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Bárbara Bernardes Magalhães – MED XV PARASITOLOGIA → Leishmaniose (Leishmania st.) • O gênero Leishmania agrupa espécies de protozoários unicelulares, digenéticos (heteroxenos), encontradas nas formas promastígota e paramastigota, flageladas livres ou aderidas ao trato digestivo dos hospedeiros invertebrados, e amastigota, sem flagelo livre, parasito intracelular. • A reprodução ocorre por divisão binária simples em ambos os hospedeiros. • Os hospedeiros vertebrados incluem uma grande variedade de mamíferos (ratos, coelhos, cachorros, marsupiais, primatas e, entre estes, o homem). • Como hospedeiros invertebrados são identificados, exclusivamente, fêmeas de insetos hematófagos conhecidos como flebotomíneos. • A transmissão ocorre por mecanismo complexo, através da picada do inseto infectado, no momento da hematofagia. CICLO BIOLÓGICO • Os hospedeiros vertebrados são infectados quando formas promastígotas metacíclicas são inoculadas pelas fêmeas dos insetos vetores, durante o repasto sanguíneo. • A saliva do inseto é inoculada neste ambiente e exerce papel importante como anticoagulante, vasodilatadora e antiagregação de plaquetas, favorecendo o fluxo de sangue e a linfa intersticial para o alimento. • Os fatores presentes na saliva de flebotomíneos têm ação quimiotática para monócitos e imunorregulador, com capacidade de interagir com os macrófagos, aumentando sua proliferação e impedindo a ação efetora destas células na destruição dos parasitos. • As formas promastígotas metacíclicas são resistentes a lise pelo complemento → As promastígotas podem ainda interagir com outras proteínas do soro para ativar o complemento, facilitando a adesão a membrana do macrófago. • Durante o processo de endocitose do parasito, por causas fisiológicas, a célula hospedeira aumenta intensamente a sua atividade respiratória → formação de óxido nítrico, dos radicais livre óxidos, hidroxilas, hidróxidos e superóxidos → produtos altamente lesivos para membranas celulares. • A internalização de Leishmania se faz através da endocitose mediada por receptores na superfície do macrófago → promatígotas metacíclicas ativam receptores da superfície dos macrófagos → Estes receptores promovem a fagocitose, sem estimular o aumento da atividade respiratória da célula e a consequente geração de radicais livres. • O parasito pode ser prontamente internalizado pelas células de Langerhans da derme, embora não se reproduzam aí → A promastígota transforma-se em amastigota, capaz de desenvolver e multiplicar no meio ácido encontrado no vacúolo digestivo. • No intestino médio do inseto → as amastigotas se transformam em flagelados pequenos, ovoides, pouco móveis → três e quatro dias de multiplicação intensa, ocorre a transformação em formas promastígotas delgadas e longas. • Por volta de três a cinco dias o alimento é digerido e excretado. Neste tempo, já são encontradas formas flageladas migrantes na porção torácica do intestino médio → ou seja, as formas flageladas estão migrando para uma parte mais alta do sistema digestivo do inseto. • Os parasitos migram para as porções anteriores do aparelho digestivo do inseto, seguida da invasão da faringe e probócide. • Ao exercer o hematofagismo, a fêmea do flebotomíneo corta com suas mandíbulas o tecido subcutâneo logo abaixo da epiderme, formando sob esta um afluo de sangue, onde são inoculadas as formas promastígotas metacídicas provenientes das regiões anteriores do trago digestivo: probóscida, cibário, faringe e esôfago. Bárbara Bernardes Magalhães – MED XV LEISHMANIOSE • A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma doença de caráter zoonótico que acomete o homem e diversas espécies de animais silvestres e domésticos, podendo se manifestar através de diferentes formas clínicas. • A forma cutânea localizada é caracterizada por lesões ulcerosas, indolores, únicas ou múltiplas; a forma cutaneomucosa é caracterizada por lesões mucosas agressivas que afetam as regiões nasofaríngeas; a forma disseminada apresenta múltiplas úlceras cutâneas por disseminação hematogênica ou linfática e, finalmente, a forma difusa com lesões nodulares não-ulceradas. • Após a picada do flebotomíneo → as leishmanias permanecem nos vasos da derme, pois o inóculo do mosquito nçao consegue ser tão profundo → provocam então lesões neste microambiente no qual as formas promastígotas metacíclicas encontrarão diversas substâncias, como proteínas do soro, saliva e fluidos digestivos do inseto. • A saliva do inseto contribui efetivamente na infecciosidade das formas promastígotas, por meio de substância vasodilatadora (Maxidilan). Essa substância imunossupressora parece inibir a apresentação de antígenos de Leishmania pelos macrófagos. • Ao serem fagocitadas, as promastígotas transformam-se em amastígotas e iniciam reprodução por divisões binárias sucessivas; mais macrófagos são atraídos ao sítio, onde se fixam e são infectados → lesão inicial é manifestada por um infiltrado inflamatório composto principalmente de linfócitos e de macrófagos na derme, estando estes últimos. PERÍODO DE INCUBAÇÃO • Corresponde ao tempo decorrido entre a picada do inseto e o aparecimento de lesão inicial, vana entre duas semanas e três meses. FORMAS CLÍNICAS • Apesar da ampla variedade de formas clínicas encontrada em pacientes com LTA, podemos agrupá-las em três tipos básicos: leishmaniose cutânea (LC), leishmaniose cutaneomucosa (LCM) e leishmaniose cutânea difusa (LCD). DIAGNÓSTICO • O diagnóstico clínico da LTA pode ser feito com base na característica da lesão que o paciente apresenta, associado a anarnnese, na qual os dados epidemiológicos são de grande importância. • Deve ser feito o diagnóstico diferencial de outras dermatoses granulomatosas que apresentam lesões semelhantes à LTA e que podem ser confundidas, como tuberculose cutânea, hanseníase, infecções por fungos, úlcera tropical e neoplasmas. • Diagnóstico Laboratorial → Exame histopatológico, cultura, Exame direto de esfregaços corados, PCR (reação em cadeia da polimerase) para identificar o DNA do parasito, Teste de Montenegro (avalia a reação de hipersensibilidade retardada do paciente e é utilizado para o diagnóstico ou para monitorização de programas de vacinação contra LTA → inocula- se uma fração do antígeno intradennicamente na face interna do braço. No caso de rações positivas, verifica-se o estabelecimento de uma reação inflamatória local formando um nódulo ou pápula, que desaparece horas depois). Bárbara Bernardes Magalhães – MED XV ___________________________________________________________________ → Helmintos → Schistosoma mansoni e a esquistossomose • A morfologia do S. mansoni deve ser estudada nas várias fases que podem ser encontradas em seu ciclo biológico: adulto - macho e fêmea -, ovo, miracídio, esporocisto e cercária. • Macho: mede cerca 1 cm; tem uma porção dorsal e ventral, onde encontra- se o canal ginecóforo, que possui dobras das laterais do corpo no sentido longitudinal para albergar e fecundá-la. • Fêmea: mede cerca de 1,5 cm; durante a cópula, prende-se à parte ventral do macho e recebe os espermatozoides na região da vulva, para ocorrer a fecundação. • Ovo: formato oval, e na parte mais larga apresenta um epísculo voltado para trás; o que caracteriza o ovo maduro é a visualização de um miracídio na parte interna do ovo, já que sua casca é transparente; o ovo maduro é a forma mais comumente encontrada nas fezes. • Miracídio: possui formato cilíndrico e tem células epidérmicas, onde se implantam os cílios, os quais permitem o movimento no meio aquático; na sua extremidade anterior apresenta uma papila apical, ou terebratorium, uma ventosa → nele encontram-se as terminações das glândulas adesivas, denominadas "glândulas de penetração", as terminações da glândula de penetração anteriormente denominada "tubo digestivo primitivo"e cílios maiores e espículos anteriores, importantes no processo de penetração nos moluscos; • Cercária: cauda bifurcada e possui duas ventosas → A ventosa oral apresenta as terminações das chamadas glândulas de penetração e a ventosa oral, por meio da qual fixa-se na pele do hospedeiro no processo de penetração. CICLO BIOLÓGICO • O Schistosoma mansoni, ao atingir a fase adulta de seu ciclo biológico no sistema vascular do homem e de outros mamíferos, alcança as veias mesentéricas, principalmente a veia mesentérica inferior, migrando contra a corrente circulatória → as fêmeas fazem a postura no nível da submucosa. • Cada fêmea põe cerca de 400 ovos por dia, na parede de capilares e vênulas → Os ovos colocados nos tecidos levam cerca de uma semana para tomarem-se maduros (miracídio formado → da submucosa chegam à luz intestinal. • Os prováveis fatores que promovem esta passagem são: o reação inflamatória: é o processo mais importante, já que em animais imunossuprimidos ocorre acúmulo de ovos nas paredes intestinais; o pressão dos ovos que são postos atrás ("bombeamento"); o enzimas proteolíticas produzidas pelo miracídio, lesando os tecidos; o adelgaçamento da parede do vaso, provocado pela distensão do mesmo com a presença do casal na sua luz; o a perfuração da parede venular, já debilitada pelos fatores anteriormente citados e auxiliada pela descamação epitelial provocada pela passagem do bolo fecal, e os ovos ganham o ambiente externo. Bárbara Bernardes Magalhães – MED XV • Essa migração demora dias; isto é, desde que o ovo é colocado, até que atinja a luz intestinal, decorre um período mínimo de seis dias, tempo necessário para a maturação do ovo. • Os ovos podem ficar presos na mucosa intestinal ou serem arrastados para o fígado → os ovos que conseguirem chegar à luz intestinal vão para o exterior junto com o bolo fecal e têm uma expectativa de vida de 24 horas (fezes líquidas) a cinco dias (fezes sólidas). • Na água → os ovos liberam o miracídio, estimulado pelos seguintes fatores: temperaturas mais altas, luz intensa e oxigenação da água. • Ocorre emissão de substâncias dos caramujos Biomphalaria glabrata que modifica o comportamento dos miracídio → estas substâncias estimulariam sua concentração e movimentação próximo ao estímulo, isto é, o caramujo. • O contato com o tegumento do molusco faz com que o terebratorium assuma a forma da ventosa, ocorrendo, quase que simultaneamente, a descarga do conteúdo das glândulas de adesão. • O miracídio agita-se intensamente, com movimentos contráteis e rotatórios, comandados pelas vibrações ciliares e pela ação da musculatura subepitelial → conteúdo da glândula de penetração é descarregado e as enzimas proteolíticas iniciam sua ação de digestão dos tecidos → A ação combinada dos intensos movimentos do miracídio e da ação enzimática constitui o elemento que permite a introdução do miracídio nos tecidos do molusco. • O epitélio é ultrapassado e a larva se estabelece no tecido subcutâneo. • A larva começa a perder diversas estruturas: perda das glândulas de adesão, degeneração do terebratorium, desaparecimento da musculatura subepitelial e do sistema nervoso → miracídio transforma-se em um saco com paredes cuticulares contendo a geração das células germinativas ou reprodutivas que recebe o nome de esporocisto. • Esporocistos → intensa multiplicação celular até a formação de um esporocisto secundário → As paredes desse esporocisto apresentam uma dupla camada muscular logo abaixo da camada cuticular, apresentando fibras musculares longitudinais e transversais → papel fundamental na motilidade e na capacidade de migração intratissular das larvas. • A migração processa-se ativamente através dos tecidos do molusco → A localização final dos esporocistos será nos espaços intertubulares da glândula digestiva, local com riqueza nutritiva → sofrem profundas modificações anatômicas no seu conteúdo de células germinativas. • Esses esporocistos vão apresentar 3 áreas estruturais → poro de nascimento; área com cercárias desenvolvidas e área com células embrionárias → prolongada eliminação de cercárias nos caramujos infectados, • Um único miracídio pode gerar de 100 a 300 mil cercárias. • A migração das cercárias faz-se tanto pelos espaços intercelulares, cheios de hemolinfa, como através do sistema venoso do caramujo → A emergência segue um ritmo circadiano, e a emergência cercariana é regida por fatores exógenos, cujos elementos sincronizadores são a luz e a temperatura. • Apesar de as cercárias poderem viver por 36 a 48 horas, sua maior atividade e capacidade de infecção ocorrem nas primeiras oito horas de vida. • As cercárias são capazes de penetrar na pele e nas mucosas → ao alcançarem a pele do homem, se fixam preferentemente entre os folículos pilosos com auxílio das duas ventosas e de uma substância mucoprotéica secretada por suas glândulas acetabulares. • Por ação Iítica (glândulas de penetração) e ação mecânica (movimentos vibratórios intensos), promovem a penetração do corpo cercariano e a concomitante perda da cauda. • Após a penetração, as larvas resultantes, denominadas esquistossômulos, adaptam-se as condições fisiológicas do meio interno, migram pelo tecido subcutâneo e, ao penetrarem num vaso, são levadas passivamente da pele até os pulmões, pelo sistema vascular sanguíneo, via coração direito. • Dos pulmões, os esquistossômulos se dirigem para o sistema porta via circulação sanguínea. • Uma vez no sistema porta intra-hepático, os esquistossômulos se alimentam e se desenvolvem transformando-se em machos e fêmeas 25- 28 dias após a penetração → migram, acasalados, para o território da veia mesentérica inferior, onde farão oviposição. • Os primeiros ovos são vistos nas fezes cerca de 42 dias após a infecção do hospedeiro. Bárbara Bernardes Magalhães – MED XV ESQUISTOSSOMOSE • A esquistossomose mansoni é basicamente uma doença que decorre da resposta inflamatória granulomatosa que ocorre em tomo dos ovos vivos do parasito. • Os antígenos são secretados principalmente pela membrana interna da casca do ovo maduro, chamada "envelope de Von Lichtenberg", que apresenta toda a maquinaria de síntese proteica, núcleo próprio, inúmeras mitocôndrias e uma extensa rede de reticulo endoplasmático rugoso indicando alto nível de síntese proteica. • Esses antígenos induzem tanto a resposta imunológica humoral quanto a celular e são os elementos fundamentais na formação da reação granulomatosa e, portanto, da doença. • Fase Pré-postural: cerca de 10-35 dias após a infecção; forma assintomática ou com sintomas (febre, problemas pulmonares (tosse), dores musculares, desconforto abdominal e um quadro de hepatite aguda). • Fase aguda: em torno de 50 dias e dura até cerca de 120 dias após a infecção; enterocolite aguda e necrose no fígado; formação de granulomas; doença aguda, febril, acompanhada de sudorese, calafrios, emagrecimento, fenômenos alérgicos, diarreia, disenteria, cólicas, tenesmo, hepatoesplenomegalia discreta, linfadenia, leucocitose com eosinofilia, aumento das globulinas e alterações discretas das funções hepáticas; • As lesões hepatoesplênicas são devidas principalmente a uma hipersensibilidade do hospedeiro aos antígenos solúveis secretados pelos ovos → hipersensibilidade é maior no início da infecção, decresce espontaneamente na fase crônica da doença. • Fase crônica: É importante ressaltar que o granuloma da fase crônica é benéfico para o paciente, apesar de parecer paradoxal, já que a esquistossomose é tipicamente uma imunopatologia, pois em indivíduos e animais imunossuprimidos não ocorre reação granulomatosa, mas existe uma extensa área de necrose coliquativa em tomo do ovo, devido a enzimas proteolíticas produzidas pelo miracídio. • Ascite (barriga d’água): este achado clínico é visto nas formas hepatoesplênicas mais graves e decorre das alterações hemodinâmicas,principalmente a hipertensão. • Diagnóstico: exame de fezes, teste de Montenegro, método imunoenzimático ou ELISA, PCR, etc. → Teníase e cisticercose • Os cestódeos mais frequentemente encontrados parasitando os humanos pertencem a família Taenidae, na qual são destacadas Taenia solium e T. saginata. • Complexo teníase-cisticercose → teníase é uma alteração provocada pela presença da forma adulta da Taenia solium ou da T. saginata no intestino delgado do hospedeiro definitivo, os humanos; já a cisticercose é a alteração provocada pela presença da larva nos tecidos de hospedeiros intermediários normais, respectivamente suínos e bovinos. Hospedeiros anômalos, como cães, gatos, macaco e humanos, podem albergar a forma larvar da T. solium. • Verme adulto: verme achatado em forma de fita, dividido em escólex ou cabeça, colo ou pescoço e estróbilo ou corpo. • Tanto a T. solium como a T.saginata, na fase adulta ou reprodutiva, vivem no intestino delgado humano; já o cisticerco da 7: solium é encontrado no tecido subcutâneo, muscular, cardíaco, cerebral e no olho de suínos e acidentalmente em humanos e cães. O cisticerco da T. saginata é encontrado nos tecidos dos bovinos. Bárbara Bernardes Magalhães – MED XV CICLO BIOLÓGICO • Os humanos parasitados eliminam as proglotes grávidas cheias de ovos para o exterior. • Mais frequentemente as proglotes se rompem no meio externo, por efeito da contração muscular ou decomposição de suas estruturas, liberando milhares de ovos no solo. • Um hospedeiro intermediário próprio (suíno para T. solium e bovino para T saginata) ingere os ovos, e os embrióforos (casca de ovo) no estômago sofrem a ação da pepsina, que atua sobre a substância cementante dos blocos de quitina. • No intestino, as oncosferas sofrem a ação dos sais biliares, que são de grande importância na sua ativação e liberação → as oncosferas liberam- se do embrióforo e movimentam-se no sentido da vilosidade, onde penetram com auxílio dos acúleos → Permanecem nesse local durante cerca de quatro dias para adaptarem-se As condições fisiológicas do novo hospedeiro → penetram nas vênulas e atingem as veias e os linfáticos mesentéricos → são transportadas por via sanguínea a todos os órgãos e tecidos do organismo até atingirem o local de implantação por bloqueio do capilar → atravessam a parede do vaso, instalando-se nos tecidos circunvizinhos. • As oncosferas desenvolvem-se para cisticercos em qualquer tecido mole (pele, músculos esqueléticos e cardíacos, olhos, cérebro etc.), mas preferem os músculos de maior movimentação e com maior oxigenação (masseter, língua, coração e cérebro). • No interior dos tecidos, perdem os acúleos e cada oncosfera transforma- se em um pequeno cisticerco delgado e translúcido, que começa a crescer. • Permanecem viáveis nos músculos por alguns meses e o cisticerco da T. solium, no SNC, alguns anos. • A infecção humana ocorre pela ingestão de carne crua ou malcozida de porco ou de boi infectado. • O cisticerco ingerido sofre a ação do suco gástrico, evagina-se e fixa-se, através do escólex, na mucosa do intestino delgado, transformando- se em uma tênia adulta, que pode atingir até oito metros em alguns meses. • Três meses após a ingestão do cisticerco, inicia-se a eliminação de proglotes grávidas. • Teníase: o hospedeiro definitivo (humanos) infecta-se ao ingerir carne suína ou bovina, crua ou malcozida, infetada, respectivamente, pelo cisticerco de cada espécie de Taenia. • A cisticercose humana é adquirida pela ingestão acidental de ovos viáveis da T. solium que foram eliminados nas fezes de portadores de teníase. → Auto-infecção externa (fezes da própria pessoa com teníase), Auto- infecção interna (vômito ou movimentos retroperistálticos do intestino da pessoa com teníase) Heteroinfecção (ingestão de alimentos ou água contaminados com os ovos da T. solium disseminados no ambiente através das dejeções de outro paciente). • Diagnóstico: é feito pela pesquisa de proglotes e, mais raramente, de ovos de tênia nas fezes pelos métodos rotineiros. → Himenolepíase (Hymenolepis nana) • Os vermes adultos medem cerca de 3 a 5cm, com 100 a 200 proglotes bastante estreitas. Cada um destes possui genitália masculina e feminina. • O escólex apresenta quatro ventosas e um rostro retrátil armado de ganchos. • Possuem ovos esféricos, transparentes e incolores com uma membrana interna com duas “manchas” claras em posições opostas no ovo. • O verme adulto é encontrado no intestino delgado, principalmente íleo e jejuno do homem. Os ovos são encontrados nas fezes e a larva cisticercóide pode ser encontrada nas vilosidades intestinais do próprio homem ou na cavidade geral do inseto hospedeiro intermediário (pulgas e carunchos de cereais). • Ciclo monoxêmico: os ovos são eliminados juntamente com as fezes e podem ser ingeridos por alguma criança. Ao passarem pelo estômago, os embrióforos são semidigeridos pelo suco gástrico; daí chegam ao intestino delgado onde ocorre a eclosão da oncosfera, que penetra nas vilosidades do jejuno ou íleo, dando, em quatro dias, uma larva cisticercóide → dez dias depois a larva está madura, sai da vilosidade, desenvagina-se e fixa-se a mucosa intestinal através do escólex. Cerca de 20 dias depois já são vermes adultos. Esses possuem uma vida curta, pois cerca de 14 dias depois morrem e são eliminados. Bárbara Bernardes Magalhães – MED XV • Ciclo heteroxênico: os ovos presentes no meio externo são ingeridos pelas larvas de algum dos insetos (pulga ou caruncho de cereais). Ao chegarem ao intestino desses hospedeiros intermediários, liberam a oncosfera, que se transforma em larva cisticercóide → a criança pode acidentalmente ingerir um inseto contendo larvas cisticercóides que, ao chegarem ao intestino delgado, desenvaginam-se, fixam-se à mucosa e 20 dias depois já são vermes adultos. • O mecanismo mais frequente de transmissão é a ingestão de ovos presentes nas mãos ou em alimentos contaminados. • As infecções humanas não são usualmente acompanhadas por manifestações clínicas. O aparecimento de perturbações está associado à idade do paciente e ao número de vermes albergados. Os sintomas atribuídos as crianças são: agitação, insônia, irritabilidade, diarreia, dor abdominal, raramente ocorrendo sintomas nervosos, dos quais os mais penosos são ataques epilépticos em formas várias, incluindo cianose, perda de consciência e convulsões. • Em geral os pacientes com himenolepíase costumam apresentar remissão dos sintomas espontaneamente, sem tratamento. Esse processo ocorre devido a eliminação dos vermes por vários mecanismos de defesa. → Ascaridíase (Ascaris lumbricoides) • Em infecções moderadas, os vermes adultos são encontrados no intestino delgado, principalmente no jejuno e íleo, mas, em infecções intensas, estes podem ocupar toda a extensão do intestino delgado. Podem ficar presos à mucosa, com auxílio dos lábios ou migrarem pela luz intestinal. CICLO BIOLÓGICO • O ciclo é do tipo monoxênico → Cada fêmea fecundada é capaz de colocar, por dia, cerca de 200.000 ovos não-embrionados, que chegam ao ambiente juntamente com as fezes. • A primeira larva (L1) forma dentro do ovo e é do tipo rabditóide, isto é, possui o esôfago com duas dilatações, uma em cada extremidade e uma constrição no meio → essa larva sofre muda transformando-se em L2 e, em seguida, nova muda transformando-se em L3 infectante com esôfago tipicamente filarióide (esôfago retilíneo). • Estas formas permanecem infectantes no solo por vários meses podendo ser ingeridas pelo hospedeiro → Após a ingestão, os ovos contendo a L3 atravessam todo o trato digestivo e as larvas eclodem no intestino delgado. • A eclosão ocorre graças a fatores ou estímulos fornecidos pelo próprio hospedeiro, como a presença de agentes redutores, o pH, a temperatura, os sais e, o mais importante, a concentração CO, cuja ausência inviabiliza a eclosão. • As larvas, umavez liberadas, atravessam a parede intestinal na altura do ceco, caem nos vasos linfáticos e nas veias e invadem o fígado entre 18 e 24 horas após a infecção. • Em dois a três dias chegam ao coração direito, através da veia cava inferior ou superior e quatro a cinco dias após são encontradas nos pulmões (ciclo de LOSS). • Cerca de oito dias da infecção, as larvas sofrem mudança para L4, rompem os capilares e caem nos alvéolos, onde mudam para L5 → sobem pela árvore brônquica e traqueia, chegando até a faringe. • Podem então ser expelidas com a expectoração ou serem deglutidas, atravessando incólumes o estômago e fixando-se no intestino delgado. Transformam-se em adultos jovens 20 a 30 dias após a infecção. • Em 60 dias alcançam a maturidade sexual, fazem a cópula, ovipostura e já são encontrados ovos nas fezes do hospedeiro. Os vermes adultos têm uma longevidade de um a dois anos. • A transmissão ocorre através da ingestão de água ou alimentos conta- minados com ovos contendo a L3. • Os ovos de A. lumbricoides têm uma grande capacidade de aderência a superfícies, o que representa um fator importante na transmissão da parasitose. Uma vez presente no ambiente ou em alimentos, estes ovos não são removidos com facilidade por lavagens. • Diagnóstico: a parte clínica é pouco significante, uma vez que o paciente com ascaridíase não apresenta muitos sintomas. Já na parte laboratorial, o diagnóstico é feito por meio de pesquisa de ovos nas fezes. Bárbara Bernardes Magalhães – MED XV → Ancilostomose (família Ancylostomidae) • Apenas três espécies dessa família são agentes etiológicos das ancilostomoses humanas: Ancylostoma duodenale, Necator americanus e Ancylostoma ceylanicum. CICLO BIOLÓGICO • Os ancilostomídeos, como muitos outros nematoides parasitos, apresentam um ciclo biológico direto, não necessitando de hospedeiros intermediários. • Durante o desenvolvimento, duas fases são bem definidas: a primeira, que se desenvolve no meio exterior, é de vida livre, e a segunda, que se desenvolve no hospedeiro definitivo, obrigatoriamente de vida parasitária. • Os ovos dos ancilostomídeos depositados pelas fêmeas (após a cópula), no intestino delgado do hospedeiro, são eliminados para o meio exterior através das fezes. • No meio exterior, os ovos necessitam de um ambiente propício → boa oxigenação, alta umidade (> 90%) e temperatura elevada → São condições indispensáveis para que se processe a embrionia, formação da larva de primeiro estádio (L1), do tipo rabditóide, e sua eclosão. • No ambiente, a L1 recém-eclodida, apresenta movimentos serpentiformes e se alimenta de matéria orgânica e microrganismos (por via oral), devendo, em seguida, perder a cutícula externa, após ganhar uma nova, transformando-se em larva de segundo estádio (L2), que é também do tipo rabditóide. • Depois a L2, que também tem movimentos serpentiformes e se alimenta de matéria orgânica e microrganismos, começa a produzir uma nova cutícula, internamente, que passa a ser coberta pela cutícula velha (agora cutícula externa) passando então a se transformar em larva de terceiro estágio L3, do tipo filarióide, denominada larva infectante. • A L3, por apresentar uma cutícula externa que oblitera (fecha) a cavidade bucal, não se alimenta, mas tem movimentos serpentiformes que facilitam a sua locomoção. • A L3 é a única forma dos ancilostomídeos infectante para o hospedeiro, penetrando ativamente, através da pele, conjuntiva e mucosas, ou passivamente, por via oral. • Quando a infecção é ativa, as L3, ao contatarem o hospedeiro, são estimuladas por efeitos térmicos e químicos, iniciam o processo de penetração, escapando da cutícula externa → ajudadas pelos seus movimentos serpentiformes, de extensão e contração → começam a produzir enzimas, semelhantes a colagenase, que facilitam o seu acesso através dos tecidos do hospedeiro. • Da pele, as larvas alcançam a circulação sanguínea e/ou linfática, e chegam ao coração, indo pelas artérias pulmonares, para os pulmões → atingindo os alvéolos, as larvas migram para os bronquíolos, com auxílio de seus movimentos, secreções e cílios da árvore brônquica → dos brônquios atingem a traqueia, faringe e laringe quando, então, são ingeridas, alcançando o intestino delgado, seu hábitat final. • Durante a migração pelos pulmões, que dura de dois a sete dias, a larva perde a cutícula e adquire uma nova, transformando-se em larva do quarto estádio (L4). • Ao chegar no intestino delgado, após oito dias da infecção, a larva começa a exercer o parasitismo hematófago, fixando a cápsula bucal na mucosa do duodeno. • A transformação da L4 em larva de quinto estádio (L5) ocorre aproximadamente 15 dias após a infecção, e a diferenciação de L5 em adultos ocorre após 30 dias da infecção. • Os espécimes adultos, exercendo o hematofagismo, iniciam a cópula, seguida de postura. • Quando a penetração das L, é por via oral, principalmente através de ingestão de alimentos ou água, as L3 perdem a cutícula externa no estômago (por ação de suco gástrico e pH) depois de dois a três dias da infecção, e migram para o intestino delgado. • A altura do duodeno, as larvas penetram na mucosa, atingindo as células de Lieberkühn, onde mudam para L4, após cerca de cinco dias da infecção → em seguida, as larvas voltam a luz do intestino, se fixam a mucosa e iniciam o repasto sanguíneo, devendo depois mudar para L5 no transcurso de 15 dias da infecção. Bárbara Bernardes Magalhães – MED XV • Com a diferenciação de L5 em adultos, a cópula tem início e os ovos logo em seguida começam a ser postos, sendo eliminados através das fezes. • A ancilostomose é determinada por etiologia primária ou secundária → a causa primária está relacionada com a migração das larvas e a implantação dos parasitos adultos no intestino delgado do hospedeiro → quanto a etiologia secundária, em razão da permanência dos parasitos no intestino delgado, vários fenômenos fisiológicos, bioquímicas e hematológicos estão associados. • As larvas de ancilostomídeos podem provocar, no local de penetração, lesões traumáticas, seguidas por fenômenos vasculares. • Alterações pulmonares, resultantes da passagem das larvas, são pouco usuais, embora possa ocorrer tosse de longa ou curta duração e febrícula. • Há registro de dor epigástrica, diminuição de apetite, indigestão, cólica, indisposição, náuseas, vômitos, flatulências, às vezes, podendo ocorrer diarreia sanguinolenta ou não e, menos frequente, constipação. → Tricuríase (Trichuris trichiura) • Ovos: apresentam um formato elíptico característico com poros salientes e transparentes em ambas extremidades, preenchidos por material lipídico. • Os adultos de T. trichiura são parasitos de intestino grosso de humanos, e em infecções leves ou moderadas, estes vermes habitam principalmente o ceco e cólon ascendente do hospedeiro. • T. trichiura é um parasito tissular, pois toda a região esofagiana do parasito penetra na camada epitelial da mucosa intestinal do hospedeiro, onde se alimenta principalmente de restos dos enterócitos lisados pela ação de enzimas proteolíticas secretadas pelas glândulas esofagianas do parasito (esticócitos). • A porção posterior de 7: trichiura permanece exposta no lúmen intestinal, facilitando a reprodução e a eliminação dos ovos. CICLO BIOLÓGICO • É do tipo monoxeno; fêmeas e machos que habitam o intestino grosso se reproduzem sexuadamente e os ovos são eliminados para o meio externo com as fezes. • O embrião contido no ovo recém-eliminado se desenvolve no ambiente para se tomar infectante. • Os ovos infectantes podem contaminar alimentos sólidos e líquidos, podendo, assim, serem ingeridos pelo homem. • As larvas de T. trichiura eclodem através de um dos poros presentes nas extremidades do ovo, no intestino delgado do hospedeiro. • O processo de eclosão das larvas do parasito é estimulado pela exposição sequencial dos ovos aoscomponentes do suco gástrico e do suco pancreático. • As larvas inicialmente penetram no epitélio da mucosa intestinal na região duodenal, pela base das criptas de Lieberkühn, permanecendo nesta localidade por cinco a dez dias, e posteriormente estas larvas ganham a luz intestinal e migram para região cecal onde completam seu desenvolvimento. • O crescimento e desenvolvimento dos vermes levam ao rompimento das células epiteliais e a exposição da porção posterior do corpo de T. trichiura à luz intestinal do hospedeiro. • Os ovos de T. trichiura eliminados com as fezes do hospedeiro infectado contaminam o ambiente, em locais sem saneamento básico. • Como os ovos são extremamente resistentes as condições ambientais, podem ser disseminados e pelo vento ou pela água e contaminar os alimentos sólidos sendo, então, ingeridos pelo hospedeiro. • Ovos de trichiura também podem ser disseminados mosca doméstica que transportam os ovos na superfície externa do corpo, do local onde as fezes foram depositadas até o alimento. • A gravidade da tricuríase depende da carga parasitária, mas também tem importante influência de fatores, como idade do hospedeiro, estado nutricional, vermes adultos no intestino. • Em geral, observa-se uma correlação positiva entre intensidade da infecção e gravidade da sintomatologia → a maioria dos pacientes com infecções leves é assintomática ou apresenta sintomatologia intestinal discreta enquanto os pacientes com infecção moderada apresentam graus variados de sintomas, como dores de cabeça, dor epigástrica e no baixo abdômen, diarreia, náusea e vômitos. • Em infecções intensas e crônicas, o parasito se distribui por todo o intestino grosso, atingindo também a porção dista1 do íleo e reto. Bárbara Bernardes Magalhães – MED XV • O diagnóstico específico da tricuríase é geralmente realizado pela demonstração dos ovos do parasito nas fezes. → Estrongiloidíase (Strongyloides stercoralis) • As fêmeas partenogenéticas em seu hábitat normal localizam-se na parede do intestino, mergulhadas nas criptas da mucosa duodenal, principalmente nas glândulas de Lieberkühn e na porção superior do jejuno, onde fazem as posturas. • Nas formas graves, são encontradas da porção pilórica do estômago até o intestino grosso. CICLO BIOLÓGICO • As larvas rabditoides eliminadas nas fezes do indivíduo parasitado podem seguir dois ciclos: o direto (ou partenogenético) e o indireto (sexuado ou de vida livre) ambos monoxênicos. • Isto ocorre devido a constituição genética das fêmeas partenogenéticas, parasitas que são triploides (3n) e podem produzir, simultaneamente, três tipos de ovos, dando origem a três tipos de larvas rabditoides: o Larvas rabditoides triploides (3n) que se transformam em larvas filarioides triploides infectantes, completando o ciclo direto; o Larvas rabditoides diploides (2n) que originam as fêmeas de vida livre; o Larvas rabditoides haploides (1n) que evoluem para macho de vida livre, estas duas últimas completam um ciclo indireto; • No ciclo direto as larvas rabditoides no solo ou sobre a pele da região perineal, após 24 a 72 horas, se transformam em larvas filarióides infectantes. • No ciclo indireto as larvas rabditoides sofrem quatro transformações no solo e após 18 a 24 horas, produzem fêmeas e machos de vida livre. • Os ovos originados do acasalamento das formas adultas de vida livre serão triploides, e as larvas rabditoides evoluem para larvas filarióides (3n) infectantes. • As larvas filarióides não se alimentam e devido à ausência de bainha, são menos resistentes que as larvas filarióides dos ancilostomídeos, podendo permanecer no solo durante quatro semanas. • Os ciclos direto e indireto se completam pela penetração ativa das larvas L3 na pele ou mucosa oral, esofágica ou gástrica do hospedeiro → Estas larvas secretam melanoproteases, que as auxiliam, tanto na penetração quanto na migração através dos tecidos. • Algumas morrem no local, mas o ciclo continua pelas larvas que atingem a circulação venosa e linfática e através destes vasos seguem para o coração e pulmões → Chegam aos capilares pulmonares, onde se transformam em L4, atravessam a membrana alveolar e, através de migração pela árvore brônquica, chegam à faringe → Podem ser expelidas pela expectoração, que provocam, ou serem deglutidas, atingindo o intestino delgado, onde se transformam em fêmeas partenogenéticas. • Os ovos são depositados na mucosa intestinal e as larvas alcançam a luz intestinal. • O período pré-patente, isto é, o tempo decorrido desde a penetração da larva filarioide na pele até que ela se tome adulta e comece a eliminar ovos Bárbara Bernardes Magalhães – MED XV larvados, e eclosão das larvas no intestino, é de aproximadamente 15 a 25 dias. FORMAS DE TRANSMISSÃO • Hetero ou primo-infecção o Larvas filarióides infectantes (L3) penetram usualmente através da pele (não tendo preferência por um ou outro ponto do tegumento), ou, ocasionalmente, através das mucosas, principalmente da boca e do esôfago. • Autoinfecção Externa o Larvas rabditoides presentes na região perianal de indivíduos infectados transformam-se em larvas filarióides infectantes e aí penetram completando o ciclo direto. o Este modo de infecção pode ocorrer em crianças, idosos ou pacientes internados que defecam na fralda, roupa ou ainda em indivíduos, que, por deficiência de higiene, deixam permanecer restos de fezes em pelos perianais. • Autoinfecção Interna o Larvas rabditoides, ainda na luz intestinal de indivíduos infectados, transformam-se em larvas filarióides, que penetram na mucosa intestinal (íleo ou cólon). QUADRO CLÍNICO • Indivíduos portadores de pequeno número de parasitos no intestino geralmente são assintomáticos ou oligossintomáticos, mas isso não significa ausência de ação patogênica e de lesões. • Formas graves, as vezes fatais, relacionam-se com fatores extrínsecos, principalmente pela carga parasitária adquirida e com fatores intrínsecos (subalimentação com carência de proteínas provocando enterite; ocorrência de diarreia e vômitos facilitando os mecanismos de autoinfecção; alcoolismo crônico, infecções parasitárias e bacterianas associadas; comprometimento da resposta imunitária natural ou adquirida. • Para diagnóstico, os métodos parasitológicos ou diretos se fundamentam no encontro das formas evolutivas de S. stercoralis. • Entre os métodos indiretos, destacam-se os imunológicos, que podem ser utilizados como testes de screening, e quando positivos, realiza-se a pesquisa do parasito. → Enterobiose (Enterobius vermicularis) • Esse helminto é popularmente conhecido como "oxiúros". • Machos e fêmeas vivem no ceco e apêndice. • As fêmeas, repletas de ovos (5 a 16 mil ovos), são encontradas na região perianal. • Em mulheres, as vezes pode-se encontrar esse parasito na vagina, útero e bexiga. CICLO BIOLÓGICO • É do tipo monoxênico → após a cópula, os machos são eliminados com as fezes e morrem. • As fêmeas, repletas de ovos, se desprendem do ceco e dirigem-se para o ânus (principalmente à noite). • Alguns autores suspeitam que elas realizam oviposição na região perianal, mas a maioria afirma que a fêmea não é capaz de fazer postura dos ovos → os ovos seriam eliminados por rompimento da fêmea, devido a algum traumatismo ou dessecamento → a fêmea se assemelha a um "saco de ovos", com a cutícula extremamente distendida → o seu rompimento se torna mais fácil. • Os ovos eliminados, já embrionados, se tomam infectantes em poucas horas e são ingeridos pelo hospedeiro. • No intestino delgado, as larvas rabditoides eclodem e sofrem duas mudas no trajeto intestinal até o ceco → ao chegarem no ceco, tornam-se vermes adultos. • Um a dois meses depois as fêmeas são encontradas na região perianal → Não havendo reinfecção, o parasitismo extingue-se aí. FORMAS DE TRANSMISSÃO • Heteroinfecção: quando ovos presentes na poeira ou alimentosatingem novo hospedeiro (é também conhecida como primoinfecção); Bárbara Bernardes Magalhães – MED XV • Indireta: quando ovos presentes na poeira ou alimentos atingem o mesmo hospedeiro que os eliminou; • Autoinfecção externa ou direta: a criança (frequentemente) ou o adulto (raramente) levam os ovos da região perianal a boca. É o principal mecanismo responsável pela cronicidade dessa verminose; • Autoinfecção interna: parece ser um processo raro no qual as larvas eclodem ainda dentro do reto e depois migrariam até o ceco, transformando-se em vermes adultos; • Retro infecção: as larvas eclodem na região perianal (externamente), penetram pelo ânus e migram pelo intestino grosso chegando até o ceco, onde se transformam em vermes adultos; QUADRO CLÍNICO • O parasitismo passa despercebido pelo paciente → só nota que alberga o verme quando sente ligeiro prurido anal (a noite, principalmente) ou quando vê o verme nas fezes. • A alteração mais intensa e mais frequente é o prurido anal. • A mucosa local mostra-se congesta, recoberta de muco contendo ovo e, às vezes, fêmeas inteiras. • O ato de coçar a região anal pode lesar ainda mais o local, possibilitando infecção bacteriana secundária. • O prurido ainda provoca perda de sono, nervosismo e, devido à proximidade dos órgãos genitais, pode levar à masturbação e erotismo, principalmente em meninas. DIAGNÓSTICO • O exame de fezes não funciona para essa verminose intestinal. O melhor método é o da fita adesiva (transparente) ou método de Graham. • Apõe-se várias vezes a fita na região perianal → coloca-se a fita (como se fosse uma lamínula) sobre uma lâmina de vidro → leva-se ao microscópio e examina-se a amostra para buscar exemplares de Enterobius vermicularis. → Filariose linfática (Wuchereria bancrofti) • Essa enfermidade é endêmica em várias regiões de muita pobreza e com clima tropical ou subtropical na Ásia, África e Américas. • A filariose linfática no continente americano é causada exclusivamente pela W. bancrofti, sendo também conhecida como elefantíase, em uma de suas manifestações na fase crônica. • Vermes adultos machos e fêmeas permanecem, juntos nos vasos e gânglios linfáticos humanos, vivendo, em média, quatro a oito anos. • As regiões do corpo humano que normalmente abrigam as formas adultas são: pélvica (atingindo pernas e escroto), mamas e braços (mais raramente) → São frequentemente localizados nos vasos linfáticos do cordão espermático, causando aumento e dano escrotal. • As microfilárias eliminadas pela fêmea grávida saem dos ductos linfáticos e ganham a circulação sanguínea do hospedeiro. • Uma característica peculiar deste parasito é a periodicidade noturna de suas microfilárias no sangue periférico do hospedeiro humano → durante o dia, essas formas se localizam nos capilares profundos, principalmente nos pulmões, e, durante a noite, aparecem no sangue periférico, apresentando o pico da microfilaremia em tomo da meia- noite, decrescendo novamente no final da madrugada. • O pico da microfilaremia periférica coincide com o horário preferencial de hematofagismo do principal inseto transmissor, o Culex quinquefasciatus. CICLO BIOLÓGICO • É do tipo heteroxênico. • A fêmea do Culex quinquefasciatus, ao exercer o hematofagismo em pessoas parasitadas, ingere microfilárias que no estômago do mosquito. • Após poucas horas, perdem a bainha → atravessam a parede do estômago do inseto→ caem na cavidade geral e migram para o tórax, onde se alojam nos músculos torácicos e transformam-se em uma larva, a larva salsichóide ou L1. • Seis a dez dias após o repasto infectante, ocorre a primeira muda originando a L2 → 10-15 dias depois, sofre a segunda muda Bárbara Bernardes Magalhães – MED XV transformando-se em larva infectante (L3), que migra pelo inseto até alcançar a probóscida (aparelho picador), concentrando-se no lábio do mosquito. • Quando o inseto vetor vai fazer novo repasto sanguíneo, as larvas L3 escapam do lábio, penetram pela solução de continuidade da pele do hospedeiro (não são inoculadas pelos mosquitos) → migram para os vasos linfáticos, tornam-se vermes adultos e, sete a oito meses depois, as fêmeas grávidas produzem as primeiras microfilárias (período pré-patente longo). • A transmissão ocorre unicamente pela picada do inseto vetor (fêmea Culex quinquefasciatus) e deposição das larvas infectantes na pele lesada das pessoas. QUADRO CLÍNICO • As quatro principais formas clínicas da filariose linfática são: assintomática ou doença subclínica; manifestações agudas; manifestações crônicas; e eosinofilia pulmonar tropical (EPT). • Indivíduos assintomáticos são aqueles com microfilárias no sangue e sem sintomatologia aparente →, mas, com a linfocintigrafia e ultrassonografia, tem-se verificado que esses assintomáticos apresentam doença subclínica com danos nos vasos linfáticos (dilatação e proliferação do endotélio) ou no sistema renal (hematúria microscópica), merecendo atenção médica precoce. • Manifestações agudas: principalmente: linfangite retrógrada localizada principalmente nos membros e adenite, associadas a febre e mal-estar → as linfangites agudas têm curta duração e evoluem no sentido da raiz do membro para a extremidade. • Manifestações crônicas: linfedema, hidrocele, quilúria e elefantíase, e iniciam-se, em geral, alguns anos após o início dos ataques agudos em moradores de áreas endêmicas → A elefantíase geralmente se localiza nos membros inferiores e na região escrotal, e está associada a episódios inflamatórios recorrentes. • Alguns pacientes também podem apresentar comprometimento renal (quilúria). • A eosinofilia pulmonar tropical (EPT) é uma síndrome caracterizada por sintomas de asma brônquica, sendo uma manifestação relativamente rara. • As lesões dos vasos linfáticos pelos vermes podem ocorrer por: o Ação mecânica: A presença de vermes adultos dentro de um vaso linfático pode provocar os seguintes distúrbios: estase linfática com linfangiectasia (dilatação dos vasos linfáticos); derramamento linfático ou linforragia. o Ação irritativa: A presença dos vermes adultos dentro dos vasos linfáticos, bem como dos produtos oriundos do seu metabolismo ou de sua desintegração após a morte, provoca fenômenos inflamatórios. → linfangite retrógrada (inflamação dos vasos) e adenite (inflamação e hipertrofia dos gânglios linfáticos). DIAGNÓSTICO • A técnica a mais utilizada é a gota espessa preparada com 20 a 100uL de sangue colhido por punção capilar digital, entre as 22-24 horas para rastreio de microfilárias. → Filariose linfática (Onchocerca volvulus) • Os parasitos vivem enovelados em oncocercomas ou nódulos fibrosos subcutâneos. • subcutâneos. • Há, geralmente, um casal de vermes adultos em cada nódulo → sua localização é variável: nos pacientes do México e da Guatemala, os nódulos são encontrados principalmente no couro cabeludo; na Venezuela, Colômbia e em países da África, são vistos no tronco, nádegas e cotovelos; • No Brasil → a localização dos oncocercomas depende da região endêmica → nas regiões montanhosas, onde o vetor é o Simulium guianense, os nódulos são mais frequentes da cintura para baixo, local da picada dos insetos → nos vales do rio Toototobi, onde o vetor é o S. oyapockense, que pica no tórax, pescoço e cabeça, os oncocercomas são mais frequentes nestas partes do corpo. • Um casal de vermes adultos vive aproximadamente 14 anos. CICLO BIOLÓGICO Bárbara Bernardes Magalhães – MED XV • É do tipo heteroxênico e ocorre entre humanos e dípteros do gênero Simulium, popularmente conhecidos como "borrachudo". • As fêmeas destes dípteros são hematófagas, mas sugam também o liquido tissular, ocasião em que ingerem as microfilárias que irão se desenvolver até larva infectante (L3). • Este desenvolvimento no hospedeiro invertebrado ocorre em cerca de 10 a 12 dias em condições adequadas de temperatura. • As larvasinfectantes alcançam a probóscida do vetor e, na ocasião de um repasto sanguíneo, irão atingir um novo hospedeiro, dando origem a vermes adultos no tecido subcutâneo, aproximadamente um ano após a infecção. • Os helmintos são envolvidos por uma cápsula de tecido fibroso, formando os nódulos subcutâneos (oncocercomas). • Enquanto os parasitos estão vivos, o maior problema do oncocercoma é estético. Quando estes vermes morrem, há intenso processo inflamatório, dor, calcificação e aparecimento de fibrose. • Dermatite oncocercosa → É causada, principalmente, pela migração das microfilárias através do tecido conjuntivo da pele. • As microfilárias podem cair na corrente sanguínea via sistema linfático e se disseminar para várias partes do corpo, sendo encontradas nos glomérulos renais (podendo ser eliminadas pela urina), liquido cérebro-espinhal, atingindo a glândula pituitária, nervo óptico, cerebelo. DIAGNÓSTICO • O melhor método é a retirada de um fragmento superficial da pele ("retalho cutâneo") da região escapular elou do quadril ou da região do corpo mais afetada para análise laboratorial.
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