negativo desta carta é que se recomenda o uso dos sítios históricos para uso turístico, sem antever os efeitos nocivos que possam ter e ser evitados. Recomendações neste sentido, serão feitas apenas na década seguinte na Carta do Turismo Cultural, documento do ICOMOS (International Council on Monuments and Sites) de 1976. No ano seguinte, a Recomendação de Paris, também atenta para que os planos de urbanização tenham em consideração a preservação dos monumentos: “(...) Os arredores e o entorno de um monumento ou de um sítio protegido por lei deveriam também ser objeto de disposições análogas para que seja preservado o conjunto de que fazem parte e seu caráter(...)" (p. 9) O patrimônio urbano aparece neste documento ainda sob a forma de entorno ou conjunto. Gostaria de citar aqui duas cartas patrimoniais brasileiras, o Compromisso de Brasília (1970 – assinada por Lúcio Costa) e o Compromisso de Salvador (1971), este último trata o patrimônio urbano ainda sob o conceito de ambiência: "Recomenda-se a criação de legislação complementar, no sentido de ampliar o conceito de visibilidade de bem tombado, para atendimento do conceito de ambiência.", como também fala da necessidade de estudos e planos diretores, e que contém com apoio do IPHAN, IBDF, órgãos estaduais e municipais com obras públicas que afetem áreas de valor natural e cultural. Nota-se nestes documentos que, mesmo antes da Declaração de Amsterdã (1975), considera a carta do patrimônio urbano, fala-se na 34 necessidade da preservação do monumento e seu entorno, ou conjunto urbano, dentro do planejamento urbano e regional, como dos planos de desenvolvimento. Conforme anteriormente citadas, experiências neste sentido, já vinham sendo testadas tanto na França como na Itália desde a década de 1960, e inspiradas nestes modelos, também foram aqui testadas, resta saber por que motivo funcionam bem lá, e não aqui. Porém isto foge ao nosso escopo nesta apresentação. Uma última carta antes de citar a Declaração de Amsterdã: a Recomendação de Paris, de 1972, um documento da UNESCO que traz medidas para proteção do patrimônio cultural e natural, de valor excepcional (mundial). O patrimônio urbano é contemplado nos chamados conjuntos, na parte de patrimônio cultural, porém de valor excepcional. Ainda que não seja objetivo desta apresentação, mas uma questão a ser levantada é: os critérios de valoração ao considerar o que é patrimônio ou não, que por sua vez, levam a tratamentos e gestão diferentes dos bens patrimoniais. Tal questão é enfrentada por RIBEIRO (2007), ao falar de paisagem cultural epatrimônio, que afirma que dependendo da conceituação da paisagem cultural, que por si só é bastante variada, haverá uma metodologia para abordá- la e que por sua vez orientará os resultados de identificação e preservação da paisagem. Esta diferenciação fica clara, quando o autor comenta sobre a paisagem cultural adotada pela UNESCO, e a Convenção Européia da Paisagem. Ambos organismos tomam a paisagem cultural como um bem, e reconhecem a interação entre o ambiente natural e as ações humanas, no entanto, os objetivos são diferentes. Enquanto que a UNESCO, tem como objetivo principal fazer uma lista de bens de valor excepcional, a Convenção Européia não tem a valoração de “excepcionalidade” como objetivo principal, mas sim o de “introduzir regras de proteção, gerenciamento e planejamento para todas as paisagens baseadas num conjunto de regras, constituindo um elemento fundamental da gestão do território.” (RIBEIRO 2007, p. 52). Dado que os objetivos dos dois organismos são diferentes, os critérios de valoração e classificação se diferenciam: a UNESCO, além do valor de excepcionalidade, possui entre outros critérios, a integridade e a autenticidade do bem, enquanto que para a Convenção Européia da Paisagem, não são critérios importantes, tanto que classifica as paisagens em: de considerável importância, ordinárias e 35 degradadas. Além disso, as escalas que cada organismo trabalha são diferentes, na Unesco a escala é mundial, na Convenção é regional. Voltando às cartas patrimoniais: a Declaração de Amsterdã, resultado da reunião do Conselho da Europa e Congresso do Patrimônio Arquitetônico Europeu, em 1975, é claramente a carta do patrimônio arquitetônico urbano, juntamente com a Carta de Washington que veremos a seguir. Nela utiliza-se o termo “conservação integrada”, onde se mescla conservação do patrimônio e o planejamento urbano, sendo este confiado aos poderes locais juntamente com a participação da população. A novidade desta carta é reforçar o aspecto de ligar a preservação aos planos urbanos, e ao mesmo tempo, falar da participação popular. A próxima carta é a Recomendação de Nairóbi, de 1976, da UNESCO, que se autodenomina “Recomendações relativa à salvaguarda dos conjuntos históricos e sua função na vida contemporânea”, em toda a carta fala-se muito em ambiência e da necessidade de planejamento urbano, e planejamento físico- territorial. De maneira geral, quando se fala da dimensão contemporânea do patrimônio, nota-se a tendência de uni-lo ao planejamento urbano e físico- territorial. A Carta de Burra, é uma carta do ICOMOS de 1980, traz várias definições, não utiliza o termo “patrimônio urbano”, porém o faz indiretamente ao definir o que é um bem: “O termo bem designará um local, uma zona, um edifício ou outra obra construída, ou um conjunto de edificações ou outras obras que possuam uma significação cultural, compreendidos, em cada caso, o conteúdo e o entorno a que pertence. ” E acrescenta: “(...) o termo significação cultural designará o valor estético, histórico, científico ou social de um bem para as gerações passadas, presentes ou futuras. ”. Diferentemente da UNESCO, não se fala nesta carta de “valor excepcional”, mas sim em “significação cultural”, acredita- se muito mais adequada para abarcar “arquiteturas modestas” e outros conjuntos, porém por outro lado, contribui-se ainda mais para o alargamento do conceito de patrimônio. A Carta de Washington (1986), documento do ICOMOS, juntamente com a Declaração de Amsterdã (1975), são consideradas as cartas relativas ao patrimônio urbano. A de Washington difere e de certa maneira ultrapassa esta última, por possuir caráter internacional. A carta busca complementar, retomando os princípios e objetivos da Carta de Veneza (1964) bem como a 36 Recomendação de Nairóbi (1976) e, novamente reforça que para a eficácia da preservação das cidades e bairros históricos, deve estar conectado às políticas de desenvolvimento econômico social e considerada nos planos urbanos e planejamento físico-territorial em todos os níveis. Como reflexo desta carta no contexto brasileiro, podemos citar a Carta de Petrópolis, de 1987, resultado do 1º Seminário Brasileiro para Preservação e Revitalização dos Centros Históricos, nela define-se o que é “sítio urbano histórico” (SHU), como "parte integrante de um contexto amplo que comporta as paisagens natural e construída, assim como a vivência de seus habitantes num espaço de valores produzidos no passado e no presente, em processo dinâmico de transformação , devendo os novos espaços urbanos ser entendidos na sua dimensão de testemunhos ambientais em formação." É pois, quase uma definição de paisagem cultural, e ainda nota- se a presença da dimensão contemporânea do patrimônio. Outro aspecto interessante desta carta é a polifuncionalidade: “Sendo a polifuncionalidade uma característica do SHU, a sua preservação não deve dar-se à custa de exclusividade de usos, nem mesmo aqueles ditos culturais, devendo necessariamente, abrigar os universos do trabalho e do cotidiano, onde se manifestam as verdadeiras expressões de uma sociedade heterogênea e plural. Guardando essa heterogeneidade, deve a moradia construir-se na função primordial do espaço edificado, haja vista a flagrante carência habitacional brasileira. Desta forma, especial atenção deve ser dada à permanência do SHU das populações residentes e das atividades tradicionais, desde que compatíveis com sua ambiência.” Porém não é o que aconteceu na maioria dos casos dos projetos de revitalização realizados no Brasil, onde predominou-se o uso turístico, e afugentando a população original, nos tão conhecidos processos chamados de “gentrificação”. As demais cartas internacionais, de maneira geral, tratam de aspectos específicos do patrimônio: como a autenticidade, Conferência de Nara (1994) e a correspondente brasileira, a Carta de Brasília (1995); e cada vez mais consideram as dimensões sociais do patrimônio. Um exemplo disso é a Declaração de Sofia, de 1996, do ICOMOS. E a partir da década de 1990, a partir das questões ambientais e de desenvolvimento sustentável, o conceito de patrimônio ganha novos matizes, ganhando força o conceito de paisagem cultural. 37 51 PRIMEIRAS PREOCUPAÇÕES SOBRE PATRIMÔNIO HISTÓRICO NO BRASIL Com a divulgação da carta de Atenas, em outubro de 1931, passa a ocorrer no Brasil preocupações nas autoridades governamentais sobre a necessidade da inclusão de leis que viessem a proteger os monumentos históricos no Brasil. No próprio texto da Carta de Atenas havia recomendações no sentido de que os poderes públicos tivessem responsabilidades quanto à preservação, quando afirma: A conferência, profundamente convencida de que a maior garantia de conservação dos monumentos e das obras de arte vem do afeto e do respeito do povo e considerando que estes sentimentos podem ser bastante favorecidos mediante uma atuação apropriada dos poderes públicos, expressa o desejo de que os educadores ponham todo seu empenho em habituar a infância e a juventude para que se abstenham de qualquer atuação que possa degradar os monumentos.... As repercussões são imediatas e as primeiras medidas do Estado brasileiro já são visualizadas a partir do texto constitucional de 16 de Julho de 1934, quando podemos ler no artigo 148, Capítulo III – Da Educação e Cultura: “Cabe à União, aos Estados e aos Municípios favorecer e animar o desenvolvimento das ciências, das artes, das letras e da cultura em geral, proteger os objetos de interesse histórico e o patrimônio artístico do País, bem como prestar assistência ao trabalhador intelectual”. Tal responsabilidade fica revestida de uma abrangência mais significativa, quando passa a ser incluída a necessidade de preservação de uma gama bem maior de bens que pudessem inferir a ideia de patrimônio cultural.Embora ainda não existisse um conceito exato do que seria patrimônio cultural e patrimônio histórico, na Constituição outorgada1 de 1937, tenta-se relacionar uma ligação intrínseca dos bens culturais e históricos com o próprio conceito de patrimônio nacional, em seu artigo 134: “Os monumentos históricos, artísticos e naturais, assim como as paisagens ou os locais particularmente dotados pela natureza, gozam da proteção e dos cuidados especiais da União, dos Estados e dos Municípios. Os atentados contra eles cometidos serão equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional” 38 Entretanto, a proteção legal aos bens arqueológicos ocorre com a divulgação do Decreto-Lei nº 25, de 30 de Novembro de 1937, que introduz já em seu primeiro artigo uma conceituação do que seria patrimônio histórico (englobando a ideia também do artístico): “Art. 1º - Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional, o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da História do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”. 51.1 A primeira carta patrimonial de proteção arqueológica no brasil Fonte: prezi.com Nesse contexto, os sítios arqueológicos, em todas as regiões do Brasil, ficaram por décadas no século XX expostos à própria sorte e ao esquecimento. Somente a partir do final da década de 50, com o trabalho desenvolvido pelas equipes de arqueólogos americanos e franceses (entre os quais podemos citar Joseph Emperaire, Annette Laming, Clifford Evans e Betty Meggers) e a relevância dos achados arqueológicos, foi despertada a necessidade de uma lei federal que viesse efetivamente a proteger o patrimônio histórico, de forma mais concreta, inclusive com medidas punitivas. 39 Essa necessidade não era somente do Estado brasileiro. Em 5 de Dezembro de 1956, é publicada em Nova Delhi, na Índia, a recomendação advinda da conferência geral da UNESCO, sobre os princípios internacionais a serem aplicados em matéria de pesquisas arqueológicas, que estipulava em seus artigos quarto e quinto, obrigações e responsabilidades dos Estados- membros ante o patrimônio arqueológico: 4. Cada Membro-Estado deveria garantir a proteção de seu patrimônio arqueológico, levando em conta, especialmente, os problemas advindos das pesquisas arqueológicas e em concordância com as disposições da presente recomendação. 5. Cada Estado-Membro deveria, especialmente: a) submeter as explorações e as pesquisas arqueológicas ao controle e à prévia autorização da autoridade competente; b) obrigar quem quer que tenha descoberto vestígios arqueológicos a declará-los, o mais rapidamente possível, as autoridades competentes; c) aplicar sanções aos infratores dessas regras; d) determinar o confisco dos objetos não declarados; e) precisar o regime jurídico do subsolo arqueológico e, quando esse subsolo for propriedade do Estado, indicá-lo expressamente na legislação; f) dedicar-se ao estabelecimento de critérios de proteção legal dos elementos essenciais de seu patrimônio arqueológico entre os monumentos históricos. Essas recomendações vieram a servir de base teórica para a elaboração de uma lei brasileira que viesse a regular a exploração arqueológica e a defesa do patrimônio histórico. Tal lei deveria contemplar medidas que viessem a obstaculizar o processo destrutivo do patrimônio histórico nacional. Discussões foram travadas pelas autoridades competentes sobre os motivos de depredação e destruição do patrimônio histórico e aspectos conceituais sobre conservação, restauração e preservação dos monumentos históricos e bens culturais. Segundo Morley (2000:371-374), historicamente existem três causas principais para a destruição dos sítios arqueológicos (baseado em estudos feitos pelo IPHAN no Estado de Santa Catarina): 1 – Obras de grande porte – Abertura de estradas, construção de hidreléticas e crescimento das cidades. 1 - Aproveitamento econômico de áreas de interesse arqueológico - Utilização de áreas para lavouras. 2 - Vandalismo – crenças em tesouros fantásticos serve como justificativa para atos destrutivos. Dentro desse contexto surge, então, a Lei nº 3.924, de 26 de Julho de 1961, publicada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, que dispunha sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos. Expressando obrigações da União e listando direitos e deveres dos proprietários 40 de áreas com sítios arqueológicos, o documento permanece até os dias de hoje como elemento regulador das atividades de escavação, conservação e proteção desse patrimônio histórico. Apesar de já estar ultrapassado em vários aspectos, mas trazia alguns avanços com relação à definição do que seria considerado monumento arqueológico ou pré-histórico, conforme preconiza o seu artigo 2º e suas letras a, b, c e d: Art. 2º. - Consideram-se monumentos arqueológicos ou pré-históricos: a) as jazidas de qualquer natureza, origem ou finalidade, que representem testemunhos da cultura dos paleoameríndios do Brasil, tais como sambaquis, montes artificiais ou tesos, poços sepulcrais, jazigos, aterrados, estearias e quaisquer outras não especificadas aqui, mas de significado idêntico, a juízo da autoridade competente; b) os sítios nos quais se encontram vestígios positivos de ocupação pelos paleoameríndios, tais como grutas, lapas e abrigos sob rocha; c) os sítios identificados como cemitérios, sepulturas ou locais de pouso prolongado ou de aldeamento, estações e cerâmicos, nos quais se encontram vestígios humanos de interesse arqueológico ou paleoetnográfico; d) as inscrições rupestres ou locais com sulcos de polimentos de utensílios e outros vestígios de atividade de paleoameríndios. Apesar de deixar brechas ao não explicitar em termos conceituais o que seria “sítio” (confundindo-se com jazidas) e o que seriam os “paleoameríndios”, a Lei 3.924 tentava conter, de forma intimidatória, os atos de vandalismos e depredação que estavam sofrendo os sítios arqueológicos de forma desenfreada em todas as regiões do território brasileiro, ao destacar: Art. 3º. _ São proibidos em todo o território nacional o aproveitamento econômico, a destruição ou mutilação, para qualquer fim, das jazidas arqueológicas ou pré-históricas conhecidas como sambaquis, casqueiros, concheiros, birbigueiras e sernambis, e bem assim dos sítios, inscrições.... Por algum tempo essas medidas punitivas ficaram somente na teoria, tanto pela falta de fiscalização quanto pela própria ausência de institutos de pesquisas arqueológicas. Outro fator importante foi a total ausência de informação da população brasileira do que seria “um sambaqui” ou mesmo um sítio arqueológico qualquer. A falta de clareza do que seria patrimônio histórico ou do que seria monumento histórico, também dificultava a execução dessa primeira Carta Patrimonial (que está em vigor até os dias de hoje) em seu sentido mais prático. 41 52 MONUMENTOS HISTÓRICOS, PATRIMÔNIO CULTURAL E PLANO DE CONSERVAÇÃO Fonte: http://m.portalangop.co.ao Em maio de 1964 é publicada a Carta de Veneza, que exemplifica que “o monumento não pode ser separado da história da qual é testemunho e nem do ambiente no qual se encontra” e em seu primeiro artigo já clarifica na formulação conceitual o que seria monumento histórico: A noção de monumento histórico compreende tanto a criação arquitetônica isolada, como o ambiente urbano ou paisagístico que constitua o testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Se aplica não somente as grandes obras, como também as obras modestas que com o tempo tenham adquirido um significado cultural. Diante de um passado espelhado na dispersão científica e no emaranhado de conclusõesarqueológicas desprovidas de embasamentos teóricos, entre 1965 e 1970, elaborou-se no Brasil, um projeto amplo de sistematização e padronização de procedimentos nas atividades arqueológicas, denominado de PRONAPA (Projeto Nacional de Pesquisas Arqueológicas), agrupando diversas instituições e pesquisadores, sob a égide dos ensinamentos da chamada “escola Ford” (metodologia americana). Prous (2000:29) resume em 42 poucas linhas essa primeira tentativa de sistematização da pesquisa arqueológica no Brasil: Coordenado pelos Evans, foi montado um ambicioso programa que reunia 11 arqueólogos de oito estados: o PRONAPA (1965/1970), destinado a fornecer uma primeira visão sintética da Pré-História dos estados costeiros brasileiros a partir de uma pesquisa integrada graças à utilização de uma metodologia única e de uma mesma perspectiva teórica. Não obstante a boa vontade de alguns pesquisadores o projeto se mostrou falho por insistir em parâmetros estatísticos (nem sempre confiáveis) e esquemas metodológicos fora de uso até mesmo nos Estados Unidos. Entretanto teve o aspecto positivo de incentivar a pesquisa arqueológica em algumas áreas praticamente desconhecidas5 da comunidade acadêmica. Com a publicação da Carta de Burra (carta Del ICOMOS Austrália para sítios com significado cultural) em 19 de agosto de 1979, estimulam-se novas vertentes quanto a conservação do patrimônio histórico. Com os conceitos de bem, substância, sítio, significado cultural, conservação, manutenção, preservação, restauração e reconstrução, a Carta de Burra avançou consideravelmente a conscientização acadêmica quanto à necessidade de reavaliação de procedimentos no trato do patrimônio histórico no Brasil: Bem – designará um local, uma zona, um edifício ou outra obra construída, ou um conjunto de edificações ou outras obras que possuam uma significação cultural, compreendidos, em cada caso, o conteúdo e o entorno a que pertence. Substância – será o conjunto de materiais que fisicamente constituem o bem. Sítio – significa lugar, área, terreno, paisagem, edifício ou outra obra, grupo de edifícios ou outras obras, e pode incluir componentes, conteúdos, espaços e visuais. Significado cultural – significa valor estético, histórico, científico, social ou espiritual para as gerações passadas, presentes ou futuras. Conservação – significa todos os processos de cuidado de um sítio para manter seu significado cultural. 43 Manutenção – designará a proteção contínua da substância, do conteúdo e do entorno de um bem e não deve ser confundido com o termo reparação. Preservação – será a manutenção no estado da substância de um bem e a desaceleração do processo pelo qual ele se degrada. Restauração – Será o restabelecimento da substância de um bem em um estado anterior conhecido. Reconstrução - Será o restabelecimento, com o máximo de exatidão, de um estado anterior conhecido; ela se distingue pela introdução na substância existente de materiais diferentes, sejam novos ou antigos. A preocupação girava então, em torno da necessidade de conservação adequada do patrimônio histórico. No mundo já eram visíveis as expectativas quanto às intervenções ocorridas nas cidades históricas devido ao crescente desenvolvimento urbano. Com algumas cidades brasileiras já sendo consideradas como patrimônio cultural da humanidade, foi extremamente salutar a publicação da Carta Internacional para a Conservação das Cidades Históricas (Carta de Toledo) em 1986, no qual se recomenda a “adesão dos habitantes” na conservação das cidades e que o “Plano de Conservação deve ter uma relação harmônica entre a área histórica e a cidade”. Entretanto, somente podemos verificar progressos conceituais no Brasil quanto ao que seria patrimônio cultural, com a promulgação da Constituição Federal em 05 de outubro de 1988, que “inscreveu explicitamente três títulos, quatro capítulos, seis artigos (mais os incisos), enfatizando os modos e as responsabilidades de sua proteção” (Spencer, 2000:25). No seu capítulo III – Da Educação, da Cultura e do Desporto, sob o título Da Ordem Social, o artigo 216 evidencia o conceito de patrimônio cultural: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II _ os modos de criar, fazer e viver; III _ as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV _ as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às 44 manifestações Artísticos-culturais V _ os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, Paleontológico, ecológico e científico. Posteriormente, com a divulgação da Carta de Lausanne, em 1990, sobre a proteção e a gestão do patrimônio arqueológico, fica mais concreta a percepção do conceito de patrimônio arqueológico: Art. 1º - O “patrimônio arqueológico” compreende a porção do patrimônio material para a qual os métodos da arqueologia fornecem os conhecimentos primários. Engloba todos os vestígios da existência humana e interessa todos os lugares onde há indícios de atividades humanas, não importando quais sejam elas; Estruturas e vestígios abandonados de todo tipo, na superfície, no subsolo ou sob as águas, assim como o material a eles associados. E essa mesma Carta amplia a percepção do conceito de patrimônio arqueológico, alertando quanto à aplicação da legislação: A legislação deve fundar-se no conceito de que o patrimônio arqueológico constitui herança de toda a humanidade e de grupos humanos, e não de indivíduos ou de nações. 53 A NECESSIDADE DA CONSCIENTIZAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E A VIABILIDADE DA APLICAÇÃO DAS CARTAS PATRIMONIAIS BRASILEIRAS A necessidade de um planejamento a curto, médio e longo prazo, para a preservação do patrimônio histórico e pré-histórico, pelos poderes públicos e, principalmente, pela educação da sociedade, tornou-se imperativo. Essa diretriz não é nova e já aparecia na Carta de Atenas, de 1931, quando no capítulo VII, item “b”, mostrando a importância da educação dos jovens na defesa do patrimônio cultural: b) O papel da educação e o respeito aos monumentos A conferência, profundamente convencida de que a melhor garantia de conservação dos monumentos e obras de arte vem do respeito e do interesse dos próprios povos, considerando que esses sentimentos podem ser grandemente favorecidos por uma ação apropriada dos poderes públicos, emite o voto de que os educadores habituem a infância e a juventude a se absterem de danificar os monumentos, quaisquer que eles sejam, e lhes façam aumentar o interesse de uma maneira geral, pela proteção dos testemunhos de toda a civilização. 45 Claro que existem leis severas quanto aos danos praticados ao patrimônio cultural, como explicita Caldarelli (2000:53) se referindo em especial “a Lei dos crimes ambientais (lei 9.605/98 e regulamentada pelo Decreto 3.179/99) que estipulam multas que variam de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) para quem cometer destruição de bens culturais protegidos por Lei federal (caso dos sítios arqueológicos), além do infrator responder processo administrativo e criminal”. O próprio código penal brasileiro estipula as sanções praticadas contra o patrimônio cultural, conforme pode ser visualizado em seu título “Dos crimes contra o patrimônio”, em seu capítulo IV (Do dano), no artigo 165: Artigo 165° - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico ou histórico: Pena: detenção, de seis meses a dois anos, e multa, de mil cruzeiros e vinte mil cruzeiros.Entretanto, Morley (2000:374) reforça um ponto de vista importante ao esclarecer que somente a criação de leis mais severas ou ações judiciais não resolve os problemas de conservação do patrimônio histórico, e aponta a educação da sociedade como “a resposta mais adequada para uma situação que se agrava a cada dia”. Destaca então, alguns passos essenciais para que a sociedade venha a adquirir um grau de conscientização cultural que permita a defesa desse patrimônio histórico pela própria população: Difusão de informações científicas, traduzidas em linguagem de duplo alcance, de modo a desmistificar a arqueologia, destituindo- a dos aspectos fantásticos e equivocados e fortalecendo sua importância intrínseca. Valorização das manifestações culturais que nos antecederam, principalmente no que diz respeito ao período que precede à chegada do europeu no Brasil. Inclusão de temas relacionados à arqueologia, principalmente no que se refere à pré-história, nos currículos escolares, utilizando sempre informações provenientes de textos produzidos no Brasil, de modo a que não continuem a ocorrer as distorções atualmente existentes. 46 Estabelecimento de uma relação verdadeira entre o Brasil dos tempos passados e o da atualidade, de modo a que, para o cidadão comum, este passado deixe de ser tão obscuro. 6 – Formação de uma consciência nacional sobre a importância do patrimônio arqueológico como extraordinária fonte de informações e que pode e deve ser usufruída por todos. O estabelecimento desse roteiro parece ser o caminho mais viável para um país que somente agora começa a descobrir um patrimônio histórico e pré- histórico de valor inestimável. Implantar a obediência da Lei 3.924 sobre a proteção dos sítios arqueológicos, do IPHAN, sem uma conscientização cultural através da educação da sociedade, não parece ser a melhor solução. O aspecto punitivo e intimatório que a Lei transmite, choca frontalmente com o desconhecimento da sociedade sobre o que seria um patrimônio histórico, trazem desconfortos e antipatias. A dificuldade de aplicação e fiscalização dessa Lei, devido a deficiências do próprio Órgão governamental ante ao enorme contexto geográfico brasileiro, parece ser outro entrave substancial, conforme ressalta Etchevarne (2002:222), quando aborda alguns fatores sociais atinentes ao patrimônio arqueológico: Os dispositivos legais existentes e a sua aplicabilidade: neste ponto devemos alertar sobre as dificuldades de aplicabilidade das leis de preservação do patrimônio cultural, quando elas são de caráter federal. Os controles do órgão competente IPHAN em territórios vastos, como por exemplo o da Bahia, são praticamente nulos. A legislação existente, essencialmente punitiva, não consegue coibir os atos de destruição intencionais, posto que os agentes de fiscalização não existem ou se encontram impossibilitados materialmente para efetuar a autuação. Leis de proteção de índole municipal são mais fáceis de normatizar e de aplicar, podendo representar uma opção aos dispositivos federais. Se existem dificuldades para fiscalização a nível federal9 diante das carências de mão de obra qualificada e recursos financeiros, no âmbito municipal o quadro é bem pior. Embora na constituição federal seja competência dos municípios, conforme preconiza em seu artigo trigésimo “promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação 47 fiscalizadora federal e estadual”, a realidade do poder público municipal quanto a esse aspecto, vai de mal a pior. BIBLIOGRAFIA MORLEY, Edna June (2000). Como preservar os sítios arqueológicos brasileiros. In: Pré História da terra brasilis. Org. Maria Cristina Tenório. Editora UFRJ, Primeira reimpressão, Rio de Janeiro, 2000; Páginas 371 a 376. ETCHEVARNE, Carlos.(2002). Uma proposta de ação integrada para as áreas arqueológicas e pinturas rupestres em Iraquara, Bahia. FUMDHAMentos II, Fundação Museu do Homem Americano, V.1, n. 2, São Raimundo Nonato-PI, 2002; Páginas 219 a 229. 48 JÚNIOR, Valdeci dos Santos. A influência das Cartas Internacionais sobre as Leis Nacionais de Proteção ao Patrimônio Histórico e Pré-Histórico e estratégias de preservação dos Sítios Arqueológicos Brasileiros. Publicação do Departamento de História e Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ensino Superior do Seridó – Campus de Caicó. V. 06. N. 13, dez.2004/jan.2005. RAMOS, Caroline Martins Rennó. Cartas Patrimoniais. Disponível em < www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/cotidiano/cartas- patrimoniais/61157>. Acessado em 17/05/2018. Cartas Patrimoniais. Disponível em < http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/226>. Acessado em 17/05/2018. CALDAS, Karen Velleda, SANTOS, Carlos Alberto Ávila. Cartas patrimoniais, legislação e a restauração do grande hotel de pelotas: breves considerações. Universidade Federal de Pelotas, Brasil. SALCEDO, Rosio Fernández Baca. A reabilitação da residência nos centros históricos da América Latina: Cusco e Ouro Preto. São Paulo: EdUnesp, 2007. CALDARELLI, Solange Bezerra. SANTOS, Maria do Carmo Mattos Monteiro dos. Arqueologia de contrato no Brasil. Editora USP, Revista USP, Vol. 1, São Paulo, 2000; Pág. 52 a 73. http://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/cotidiano/cartas-patrimoniais/61157 http://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/cotidiano/cartas-patrimoniais/61157 http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/226 49 Carta Patrimoniai. Disponível em <http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?cont eudo=264>. Acessado em 17/05/2018. PROUS, André (2000). Arqueologia, Pré-História e História. In: Pré-História da terra brasilis. 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