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Universidade Federal da Paráıba Centro de Ciências Exatas e da Natureza Departamento de Matemática Doutorado Gustavo da Silva Araújo José Carlos de Albuquerque Melo Júnior Marcius Petrúcio de Almeida Cavalcante Mariana de Brito Maia Rainelly Cunha de Medeiros Rayssa Helena Aires de Lima Caju Ricardo Burity Croccia Macedo sob orientação do Prof. Pedro Antonio Hinojosa Vera Soluções do Livro Geometria Riemanniana, Manfredo Perdigão do Carmo João Pessoa Sumário Caṕıtulo 0 – Variedades Diferenciáveis 3 Caṕıtulo I – Métricas Riemannianas 19 Caṕıtulo II – Conexões Afins; Conexão Riemanniana 34 Caṕıtulo III – Geodésicas; Vizinhanças Conexas 55 Caṕıtulo IV – Curvaturas 92 Caṕıtulo V – Campos de Jacobi 110 Caṕıtulo VI – Imersões Isométricas 127 Caṕıtulo VII – Variedades Completas; Os Teoremas de Hopf e Rinow e de Ha- damard 147 Caṕıtulo VIII – Espaços de Curvatura Constante 158 Caṕıtulo IX – Variações da Energia 172 Caṕıtulo X – O Teorema de Comparação de Rauch 184 Caṕıtulo XI – O Teorema do Índice de Morse 194 2 Caṕıtulo 0 Variedades Diferenciáveis 1. (Variedade produto). Sejam M e N variedades diferenciáveis e sejam {(Uα, xα)}, {(Vβ, yβ)} estruturas diferenciáveis de M e N respectivamente. Considere o produto carte- siano M ×N e as aplicações zαβ(p, q) = (xα(p), yβ(q)), p ∈ Uα, q ∈ Vβ. a) Mostre que {(Uα × Vβ, zαβ)} é uma estrutura diferenciável em M × N , na qual as projeções π1 : M ×N →M e π2 : M ×N → N são diferenciáveis. Com esta estrutura diferenciável, M ×N é chamada a variedade produto de M por N . b) Mostre que a variedade produto S1 × · · · × S1 de n ćırculos S1, onde S1 ⊂ R2 tem a estrutura diferenciável usual, é difeomorfa ao n-toro Tn do Exemplo 4.9 (a). Demonstração. a) Segue da definição de zαβ que ∪α,βzαβ (Uα × Vβ) ⊂M ×N . Por outro lado, se (p, q) ∈ M × N , então existem ı́ndices α e β tais que p ∈ xα(Uα) e q ∈ yβ(Vβ). Dáı, (p, q) = (xα(u), yβ(v)), com u ∈ Uα e v ∈ Vβ. Isto é, (p, q) = zαβ(u, v) ∈ zαβ (Uα × Vβ), donde M ×N ⊂ ∪α,βzαβ (Uα × Vβ) e, portanto, M ×N = ∪α,βzαβ (Uα × Vβ). Vejamos agora a diferenciabilidade da mudança de coordenadas. Seja W = zαβ (Uα × Vβ) ∩ zγδ (Uγ × Vδ) 6= ∅. Temos que y ∈ z−1αβ ◦ zγδ (Uγ × Vδ) se, e somente se, y = z −1 αβ ◦ zγδ (p, q), com p ∈ Uγ e q ∈ Vδ. Se, e somente se, y ∈ x−1α ◦ xγ(Uγ) × y−1β ◦ yδ(Vδ). Assim, z −1 αβ (W ) = (Uα × Vβ) ∩ [x−1α ◦ xγ(Uγ)× y−1β ◦ yδ(Vδ)], e isso nos mostra que z −1 αβ (W ) é um aberto de R m+n. Além disso, z−1αβ ◦ zγδ(p, q) = (x −1 α ◦ xγ(p), y−1β ◦ yδ(q)), ou seja, z−1αβ ◦ zγδ é diferenciável, uma vez que x −1 α ◦ xγ e y−1β ◦ yδ são diferenciáveis. Agora, como x−1α ◦ π1 ◦ zαβ(p, q) = x−1α ◦ π1(xα(p), yβ(q)) = x−1α (xα(p)) = p, segue que x−1α ◦ π1 ◦ zαβ é a restrição da projeção π : Rm+n → Rm ao aberto Uα × Vβ. E, portanto, as restrições π1 e π2 são diferenciáveis. b) Sejam M = S1× · · · ×S1 (com a estrutura natural de grupo multiplicativo) e Tn = Rn/Zn o n-toro. Seja ϕ : Rn → M definida por ϕ(x1, . . . , xn) = (eix1 , . . . , eixn). Mostremos que ϕ é um 3 homomorfismo de grupos. De fato, ϕ((x1, . . . , xn) + (y1, . . . , yn)) = ϕ(x1 + y1, . . . , xn + yn) = (ei(x1+y1), . . . , ei(xn+yn)) = (eix1 , . . . , eixn).(eiy1 , . . . , eiyn) = ϕ(x1, . . . , xn).ϕ(y1, . . . , yn). Como sabemos, ϕ é sobrejetiva. Como eixj = 1 ⇔ xj = 2kπ, k ∈ Z, segue que kerϕ = 2πZn ∼= Zn, e portanto, pelo teorema do isomorfismo, existe um isomorfismo de grupos ϕ : Rn/Tn →M . Como Zn age de maneira propriamente descont́ınua em Rn, a projeção canônica π : Rn → Rn/Zn é um difeomorfismo local. Finalmente, como ϕ = ϕ ◦ π e ϕ é bijeção, segue-se que ϕ é um difeomorfismo. 2. Prove que o fibrado tangente de uma variedade diferenciável M é orientável (mesmo que M não o seja). Demonstração. Sabemos que se {(Uα, ϕα)}α∈A é uma estrutura diferenciável para M, então {(Uα × Rn, γα)}α∈A é uma estrutura diferenciável para TM, onde TM = {(p, v) ; p ∈M e v ∈ TpM} e a aplicação do fibrado tangente γα(xα1 , ..., xαn, u1, ...un) = (xα(xα1 , ..., xαn), n∑ i=1 ui ∂ ∂xαi ), (xα1 , ..., x α n) ∈ Uα e (u1, ..., un) ∈ Rn. Agora se (p, v) ∈ γα(Uα × Rn) ∩ γβ(Uβ × Rn), então (p, v) = (xα(qα), dxαvα) = (xβ(qβ), dxβvβ), onde qα ∈ Uα, qβ ∈ Uβ, vα, vβ ∈ Rn. Portanto, segue que γ−1β ◦ γα(qα, vα) = γ −1 β (xα(qα), dxαvα) = ((x −1 β ◦ xα)(qα), d(x −1 β ◦ xα)(vα)). Dáı, d(γ−1β ◦ γα)(qα,vα) = d(x−1β ◦ xα)qα 0 ∗ d(x−1β ◦ xα)qα . Logo, det [ d(γ−1β ◦ γα)(qα,vα) ] = (det [ d(x−1β ◦ xα)qα ] )2 > 0 e, portanto, TM é orientável. 4 3. Prove que: a) uma superf́ıcie regular S ⊂ R3 é uma variedade orientável se e só se existe uma aplicação diferenciável N : S → R3 com N(p)⊥TpS e |N(p)| = 1 para todo p ∈ S. b) a faixa de Mobius (Exemplo 4.9 b)) é não-orientável. Demonstração. a) Se a superf́ıcie regular S é uma variedade orientável, é posśıvel cobri-la com uma famı́lia de vizinhanças coordenadas de tal modo que, na interseção de quaisquer duas delas a mudança de coordenadas tem jacobiano positivo. Nos pontos p = X(u, v) de cada vizinhança coordenada, definimos N(p) = N(u, v) = Xu ∧Xv |Xu ∧Xv| (p). N(p) está bem definido, pois se p pertence a duas vizinhanças coordenadas, com parâmetros (u, v) e (u, v), então os vetores normais N(u, v) e N(u, v) coincidem, uma vez que Xu ∧Xv = (Xu ∧Xv) ∂(u, v) ∂(u, v) , onde ∂(u, v) ∂(u, v) é o jacobiano da mudança de coordenadas, o qual sabemos ser positivo. Logo, a aplicação N : S → R3 dada por N(p) = Xu ∧Xv |Xu ∧Xv| (p) fica bem definida e é diferenciável pois sendo X uma parametrização, |Xu ∧Xv| 6= 0 e as coordenadas de N(u, v) em R3 são funções diferenciáveis de (u, v). Observe que |N(p)| = 1 e que dado z ∈ TpS, como z = aXu + bxv temos 〈N(p), z〉 = 0, pois 〈Xu ∧Xv, Xu〉 = 〈Xu ∧Xv, Xv〉 = 0. Reciprocamente, suponha que existe N : S → R3 diferenciável, com N(p)⊥TpS e |N(p)| = 1, para todo p ∈ S. Tomemos uma famı́lia de vizinhanças coordenadas conexas cobrindo S. Para os pontos p = X(u, v) de cada vizinhança coordenada X(U), U ⊂ R2, é posśıvel, pela continuidade de N e, se necessário intercambiando u e v, fazer com que N(p) = Xu ∧Xv |Xu ∧Xv| . De fato, definindo f : X(U)→ R por f(p) = 〈 N(p), Xu ∧Xv |Xu ∧Xv| 〉 , temos f(p) = 〈 N(p), Xu ∧Xv |Xu ∧Xv| 〉 = ±1, uma vez que N(p) e Xu ∧Xv |Xu ∧Xv| são vetores unitários perpendiculares a TpS. Como X é uma parametrização e pela continuidade de N , temos que f é cont́ınua. Assim, a conexidade de X(U) garante que ou f ≡ 1 ou f ≡ −1. Se f ≡ 1, temos o afirmado. Se f ≡ −1 intercambiamos u e v na parametrização, obtendo o afirmado. Procedendo desta maneira com todas as vizinhanças coordenadas, teremos que na interseção de duas quaisquer delas, digamos X(u, v) e X(u, v), o jacobiano ∂(u, v) ∂(u, v) é positivo, pois do contrário teŕıamos Xu ∧Xv∣∣Xu ∧Xv∣∣ = N(p) = ∂(u, v)∂(u, v) Xu ∧Xv|Xu ∧Xv| = − Xu ∧Xv|Xu ∧Xv| = −N(p), o que é uma contradição. Disso conclúımos que S é uma variedade orientável. 5 b) Um sistema de coordenadas locais para a faixa de Möbius é dado por X(u, v) = (( 2− vsenu2 ) senu, ( 2− vsenu2 ) cosu, cosu2 ) , onde 0 < u < 2π e −1 < v > 1. A vizinhança coordenada correspondente omite os pontos do intervalo aberto u = 0. Tomando agora Ox como origem dos u’s, obtemos outra parametrização X(u, v) dada por x = { 2− vsen ( π 4 + u 2 )} cosu, y = { 2− vsen ( π 4 + u 2 )} senu, z = vcos ( π 4 + u 2 ) , cuja vizinhança coordenada omite o intervalo u = π/2. Essas duas vizinhanças coordenadas cobrem a faixa de Möbius e munem de uma estrutura de variedade diferenciavel. Observe que a interseção das duas vizinhanças coordenadas não é conexa, mas constitúıda de duas componentes conexas: W1 = { X(u, v) : π2 < u < 2π } , W2 = { X(u, v) : 0 < u < π2 } . A mudança de coordenas é dada por u = u− π2 e v = v em W1, u = 3π2 + u e v = −v em W2. Decorre que ∂(u, v) ∂(u, v) = 1 >0 em W1, ∂(u, v) ∂(u, v) = −1 < 0 em W2. Para mostrar que a faixa de Möbius é não orientável, vamos supor que seja posśıvel definir um campo diferenciável de vetores normais N : M → R3. Intercambiando u e v se necessário, podemos admitir que N(p) = Xu ∧Xv |Xu ∧Xv| para todo p n vizinhança coordenada de X(u, v). Analogamente, podemos admitir que N(p) = Xu ∧Xv∣∣Xu ∧Xv∣∣ 6 para todos os pontos da vizinhança coordenada X(u, v). Entretanto, o Jacobiano da mudança de coordenadas deve ser −1 em W1 ou em W2(dependendo das eventuais mudanças do tipo u→ v, u→ v que tenham sido feitas). Se p é um ponto desta componente da interseção, então N(p) = −N(p), o que é uma contradição. 4. Mostre que o plano projetivo P 2(R) é não-orientável. Demonstração. Seja A = {(Uα, xα)} um atlas orientado para M e U ⊂M um aberto. Podemos induzir em U a estrutura diferenciável AU = {(Uα ∩ U, xα |Uα∩U );Uα ∩ U 6= ∅} tornando assim U uma variedade diferenciável. Desde que, (Uα ∩ U) ∩ (Uβ ∩ U) = (Uα ∩ Uβ) ∩ U ⊂ Uα ∩ Uα é claro que, se (Uα ∩ Uβ) ∩ U 6= ∅, então det J(xα |Uα∩U ◦(xβ |Ubeta∩U ) −1) > 0 pois det J(xα ◦ x−1β ) > 0 em Uα ∩ Uβ. Logo U é orientável. Sejam agora U = {(x, y, z) ∈ R3; (x, y, z) ∈ S2e|z| < 1/2} e V = {(x, y, z) ∈ R3;x2 + y2 = 1, |z| < 1/2}. É claro que f : V → U dada por f(x) = x‖x‖ é um difeomorfismo entre V e U . Como f(x) = −f(−x), segue que f ◦ A = A ◦ f , onde A é a aplicação ant́ıpoda, de modo que V/G e U/G são difeomorfos com G = {Id,A}. Mas como V/G é a faixa de Möebius e U/G é um aberto de P 2(R), segue que P 2(R) contém um aberto que é difeomorfo a uma faixa de Möebius, visto é, contém um aberto não-orientável. Como provamos acima, que todo aberto de uma variedade orientável é orientável, segue que P 2(R) é uma variedade não-orientável. 5. (Mergulho de P 2(R) em R4). Seja F : R3 → R4 dada por F (x, y, z) = (x2 − y2, xy, xz, yz), (x, y, z) = p ∈ R3. Seja S2 ⊂ R3 a esfera unitária com centro na origem 0 ∈ R3. Observe que a restrição ϕ = F |S2 é tal que ϕ(p) = ϕ(−p), e considere a aplicação ϕ̃ : P 2(R)→ R4 dada por ϕ̃([p]) = ϕ(p), [p] = classe de equival. de p = {p,−p}. 7 Prove que: a) ϕ̃ é uma imersão. b) ϕ̃ é biuńıvoca; junto com a) e a compacidade de P 2(R), isto implica que ϕ̃ é um mergulho. Demonstração. a) Primeiro note que dado α ∈ R, temos que F (αp) = F (αx, αy, αz) = ((αx)2 − (αy)2, αxαy, αxαz, αyαz) = α2(x2 − y2, xy, xz, yz) = α2F (p). Logo, ϕ(−p) = F |S2(−p) = (−1)2F |S2(p) = ϕ(p), ∀ p ∈ S2 e, portanto, ϕ̃ : P 2 → R4 está bem definida. Observe ainda que ϕ : S2 → R4 é C∞, já que as funções coordenadas de F são C∞. Além disso, ϕ = ϕ̃ ◦ π, onde π : S2 → P 2(R), dada por, p 7→ [p], é a projeção canônica. E como π é um difeomorfismo local, tem-se dϕp = dϕ̃[p]dπp, ∀ p ∈ S2. Assim, sendo dπp um isomorfismo, para mostrar que ϕ̃ é uma imersão, basta mostrar que o posto de dϕp é 2, para todo p ∈ S2. Note que dϕ(x,y,z) = 2x −2y 0 y x 0 z 0 x 0 z y Assim, quando z 6= 0, tem-se det z 0 0 z = z2 6= 0. E quando z = 0, tem-se det 2x −2y y x = 2(x2 + y2) 6= 0, já que (x, y, z) ∈ S2. Portanto, posto de dϕ(x,y,z) é 2 para (x, y, z) ∈ S2. 8 b) Mostremos que ϕ̃ é injetiva. Sejam [p], [q] ∈ P 2(R) com ϕ̃([p]) = ϕ̃([q]). Assim, ϕ(p) = ϕ(q), sendo p = (x, y, z) e q = (a, b, c) tem-se x2 − y2 = a2 − b2 (1) xy = ab (2) xz = ac (3) yz = bc (4) x2 + y2 + z2 = 1 (5) a2 + b2 + c2 = 1 (6) Analisemos os casos: Caso I: x = 0 Por (2) e (3) temos que ab = ac = 0, se a 6= 0, então b = c = 0. E por (6) segue que a2 = 1. De (1) obtemos que −y2 = 1, que é um absurdo! Dáı, a = 0. Por (1), temos −y2 = −b2 ⇒ y2 = b2 ⇒ y = b ou y = −b. Se y = 0 então b = 0, e por (5) e (6) tem-se z = 1 ou z = −1 e c = 1 ou c = −1, e portanto, (x, y, z) = (a, b, c) ou (x, y, z) = −(a, b, c). Se y 6= 0 então b 6= 0. De (4) temos: y = b ⇒ z = c ou y = −b ⇒ z = −c. E novamente, (x, y, z) = (a, b, c) ou (x, y, z) = −(a, b, c). Caso II: y = 0 Por (2) e (4) temos que ab = bc = 0. Se b 6= 0, então a = c = 0, logo de (6), b2 = 1, e por (1), x2 = −1, o que é um absurdo! Logo, devemos ter b = 0. Por (1) segue que x = a ou x = −a: se x = 0 então a = 0, e temos de (5) e (6) que z = 1 ou z = −1 e c = 1 ou c = −1. Logo, (x, y, z) = (a, b, c) ou (x, y, z) = −(a, b, c). Se x 6= 0 então a 6= 0, por (3) tem-se x = a ⇒ z = c ou x = −a⇒ z = −c. E novamente, (x, y, z) = (a, b, c) ou (x, y, z) = −(a, b, c). Caso III: z = 0 Por (3) e (4) segue que ac = bc = 0. Se c 6= 0 então a = b = 0. Logo, por (2) temos que xy = 0. Portanto, se x = 0 então por (5) que y2 = 1 e se y = 0 tem-se por (5) que x2 = 1, o que é uma 9 contradição com (1). Por isso, devemos ter c = 0. Por (5) e (6) temos que x2 + y2 = a2 + b2 = 1. Somando com (1) segue que 2x2 = 2a2 ⇒ x = a ou x = −a. Se x = 0 então y = 0, e dáı, por (5) e (6), b = 1 ou b = −1 e y = 1 ou y = −1. E portanto, (x, y, z) = (a, b, c) ou (x, y, z) = −(a, b, c). Se x 6= 0 então a 6= 0. Logo, se x = a, temos por (2) que y = b. E se x = −a então y = −b. E novamente, (x, y, z) = (a, b, c) ou (x, y, z) = −(a, b, c). Caso IV: x 6= 0, y 6= 0, z 6= 0z = 0 Por (2) e (3) temos que a 6= 0, b 6= 0, c 6= 0. Por (2), tem-se y = abx e por (3), tem-se z = ac x . Substituindo em (4), obtemos ab x ac x = bc =⇒ a2 = x2 =⇒ x = a ou x = −a. Se x = a, por (2) e (3) tem-se y = b e z = c. Se x = −a, por (2) e (3), tem-se y = −b e z = −c e, portanto, (x, y, z) = (a, b, c) ou (x, y, z) = −(a, b, c). Assim, em qualquer caso, p = q ou p = −q, isto é, [p] = [q]. Ou seja, ϕ̃ é injetora. Logo, ϕ̃ : P 2(R) → ϕ̃(P 2(R)) é uma bijeção cont́ınua. Desde que P 2(R) é compacto, então ϕ̃ : P 2(R) → ϕ̃(P 2(R)) é um homeomorfismo. Portanto, ϕ̃ : P 2(R)→ R4 é um mergulho. 8. Sejam M1 e M2 variedades diferenciáveis. Seja ϕ : M1 →M2 uma aplicação diferenciável que é localmente um difeomorfismo. Prove que se M2 é orientável, então M1 é orientável. Demonstração. Sejam {(Uα, ϕα)}α∈A uma orientação para M2 e p ∈ M1. Como ϕ é um di- feomorfismo local, existem vizinhanças Vp ⊂ M1 de p e Wp = ϕ(Vp) ⊂ M2 de ϕ(p) tais que ϕ|Vp : Vp → ϕ(Vp) é um difeomorfismo. Ora, Wp = ϕ(Vp) = ∪α∈A(Wp ∩ Uα), dáı Vαp = ∪α∈A(Vp ∩ ϕ−1(Uα)) (Trabalhemos apenas com os ı́ndices α tais que Vαp =: Vp ∩ ϕ−1(Uα) 6= ∅). Agora, definindo ψαp : Vαp → Rn por ψαp = ϕα ◦ ϕ|Vαp , vemos que {(Vαp, ψαp);α ∈ A e p ∈ M1} é um orientação para M1. De fato é uma estrutura diferenciável e, dados α, β ∈ A e p, q ∈M1 com Vαp ∩ Vβq 6= ∅, temos que ψαp ◦ ψ−1βq = ϕα ◦ ϕ|Vαp∩Vβq ◦ ϕ −1 |Vαp∩Vβq ◦ ϕ −1 β = ϕα ◦ ϕ −1 β , donde, det[d(ψαp ◦ ψ−1βq )] = det[d(ϕα ◦ ϕ −1 β )] > 0. Conclúımos então que {(Vαp, ψαp);α ∈ A e p ∈M1} é uma orientação de M1. 10 9. Seja G×M →M uma ação propriamente descont́ınua de um grupo G em uma variedade diferenciável M. a) Prove que a variedade MG (Exemplo 4.8) é orientável se e só se existe uma orientação de M que é preservada por todos os difeomorfismos de G. b) Use (a) para mostrar que o plano projetivo P 2(R), a garrafa de Klein e a faixa de Möbius são não-orientáveis. c) Prove que Pn(R) é orientável se e só se n é ı́mpar. Demonstração. a) Suponha MG orientável e seja {(Uα, ϕα)} uma estrutura diferenciável tal que ∀α, β ∈ A com Uα ∩ Uβ = W 6= ∅ a diferencial de mudança a coordenadas Xβ ◦ X−1α tem diterminante positivo. Tomemos π : M → MG o difeomorfismo local já conhecido. Como a ação é propriamente descont́ınua, temos que MG tem estrutura de variedade diferenciável cuja dimensão é a mesma de M . Para cada g 6= e ∈ G tem-se Vα ∩ gVα = ∅, e portanto podemos associar pelo difeomorfismo local π (π(Vα) = Uα). Sendo que os abertos Vα estão bem determinados podemos munir M com uma orientação. Na verdade π−1(Uα) = ∪g∈GgVα, gVα ⊆ M . Os abertos em M pela ação do grupo assumem a forma de gVα onde este está bem determinada pela projeção π. Tomemos Yαg : gVα ⊆M → Rn,dado naturalmente por Yαg = Xα ◦ π. Tomemos Yαg : gVα ⊆M → Rn dado naturalmente por Yαg = Xα ◦π. O conjunto {(gVα, Yαg)} definem uma orientação para M . É claro que {(gVα, Yαg)} formam uma estrutura diferenciável visto que Yαg é uma composição de aplicação de aplicações diferenciáveis. Sejam α, β ∈ A tal que gVα ∩ g′Vβ = Wαβ 6= ∅. Como π é um difeomorfismo local, temos que Wαβ Yβg ◦ Y −1αg = (Xα ◦ π) ◦ (Xβ ◦ π)−1 = Xα ◦ π ◦ π−1 ◦X−1β = Xα ◦Xβ o que nos fornece que Yβg ◦ Y −1αg′ tem determinante jacobiano positivo. 11 Seja µ : G ×M → M a ação propriamente descont́ınua sobre M dada por µ(g,m) = gm e considere o difeomorfismo natural de G ψg : M → M dado por ψg(m) = gm. Desta maneira, vemos que para cada m ∈ M a aplicação linear d(ψg)m : TmM → TgmM é um isomorfismo. Como munimos M com uma orientação induzida da variedade quociente MG dado pelo estrutura diferenciável {(gVα, Yαg)}, vamos então mostrar que d(ψg)m : (TmM, θm)→ (TgmM, θgm) é um isomorfismo cujo determinante de matriz associado seja positivo. De fato, para cada m ∈ gVα seja d(Yαg′)m : (TmM, θm)→ (TYαg′mR n = Rn, θ) a aplicação linear cujo determinante da matriz associada seja positivo (isto ocorre pois M é orientável). Seja m ∈ g′Vα ∩ g′′Vβ, então a orientação de TmM dado por d(Yαg′)m coincide com a orientação definido por d(Yβg′′)m visto que M é orientável e, portanto, det[Jac(Yβg′′ ◦ Y −1βg′ )Yβg′ (m)] > 0. De maneira análoga quando definimos d(Yβg′′)m : (Tg′′mM, θgm)→ Rn, θ) é uma aplicação linear cujo determinante de matriz associado é positivo. Com isto obtemos de forma natural o seguinte diagrama comutativo (TmM, θm) d(ψg)m// f1=d(Yαg′′ )m �� (Tg′′mM, θgm) f3=d(Yβg′′ ) �� (Rn, θ) f2=d(Yβg′′◦(Yαg′ )−1) // (Rn, θ) Como d(ψg)m = f −1 3 ◦ f2 ◦ f1 e f1, f2 e f3 tem determinante positivo segue que d(ψg)m tem determinante positivo provando que a orientação é preservado pelos difeomorfismo de G. Reciprocamente, como M é orientável seja {(Uα, Xα)} uma estrutura diferenciável que da orientação para a projeção, πM → MG . O conjunto Γ : {(π(Uα), π ◦ X −1 α )} definem uma ori- entação em MG . De fato, primeiramente podemos notar que o fato em que a ação é propriamente descont́ınua nos dá que π(Uα) = Vα em M G é um aberto bem determinado. Logo, Uα ∩ β se, e somente se, Vα ∩ Vβ 6= ∅. (visto que π é difeomorfismo local). Logo, sejam Vα e Vβ abertos em 12 M G tal que Vα ∩ Vβ 6= ∅. Logo para cada m ∈ Vα ∩ Vβ temos na intercessão que Xβ ◦ π−1 ◦ π ◦X−1α = (π ◦X−1β ) −1 ◦ π ◦X−1α = Xα ◦ ψg ◦X−1α Como Xα ◦ψg ◦X−1β tem determinante jacobiano positivo, segue que o mesmo de (π ◦X −1 β ) −1 ◦ π ◦X−1α também é positivo e portanto MG é orientável. b) Temos que RP 2 = δ2G ; K = T 2 G e M = C G , onde δ 2 é a esfera unitária em R3, T 2 é o toro em R3, C é a faixa x2 + y2 = 1, |z| < 1 e G = {I, A}. Dado p ∈ δ2, e u, v ∈ Tpδ2 linearmente independentes. Então vamos provar que A : δ2 → δ2 inverte orientação. {u, v} ∈ θp se, e somente se, det(p, u, v) > 0. Como Tpδ 2 = T−p e dAp = −IdTpδ2 temos que det(−p,−u,−v) = −det(p, u, v) < 0 segue então que {−u,−v} 6∈ θp. Assim, −IdTpδ2 = dAp : (Tpδ 2, θp)→ (Tpδ2 = T−pδ2, θp) é um isomorfismo linear negativo e, portanto, R2P 2 não é orientável. No caso da faixa, notemos que Então a aplicação ant́ıpoda A : δ2 → δ2 possui a mesma ação na faixa que está contido na esfera δ2. Como esta reverte orientação, segue ao passarmos o quociente pelo grupo G = {J,A} que M = CG não é orientável pelos mesmos argumentos feitos no caso de RP 2. Já para o garrafa de Klein, temos que a prova de que a aplicação ant́ıpoda A : T 2 → T 2 dada por A(p) = −p também inverte a orientação é inteiramente análoga à de A : δ2 → δ2. Portanto como fora feita anteriormente vemos que K é não orientável. c) Temos que Tpδ n = {v,< v, p >= 0}. Considere {v1, . . . , vn} uma base de Tpδn Então {v1, . . . , vn} > 0, mas dAp = −1Tpδn e portanto det(−p,−v1, . . . , vn) = (−1)n+1 det(p, v1, . . . , vn). Logo, {v1, . . . , vn} ∈ θp, então det(−p, dAv1, . . . , dAvn) = (−1)n+1 det(p, v1, . . . , vn). Donde este determinante é positivo se n é ı́mpar, e negativo se n é par. Com isto−1Tpδn = dAp : (Tpδn, θp)→ (T−pδ n, θ−p) é um isomorfismo positivo se n é ı́mpar (portanto preserva a orientação), e negativo se n é par (portanto inverte a orientação). 13 10. Mostre que a topologia da variedade diferenciável M/G do Exemplo 4.8 é de Hausdorff se e só se a seguinte condição é verificada: dados dois pontos não equivalentes p1, p2 ∈ M , existem vizinhanças U1, U2 de p1 e p2, respectivamente, tais que U1 ∩ gU2 = ∅ para todo g ∈ G. Demonstração. Suponha que M/G é de Hausdorff e sejam p1, p2 ∈ M dois pontos não equi- valentes, isto é, π(p1) 6= π(p2), onde π : M → M/G é a projeção canônica. Então existem vizinhanças V1, V2 de π(p1) e π(p2), respectivamente, tais que V1 ∩ V2 = ∅. Como π é difeo- morfismo local, podemos supor V1 e V2 suficientemente pequenos de modo que π|U1 : U1 → V1 e π|U2 : U2 → V2 são difeomorfismos, onde U1 = π−1(V1) e U2 = π−1(V2) são vizinhanças abertas de p1 e p2, respectivamente. Afirmamos que U1 ∩ gU2 = ∅ para todo g ∈ G. De fato, se g = e então U1 ∩ eU2 = ∅, pois do contrário existiria p ∈ U1 ∩ U2 e consequentemente [p] ∈ V1 ∩ V2, o que é um absurdo, pois V1 ∩ V2 = ∅. Agora se p ∈ U1 ∩ gU2, para algum g ∈ G, então existe q ∈ U2 tal que p = gq. Assim, [p] = π(p) ∈ π(U1) = V1 e [p] = [gq] = [q] = π(q) ∈ π(U2) = V2, ou seja, [p] = π(p) ∈ V1 ∩ V2, o que é um absurdo. Portanto vale o afirmado. Reciprocamente, dados [p1], [p2] ∈ M/G, com [p1] 6= [p2], existem vizinhanças U1 e U2 de p1 e p2, respectivamente, tais que U1 ∩ gU2 = ∅, para todo g ∈ G. Restringindo U1 e U2, se necessário, podemos supor que π|U1 : U1 → π(U1) e π|U2 : U2 → π(U2) são difeomorfismos, uma vez que π é difeomorfismo local. É claro que V1 = π(U1) e V2 = π(U2) são vizinhanças de [p1] e [p2], respectivamente. Agora, observe que V1 ∩ V2 = ∅. De fato, se [p] ∈ V1 ∩ V2 então p ∈ π−1(p) ⊂ π−1(V1∩V2) = π−1(V1)∩π−1(V2) = U1∩U2, o que é um absurdo, pois U1∩U2 = ∅. Portanto, a topologia de M/G é de Hausdorff. 11. Consideremos na reta real R as duas estruturas diferenciáveis seguintes: (R, x1), onde x1 : R→ R é dada por x1(x) = x, x ∈ R ; (R, x2), onde x2 : R→ R é dada por x2(x) = x3, x ∈ R. Mostre que: a) a aplicação identidade i : (R, x1) → (R, x2) não é um difeomorfismo; portanto, as estruturas máximas determinadas por (R, x1) e (R, x2) são distintas. b) a aplicação f : (R, x1) → (R, x2) dada por f(x) = x3 é um difeomorfismo; isto é, embora as estruturas diferenciáveis (R, x1) e (R, x2) sejam distintas, elas determinam variedades diferenciáveis difeomorfas. 14 Demonstração. a) R i // R R x1 OO x−12 ◦i◦x1 // R x2 OO Observe que a representação local x−12 ◦ i ◦ x1 : R→ R é dada por x −1 2 ◦ i ◦ x1(x) = 3 √ x, x ∈ R. Logo i : (R, x1)→ (R, x2) não é um difeomorfismo. b) Observe que as representações locais das aplicações f e f−1 são dadas respectivamente por R f // R R x1 OO x−12 ◦f◦x1 // R x2 OO onde x−12 ◦ f ◦ x1 = idR é diferenciável e R f −1 // R R x2 OO x−11 ◦f−1◦x2 // R x2 OO onde x−12 ◦ f ◦ x1 = idR é diferenciável, donde concluimos que f é um difeomorfismo. 12. (O recobrimento duplo orientável). Seja Mn uma variedade diferenciável não-orientável. Para cada p ∈M , considere o conjunto B das bases de TpM e defina que duas tais bases são equivalentes se elas estão relacionadas por uma matriz de determinante positivo. Isto é uma relação de equivalência e divide B em dois conjuntos disjuntos. Seja Op o espaço quociente de B por esta relação de equivalência. Op ∈ Op será chamado uma orientação de TpM . Seja M o conjunto M = {(p,Op) ; p ∈M, Op ∈ Op}. Seja {(Uα, xα)} uma estrutura diferenciável máxima em M , e defina xα : Uα →M por xα(u α 1 , . . . , u α n) = ( xα(u α 1, . . . , u α n), [ ∂ ∂uα1 , . . . , ∂ ∂uαn ]) , onde (uα1 , . . . , u α n) ∈ Uα e [ ∂ ∂uα1 , . . . , ∂∂uαn ] indica o elemento de Op determinado pela base{ ∂ ∂uα1 , . . . , ∂∂uαn } . Prove que: a) {Uα, xα} é uma estrutura diferenciável emM e a variedadeM assim obtida é orientável. 15 b) A aplicação π : M → M dada por π(p,Op) = p é diferenciável e sobrejetiva. Além disso, cada p ∈ M possui uma vizinhança U ⊂ M tal que π−1(U) = V1 ∪ V2, onde V1 e V2 são abertos disjuntos de M e π restrita a cada Vi, i = 1, 2, é um difeomorfismo sobre U . Por esta razão, M é chamado o recobrimento duplo orientável de M . c) A esfera S2 é o recobrimento duplo orientável de P 2(R) e o toro T 2 é o recobrimento duplo orientável da garrafa de Klein K. Demonstração. a) Primeiro mostremos que M ⊂ ∪αxα(Uα), já que a outra inclusão é imediata. Seja (p,Op) ∈ M , assim, p ∈ M e Op ∈ Op. Sendo M variedade diferenciável e {(Uα, xα)} uma estrutura diferenciável maximal de M , temos que existe xα(u α 1 , . . . , u α n) : Uα = B(0, 1) ⊂ Rn →M, tal que xα(0) = p. Se [ ∂ ∂uα1 , . . . , ∂∂uαn ] 6= Op, definamos f : B(0, 1)→ B(0, 1) por (y1, . . . , yn) 7→ (−y1, y2, . . . , yn). Por outro lado, f é um difeomorfismo e {(Uα, xα)} é uma estrutura máxima para M . Assim, existe β tal que xβ = xα ◦ f = (uβ1 , . . . , u β n) : Uβ →M Note que xβ(0) = xα(0) = p com [ ∂ ∂uβ1 , . . . , ∂ ∂uβn ] = Op. Observemos que Jacf0 = −1 0 0 0 0 1 0 0 0 . . . 0 0 0 0 1 e det(Jacf0) = −1. Portanto, podemos ver os elementos de Op como aqueles oriundos de uma composição de uma função cujo determinante jacobiano é negativo. Assim, como ∂ ∂uβ1 = − ∂ ∂uα1 e ∂ ∂uβj = − ∂ ∂uαj , ∀ j = 2, . . . , n segue que (p,Op) ∈ xβ(Uβ) e portanto, M = ∪αxα(Uα). Agora, suponhamos que α, β são tais que xα(Uα) ∩ xβ(Uβ) 6= ∅, dáı para 16 p ∈W = xα(Uα) ∩ xβ(Uβ) tem-se a mesma orientação, e portanto xα(u α 1 , . . . , u α n) = xβ(u β 1 , . . . , u β n) = p e [ ∂ ∂uα1 , . . . , ∂ ∂uαn ] = [ ∂ ∂uβ1 , . . . , ∂ ∂uβn ] (7) Por outro lado, [ ∂ ∂uα1 , . . . , ∂∂uαn ] determina o elemento de Op na base { ∂ ∂uα1 , . . . , ∂∂uαn } , dáı por (7) temos que ∂ ∂uαi (p) = n∑ j=1 aij ∂ ∂uβj (p), onde det(aij) > 0 Agora, d(x−1β ◦ xα)x−1α (p)ei = d(x −1 β )p ◦ d(xα)x−1α (p) = d(x −1 β )p ◦ ( ∂ ∂uαi (p) ) = d(x−1β )p ◦ n∑ j=1 aij ∂ ∂uβj (p) = n∑ j=1 aijd(x −1 β )p ( ∂ ∂uβj (p) ) = n∑ j=1 aijej , implicando que d(x−1β ◦ xα)x−1α (p) = (aij)i,j = E Como det(E) > 0, se considerarmos Uαβ = { x; det(Jac(x−1β ◦ xα)x) > 0 } obtemos, após passarmos ao quociente, que x−1β ◦ xα = x −1 β ◦ xα|Uαβ e portanto, x−1β ◦xα é diferenciável e consequentemente {(Uα, xα)} é uma estrutura diferenciável para M . Pela definição, segue que M é orientável. b) Pelo item a) temos que M é uma variedade diferenciável bem como M , sejam então {(Uα, xα)} e {(Uα, xα)} atlas para M e M respectivamente. Além disso, vale x−1α ◦ π ◦ xα = IdUα, segue dáı que x−1α ◦ π ◦ xα é diferenciável, e portanto π é diferenciável. Para a sobrejetividade, se p ∈M escolha (p,Op) ∈M e portanto π(p,Op) = p. Agora, considere U = xα(Uα) 3 p então π−1(U) = xα(Uα) ∪ xβ(Uβ) 17 onde xβ = xα ◦ f , e portanto, seja V1 = xα(Uα) e V2 = xβ(Uβ). Notemos que V1 ∩ V2 = ∅, do contrário, se V1 ∩ V2 6= ∅ então, como foi feito em a), [ ∂ ∂uα1 , . . . ∂ ∂uαn ] = [ ∂ ∂uβ1 , . . . , ∂ ∂uβn ] , que é um absurdo pois − ∂∂uα1 = ∂ ∂uβ1 . Por outro lado, π|V1 : V1 → U é diferenciável e sobrejetiva. Provemos apenas que π|V1 é injetiva, pois pelos argumentos utilizados na prova em que π é diferenciável seguirá que π−1 : U → V1 é diferenciável. De fato, sejam π(p1, Op1) = π(p2, Op2), onde (p1, Op1), (p2, Op2) ∈ V1, logo, p1 = p2. Note que em V1 temos a mesma orientação, e portanto Op1 = Op2 . Logo, π|V1 é injetiva, e portanto, π−1 : U → V1 existe, e é diferenciável pela mesma argumentação anterior. c) π : S2 → P 2(R) é o recobrimento duplo orientável de P 2(R), pois S2 é conexo e orientável, e π : S2 → P 2(R) é um difeomorfismo local. Dado [p] ∈ P 2(R) temos, do fato que P 2(R) ' S2/G onde G = {Id, A}, que π−1([p]) = {p,−p}. Notemos também que em S2 vale TpS 2 = T−pS 2 e portanto, (dπ−p) −1 e dπp : TpS 2 → T−pS2(= TpS2) reverte orientação. De fato, basta notar que (dπ−p) −1 ◦ dπp = dAp = −IdTpS2 De forma análoga para K = T 2/G temos que T 2 é conexo e orientável e π : T 2 → K é um difeomorfismo local. Novamente tem-se também que π−1([p]) = {p,−p}, ∀ [p] ∈ K. Dado p ∈ T 2, (dπ−p) −1 ◦ (dπp) : TpT 2 → T−pT 2(= TpT 2) também reverte orientação, já que (dπ−p) −1 ◦ (dπp) = dAp = −IdTpT 2 Como o recobrimento duplo orientável é único, a menos de difeomorfismo (ver livro do Elon: Grupo Fundamental e Espaços de Recobrimento), temos que π : S2 → P 2(R) e π : T 2 → K são recobrimentos duplos orientável. 18 Caṕıtulo I Métricas Riemannianas 1. Prove que a aplicação ant́ıpoda A : Sn → Sn dada A(p) = −p é uma isometria de Sn. Use este fato para introduzir uma métrica Riemanniana no espaço projetivo real Pn(R) tal que a projeção natural π : Sn → Pn(R) seja uma isometria local. Demonstração. Uma vez que A ◦ A = I, segue que A = A−1, donde conclúımos que A é uma bijeção. Além disso, como cada função coordenada de A é diferenciável, A é diferenciável e, portanto, um difeomorfismo. Sejam p ∈ Sn, u, v ∈ TpSn e considere curvas α, β : (−ε, ε) → Sn tal que α(0) = β(0) = p, α′(0) = u e β′(0) = v. Observe que dA(p)u = d dt (A ◦ α)(t) ∣∣∣ t=0 = d dt (−α(t)) ∣∣∣ t=0 = −α′(0) = −u e, de forma análoga, dA(p)v = −v. Portanto, 〈dA(p)u, dA(p)v〉 = 〈−u,−v〉 = 〈u, v〉, o que prova que A é isometria. Introduzamos agora uma métrica Riemanniana em Pn(R) tal que π : Sn → Pn(R) seja uma isometria local. Para isto mostremos inicialmente o seguinte: Afirmação 1. π : Sn → Pn(R) é um difeomorfismo local. De fato, a projeção claramente é sobrejetiva e diferenciável. Mostremos que π é localmente injetiva: sejam p ∈ Sn e Vp ab ⊆ Sn tal que Vp ∩ A(Vp) = ∅. Desta forma, sejam q1, q2 ∈ Vp tais que π(q1) = π(q2). Assim, π(q1) = π(q2)⇒ [q1] = [q2]⇒ {q1,−q1} = {q2,−q2} ⇒ q1 = q2 ou q1 = −q2. Como A(q2) = −q2 /∈ Vp (pois q2 ∈ Vp), segue que q1 = q2. Logo, π é um difeomorfismo local. Considere [p] ∈ Pn(R), u ∈ T[p]Pn(R) e α : (−ε, ε)→ Pn(R) tal que α(0) = [p] e α′(0) = u. Sendo π um difeomorfismo local, existe V ab ⊆ Pn(R) com [p] ∈ V tal que π−1 : V → π−1(V ) é um difeomorfismo. Considere I ⊆ (−ε, ε) um intervalo tal que α(I) ⊆ V . Assim, π−1(α(I)) ⊆ Sn é 19 uma curva passando por p ou −p. Suponha que π−1(α(I)) passa por p e defina β1 def = π−1 ◦ α : I → Sn e β2 = −β1. Observe que (π ◦ β1)(0) = (π ◦ β2)(0) = α(0) = [p] e d dt (π ◦ β1)(t) ∣∣∣ t=0 = d dt (π ◦ β2)(t) ∣∣∣ t=0 = α′(0) = u. Portanto, para u, v ∈ T[p]Pn(R), defina 〈u, v〉 def= 〈β′1(0), γ′1(0)〉 [= 〈β′2(0), γ′2(0)〉, pois A é isometria], onde β1 e γ1 são curvas em S n constrúıdas de forma análoga ao que foi feito anteriormente. Isto define uma métrica Riemanniana no espaço projetivo real Pn(R). Por fim, mostremos que com esta métrica Riemanniana em Pn(R), a projeção natural π : Sn → Pn(R) é uma isometria local. De fato, sejam p ∈ Sn, u, v ∈ TpSn. Como vimos anteriormente, existe um aberto U ab ⊆ Sn com p ∈ U tal que π : U → π(U) é um difeomorfismo. Desta forma, 〈dπ(p)u, dπ(p)v〉 = 〈 d dt (π ◦ β1)(t) ∣∣∣ t=0 , d dt (π ◦ γ1(t)) ∣∣∣ t=0 〉 = 〈u, v〉, o que prova que π : Sn → Pn(R) é uma isometria local. 2. Introduza uma métrica Riemanniana no toro Tn exigindo que a projeção natural π : Rn → Tn dada por π(x1, ..., xn) = ( eix1 , ..., eixn ) , (x1, ..., xn) ∈ Rn, seja uma isometria local. Mostre que com esta métrica Tn é isométrico ao toro plano. Demonstração. Observe que a projeção natural definida acima é claramente diferenciável (pois suas funções coordenadas são diferenciáveis).Assim, dπp = ieix1 0 ... 0 0 ieix2 ... 0 ... ... . . . ... 0 0 ... ieixn 20 Note que, det(dπp) = i nei(x1+...+xn) 6= 0. Portanto, pelo teorema da função inversa, π é um difeomorfismo local, isto é, existem abertos U 3 p e V 3 π(p), tais que a aplicação π ∣∣ U : U ⊂ Rn → V ⊂ Tn é um difeomorfismo. Desta forma, podemos introduzir uma aplicação bilinear dada por: 〈u, v〉p = 〈dπ−1p (u), dπ−1p (v)〉Rn , ∀u, v ∈ TpTn. Uma vez que dπ−1 é uma aplicação linear e injetiva, a aplicação 〈 , 〉p herda as propriedades do produto interno usual do Rn, isto é, a aplicação será bilinear, positiva definida e simétrica. Portanto, 〈 , 〉p define uma métrica Riemanniana e, consequentemente, π é uma isometria local. Mostremos agora que, com esta métrica, Tn é isométrico ao toro plano. O toro plano é definido como o Tn = S1 × ...× S1 munido da métrica produto induzida por cada S1, considerando as projeções πi : S 1 × ...× S1 → S1. Explicitamente: 〈〈u, v〉〉p = n∑ i=1 〈dπi(u), dπi(v)〉R2 , ∀u, v ∈ TpTn. Afirmação 2. Os toros (Tn, 〈 , 〉) e (Tn, 〈〈 , 〉〉) são isométricos. Primeiramente, fixemos as notações. Para p = (p1, ..., pn) ∈ Tn e TpTn = Tp1S1 × ... × TpnS 1, denote pi = (p 1 i , p 2 i ) = (cos(qi), sin(qi)) ∈ S1, para cada i = 1, ..., n. Tomando u = (u1, ..., un), v = (v1, ..., vn) ∈ TpTn, onde ui = (u1i , u2i ) ∈ TpiS1 e vj = (v1j , v2j ) ∈ TpjS1, obtemos: 〈〈u, v〉〉p = n∑ i=1 〈ui, vi〉 = n∑ i=1 (u1i v 1 i + u 2 i v 2 i ). Por outro lado, note que dπ−1q = −ie−ix1 0 ... 0 0 ieix2 ... 0 ... ... . . . ... 0 0 ... −ie−ixn Assim, (dπ−1q )(u) = (−ie−iq1u1, ...,−ie−iqnun). 21 Além disso, para cada 1 ≤ i, j ≤ n, 0 = 〈pi, ui〉R2 = p1iu1i + p2iu2i ⇒ p1iu1i = −p2iu2i , (8) e 0 = 〈pj , vj〉R2 = p1jv1j + p2jv2j ⇒ p1jv1j = −p2jv2j . (9) Logo, −ie−iqiui = −i(cos(qi)− i sin(qi))(ui1 + iu2i ) = −i(p1i − ip2i )(u1i + iu2i ) = p1iu 2 i − p2iu1i − i (p1iu1i + p2iu2i )︸ ︷︷ ︸ =0 por (8) = p1iu 2 i − p2iu1i . Portanto, utilizando (8), (9) e as notações pré-estabelecidas, obtemos: 〈u, v〉p = 〈dπ−1q (u), dπ−1q (v)〉Rn = 〈(−ie−iq1u1, ...,−ie−iqnun), (−ie−iq1v1, ...,−ie−iqnvn)〉 = n∑ i=1 (p1iu 2 i − p2iu1i )(p1i v2i − p2i v1i ) = n∑ i=1 [( p1i )2 u2i v 2 i − p1i p2iu2i v1i − p2i p1iu1i v2i + ( p2i )2 u1i v 1 i ] = n∑ i=1 ((p1i )2 + (p2i )2)︸ ︷︷ ︸ =1 u2i v 2 i + (( p1i )2 + ( p2i )2)︸ ︷︷ ︸ =1 u1i v 1 i = n∑ i=1 ( u1i v 1 i + u 2 i v 2 i ) = 〈〈u, v〉〉p, como queŕıamos demonstrar. 3. Obtenha uma imersão isométrica do toro plano Tn em R2n. Demonstração. Considere a aplicação ϕ : Tn → R2n (x1, . . . , xn) 7→ (cosx1, sinx1, . . . , cosxn, sinxn). 22 Mostremos que ϕ é uma imersão isométrica. Vejamos primeiramente a injetividade de dϕp. Ora, Jϕp = − sinx1 0 . . . 0 cosx1 0 . . . 0 0 − sinx2 . . . 0 0 cosx2 . . . 0 ... ... . . . ... 0 0 . . . − sinxn 0 0 . . . cosxn . De modo que as linhas da matriz jacobiana de ϕ são linearmente independentes e portanto dϕp é injetiva, isto é, ϕ é uma imersão. Resta mostrarmos que ϕ é uma isometria, ou seja, que 〈dϕp(u), dϕp(v)〉ϕ(p) = 〈u, v〉p, quais- quer que sejam p ∈ Tn e u, v ∈ TpTn. Sejam, portanto, p = (p1, . . . , pn) ∈ Tn e u = (u1, . . . , un), v = (v1, . . . , vn, ) ∈ TpTn. Sejam α : I = (−ε1, ε1) −→ Tn e β : J = (−ε2, ε2) −→ Tn tais que α(0) = β(0) = p, α′(0) = u e β′(0) = v. Temos: dϕp(u) = d dt (ϕ ◦ α)(t) |t=0 = d dt (cosα1(t), sinα1(t), . . . , cosαn(t), sinαn(t)) |t=0 = (−α′1(0) sinα1(0), α′1(0) cosα1(0), . . . ,−α′n(0) sinαn(0), α′n(0) cosαn(0)) = (−u1 sin p1, u1 cos p1, . . . ,−un sin pn, un cos pn). De forma análoga, obtemos dϕp(v) = (−v1 sin p1, v1 cos p1, . . . ,−vn sin pn, vn cos pn). Dáı, 〈dϕp(u), dϕp(v)〉ϕ(p) = u1v1 sin2 p1 + u1v1 cos2 p1 + · · ·+ unvn sin2 pn + unvn cos2 pn = 2n∑ j=1 ujvj = 〈u, v〉p, como queŕıamos. 4. Um função g : R→ R dada por g(t) = yt+ x, t, x, y ∈ R, y > 0, é chamada função afim própria. O conjunto de todas essas funções com a lei usual de composição é um grupo de Lie G. Como variedade diferenciável, G é simplesmente o semi-plano superior isto é {(x, y) ∈ R2; y > 0} 23 com a estrutura diferenciável usual. Prove que: a) A métrica Riemanniana de G é invariante a esquerda, que no elemento neutro e = (0, 1) coincide com a métrica euclidiana (g11 = g22 = 1, g12 = 0) é dada por g11 = g22 = 1 y2 , g12 = 0, (esta é a métrica da geometria não-euclidiana de Lobatchevski). b) Pondo (x, y) = z = x + iy, i = √ −1, a transformação z → z′ = az + b cz + d , a, b, c, d ∈ R, ad− bc = 1 é uma isometria de G. Demonstração. a) Sendo G um grupo de Lie temos que G é um grupo com uma estrutura diferenciável tal que a aplicação G × G → G dada por (x, y) 7→ xy−1 é diferenciável. Assim, temos os seguintes difeomorfismos associados: Lx : G → G e Rx : G → G y 7→ xy y 7→ yx. Dizemos que uma métrica Riemanniana em G é invariante a esquerda se 〈u, v〉y = 〈d(Lx)yu, d(Lx)yv〉Lx(y), ∀ x, y ∈ G e ∀ u, v ∈ TyG Ou seja, Lx é uma isometria. De forma análoga, definimos uma métrica Riemanniana a invariante a direita. Uma forma de obtermos uma métrica invariante a esquerda é tomando 〈 , 〉e em g e definimos 〈u, v〉x = 〈d(Lx−1)xu, d(Lx−1)xv〉e. Sendo G = {g : R → R; g(t) = yt + x, x, y ∈ R e y > 0}, agora sejam g(t) = yt + x ≡ (x, y) e h(t) = bt+ a ≡ (a, b) com a operação usual de composição, temos: Lh(g) = h ◦ g = (bt+ a) ◦ (yt+ x) = byt+ bx+ a ≡ (bx+ a, by). Assim, d(Lh)g = b 0 0 b 24 Determinemos g−1(t) = wt+ z: Lg−1(g) = t ≡ (0, 1) (wt+ z) ◦ (yt+ x) = t ≡ (0, 1) wyt+ wx+ z = t (wx+ z, wy) ≡ (0, 1) ⇒ wx+ z = 0 e wy = 1 ⇒ −wx = z e w = 1y ⇒ z = −xy e w = 1 y . Logo, d(Lg−1)g = 1y 0 0 1y , como d(Lg−1)g : TgG→ TeG, segue: Dado v ∈ TsG, com v = (v1, v2), temos d(Lg−1)gv = 1y 0 0 1y v1 v2 = v1y v2 y Dáı, 〈d(Lg−1)gu, d(Lg−1)gv〉e = 〈 ( u1 y , u2 y ) , ( v1 y , v2 y ) 〉g = u1v1 y2 + u2v2 y2 = 〈u, v〉g Portanto é invariante a esquerda. Agora tomando e1 = (1, 0), e2 = (0, 1) ∈ TxG ∼= R2, temos 〈e1, e1〉x = 〈d(Lx−1)x(e1), d(Lx−1)x(e1)〉 = 〈 1y 0 0 1y 1 0 , 1y 0 0 1y 1 0 〉 = 〈 1y 0 , 1y 0 〉 = 1 y2 25 〈e2, e2〉x = 〈d(Lx−1)x(e2), d(Lx−1)x(e2)〉 = 〈 1y 0 0 1y 0 1 , 1y 0 0 1y 0 1 〉 = 〈 0 1 y , 0 1 y 〉 = 1 y2 〈e1, e2〉x = 〈 1y 0 , 0 1 y 〉 = 0 Logo, 〈 , 〉 = 1y2 0 0 1 y2 . Se for aplicado ao elemento neutro e = (0, 1), temos: 〈 , 〉 = 1 0 0 1 coincide com a métrica euclidiana do R2 b) Notemos que a métrica (ou primeira forma fundamental) pode ser escrita como: ds2 = dx2 + dy2 y2 = − 4dzdz̄ (z − z̄)2 , De fato, como z = x+ iy e z̄ = x− iy, temos dz = dx+ idy e dz̄ = dx− idy. Logo dzdz̄ = (dx+ idy)(dx− idy) = dx2 + dy2, sendo (z − z̄)2 = (x+ iy − x+ iy)2 = −4y2, segue: −4dzdz̄ (z−z̄)2 = −4(dx2+dy2) −4y2 = dx 2+dy2 y2 . Mostremos que a aplicação T : z → z′ = az + b cz + d , a, b, c, d ∈ R, ad − bc = 1 é uma isometria. Devemos mostra que: • T é um difeomorfismo. Note que T é injetiva, pois Tz = Tx⇒ az+bcz+d = ax+b cx+d ⇒ (az+b)(cx+d) = (ax+b)(cz+d)⇒ 26 (ad − bc)z = (ad − bc)x ⇒ z = x. Além disso, T é sobrejetiva, pois dado w = az+bcz+d tome z = b−dwcw−a e teremos Tz = w. Logo T é bijetiva e T−1 será dada por T−1(w) = b−dwcw−a é suave, portanto T é um difeomor- fismo. • 〈v, w〉p = 〈dTv, dTw〉T (p). Isto é equivalente a mostrar que as primeiras formas fundamentais coincidem, i.e., se w = az+bcz+d , então − 4dzdz̄ (z − z̄)2 = − 4dwdw̄ (w − w̄)2 . Ora, dw = d(az+b)(cz+d)−d(cz+d)(az+b) (cz+d)2 = adz(cz+d)−cdz(az+b) (cz+d)2 = aczdz+addz−acdz−bcdz (cz+d)2 ⇒ dw = dz (cz + d)2 . (10) De forma análoga obtemos dw̄ = dz̄ (cz̄ + d)2 . (11) E ainda w − w̄ = (az+b)(cz̄+d)−(cz+d)(az̄+b)(cz+d)(cz̄+d) = z−z̄(cz+d)(cz̄+d) ⇒ (w − w̄)2 = (z − z̄) 2 (cz + d)2(cz̄ + d)2 . (12) De (10), (11) e (12), obtemos− 4dzdz̄ (z − z̄)2 = − 4dwdw̄ (w − w̄)2 . 5. Prove que as isometrias de Sn ⊂ Rn+1 com a métrica induzida são as restrições a Sn das transformações lineares ortogonais de Rn+1. Demonstração. Seja T : Rn+1 → Rn+1 uma transformação linear ortogonal, isto é, 〈Tu, Tv〉 = 〈u, v〉, para quaisquer u, v ∈ Rn+1. Mostraremos que T |Sn é uma isometria. Observe que T é injetiva, pois se Tu = 0, então 〈u, u〉 = 〈Tu, Tu〉 = 0. Segue do Teorema do Núcleo e da Imagem que T é uma bijeção. Desde que a inversa de uma aplicação linear é também linear e toda aplicação linear é diferenciável, temos que T é um difeomorfismo. Observe ainda que T (Sn) = Sn. De fato, se u ∈ Sn, então ‖Tu‖2 = 〈Tu, Tu〉 = 〈u, u〉 = ‖u‖2 = 1, 27 donde Tu ∈ Sn. Reciprocamente, dado u ∈ Sn, existe único v ∈ Rn+1 tal que Tv = u e, como T é ortogonal, ‖v‖2 = 〈v, v〉 = 〈Tv, Tv〉 = 〈u, u〉 = ‖u‖2 = 1, ou seja, v ∈ Sn. Sendo Sn subvariedade de Rn+1 e T (Sn) = Sn, temos que f := T |Sn : Sn → Sn é um difeomorfismo. Resta mostrar que 〈u, v〉p = 〈dfp(u), dfp(v)〉f(p), para todo p ∈ S n, u, v ∈ TpSn. De fato, dados p ∈ Sn e u, v ∈ TpSn, considere α : I → Sn e β : J → Sn tais que α(0) = p = β(0), α′(0) = u e β′(0) = v. Temos que 〈dfp(u), dfp(v)〉f(p) = 〈 d dt (T (α(t))|t=0, d dt (T (β(s))|s=0 〉 f(p) = 〈 Tα′(0), Tβ′(0) 〉 f(p) = 〈Tu, Tv〉f(p) . Pelo fato de T ser ortogonal e usando que a métrica em Sn é a métrica induzida de Rn+1, conclúımos que 〈dfp(u), dfp(v)〉f(p) = 〈u, v〉f(p) = 〈u, v〉p . Portanto, f = T |Sn é uma isometria. A seguir, mostraremos que toda isometria de Sn pode ser estendida a uma transformação linear ortogonal de Rn+1. Seja f uma isometria de Sn. Afirmamos que f preserva comprimento de arco. De fato, sejam p, q ∈ Sn e α : [0, 1]→ Sn uma cuva, com α(0) = p e α(1) = q. Então `(f ◦ α) = ∫ 1 0 〈 d dt (f ◦ α), d dt (f ◦ α) 〉1/2 = ∫ 1 0 〈 dfα(t)(α ′(t)), dfα(t)(α ′(t)) 〉1/2 = ∫ 1 0 〈 α′(t), α′(t) 〉1/2 = `(α), onde a penúltima igualdade segue do fato de f ser isometria de Sn. Como na esfera uma aplicação que preserva comprimento de arco, preserva ângulos, temos que 〈f(p), f(q)〉 = 〈p, q〉. Agora, defina T : Rn+1 → Rn+1 por T (0) = 0 e T (x) = ‖x‖f( x‖x‖), se x 6= 0. Observe que T está bem definida e T |Sn = f . Mostraremos que T é uma transformação linear ortogonal. 1. T (λx) = λT (x), para todo x ∈ Rn+1 e λ ∈ R. • Se λ = 0 ou x = 0 é imediato. • Se λ > 0, então T (λx) = ‖λx‖f( λx‖λx‖) = λ‖x‖f( x ‖x‖) = λT (x). • Se λ < 0, então T (λx) = ‖λx‖f( λx‖λx‖) = −λ‖x‖f( −x ‖x‖) = λ‖x‖(−f( −x ‖x‖)). Agora observe que f(x) = −f(−x), para todo x ∈ Sn. Com efeito, suponhamos que f(x) 6= −f(−x). Então 0 < 〈f(x) + f(−x), f(x) + f(−x)〉 = 〈f(x), f(x)〉+2 〈f(x), f(−x)〉+〈f(−x), f(−x)〉 . Como f preserva ângulos, conforme observado acima, temos 0 < 〈x, x〉+ 2 〈x,−x〉+ 〈−x,−x〉 = 0, o que é um absurdo. Consequentemente, T (λx) = λ‖x‖f( x‖x‖) = λT (x). 2. 〈T (x), T (y)〉 = 〈x, y〉, para todo x, y ∈ Rn+1. 28 Caso x = 0 ou y = 0, é imediato. Suponhamos x 6= 0 e y 6= 0, então 〈x, y〉 = 〈 ‖x‖ x ‖x‖ , ‖y‖ y ‖y‖ 〉 = ‖x‖‖y‖ 〈 x ‖x‖ , y ‖y‖ 〉 . Usando que f preserva ângulos obtemos 〈x, y〉 = ‖x‖‖y‖ 〈 f( x ‖x‖ ), f( y ‖y‖ ) 〉 = 〈T (x), T (y)〉 . 3. T (x + y) = T (x) + T (y), para todo x, y ∈ Rn+1. Temos ‖T (x+ y)− T (x)− T (y)‖2 = 〈T (x+ y), T (x+ y)〉−2 〈T (x+ y), T (x)〉−2 〈T (x+ y), T (y)〉+〈T (x), T (x)〉−2 〈T (x), T (y)〉+〈T (y), T (y)〉 . Usando o item anterior, conclúımos que ‖T (x+ y)− T (x)− T (y)‖2 = 〈x+ y, x+ y〉 − 2 〈x+ y, x〉 − 2 〈x+ y, y〉+ 〈x, x〉 − 2 〈x, y〉+ 〈y, y〉 = 0. Portanto, T : Rn+1 → Rn+1 é uma transformação linear ortogonal. 6. Mostre que a relação “M é localmente isométrica a N” não é simétrica. Demonstração. Considere M = R e N = S1, onde M está munida com a métrica usual e N está munida com a métrica induzida do R2. Afirmação 3. R é localmente isomético a S1. Considere a aplicação f : R −→ S1 ⊂ R2 t 7−→ (cos t, sin t) Provemos que f é um difeomorfismo local. Por construção a função f é claramente sobreje- tora e diferenciável. Dado t0 ∈ R, considere o aberto Ut0 = (t0 − π2 , t0 + π 2 ) ⊂ R. Se t1, t2 ∈ Ut0 com t1 6= t2, teremos f(t1) 6= f(t2), pois as funções seno e cosseno são injetivas sobre Ut0 . Logo a restrição f |Ut0 : Ut0 → f(Ut0). Resta então provar que sua inversa é diferenciável. Dividiremos a prova deste fato nos seguintes casos: Caso 1: Se t0 ∈ Ut0 é tal que f(t0) 6= (0, 1) e f(t0) 6= (0,−1), considere � > 0 tal que Vt0 = (t0 − �, t0 + �) ⊂ Ut0 é tal que f(Vt0) ∩ {(0, 1), (0,−1)} = ∅. Defina g : f(Vt0) −→ Vt0 (a, b) 7−→ g(a, b) = arctan( ba) 29 e observe que, sobre Vt0 arctan( b a ) = θ ⇔ b a = tan θ = cos θ sin θ ⇔ b = cos θ e a = sin θ portanto, (f |Vt0 ◦g)(a, b) = f |Vt0 (arctan( b a )) = f |Vt0 (θ) = (a, b) e (g ◦ f |Vt0 )(θ) = g(cos θ, sin θ) = arctan ( sin θ cos θ ) = θ provando que, se f(t0) 6= {(0, 1), (0,−1)}, f é um difeomorfismo local. Caso 2: Suponha que f(t0) = (0, 1) ou f(t0) = (0,−1). Sem perda de generalidade supo- nhamos que f(t0) = (0, 1). DefinaVt0 = (t0 − �, t0 + �) tal que f(Vt0) ∩ {(a, 0)} = ∅. De forma análoga a feita no caso 1, concluimos que a aplicação h : f(Vt0) −→ Vt0 (a, b) 7−→ g(a, b) = arctan( ba) é a inversa de f |Vt0 . Para concluir que f é uma isometria local, devemos provar que, 〈dfpu, dfpv〉f(p) = 〈u, v〉p, ∀p ∈M, ∀u, v ∈ TpR. Sejam p ∈ R, u, v ∈ TpR, α, β : (−δ, δ) → R curvas diferenciáveis tais que α(0) = β(0) = p, 30 α′(0) = u e β′(0) = v. Assim, 〈dfpu, dfpv〉f(p) = 〈 d dt (f ◦ α) |t=0, d dt (f ◦ β) |t=0 〉 = 〈 d dt (cos(α(t), sen(α(t)))) |t=0, d dt (cos(β(t), sen(β(t)))) |t=0 〉 = 〈 α′(0)(−sen(α(0)), cos(α(0))), β′(0)(−sen(β(0)), cos(β(0))) 〉 = u · v 〈(−sen(p), cos(p)), (−sen(p), cos(p))〉 = u · v(sen2(p) + cos2(p)) = 〈u, v〉p Portanto, R é localmente simétrico a S1. Afirmação 4. S1 não é localmente simétrico a R. Suponhamos por absurdo que exista uma isometria local f : S1 → R. Como f é cont́ınua e S1 é compacto, deve existir p0 ∈ S1 tal que dfp0 = 0. Por outro lado, f deve satisfazer, 〈dfpu, dfpv〉f(p) = 〈u, v〉p, ∀S1,∀u, v ∈ TpS1 Em particular, 0 = 〈0, 0〉 = 〈dfp0u, dfp0〉f(p0) = 〈u, v〉p0 para todo u, v ∈ Tp0S1. Tomandoo u = v, segue que 0 = 〈u, u〉p0 = ‖u‖2 para todo u ∈ TpS1, o que é um absurdo. Portanto não existe tal isometria local. 7. Seja G um grupo de Lie compacto e conexo (dimG = n). O objetivo do exerćıcio é provar que G possui uma métrica bi-invariante. Para isto, prove as seguintes etapas: a) Seja ω uma n-forma diferencial em G invariante à esquerda, isto é, L∗xω = ω, para todo x ∈ G. Prove que ω é invariante à direita. b) Mostre que existe uma n-forma diferencial invariante à esquerda ω em G. c) Seja 〈·, ·〉 uma métrica invariante à esquerda em G. Seja ω uma n-forma diferencial positiva invariante à esquerda G, e defina uma nova métrica Riemanniana 〈〈·, ·〉〉 em G por 〈〈u, v〉〉p = ∫ G 〈(dRx)yu, (dRx)yv〉yxω, 31 x, y ∈ G, u, v ∈ Ty(G). Prove que 〈〈·, ·〉〉 é bi-invariante. Demonstração. a) Devemos mostrar que R∗xω = ω, para todo x ∈ G. Note inicialmente que dado a ∈ G, Lx ◦Ra = Ra ◦ Lx, pois (Lx ◦Ra)(y) = Lx(ya) = xya = Ra(xy) = Ra ◦ Lx(y), ∀y ∈ G. Assim, L∗x(R ∗ aω) = (Ra ◦ Lx)∗ω = (Lx ◦Ra)∗ω = R∗aω. Ou seja, R∗aω é invariante à esquerda, para todo a ∈ G. Por outro lado, existe f : G→ R\{0} diferenciável, tal que R∗aω = f(a)ω. Além disso, f(ab) = f(a)f(b), isto é, f é um homomorfismo (cont́ınuo) de G no grupo multiplicativo dos números reais. Como f(G) é compacto e conexo, conclui-se que f(G) = 1 (já que é homomorfismo). Portanto, R∗xω = ω. b) Escolha uma base e1, . . . , en de TeG e defina ωe(e1, . . . , en) = λ0 ∈ R\{0} (Aqui, usamos a notação Xe = X(e) ). Como dim(∧n(TeG)) = 1, usando linearidade e anti-simetria, obtemos a n-forma linear ωe : TeG× . . .× TeG :→ R, com ωe(e1, . . . , en) = λ0. Sejam a ∈ G e X1, . . . , Xn ∈ TaG. Defina ωa(X1, . . . , Xn) := ωe(d(La−1)aX1, . . . , d(La−1)aXn) Então ω é uma n-formadiferenciável invariante à esquerda. Dado x ∈ G, temos que (L∗xω)a(X1, . . . , Xn) = ωLx(a)(d(Lx)aX1, . . . , d(Lx)aXn) = ωxa(d(Lx)aX1, . . . , d(Lx)aXn) = ωe(d(Lxa−1)xa ·d(Lx)aX1, . . . , (d(Lxa−1)xa ·d(Lx)aXn) = ωe(d(La−1x−1 ◦ Lx)aX1, . . . , d(La−1x−1 ◦ Lx)aXn) 32 = ωe(d(La−1)aX1, . . . , d(La−1)aXn)) = ωa(X1, . . . , Xn). Isto é, L∗xω = ω, para todo x ∈ G. c) Sejam p, q ∈ G e u, v ∈ TpG. Então, 〈〈d(Lq)pu, d(Lq)pv〉〉qp = ∫ G 〈(dRx)qp · d(Lq)pu, (dRx)qp · d(Lq)pv〉qpx ω = ∫ G 〈d(Rx ◦ Lq)pu, d(Rx ◦ Lq)pv〉qpx ω = ∫ G 〈d(Lq ◦Rx)pu, d(Lq ◦Rx)pv〉qpx ω = ∫ G 〈(dLq)px · d(Rx)pu, d(Lq)px · d(Rx)pv〉qpx ω = ∫ G 〈d(Rx)pu, d(Rx)pv〉px ω = 〈〈u, v〉〉p. Logo, a métrica 〈〈·, ·〉〉, é invariante à esquerda. Além disso, 〈〈d(Rq)pu, d(Rq)pv〉〉pq = ∫ G 〈d(Rx)pq · d(Rq)pu, d(Rx)pq · d(Rq)pv〉pqx ω = ∫ G 〈d(Rx ◦Rq)pu, d(Rx ◦Rq)pv〉 ω = ∫ G 〈d(Rqx)pu, d(Rqx)pv〉px ω = 〈〈u, v〉〉. o que mostra que a métrica 〈〈·, ·〉〉 é bi-invariante. 33 Caṕıtulo II Conexões Afins; Conexão Riemanniana 1. Seja M uma variedade Riemanniana. Considere a aplicação P = Pc,t0,t : Tc(t0)M → Tc(t)M definida por: Pc,t0,t(v), v ∈ Tc(t)M , é o transporte paralelo do vetor v ao longo da curva c. Mostre que P é uma isometria e que, se M é orientada, P preserva orientação. Demonstração. Usaremos o seguinte resultado: Proposição 1 (CARMO, Manfredo Perdigão do, Geometria Diferencial de Curvas e Superf́ıcies (§4.2, Exerćıcio 7)). Sejam V e W espaços vetoriais (de dimensão n) com produtos internos denotados por 〈 , 〉 e seja F : V →W uma aplicação linear. Então, as seguintes condições são equivalentes: a. 〈F (v1), F (v2)〉 = 〈v1, v2〉 para quaisquer v1, v2 ∈ V . b. ‖F (v)‖ = ‖v‖ para todo v ∈ V . c. Se {v1, ..., vn} é uma base ortonormal em V , então {F (v1), ..., F (vn)} é uma base ortonor- mal em W . d. Existe uma base ortonormal {v1, ..., vn} em V tal que {F (v1), ..., F (vn)} é uma base orto- normal em W . Provemos as seguintes afirmações: Afirmação 5. P é linear Sejam v, w ∈ Tc(t0)M e V,W ∈ X (M) os únicos campos paralelos ao longo de c tais que V (t0) = v e W (t0) = w. Desta forma, para λ ∈ R, D dt (V +W ) = DV dt + DW dt = 0 e D dt (λV ) = λ DV dt = 0, 34 donde conclúımos que V +W,λV, λW,∈ X (M) são campos paralelos ao longo de c. Portanto, P (λv + w) = P (λV (t0) +W (t0)) = P ((λV +W )(t0)) = (λV +W )(t) = λV (t) +W (t) = λP (v) + P (w), o que prova o afirmado. Afirmação 6. ‖P (v)‖ = ‖v‖ para todo v ∈ Tc(t0)M . Dado v ∈ Tc(t0)M , seja V o único transporte paralelo ao longo de c tal que V (t0) = v. Uma vez que a conexão é compat́ıvel com métrica, d dt 〈V, V 〉 = 2 〈 DV dt , V 〉 = 0 e, por conseguinte, 〈V, V 〉 = C ∈ R. Logo, ‖P (v)‖2 = 〈P (v), P (v)〉 = 〈V (t), V (t)〉 = 〈V (t0), V (t0)〉 = 〈v, v〉 = ‖v‖2, como queŕıamos provar. Estas afirmações juntamente com a Proposição 1 nos garantem que 〈P (v1), P (v2)〉 = 〈v1, v2〉. (13) Por outro lado, sabemos que para um espaço vetorial V de dimensão finita e para u ∈ V arbitrário, podemos identificar TuV com V . Desta forma, para todo u ∈ Tc(t0)M , podemos identificar TuTc(t0)M com Tc(t0)M . Assim, considerando α(t) = u + tv, segue que α(0) = u e α′(0) = v. Portanto, sendo P linear, obtemos dPu(v) = d dt (P ◦ α(t))|t=0 = d dt (P (u) + tP (v))|t=0 = P (v) para todo v ∈ TuTc(t0)M. 35 Logo, por (13), 〈dPu(v1), dPu(v2)〉 = 〈P (v1), P (v2)〉 = 〈v1, v2〉 para todo v1, v2 ∈ TuTc(t0)M, o que prova que P é uma isometria. Provemos que, se M é orientada, P preserva orientação. De fato, seja (Uα, xα)α∈Λ um atlas diferenciável compat́ıvel com orientação de M . Uma vez que c(I), I = [a, b], é compacto em M , existe uma quantidade finita de ı́ndices α1, ..., αm ∈ Λ tal que c(I) ⊆ m⋃ i=1 xαi(Uαi). Desta forma, podemos particionar o intervalo I de modo que a = t0, t1, ..., tm−1, tm = b e c(t) ∈ xαi(Uαi), t ∈ [ti−1, ti], i = 1, ...,m. Seja {u1, ..., un} uma base ortonormal positiva em Tc(t0)M . Sendo Pc,t0,t uma isometria (isto é, 〈P (v1), P (v2)〉 = 〈v1, v2〉, para todo v1, v2 ∈ Tc(t0)M,), segue que Pc,t0,t(u1), ..., Pc,t0,t(un) são, dois à dois, linearmente independentes. Logo, β(t) = {Pc,t0,t(u1), ..., Pc,t0,t(un))} é base ortonormal em Tc(t)M , t ∈ [t0, t1]. Para mostrar que Pc,t0,t preserva orientação sobre a partição c([t0, t1]) da curva c, é suficiente mostrarmos que a matriz de mudança de base entre a base β(t) e a base ∂∂x1 ∣∣∣∣∣ c(t) , ..., ∂ ∂xn ∣∣∣∣∣ c(t) tem determinante positivo. Realmente, para cada j = 1, ..., n, podemos escrever Pc,t0,t(ui) = n∑ j=1 aij ∂ ∂xj i = 1, ..., n. Assim, a matriz de mudança de base é A(t) = (aij(t))n×n e, portanto, devemos provar que detA(t) > 0 para todo t ∈ [t0, t1]. Observe que (i) detA(t) 6= 0 para todo t ∈ [t0, t1]. Como A(t) é matriz de mudança de base, segue que A(t) : Tc(t0)M → Tc(t)M é um isomorfismo linear, donde conclúımos que detA(t) 6= 0. (ii) detA(t) é cont́ınua. Sendo Pc,t0,t(ui), i = 1, ..., n, campos de vetores diferenciáveis e {aij}1≤j≤n os coeficientes da escrita local dos campos Pc,t0,t(ui), segue que {aij}1≤i,j≤n 36 são também difereciáveis. Portanto, a matriz A(t) é diferenciável, o que implica na conti- nuidade de detA(t). (iii) detA(t0) > 0, pois a base {ui}ni=1 foi tomada ortonormal positiva. Afirmação 7. detA(t) > 0 para todo t ∈ [t0, t1] Se existir s ∈ (t0, t1] com detA(s) < 0, o Teorema do Valor Intermediário ((ii) e (iii) nos permite usar tal teorema) nos garante que existe s′ ∈ (t0, t1) tal que detA(s′) = 0, o que contraria (i). Logo {Pc,t0,t(ui)}ni=1 é base positiva de Tc(t)M , t ∈ [t0, t1], o que mostra que P preserva ori- entação sobre a partição c([t0, t1]) da curva c. Sendo β(t1) base positiva de Tc(t1)M , transportando- a paralelamente sobre c([t1, t2]) iremos concluir de forma análoga que P preserva orientação sobre a partição c([t1, t2]). Realizando este processo n vezes conclúımos que P preserva orientação, caso M seja orientada. 2. Sejam X e Y campos de vetores numa variedade Riemanniana M . Sejam p ∈ M e c : I → M uma curva integral de X por p, isto é, c(t0) = p e dc/dt = X(c(t)). Prove que a conexão Riemanniana de M é (∇XY ) (p) = d dt ( P−1c;t0;t (Y (c(t))) ) |t=t0 , onde Pc;t0;t : Tc(t0)M → Tc(t)M é o transporte paralelo ao lonto de c de t0 a t (isto mostra como a conexão pode ser reobtida da noção de paralelismo). Demonstração. Pelo exerćıcio anterior, a aplicação Pc,t0,t . = P é uma isometria linear, assim P−1 : Tc(t)M → Tc(t0)M está bem definida. Considere um sistema de coordenadas (U, x1, ..., xn) em torno de c(t0) ∈M . Logo,{ w1(t0) = ∂ ∂x1 (c(t0)) , ..., wn(t0) = ∂ ∂xn (c(t0)) } , é uma base do espaço tangente Tc(t0)M . Uma vez que P é uma isometria, podemos transportar a base ao longo da curva, ou seja, { w1(t) = P ( ∂ ∂x1 (c(t0)) ) , ..., wn(t) = P ( ∂ ∂xn (c(t0)) )} , é uma base de Tc(t)M . Desta forma, se Y ∈ X (M), então podemos escrevê-lo na forma Y (c(t)) = n∑ i=1 ai(t)wi(t). 37 Por um lado, d dt ( P−1 (Y (c(t))) ) |t=t0 = limt→t0 P−1 (Y (c(t)))− P−1 (Y (c(t0))) t− t0 = lim t→t0 P−1 (Y (c(t)))− Y (c(t0)) t− t0 = lim t→t0 P−1 ( ∑n i=1 ai(t)wi(t))− ∑n i=1 ai(t0)wi(t0) t− t0 = lim t→t0 ∑n i=1 ai(t)P −1 (wi(t))− ∑n i=1 ai(t0)wi(t0) t− t0 = lim t→t0 ∑n i=1 ai(t)wi(t0)− ∑n i=1 ai(t0)wi(t0) t− t0 = n∑ i=1 lim t→t0 ai(t)− ai(t0) t− t0 wi(t0) = n∑ i=1 d dt (ai(t0))wi(t0). Por outro lado, utilizando a expressão local da derivada covariante (cf. Manfredo p. 57), obtemos (∇XY ) (p) = ( ∇ dc dt Y ) (p) = DY dt (c(t0)) = n∑ i=1 d dt (ai) (t0)wi(t0) + n∑ i=1 ai(t0) Dwi dt (t0) = n∑ i=1 d dt (ait0)wi(t0), pois o campo wi é paralelo, para todo i = 1, ..., n. Portanto, (∇XY ) (p) = n∑ i=1 d dt (ai(t0))wi(t0) = d dt ( P−1 (Y (c(t))) ) |t=t0 , como queŕıamos demonstrar. 3. Seja f : Mn →Mn+k uma imersão de uma variedade diferenciável M em uma variedade Riemanniana M . Suponha que M tem a métrica Riemannianainduzida por f (cf. Exemplo 2.5 do Cap. I). Sejam p ∈ M e U ⊂ M uma vizinhança de p tal que f(U) ⊂ M seja uma subvariedade de M . Sejam X, Y campos de vetores em f(U) e estenda-os a campos de vetores X, Y em um aberto de M . Defina (∇XY )(p) = ( ∇XY (p) )T , isto é, a componente tangencial de ∇XY (p), onde ∇ é a conexão Riemanniana de M . Prove que ∇ é a conexão Riemanniana de M . Demonstração. Identificaremos os elementos de M e f(M). Verifiquemos que ∇XY (p) = 38 (∇XY (p))T independe das extensões consideradas. Vejamos, se X1 e X2 são extensões de X a um aberto de M contendo p ∈M , então (∇X1Y −∇X2Y )(p) = ∇X1−X2Y (p) = 0, pois X1 = X2 numa vizinhança de p. Ainda, sejam Y1, Y2 extensões de Y a um aberto de M contendo o ponto p ∈M , então (∇XY1 −∇XY2)(p) = ∇X(Y1 − Y2)(p) = 0, pois Y1 = Y2 nas trajetórias de X. No último caso, basta observarmos que ( ∇X1Y1 −∇X2Y2 ) (p) = ( ∇X1Y1 −∇X1Y2 +∇X1Y2 −∇X2Y2 ) (p) = ( ∇X1(Y1 − Y2) ) (p) + ( ∇X1−X2Y2 ) (p) = 0 + 0 = 0. Uma vez mostrado que ∇XY (p) = (∇XY (p))T está bem definida, mostraremos que tal igualdade define uma conexão afim em M . Sejam X,Y, Z ∈ X (M), g, h ∈ C∞(M), Z extensão de Z e gX + hY extensão de gX + hY num aberto de M . Então ∇gX+hY Z(p) = ( ∇gX+hY Z(p) )T = ( g(p)∇XZ(p) + h(p)∇Y Z(p) )T = g(p) ( ∇XZ(p) )T + h(p) ( ∇Y Z(p) )T = g(p)∇XZ(p) + h(p)∇Y Z(p). Sejam X,Y , Z extensões de X,Y e Z respectivamente, então ∇X(Y + Z)(p) = ( ∇X(Y + Z)(p) )T = ( ∇XY (p) +∇XZ(p) )T = ( ∇XY (p) )T + ( ∇XZ(p) )T = ∇XY (p) +∇XZ(p). 39 Com as mesmas notações: ∇X(gY )(p) = (∇XgY (p)) T = (X(g)Y (p) + g(p)∇XY (p)) T = X(g)Y (p) + g(p)(∇XY (p)) T = X(g)Y (p) + g(p)∇XY (p). Com isso, mostramos que ∇ é uma conexão afim em M . Resta-nos mostrar que ∇ é compat́ıvel e simétrica. Vejamos a compatibilidade: X〈Y,Z〉(p) = X〈Y , Z〉(p) = 〈∇XY , Z〉(p) + 〈Y ,∇XZ〉(p). Como, em p, Z = Z e Y = Y , segue-se que 〈(∇XY ) N , Z〉(p) = 0 = 〈Y , (∇XZ) N 〉(p), onde denotamos por V N a componente normal de V . Temos então, X〈Y,Z〉(p) = 〈 ( ∇XY )T , Z〉(p) + 〈Y , ( ∇XZ )T 〉(p) = 〈∇XY,Z〉(p) + 〈Y,∇XZ〉(p). Finalmente, ∇ é simétrica. De fato, (∇XY −∇YX)(p) = ( ∇XY (p) )T − (∇YX(p))T = ( ∇XY (p)−∇YX(p) )T = ( [X,Y ](p) )T = [X,Y ](p). Conclúımos então - pelo Teorema de Levi-Civita - que ∇ é a conexão Riemanniana de M . 4. SejaM2 ⊂ R3 uma superf́ıcie em R3 com a métrica Riemanniana induzida. Seja c : I →M uma curva diferenciável em M e V um campo de vetores tangentes a M ao longo de c; V pode ser pensado como uma função diferenciável V : I → R3, com V (t) ∈ Tc(t)M. 40 a) Mostre que V é paralelo se e somente se dV dt é perpendicular a Tc(t)M ⊂ R3 onde dV dt é a derivada usual de V : I → R3. b) Se S2 ⊂ R3 é a esfera unitária de R3, mostre que o campo velocidade ao longo de ćırculos máximos parametrizados pelo comprimento de arco é um campo paralelo. O mesmo argumento se aplica para Sn ⊂ Rn+1. Demonstração. a) Considere o R3 munido com sua conexão Riemanniana usual, ∇XY = DXY Pelo exerćıcio anterior sabemos que a conexão riemanniana de M é dada por ∇XY = ( ∇XY )T = (DXY ) T . Assim, em coordenadas locais, se (X1, X2, X3) são os sistemas de coordenadas locais em R3 e V (t) = 3∑ j=1 vj(t)Xj temos DV dt (t) = ∇c′V (t) = ( ∇c′V (t) )T = ∑ k dvk dt (t) + ∑ i,j Γ kijvj(t) dxi dt (t) Xk T . 41 Desde que Γ kij = 0, 0 ≤ i, j, k ≤ n, em Rn. Temos DV dt (t) = [ 3∑ k=1 dvk dt Xk ]T = [ dV dt (t) ]T . Assim, uma vez que dV dt (t) = [ dV dt (t) ]T + [ dV dt (t) ]N = DVdt (t) + [ dV dt (t) ]N . Logo, se DV dt (t) = 0, ∀ t, então dV dt (t) = [ dV dt (t) ]N , ∀ t, e portanto, se o campo é paralelo, dV dt é perpendicular a Tc(t)M, ∀ c(t). Reciprocamente, suponhamos que dV dt (t) é perpendicular a c(t). Como DV dt ∈ Tc(t)M, temos que 〈dVdt (t), DV dt (t)〉 = 0, ∀ t ⇒ 〈 DV dt (t) + [ dV dt (t) ]N , DVdt (t)〉 = 0, ∀ t ⇒ 〈DVdt (t), DV dt (t)〉 = 0, ∀ t ⇒ DVdt ≡ 0. e portanto, V é paralelo. b) Considere α : I → S2, onde α(t) = (α1(t), α2(t), α3(t)) é uma parametrização de um grande ćırculo pelo comprimento de arco, ou seja, |α′(t)| = 1. Logo, α′1(t) 2 + α′2(t) 2 + α′3(t) 2 = 1, diferenciando a expressão acima, temos 2α′′1(t)α ′ 1(t) + 2α ′′ 2(t)α ′ 2(t) + 2α ′′ 3(t)α ′ 3(t) = 0 ⇒ 〈(α′′1(t), α′′2(t), α′′3(t)), (α′1(t), α′2(t), α′3(t))〉 = 0 ⇒ 〈α′, α′′〉 = 0 Além disso, α é uma parametrização de um grande ćırculo, logo ‖α‖2 = 1 e segue de maneira 42 análoga, 〈α, α′〉 = 0. E assim, segue que α ⊥ α′ e α′ ⊥ α′′, portanto α ‖ α′′. Assim, desde que a curva é plana e a direção radial é a direção normal, segue que α′′ ‖ N . Assim, para V = α′, conclúımos que dV dt = α′′ é normal ao espaço tangente em c(t) e, portanto, V é paralelo. Agora se considerarmos o caso geral, Sn ⊂ Rn+1, o argumento será análogo, pois os grandes ćırculos serão curvas planas. 5. No espaço euclidiano, o transporte paralelo de um vetor entre dois pontos não depende da curva que liga estes dois pontos. Mostre por um exemplo que isto não é verdade numa variedade Riemanniana qualquer. Demonstração. Mostremos que no espaço euclidiano o transporte paralelo de um vetor entre dois pontos não depende da curva ligando estes dois pontos. De fato, sejam p, q ∈ Rn e V0 ∈ TpRn. Considere α : [t0, t1] → Rn uma curva diferenciável, com α(t0) = p e α(t1) = q. Sabemos da Proposição 2.6 (pág 58) que existe um único campo de vetores paralelo V = Vα,V0 ao longo de α, tal que V (t0) = V0. Olhando para a expressão local do campo derivada covariante de V em termos dos simbolos de Christoffel, temos 0 = DV dt = ∑ k dvkdt +∑ i,j Γkijv j dxi dt Xk = ∑ k dvk dt Xk, pois para o espaço euclidiano Rn, temos Γkij = 0. Assim, a derivada usual de V é nula. Logo, V é constante, com V (t) = V (t0) = V0, para todo t ∈ [t0, t1]. Agora, se β : [s0, s1] → Rn é outra curva ligando p à q, temos que existe um único campo paralelo P = Vβ,V0 , com P (s0) = V0. De modo análogo ao que foi feito para α, conclúımos que P é constante, com P (s) = P (s0) = V0, para todo s ∈ [s0, s1]. Portanto, Vα,V0 = Vβ,V0 , ou seja, o transporte paralelo de V0 entre dois pontos p e q não depende da curva ligando estes dois pontos. Provemos agora que isto não é verdade numa variedade riemanniana qualquer. Por exemplo, na variedade Riemanniana S2 ⊂ R3, considere os pontos p = (1, 0, 0) e q = (−1, 0, 0) e as curvas c1 : [0, π]→ S2 e c2 : [0, π]→ S2, dadas por c1(t) = (cost, sent, 0) e c2(t) = (cost, 0, sent). Note que c1(0) = c2(0) = p e c1(π) = c2(π) = q. Para u0 = (0, 0, 1) ∈ TpS2 = 〈p〉⊥, existe um único transporte paralelo V1 ao longo de c1 tal que V1(0) = u0. Também existe um único transporte paralelo V2 ao longo de c2 tal que V2(0) = u0. Afirmação 8. V1(t) = u0, para todo t ∈ [0, π]. 43 Considere o campo vetores constante Ṽ (t) = u0, para todo t ∈ [0, π]. Observe que Ṽ está bem definido, uma vez que Tc1(t)S 2 = 〈c1(t)〉⊥ e u0⊥〈c1(t)〉, para todo t ∈ [0, π]. Como dṼ dt = 0 ∈ (Tc1(t)S 2)⊥, para todo t ∈ [0, π], segue do Exerćıcio 4.a) desde caṕıtulo que Ṽ é um campo paralelo ao longo de c1. Como Ṽ (0) = V1(0) = u0, temos pela unicidade do transporte paralelo que V1(t) = Ṽ (t) = u0, para todo t ∈ [0, π]. Afirmação 9. V2(t) = c ′ 2(t), para todo t ∈ [0, π]. Observe inicialmente que c′2(t) = (−sent, 0, cost). Assim, c′2(0) = (−sen0, 0, cos0) = (0, 0, 1) = u0. Pela unicidade do transporte paralelo, resta mostrar que c ′ 2 é um campo paralelo. Observe ainda que c′′2(t) = (−cost, 0,−sent) = −c2(t) ∈ 〈c2(t)〉 = (Tc2(t)S2)⊥. Assim, pelo Exerćıcio 4.a), c′2 é um campo paralelo. Portanto obtemos dois transportes paralelos V1 e V2 entre p e q tais que V1(0) = u0 = V2(0), mas V1(π) = u0 6= −u0 = V2(π). 6. Seja M uma variedade Riemanniana e p um ponto de M . Considere a curva constante f : I → M dada por f(t) = p, para todo t ∈ I. Seja V um campo vetorial ao longo de f (isto é, uma aplicaçãodiferenciável em de I em TpM). Mostre que DV dt = dV dt , isto é, a derivada covariante coincide com a derivada usual de V : I → TpM . Demonstração. Sejam (U, x) sistema de coordenadas em torno de p, x−1(f(t)) = (x1(t), ..., xn(t)), a expressão local de f(t) e V = ∑ k v kXk um campo de vetores ao longo de f . Então, DV dt = ∑ k dvk dt + ∑ i,j vj dxi dt Γkij Xk (14) No entanto, como f é constante, sua expressão local x−1(f(t)) = (x1(t), ..., xn(t)) = q também o é e, consequentemente, dxidt = 0, ∀i = 1, ..., n. Substituindo em (14), segue que DV dt = ∑ k dvk dt Xk = dV dt ficando demonstrado o resultado. 7. Seja S2 ⊆ R3 a esfera unitária, c um paralelo qualquer de S2 e V0 um vetor tangente a S2 em um ponto de c. Descreva geometricamente o transporte paralelo de V0 ao longo de c. Demonstração. Sejam C o cone tangente a esfera ao longo de c e α : I → S2 uma parametrização de c pelo comprimento de arco com α(0) = p. Como C é tangente a S2 ao longo de c temos 44 que Tα(t)S 2 = Tα(t)C, dáı se V (t) denota o transporte paralelo ao longo de c de V0 relativo a S 2 então, V (t) é o transporte paralelo ao longo de c de V0 relativo a C. Além disso, note que o cone de uma folha menos uma geratriz é localmente isométrico ao aberto do plano: U = {(ρ cos θ, ρ sin θ, 0) | 0 < ρ < +∞ e 0 < θ < 2π sinψ}, através da função F : U → R3 dada por F (ρ, θ) = (ρ sinψ cos( θ sinψ ), ρ sinψ sin( θ sinψ , ρ cosψ), onde ψ é o ângulo do vértice de C que é uma isometria e tem conjunto-imagem igual ao cone menos uma geratriz. Como o transporte paralelo é invariante por isometria local, podemos observar o transporte paralelo de V0 ao longo de c no plano, uma vez que no plano a derivada covariante é igual a derivada usual, isto é, DVdt = dV dt . Assim, V (t), o transporte paralelo de V0 ao longo de c, forma um ângulo orientado com α ′(t) de 2π − θ, onde α(t) é o obtida girando o ponto α(0) em torno da origem de um ângulo θ no sentido anti-horário, logo o transporte paralelo de V0 ao longo de c é o vetor unitário que faz um ângulo orientado 2π − θ com α′(t). 8. Considere o semi-plano superior R2+ = {(x, y) ∈ R2; y > 0} com a métrica dada por g11 = g22 = 1 y2 , g12 = 0 (métrica da geometria não-euclidiana de Lobatchevski). a) Mostre que os śımbolos de Christoffel da conexão Riemanniana são: Γ111 = Γ 2 12 = Γ122 = 0, Γ 2 11 = 1 y , Γ 1 12 = Γ 2 22 = − 1y . b) Seja v0 = (0, 1) um vetor tangente no ponto (0, 1) de R2+ (v0 é o vetor unitário do eixo 0y com a origem em (0, 1)). Seja v(t) o transporte paralelo de v0 ao longo da curva x = t, y = 1. Mostre que v(t) faz um ângulo t com a direção de 0y no sentido horário. Demonstração. a) Lembremos que a expressão clássica dos śımbolos de Christoffel da conexão 45 Riemanniana em termos dos gij (dados pela métrica) é Γmij = 1 2 ∑ k { ∂ ∂xi gjk + ∂ ∂xj gki − ∂ ∂xk gij } gkm, onde (gkm) é a matriz inversa de (gkm). No exerćıcio em questão, denotando x = x1 e y = y1, temos (gkm) = 1 x22 0 0 1 x22 e (gkm) = x22 0 0 x22 . Portanto, • Γ111 = 1 2 2∑ k=1 { ∂ ∂x1 g1k + ∂ ∂x1 gk1 − ∂ ∂xk g11 } gk1 = 1 2 { ∂ ∂x1 g11 + ∂ ∂x1 g11 − ∂ ∂x1 g11 } g11 + 1 2 { ∂ ∂x1 g12 + ∂ ∂x1 g21 − ∂ ∂x2 g11 } g21︸ ︷︷ ︸ =0, pois g12=g21=g21=0 = 1 2 { ∂ ∂x1 g11 } x22 = 0. • Γ211 = 1 2 2∑ k=1 { ∂ ∂x1 g1k + ∂ ∂x1 gk1 − ∂ ∂xk g11 } gk2 = 1 2 { ∂ ∂x1 g11 + ∂ ∂x1 g11 − ∂ ∂x1 g11 } g12︸ ︷︷ ︸ =0, pois g12=0 + 1 2 { ∂ ∂x1 g12 + ∂ ∂x1 g21 − ∂ ∂x2 g11 } g22 = 1 2 { ∂ ∂x1 g12 + ∂ ∂x1 g21 − ∂ ∂x2 g11 } x22. Como g12 = g21 = 0 e ∂ ∂x2 g11 = − 2 x32 , segue que Γ211 = 1 x2 . 46 • Γ112 = 1 2 2∑ k=1 { ∂ ∂x1 g2k + ∂ ∂x2 gk1 − ∂ ∂xk g12 } gk1 = 1 2 { ∂ ∂x1 g21 + ∂ ∂x2 g11 − ∂ ∂x1 g12 } g11 + 1 2 { ∂ ∂x1 g22 + ∂ ∂x2 g21 − ∂ ∂x2 g12 } g21︸ ︷︷ ︸ =0, pois g21=0 = 1 2 { ∂ ∂x2 g11 } x22 = 1 2 { − 2 x32 } x22 = − 1 x2 . • Γ212 = 1 2 2∑ k=1 { ∂ ∂x1 g2k + ∂ ∂x2 gk1 − ∂ ∂xk g12 } gk2 = 1 2 { ∂ ∂x1 g21 + ∂ ∂x2 g11 − ∂ ∂x1 g12 } g12︸ ︷︷ ︸ =0, pois g12=0 + 1 2 { ∂ ∂x1 g22 + ∂ ∂x2 g21 − ∂ ∂x2 g12 } g22 = 1 2 { ∂ ∂x1 g22 } x22 = 0. • Γ122 = 1 2 2∑ k=1 { ∂ ∂x2 g2k + ∂ ∂x2 gk2 − ∂ ∂xk g22 } gk1 = 1 2 { ∂ ∂x2 g21 + ∂ ∂x2 g12 − ∂ ∂x1 g22 } g11 + 1 2 { ∂ ∂x2 g22 + ∂ ∂x2 g22 − ∂ ∂x2 g22 } g21︸ ︷︷ ︸ =0, pois g21=0 = 1 2 { − ∂ ∂x1 g22 } x22 = 0. • Γ222 = 1 2 2∑ k=1 { ∂ ∂x2 g2k + ∂ ∂x2 gk2 − ∂ ∂xk g22 } gk2 = 1 2 { ∂ ∂x2 g21 + ∂ ∂x2 g12 − ∂ ∂x1 g22 } g12︸ ︷︷ ︸ =0, pois g12=0 + 1 2 { ∂ ∂x2 g22 + ∂ ∂x2 g22 − ∂ ∂x2 g22 } g22 = 1 2 { ∂ ∂x2 g22 } x22 = 1 2 { − 2 x32 } x22 = − 1 x2 . b) Seja v(t) = (v1(t), v2(t)) o transporte paralelo de v0 ao longo da curta x1 = t, x2 = 1. 47 Sabemos que o campo v(t) satisfaz o sistema de EDO d dt v1 + ∑ i,j Γ1ijv j d dt xi = 0 d dt v2 + ∑ i,j Γ2ijv j d dt xi = 0. Como dx1/dt = 1 e dx2/dt = 0, o item a) nos garante que o sistema acima se reduz à d dt v1 + Γ112v 2 = 0 d dt v2 + Γ211v 1 = 0. (15) Note que ao longo da curva em questão, temos x2 = 1 e, portanto, Γ 1 12 = −1 e Γ211 = 1. Desta forma, fazendo v1(t) = cos θ(t) e v2(t) = sin θ(t), onde θ(t) é o ângulo que v(t) faz com a direção positiva do eixo 0x, podemos reescrever (15) da seguinte forma: −θ′ sin θ − sin θ = 0θ′ cos θ + cos θ = 0, ou seja, (θ′ + 1) sin θ = 0(θ′ + 1) cos θ = 0. Como sin e cos não se anulam simultaneamente, obtemos que θ′ = −1, donde conclúımos que θ(t) = −t+ C, C ∈ R. Para obter o valor de C, observe que (0, 1) = v0 = v(0) = (cos(0), sin(0))⇔ θ(0) = π 2 + 2kπ, k ∈ Z. Portanto, θ(t) = π 2 − t, o que significa que v(t) faz um ângulo t com a direção 0y no sentido horário. 9. (Métricas pseudo-Riemannianas) Uma métrica pseudo-Riemanniana em uma variedade diferenciável M é a escolha, para cada ponto p ∈ M , de uma forma bilinear simétrica não degenerada 〈 , 〉 (porém não necessariamente positiva definida) em TpM e que varia diferenciavelmente com p. Exceto pelo fato de não ser 〈 , 〉 definida positiva, todas as definições até agora apresentadas fazem sentido em uma métrica pseudo-Riemanniana. Por exemplo, uma conexão afim em M é compat́ıvel com uma métrica pseudo-Riemanniana de 48 M se X〈Y,Z〉 = 〈∇XY, Z〉+ 〈Y,∇XZ〉, X, Y, Z ∈ X (M). Se, além disso, ∇XY −∇YX = [X,Y ], X, Y ∈ X (M), a conexão afim é dita simétrica. a) Mostre que o Teorema de Levi-Civita se estende a métricas pseudo-Riemannianas. A conexão assim obtida é chamada pseudo-Riemanniana. b) Introduza uma métrica pseudo-Riemanniana em Rn+1 pela forma quadrática: Q(x0, ..., xn) = −(x0)2 + (x1)2 + ...+ (xn)2, (x0, ..., xn) ∈ Rn+1. Mostre que o transporte paralelo da conexão de Levi-Civita desta métrica coincide com o transporte paralelo usual do Rn+1 (esta métrica pseudo-Riemanniana é chamada métrica de Lorentz ; para n = 3, ela aparece naturalmente em Relatividade). Demonstração. a) (Extensão do teorema de Levi-Civita para métricas pseudo-Riemannianas) Dada uma variedade Riemanniana M , existe uma única conexão afim ∇ em M , tal que: (i) ∇ é simétrica; (ii) ∇ é compat́ıvel com a métrica pseudo-Riemanniana. (Unicidade) Suponhamos que existe uma conexão afim ∇ satisfazendo (i) e (ii). Logo, para quaisquer campos X,Y, Z ∈ X (M), X〈Y, Z〉 = 〈∇XY,Z〉+ 〈Y,∇XZ〉 (16) Y 〈Z,X〉 = 〈∇Y Z,X〉+ 〈Z,∇YX〉 (17) Z〈X,Y 〉 = 〈∇ZX,Y 〉+ 〈X,∇ZY 〉 (18) Fazendo (16) + (17)− (18), obtemos: (16) + (17)− (18) = 〈∇XY,Z〉+ 〈Y,∇XZ〉+ 〈∇Y Z,X〉+ 〈Z,∇YX〉 − 〈∇ZX,Y 〉 − 〈X,∇ZY 〉 = 〈∇XY,Z〉+ 〈∇XZ −∇ZX,Y 〉+ 〈∇Y Z −∇ZY,X〉+ 〈Z,∇YX〉 = 〈∇XY,Z〉+ 〈[X,Z], Y 〉+ 〈[Y,Z], X〉+ 〈Z,∇YX〉. 49 Note que, 〈[X,Y ], Z〉 = 〈∇XY −∇YX,Z〉 = 〈∇XY,Z〉 − 〈∇YX,Z〉 = 〈∇XY 〉+ 〈Z,∇YX〉 − 2〈Z,∇YX〉. Logo, 〈∇XY, Z〉+ 〈Z,∇YX〉 = 2〈Z,∇YX〉+ 〈[X,Y ], Z〉. Desta forma, X〈Y,Z〉+ Y 〈Z,X〉 − Z〈X,Y 〉 = 2〈Z,∇YX〉+ 〈[X,Y ], Z〉+ 〈[X,Z], Y 〉+ 〈[Y, Z], X〉. Portanto, 〈Z,∇YX〉 = 12 {X〈Y, Z〉+ Y 〈Z,X〉 − Z〈X,Y 〉 − 〈[X,Z], Y 〉 − 〈[Y,Z], X〉 − 〈[X,Y ], Z〉} (19) A conexão afim ∇ está unicamente determinada pela métrica pseudo-Riemanniana através da expressão (19), uma vez que o lado direito da igualdade depende apenas da base {∂/∂xi} e dos coeficientes dos campos X,Y e Z. O que prova a unicidade. (Existência) Para provarmos a existência, definamos a conexão afim ∇, através da expressão (19). Afirmação 10. ∇ está bem definida. De fato, considere campos de vetores X,Y,X1, Y1 ∈ X (M) tais que (X,Y ) = (X1, Y1). Então, 〈Z,∇YX〉 = 1 2 {X〈Y,Z〉+ Y 〈Z,X〉 − Z〈X,Y 〉 − 〈[X,Z], Y 〉 − 〈[Y, Z], X〉 − 〈[X,Y ], Z〉} = 1 2 {X1〈Y1, Z〉+ Y1〈Z,X1〉 − Z〈X1, Y1〉 − 〈[X1, Z], Y1〉 −〈[Y1, Z], X1〉 − 〈[X1, Y1], Z〉} = 〈Z,∇Y1X1〉, para todo campo Z ∈ X (M). Portanto ∇YX = ∇Y1X1, o que prova a boa-definição. Afirmação 11. ∇ é uma conexão afim. 50 De fato, considere campos de vetores X,Y,W ∈ X (M), então 〈Z,∇W (X + Y )〉 = 1 2 {(X + Y )〈W,Z〉+W 〈Z, (X + Y )〉 − Z〈(X + Y ),W 〉 − 〈[X + Y,Z],W 〉 − 〈[W,Z], X〉 −〈[X + Y,W ], Z〉} = 1 2 {X〈W,Z〉+ Y 〈W,Z〉+W 〈Z,X〉+W 〈Z, Y 〉 − Z〈X,W 〉 − Z〈Y,W 〉 − 〈[X,Z],W 〉 −〈[Y,Z],W 〉 − 〈[W,Z], X〉 − 〈[W,Z], Y 〉 − 〈[X,W ], Z〉 − 〈[Y,W ], Z〉} = 1 2 {X〈W,Z〉+W 〈Z,X〉 − Z〈X,W 〉 − 〈[X,Z],W 〉 − 〈[W,Z], X〉 − 〈[X,W ], Z〉} + 1 2 {Y 〈W,Z〉+W 〈Z, Y 〉 − Z〈Y,W 〉 − 〈[Y,Z],W 〉 − 〈[W,Z], Y 〉 − 〈[Y,W ], Z〉} = 〈Z,∇WX〉+ 〈Z,∇WY 〉 = 〈Z,∇WX +∇WY 〉, para todo Z ∈ X (M). Portanto, ∇W (X + Y ) = ∇WX +∇WY. Considere f ∈ C∞(M) e campos X,Y ∈ X (M), então 〈Z,∇Y (fX)〉 = 1 2 {fX〈Y, Z〉+ Y 〈Z, fX〉 − Z〈fX, Y 〉 − 〈[fX,Z], Y 〉 − 〈[Y, Z], X〉 − 〈[fX, Y ], Z〉} = 1 2 {fX〈Y, Z〉+ Y (f)〈Z,X〉 − Z(f)〈X,Y 〉 − 〈f [X,Z]− Z(f)X,Y 〉 − f〈[Y,Z], X〉 −〈f [X,Y ]− Y (f)X,Z〉} = 1 2 {fX〈Y, Z〉+ Y (f)〈Z,X〉 − Z(f)〈X,Y 〉 − f〈[X,Z], Y 〉+ Z(f)〈X,Y 〉 −f〈[Y,Z], X〉 − f〈[X,Y ], Z〉+ Y (f)〈X,Z〉} = f 1 2 {X〈Y, Z〉+ Y 〈Z,X〉 − Z〈X,Y 〉 − 〈[X,Z], Y 〉 − 〈[Y,Z], X〉 − 〈[X,Y ], Z〉} +Y (f)〈X,Z〉 = f〈Z,∇YX〉+ 〈Y (f)X,Z〉 = 〈f∇YX + Y (f)X,Z〉, para todo Z ∈ X (M). Portanto, ∇Y (fX) = f∇YX + Y (f)X. 51 A propriedade ∇fX+gY Z = f∇XZ + g∇Y Z, decorre de um cálculo análogo. Afirmação 12. ∇ é simétrica. Sejam X,Y ∈ X (M), então 〈Z,∇XY −∇YX〉 = 〈Z,∇XY 〉 − 〈Z,∇YX〉 = 1 2 {Y 〈X,Z〉+X〈Z, Y 〉 − Z〈Y,X〉 − 〈[Y,Z], X〉 − 〈[X,Z], Y 〉 − 〈[Y,X], Z〉} −1 2 {X〈Y,Z〉+ Y 〈Z,X〉 − Z〈X,Y 〉 − 〈[X,Z], Y 〉 − 〈[Y, Z], X〉 − 〈[X,Y ], Z〉} = −1 2 〈[Y,X], Z〉+ 1 2 〈[X,Y ], Z〉 = 1 2 〈[X,Y ], Z〉+ 1 2 〈[X,Y ], Z〉 = 〈[X,Y ], Z〉, para todo Z ∈ X (M). Portanto, ∇XY −∇YX = [X,Y ]. Afirmação 13. ∇ é compat́ıvel com a métrica pseudo-Riemanniana. Sejam X,Y, Z ∈ X (M), então 〈X,∇Y Z〉+ 〈Z,∇YX〉 = 1 2 {Z〈Y,X〉+ Y 〈X,Z〉 −X〈Z, Y 〉 − 〈[Z,X], Y 〉 − 〈[Y,X], Z〉 −〈[Z, Y ], X〉}+ 1 2 {X, 〈Y,Z〉+ Y 〈Z,X〉 − Z〈X,Y 〉 − 〈[X,Z], Y 〉 −〈[Y, Z], X〉 − 〈[X,Y ], Z〉} = 1 2 Y 〈X,Z〉+ 1 2 Y 〈X,Z〉 = Y 〈X,Z〉. Portanto, 〈X,∇Y Z〉+ 〈Z,∇YX〉 = Y 〈X,Z〉. b) Seja V ∈ X (M) e seja (U, x0, ..., xn) um sistema de coordenadas. Em termos dos śımbolos de Christoffel, a derivada covariante possui a expressão clássica DV dt = n∑ k=0 dvkdt + n∑ i,j=1 Γkijvj dxi dt Xk. 52 Observe que a derivada covariante difere da derivada usual no espaço euclideano por termos que envolvem os śımbolos de Christoffel. Uma vez que no espaço euclideano Γkij = 0, a derivada covariante coincide com a derivada usual. Portanto, para provarmos que o transporte paralelo da conexão de Levi-Civita com esta métrica Q, coincide com o transporte paralelo usual do Rn+1, é suficiente provar que Ddt = d dt . Os śımbolos de Christoffel podem ser obtidos através da expressão Γkij = 1 2 n∑ k=0 {Xigjk +Xjgki −Xkgij} gkm, (20) onde os g′ijs são as expressões da métrica pseudo-Riemanniana no sistema de coordenadas (U, x0, ..., xn). De acordo com a métrica pseudo-Riemanniana pré-definida, (gij) = −1 0 ... 0 0 1 ... 0 ... ... . . . ... 0 0 ... 1 (n+1)×(n+1) 0 ≤ i, j ≤ n, com inversa (gij) = −1 0 ... 0 0 1 ... 0 ... ... . . . ... 0 0 ... 0 (n+1)×(n+1) Observe que a submatriz (gij) com 1 ≤ i, j ≤ n, é exatamente a matriz formada pelas expressões da métrica usual do Rn. Logo, Γkij = 0, para i, j, k = 1, ..., n. Observe ainda que podemos escrever a métrica pseudo-Riemanniana na forma Q(x0, ..., xn) = −(x0)2 + x21 + ...+ x2n = −(x0)2 + q(x1, ..., xn), onde q é a métrica usual em Rn. Portanto, é suficiente calcularmos o śımbolo Γ000, uma vez que os demais são nulos. Pela equação (20) temos, Γ000 = 1 2 {X0g00 +X0g00 −X0g00} g00 = 1 2 (X0(−1)) (−1) = 0. Portanto, para todo campo V ∈ X (Rn+1) ao longo de uma curva γ : [a, b] → Rn+1 contida no 53 sistema de coordenadas (U, x0, ..., xn), tem-se DV dt = dV dt . De uma forma geral, seja V ∈ X (Rn+1) um campo paralelo ao longo de uma curva diferenciável γ[a, b] → Rn+1. Podemos cobrir a curva através de uma quantidade finita de sistemas de coordenadas. Logo, se (U, x) e (W, y) são dois sistemas de coordenadas tais que x(U)∩y(W ) 6= ∅, então as derivadas devem coincidir na interseção, o que prova que a derivada covariante de um campo V ao longo de uma curva γ, com respeito à métrica Q, deve coincidir com a derivada usual do Rn+1 do campo V ao longo da curva. Portanto os transportes paralelos coincidem. 54 Caṕıtulo III Geodésicas; Vizinhanças Conexas 1. (Geodésicas de superf́ıcies de revolução). Indique por (u, v) as coordenadas cartesianas de R2. Mostre que a função ϕ : U ⊂ R2 → R3 dada por ϕ(u, v) = (f(v) cosu, f(v) sinu, g(v)), U = {(u, v) ∈ R2;u0 < u < u1; v0 < 0 < v1}, onde f e g são funções diferenciáveis, com f ′(v)2 +g′(v)2 6= 0 e f(v) 6= 0, é uma imersão. A imagem ϕ(U) é a superf́ıcie gerada pela rotação em torno do eixo 0z da curva (f(v), g(v)), chamada de superf́ıcie de revolução S. As imagens por ϕ das curvas u = constante e v = constante são chamadas meridianos e paralelos, respectivamente, de S. a) Mostre que a métrica induzida nas coordenadas (u, v) é dada por g11 = f 2, g12 = 0, g22 = (f ′)2 + (g′)2. b) Mostre que as equações locais de uma geodésica γ são d2u dt2 + 2ff ′ f2 du dt dv dt = 0 d2v dt2 − ff ′ (f ′)2 + (g′)2 ( du dt )2 + f ′f ′′ + g′g′′ (f ′)2 + (g′)2 ( dv dt )2 = 0. c) Obtenha o seguinte significado geométrico das equações acima: segunda equação é, exceto para meridianos e paralelos, equivalente ao fato de que a “energia” ‖ γ′(t) ‖2 de uma geodésica é constante ao longo de γ; a primeira equação significa que se β(t) é o ângulo orientado, β(t) < π, de um paralelo P intersectando γ em γ(t) com γ, então r cosβ = constante, onde r é o raio do paralelo P (a equação acima é chamada relação de Clairaut); d) Use a relação de Clairaut para mostrar que uma geodésica de um parabolóide (f(v) = v, g(v) = v2, 0 < v <∞,−ε < u < 2π + ε), que não é um meridiano, se auto-intersecta um número infinito de vezes. 55 Demonstração. Seja p = (u, v) ∈ U . Temos Jϕp = −f(v) sinu f ′(v) cosu f(v) cosu f ′(v) sinu 0 g′(v) . Portanto, se (s, t) ∈ TpU ∼= R2, então dϕp(s, t) = ( (−f(v) sinu)s+ (f ′(v) cosu)t, (f(v) cosu)s+ (f ′(v) sinu)t, g′(v)t ) . Resolvamos o sistema: (−f(v) sinu)s+ (f ′(v) cosu)t = 0 (f(v) cosu)s+ (f ′(v) sinu)t = 0 g′(v)t = 0. Vamos supor que g′(v) 6= 0 e nominar esta condição de primeiro caso. Esta condição implica (observemos a terceira equação do sistema) que t = 0, dáı, (−f(v) sinu)s = 0 e (f(v) cosu)s = 0. Como f 6= 0 e as funções seno e cosseno não se anulam simultâneamente, segue-se que s = 0. Segundo caso: g′(v) = 0. Nesse caso, f ′(v) 6= 0, pois f ′(v)2 + g′(v)2 6= 0 e ficamos com o sistema: (−f(v) sinu)s+ (f ′(v) cosu)t = 0(f(v) cosu)s+ (f ′(v) sinu)t = 0. Seu determinante é igual a (−ff ′ sin2 u − ff ′ cos2 u), i.e., −ff ′. Como f 6= 0 por hipótese e estamos no caso em que f ′ 6= 0, segue-se que tal determinante é não nulo. Isto implica que a única solução do sistema considerado é a trivial. Portanto, em qualquer caso, ker dϕp = {(0,
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