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Estado,sociedade e movimentos sociais

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Prévia do material em texto

ESTADO, 
SOCIEDADE E 
MOVIMENTOS 
SOCIAIS
Professor Dr. Éder Rodrigo Gimenes
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; GIMENES, Éder Rodrigo.
Estado, Sociedade e Movimentos Sociais. Éder Rodrigo Gimenes.
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. Reimpresso em 2021.
184p.
“Graduação - EaD”.
1. Estado 2. Sociedade . 3. Movimentos Sociais 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-1145-6
CDD - 22 ed. 362
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Diretoria de Pós-graduação e Graduação
Kátia Coelho
Diretoria de Permanência 
Leonardo Spaine
Direção de Operações
Chrystiano Minco�
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Supervisão do Núcleo de Produção 
de Materiais
Nádila Toledo
Supervisão Operacional de Ensino
Luiz Arthur Sanglard
Coordenador de Conteúdo
Marcia de Souza
Designer Educacional
Janaína de Souza Pontes
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
Thayla Daiany Guimarães Cripaldi
Qualidade Textual
Produção de Materiais
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos 
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade, 
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos 
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e 
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos 
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: 
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, 
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos 
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e 
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros 
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por 
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma 
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos 
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos 
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades 
de todos. Para continuar relevante, a instituição 
de educação precisa ter pelo menos três virtudes: 
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de 
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam 
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes 
áreas do conhecimento, formando profissionais 
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de 
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com 
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica 
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando 
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em 
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado 
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal 
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o 
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento 
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns 
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe 
de professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
CU
RR
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Professor Dr. Éder Rodrigo Gimenes
Doutor em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina 
(UFSC), com Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de 
Maringá (UEM). Segundo Líder do grupo de pesquisa “Cultura Política, 
Comportamento e Democracia” (UEM/CNPq), pesquisador do grupo de 
pesquisa “Núcleo de Pesquisa em Movimentos Sociais” (NPMS - UFSC/
CNPq) e do “Núcleo de Pesquisas em Participação Política” (NUPPOL - UEM). 
Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais 
e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Políticas 
Públicas da UEM, docente no Centro Universitário Cesumar (CESUMAR), com 
atuação na graduação e pós-graduação Lato sensu, em aulas presenciais e 
à distância. É graduado em Ciências Contábeis e em Ciências Sociais pela 
UEM e especialista em Gestão Pública pelo Instituto Superior de Educação 
do Paraná (INSEP) e em Contabilidade e Controle de Gestão pela UEM. Tem 
experiência na organização e análise de dados quantitativos e desenvolve 
pesquisas relacionadas a comportamento político e opinião pública, 
atuando principalmente nos seguintes temas: atitudes e valores políticos, 
comportamento político, participação política e partidarismo. Desenvolve 
ainda cursos e atividades de extensão relacionados à metodologia 
quantitativa de análise de dados. Autor de “Eleitores e partidos políticos na 
América Latina” e organizador de “Participação política e democracia no Brasil 
contemporâneo”.
CV: http://lattes.cnpq.br/1358973527170925
SEJA BEM-VINDO(A)!
Seja bem-vindo(a) ao estudo sobre Estado, sociedade e movimentos sociais!
Este material didático foi elaborado com o objetivo de promover o conhecimento, a in-
terpretação, a análise, a reflexão e a construção de um posicionamento crítico e passível 
de ser convertido em ações e atuação de sua parte, acadêmico(a)!
Ao longo das cinco unidades deste material, trataremos dos três grandes eixos temáti-
cos que dão nome a esta disciplina e, mais do que conceituá-los ou pensarmos sobre 
cada um em separado, verificamos como o Estado, a sociedade e os movimentos sociais 
se relacionaram ao longo da história e dialogam na contemporaneidade.
Nesse sentido, nosso primeiro capítulo é dedicado à figura do Estado, de modo que 
apresentamos diferentes concepções clássicas sobre a finalidade e a formação dos Es-
tados e demonstramos como, ao longo dos séculos, sua concepção foi moldada por 
aspectos políticos, sociais e econômicos.
O segundo capítulo versa sobre um dos maiores eventos históricos da história da hu-
manidade, cujos reflexos são sentidos e influenciam o pensamento político, social e 
econômico até os dias atuais: a Revolução Industrial. Contudo, nosso debate está além 
daquele que trata do contexto e dos efeitos da revolução, pois enfocamos, também, a 
posição crítica de Karl Marxacerca da divisão social do trabalho à época (século XVIII) e 
como naquele período já havia organização dos trabalhadores por conta de sua insatis-
fação com as condições laborais.
Em nosso terceiro capítulo, abordamos os efeitos da Revolução Industrial sobre os pro-
cessos de urbanização e de conformação das sociedades europeias, com reflexos sobre 
tradições, cultura e comportamentos dos cidadãos. Ademais, transpomos nosso olhar para 
o Brasil ao discorrermos sobre como se deu a urbanização em nosso país, primeiramente 
em função da vinda da família real (no início do século XIX) e, em seguida, na décadas pos-
teriores ao fim do regime de escravidão (fim do século XIX e início do Século XX). 
O quarto capítulo trata das relações entre Estado, sociedade e movimentos sociais no 
Brasil desde o início do século passado até o regime militar (meados da década de 1980). 
Nesse capítulo, tratamos da organização da classe operária na primeira metade daquele 
século, da conformação das leis trabalhistas atreladas à noção de cidadania, da relevân-
cia dos movimentos sociais à conquista de direitos e do impacto do período autoritário 
sobre os movimentos sociais.
Por fim, o quinto capítulo diz respeito ao Brasil atual, em seu mais longo período demo-
crático e permeado por uma constituição cidadã que atende a anseios e pressões po-
pulares, pela relevância das entidades sociais e do papel das políticas públicas e, ainda, 
pelas inovações da participação institucional com relação à garantia de direitos sociais 
e à transparência e maior envolvimento popular nas deliberações sobre recursos e ser-
viços públicos.
APRESENTAÇÃO
ESTADO, SOCIEDADE E MOVIMENTOS SOCIAIS
Ao fim da leitura e da discussão deste material didático, a expectativa é de que 
questões relacionadas ao funcionamento do Estado e a como as políticas públicas 
são construídas e aplicadas estejam mais claras. Para além desse desejo, espero que 
este livro evidencie a importância da atuação de gestores de entidades do Terceiro 
Setor, de gestores públicos, de assistentes sociais, de cidadãos (individualmente) e 
de coletivos, grupos, associações e movimentos sociais, pois, como evidenciado em 
vários pontos deste material, a articulação, a organização e a participação dos diver-
sos atores sociais é essencial à atuação social por parte do Estado.
Espero que este material traga mais do que conhecimento acadêmico, mas que es-
timule-os à cidadania! Caminhemos juntos rumo ao conhecimento!
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
O ESTADO
15 Introdução
16 Conceito de Estado 
19 O Estado como Contrato Social 
24 Os Estados Nacionais 
28 O Estado Liberal 
33 Considerações Finais 
39 Referências 
41 Gabarito 
UNIDADE II
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
45 Introdução
46 Contexto Histórico da Revolução Industrial 
49 A Divisão Social do Trabalho 
53 Resistência e Organização Operária 
59 Considerações Finais 
65 Referências 
66 Gabarito 
SUMÁRIO
10
UNIDADE III
PROCESSOS DE URBANIZAÇÃO E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
69 Introdução
70 Efeitos da Revolução Industrial sobre as Conformações Sociais 
74 Urbanização no Brasil 
83 Considerações Finais 
91 Referências 
92 Gabarito 
UNIDADE IV
MOVIMENTOS SOCIAIS E LUTAS POR DIREITOS NO BRASIL
95 Introdução
96 Organização da Classe Operária 
103 Cidadania Regulada e Leis Trabalhistas 
107 Conquistas Sociais no Primeiro Período Democrático 
110 Estado, Sociedade e Movimentos Sociais no Período Militar 
115 Considerações Finais 
122 Referências 
124 Gabarito 
SUMÁRIO
11
UNIDADE V
CIDADANIA, MOVIMENTOS SOCIAIS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO 
BRASIL
127 Introdução
128 Redemocratização e a Constituição Cidadã 
132 Ações Coletivas: Organizações do Terceiro Setor, Associativismo e 
Movimentos Sociais
141 Participação Individual e Repertórios de Ação Política 
150 Participação Institucional 
160 Considerações Finais 
167 Referências 
174 Gabarito 
175 CONCLUSÃO
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Professor Dr. Éder Rodrigo Gimenes
O ESTADO
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Conceituar o Estado a partir da perspectiva política clássica em 
Maquiavel;
 ■ Apresentar a concepção de Estado a partir da cessão de liberdades 
pelos indivíduos em favor de um ente que regule as relações sociais;
 ■ Discutir a relação entre comércio e governo e a origem dos Estados 
nacionais e descrever aspectos referentes à relevância da economia 
para a conformação dos Estados nacionais;
 ■ Expor as bases de desenvolvimento do Estado liberal.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Conceito de Estado
 ■ O Estado como contrato social
 ■ Os Estados nacionais
 ■ O Estado liberal
INTRODUÇÃO
Qual a origem do Estado? Como se constituíram as relações entre o governo e a 
sociedade? Em que contexto os movimentos sociais se tornaram atores relevan-
tes ao processo de governança?
Questões como estas permeiam a construção deste material e serão expli-
citadas ao longo dos capítulos. Nesta primeira unidade, discutiremos sobre 
teorias que tratam do surgimento e da consolidação do Estado sob a perspec-
tiva da Filosofia, da Ciência Política e da Economia. Essa discussão é base para 
o desenvolvimento do conhecimento ao longo deste conteúdo e os autores clás-
sicos aqui apresentados seguem relevantes até a contemporaneidade.
O que são clássicos e por que ler esses textos? Esta é uma pergunta de res-
posta simples, mas que merece atenção: os clássicos são autores que produziram 
teorias explicativas ao período em que viveram de maneira autêntica e que ser-
vem como modelo para reflexão da realidade até hoje.
Segundo Norberto Bobbio (2000), clássicos são autores que produziram teo-
rias que permanecem atuais, de modo que a cada época é perceptível a necessidade 
de relê-los e, relendo-os, de reinterpretá-los, ou seja, mais importante do que 
ler um clássico considerando-o como registro histórico é lê-lo sob a perspectiva 
de que é possível a reflexão acerca de temas e objetos para análises, pesquisas, 
hipóteses e investigações.
É esta a posição contemplada neste material, de modo geral, e neste capítulo 
em específico, no qual apresentamos as bases político-filosóficas e econômicas 
da constituição e da consolidação dos Estados nacionais, de modo que a base 
aqui exposta será retomada ao longo dos capítulos seguintes para tratarmos de 
aspectos relacionados ao desenvolvimento das relações entre Estado e sociedade 
e sobre como a organização dos indivíduos por meio de movimentos sociais se 
deu ao longo dos séculos.
Bons estudos!
Introdução
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O ESTADO
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rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E16 U N I D A D EU N I D A D EU N I D A D E16 POLÍTICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
GOVERNO
U N I D A D EU N I D A D EU N I D A D E16
CONCEITO DE ESTADO
A s discussões acerca do conceito de Estado decorrem desde muito antes da 
Era Moderna, como pontuam Montaño e Duriguetto (2011, p. 19):
O Estado, e as análises sobre ele, não tem origem na era moderna. Efe-
tivamente, desde a antiga Grécia existem preocupações e estudos sobre 
o Estado e os governos, e suas relações entre si e com o povo. A vida na 
pólis grega, assim como na res publica romana, despertaram o interesse 
e a refl exão de fi lósofos e autoridades políticas. Em idêntico sentido, a 
pulverização das cidades-Estado na Itália também determinou a preo-
cupação com a unifi cação delas.
A discussão acerca da unifi cação da Itália está presente em “O Príncipe” (1512), 
de Nicolau Maquiavel, considerado um pai da Filosofi a Política Moderna e 
um dos mais importantes fundadores da Ciência Política. Secretário diplomá-tico da República de Florença no início do século XVI, o pensador dedicou 
suas obras à questão do Estado, mas, como destaca Sadek (2006, p. 17), “não o 
melhor Estado, aquele tantas vezes imaginado, mas que nunca existiu. Mas o 
Estado real, capaz de impor a ordem”.
Na referida obra, o autor expôs argumentos que podem ser sintetiza-
dos na importância da manutenção do poder como chave explicativa para a 
política, ou seja, a ação política do governante deveria ter como objetivo a 
manutenção de sua condição/posição de poder. Nesse sentido, a obra, que foi 
produzida como conjunto de conselhos ao soberano, rompeu com os manu-
ais bem intencionados da época ao expor argumentos pautados em utilização 
de recursos conforme as necessidades.
Conceito de Estado
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17POLÍTICA
GOVERNO
Maquiavel escreveu “O Príncipe” em um período marcado por crises 
políticas que culminaram em alterações nos grupos governantes em Florença 
e, em consequência das reestruturações do poder, acabou destituído de sua 
função pública, no primeiro momento, e exilado em uma propriedade de 
sua família, posteriormente.
Em tal condição, o autor refletiu sobre como seria mais importante escre-
ver acerca da verdade efetiva dos fatos, ao invés de suas aparências ou de pensar 
sobre o “dever ser” (posição filosófica). Para ele, o mundo não deveria ser pen-
sado como lugar ideal, mas caberia ao homem buscar a verdade real a fim de 
que fosse possível transformar a realidade. No caso do príncipe, essa busca seria 
pautada pelo conhecimento do uso do poder e de como mantê-lo, para o que 
precisaria aprender a utilizar os recursos disponíveis para a satisfação de seus 
interesses e necessidades. Esta sabedoria era o que Maquiavel pretendia expor 
ao Príncipe através de seus conselhos e regras.
Segundo o autor, o Príncipe precisaria de virtù e de fortuna. A virtù corres-
ponderia ao poder, à glória e à honra pelas quais o homem deveria lutar, sendo 
que não se referia exatamente à força bruta e violência, mas também à sabedoria 
para o uso da força e a tornar público aos súditos sua capacidade de manter seus 
domínios e, se não pudesse ser amado, ser ao menos respeitado ou temido pelos 
cidadãos. Por outro lado, a fortuna estaria relacionada à visão que o Príncipe 
deveria transmitir aos seus súditos, de homem viril e corajoso. Nesses termos, 
a aparência era mais importante do que o ser. Em resumo: o Príncipe deveria 
governar com violência e astúcia.
Dentre os conselhos ao Príncipe, Maquiavel pontuou situações que ilustram 
a importância da manutenção do poder, como o cuidado que o soberano deveria 
ter em parecer bom, mesmo que não o fosse, e a preocupação em demonstrar 
à sociedade que seu objetivo seria realizar a justiça e promover o bem comum, 
ainda que sua atuação efetiva se desse com vistas à conservação de seu status quo.
Outro exemplo diz respeito à ação do soberano após a conquista de 
um Estado: para o autor, a preocupação deveria consistir em combinar a 
manutenção das leis e a vida em liberdade, o que decorreria de ações como 
arruinar o Estado a ser ocupado, depois habitá-lo pessoalmente, por fim, 
fazê-los viver sob suas leis.
O ESTADO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E18
Embora pareça cruel e que leituras de sua obra tenha originado o termo “maquia-
vélico” com conotação negativa, é importante destacar que a concepção de 
Estado como campo de conservação do poder decorre tanto de leituras filosófi-
cas quanto das experiências pessoais do autor, que, após denunciado e privado 
do exercício profissional, discorreu sobre como o caráter humano é caracteri-
zado por ingratidão, falsidade, hipocrisia e ganância. Assim, para governar, o 
Príncipe deveria ter em mente que os homens são perversos e dispostos a seguir 
suas más intenções caso tenham oportunidade, de modo que a manutenção do 
poder só ocorreria caso o soberano combinasse virtù e fortuna, violência e astú-
cia, respeito e temor por parte dos cidadãos.
Esta concepção de Estado diverge daquela de outras correntes de pensadores, mas 
segue relevante à interpretação sobre como a permanência de um indivíduo ou grupo 
no poder se coloca permanentemente como objetivo àqueles que ocupam tal posição.
Em “O Príncipe”, Maquiavel afirma que em todas as sociedades haveria duas 
forças opostas: o desejo dos “grandes”, que querem dominar o povo, e o 
desejo do povo de não ser dominado. Em diálogo com esse pressuposto, 
autores como Gaetano Mosca, Vilfredo Pareto e Robert Michels escreveram 
sobre como minorias organizadas dominam grandes agrupamentos de pes-
soas. Tais autores são considerados clássicos da teoria das elites, o elitismo.
Fonte: o autor
Em seu discurso intitulado “A política como vocação”, Max Weber (2011) afir-
mou que o Estado era organização representativa de determinada forma de 
manifestação da política, a qual seria concebida a partir de uma relação de 
dominação que corresponderia à maneira como se dava a racionalidade na 
sociedade moderna. Nesse sentido, o Estado seria o ente político possuidor 
do monopólio do uso legítimo da ação coercitiva. Tal padrão de domina-
ção se estabeleceria por intermédio da legitimidade pertinente à relação de 
mando e subserviência reconhecida pelo Estado e pelos cidadãos.
Fonte: o autor
O Estado como Contrato Social
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O ESTADO COMO CONTRATO SOCIAL
Nos séculos posteriores a Maquiavel e à sua noção de Estado, temos muitos 
autores que, especialmente ao longo dos séculos XVI e XVII, contribuíram ao 
desenvolvimento da Teoria Política e seguem relevantes até os dias atuais, seja 
por inovações conceituais ou pela atualidade das temáticas abordadas. Dentre 
as discussões desses pensadores, é relevante aos objetivos deste material didá-
tico o debate em torno da formação do Estado Moderno sob a perspectiva dos 
contratualistas. Nesse sentido, nos concentremos nesta seção em torno das pers-
pectivas de Thomas Hobbes, de John Locke e de Jean-Jacques Rousseau no que 
diz respeito ao estabelecimento de um contrato entre os indivíduos para a vida 
em coletividade, o que teria originado o Estado.
O inglês Thomas Hobbes nasceu no fim do século XVI e viveu o período 
de Guerra Civil inglesa entre 1642 e 1651, durante o qual foi exilado em Paris e 
escreveu sua obra “Leviatã” (1651). Naquele período histórico, as visões sobre a 
natureza humana se baseavam nas doutrinas religiosas, de modo que o autor se 
destaca dentre os pensadores que buscaram explicações no pensamento racional.
O ESTADO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E20
Para ele, em seu estado de natureza (condição abstrata da humanidade, 
antes da introdução de estruturas e normas sociais), os homens seriam agentes 
racionais que buscariam a maximização de seu poder e agiriam conforme seus 
interesses próprios, uma vez que agir de outra maneira colocaria em risco sua 
autopreservação. De modo sucinto, a interpretação de Hobbes era de que, no 
estado de natureza, a condição do homem seria a condição de guerra contra todos.
A obra “Leviatã” argumenta em favor da autoridade real. Para seu autor, o 
estado de natureza seria comparável à guerra e só poderia ser evitado caso todos 
os indivíduos entregassem suas armas a um terceiro – o soberano – por meio de 
um contrato social que garantisse que todos os demais também o fizessem. O 
que levaria os indivíduos racionais a entregarem sua liberdade ao soberano seria 
o fato de que a vida no estado de natureza implicaria em preocupação constante 
com a própria sobrevivência, pois em um contexto onde todos os atos são justi-
ficáveis, não havia direitos que protegessem os indivíduos.Sem nenhuma autoridade comum para resolver as disputas ou proteger os 
fracos, caberia a cada um decidir o que precisasse e o que deveria fazer para 
sobreviver. No estado de natureza, os homens seriam, então naturalmente livres 
e independentes, sem deveres para com os demais. Para Hobbes, sempre haveria 
escassez de bens e os indivíduos seriam vulneráveis, uma vez que alguns entra-
riam em conflitos visando comida e abrigo, enquanto outros buscariam glória 
e poder. Esse seria um contexto de constante temor e ataques, o que configura-
ria o fim da liberdade descontrolada dos homens. A superação desse estado de 
natureza se daria pela existência de um poder e autoridade consentido: o Leviatã.
O Leviatã, em referência a um monstro bíblico do livro de Jó, deveria ser o 
Estado, uma espécie de homem artificial, de maior estatura e força que os homens 
naturais, projetado para protegê-los e defendê-los, inclusive de seus semelhantes. 
A soberania também lhe seria artificial, pois não emanaria de si, mas do contrato 
social firmado pelos indivíduos em seu favor. Esse contrato social, que conce-
deria autoridade indivisível ao soberano, seria um mal necessário para evitar o 
destino cruel dos homens diante da não contenção de seus impulsos destrutivos. 
Contudo, cabe destacar que o contrato social seria estabelecido entre os indiví-
duos, sendo o soberano um ente externo, à parte do contrato.
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 John Locke viveu ao longo do século XVII e foi contemporâneo de Hobbes 
durante partes de suas vidas. Locke destacou-se como o primeiro pensador a 
articular os princípios liberais de governo, quais sejam: preservação dos direitos 
à liberdade, vida e propriedade, a busca pelo bem público e a punição aos que 
violassem os direitos do homem. Em sua obra “Dois tratados sobre o Governo 
civil” (publicada originalmente após 1689), o autor afirmou que os indivíduos 
aceitariam o contrato social e se submeteriam a um governo por esperar que ele 
regulasse acordos e conflitos com neutralidade.
Diferentemente de Hobbes, Locke entendia que, no estado de natureza, os 
indivíduos conviveriam em relativa harmonia por boa parte do tempo, agindo com 
razão e tolerância e de modo que os conflitos não seriam necessariamente comuns. 
Contudo, com o aumento da densidade populacional, a escassez de recursos e o 
surgimento do dinheiro, teriam surgido desigualdades econômicas, que levaram 
a mais conflitos, o que gerou a dependência, pelas sociedades, de leis e juízes.
Outra diferença entre os autores é que Locke argumentava que seriam as leis 
que protegeriam os indivíduos, não o poder soberano. Nesse sentido, o governo 
teria garantido o monopólio da violência e das condenações, em um Estado 
de direito onde a legitimidade do governo seria pautada pela separação entre 
os poderes Executivo e Legislativo: o primeiro manteria o funcionamento do 
governo, enquanto o segundo, superior e com maior poder, estabeleceria as leis 
para o funcionamento desse governo. As leis, aliás, seriam centrais ao governo 
por garantirem as liberdades, de modo que não seriam regras restritivas, mas 
que preservariam e aumentariam essa liberdade, sendo que viver sem leis seria 
o mesmo que viver sob um estado anárquico, de incertezas, onde as liberdades 
pudessem não se efetivar.
Ademais, o autor era favorável a um governo com papel limitado, ao qual 
o povo não fosse plenamente subordinado e que não fosse centralizado em um 
único indivíduo. O governo deveria proteger a propriedade privada, manter a paz, 
garantir mercadorias comuns para todos e proteger os cidadãos contra invasões 
estrangeiras. Em outras palavras, o governo deveria ajustar ou complementar o 
que faltava no estado de natureza para conferir liberdade e prosperidade às pes-
soas. As leis deveriam ser formuladas e impostas com o objetivo do bem público.
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Por fim, cabe destacar que Locke se preocupava com a legitimidade do 
governo, tanto que afirmou que haveria situações em que o povo teria o direito 
de se revoltar buscando recuperar o poder concedido ao governo, como naque-
las em que seus representantes legítimos não pudessem participar da assembleia, 
quando o Estado de direito deixasse de existir ou caso o governo ameaçasse os 
direitos do povo.
O terceiro autor contratualista recorrentemente considerado em diálogo com 
Hobbes e Locke é Jean-Jacques Rousseau. Nascido em Genebra, Suíça, no século 
XVIII, pouco após a morte de Locke e em contexto diverso daquele dos autores 
ingleses (da guerra civil e da Revolução Gloriosa, para Locke), Rousseau postu-
lou sobre o contrato social a partir de bases filosóficas e de experiências pessoais 
e históricas distintas. Para esse autor, mais relevante do que a produção e discus-
são científicas era a reflexão sobre que tipo de conhecimento era produzido na 
época, o que fez dele um crítico dos pensadores de sua época.
Rousseau entendia que o homem não era mais virtuoso, mas que ainda seria 
possível encontrar aqueles menos corrompidos, inclusive pelas ciências e pelas 
artes, que poderiam assumir papel importante de impedir o avanço da corrup-
ção dos indivíduos. De modo geral, sua teoria era de que a política deveria ser 
exercida pelo povo, de forma soberana.
Sua argumentação sobre a formação do Estado encontra-se em duas obras. 
Em “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” 
(1755), o autor desenvolveu uma história hipotética da humanidade, na qual 
afirmou que a trajetória dos homens ao longo dos séculos sofreu uma alteração 
em sua condição de liberdade quando do surgimento da propriedade privada. 
Segundo Rousseau, a história da humanidade seria a história da desigualdade, 
que se iniciou quando os demais membros de uma sociedade legitimaram a afir-
mação daquele que chamou um pedaço de terras de seu. Em outras palavras, a 
desigualdade seria fruto tanto da apropriação de uma propriedade por alguém 
quanto da aceitação dos demais. Haveria, aí, um pacto ou um contrato.
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A partir dessa história hipotética, Rousseau discutiu em “Do contrato social” 
(1762) sobre as condições para que fosse estabelecido um pacto legítimo, no qual 
os homens, após terem perdido sua liberdade natural, tivessem garantida sua 
liberdade civil, o que decorreria da existência de igualdade entre os indivíduos. 
Em outras palavras, a concepção do autor era de que todos os homens deveriam 
igualmente alienar-se de todos os seus direitos em favor da coletividade, sendo que 
o Estado seria responsável, então, por determinar o funcionamento da política.
E quem seria o Estado para Rousseau? O Estado seria o conjunto de indi-
víduos, responsável pela elaboração de leis e cumpridores dessas mesmas leis, 
o que significa que a liberdade do povo estaria relacionada à sua obediência às 
normas por cada cidadão, parte integrante do poder soberano. Isso significaria 
que o corpo administrativo do Estado seria subordinado ao soberano (povo).
Nesse sentido, o autor alertava que a garantia de existência de legitimidade 
da ação política era incompatível com a representação política, uma vez que 
esta implicaria em delegação de atribuições, responsabilidades e expressões de 
vontades. Para o autor, a partir do momento em que uma sociedade elegesse 
representantes, a liberdade findaria, pois a vontade geral não se manifestaria por 
meio da vontade dos representantes.
Para além das distinções entre as abordagens teóricas desses autores, um 
aspecto tangencia os pensamentos de ambos e consiste na base de argumenta-
ção sobre a formação do Estado: a cessão de liberdadeindividual em favor de um 
ente superior que regule as relações individuais e garanta condições de sobre-
vivência em sociedade. A ideia de contrato social como forma de organização 
política pautada pela relação entre liberdades e restrições (direitos e deveres) 
segue respeitada pelas coletividades até a atualidade.
Para Rousseau, a representação seria incompatível com o exercício da von-
tade geral, pois retiraria dos cidadãos sua liberdade. Pensando nas democra-
cias atuais, seria possível outra forma de governo?
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O S ESTADOS NACIONAIS
Pa ra além das perspectivas política e fi losófi ca sobre a formação do Estado, é 
importante considerarmos, também, como aspectos econômicos contribuíram 
para tal processo. Nesse sentido, esta seção discute como o desenvolvimento 
das relações comerciais e de trabalho infl uenciaram a conformação dos Estados 
nacionais modernos.
A Europa é considerada como berço do desenvolvimento sob diversos aspec-
tos, como humanístico e científi co, de modo que também no que se refere ao 
estabelecimento de relações econômicas temos naquele continente a referência 
histórica. Os processos de evolução das formas de relacionamento humano na 
região foram permeados por diversas etapas, com confl itos e consensos, sendo 
que os Estados nacionais decorreram de acordos, alianças ou revoluções, pau-
tados em alguma medida pelos aspectos destacados nas seções anteriores deste 
material: a busca pela manutenção do poder e o estabelecimento de um con-
trato social entre os cidadãos.
Nos diferentes períodos da história, os Estados nacionais europeus assumi-
ram características distintas, como mecanismos de governo democráticos ou 
autoritários, momentos de crises e de estabilidade e de rupturas e consolidações. 
Nesse cenário, destacamos o feudalismo, a expansão das relações comerciais, o 
surgimento da burguesia e as relações estabelecidas pelo Estado com a nobreza e 
a classe social surgente como destaques à organização e estruturação dos Estados 
nacionais ao longo dos séculos (CORTÁZAR; MUÑOZ, 2014).
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As sociedades feudais se caracterizavam por agrupamentos altamente estra-
tificados, com suseranos e vassalos ocupando posições claras em uma relação de 
lealdade mediada pela terra, uma vez que tal bem constituía a principal fonte de 
riqueza no mundo rural, de onde provinha a produção agrícola em decorrên-
cia do trabalho servil. Aos suseranos cabia a condição de donos de terras, para 
os quais os vassalos trabalhavam e a quem repassavam parcela de sua produ-
ção como pagamento pela utilização da terra para subsistência e pela proteção 
ou segurança que recebiam por estarem em terras de um nobre. Nesse período, 
poder político e poder econômico estavam intimamente relacionados, assim 
como aos suseranos cabiam também outras funções, como o exercício da jus-
tiça em seus domínios (BLOCH, 1987).
Um aspecto importante a ser destacado sobre o feudalismo é a ausência de 
mobilidade social, ou seja, a impossibilidade aos vassalos de ascenderem à con-
dição de senhores de terras. Tal problema se justificava em virtude de que as 
terras eram distribuídas por heranças, o que conduziu, ao longo do tempo, à 
fragmentação dos feudos, que se tornaram menores e ofereceram aos vassalos, 
por consequência, cada vez menos proteção, o que gerou alguma insatisfação 
entre esses. Além disso, a hereditariedade como fator preponderante à distribui-
ção de terras também gerava sentimentos negativos por parte daqueles que não 
pertenciam à nobreza, situação que se agravou quando da consideração do pri-
mogênito como herdeiro legítimo das terras.
Em contrapartida, nesse mesmo período, houve expansão territorial e comercial 
dos países europeus motivados por questões religiosas, quando Estados ociden-
tais se organizaram para combater aqueles orientais em função de libertar a Terra 
Santa de infiéis, empreendimentos bélicos que receberam a alcunha de “Cruzadas”. 
Segundo Cortázar e Muñoz (2014), considerando a circulação dos cavaleiros por 
grandes faixas de terras ao longo da costa do Mar Mediterrâneo, com o tempo pas-
saram a existir estruturas que posteriormente constituíram as cidades, mas que, 
naquele momento, representavam espaços para aglomerações humanas.
Nos caminhos onde os cavaleiros passavam constituíram-se rotas e espaços 
onde se organizaram as primeiras grandes feiras, nas quais havia circulação de 
pessoas e realização de transações comerciais. Essas aglomerações constituíram-
-se em proto-cidades que se tornariam burgos.
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Se, por um lado, as Cruzadas representaram retardo no processo de desen-
volvimento das relações humanas, especialmente por conta da moral religiosa 
que pautou o empreendimento, sob os aspectos cultural e econômico foi um 
fenômeno responsável por avanços significativos.
As Cruzadas representam um marco no processo de alteração do paradigma 
que definia a relação entre o homem e a produção. Com o estabelecimento do 
comércio, os senhores feudais perceberam a possibilidade de aumento do acú-
mulo de riquezas em virtude da expansão da gama de cidadãos com os quais 
poderiam negociar, o que demandou o crescimento da produção nos feudos, 
antes voltada à subsistência e, em menor medida, às trocas. Essa elevação baseou-
-se na intensificação do trabalho dos vassalos, que foram pressionados para 
gerar mais excedentes aos suseranos e tiveram, desde então, mais um motivo 
para se sentirem insatisfeitos (CORTÁZAR; MUÑOZ, 2014).
Dentre os insatisfeitos, muitos vassalos migraram para os burgos surgentes à 
época, uma vez que, por um lado, estavam descontentes com a elevação da carga 
de trabalho e a impossibilidade de ascensão social nos feudos e, por outro lado, 
almejavam oportunidades de crescimento econômico por meio do comércio.
Foi nesse contexto que se consolidou a mudança de paradigma anunciada 
anteriormente neste texto: o sistema de produção feudal, baseado na troca e para 
fins de subsistência, passou a ser substituído pelo sistema de produção pautado 
pelo máximo excedente possível, com vistas à comercialização nos burgos; ao 
mesmo tempo, o homem rural deixou de ser referência diante da emergência do 
homem moderno (SMITH, 1983). Contudo, esse processo, discutido por autores 
como Dobb (1975), não foi simples e harmônico, mas caracterizado por muitos 
conflitos, como também destacara Adam Smith (1983).
Segundo o autor clássico do pensamento econômico, o feudalismo não con-
templava os objetivos das relações estabelecidas pelo comércio e os senhores 
feudais perderam seu poder político diante do surgimento de um novo grupo 
econômico ascendente: a burguesia (SMITH, 1983).
Considerado o contexto de fragmentação do poder político na Europa, 
os Estados nacionais teriam sido estruturados com o intuito de promover a 
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centralização deste poder. Segundo Strayer (1986), tal estruturação ocorreu de 
maneira lenta e se fez possível a partir do momento em que percebeu-se a neces-
sidade de organização da sociedade para a promoção do desenvolvimento, do 
acesso à riqueza e para garantir que os direitos individuais não se sobrepusessem 
àqueles coletivos. Nesse sentido, o argumento do economista dialoga diretamente 
com a noção de contrato social anteriormente abordada.
Ainda, segundo o autor, a estruturação dos Estados nacionais teria sido um 
processo positivo, no sentido de que teria havido participação e aceitação popu-
lares (STRAYER, 1986). Marx (1983), contudo, discordou dessa concepçãoao 
afirmar que não se tratou de um processo positivo, já que os Estados teriam sido 
constituídos para atender aos interesses de grupos dirigentes, os quais concentra-
riam, por conseguinte, tanto o poder econômico quanto o poder político. Segundo 
esse último autor, a formação dos Estados nacionais perpetuariam, então, a manu-
tenção da concentração do poder, já que esses Estados atuariam em favor dos 
detentores dos meios de produção. Percebe-se aqui a relação entre a perspectiva 
de Marx e o argumento apresentado por Maquiavel em “O Príncipe”, qual seja: 
o Estado se caracterizaria pela concentração e manutenção do poder instituído.
Com a consolidação dos Estados nacionais, aspectos políticos como a cons-
tituição de burocracia (corpo técnico e procedimentos) e o respeito às leis e 
instituições foram estabelecidos. Ademais, a relação entre paz (como ausên-
cia de uso da violência pelos cidadãos “comuns”) e liberdade definida pelo 
contrato social se materializou. Nesse período, ocorreram alterações impor-
tantes relacionadas aos grupos sociais, uma vez que em paralelo à ascensão 
da burguesia por conta do desenvolvimento do comércio e dos burgos e à sua 
aproximação com o poder real ocorreu a migração da nobreza feudal para a 
área urbana, o que culminou na transmissão de valores e comportamentos à 
sociedade em formação.
Entretanto, a relevância do processo de urbanização à relação entre Estado 
e sociedade será abordada em unidade posterior deste material. Por ora, nos 
deteremos à concepção de Estado liberal desenvolvida a partir do binômio 
política-economia.
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O ESTADO LIBERAL
O surgimento de Estados nacionais pautados pela forte relação dos governos com 
a burguesia inaugurou um período histórico e econômico no qual a manutenção 
do Estado atrelou-se ao desempenho das relações comerciais. Nesse sentido, os 
Estados nacionais deveriam se preocupar não apenas com a garantia de conser-
vação dos direitos de propriedade daqueles que ocupavam posições de poder, 
mas, também, com o desenvolvimento relacionado a aspectos como condições 
de produção manufatureira, tributos, moeda e geração de riquezas.
Essa nova forma de organização do Estado, que convencionou-se denominar 
como mercantilismo, correspondeu ao primeiro momento em que as economias 
nacionais extrapolaram seus limites territoriais, o que conduziu à circulação de 
pessoas, de mercadorias, de moedas, de costumes, de valores e de tradições, um 
fenômeno que pode ser considerado como esboço do processo de globalização 
que ocorreria no século XX, primeiramente a partir da perspectiva econômica 
e, em um segundo momento, com relação ao multiculturalismo, geopolítica e 
demais formas de relacionamento entre Estados e povos.
Assim, o mercantilismo representou um período e uma maneira de orga-
nização política e econômica que marcou a transição entre o feudalismo e a 
estruturação do capitalismo, cuja principal característica era a intervenção do 
Estado na economia (LIMA; PEDRO, 2005). Retomando os aspectos anteriores 
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tratados, lembre-mo-nos que as relações comerciais se estabeleceram a partir 
dos burgueses, que se fortaleceram enquanto grupo social, ao ponto do Estado 
associar-se a eles para governar e responsabilizar-se, então, pela manutenção de 
seu poder econômico, aliado ao político (em que nos lembra tanto a teoria sobre 
a relação entre Estado e poder em Maquiavel quanto o contrato social).
E como ocorria a atuação do Estado à época do mercantilismo? Segundo 
Lima e Pedro (2005), basicamente essa intervenção na economia se dava por 
meio do metalismo, da busca pela balança comercial favorável, pelo protecio-
nismo e pelo colonialismo.
O metalismo diz respeito à acumulação de outro e prata no interior do 
Estado nacional, pois esses metais representavam riqueza que deveriam ser 
investidas na agricultura, na manufatura e no comércio, de modo a estimular 
as exportações. Como o objetivo era o acúmulo de metais, as importações não 
eram indicadas, já que representariam dispêndio de riqueza (monetária) pelo 
Estado. Por outro lado, as investidas pelo aumento de metais foi uma das causas 
da exploração territorial dos Estados nacionais, através de guerras e conquistas 
e, principalmente, por meio do colonialismo.
Nesse sentido, a preocupação em exportar mais do que exportar definia a 
política de manutenção da balança comercial favorável. Um dos indicadores 
de desenvolvimento econômico do Estado era a comparação do seu desenvol-
vimento econômico com o de outros, ou seja, dada a circularidade da moeda 
entre as nações, o crescimento da riqueza de um Estado estava relacionado ao 
empobrecimento de outro(s).
Essas ações pautavam o protecionismo, que tratava da determinação de altas 
taxas alfandegárias, as quais tornavam muito caras as mercadorias estrangeiras, 
a ponto de ser mais vantajosa a aquisição de um produto nacional, o que garan-
tia ao Estado que a moeda circularia no interior na nação (ANDERSON, 1985).
Outro aspecto relevante do período mercantilista foi o estímulo à industrializa-
ção. Ainda que pouco desenvolvida, tal ação possibilitava o comércio da produção 
a preços mais elevados do que aqueles pelos quais as matérias-primas e gêneros 
agrícolas eram comercializados, o que garantiria mais lucros e maior acúmulo de 
riquezas no país. Também essa característica está relacionada ao colonialismo.
Nos dias atuais, negociações e acordos internacionais são frequentes por 
conta da globalização da economia. Assim, podemos verificar que parte dos 
Estados nacionais modernos adotam políticas protecionistas, ainda que o 
façam especificamente para alguns ramos de atividades ou para determi-
nados produtos.
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A busca por matérias-primas com menor custo e diferenciadas, a exploração 
de territórios em busca de metais preciosos e a expansão da área de domínio para 
desenvolvimento do comércio foram as principais causas do colonialismo, polí-
tica de expansão de Estados nacionais europeus que culminaram, dentre outros 
fatos históricos, na descoberta do território hoje correspondente aos Estados 
Unidos da América em 1942 e do Brasil em 1500.
Por um lado, essas colônias representavam a possibilidade de exploração da 
fauna e da flora diferenciados do cenário europeu, o que poderia garantir bons 
lucros. Por outro, a exuberância da população indígena, o clima distinto daquele 
do velho continente e a abundância de terras a ser desbravadas e ocupadas tam-
bém representavam pontos favoráveis à permanência nos territórios descobertos. 
Por fim, a descoberta da existência de ouro, a possibilidade de escravização dos 
nativos indígenas e, posteriormente, também de africanos contribuíram para a 
expansão econômica dos Estados nacionais europeus à época.
Cabe destacar que ainda que o mercantilismo tenha sido essencial ao desen-
volvimento do nacionalismo, especialmente na Inglaterra e na França (DEYON, 
1982), foi também aspecto propulsor da Revolução Industrial no primeiro país 
mencionado, conforme discutiremos na próxima unidade de estudo.
Nesse momento, é importante pontuar que as práticas mercantilistas surtiram 
efeito para a expansão econômica dos Estados nacionais, mas também refleti-
ram em limitações, uma vez que os produtos de que as populações necessitavam 
nem sempre podiam ser adquiridos no interior das nações, o que levou à aber-
tura comercial em virtude da necessidade de atender a determinadas demandas.
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Nesse sentido, o teórico clássicoda Economia Adam Smith (1983) criticou 
características do mercantilismo e apontou a perspectiva liberal como forma 
de organização política e econômica aos Estados nacionais. Dentre os pontos 
negativos ao mercantilismo expostos pelo autor destacamos o fato de que a pre-
ocupação com a acumulação de riquezas impedia negociações vantajosas aos 
Estados (já que o metalismo, combinado com o protecionismo, se pautava por 
evitar a remessa de metais ao exterior e muitas trocas não se concretizavam por 
tal limitação) e ainda que a livre concorrência seria benéfica ao comércio e pode-
ria surtir efeitos sobre todos os estratos sociais, ao passo que o mercantilismo 
tinha preocupação clara e definida relacionada à burguesia.
Segundo o economista, o liberalismo determinou a filosofia e as políticas 
econômicas ao conceder ênfase ao mercado para se auto-regular, ou seja, as rela-
ções entre oferta e procura e a estabilidade da economia seriam determinados 
pelos agentes econômicos e por suas negociações, cabendo ao Estado a mínima 
intervenção possível nesse processo (SMITH, 1983).
Acanda (2006) afirma que o liberalismo foi e é uma expressão ideológica da 
burguesia e que pode ser considerado como a primeira grande ideologia revolu-
cionária da época moderna, pois expressou a recusa às formas políticas despóticas 
da sociedade feudal e tomou o indivíduo como ponto de partida, diferentemente 
de todas as ideologias anteriores, que haviam se fundado a partir de princípios 
de caráter transcendente.
Sob a perspectiva política, o liberalismo seria uma ideologia ou filosofia 
pautada pela crença nos princípios de defesa da vida, da liberdade e da proprie-
dade. Segundo Bonavides (2004), as bases do Estado liberal surgiram a partir de 
pensadores modernos que refutaram as teses monarco-absolutistas que prega-
vam o direito divino dos reis. Autores como John Locke discutiram os anseios 
de indivíduos ricos na Inglaterra do século XVII, que exigiam garantias con-
tra os abusos de poder por parte do Estado contra seus patrimônios. Em outras 
palavras, o Estado liberal surgiu a partir da luta das camadas mais intelectuali-
zadas e economicamente ascendentes (a burguesia) contra o princípio do poder 
absoluto e divino dos reis.
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Nesse contexto, as características básicas do Estado liberal seriam liber-
dade individual combinada com Estado voltado à manutenção da ordem e, 
consequentemente, à reprodução da realidade social, com a manutenção das 
condições de classes.
Assim, o Estado liberal teria nascido como protetor das liberdades indivi-
duais e fadado a desempenhar na sociedade a função mais modesta possível, de 
modo que verifi camos em Locke o cerne da noção de “Estado mínimo”, cujas 
funções se restringem à manutenção da ordem interna e da segurança pessoal.
As decisões mais importantes seriam delegadas aos indivíduos ou ao próprio 
mercado, que goza de liberdade econômica, conduzido pelos cidadãos mais inte-
lectualizados e economicamente ascendentes que iniciaram a discussão. Cada 
indivíduo seria livre para agir conforme seu entendimento, pois a liberdade indi-
vidual é um valor político essencial, ou seja, é o homem quem decide para quem 
trabalhar, onde viver, o que comprar etc.
Ademais, uma relevante característica desse modelo de Estado é a interpre-
tação da justiça: o julgamento moral dos indivíduos para conceder o que lhes é 
devido. Em outras palavras: justiça seria diferente de igualdade. Na concepção 
liberal, os homens não nascem iguais em termos de condições sociais, sexo, etnia 
etc., mas possuem as mesmas condições para se desenvolver, sendo que o que 
diferencia seu desenvolvimento seriam suas qualidades (como talento, habilidade, 
inteligência e esforço, por exemplo), de modo que cada um ocuparia na socie-
dade a posição social da qual fosse merecedor. Eis o princípio da meritocracia.
Considerações Finais
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao fim desta primeira unidade de estudos, na qual abordamos distintas 
concepções sobre o surgimento do Estado. Tendo em vista a importância de ler-
mos textos clássicos, iniciamos nossa discussão com o argumento de Maquiavel 
sobre a preocupação que o Príncipe deveria destinar à manutenção do poder, 
dada a centralidade da concentração do poder como principal característica do 
Estado, segundo o autor florentino.
Na sequência, tomamos contato com três diferentes autores que buscaram 
explicar a construção do Estado a partir da abdicação dos direitos e das liber-
dades individuais em favor de um governo que respondesse pela coletividade e 
garantisse segurança mínima à vida, alguma liberdade e à propriedade. Tais teo-
rias têm em comum um aspecto que deve ser destacado e que segue relevante ao 
longo de todo este material: o Estado como construção humana!
Tais explicações constituem as bases para a interpretação sobre o desen-
volvimento das relações econômicas e comerciais ao longo dos séculos, que 
contribuíram para a evolução dos arranjos sociais desde o feudalismo, passando 
pelo mercantilismo, até discorrermos sobre o liberalismo. Foi nesse contexto que 
surgiram e se fortaleceram os Estados nacionais.
Finalizamos esta unidade de estudos conhecendo o conceito de Estado 
mínimo, o que nos fornece condições de avançarmos ao debate sobre um dos 
maiores eventos históricos ocorridos nos últimos séculos: a Revolução Industrial. 
Na nossa próxima seção, discutiremos sobre o contexto, seu desenvolvimento e 
os desdobramentos dessa revolução.
Sem dúvida, este evento histórico central ao desenvolvimento das socieda-
des contemporâneas carece de grande atenção, uma vez que forneceu as bases 
para o estabelecimento de processos sociais, econômicos, culturais e políticos 
posteriores, sobre os quais nos deteremos em unidades de estudos posteriores.
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1. Com relação ao autor clássico Nicolau Maquiavel, considerado um dos mais 
relevantes autores da Filosofia Política e da Ciência Política, analise as afirma-
ções abaixo:
I) Escreveu “O Príncipe” e “Teoria Geral da Política”.
II) Suas obras tratam do Estado.
III) Viveu em um período de crises políticas em Florença.
IV) Foi exilado e impedido de exercer sua função pública.
Tendo em vista as afirmações acima, assinale a alternativa correta:
a) Apenas as afirmações I e III estão corretas.
b) As afirmações II, III e IV estão corretas.
c) As afirmações I, II e IV estão corretas.
d) Apenas as afirmações II e IV estão corretas.
e) Todas as afirmações estão corretas.
2. Considerando a linha teórica clássica definida como contratualista, analise as 
afirmações abaixo.
I) Os autores desta linhagem entendiam que a natureza do homem é boa.
II) Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau são autores contra-
tualistas.
III) Os autores tinham concepções distintas sobre a motivação inicial para o 
contrato.
IV) O Estado teria sido fundado a partir da aceitação, pelos cidadãos, do con-
trato social.
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas II, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
35 
3. Com relação aos Estados nacionais, analise as afirmações abaixo e assinale Ver-
dadeiro (V) ou Falso (F):
 ) ( Os Estados nacionais decorrem, em alguma medida, da estrutura do feu-
dalismo.
 ) ( Os Estados nacionais foram constituídos a partir do modelo democrático.
 ) ( Os Estados nacionais surgiram com vistas à centralização do poder entre 
elites.
Assinale a alternativa correta:
a) V; V; F.
b) F; F; V.
c) V; F; V.
d) F; F; F.
e) V; V; V.
4. Analise as características abaixo e assinale aquela que não diz respeito ao mer-
cantilismo:
a) Surgiu após o feudalismo.
b) Intervenção expressivana economia.
c) Tem forte relação com o capitalismo.
d) Preocupação com o bem-estar social.
e) É a base do Estado liberal.
5. O liberalismo se instituiu em consequência do mercantilismo. Segundo o eco-
nomista Adam Smith, qual é a principal limitação do mercantilismo, a ser supe-
rada pela implementação do Estado liberal?
a) A preocupação central em organizar a vida social nos burgos.
b) A relação estabelecida entre a nobreza, a burguesia e o Estado.
c) A regulação das relações econômicas e comerciais pelo Estado.
d) A falta de responsabilidade do Estado sobre a segurança dos cidadãos.
e) A expansão do comércio para além do protecionismo e do metalismo.
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As relações entre História e Ciências Sociais
História, Sociologia, Ciência Política, Antropologia, Filosofia e Serviço Social são campos 
do conhecimento com estreitas relações entre si, o que é possível apreendermos ao pen-
sarmos sob a perspectiva da proximidade entre aspectos históricos e interpretações so-
bre a conformação, a organização e o funcionamento dos Estados e sociedades, de modo 
geral, e de grupos e movimentos sociais ou mesmo de indivíduos, de modo específico.
Segundo Peter Burke, a História pode ser entendida como área preocupada com os 
estudos de sociedades humanas no plural, das diferenças entre elas e das mudanças 
ocorridas em cada uma ao longo do tempo, enquanto a Sociologia, aqui tomada como 
sintetizadora de argumentos que se aplicam também à Ciência Política, “[...] pode ser 
definida como o estudo da sociedade humana com ênfase em generalizações sobre sua 
estrutura e desenvolvimento” (p. 14).
Por sua vez, em sua aula inaugural da cadeira de História Romana, Paul Veyne iniciou 
sua fala afirmando estar convencido de que a História ou ao menos a História Socioló-
gica existe. O autor define a segunda como “[...] aquela que não se limita a narrar, nem 
mesmo a compreender, mas que estrutura sua matéria recorrendo à conceituação das 
Ciências Humanas, também chamadas Ciências Morais e Políticas” (1983 [1976], p. 5). 
Conforme o autor, existem acontecimentos históricos, mas não explicações históricas, 
de modo que as explicações decorreriam de interpretações dos fatos históricos e isto se 
daria por meio das Ciências Sociais.
Na mesma aula, o autor reforçou a ideia de individualidade dos fatos, mas não neces-
sariamente dos indivíduos humanos ou das sociedades, o que significa que a ideia de 
individualidade seria relativa. Desta maneira, os conceitos que permeiam as interpre-
tações, os diferentes níveis de generalização dos fatos históricos e a forma como cada 
objeto é analisado interferem diretamente na análise. Transportando essa discussão 
para os trabalhos desenvolvidos na área social, devemos refletir que o contexto e as 
informações de que dispomos influenciam a percepção que desenvolvemos, inde-
pendente de nossa posição, seja como gestor público, gestor de uma entidade do 
Terceiro Setor ou como agente atrelado ao desenvolvimento de políticas públicas 
(assistente social), por exemplo.
Em se tratando de exemplos desta relação entre História e Ciências Sociais à pro-
dução de análises, destaco os livros de Cynthia Stokes Brown, “A grande história”, 
e de Candice Goucher e Linda Walton, “História mundial: jornadas do passado ao 
presente”, os quais apresentam discussões sobre fatos históricos permeados por co-
mentários e explicações sociológicas.
37 
Ainda que Burke e Veyne se refiram majoritariamente à Sociologia em suas discussões 
sobre a relação que estabelecem com a História, entendo que suas falas se estendem 
também à Ciência Política, à Antropologia e, por vezes, a outros campos do conhe-
cimento como a Economia. Considerando tal interpretação, destaco, por exemplo, a 
utilização de dados históricos referentes ao sistema econômico e produtivo alemão 
por Karl Marx na obra “O capital” e a associação entre comportamento ascético e re-
ligiosidade na Modernidade trabalhada por Max Weber em “A ética protestante e o 
espírito do capitalismo”.
Na área da Ciência Política, com suas distintas nuances e objetos analíticos também faz 
uso de aspectos históricos em suas reflexões. Um clássico exemplo dessa área é a “So-
ciologia dos partidos políticos”, de 1911, de Robert Michels, obra que se dedica à expli-
cação do fenômeno da oligarquização do Partido Social Democrata alemão, cuja análise 
é tomada como referencial para estudos de organizações partidárias e dos próprios sis-
temas partidários até os dias atuais, ainda que trate de apenas um partido e deste num 
contexto específico de tempo e espaço.
Por fim, em se tratando da Antropologia, apenas para mencionar dois exemplos, o evo-
lucionismo de Lewis Morgan em “A sociedade antiga” e outras obras (que é encontrado 
também nos demais autores da corrente) se utiliza de elementos históricos pontuais 
para explicar a evolução das sociedades de modo geral, o que significa destacar um pro-
cesso inverso à preocupação histórica com o levantamento da totalidade de experiên-
cias para analisar um problema. Outro exemplo antropológico são os próprios manuais 
e textos que se dedicam ao trabalho do profissional, os quais reforçam a ideia de que 
cabe ao antropólogo olhar, ouvir, descrever, analisar, comparar e relativizar (para usar 
um termo de Roberto DaMatta em “Relativizando: uma introdução à antropologia so-
cial”) em suas pesquisas, como evidenciam Roberto Cardoso de Oliveira em “O trabalho 
do antropólogo” e François Laplantine em “A descrição etnográfica”.
Sobre esse último exemplo, destaco que a maneira como os indivíduos se colocam dian-
te das situações que necessitam analisar é primordial à qualidade de seu diagnóstico e 
intervenção. Assim, leituras como estas citadas no parágrafo anterior podem contribuir 
(muito!) com o trabalho desenvolvimento no âmbito social, seja ele por gestores de en-
tidades do Terceiro Setor, gestores públicos ou por assistentes sociais, especialmente.
Fonte: o autor
MATERIAL COMPLEMENTAR
Biblioteca Digital Mundial
A Biblioteca Digital Mundial apresenta uma linha cronológica com 16.689 fatos da história da 
humanidade desde 8.000 anos antes de Cristo, dispostos por aspectos políticos, religiosos, 
fi losófi cos, artísticos, científi cos, tecnológicos e econômicos.
Web: <https://www.wdl.org/pt/>
Teoria Política Moderna: uma introdução
Isabel de Assis Ribeiro de Oliveira
Editora: Universidade Federal do Rio de Janeiro
Sinopse: Neste livro, a autora apresenta sua leitura de clássicos da teoria 
política moderna, com o objetivo de introduzir o estudante universitário - 
mas não só ele - numa vertente importante de nossa cultura. Os autores aqui 
considerados contribuíram de forma decisiva para a constituição da ordem 
própria à modernidade, sob a qual ainda vivemos. É nesse campo de ideias 
que foram concebidas, dentre outras, as � guras do cidadão e seus direitos, 
das instituições governamentais de cunho representativo e dos princípios de legitimação do poder que 
caracterizam os sistemas políticos da modernidade. É também nele que a luta política se delineia como 
legítima forma de renovação social. Este livro oferece um primeiro tratamento do tema e incentiva no 
leitor o desejo de aprofundar a pesquisa.
Comentário: O livro aborda interpretações sobre o pensamento político dos principais autores da 
Teoria Política Moderna: Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes, John Locke, Jean-Jacques Rousseau, Karl 
Marx, Alexis de Tocqueville e John Stuart Mill.
Cruzada
Ano: 2005
Sinopse: Ainda em luto pela repentina morte de sua esposa, o ferreiro 
Balian junta-se ao seu distante pai, Baron Godfrey, nas cruzadas a 
caminho de Jerusalém. Após uma jornada muito difícil até à cidade 
santa, o jovem valente entra no séquito do rei leproso Balduíno IV, que 
deseja lutar contra os muçulmanos para seu próprio ganho político e 
pessoal.
Comentário: Ainda que se trate de uma fi cção, o fi lme retrata aspectos 
relacionados ao período das Cruzadas, como a centralidade do poder 
do Rei e a relação entre religião,o Estado e violência.
REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS
ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista. São Paulo: Brasiliense, 1985.
DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Rio de 
Janeiro: Rocco, 1987
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de Janeiro: Campus, 2000.
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Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
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Venâncio (Trad.). São Paulo: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 
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Medieval. Madrid, Espanha: Alianza Editorial, 2014.
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DOBB, Maurice. A evolução do Capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
GOUCHER, Candice; WALTON, Linda. História mundial: jornadas do passado ao pre-
sente. Porto Alegre: Penso, 2011.
HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e 
civil. São Paulo: Nova Cultural, 2000.
LAPLANTINE, François. A descrição etnográfica. COELHO, João Manuel Ribeiro; CO-
ELHO, Sérgio (Trad.). São Paulo: Terceira Margem, 2004.
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MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. v. 1. São Paulo: Abril Cultural, 
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MONTAÑO, Carlos; DURIGUETTO, Maria Lúcia. Estado, classe e movimento social. 
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OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. O trabalho do antropólogo. Revista de Antropolo-
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STRAYER, Joseph R. As origens medievais do Estado Moderno. Lisboa, Portugal: 
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VEYNE, Paul. O inventário das diferenças. História e Sociologia. São Paulo: Brasi-
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WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. HEGENBERG, Leonidas; MOTA, Oc-
tany Silveira da (Trad.). 18. ed. São Paulo: Cultrix, 2011.
______. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Companhia 
das Letras, 2004.
GABARITO
1. Opção correta é a B.
2. Opção correta é a D.
3. Opção correta é a C.
4. Opção correta é a D.
5. Opção correta é a E.
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GABARITO
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Professor Dr. Éder Rodrigo Gimenes
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Apresentar aspectos referentes ao contexto em que ocorreu a 
Revolução Industrial;
 ■ Discorrer sobre a relação entre mão-de-obra e produção industrial 
sob a perspectiva marxista;
 ■ Expor os movimentos operários decorrentes da Revolução Industrial 
como movimentos sociais organizados.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Contexto histórico da Revolução Industrial
 ■ A divisão social do trabalho
 ■ Resistência e organização operária
Introdução
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INTRODUÇÃO
Como e por que a Revolução Industrial se tornou um dos mais importantes 
eventos da história mundial em todos os tempos? Quais as suas consequências 
à organização do Estado, às relações sociais e de trabalho? E como esse evento 
impactou a organização dos indivíduos até a contemporaneidade?
A base para refletirmos sobre essas questões estão presentes na unidade 
anterior deste material didático, quando tratamos, sob diferentes perspectivas 
teóricas e analíticas, da formação do Estado.
Neste capítulo, avançamos em nosso entendimento acerca da evolução do 
Estado ao longo dos séculos, com ênfase na alteração da lógica do trabalho e das 
relações trabalhistas por conta da Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra 
no século XVIII.
Para tanto, expomos informações que denotam as justificativas que 
culminaram para que tal fenômeno ocorresse naquele país, em seus des-
dobramentos sobre as relações trabalhistas, com destaque à perspectiva de 
Karl Marx sobre o binômio capital-trabalho, e ainda tratamos da organiza-
ção dos operários, insatisfeitos com as condições laborais que decorreram 
da referida Revolução, com destaque a demandas que seguem na pauta dos 
movimentos trabalhistas até os dias atuais.
Uma sugestão para a leitura desta unidade de estudos é de que cada aluno 
realize o exercício de tentar se inserir naquele contexto histórico, ou seja, ima-
ginar-se como parte do operariado que esteve sujeito às condições de trabalho 
antes e após a Revolução Industrial, com vistas à facilitar sua interpretação 
sobre as motivações da insatisfação do proletariado, que culminaram em sua 
articulação e refletem, em alguma medida, na maneira como as relações tra-
balhistas e os movimentos sociais, de modo geral, se desenvolveram ao longo 
do tempo e ainda regulam, com dimensionamento de forças distintos em rela-
ção àquele período histórico, as tensões entre Estado, sociedade, movimentos 
sociais e outros atores coletivos.
Boa leitura!
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E46
CONTEXTO HISTÓRICO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A Revolução Industrial consistiu em um grande processo de transformações 
econômicas e sociais desencadeadas no século XVIII na Inglaterra, cujos efeitos 
se expandiram aos demais Estados posteriormente, primeiramente no hemis-
fério Norte e posteriormente, em alguma medida, por todo o globo. Segundo 
Paiva e Cunha (2008), tal fenômeno fez da Inglaterra a maior potência econô-
mica ao longo do século XIX e decorreu entre cerca de 1760 até as primeiras 
duas décadas do século seguinte.
Um aspecto anterior à Revolução Industrial, abordado na primeira unidade 
deste material, é a expansão crescente do comércio, principalmente após a instau-
ração do mercantilismo, os avanços colonialistas e a constituição do liberalismo. 
Tal processo histórico se caracterizou pelo acúmulo de capital que, por um lado, 
representou elevado aumento da riqueza da elite econômica e, por outro lado, 
permitiu a esse grupo pensar sobre maneiras para aperfeiçoar as técnicas de pro-
dução de modo a otimizar recursos (incluída, com destaque, a mão de obra) para 
gerar mais capital. Segundo Th ompson (1987), somente a partir da alteração do 
processo de produção foi possível o acúmulo de capital, pois o arrendamento de 
terras e a atividade artesanal não permitiam tal intento.
Segundo Hobsbawn (2001), a ocorrência do fenômeno em debate na Inglaterra 
se deu pela confl uência de fatores de diversas ordens. De modo geral, a Europapassava por um período de crescimento demográfi co, o que signifi cava a eleva-
ção da mão de obra passível de inserção no trabalho, e de ausência de barreiras 
alfandegárias, o que permitia o livre comércio entre os Estados.
Contexto Histórico da Revolução Industrial
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Em se tratando especificamente da Inglaterra, o período foi marcado pelo fim 
da monarquia absolutista e pelo surgimento do parlamentarismo, bem como pelo 
fortalecimento da burguesia. Ademais, havia grande disponibilidade de matérias-
-primas no país, grandes jazidas de carvão (fonte de energia a ser utilizada para o 
funcionamento das máquinas) e mão de obra a baixo custo, em virtude do êxodo 
rural e a nação gozava de hegemonia naval e de posição geográfica estratégica, o 
que lhe favoreceu tanto o recebimento de matérias-primas importadas quanto o 
escoamento de sua produção para exportação, além de possuir colônias na África 
e na Ásia. Esse conjunto de fatores alinhou-se à influência das ideias iluministas e 
do progresso científico e técnico que permearam avanços intelectuais e estiveram 
presentes, em alguma medida, na conformação dos valores da Revolução Francesa.
De maneira sucinta, poderíamos afirmar que a Revolução Industrial repre-
sentou a alteração do modo de produção, de artesanal para industrial, baseado 
na utilização de máquinas em detrimento do trabalho manual. Tal processo 
de mecanização implicou em transformações não apenas no mundo do traba-
lho, mas também no desenvolvimento das relações sociais e na organização das 
sociedades, uma vez que a organização corporativa dos artesãos foi substituída 
pela relação entre patrões e empregados, definidos por Karl Marx (1983) como 
burguesia e proletariado, respectivamente. Tais grupos foram denominados por 
Marx e Engels em “Manifesto do Partido Comunista” (1998) como classes sociais.
O período destaca-se pela invenção da máquina de fiar, do tear mecânico 
e da máquina a vapor, bem como por alterações que tornaram mais eficientes 
as atividades agrícolas. Desse processo decorreu o aumento do êxodo rural em 
virtude de que as atividades manuais sofreram redução da necessidade de mão 
de ,obra na área rural. Por outro lado, intensificou-se a urbanização, ao mesmo 
tempo em que se desenvolveram as indústrias por conta da criação de maquiná-
rios, da mecanização dos processos produtivos e do aperfeiçoamento das técnicas 
de produção, estendidas, em um segundo momento, do setor têxtil e da agricul-
tura à metalurgia e aos transportes. Tal combinação de fatores levou à formação 
da classe operária, cuja relação com os patrões, o mundo do trabalho e a vida em 
sociedade serão explorados na terceira seção desta unidade de estudos.
Dentre as consequências deste processo, destaca-se, em termos nacionais, a 
discrepância entre os Estados que vivenciaram de maneiras distintas a Revolução 
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E48
Industrial, uma vez que aqueles onde a industrialização sofreu evoluções ao longo 
do século XIX ocupam até os dias atuais posições de poder econômico e político, 
ao passo que países em condições subalternas à época daquela revolução, espe-
cialmente as colônias, passaram por processos de industrialização tardia e, não 
raramente, persistem como fornecedores de matérias-primas e produtos agrí-
colas às grandes potências econômicas mundiais.
No que diz respeito ao mundo do trabalho, a Revolução Industrial implicou na 
divisão e na especialização das atividades laborais, na redução das manufaturas por 
conta de sua substituição pela maquinofatura, na constituição de uma elite indus-
trial por conta do crescimento e fortalecimento do poder econômico e políticos dos 
burgueses, na dinamização dos processos produtivos (com redução dos custos de 
produção e aumento do rendimento dos trabalhadores) e na oposição do proletariado 
à burguesia através de sua organização em sindicatos e por meio de lutas operárias.
Por um lado, a Revolução Industrial estimulou o desenvolvimento do comér-
cio e da concorrência, promoveu o aumento da produtividade e do mercado 
consumidor e avanços científicos e tecnológicos relacionados aos sistemas de 
comunicação e de transportes. Contudo, os impactos ambientais de tal evolução 
foram também expressivos, de modo que já entre os séculos XVIII e XIX cons-
tatava-se a exploração dos recursos naturais de maneira enfática.
No que tange às cidades, estas se tornaram centros industriais, mas seu cres-
cimento ocorreu com desordem e segregação, o que culminou na elevação das 
desigualdades sociais. A relação entre industrialização e processo de urbaniza-
ção, porém, será tratada na próxima unidade deste material de estudos.
Segundo Hobsbawn (2001), entre meados do século XIX e o início do século 
XX ocorreu a Segunda Revolução Industrial, caracterizada pela produção de 
novos bens – como automóveis, televisores, rádios e aviões – e a valorização 
do “moderno” em detrimento do tradicional, com alterações que influencia-
ram até mesmo a cultura das sociedades. Após a Segunda Guerra Mundial, 
as transformações sofridas pela economia mundial teriam culminado na 
Terceira Revolução Industrial, pautada por avanços em termos de integra-
ção entre ciência e produção (revolução tecnocientífica) e pela globalização 
econômica e geopolítica dos Estados nacionais.
Fonte: o autor
A Divisão Social do Trabalho
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A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO
O processo de produção em larga escala fomentado pela Revolução Industrial pro-
piciou a expansão da riqueza dos proprietários dos meios de produção e elevou 
o distanciamento entre esse grupo e os trabalhadores, geradores de tal riqueza.
Segundo Karl Marx (1983), a circulação de mercadorias seria o ponto de 
partida do capital, a partir do momento em que a preocupação e o objetivo dos 
detentores dos meios de produção deixou de ser a comercialização daquilo que 
geravam e passou ao acúmulo dos recursos fi nanceiros envolvidos no processo 
de produção e circulação de mercadorias.
Conforme o autor, a circulação ou a troca de mercadorias não cria valor, 
mas tal geração ocorreria pela agregação decorrente do acréscimo de trabalho 
empregado ao produto. Por exemplo: se compro couro e costuro um sapato, o 
couro continua a ter o mesmo valor, mas o trabalho aplicado à sua transforma-
ção em sapato é agregado ao valor pelo qual pode ser comercializado.
Assim, o trabalho seria uma mercadoria que, quando incorporada ou agregada 
a outras mercadorias (como o couro, no exemplo acima) seria capaz de produ-
zir maior valor ao produto. No contexto da Revolução Industrial, seria, então, a 
mão de obra empregada no processo industrial que traria maior valor às merca-
dorias produzidas, o que signifi caria o protagonismo do proletariado no período.
Nesse sentido, Marx (1983) destacou que o trabalho, enquanto processo 
de consumo da força laboral do proletariado pelos capitalistas, se caracterizava 
por dois fenômenos. O primeiro diria respeito ao fato de que os trabalhadores 
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Reprodução proibida. A
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encontravam-se sob o controle dos proprietários dos meios de produção, a 
quem pertencia seu trabalho e que vistoriavam se as atividades eram desen-
volvidas de maneira apropriada, ou seja, com aplicação adequada dos meios 
de produção, sem desperdício de matérias-primas e mau uso do maquiná-
rio, de modo a consumir apenas os recursos imprescindíveis à execução do 
trabalho. O segundo fenômeno é a propriedade do produto, também do capi-
talista, em detrimento daquele que realmente produziu a mercadoria e que, 
por ela,

Outros materiais