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Como Seduzir um Conde - Michaelly Amorim

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MICHAELLY AMORIM
HUGIN E MUNIN
2017
Copyright © Michaelly Amorim, 2017
Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento,
cópia e/ou reprodução de qualquer parte dessa obra ―
física ou eletrônica ―, sem a prévia autorização do autor.
Preparação: Michaelly Amorim
Revisão: Tainá Araujo
Capa e diagramação: Michaelly Amorim
[2017]
Todos os direitos reservados desta edição reservados à
HUGIN E MUNIN EDITORA.
www.hemeditora.com.br
COMO SEDUZIR UM CONDE
Série — Amores Indecentes. Livro 1
© Todos os direitos reservados a Michaelly Amorim
Notas da autora
Prólogo
Capitulo 1 — Lizzie
Capítulo 2 — Proposta
Capítulo 3 — Londres
Capítulo 4 — Insultos
Capítulo 5 — Compras
Capítulo 6 — O Duque de Norfall
Capítulo 7 — O Baile!
Capítulo 8 — Más Notícias
Capítulo 9 — Dívidas
Capítulo 10 — De volta a Londres
Capítulo 11 — Desejos e prazeres
Capítulo 12 — Convivência
Capítulo 13 — Consciência
Capítulo 14 — Descobertas*
Capítulo 15 — O Conde
Capítulo 16 — Fernoy
Capítulo 17 — Erros e acertos
Capítulo 18 — Reputação
Capítulo 19 — Acerto de contas
Capítulo 20 — E tudo se encaixa
Epílogo
Agradecimentos.
Notas da autora
Olá, caro leitor!
É uma alegria para mim trazer este livro para você, mas
antes de começar a leitura, preciso te contar um segredo.
Todo o universo de Amores Indecentes é fictício e algumas
coisas foram modificadas visando a história. Sendo assim,
não se preocupe! Se houver algo que te faça pensar que
não condiz com a realidade, foi de escolha minha e uma
mudança pensada.
Peço, por favor, que venha com a mente um pouco mais
aberta, pois, foquei em uma escrita mais suave e abrindo
mão de alguns termos rebuscados, afim de não obrigar
nenhum leitor a depender do dicionário para compreender a
leitura.
Caso você não concorde com estes detalhes, tudo bem
também! Não se preocupe, eu vou entender perfeitamente
e respeitarei sua forma de pensar, assim como espero
receber seu respeito pela minha decisão.
Desejo que tenha uma ótima e divertida leitura.
Prólogo
Baronato dos Winsmore, Inglaterra
Cinco anos atrás…
Era uma manhã chuvosa, o Sol tinha acabado de nascer,
mas se escondia por trás das nuvens carregadas que
deixavam o tempo escurecido. O clima parecia entender o
desespero de um homem que já tinha feito de tudo para
salvar a mulher que amava. O estado de Joanne havia
piorado e o Barão usara todas as suas economias na
tentativa de curá-la. Seus recursos já haviam acabado e não
tinha mais a quem pedir emprestado, pois todos os seus
conhecidos já haviam lhe ajudado da forma que podiam. O
único jeito seria pedir emprestado ao Barão de Winsmore,
não existia outra escolha.
Bateu à porta apressadamente. O médico chegaria em
poucas horas e ele precisaria ter o dinheiro em mãos, ou
não haveria remédio para sua doce Joanne. Mesmo sabendo
que era cedo demais para bater à porta de quem quer que
fosse, o homem não se importou. Nada o impediria de fazer
o que estivesse ao seu alcance para restaurar a saúde de
sua esposa.
O mordomo abriu a porta. Todos os criados refletiam a
mesma carranca de seu empregador, e mantinham a cara
de tédio e mesquinhez onde quer que fossem. Assim como
o Barão, todos ali eram soberbos e avarentos, mesmo não
tendo nada.
― Em que posso ajudá-lo? — o mordomo perguntou, sem
realmente estar disposto a dar nenhum auxílio.
― Preciso falar com o Barão — o homem falou com urgência
na voz.
― Tudo bem, espere um momento enquanto vejo se meu
senhor pode atendê-lo. — o mordomo lhe informou
enquanto desaparecia casa adentro para ter uma resposta
de seu senhor.
Instantes depois — que mais pareceram horas para o
homem que esperava na porta — o mordomo voltou lhe
trazendo a resposta.
― Meu senhor manda dizer que volte pela manhã, ele não o
atenderá. — O mordomo disse com um sorriso sarcástico no
rosto, mostrando o quanto estava se deleitando em mandar
o homem à porta embora.
Depois de dar o recado, o mordomo tentou fechar a porta
na cara do visitante, mas este foi mais rápido e colocou um
pé impedindo que a porta fosse fechada.
― Eu só saio daqui depois de falar com ele, então acho
melhor acordá-lo — o homem rugiu. Não tinha tempo para
besteiras de um criado insolente, e não ia voltar para casa
sem o empréstimo.
Mesmo a contragosto o criado foi acordar o Barão, que
desceu em toda sua arrogância cadavérica para falar com o
homem que o importunava tão cedo.
― O que quer? — perguntou o Barão com seu tom irritado
de sempre.
― Bom dia...sinto muito incomodá-lo em uma hora tão
inoportuna, mas estou desesperado, preciso que me faça
um empréstimo. — O homem foi direto ao ponto, não queria
se estender mais que o necessário. ― Minha esposa está
muito doente e eu já gastei tudo o que tinha com médicos e
remédios. Por favor, eu preciso da sua ajuda.
― E que garantia eu tenho que vai me devolver o dinheiro?
Uma vez que já gastou tudo que tinha, o que você me dará
como garantia de que terei de volta o que lhe emprestar? —
o Barão perguntou com seus olhos brilhando maquiavélicos.
― Qualquer coisa! O que quiser eu lhe dou, mas me
empreste o dinheiro. O médico já
deve estar chegando e, se eu não tiver o dinheiro, ele não
vai tratar a enfermidade da minha esposa. — o homem
respondeu desesperado, precisava do dinheiro
urgentemente.
― Ora, então me diga de quanto precisa, pois vejo que está
apressado, não vamos estender mais essa conversa. O valor
que precisar lhe darei, e não se preocupe com a quantia, a
saúde de sua esposa é mais valiosa que qualquer quantia.
— O Barão mudou o tom de voz e abriu um sorriso, um
repuxar de lábios que lhe retorceu a face e, junto com o
brilho malvado de seus olhos, se igualava a mesma
expressão diabólica de um demônio.
E assim o homem, desesperado por salvar sua esposa,
fechou negócios com o próprio diabo, sem saber que aquilo
poderia lhe custar o futuro e a felicidade daqueles que mais
amava.
Capitulo 1 — Lizzie
Baronato dos Fernoy, Inglaterra.
Dias atuais…
Lizzie acordou assim que o Sol atravessou a sua janela.
Como em todos os outros dias, se espreguiçou na cama
bocejando, e assim que criou coragem, levantou e se
arrumou com a ajuda da criada. Então, quando estava
pronta, desceu para tomar o desjejum com o pai.
Assim que viu o Barão, ela foi ao seu encontro e lhe deu um
beijo na bochecha, como fazia toda manhã, e depois sentou
em seu lugar.
― Dormiu bem? — perguntou seu pai.
― Sim, muito bem. E o senhor? — ela devolveu a pergunta
após engolir um bocado de ovos mexidos de seu prato.
― Eu dormi bem também, mas passei a noite pensando.
Seu pai sempre dizia isso. Toda vez que ia lhe falar sobre
casamento. Ela tinha debutado com quinze anos, mas tinha
sido muito breve, visto que sua mãe adoeceu e faleceu
durante esse período, encerrando bruscamente sua
apresentação à sociedade. Passou dois anos em luto e
depois não havia aparecido nenhuma proposta para ela,
com o que tentava não se importar, visto que não aceitaria
um casamento por conveniência, pois preferia casar por
amor, assim como seus pais o fizeram.
Ela sabia que já passara da idade de arrumar um
pretendente, mas não se sentia nem um pouco infeliz com
isso, muito pelo contrário, se dependesse dela, o casamento
seria algo que ainda demoraria a acontecer.
Diferente das moças de sua idade, que estavam
desesperadas para arrumar maridos ricos e subir de nível
social, não se importava com isso. Apesar de seu pai ser um
Barão, não ansiava por riqueza ou nobreza, queria apenas
casar por amor, esse era seu único requisito em um marido.
― Pai, eu não preciso de um marido. Estou feliz aqui, com o
senhor e os meninos.
― Não estou dizendo que tem que ser infeliz para casar — o
Barão replicou erguendo as mãos rendido e, vendo que a
filha já revirava os olhos diante do assunto, decidiu mudar o
rumo, pelo menos por enquanto. ― Mas me diga, terminou
aquele livro que lhe dei no começo da semana?
Eles seguiram falando sobre livros e Lizzie esqueceu,
momentaneamente,o assunto casamento.
Depois de tomar o desjejum, Elizabeth e o pai foram
caminhar nos jardins, como faziam todos os dias. A jovem
servia de companhia para o pai que, por ordem do médico,
fazia essa caminhada para melhorar sua saúde. Lizzie sabia
que se não acompanhasse o pai, ele voltaria para o
escritório antes mesmo de dar um passo sequer, então,
para que o Barão fizesse o que o médico
mandara, a garota o acompanhava todas as manhãs,
caminhando por uns bons vinte minutos pelo jardim.
Seu pai era um homem rechonchudo, os cabelos estavam
começando a ficar grisalhos e o rosto arredondado deixava
seu olhar ainda mais bondoso. Ela, por sua vez, era o
completo oposto do pai na aparência, era franzina e de
porte delicado, pequena — com seus 1,60 m de altura — e
possuía cabelos cacheados bem volumosos, que tentava
domar em um coque apertado. Tinha herdado tudo da mãe.
― Nunca mais vi Sir Oliver por aqui. Ele desistiu de você? —
o Barão perguntou e Lizzie logo imaginou onde ele queria
chegar.
― Ele deve estar em sua propriedade, papai. Só costuma vir
por aqui nas férias de verão, lembra? É quando ele visita a
avó e aproveita para nos visitar.
― Me lembre mais uma vez, por que não aceitou se casar
com ele? Ele é jovem e bonito, e é rico. Bom, não tem
nenhum título, mas você nunca se importaria com isso.
― Não estou interessada em me casar, papai, quero um
casamento como o do senhor com a mamãe, e isso não
acontecerá se eu casar com Sir Oliver.
― Mas um casamento não seria ruim para você, daria uma
ótima esposa. Cuida tão bem de mim que seu marido seria
um homem sortudo por tê-la — seu pai continuou depois de
um tempo em silêncio. ― Sir Oliver poderia facilmente amá-
la, se é que já não ama.
― Mas eu não acho que eu poderia amá-lo. O senhor sabe
que Sir Oliver é mais lerdo que uma tábua — ela disse
sorrindo, se lembrando das investidas do Sir em questão. ―
Eu não seria feliz ao lado dele. Então não, não vou me casar
com Sir Oliver, mesmo que ele tenha no seu terreno o lago
mais lindo que eu já vi, e seja bonito e rico, como o senhor
lembrou.
― Você precisa casar, Lizzie, já tem vinte e um anos. Não
estarei aqui para sempre e você é minha única filha. Preciso
casá-la antes de partir.
― Papai, o senhor não vai morrer. E tem o Jeremy e o Robert
— ela continuou tentando dissuadi-lo da ideia. — Robert
herdará isso tudo e cuidará de mim.
― Seu irmão só tem doze anos, quando ele se tornar
herdeiro, você já terá passado da idade de se casar. Quero
ver meus netinhos antes de morrer.
― Eles serão crianças iguais ao Jerry e ao Rob, darão
trabalho do mesmo jeito — Lizzie replicou revirando os
olhos.
A jovem sabia que seu pai não queria especificamente
netos, mas, como ela era a mais próxima, entre seus
irmãos, de ter filhos, ele usava essa desculpa para dissuadi-
la de continuar solteira. Entretanto, Lizzie sabia que o que
ele queria mesmo era vê-la casada.
Apesar da constante negação, Elizabeth sabia que ele
estava certo. As chances de arrumar um marido estavam
diminuindo a cada dia que passava, e até Sir Oliver um dia
desistiria dela, e a jovem não teria ninguém para cortejá-la.
Porém, ela queria um casamento por amor, e o único
homem que um dia amara na adolescência já era
comprometido antes mesmo de nascer. E mais, estava a
quilômetros de distância. Ele costumava frequentar sua
casa junto com a Condessa-viúva de Dorset, amiga de seus
pais, quando esta vinha visitá-los. Sempre muito educado e
sorridente, tinham se visto algumas poucas vezes e haviam
acontecido poucas conversas entre eles, uma vez que ele
era comprometido. A última vez que o tinha visto, Lizzie
tinha dezesseis anos e ele tinha vinte. Ele estava triste e, se
direcionou o olhar mais de duas vezes para ela, foi muito, e
ela não o culpava, parecia mais uma criança que uma
mocinha, nunca conseguiu chamar a atenção de nenhum
homem, além de Sir Oliver.
Apesar dos anos que se passaram e do fim da puberdade,
Elizabeth não tinha mudado em muita coisa, continuava
aparentando ter menos idade do que realmente tinha. Além
do mais, ela tinha puxado os cabelos negros e a pele cor de
oliva da mãe, não lhe permitindo ser tão branca quanto o
exigente padrão de beleza da época. Sempre que colocava
pó de arroz no rosto, ficava parecendo que lhe jogaram
farinha em sua face, e quando colocava também no colo,
adquiria uma aparência fantasmagórica. Por isso, ela
preferia não colocar nada dessas coisas.
Mas sabia que isso diminuía suas chances de conseguir um
marido. Com sorte, conseguiria um viúvo, ou algum
desesperado de seu nível social, mas jamais esperaria
conseguir um Conde, muito menos o qual por quem sempre
fora apaixonada.
Seu pai tinha colocado em seu dote, além de dinheiro, uma
pequena porção de terra que continha uma casinha de
campo, a qual era a sua preferida e onde a jovem
costumava passar as férias desde a infância. Seu sonho
sempre tinha sido morar lá.
Elizabeth sabia que não era comum um pai dar tanta
atenção assim a uma filha, mas como o casamento de seus
pais havia sido por amor e ela fora o primeiro fruto deles,
Lizzie tinha sido tratada como um verdadeiro tesouro por
seu pai. Ela possuía os mesmos traços da mulher que tinha
conquistado o coração do Barão, e esse era mais um dos
motivos para ele querer o melhor para a filha. E, no
pensamento do Barão, isso incluía arranjar-lhe um marido o
mais rápido possível.
Se sua esposa ainda estivesse viva, seria mais fácil, mas,
para sua infelicidade, ela tinha sucumbido a uma doença
grave que tirou sua vida aos poucos.
― A cada dia você fica mais parecida com sua mãe — disse-
lhe seu pai quando começaram a fazer o caminho de volta,
depois que terminaram a caminhada.
O Barão sentia falta da esposa. Isso era evidente pela
tristeza em suas palavras.
― Sinto falta dela — a jovem respondeu com os olhos
marejados.
― Eu também. — O Barão suspirou saudoso. ― Eu também.
Com o fim da caminhada, eles seguiram de volta para casa.
O Barão foi para seu escritório enquanto Lizzie seguiu para
seu quarto, lembrando-se que estava na hora de trocar o
livro que estava em seus aposentos. Tinha terminado de lê-
lo na noite anterior e já estava sedenta por novas
aventuras. O livro se tratava de pequenas e diversas
fábulas, e tinha chegado junto com um baú que seu pai
tinha comprado de um navio mercante.
Pegou o pequeno livro amarelado com cuidado e desceu a
escadaria em direção à biblioteca do pai, onde ele tinha
colocado o baú que havia adquirido por um preço simplório
no início da semana. Havia quase cinquenta livros ali
dentro, e ela agora tinha lido o primeiro.
Lizzie possuía total acesso à biblioteca e sempre havia
gostado do ambiente ali dentro, sentia-se segura e em paz.
Desde a morte de Lady Joanne tinha se tornado seu refúgio,
uma eterna recordação dos momentos felizes que passara
ali com sua mãe. E assim como havia sido o lugar preferido
da Baronesa, a biblioteca havia se tornado o seu lugar
preferido também.
Elizabeth abriu a porta da biblioteca e foi direto ao baú,
abriu-o com um pouco de dificuldade, assim como na
primeira vez, pois a maresia havia enferrujado as
dobradiças durante o período que passara a bordo do navio.
Quando ela conseguiu erguer a tampa, começou a olhar os
títulos dos livros que tinha ali.
Da última vez, assim que tinha aberto o baú, havia
encontrado o livro das fábulas e logo se interessou por ele,
fechando o baú sem se importar de ver os outros títulos que
tinha ali dentro.
Mas agora já tinha lido o das fábulas e precisava encontrar
outro livro para ler.
Começou a retirar um por um, a maioria eram livros
políticos e de administração, alguns
cadernos de contabilidade, mas nenhum romance. Isso a
entristeceu. Ela adorava romances e contos, mas não
encontrou nada que lhe interessasse. O único romance e
conto que tinha era o livro de fábulas, e esse já tinha lido.
Ela estava recolocando os livros de volta ao lugar de onde
saíram, quando um delesescorregou, deixando em sua mão
a capa do livro. Ela o pegou rapidamente, temerosa que o
pai soubesse que tinha rasgado um de seus livros novos,
mas ao analisar o estrago percebeu que se tratava de uma
capa falsa.
O livro, na verdade, não falava da história da Inglaterra, não
tinha nome na capa, apenas uma flor desenhada em alto-
relevo. Ao abrir o livro percebeu que era o diário de uma
garota. Ela leu as primeiras páginas e percebeu que não era
uma moça qualquer, e sim, uma cortesã.
― Cortesã? — Lizzie se perguntou, tentando se lembrar do
significado desse termo e onde já tinha visto essa palavra. E
então, como em um flash, ela lembrou. Tinha visto em um
dos romances da biblioteca de seu pai, e se lembrou de que
era uma amante de vários nobres, ou uma prostituta.
A curiosidade a assolou, como seria a vida de uma cortesã?
O que elas faziam? Sua consciência a alertou que essa não
era uma leitura para uma dama, porém, Lizzie não se
importou, estava curiosa para saber mais.
Ela fechou o baú e levou o livro para seu quarto. Chegando
lá, abriu o livro e começou a passar folha por folha, apenas
olhando por auto sem, de fato, ler. O início era apenas texto,
não havia gravuras e o diário lembrava um guia.
― Quinto dia. — Ela leu em voz baixa uma página aleatória.
— Querido diário, hoje Madame Rose me ensinou outra
lição. Ela disse que depois que eu conseguir que ele chegue
até mim, devo ignorá-lo. Isso é ridículo, por que eu deveria
ignorar o homem que eu quero seduzir?
Segundo ela disse, os homens gostam de desafios, e para
eles, a mulher não passa de um. Isso até que tem lógica. E
ela disse também que se eu me mostrar muito receptiva e
interessada inicialmente, ele não vai se sentir desafiado e,
logo, não vai se interessar por mim. Então, mesmo que a
vontade seja me jogar em seus braços, devo fingir que não
estou interessada. Isso fará com que ele se sinta desafiado
a me conquistar, pois, provavelmente, nenhuma mulher o
recusou antes. Será que funciona mesmo? Hoje à noite vou
testar e amanhã eu digo se funcionou.
O diário era interessante, e só possuía as lições. Era como
se ela estivesse escrevendo para não esquecer, ou para
depois passar para alguém. Não era muito grande, devia ter
apenas umas cinquenta páginas. Mas nem todas estavam
escritas, haviam algumas folhas em branco no final dele.
Na verdade, não estavam em branco, tinham desenhos
feitos à carvão. A garota desenhava bem. Eram gravuras.
Lizzie observou atenta os desenhos, mas assim que se deu
conta do que eles representavam, se escandalizou.
A jovem abriu os olhos e se viu sem palavras diante da
anatomia de um corpo masculino completamente despido e,
ao seu lado, uma mulher ajoelhada, também desprovida de
roupas.
Inúmeras outras imagens similares a essa decoravam a
página com pequenas descrições ao lado de cada uma
delas. Todas com a mulher com o membro do homem na
boca, mas em diferentes posições.
Rapidamente fechou o diário, seu coração batia acelerado,
era isso o que as prostitutas faziam com os homens? Ela se
preguntou, tentando acalmar seu coração que batia
acelerado em seu peito.
Bem que sua consciência tinha avisado. Não podia ler algo
tão vergonhoso e escandaloso, aquele não era um livro para
uma dama. Jamais deveria ter aberto aquele livro.
Decidiu colocar o livro de volta na biblioteca, que era onde
tinha deixado a capa falsa do livro. Mas antes que pudesse
levantar da cama, onde estava lendo, seu pai apareceu na
porta.
― Foi você que arrancou a capa do livro de História da
Inglaterra? Não encontro o miolo. ― ele perguntou com a
capa nas mãos. E ao ver a cara de espanto dela, se
desculpou pensando que o motivo do assombro fosse a sua
entrada repentina no quarto.
Ela pensou que o pai não sairia do escritório tão cedo, e
muito menos mexeria no baú, mas estava enganada. Se
soubesse, teria trazido a capa falsa com ela e evitado ter
que contar uma mentira.
― Eu vi essa capa, mas ela não tinha livro, acho que era só
a capa mesmo. ― Foi a melhor resposta que ela conseguiu
depois que conseguiu pensar direito.
― Que estranho! Todos os outros estão com a capa, deve
ser uma capa alternativa para algum outro livro. ― o Barão
falou baixinho como se falasse consigo. ― Mas enfim, o que
está lendo dessa vez?
Ela olhou o livro parcialmente escondido entre seu vestido,
droga não podia deixar seu pai ver o que era.
― Um livro de fantasia, princesa, dragões... essas coisas. ―
Ela falou rápido demais e com um pouco de nervosismo na
voz.
― É bom? ― Seu pai insistiu sem perceber a mentira da
filha. ― Lembro que você gostava quando eu lia esse tipo
de história para você antes de dormir.
― Eu também lembro. E sim, o livro é muito bom. ― ela
disse, tentando parecer natural.
― Então não vou mais atrapalhar sua leitura. Ah, já ia
esquecendo, mais tarde Lady Margaery virá aqui. Quando
ela chegar, quero que desça para lhe fazer companhia. Ela
vai adorar revê-la.
Seu pai saiu fechando a porta e só então Lizzie se permitiu
respirar aliviada. Foi por pouco. Ela não gostava de mentir,
mas não podia deixar o pai saber que tipo de livro estava
lendo.
Não podia deixar ninguém saber, na verdade. Tinha que dar
um fim naquele livro assim que possível.
Mas o diário em sua mão parecia rir dela e, para sua
infelicidade, continuava instigando sua curiosidade,
enquanto seu lado racional a criticava por ler algo tão
escandaloso.
Tentava se convencer que fora sem querer e que tinha agido
apenas por curiosidade. E
tentava, a todo custo, acreditar que tinha sido apenas uma
gravura, o que não era algo tão ruim assim, ou era?
― É só um desenho, só um simples desenho. ― Lizzie dizia
para si mesma, tentando acalmar seu coração, mas sua
mente insistia em voltar para os detalhes daquele desenho.
E ela se pegava pensando no porquê de a mulher da
gravura estar com a boca no membro do homem?
O assombro inicial estava passando e, novamente, sua
curiosidade voltava a lhe assolar, e dessa vez, ainda mais
forte.
Era assim que se faria um filho? Engoliria o xixi dele e no
xixi teria a sementinha e essa cresceria na barriga, dando
origem a um filho?
Isso é meio nojento. — Pensou consigo mesma — Os
homens realmente gostavam dessas coisas? Teria que fazer
isso para o seu marido quando casasse?
Essas eram as coisas que passavam em sua cabeça
inocente. Se era assim que se fazia um bebê, ela precisaria
saber mais na frente, pois, como não tinha mais sua mãe
para lhe explicar
essas coisas, precisaria aprender por si mesma. Talvez um
dia, quando fosse se casar, voltasse a olhar aquilo para
saber o que fazer com seu marido, então seria melhor
manter o diário consigo, já que ele lhe poderia ser útil. Ela
se convenceu, justificando a curiosidade que só aumentava.
Capítulo 2 — Proposta
Mais tarde naquele mesmo dia, Lorde Fernoy lhe chamou
para o salão. Por um momento, pensou que tinha sido
descoberta e que seu pai iria puni-la por ter lido algo tão
impróprio, mas não era nada disso. Assim que chegou à sala
e viu a Condessa, Lizzie se lembrou de que seu pai tinha
avisado que esta chegaria à tarde.
― Querida, veja quem chegou! — seu pai disse animado.
Lady Dorset era a melhor amiga de sua mãe. Cresceram
juntas e ela sempre vinha visitá-los quando estava nas
redondezas.
— Estávamos conversando há pouco e milady tem uma
proposta para você.
Qualquer que fosse a proposta, Lizzie percebeu que seu pai
estava muito satisfeito e isso deixou a jovem curiosa.
― Milady. — Lizzie fez uma reverência para a mulher. ― É
um prazer revê-la.
A Condessa era uma mulher elegante, cabelos castanhos
muito bem arrumados em um coque primoroso, seu vestido
era de seda e musselina, em alguns tons de azul. Ela tinha
um sorriso caloroso no rosto que se refletia em seus olhos
azuis. Tinha umas poucas mechas acinzentadas no cabelo e
uma ou duas rugas nos olhos indicavam que ela não era tão
jovem quanto aparentava.
― Como você cresceu, minha jovem! Se tornou uma bela
mulher.Está igualzinha à Joanne quando tinha sua idade —
disse a Condessa com carinho e seus olhos se entristeceram
por sentir falta da amiga.
― Obrigada, Milady. Fico muito feliz que tenha vindo nos
visitar.
A Condessa sorriu também se animando ao lembrar-se do
motivo da visita.
― Aqui está calor, não? O que acha de darmos uma volta no
jardim para que possamos conversar melhor? — convidou a
Condessa e as duas seguiram para o jardim.
Depois de andarem alguns minutos em silêncio, a mais
jovem perguntou curiosa.
― Meu pai disse que a senhora tem uma proposta para
mim… — Lizzie começou mal contendo a curiosidade.
― Ah, claro. Bom, estou indo passar uma temporada na
casa do meu sobrinho em Londres, e queria saber se você
gostaria de me acompanhar.
O rubor recobriu o rosto da jovem, o sobrinho ao qual se
referia era o Conde de Dorset, o mesmo homem pelo qual
se apaixonara em sua adolescência, e só a ideia de ficar
uma temporada com ele a fez sentir como se tivesse
borboletas no estômago.
― C-claro, eu adoraria. Nunca fui a Londres. — Lizzie tentou
disfarçar seu rubor abaixando a cabeça. Torcia para que a
Condessa acreditasse que seu rosto vermelho era vergonha
por nunca ter ido à tão conhecida cidade.
A Condessa, ao ver aquela reação inesperada, sorriu com
um brilho travesso no olhar. A mais nova não tinha
conseguido seu intuito de esconder o motivo de seu
nervosismo.
A Condessa desde que mostrara ao Conde quem era a sua
noiva de verdade, tentava a todo custo encontrar um novo
amor para ele. Não gostava da vida de lobo solitário que ele
levava e queria a todo custo ver seu sobrinho feliz. Mas
sabia que, para conquistar o seu sobrinho, teria que ser
uma mulher bonita e que não tivesse nenhum interesse em
dinheiro e status.
― Me diga, criança, por que nunca se casou? ― a Condessa
perguntou determinada a
saber se a jovem dama se encaixava naquilo que seu
sobrinho precisava.
― Não encontrei a pessoa certa ainda, Milady ― Lizzie
respondeu envergonhada.
― E quem seria a pessoa certa para você? O que procura
em um homem, meu bem? ― a Condessa perguntou
desconcertando a jovem garota que, novamente, ruborizou
envergonhada. ―
Não se preocupe, quero que me veja como uma amiga.
― Eu queria um casamento como o dos meus pais, eles se
casaram por amor e foram muito felizes — a jovem disse se
lembrando do amor que seus pais sentiam um pelo outro e
como eles não escondiam isso dos filhos.
― Mas amor é um luxo que nem todos podem ter ― a
Condessa replicou. ― O amor não enche a barriga de
comida, criança.
― Nem o dinheiro enche o coração de amor, Milady. Meus
pais foram felizes em seu casamento e, mesmo quando as
coisas estavam apertadas financeiramente, eles tinham o
apoio e o amor de um ao outro. O dinheiro é algo incerto,
hoje você pode ter e amanhã não, já o amor, desde que seja
alimentado, dura para sempre. Sei que pareço tola ao dizer
isso, e sei também que tenho obrigações com minha
família, terei que casar algum dia, terei que ter filhos, e
terei que ser uma boa esposa. E se por ventura eu tiver que
casar sem amor que seja, pelo menos, com um homem
honrado, e assim, quem sabe, eu não aprenda a amá-lo com
o tempo. ― Lizzie disse dando voz a tudo que acreditava,
esquecendo que aquele era um pensamento seu e que
podia ser visto como algo absurdo. E de repente se lembrou
com quem estava falando. — Me perdoe, Milady, não tinha a
pretensão de falar tanto.
Lizzie baixou a cabeça, envergonhada por defender o amor
de forma tão imprópria, não era bom uma jovem ter esse
tipo de pensamento. Isso só afastaria possíveis
pretendentes, ou daria vantagens a qualquer sem tostão de
tentar enriquecer às suas custas, com uma falsa ideia de
amor.
― É uma bela filosofia, tola, mas bela. Seus pais a criaram
de uma forma perigosa, não é bom que uma dama pense
essas coisas, é almejar muito alto. Mas gosto do seu ponto
de vista. É…
igualzinho ao da sua mãe ― a Condessa pronunciou,
acalmando o coração da jovem que temia ser tida como
infantil e tola.
Lizzie sorriu com a comparação, tinha muito de sua mãe em
si e se orgulhava disso.
Então, para a sua surpresa a Condessa viúva continuou.
― Não deixe que mudem isso. Em um mundo cheio de
mulheres interessadas em dinheiro, as que estão
interessadas em amor são raras e se destacam. Espero
mesmo que consiga encontrar o que tanto almeja.
Depois daquela conversa voltaram para dentro de casa.
Lizzie foi para seu quarto ver o que levaria, pois, partiriam
ainda naquele dia. Seu coração palpitava de ansiedade,
como estaria agora o homem que ela sempre amou em
segredo?
Lorde Daniel de Brant, o quinto Conde de Dorset estava na
biblioteca de sua casa em Londres e batia seus dedos na
mesa, indicando sua preocupação a respeito do prejuízo que
o atraso de seu navio cargueiro lhe causaria. A noite já tinha
caído e nenhuma mensagem sobre a sua preciosa carga
chegara. Se ela não chegasse em breve, perderia os
negócios que já tinha acertado
para as sedas que estavam a caminho. Já tinha vendido boa
parte do carregamento, e seus compradores, mesmo os que
ainda não haviam pago, estavam cobrando e reclamando da
demora.
E ele já estava perdendo a paciência com alguns deles.
Uma batida na porta o tirou de seus pensamentos sobre a
carga imprevisível. Seu mordomo trouxe uma carta em uma
bandeja, e ao observá-la melhor reconheceu a letra de sua
tia, e ao ler fechou a cara. Ela estava avisando que passaria
uns dias em sua casa, e chegaria em poucos dias.
Ele gostava muito da Condessa, mas sabia que a vinda dela
até Londres era uma novidade. Ela odiava aquela cidade,
dizia que era falsa e interesseira demais para o seu gosto.
Então sua vinda significava que tinha alguma coisa em
mente. O quê, não podia nem imaginar, sua tia era uma
incógnita desde que se entendia por gente. Sempre tinha
planos para todos e acabava sempre conseguindo tudo o
que queria. Era uma mulher astuta e inteligente, o que lhe
deixava ainda mais perigosa.
A última vez que ela estivera ali fora há cinco anos, quando
ele rompeu o noivado com Lady Letícia Denvern, e só
esteve ali para alerta-lo da megera que a noiva era. Ele
estava cego pela paixão e pela beleza da ex-noiva, e não
percebeu que a mulher com quem estava prometido a vida
toda, lhe era infiel e não lhe amava.
Devia ter desconfiado da sua tentativa de seduzi-lo
descaradamente, e da falta de pudor com que ela se
ofereceu a ele. Devia ter percebido que a ex-noiva parecia
experiente demais para uma virgem prometida em
casamento. E ele quase caiu nos truques dela. Quase. Ao
ver que ele não a tocaria até o casamento a pedido do pai
da noiva, ela tentou forjar um escândalo para que eles se
casassem o mais rápido possível, pois estava carregando o
filho de outro homem, e queria que parecesse que era dele.
Mas com a visita de sua tia, os planos de sua noiva foram
por água abaixo e ele acabou descobrindo tudo quando
confirmou que sua tia estava certa. Uma carta interceptada
por ele foi a prova que precisava para perceber que ela
estava armando contra ele, e isso foi suficiente para lhe
abrir os olhos e desfazer o noivado.
Sorte a dele que nunca tinha passado de beijos quentes
com a tal moça, caso contrário, estaria preso agora a um
casamento fracassado. Na época, era apenas um jovem tolo
de vinte anos, que tinha se mantido fiel a uma mulher que
não o merecia. Mas só se permitia ser tratado como tolo
uma única vez, e agora era um Conde bem-sucedido e rico,
que não pretendia jamais se casar. Deixaria, com todo o
prazer, o condado para seu primo.
A carta de sua tia o tinha feito remoer mágoas antigas,
nunca tinha se perdoado por ter sido tão idiota. Mandou que
chamassem um coche para ele, iria até o clube onde era
associado, diante daquelas lembranças tudo que precisava
era beber e tentar esquecer o passado.
Assim que chegou ao clube, disse a senha que tinha
recebido pela manhã no jornal. Como já estava de noite, o
clube estava quase lotado. Todosos cavalheiros
selecionados de Londres estavam ali. Para a segurança dos
mesmos, ao entrar no clube, eles recebiam uma máscara.
Ali tudo era permitido: jogos de azar, cartas, cassino, todo
tipo de apostas e, muitas mulheres para sua satisfação
pessoal.
Já com a máscara escondendo sua identidade e dentro do
clube, Lorde Dorset seguiu para o primeiro andar, que era
mais reservado, e se sentou em uma mesa um pouco mais
escondida.
Tudo ali já era familiar para ele, desde que o clube havia
aberto que ele era um associado.
O Conde observou os detalhes em vermelho e branco na
parede preta, as mesas redondas de madeira cobertas por
um tecido preto e rodeadas por cadeiras do mesmo
material, as divisões
entre cada mesa, as mulheres servindo as mesas com seus
vestidos coloridos. As de branco serviam apenas bebidas, as
de preto eram apenas acompanhantes nos jogos, e as de
vermelho eram as que eles poderiam comprar para ir a
algum quarto anexado ao clube.
O clube não era tão grande, já que a quantidade de
membros era limitada, uma vez que nem todos tinham a
senha. E também havia regras a serem seguidas por todos
ali dentro, a principal dela era: nunca tirar a máscara. Havia
uma lista negra de pessoas que tinham a entrada proibida
simplesmente por tê-las retirado em algum momento.
Sua atenção se voltou para a dama de branco que lhe servia
a bebida, ela também usava máscara, todos ali, inclusive os
empregados, usavam. Assim que a dama de branco se
afastou, uma de vermelho se aproximou, ele precisaria de
uma delas para afogar as mágoas. Então virou de uma vez a
bebida e deixou-se ser conduzido ao quarto onde poderia
esquecer, por alguns momentos, seus problemas.
Capítulo 3 — Londres
Elas partiriam naquele dia. As coisas de Lizzie já estavam
prontas desde a noite anterior e ela estava ansiosa,
esperando a chegada da carruagem da Condessa que a
levaria para Londres.
Lizzie estava em seu quarto decidindo como devolveria o
diário para o baú. Seu pai estava desde cedo na biblioteca e
a jovem não poderia deixar que seu pai encontrasse o
diário, pois ele tinha visto o livro com ela, e caso o
encontrasse na biblioteca depois, reconheceria a capa e
associaria com o que tinha visto com ela no dia anterior.
Ainda estava pensando no destino do livro, quando uma
criada entrou em seu quarto.
Instintivamente Lizzie escondeu o livro no primeiro lugar
que encontrou. Não podia permitir que mais ninguém
tivesse conhecimento do livro, sua reputação dependia
disso.
― Milady, a Condessa já chegou com a carruagem, seu pai
mandou avisá-la para que desça. — A criada deu o recado
que lhe tinha sido ordenado e, em seguida, voltou aos seus
afazeres, deixando Lizzie sozinha.
Lizzie ficou tão empolgada que, rapidamente, fechou sua
maleta e desceu indo se despedir logo do pai e dos irmãos.
― Eu devia dizer para ter juízo e não fazer nada que
envergonhe sua família, mas você nunca deixou de nos
orgulhar, e juízo nunca lhe faltou — disse seu pai assim que
ela o abraçou. —
Vou sentir saudade, não se esqueça de nos escrever.
― Papai, é só uma temporada, estarei de volta antes que
perceba — Lizzie disse com lágrimas nos olhos.
― Tome cuidado, meu amor, Londres não é como Fernoy.
― Pode deixar, papai.
Depois de se despedir de seu pai e abraçar cada um de
seus irmãos, a jovem subiu na carruagem da Condessa e
elas partiram para Londres.
― Vejo que está animada — disse a Condessa assim que ela
entrou na carruagem.
― E muito, Vossa Graça — ela respondeu com um sorriso de
orelha a orelha.
― Gosto da sua espontaneidade. É mais comum encontrar
moças dissimuladas e interesseiras e, por isso, fico feliz por
não ser como elas. — A Condessa aprovou os modos de
Lizzie e em seguida a instigou a falar mais. ― Mas me conte
mais de você, seu pai me contou de seu gosto pela leitura.
― Isso é verdade, meu pai sempre lia para mim quando era
mais jovem, então desde pequena que eu amo livros. Já li
vários gêneros, mas meu favorito é romance. — Os olhos de
Lizzie brilhavam quando ela falava de livros.
― Logo vi, seu modo de pensar lembra muito essas
mocinhas de romance. ― a Condessa disse irônica.
― Isso a incomoda? — a mais jovem perguntou franzindo a
testa, aquela resposta ditaria como deveria se portar no
restante da temporada. Se a Condessa se incomodasse com
sua liberdade teria que se conter ao máximo para não
incomodá-la.
― De forma alguma, muito pelo contrário, quanto mais
diferente você for das outras moças, melhor para nós. Isso
com certeza chamará a atenção de alguns pretendentes.
Aquelas palavras fizeram Lizzie cerrar os olhos ao entender
o porquê da Condessa a levar para Londres.
― Meu pai lhe pediu para me arrumar um marido, não foi?
— Lizzie perguntou desconfiada.
― Não exatamente, mas ele deixou bem claro que adoraria
vê-la casada. E não foi só uma vez — Lady Dorset
respondeu rindo e piscando um olho para a jovem que se
encolhia envergonhada ao saber que o pai tinha recorrido à
Condessa para arrumar um marido para Lizzie.
― Mas não se preocupe, não a trouxe para arrumar-lhe um
marido, e sim para ser minha acompanhante durante essa
temporada. Não gosto muito de Londres, é uma cidade fútil
e interesseira e você é o oposto disso, será uma ótima
companhia para mim.
A Condessa sorria de forma misteriosa, o que deixou Lizzie
com uma pulga atrás da orelha. Mas apenas acenou com a
cabeça concordando com a Condessa e seguiram em
silêncio o resto do caminho.
Lizzie olhava a paisagem passando pela janela da
carruagem, faltava pouco mais de uma hora para chegarem.
Estava ansiosa, por um lado queria ver como o homem de
seus sonhos tinha ficado e, por outro, temia o que poderia
encontrar.
Era de conhecimento público que ele não tinha se casado,
Lizzie soube disso através de seu pai que adorava se
informar sobre Londres. Tinha sido um escândalo na época,
ainda mais quando Lady Letícia, ex-noiva do Conde,
apareceu grávida pouco tempo depois de terem rompido o
noivado. Muita gente pensou que fosse dele, e por um
tempo ele foi visto com maus olhos. Isso até a criança
nascer e deixar evidente que seu pai não era o Conde,
então todos entenderam porque o Conde rompeu o noivado:
ela o tinha traído com um cantor de ópera muito famoso em
Londres.
Depois daquela notícia, Lizzie sonhou a semana toda com o
Conde de Dorset, sonhou com ele lhe declarando amor
eterno, indo buscá-la em casa e se casando com ela.
Sonhou com os filhos que teriam, com ela vivendo feliz para
sempre. Também tinha sonhado com ele na noite anterior,
mas, dessa vez, tinha sido um pesadelo. No sonho ele não
gostava dela e a mandava embora, e ela voltava humilhada
e desonrada.
― Você se lembra do meu sobrinho? — a Condessa
perguntou como quem não quer nada e Lizzie pulou do
assento, assustada ao ter os pensamentos interrompidos.
― O vi poucas vezes, Vossa Graça ― ela respondeu após se
recompor, tentando não pensar no homem que lhe invadia
os sonhos há algum tempo. — Ele me pareceu um bom
homem.
― Ah, verdade, ele me acompanhou até sua casa algumas
vezes… Graças aos Céus que ele não se casou com aquela
mulher. — A Condessa continuou falando fingindo não ter
visto o pulo que a jovem deu quando falou do seu sobrinho.
— Lorde Dorset se tornou um homem muito bonito,
cavalheiro e rico. Muito rico.
― Fico feliz que ele tenha superado tão bem o rompimento
com a noiva. E espero que ele não se incomode com minha
estadia na residência dele. — Lizzie fingiu não ter ouvido a
Condessa dar enfoque na palavra rico, não lhe interessava
de modo algum a riqueza do Conde, isso era o que menos
lhe chamava a atenção nele, e mesmo que não tivesse um
centavo continuaria apaixonada por ele.
― Ele ficará feliz em ter uma companhia feminina tão
espontânea, a maioria das moças que se aproximam dele é
para tentar fisgá-lo em casamento, e por isso, eu fico feliz
que você não esteja pensando em se casar. Ele ficará mais
à vontade ao saber que não precisa se preocupar em fugirde você, como vem fazendo com todas as outras mulheres e
mães casamenteiras.
― Quanto a isso pode ficar despreocupada, Milady, continuo
não tendo nenhuma intenção de voltar para casa casada. —
Lizzie sorriu e ergueu o rosto olhando diretamente para a
Condessa para que ela soubesse que falava a verdade, pois
um casamento sem amor não lhe interessava, e não era tola
para acreditar que o Conde se apaixonaria por ela.
A Condessa a olhou, analisando cada expressão da jovem
dama. Ela seria perfeita para o sobrinho. Seu sobrinho
adorava desafios, e só de Elizabeth não querer
compromisso, por hora já lhe chamaria a atenção.
― Eu sei disso, criança, sei disso.
O mordomo bateu à porta de seu escritório para anunciar a
chegada de sua tia, e ele foi até a sala de estar para saudar
a recém-chegada. Deu-lhe um abraço de urso que a tirou do
chão, como sempre fazia quando estavam sozinhos. A tia
tinha sido como uma segunda mãe para ele. A Condessa
não tinha laços sanguíneos com lorde Dorset, uma vez que
era esposa do tio dele, o antigo Conde de Dorset, mas,
mesmo assim, ela assumiu o papel de mãe na vida dele
quando um acidente levou a vida dos pais de Daniel quando
esse tinha apenas quinze anos.
― Como está minha tia preferida? Parece que está mais
nova a cada dia que passa, nem parece ter chegado aos
oitenta anos — o Conde disse brincando enquanto colocava
a Condessa no chão que o olhava com indignação.
― Daniel! Já lhe disse para ter modos! E eu não tenho essa
idade! — a Condessa ralhou com o sobrinho, mas, ao
mesmo tempo em que seu semblante era severo, seus
olhos provavam que ela estava feliz em ver o sobrinho. —
Você já é um homem adulto para fazer essas brincadeiras
de criança. Tanto que eu falei para a senhorita Fernoy de
sua educação. O que ela irá pensar de você agora?
Aquelas palavras foram suficientes para que ele percebesse
que tinha outra pessoa na sala com eles. Ela o olhava com
admiração e ao mesmo tempo um sorriso travesso torcia
seus lábios para um lado. Ele fechou a cara rapidamente.
Aquela presença lhe tirou toda a alegria que sentira com a
chegada da tia.
― Senhorita Fernoy, este é Daniel de Brant, meu sobrinho e
quinto Conde de Dorset.
Daniel, esta é a senhorita Elizabeth Alexander Fernoy, filha
do Barão de Fernoy.
― Peço perdão pelo meu comportamento, senhorita, ele foi
deveras inapropriado, esperava encontrar minha tia…
sozinha. — Ele deu um enfoque na palavra sozinha, e olhou
desgostoso para a tia com o canto do olho enquanto fazia
uma leve mesura para a garota. ― Mas seja bem-vinda à
minha casa.
― É um prazer, Vossa Graça, e estando em vossa
residência, é de se esperar que se comporte da forma que
melhor lhe aprouver, logo, espero que minha presença não
o incomode —
a garota respondeu polida e educada.
A presença dela já lhe incomodava, não gostava da forma
como a tia sorria, e muito
menos desta ter trazido uma jovem para sua casa sem
antes ter lhe avisado. Sua tia sabia o quanto ele era contra
ter uma mulher em sua casa, ainda mais uma que ele não
conhecia e de nível social mais baixo que o dele, essas
eram as mais interesseiras. Com aquela garota ali teria que
dobrar o cuidado para não cair em nenhuma cilada que o
levasse a um casamento forçado, como várias vezes haviam
tentado fazer.
Se bem que aquela criança não poderia lhe fazer muito mal,
sua aparência era a de alguém que acabava de debutar, era
uns bons vinte centímetros mais baixa que ele, e era
esguia, o que não lhe despertava o interesse de forma
alguma.
Olhou mais uma vez para sua visita, ela tinha cabelos
negros e sua pele era uns tons mais escuros que as
inúmeras moças que ele costumava ver por ai, seu rosto
não tinha cosméticos e ela não parecia desgostosa com
isso. E tirando apenas os enormes olhos castanhos, ela não
tinha quase nada de exuberante. Era uma moça comum e
para a sua sorte não lhe despertava o desejo, e mesmo que
porventura lhe despertasse, não iria fazer nada que
causasse problemas futuros. Se precisasse de sexo já tinha
para onde ir. Depois de prestar atenção nela, teve a
impressão de já tê-la visto em algum lugar, mas não
conseguia lembrar onde.
― Edmond, por favor, mostre o quarto de visitas para a
senhorita Fernoy, assim ela poderá descansar da longa
viagem.
O mordomo levou a jovem para o quarto onde já estavam os
pertences que ela havia trazido de sua casa. Lorde Dorset
seguiu com a Condessa para seu escritório, e ela sabia o
que ela ia falar antes mesmo que abrisse a boca, e na
verdade já contava com isso.
― O que a senhora tinha na cabeça? — ele perguntou assim
que entraram no escritório, indo até uma poltrona e
sentando-se.
― Olhe como fala comigo, Daniel! — A Condessa exigiu
respeito. — E essa pobre garota não lhe fez nenhum mal
para não ser bem-vinda aqui — ela reclamou sentando-se
em uma poltrona em frente a ele.
― Só me diga que não está tentando dar uma de
casamenteira de novo — ele provocou.
― Claro que não. A Senhorita Fernoy é só minha
acompanhante e já sabe o quanto eu odeio essa cidade, ela
é uma das poucas jovens que não são interesseiras e fúteis
nessa cidade.
― Quanto a isso eu duvido. Toda mulher é interesseira e
fútil, se não for assim, é porque é um homem. — Ele
desdenhou das palavras da tia, apoiando os cotovelos na
mesa e colocando as mãos unidas em baixo do queixo.
― Está me chamando de interesseira e fútil, Daniel? — a
Condessa perguntou, fingindo se ofender com a afirmação
do sobrinho.
― Fútil não, mas interesseira, com certeza! Seu maior
interesse é me ver casado. E eu aposto minhas sedas como
tem um plano nessa cabecinha para que eu me apaixone
pela garota que trouxe.
― Não tem plano nenhum! E a jovem não quer se casar, por
isso a trouxe. Acha que eu a teria trazido se ela estivesse
procurando marido? Você é um partido e tanto, e só traria
dor de cabeça me preocupar com ela tentando te prender
num casamento.
― Ela não quer casar? Essa é nova! — Ele riu com gosto.
Toda mulher naquela maldita cidade procurava um marido
em potencial, e ele e seus amigos encabeçavam a lista.
― Qual o problema? Ela não tem interesse em riquezas e,
segundo o pai dela, foi decisão dela não se casar, ela
recusou todas as propostas de casamento que fizeram a ela.
― Isso não quer dizer que não possa começar a querer um
— o Conde rebateu. — E com certeza as propostas não
devem ter vindo de um Conde.
― Faça o teste você mesmo, se eu estiver errada te dou o
meu navio, e se estiver certa você me mandará fazer
vestidos com as suas melhores sedas.
― E como você quer que eu descubra se ela tem interesse?
Perguntando se ela quer se casar comigo? Não vou pedir a
mão dela em casamento. — O Conde semicerrou os olhos.
Sempre que apostava com a tia, tinha que ter cuidado, pois
ela sempre tinha uma carta na manga.
― Bom, não estou dizendo que você deve se casar com ela,
mas se quiser o meu navio, terá que provar que ela está
tentando te fisgar em um casamento e que ela não é digna
de confiança até o fim dessa temporada.
― Espero que não se chateie quando eu ganhar seu navio.
― Ele se levantou sorrindo para a tia.
― Digo o mesmo sobre suas sedas… ― A Condessa sorriu
de volta para o sobrinho ―
Bom, verei como está a senhorita Fernoy ― Ela se dirigiu
para as escadas e antes de subir, olhou para trás. ― Tente
ser menos grosseiro da próxima vez, ou nunca vai conseguir
ganhar a aposta.
Com isso, a Condessa deixou o Conde sozinho pensando em
como faria para ganhar a aposta.
No quarto, Lizzie olhava tudo maravilhada. O mordomo já
havia saído e deixado uma criada para ajudá-la a se trocar,
tudo naquela casa era lindo e muito bem colocado para dar
um ar ainda mais magnífico à casa. E o quarto de hóspedes
não era diferente.
Ela se deitou na imensa cama sentindo sua maciez. A criada
a olhava sorridente, aguardando sua ordem de modo
serviçal. Ela se levantou e permitiu que a jovem a ajudasse
a tirar a roupa para um banho rápido. Estava cansada da
viagem e tambémcom fome. Não tinha comido nada desde
que saíram de casa.
Sua barriga roncou alto em meio ao silêncio do quarto e a
moça que lhe ajudava segurou o riso ao ver a jovem dama
envergonhada com o barulho feito pela barriga.
― O almoço será servido em instantes, senhorita — ela
avisou e pegou a roupa de viagem para lavar, saindo logo
em seguida do quarto.
Assim que ficou sozinha, Lizzie se esparramou na cama. Era
tão surreal estar ali. Estava tão feliz e animada, mas, ao
mesmo tempo, temia não ter causado uma boa impressão
ao Conde.
Ele tinha sido tão seco e seu semblante mostrava que ele
não estava contente com sua presença ali.
Sequer a olhara direito. Tinha praticamente a expulsado da
sala para poder conversar em paz com sua tia. Talvez ele
não fosse tão amável quanto o homem dos seus sonhos.
Ele estava diferente do que ela lembrava, estava mais
homem e até mais bonito, mas tinha perdido o ar inocente
que ela havia visto em seus olhos quando tinha quatorze
anos, e estava também menos feliz. Ele parecia possuir um
peso nos ombros que não gostava de carregar.
Mas não podia julgá-lo por apenas uma primeira impressão,
podia ser que o dia dele não estivesse indo bem. E tudo isso
fosse coisa de sua mente criativa. Além do mais, a presença
dela o pegou desprevenido, como ele mesmo tinha dito, não
esperava que a tia tivesse vindo acompanhada.
Então Lizzie decidiu não deixar isso afetá-la por demais,
estava em Londres, e não ia ficar triste só porque o homem
de seus sonhos não gostava dela. Era até aceitável esse
fato, visto
que ele tinha todas as mulheres de Londres a seus pés.
Batidas na porta a assustaram e ela se levantou depressa,
temendo ser vista de forma tão despojada na cama. Abriu a
porta devagar e deu de cara com a Condessa que a olhava
alegre.
― Está confortável, querida? ― a Condessa perguntou
quando Lizzie abriu a porta.
― Sim, Vossa Graça, aqui é tudo muito aconchegante —
disse Lizzie respondendo ao sorriso da Condessa com outro
sorriso.
― Espero que meu sobrinho não tenha lhe causado
constrangimento com seu comportamento. — A mais velha
se desculpou pelo Conde.
― De forma alguma, ele apenas foi pego de surpresa com
minha presença — Lizzie disse sem jeito, não queria dizer
que ela ficou sem graça ao ver a reação dele.
― Fico feliz que tenha compreendido. O Conde não gosta
muito de visitas femininas, pelo menos não depois do
escândalo com o rompimento do noivado. Ele deixou de
confiar nas mulheres, acha que todas são interesseiras,
mentirosas e que na menor oportunidade irão prendê-lo em
um casamento — a Condessa explicou. — Eu tento
persuadi-lo desse pensamento, mas acredito que ele não
me dá ouvidos, temo que ele seja infeliz o resto da vida já
que não se permite amar ninguém. E o que é uma vida sem
amor? Você mesma disse isso. Talvez, com você aqui, ele
possa ver que ainda há esperança afinal.
A Condessa disse cada palavra sabendo que iria inquietar a
filha do Barão, e depois saiu, indo para o próprio quarto se
trocar. Tinha começado a colocar suas ideias em ação e
faria tudo para seu plano dar certo.
Assim que a Condessa a deixou, Lizzie voltou para a cama.
Agora entendia o motivo da reação do Conde e se
compadeceu de sua história triste. A única mulher que ele
amou era uma megera que para fugir da ruína por causa da
gravidez fora do casamento, cuja criança não era do Conde,
tentou armar para que parecesse que o filho era dele, e
assim conseguir, além do título, não ser completamente
arruinada. E todas essas mentiras fez ele se fechar para o
amor.
Será que ela conseguiria mostrar que nem toda mulher era
igual à sua ex-noiva?
Esse era o único pensamento que ela tinha. Queria poder
ajudá-lo a superar isso, mas tinha que tomar cuidado, já que
ele acreditava que ela também podia estar ali para prendê-
lo em uma armadilha de casamento.
Lizzie ficou deitada na cama olhando para o teto branco
com detalhes em azul-claro, pensando o que poderia fazer
para mostrar para o Conde que não era igual a ex-noiva
dele, e enquanto pensava, a frase dita pela Condessa
ecoava em sua mente: “Temo que ele seja infeliz o resto da
vida”.
E pensando no Conde, acabou adormecendo.
Capítulo 4 — Insultos
Batidas na porta do quarto acordaram Lizzie. Era a criada
com o pedido da Condessa que Lizzie se juntasse a ela para
o chá da tarde. Segundo a criada, a Condessa não tinha
permitido que fosse acordada para o almoço, uma vez que a
viagem havia sido cansativa, e queria que ela descansasse.
Ela se arrumou com a ajuda da criada e desceu para fazer
companhia à Condessa, que estava na sala com outras
mulheres; assim que a viu, a Condessa abriu um sorriso
genuíno.
― Venha cá, querida — a Condessa chamou erguendo a
mão. — Quero que conheça a Condessa de Claire, Lady
Amélie de Averley. ― Ela apontou para a senhora a direita,
que usava um vestido lilás com muitas camadas de tecido e
extremamente chamativo. ― E esta é Lady Abigail de
Sinclair, Viscondessa de Sevan. ― A Viscondessa estava
com um vestido mais simples, cor de creme, bem menos
espalhafatoso que o da outra mulher e, por sua vez, parecia
mais simpática e agradável que a primeira.
― É um prazer. — Lizzie fez uma mesura ao ser apresentada
às distintas damas.
A Condessa de Claire acenou com a cabeça e com um
sorriso de superioridade no rosto, um gesto típico que ela
reservava para os membros de classe mais baixa. E a
viscondessa lhe deu um sorriso sincero e educado.
― Sente-se, minha querida. — A Condessa apontou um
lugar ao seu lado e Lizzie sentou-se silenciosa.
― Então, Margaery, quando vai fazer o Conde mudar de
ideia sobre se casar? — Lady Claire perguntou à Condessa
com o nariz empinado, ignorando totalmente Lizzie depois
da apresentação.
― Isso não está em minhas mãos, Amélie, ele é livre para
decidir se vai querer casar ou não.
― Mas é um desperdício um homem daquele não querer se
casar, ainda mais com tanta moça de berço debutando
nessa temporada. Ele seria um partido e tanto para
qualquer moça em idade de se casar.
― Isso é uma verdade — concordou a Condessa de Dorset.
— Mas, como eu disse, depende unicamente dele, quando
ele achar que deve se casar, ele se casará.
― Mas com certeza ele escuta você, e agora que está aqui
não se importaria em lhe acompanhar ao baile na minha
casa, foi por isso que eu vim lhe ver. ― A Condessa de
Claire tirou um papel do bolso enquanto falava. — Trouxe-
lhe pessoalmente o convite, para garantir que não iria
recusar ao meu pedido. Então, querida, diga que vai e leve
essa…bela jovem com você.
Acredito que ela nunca tenha participado de um baile tão
famoso quanto os que eu ofereço.
A Condessa havia olhado com um sorriso tão falso para
Lizzie que ela se sentiu sem graça. Sabia que a mulher tinha
debochado dela ao dizer que ela era bonita, uma vez que
não seguia nenhuma moda londrina e para eles, seguir a
moda era de suma importância para ser bem-aceita na
sociedade.
A chacota não passou despercebida por nenhuma das
mulheres que estavam tomando chá.
Lady Claire era conhecida por sua arrogância e vaidade, e
também por sua língua ferina.
A Condessa de Dorset sabia disso, e não gostava nem um
pouco da mulher que estava a sua frente com o ar
arrogante. Mas a etiqueta e o decoro não lhe permitia fazer
o que estava querendo fazer contra a mulher à sua frente.
― Farei o possível para convencer meu sobrinho a ir, mas
não lhe garanto nada — Lady Dorset disse em resposta ao
convite do baile. — Mas eu e a senhorita Fernoy iremos,
será bom para ela se divertir um pouco.
A Condessa de Claire ficou satisfeita com a resposta da
Condessa, e então voltaram a conversar sobre a última
moda londrina. Lady Claire não se continha ao falar dos
bens que possuía, ou de sua própria fama, ou da beleza de
sua filha que tinha chamado à atenção de vários homens de
berço nobre.
Elas passaram a hora do chá escutando Lady Claire se
gabar, e assim que a mulher saiu com sua acompanhante,
tanto a Condessacomo Lizzie suspiraram aliviadas.
― Eu não suporto o ego dessa mulher! — a Condessa
confessou assim que ficaram sós.
― Se dependesse de mim, ela sumia para sempre da
sociedade, tenho certeza que ninguém sentiria falta dela.
― Por que aceitou o convite, então? — Lizzie perguntou sem
entender porque a Condessa tinha concordado com aquilo
se não gostava da outra mulher.
― Porque, infelizmente, ela realmente dá os bailes mais
famosos de Londres, e graças a isso, toda a nobreza
Londrina aparece por lá. E, apesar de não gostar dela, eu
gosto bastante de algumas pessoas que ela convida. E
quero que conheça essas pessoas, sua mãe conhecia a
maioria delas e seu pai também.
― Entendi, a senhora não vai nem tanto pela festa e sim
pela companhia que terá lá. —
Lizzie falou depois de um tempo pensando nas palavras da
Condessa.
― Exatamente, minha jovem. — A Condessa sorriu. ― O que
não suportamos pelos amigos, não?
Lizzie concordou com a Condessa com um sorriso.
― Ela, pelo menos, foi gentil ao trazer o convite. — Lizzie
pensou alto e a Condessa riu.
― Ali de inocente não tem nada! Ela quer é que eu leve o
Conde para a filha dela poder enfiar suas garras nele.
― Sério? — Lizzie ficou surpresa, mas então se lembrou das
frases ditas pela outra mulher sobre a própria filha, durante
sua breve visita. — Então ela quis dizer que a filha era um
ótimo partido para o Conde? — Lizzie disse dando ênfase na
palavra Conde.
― Exatamente, minha cara. Exatamente. Mas se depender
de mim meu sobrinho não chega nem perto daquela família.
Porque a filha é a mãe todinha. E eu prefiro não ter que
suportar nenhuma das duas — a Condessa disse enquanto
saia da sala com Lizzie e seguia para as escadas em direção
a seus aposentos. ― Daniel pediu para avisar que não
jantará conosco essa noite, então mandei que servissem
seu jantar em seus aposentos. Mais tarde mandarei que lhe
entreguem papel, tinta e pena. Acredito que gostaria de
enviar uma carta para seu pai, não?
― Sim, Milady, eu gostaria muito. Obrigada — Lizzie
agradeceu entrando em seu quarto e a Condessa seguiu
para o dela.
Como a Condessa havia dito, o jantar foi servido no quarto
de Lizzie, e logo em seguida um criado lhe trouxe papel,
tinta e pena, e ela escreveu uma carta para seu pai,
avisando que já tinham chegado e que estava animada com
a temporada.
No dia seguinte, no café da manhã, todos sentaram-se à
mesa. Lizzie comia de cabeça baixa tentando, em vão, não
olhar para o seu anfitrião. Não o tinha visto desde o dia
anterior, e tinha ficado inquieta com o que a Condessa
havia falado a respeito dele no dia anterior. Será que ele
ainda estava chateado por ela ter vindo junto? Pelo silêncio
que estava na mesa era provável que sim.
Em meio a tanto silêncio, Lizzie se perdeu em pensamentos
e, sem nem mesmo notar, começou a observar o Conde. Ele
comia sem pressa, mas não parecia saborear a comida, na
verdade, parecia até que o fazia apenas no automático, sem
pensar no que estava fazendo. Seu pensamento parecia
estar em algum outro lugar, um lugar bem distante.
Ele está tão sério — pensou ela se esquecendo de comer ao
observá-lo.
Ela guardava na mente cada detalhe daquela cena, o cabelo
ondulado e castanho do Conde, a forma como eles
escondiam seus olhos cor de mel quando se debruçava
levemente sobre o prato, seus dedos longos segurando o
talher, seus ombros largos que escondiam a cadeira atrás
dele. Ela devorava cada detalhe inconscientemente, quando
ele levou o talher à boca, a concentração da jovem ficou ali,
nos lábios do Conde.
Há quanto tempo aqueles lábios não sorriam? Será que ele
seria feliz algum dia novamente? É como se ele vivesse
apenas vendo os dias passarem. Ele não é feliz — julgou a
garota analisando o semblante do Conde.
Aquela afirmação sobre a felicidade do Conde a fez olhar
para o próprio prato. E então se lembrou da comida e voltou
a comer lentamente. Seus pensamentos continuavam no
Conde, procuraria uma forma de fazê-lo sorrir.
Quando ela tornou a erguer a vista, ele a olhava de volta
com a testa franzida. Lizzie ficou hipnotizada com a
intensidade do olhar dele e apenas quando se deu conta do
que fazia é que baixou os olhos para o prato, constrangida.
Depois disso, se obrigou a continuar de olhos na comida.
― Senhorita Fernoy, seus aposentos lhe agradaram? — o
Conde lhe perguntou fazendo a jovem dar um pequeno pulo
da cadeira, surpresa, ao ver que ele se dirigia a ela
educadamente, da mesma forma como a tratou no dia
anterior, só que dessa vez não parecendo tão desgostoso
com a presença dela ali.
― Sim, Vossa Graça, eles são muito aconchegantes. — ela
respondeu fitando sua boca sem conseguir o olhar nos
olhos. ― Muito obrigada por me aceitar aqui.
― Fico feliz que tenha gostado — ele respondeu, ignorando
o agradecimento da garota.
― E como vai o Barão?
― Está muito bem, obrigada. Enviei uma carta ontem para
ele, contando que já tinha chegado e que estava feliz por
estar aqui. — Lizzie disse ficando animada por ele estar
conversando com ela.
― Que bom ― o Conde respondeu e voltou a ficar em
silêncio enquanto terminava de comer.
Vendo que o Conde não ia falar mais nada, a Condessa
decidiu tomar a palavra.
― O que vai fazer hoje à noite, querido? — ela perguntou ao
sobrinho.
― Creio que tenha a noite livre, tia — ele respondeu sem
pensar e só depois percebera
seu erro. Uma vez dito que estaria livre, não havia como
voltar atrás. Nenhuma desculpa seria cabível para não
acompanhar a tia, e ela provavelmente o incumbiria de
acompanhá-las a algum lugar e ele iria gostar menos ainda
do lugar. Tinha quase certeza disso.
― Bem, a senhorita Otávia vai se apresentar na ópera, e
você sabe o quanto eu adoro ouvir aquela voz. Queria levar
a senhorita Fernoy, e gostaria que fosse conosco, não é
seguro duas mulheres andarem sozinhas nessa Londres tão
perigosa, e já que você está livre, irá nos acompanhar, não
é mesmo?
― E eu tenho escolha? — ele respondeu sem se deixar
contagiar com o entusiasmo da tia. Antigamente gostava de
ópera, mas depois que sua ex-noiva o traiu com um cantor
de ópera, fugia desse tipo de apresentação como o diabo
fugia da cruz.
― Sempre tem uma escolha, Milorde — Lizzie falou ao
perceber o desconforto do Conde. — Mesmo que não pareça
haver uma, sempre tem.
Aquelas palavras o deixaram um pouco sem graça, e ele
não gostou da sensação. Então fechou a cara e lançou um
olhar irritado para a intromissão da garota. Odiava quando
era repreendido, e ainda mais por uma mulher que mal
conhecia. Se antes já não simpatizava com ela, agora ela
perdera ainda mais pontos com ele.
― Vai perceber, senhorita Fernoy, que quando se trata da
minha tia, a escolha não é um luxo que se possa ter.
Diante daquelas palavras Lizzie calou-se, mas não sem
antes se repreender em pensamento por ter aberto a boca.
Ela apenas tentou dizer que se ele não quisesse ir não tinha
problema, mas acabou falando demais. E agora ele tinha se
chateado com ela.
— Bom, estaremos prontas às oito — informou a Condessa
para quebrar o clima tenso que tinha surgido após a
reprimenda do Conde. — Eu gosto que ele faça o que eu
peço, querida, e ele sabe disso, por isso, nunca me recusa
nada. E fora que a ópera é uma das poucas coisas boas por
aqui. Não perderia por um capricho do meu sobrinho.
Eles terminaram a refeição em um profundo silêncio,
beirando o constrangimento. Assim que terminou, Lizzie
pediu licença para se retirar e foi para seu quarto.
Na sala, a Condessa olhava irritada para o Conde.
― O que foi isso? — ela perguntou se referindo ao mau
comportamento dele.
― Isso o quê? Eu não fiz nada, apenas falei a verdade.
Quando se trata de você não tenho nenhuma escolha
mesmo.
― Eu sei, mas não precisava fuzilar a pobre garota com o
olhar. Já vi que não está muito afim do meu navio, já que
está contribuindo para que ela não goste de você. E já sabe,
se não provar que ela quer casar com você, eu ganho.
― Não tenho culpa se elame irrita só em estar aqui, não
confio nela e não gosto dela.
― É simples resolver isso, desista da aposta e me dê logo as
sedas.
― E te dar esse gostinho? Jamais. — Ele sorriu. — Além do
mais eu sempre quis aquele navio.
― Nunca vai conseguir ganhar a aposta. A senhorita Fernoy
não é como sua ex. Ela só se casará por amor. Ela mesma
me disse isso.
― E a senhora caiu nessa conversa? O amor não existe, é
apenas uma desculpa para se burlar as regras, para fazer o
que bem entender. A única coisa que elas amam de verdade
é o dinheiro e os títulos que podemos oferecer a elas. Quero
ver o amor superar um título nobre ou uma herança
recheada de riqueza. — O Conde fez uma pausa profunda,
havia se perdido em pensamentos. Ele planejava o que iria
fazer para provar que ela era interesseira e algumas ideias
lhe ocorreram, mas assim que viu sua tia olhando-o
desconfiada, disfarçou. — O que eu não entendo, é como
pode confiar tanto nessa garota?
― Porque eu a conheço desde que nasceu e conheço sua
criação. Ela jamais faria algo tão baixo quanto Lady Letícia
Denvern, ou tão desonroso. E você também perceberia isso,
se deixasse de lado todo o ódio que alimentou contra as
mulheres.
Lorde Dorset ficou em silêncio, não acreditava nas palavras
da tia. Sua antiga noiva não o amava apesar de ter dito
diversas vezes que sim. No fim, o amor não foi suficiente
para impedir que ela o traísse com outro homem, se ela o
tivesse trocado por estar apaixonada pelo outro homem,
talvez ele ainda acreditasse em amor, mas em vez disso ela
descartou o pai do filho dela e tentou usar o Conde para
esconder a traição e também a gravidez que tinha sido
resultado de sua traição. Ela não amava ninguém além de si
mesma, e iria usar qualquer um para continuar no topo.
Queria apenas evitar um escândalo, não se importando se
iria ferir ou não os sentimentos do homem que a amava. E
ele quase foi feito de tolo. E jamais iria permitir que uma
mulher fizesse o mesmo novamente.
Vendo que o sobrinho não falaria mais nada, a Condessa se
levantou da mesa. ― Ah, e mais uma coisa, daqui a três
dias a Condessa de Claire vai dar um baile em sua casa, e
quero que você nos acompanhe e dance a valsa com Lizzie.
― Por que isso agora? Até parece que está jogando ela em
cima de mim. O que está tramando? — o Conde perguntou
desconfiado, levantando uma sobrancelha.
― Considere um favor pessoal para mim. E não se
preocupe, eu sei o que estou fazendo
― disse e em seguida completou, já andando para as
escadas. ― Esteja pronto às oito para nos levar à ópera.
Lizzie se sentia uma tola, tinha esquecido completamente
onde estava. Nunca devia ter aberto a boca. Mas não se
lamentaria mais por isso, já tinha passado. E, na verdade,
ela não falara nada demais para ele. Ele se ofendeu apenas
por não gostar dela — ela se convenceu em pensamento.
Se jogou na cama sem se importar que uma dama de
verdade não deveria fazer isso, e sentiu algo duro em suas
costas. Colocou a mão atrás de si e pegou o objeto que a
tinha machucado, era o diário que tinha encontrado no baú
de seu pai.
Ela não lembrava de tê-lo trazido para Londres, muito
menos de ter colocado ele ali na cama. O diário parecia
pedir que ela o lesse, as imagens que tinha visto já não lhe
atormentavam tanto. Talvez naquele diário ela conseguisse
pelo menos se distrair um pouco de seu constrangimento.
Então abriu na primeira página e começou a ler.
Querido diário, essa é a primeira vez que eu escrevo.
Madame Rose me deu você hoje, e pediu que eu escrevesse
toda lição que ela me passasse. Acho que
ela não sabe escrever ou ler, por isso, me pediu para fazer
isso. E como ela é boa para mim, eu faço com o maior
gosto.
Ela diz que em breve vai se aposentar e também por isso
quer que eu escreva sobre as lições de sedução, pois ela
não quer preparar prostitutas, e sim cortesãs. As melhores
cortesãs de toda a Inglaterra.
Uma cortesã é mais que apenas um corpo para aquecer
uma cama, é uma confidente, uma amante. Não pode ser
qualquer uma, tem que ser uma mulher inteligente e que
seja uma sedutora nata.
Claro que não se encontra uma mulher já pronta assim nos
saberes da sedução, e é aí onde entra o trabalho da
Madame, ela dirá passo a passo como seduzir um homem,
seja ele rico, pobre, gordo, magro, alto, baixo, feio ou
bonito, todos eles são, antes de tudo, homens e homens são
no fundo todos iguais, querem alguém que sacie seu desejo
e que incite sua inteligência. O que ele dificilmente encontra
em uma esposa, uma vez que a educação dessas as ensina
apenas a serem mães e donas de casa, e não a suprirem os
desejos de seus maridos.
Essa é a primeira lição de uma cortesã, seja a mulher que o
homem não encontra em casa. Isso fará toda a diferença na
hora de ele escolher você.
Os homens só nos procuram porque suas mulheres são frias
na cama, não sabem como satisfazê-los e nem gostam de
fazer isso, pois acham que é pecado uma mulher gostar de
deitar com seu marido. São poucas as que realmente
satisfazem os seus homens e esses são os que nunca
recorrem a nós.
Essa foi a lição que a Madame ensinou hoje, sobre não ser
servil como uma esposa. Segundo ela, se fosse isso que um
homem queria, ele daria meia-volta, iria para casa e deitava
com sua esposa.
Ainda bem que as damas não sabem satisfazer seus
maridos, caso contrário, não teríamos tantos fregueses.
Hoje ela vai passar a lição número um, segundo ela é algo
sobre como chamar a atenção, mesmo estando rodeada de
pessoas. É algo…
Lizzie estava tão absorta na leitura que nem sequer tinha
escutado a criada bater à porta, e nem percebeu quando ela
a abriu, por isso, ao ouvir a voz da criada dentro do quarto,
se assustou.
― Senhorita, o Conde quer vê-la. Ele pediu que eu a
acompanhasse até seu escritório.
Lizzie fechou o livro com tanta força que ele fez barulho.
Seu coração tinha acelerado e ela tinha segurado o grito de
susto.
― Me perdoe, eu bati à porta, mas a senhorita não
respondeu, pensei que estivesse dormindo por isso entrei.
— A criada se desculpou envergonhada por ter assustado a
jovem dama.
― Tudo bem. — Lizzie respondeu quando enfim se
recuperou do susto que a criada lhe causara, se levantando
e pegando o diário. ― Sabe dizer quem colocou esse diário
aqui?
A criada olhou para as mãos em um gesto típico de
vergonha.
― Fui eu, senhorita. Ele estava no meio de suas roupas e eu
o encontrei quando as estava
organizando no baú.
Lizzie ficou um pouco apreensiva.
― Você o leu?
― De modo algum senhorita, e-u-eu não sei ler — ela disse
ainda mais envergonhada por não ser letrada.
― Tudo bem, é que esse diário é muito particular. Mas já
que disse que não leu, eu fico mais aliviada. Agora vamos
que o Conde não deve gostar de esperar muito ― Lizzie
respondeu mais aliviada. Seria seu fim se a criada tivesse
visto as gravuras e levado o diário ao Conde.
Como conseguiria explicar algo tão impróprio em seus
pertences? Teria que colocá-lo em um lugar seguro onde
ninguém encontrasse.
A empregada a levou até a sala do Conde. Ele estava
sentado atrás de uma escrivaninha, em uma poltrona de
couro e olhava para a parede a sua frente ignorando
completamente a chegada dela. A criada ao deixá-la na
sala, saiu, deixando-a sozinha na sala com o Conde. Ela
pensou que ficar ali sozinha com ele podia ser impróprio,
mas estavam na sala dele, com as portas abertas, o
mordomo bem próximo da porta pelo lado de fora, então ela
se convenceu que não mancharia sua reputação ficar ali
com ele, os criados não falariam nada e o Conde não queria
nenhum escândalo.
Então sua reputação estava a salvo, pelo menos era o que
ela esperava.
― O senhor mandou me chamar, Milorde?
Ele finalmente virou seu olhar para ela e ficou um tempo a
observando em silêncio. Ele tinha mandado chamá-la,
queria conversar com ela, pedir desculpa pelo seu
comportamento e usar seu charme para conquistá-la e,
depois provar que ela queria casar com ele por interesse,
mesmo que precisasseseduzi-la para isso. Mas ao ver ela
parada ali na frente, com o rosto um pouco corado, as mãos
unidas, a imagem perfeita da inocência, ele se irritou, ela
parecia fingir muito bem que não queria nada com ele e isso
o fez esquecer todo seu plano.
Lizzie começou a ficar constrangida diante de tanta
observação. Mas antes que pudesse falar algo ele se
pronunciou.
― Você não é feia. É diferente. Não chega a ser uma
beldade, mas também não é feia.
Tem algum problema mental? ― ele perguntou não
escondendo sua frustração ao tentar decifrá-la.
― Milorde? — ela perguntou confusa e desorientada diante
de uma conversa tão constrangedora e inesperada.
Nunca, em toda sua vida, tinha tido aquele tipo de conversa
com outra pessoa, e muito menos recebido os adjetivos
usados por ele. E como ficou sem palavras ele continuou.
― Fico aqui me perguntando, o que faz solteira até agora.
Devia ter debutado novamente, o luto já passou, ainda tem
idade para casar. Por que continua solteira? Não me parece
ter nenhum problema que impeça tal ato.
Ela ficou perplexa. Ele a olhava como se estivesse avaliando
um objeto a ser vendido e ela ficou furiosa. Desde o dia
anterior que ele a insultava, e tratava como um estorvo, e
quando ela tentava ser gentil, ele a cortava fazendo com
que se sentisse errada. Mas aquilo já era demais, não se
importava que ele fosse um Conde e que ela estivesse de
visita na sua casa, não era obrigada a tolerar aquilo.
― Talvez, Milorde, isso se deva ao fato de eu não querer me
casar — ela respondeu tentando não se exaltar e com isso
dizer algum impropério. Quem ele pensava que era para
tratá-la daquela forma? ― Nem todas as mulheres estão à
procura de um casamento.
― Não seja tola, eu não acredito nessa história de mulher
não querer se casar. — Ele revirou os olhos.
— Se for só isso que esteja planejando me falar, então
poupe-nos do constrangimento e permita-me voltar para
meus aposentos.
Ele, ao perceber que ela estava irritada, mudou sua postura.
Não era essa a intenção desde o início, mas não tinha
conseguido se segurar, e acabou insultando ela. Sua voz
parecia ter vida própria, expondo os pensamentos que ele
não queria que ela soubesse. E com isso quase estragara
tudo. O Conde respirou fundo, tentando tomar o controle de
sua fala, e com isso voltar aos planos iniciais, de ser um
perfeito cavalheiro, apesar de saber que já tinha estragado
tudo.
― Perdoe-me, não quis ofendê-la, é que fiquei confuso. Não
é o sonho de toda mulher se casar? — Ele fez cara de
inocente e ela semicerrou os olhos diante da atuação de
bom moço.
Aquilo não tinha abrandado a raiva dela, muito pelo
contrário, tinha feito Lizzie ficar ainda mais na defensiva.
Ele se xingou mentalmente, e pensou em outros métodos,
apesar de que, a forma que ela o olhava, o impedia de
pensar corretamente.
― Talvez o seja, mas não é o meu sonho no momento. ― Ela
o encarou ríspida. — E
caso esteja passando pela sua nobre cabeça que estou aqui
tentando fisgá-lo em um matrimônio, sugiro que pare.
Porque, mesmo que eu quisesse me casar, jamais o faria
com o senhor, acredito que não suportaria aguentar todas
essas suas acusações desprovidas de lógica. Então com
licença milorde, vou para os meus aposentos, arrumar
minhas coisas.
Lizzie se virou sem esperar uma resposta do Conde e se
encaminhou para a porta, mas foi interceptada pelo Conde
que segurou seu braço delgado fazendo com que ela ficasse
nervosa com seu toque.
― Me perdoe se pensei mal a seu respeito, mas qualquer
outra pessoa pensaria o mesmo, pois, o que mais iria querer
fazer em Londres a não ser arrumar um marido?
― Acompanhar uma Condessa em sua viagem, talvez? —
Ela foi irônica ao expor o óbvio motivo de sua visita, não
gostando de tê-lo ali tão perto dela, ele a deixava
estranhamente nervosa.
O Conde se xingou ainda mais por dentro. Onde estava a
sua maestria em seduzir uma moça? Porque ele só
conseguia insultá-la?
― Milorde, me solte para que eu possa ir para meus
aposentos, já estou cansada dessa história de casamento.
― Ela pediu revirando os olhos, sabia que ele achava que
ela estava ali para tentar fazer ele se casar com ela, e
estava irritada com as acusações dele. Se continuasse ali
era quase certo que começaria a xingar o Conde.
― Não saio enquanto não me perdoar pelo meu
comportamento. — Ele sorriu usando seu charme para se
passar por bom moço, mas ela estava irritada com tudo que
ele disse e aquilo a deixou ainda mais irritada.
― Que eu saiba, para pedir desculpas tem que estar
realmente arrependido. ― Lizzie alfinetou. ― E pelo que
parece o senhor não está nem um pouco arrependido das
coisas horríveis que falou a meu respeito.
Vendo que um pedido de desculpas não ajudaria, o Conde
tentou explicar o ponto de vista dele.
― Não pode me culpar por achar que você está aqui com o
mesmo interesse que toda
mulher de Londres tem: casar com um nobre, de preferência
rico. Não confio em mulheres e muito menos nas que eu não
conheço. — O Conde disse também ficando irritado com a
dificuldade que estava tendo de ter uma conversa civilizada
com a dama.
Nunca imaginaria que aquela pequena mulher tivesse um
temperamento tão feroz. Ela só faltava xingá-lo, e agora o
olhava com uma careta irritada que fez ele ter uma súbita
vontade de rir.
― Eu vou repetir para ver se o senhor entende. ― Lizzie
respirou fundo para se acalmar.
― Se eu, por acaso, tivesse vindo tentar fisgá-lo em um
casamento, isso mudaria depois dessa conversa. Não acho
que uma vida ao seu lado me seria benéfica, independente
do quanto dinheiro haja em seus bolsos, ou da nobreza de
seu título, acredito que um casório com o senhor me seria
muito…torturante
― Tudo bem, eu a julguei mal, mas saiba que a sociedade
vai julgar da mesma forma, e ela vai ser até mais maldosa
que eu. Eles não são muito acolhedores com quem é
diferente deles.
E você é completamente o oposto de tudo que eles são. —
Ele tentou mudar a situação ao seu favor e falhou
miseravelmente. ― Estou apenas preparando você para o
que lhe aguarda lá fora.
Londres consegue ser bem ferina quando quer.
― Então agora está justificando que suas ações são para
meu próprio bem? Seja homem e assuma seus erros em vez
de ficar arrumando justificativas para eles. Desde que
cheguei só me insulta, me trata como se eu não fosse bem-
vinda e isso tudo por algo que não cometi, não fui eu quem
lhe traiu milorde, então pare de agir como se eu fosse a
culpada pelo erro de sua ex-noiva.
Aquelas palavras fizeram o Conde soltá-la imediatamente.
Lizzie não esperou que ele a dispensasse para voltar a seus
aposentos. Sabia que tinha tocado em um ponto sensível ao
falar de sua ex, mas não se arrependia, ele merecera por
tudo que tinha dito sobre ela.
Lizzie subiu imediatamente para o seu quarto, não sentia a
menor vontade de continuar ali, e dane-se as regras de
etiqueta, não era obrigada a aguentar calada os insultos de
um homem que ela mal conhecia, só porque ele era um
Conde. O coração dela estava acelerado com a adrenalina e
a única coisa que ela pensava era que ele não era o mesmo
rapaz simpático e bonito que ela tinha visto algumas vezes.
Talvez tenha sido algum dia, mas não mais. Ele tinha se
tornado um homem totalmente diferente.
A Condessa que a perdoasse, mas ela voltaria para casa,
não era obrigada a ficar em um lugar no qual não se
sentisse bem-vinda. E pouco se importava se ele era um
Conde ou não.
Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, a porta de seu
quarto foi aberta e o Conde entrou parecendo irritado. E
realmente estava, nenhuma mulher o tratava da forma que
ela tinha tratado. Ela manteve a cabeça erguida, em
desafio. Se ele estivesse ali para mandá-la embora ela iria,
mas não iria de cabeça baixa.
― Eu ainda não tinha terminado — ele disse assim que teve
a atenção dela.
― Mas eu sim — ela respondeu e ambos ficaram se
encarando dentro do quarto dela com a porta aberta, em
uma situação que facilmente poderia causar

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