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Crucificar o Ego para Viver

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Crucificar o Ego Para Viver 
 
 
 
Silvio Dutra 
 
Dez/2015 
 
 
2 
 
Sumário 
Introdução 3 
Renúncias Necessárias 4 
A Amputação Que É Necessária Para Entrar no Céu 12 
“...quem neste mundo odeia a sua vida,” 17 
Renúncia e Abnegação 21 
O Verdadeiro Significado da Renúncia 25 
Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que Tem Não 
Pode Ser Meu Discípulo 
 
 35 
Criado para Ser Espiritual e não Carnal 44 
Porque a Vida Eterna Demanda a Morte do Nosso 
Ego 
 
 46 
Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que Tem Não 
Pode Ser Meu Discípulo 
 
 52 
Se Não Perder Não Ganhará 61 
Trazendo no Corpo a Mortificação de Jesus 66 
Esvaziar-nos de nós Mesmos Para Sermos Úteis 70 
Escrito na Mente e no Coração 77 
O Governo Usurpador da Alma Sobre o Nosso 
Espírito 
 
 84 
A real condição da natureza humana 106 
O homem é inimigo de Deus 112 
A Carnalidade é Inimiga de Deus 116 
Despindo-se do Velho e Revestindo-se do Novo 122 
Como e porque ser espiritual e não carnal 125 
Não Mais na Carne 177 
A Supremacia do Espírito Sobre o Corpo 186 
Espiritual 201 
A Natureza da Nova Criatura em Cristo Jesus 207 
Natural e Espiritual 213 
Curando a Doença e Não Aliviando Somente os 
Sintomas 
 
221 
Destruindo a Fábrica do Mal e Não Apenas os Seus 
Produtos 
 
226 
3 
 
Introdução 
Watchman Nee costumava dizer que a primeira e 
principal lição que deveria ser ensinada aos novos 
convertidos era aquela que foi tão enfatizada por 
nosso Senhor Jesus Cristo em seu ministério 
terreno, de que deveríamos nos negar a nós 
mesmos, tomar a cruz diariamente e segui-lo para 
que pudéssemos ser de fato seus discípulos. 
Como há muita falta da devida compreensão do 
significado desta ordenança, resolvemos tratar do 
assunto neste livro, fundamentando nossas 
palavras no ensino bíblico e na forma como esta 
verdade declarada por nosso Senhor se aplica e se 
ajusta à realidade prática da vida. 
Com tal propósito em vista reunimos alguns dos 
vários artigos que escrevemos sobre este assunto e 
esperamos que eles sejam de alguma valia para os 
amados leitores. 
4 
 
 
Renúncias Necessárias 
 
Nós lemos no texto de Lucas 14.25-35 o seguinte: 
 
“25 Ora, iam com ele grandes multidões; e, 
voltando-se, disse-lhes: 
26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e 
mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda 
também à própria vida, não pode ser meu discípulo. 
27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não 
pode ser meu discípulo. 
28 Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, 
não se senta primeiro a calcular as despesas, para 
ver se tem com que a acabar? 
29 Para não acontecer que, depois de haver posto 
os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que 
a virem comecem a zombar dele, 
5 
 
30 dizendo: Este homem começou a edificar e não 
pode acabar. 
31 Ou qual é o rei que, indo entrar em guerra contra 
outro rei, não se senta primeiro a consultar se com 
dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele 
com vinte mil? 
32 No caso contrário, enquanto o outro ainda está 
longe, manda embaixadores, e pede condições de 
paz. 
33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não 
renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu 
discípulo. 
34 Bom é o sal; mas se o sal se tornar insípido, com 
que se há de restaurar-lhe o sabor? 
35 Não presta nem para terra, nem para adubo; 
lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, 
ouça.” 
 
6 
 
A obediência e serviço a Cristo são na verdade uma 
sequência de renúncias feitas por amor a Ele, e para 
que a Palavra de Deus se cumpra em nossas vidas. 
Por exemplo, há necessidade que os pais renunciem 
a seus filhos, e os filhos a seus pais, para que o 
propósito de Deus relativo ao casamento se 
consolide, pelo ato de deixar o homem pai e mãe, 
se unir à sua mulher, para que não sejam mais dois, 
mas uma só carne aos olhos do Senhor. 
Todavia, há uma renúncia suprema que se impõe ao 
próprio casal, de maneira que deverão aprender a 
renunciar-se mutuamente, para que o amor e 
serviço a Cristo, venham em primeiro lugar em suas 
vidas. 
Por isso, nosso Senhor enunciou claramente às 
multidões que O seguiam, as condições necessárias 
para o discipulado, porque ninguém poderá ser Seu 
discípulo se não renunciar a tudo quanto possui. 
7 
 
Quem quiser ser discípulo de Cristo terá que 
aprender a renunciar a tudo que lhe seja muito 
querido, e até à Sua própria vontade. 
Ninguém poderá guardar a palavra de perseverança 
do Senhor, que consiste em não negar o Seu nome 
e os Seus mandamentos, sejam quais forem as 
circunstâncias, caso não se tenha um sincero amor 
a Cristo que seja superior a tudo o mais que ame 
neste mundo, incluindo a sua própria vida. 
Isto porque nas situações práticas da vida, o serviço 
ao Senhor exigirá renúncias da parte de Seus 
discípulos. 
Eles terão que sacrificar os interesses de outras 
pessoas e até os seus próprios interesses, para que 
possam, não raras vezes, se dedicarem ao serviço do 
Senhor. 
Para melhor esclarecer o caráter da renúncia que se 
exige dos discípulos, nosso Senhor comparou tal 
renúncia como aquela que se faz necessária aos que 
se empenham numa guerra. 
8 
 
Eles terão que reunir recursos para a batalha e terão 
que deixar todas as demais coisas que eles amam 
para que possam se dedicar aos combates que terão 
que empreender na guerra em que estiverem 
empenhados. 
Para o mesmo propósito usou a ilustração de quem 
edifica uma torre. 
Ele não poderá concluir a construção caso não 
calcule o custo dos materiais e caso não se dedique 
totalmente ao projeto da torre que pretende 
construir. 
Isto lhe tomará tempo e dinheiro e não poderá estar 
mais dedicando a totalidade do seu tempo a outras 
atividades e interesses. 
O afeto natural pelas pessoas que amamos terá que 
ceder lugar muitas vezes ao afeto espiritual, que 
decorre do amor celestial divino, para o 
atendimento daqueles aos quais devemos servir 
pela vontade do Senhor, toda vez que tais afetos 
colidirem. 
9 
 
Servir ao Senhor é então comparado aos sacrifícios 
e renúncias que se exigem daqueles que se 
empenham numa guerra ou num projeto de 
construção. 
Quando o nosso afeto natural pelos nossos pais 
entrar em competição com o nosso dever evidente 
para com Cristo, nós temos que dar prova do nosso 
amor ao Senhor, cumprindo o que se exige de nós, 
conforme revelado na Sua Palavra, mesmo quando 
isto signifique contrariar aqueles que amamos, ou 
então que tal implique um grande sacrifício a ser 
feito por nós. 
Cristo deve ter a preferência em todas as coisas, se 
quisermos fazer a Sua vontade, e sermos agentes da 
sua bênção para muitas pessoas que necessitam do 
seu amor. 
Quantos interesses de amigos terão que ser 
deixados para trás para que possamos fazer a 
vontade de Deus, em relação a algum serviço 
prático que Ele nos tenha ordenado. 
10 
 
Não raras vezes, Deus colocará o nosso amor por Ele 
à prova, fazendo com que tenhamos a oportunidade 
de demonstrar na prática a nossa dependência dEle, 
e fidelidade a Ele e à Sua Palavra, em meio às 
tribulações que nos alcançam em forma de 
enfermidades, carências, perseguições, etc. 
Se não estivermos dispostos a fazer a renúncia total 
que Cristo exige de nós, é certo que o inferno se rirá, 
e muitas pessoas também rirão de modo 
escarnecedor por termos começado um 
relacionamento com o Senhor, e não termos 
permanecido de modo constante na realização e 
consumação do nosso amor a Ele, por Lhe termos 
voltado as nossas costas. 
Assim, todo verdadeiro cristão deve ter uma 
posição firme e definida contra todo tipo de 
apostasia e corrupção de mente e de espírito, 
porque tal apostasia e corrupção lhe tornarão inútil 
para os propósitos de Deus, e ele virá por fim a ser 
como o sal que perdendo o seu sabor, para nada 
11 
 
mais presta senão para ser lançado fora para ser 
pisado pelos homens,como disse Jesus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
A Amputação Que É Necessária Para 
Entrar no Céu 
 
“E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor 
entrares maneta na vida do 
que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o 
fogo inextinguível onde 
não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga. 
E, se teu pé te faz tropeçar, corta-o; é melhor 
entrares na vida aleijado do que, tendo os dois pés, 
seres lançado no inferno onde não lhes morre o 
verme, nem o fogo se apaga. 
E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é 
melhor entrares no reino de Deus com um só dos 
teus olhos do que, tendo os dois seres lançado no 
inferno, onde não lhes morre o verme, nem o fogo 
se apaga.” (Marcos 9.43-48) 
 
13 
 
Com este ensino, nosso Senhor Jesus Cristo 
enfatizou a vital importância da salvação da alma, 
pela demonstração que caso fosse necessário para 
obtê-la, deveríamos amputar partes importantes do 
nosso corpo físico, que por suposição, fossem a 
causa de nos manterem aprisionados ao pecado. 
É evidente que Ele não está recomendando uma 
prática de mutilações literais, porque nos é 
ordenado também por Deus o cuidado com a 
preservação do nosso corpo físico. 
Mas, para ilustrar que em não raros casos, a 
salvação será obtida por renúncias a práticas 
pecaminosas, que serão dolorosas para nós, e 
muitas vezes, que até mesmo colocarão em risco a 
nossa integridade física – quantos não foram e que 
têm ainda sido martirizados por conta da fé que 
abraçaram, ainda que não tivessem tropeçado, 
dando causa a isto - todavia, sofreram com 
paciência e voluntariamente o martírio sabendo 
que havia uma vida muito melhor e eterna lhes 
14 
 
aguardando, a qual, na verdade, já estavam 
experimentando desde que se converteram a 
Cristo. 
O ensino de nosso Senhor alude à mortificação do 
pecado, que deve ser feita por todos os cristãos. 
Este é um dever que deverão operar para a sua 
santificação, pelo corte de afeições pecaminosas e 
todo o tipo de inclinações carnais que os levem a 
pecar. Os que se entregam a este trabalho 
evidenciam em si mesmos que entraram no reino de 
Deus, e por conseguinte, jamais serão lançados no 
inferno eterno. 
A ilustração da amputação dos membros indica 
portanto que o trabalho de mortificação do pecado 
não é algo nocional, ou de mero caráter intelectual, 
mas algo que será realizado em nossa própria vida, 
atingindo o âmago do nosso ser, pelo despojamento 
do velho homem, da natureza terrena decaída no 
pecado que foi crucificada juntamente com Cristo, 
15 
 
recebendo a necessária sentença de morte para que 
possamos viver em novidade de vida. 
Nosso Senhor não fez portanto, uma aplicação 
relativa a um suposto castigo de pecados 
cometidos, mas uma alusão à remoção necessária 
do pecado, para que possamos entrar no reino de 
Deus. 
Assim, as concupiscências que combatem contra a 
alma devem ser removidas. 
Esta amputação de caráter espiritual não é para 
morte, assim como na ilustração apresentada por 
nosso Senhor não foi indicada a amputação de 
qualquer órgão vital. É uma remoção para vida e 
não para morte. Assim como quem amputa um 
órgão gangrenado para continuar vivendo, neste 
caso apresentado a retirada das inclinações e dos 
hábitos pecaminosos visam mais do que permitir 
que continuemos vivendo esta vida natural, senão 
que obtenhamos a vida espiritual eterna. 
16 
 
Outra parte importante do ensino de Jesus é o de 
que a alma embora esteja morta com suas partes 
gangrenadas pelo pecado, ela pode ainda ser 
recuperada, desde que nos apresentemos a Ele para 
a realização deste trabalho de remoção daquelas 
coisas que são para nós a causa do nosso tropeço, e 
que impedem a nossa entrada no reino de Deus. 
Assim, aqueles que carregam este corpo de morte 
do pecado em sua jornada terrena, mas do qual vão 
se despojando ao longo de sua caminhada, haverão 
de ter a sua entrada no reino de Deus, amplamente 
suprida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 “...quem neste mundo odeia a sua 
vida,” (Jo 12.25) 
 
O mesmo Jesus que disse em João 12.25.26: 
“Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste 
mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida 
eterna. Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde 
eu estiver, ali estará também o meu servo; se 
alguém me servir, o Pai o honrará.", também disse 
que veio a este mundo para que tivéssemos vida, e 
que a tivéssemos em abundância (Jo 10.10). 
Não há qualquer paradoxo entre as duas passagens 
bíblicas citadas; ao contrário, são idênticas e 
complementares mutuamente. 
O ponto a ser destacado é que nosso Senhor se 
refere a dois tipos de vida: a natural, relativa a este 
mundo cuja fonte reside na nossa natureza terrena 
pecaminosa, a qual deve ser perdida pelo trabalho 
da cruz, por odiarmos o pecado que em nós habita 
e que há no mundo; e a vida que é santa, espiritual 
18 
 
e celestial que recebemos por meio da fé em Jesus, 
pois é este o tipo de vida abundante que somente 
Ele pode nos dar. 
A manifestação desta vida celestial abundante 
independe de circunstâncias, se somos ou não 
afligidos por provações em forma de enfermidades, 
perseguições, pobreza, e até mesmo pelas 
tentações da carne, do mundo e do diabo. 
Aquele que tem carregado a sua cruz diariamente, e 
que tem crucificado o seu ego, seguindo o pendor 
do Espírito Santo por caminhar em santificação com 
Jesus, terá uma fonte de paz, alegria, gratidão, 
amor, jorrando em seu interior para a vida eterna. 
Não importa que esteja preso injustamente, por 
anos, como sucedeu com José no Egito, conforme o 
conselho e determinação de Deus, para bons 
propósitos definidos para o aperfeiçoamento de 
José na paciência e na santificação; enquanto o 
mordomo de faraó, que havia transgredido contra o 
19 
 
próprio rei, foi colocado por ele em liberdade em 
poucos dias. 
Os apóstolos foram também presos e duramente 
perseguidos, mas perseveraram na fé, na paciência 
e na esperança, enquanto aqueles que os oprimiam 
prosperavam materialmente neste mundo, e no 
entanto, não haviam alcançado a vida eterna 
abundante que eles possuíam. 
Deus corrige, repreende e disciplina apenas aqueles 
que são seus filhos, e esta é uma das razões porque 
são provados por Ele em circunstâncias em que os 
que os ímpios são livrados rapidamente, enquanto 
o crente permanece por maior período debaixo dos 
mesmos sofrimentos em que eles se encontravam. 
Nestas tribulações dos crentes estão sendo forjadas 
a fundamentação do caráter, a paciência, a 
perseverança, a fé e a esperança. 
É evidente que naqueles que amam o tipo de vida 
que o mundo tem a oferecer, ou seja, as coisas e os 
tipos de comportamentos que são contrários à 
20 
 
vontade e santidade de Deus; nenhuma destas 
graças está sendo forjada, até mesmo porque não 
as desejam ou conhecem; e como aqueles que 
amam o mundo permanecem como inimigos de 
Deus, jamais obterão a vida eterna que está em 
Jesus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
Renúncia e Abnegação 
 
Qual é o grande motivo da renúncia e abnegação 
que nos são exigidas por nosso Senhor Jesus Cristo? 
Creio que seja o compromisso total que é necessário 
ter com Ele e com o evangelho. 
Em várias passagens Ele ilustrou o caráter deste 
compromisso pleno quando citou, por exemplo, que 
quem lança mão do arado e olha pra trás não é apto 
para o reino de Deus (Lucas 9.61); que quem começa 
a construção de uma torre ou uma guerra deve 
concluí-las empenhando-se até o fim (Lucas 14.28-
32). 
O arar o campo, a construção da torre ; e a 
declaração de guerra devem ser minuciosamente 
calculados e não podem ser abandonados ou 
interrompidos de modo algum, sob pena de termos 
o nosso trabalho prejudicado e não concluído. 
22 
 
Fomos empregados como lavradores e 
construtores, e alistados como soldados de Cristo 
ao nos convertermos aEle, e para agradá-lo 
deveremos cuidar inteiramente dos interesses do 
seu reino. 
Em consequência teremos que renunciar a muitos 
projetos e desejos pessoais; teremos que priorizar o 
nosso tempo para Cristo e o reino, e isto certamente 
encurtará o tempo que dispendemos sobretudo 
com os nossos familiares e as pessoas que exigem 
muito da nossa atenção em nossos 
relacionamentos, e por isso Jesus disse que: 
“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe, 
a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também 
à própria vida, não pode ser meu discípulo.” (Lucas 
14.26) 
Como isto contraria os nossos sentimentos e 
vontade naturais, então necessitaremos colocar em 
prática o que Ele nos ensina: 
Primeiro, 
23 
 
“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém 
quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua 
cruz, e siga-me;” (Lucas 14.27) 
E em seguida, 
“Assim, pois, todo aquele dentre vós que não 
renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu 
discípulo.” (Lucas 14.33) 
Não há outra alternativa para vencer nossos afetos 
naturais que possam nos impedir de servir ao 
Senhor inteiramente senão a crucificação do nosso 
ego com todos os seus desejos. 
Teremos que contrariar nossos desejos e até a 
própria vida para que possamos servir a Cristo da 
maneira pela qual convém ser servido. 
Ele nos deu o exemplo supremo disto não fazendo a 
sua própria vontade, senão a do Pai, para que 
pudesse consumar a nossa salvação. 
De igual forma isto se aplica a nós, porque não 
podemos nos empenhar na obra de salvação de 
24 
 
almas, sem que se veja operando em nós, não a 
nossa, mas a vontade do Senhor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
O Verdadeiro Significado da Renúncia 
 
“26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e 
mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda 
também à própria vida, não pode ser meu discípulo. 
27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não 
pode ser meu discípulo... 
33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não 
renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu 
discípulo.” (Lc 14.26, 27, 33). 
 
O verdadeiro significado da renúncia cristã não diz 
respeito tanto ao que abandonamos e o esforço que 
realizamos, quanto por quem o fazemos, a saber, 
se por nós mesmos ou por Cristo. 
Este desapego às coisas que mais amamos, inclusive 
a nós mesmos, conforme nos é imposto pelo Senhor 
para segui-lO, é de caráter totalmente diferente das 
renúncias que as pessoas costumam fazer para 
atingirem seus objetivos, porque elas o fazem por si 
26 
 
mesmas e por aquilo que escolhem fazer, e não para 
Cristo, e segundo a Sua vontade divina. 
O cristão é portanto chamado a se auto negar e 
carregar a cruz que mortificará o seu ego, para 
poder seguir verdadeiramente a Cristo, de maneira 
que possa dizer de fato que tem feito a vontade de 
Deus neste mundo, e não a sua própria vontade. 
Nós selecionamos apenas três versículos da porção 
de Lucas 14.25-35 nos quais Jesus expôs as 
condições exigidas por Ele para o discipulado, de 
maneira que aqueles que pretendem segui-lO 
fazendo a Sua vontade estejam plenamente 
instruídos quanto ao que será exigido deles para tal, 
de maneira que possam se armar do pensamento 
das coisas que terão que fazer e ao que terão que 
renunciar se pretenderem fazer de fato a vontade 
de Deus. 
Todos os que pretenderem seguir a Cristo têm que 
contar com o pior, e se prepararem 
adequadamente. 
27 
 
É possível que muitos discípulos de Jesus pensassem 
que Ele lhes diria o seguinte: “Se qualquer homem 
vier a mim, e for meu discípulo, ele terá honras e 
riquezas em abundância neste mundo.”. Mas Ele 
lhes disse exatamente o contrário disto, e lhes 
revelou que deveriam se dispor a deixar tudo o que 
fosse querido a eles, e deveriam ser desmamados 
de tudo aquilo em que buscavam o seu conforto e 
segurança, e que teriam aflições. 
Eles deveriam morrer para tudo aquilo que lhes 
desse conforto e segurança no mundo e morrerem 
inclusive para si mesmos, não mais vivendo para 
fazer a vontade do eu, de maneira que pudessem 
conhecer e praticar a vontade de Deus. 
Assim ninguém pode ser discípulo de Cristo se não 
estiver disposto a contrariar a vontade de seus 
familiares (v. 26) quando esta vontade entrar em 
competição com a de Deus. E não somente isto, 
deve estar disposto a contrariar a sua própria 
vontade e vida. Se não for sincero nisto e se não o 
28 
 
fizer, não poderá ser constante e perseverante na 
obra de Deus, a não ser que ame mais a Cristo do 
que qualquer outra coisa neste mundo, e esteja 
disposto a se separar de tudo aquilo que ele possuir 
oferecendo-o como um sacrifício para Deus, de 
maneira que Cristo possa ser glorificado por esta 
nossa separação para nos consagrarmos 
inteiramente a Ele (tal como os mártires que não 
amaram as suas vidas diante da morte). 
É somente quando nos separamos dos afetos que 
nos prendem a este mundo, que somos capacitados 
a servir melhor a Cristo. 
Assim Abraão se separou do próprio país dele, e 
Moisés da corte de faraó. 
Não é feito nesta passagem de Lucas menção a 
casas e terras porque a filosofia ensinará a olhar 
para isto com desprezo; mas o cristão considera isto 
de uma maneira bem mais elevada, por saber que 
tudo o que o homem amar seja em seu 
relacionamento com pessoas ou bens, se ele for um 
29 
 
discípulo de Cristo, terá que amar menos estas 
coisas do que a Cristo, e estar disposto a se separar 
delas caso seja necessário para continuar seguindo 
ao Senhor. 
Não que as pessoas que amamos devam ser em 
algum grau desprezadas, mas deve ser perdido o 
conforto e satisfação que achamos nelas para que 
somente Cristo seja todo o conforto e sustentáculo 
de nossas vidas. E é a este tipo de renúncia a que o 
Senhor se refere ao dizer que é necessário renunciar 
a tudo para ser seu discípulo, isto é, aqueles que 
pretendem segui-lo não podem ter a razão da sua 
esperança e conforto em qualquer coisa ou pessoa 
deste mundo, porque terão que aprender a 
depender inteiramente do Senhor porque Deus os 
provará muitas vezes vendo falhar ou faltar estes 
confortos, e não raro, mesmo aqueles que muito 
amamos e prezamos se levantarão contra nós 
quando perceberem a nossa plena disposição de 
nos consagrarmos inteiramente a Deus. 
30 
 
Quando nosso dever para com nossos pais entrar 
em competição com nosso dever evidente para 
Cristo, nós temos que dar a preferência a Cristo. Se 
nós tivermos que negar a Cristo para não sermos 
banidos por nossos parentes, nós temos que perder 
a companhia deles e permanecer fiéis a Cristo. 
Todo homem ama a sua própria vida, mas nós não 
podemos ser discípulos de Cristo se nós não O 
amamos mais que nossas próprias vidas. A 
experiência dos prazeres da vida espiritual e a 
esperança da vida eterna farão com que esta dura 
declaração do Senhor se torne fácil. Quando a 
tribulação e a perseguição surgirem por causa da 
Palavra, então principalmente a tentação será 
superada se nós amarmos mais a Cristo. 
A tentação constante de buscarmos a Deus para que 
Ele faça a nossa vontade, em vez de nos inteirarmos 
qual seja a vontade dEle para conosco, para que nos 
empenhemos em fazê-la, só pode ser tratada pela 
cruz, que imporá sua sentença de morte sobre os 
31 
 
desejos carnais de nossa alma, de forma que 
sejamos conduzidos pelo Espírito Santo. 
Há um grande equívoco em se pensar que uma 
grande fé é aquela que consegue obter coisas de 
Deus para própria e exclusiva conveniência pessoal. 
Mas, ao contrário uma fé verdadeira em exercício 
nos capacitará a renunciar a tudo e a fazer com 
amor e paciência perseverante a obra que Deus nos 
tem designado, enquanto descansamos na Sua 
promessa de suprir aquilo que nos for necessário. 
Esta fé verdadeira em exercício fará muitas petições 
a Deus, mas somente daquilo que for da Sua 
vontade, paraque possamos continuar a Seu 
serviço neste mundo, que não devemos amar, e do 
qual devemos estar desmamados. 
A verdadeira fé nunca levará um cristão 
amadurecido e devidamente instruído a buscar o 
que seja da sua própria conveniência, mas somente 
aquilo que é aprovado e conveniente de ser pedido 
a Deus. 
32 
 
Ele saberá desfrutar o melhor desta vida, sem 
qualquer ascetismo, mas nada terá o domínio de 
sua vontade e coração, porque este domínio 
pertencerá ao Senhor, que sempre quer o melhor 
para nós. 
Os que são verdadeiramente discípulos de Cristo 
estão construindo uma torre que os aproxima cada 
vez mais das realidades do céu, e eles sabem que a 
construção desta torre lhes impõe o custo da 
mortificação dos seus pecados, da renúncia ao 
mundo e ao eu, e de tudo o mais que é necessário 
para permanecerem em sua obediência a Deus. 
Eles são também como reis empenhados numa 
grande guerra contra os poderes das trevas, contra 
o pecado, e contra as tentações do mundo. 
E a vitória nesta guerra lhes exigirá o custo da 
vigilância, da oração perseverante, de estarem 
equipados continuamente com toda a armadura de 
Deus, resistindo firmes na fé ao diabo, vivendo em 
sobriedade. 
33 
 
Enfim, o discipulado cobra o preço da consagração 
total a Deus, porque o homem de coração dobre 
não obterá nada do Senhor. Não se pode servir a 
dois senhores. Ou se serve a Deus ou às riquezas. Ao 
que é terreno ou ao que é celestial. Ao que é do 
Espírito Santo ou ao que é da carne. À luz ou às 
trevas. Não se pode ter um pouco de um e um pouco 
de outro nestas coisas citadas. Se tivermos um não 
teremos o outro. Porque onde estiver o nosso 
tesouro, ali estará também o nosso coração. Mas é 
comum que muitos se enganem pensando que 
estão seguindo a Cristo e fazendo uma obra 
verdadeira para Deus enquanto não renunciam a 
tudo quanto devem renunciar para que Cristo e 
somente Cristo seja o grande prazer e objetivo de 
suas vidas. 
A vida cristã é uma declaração de guerra contra o 
pecado, o diabo e o mundo, para que almas possam 
ser resgatadas das trevas para a luz de Jesus. E 
somente os que têm calculado o custo desta guerra 
34 
 
e pago efetivamente o preço necessário poderão 
desfrutar das grandes vitórias que obterão pelo 
auxílio da graça do Senhor. 
Sem esta renúncia que é imposta aos discípulos de 
Cristo eles não poderão ter sal em si mesmos para 
preservar este mundo da corrupção, e salgarem a 
vida de muitos com o testemunho de suas próprias 
vidas. Sem renúncia o sal perde o sabor e quando 
isto acontece é lançado fora e será pisado pelos 
homens, porque terá perdido a sua função de salgar 
para preservar. Isto ensina de modo muito claro que 
o Senhor somente pode usar aqueles que estiverem 
consagrando efetivamente suas vidas. 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
Aquele que Não Renunciar a Tudo o 
Que Tem Não Pode Ser Meu Discípulo 
 
Nosso Senhor Jesus Cristo foi quem proferiu as 
palavras do nosso título. 
Há muitos ensinamentos para nós quanto a isto, na 
chamada de Eliseu. 
Gostaríamos de enfocar o que lemos no texto de I 
Reis 19.19-21: 
“19 Partiu, pois, Elias dali e achou Eliseu, filho de 
Safate, que andava lavrando com doze juntas de 
bois adiante dele, estando ele com a duodécima; 
chegando-se Elias a Eliseu, lançou a sua capa sobre 
ele. 
20 Então, deixando este os bois, correu após Elias, e 
disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e 
então te seguirei. Respondeu-lhe Elias: Vai, volta; 
pois, que te fiz eu? 
21 Voltou, pois, de o seguir, tomou a junta de bois, 
e os matou, e com os aparelhos dos bois cozeu a 
36 
 
carne, e a deu ao povo, e comeram. Então se 
levantou e seguiu a Elias, e o servia.” . 
 Deus mesmo chamou Eliseu para ser profeta no 
lugar de Elias, conforme se vê no verso 16, quando 
lhe ordenou que ungisse a Jeú, rei de Israel, a 
Hazael, rei da Síria, e a Eliseu por profeta. 
Não foi numa escola de profetas, nem num templo, 
que Eliseu foi chamado, mas no seu local de 
trabalho, quando arava o campo com doze juntas de 
bois, sendo que ele próprio arava com uma destas 
juntas. 
E não tem sido assim o método comum com o qual 
muitos têm sido chamados pelo Senhor, para 
deixarem suas atividades seculares, para viverem 
do evangelho? 
Eliseu não deixou pouco para se consagrar à sua 
chamada, pois se diz que arava com doze juntas de 
bois. 
Ele ofereceu tudo o que tinha como um holocausto, 
nas mãos do Senhor, como símbolo da sua renúncia 
37 
 
ao seu antigo modo de vida, quando matou os seus 
bois e fez uma fogueira para assar a carne com os 
instrumentos com os quais arava a terra. 
Ele não seria mais agricultor dali por diante, porque 
se desfez dos meios que eram necessários para a 
realização do seu antigo sustento de vida. 
Um dos motivos de Deus ter chamado Eliseu para 
ser sucessor de Elias, foi o fato de apesar dele ser 
um homem importante, que tinha servos, era 
simples e trabalhador, porque se diz que ele 
também estava trabalhando no arado, quando 
podia deixar todo o serviço pesado a cargo dos seus 
empregados. 
Pessoas que buscam uma vida de mordomia neste 
mundo não serão chamadas por Deus para a Sua 
obra. 
O pedido de Eliseu para se despedir de seus pais, 
não foi uma desculpa para demorar a atender à 
chamada do Senhor, como a citada em Lucas 9.61. 
38 
 
Ele somente o fizera por uma questão de respeito e 
dever para com os seus pais. 
Elias não constrangeu Eliseu a segui-lo, mas 
lembrou-lhe somente que havia lançado o seu 
manto sobre ele, como uma indicação de que estava 
sendo chamado por Deus para ser preparado por 
ele, Elias, para o ministério, e isto estava 
representado no fato de que estaria debaixo das 
vestes de Elias, isto é, de sua proteção e cuidado. 
Eliseu se colocou humildemente na posição de servo 
de Elias, e era o servo que lavava as mãos do profeta 
como se vê em II Reis 3.11. 
Há renúncias impostas para o exercício do 
ministério 
Muitos que são chamados pelo Senhor, 
especialmente para a obra de missões, vivendo pela 
fé, custam a entender em princípio, qual é o caráter 
da chamada deles. 
Até o próprio Eliseu, aquele gigante espiritual, 
demonstrou estar ainda ligado a laços familiares de 
39 
 
sangue, quando o Senhor o chamou para o 
ministério profético através de Elias (I Rs 19.19-21). 
Muitos ficaram perplexos por grande tempo até 
entenderem que as perdas que sofreram em suas 
vidas, foram decorrentes desta chamada do Senhor 
para o exercício do ministério. 
O Senhor impõe renúncias àqueles aos quais chama, 
tal como fizera com todos os apóstolos, que tudo 
tiveram que deixar para poder segui-lO. 
A quantas coisas e pessoas estamos apegados, 
ainda que não estejamos devidamente 
conscientizados de tal realidade. 
E dificilmente entendemos que muitas perdas que 
sofremos, e guinadas violentas que são produzidas 
por Deus em nossas vidas, têm o propósito de nos 
tornar desimpedidos para a realização da Sua obra. 
Se não houver esta renúncia aprendida e recebida 
de modo voluntário, pela consagração de tudo o 
que somos e do que temos ao Senhor, não será 
possível trabalhar para Deus, porque o nosso 
40 
 
coração estará apegado àquelas coisas e pessoas 
das quais, o Senhor sabe que devemos nos 
desprender primeiro (não deixar de lhes assistir, 
nem abandoná-las, mas não ser presa de laços 
sentimentais e emocionais, ou de dependência 
financeira, psicológica ou de qualquer outra 
ordem), para que possamos então fazer a Sua 
vontade, sem que sejam tais coisas e pessoas a 
principal ocupação de nossos pensamentos, 
afeições e desejos. 
Quando Deus chamou Eliseu através do profeta 
Elias, este lançou a sua capa sobre Eliseu, indicando 
que a autoridade espiritual que estava sobre Elias, 
seria transferida por Deus, no tempo oportuno, 
para Eliseu. 
Mas desde já, ele teria que abandonar tudo para 
poder seguir Elias, para serpreparado para ser o seu 
sucessor. 
Quando Jesus lança sobre nós a sua capa 
concedendo-nos dons, capacitações, e Sua 
41 
 
autoridade, é para a realização da Sua obra, e não 
da nossa. Para fazermos a Sua vontade e não a 
nossa. 
Adeus amigos! Adeus prazeres carnais e mundanos! 
Adeus parentes! Adeus interesses particulares! 
Adeus sonhos seculares! É a atitude que devemos 
ter em nosso coração, tão logo identifiquemos que 
fomos chamados para a realização de uma obra 
específica para Deus. 
Aqueles que não se auto negarem não poderão 
tomar diariamente a sua cruz. 
E sem tomar a cruz é absolutamente impossível 
seguir a Jesus. 
Porque a cruz nos imporá renúncias, empenhos, 
deslocamentos, que a nossa carne não sente 
nenhum prazer neles. 
A cruz será um objeto de ofensa para aqueles que 
não se autonegarem primeiro. 
42 
 
Eles se escandalizarão com os sofrimentos e aflições 
que a cruz lhes trará quando estiverem 
empenhados na realização da obra do Senhor. 
Por isso, os apóstolos nos advertem quanto à 
necessidade de estarmos armados com o 
pensamento de que importa suportar todo tipo de 
tribulação e oposição, que nos possam sobrevir por 
causa da nossa consagração ao serviço de Deus. 
Assim, aqueles que têm sido chamados por Deus, 
em vez de ficarem perplexos e gemendo por causa 
das coisas que estão sofrendo, devem aprender, tal 
como Paulo, a se gloriarem nas tribulações que 
estiverem sofrendo, e nas renúncias que o próprio 
Deus lhes está impondo, porque estas aflições são a 
prova mesma de que estão empenhados numa obra 
que procede verdadeiramente de Deus, e isto é um 
motivo não para tristeza, mas para alegria, é uma 
grande honra, e não uma condição humilhante; uma 
grande vantagem, recompensa e riqueza espiritual, 
e nenhuma tragédia ou miséria. Afinal, deixaram de 
43 
 
confiar no cuidado dos homens, para viverem 
debaixo do cuidado do Deus Altíssimo e 
Onipotente. 
Gloriemo-nos portanto somente no Senhor, nas 
tribulações e na Sua cruz, porque, por meio de todas 
estas coisas, somos capacitados a sermos bem 
sucedidos na obra que realizamos para a glória do 
Seu nome, e por meio das quais cessarão todos os 
nossos fracassos e vazio de vida. 
Eliseu que o diga! Tudo o que ele realizou para Deus 
se tornou um grande exemplo para nós, de que vale 
muito a pena tudo deixar para podermos seguir a 
Jesus. 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
Criado para Ser Espiritual e não Carnal 
 
Está declarada de modo muito claro e direto na 
Bíblia, desde o seu primeiro livro de Gênesis, a 
verdade relativa à condição natural de todo ser 
humano de se inclinar para a sua natureza terrena 
carnal pecaminosa, e por ela ser dirigido, em vez de 
se inclinar para a natureza celestial e espiritual 
divina, para a qual fora criado, para viver por meio 
dela eternamente. 
O próprio Deus expôs esta verdade no motivo 
declarado do dilúvio que traria sobre toda a Terra: 
 
“Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá 
para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus 
dias serão cento e vinte anos.” (Gênesis 6.3) 
 
Veja a comprovação desta verdade, porque no meio 
de toda uma geração que se inclinava e se movia 
45 
 
apenas pelo que era carnal, somente um homem 
(Noé) havia se voltado para Deus, pela fé, e obtido 
pela justificação, a coparticipação da natureza 
divina, pela qual recebeu o testemunho de ser 
homem justo, temente a Deus e que se desviava do 
mal. 
Viver na carne, segundo a lição que nos foi deixada 
no dilúvio, opera a morte e a destruição. 
E deste viver todos compartilham, em razão da 
natureza que possuímos, até que sejamos 
libertados e justificados pela fé em Cristo, para 
recebermos uma nova natureza, na qual se cumpre 
o propósito eterno de Deus na nossa criação. 
Afinal, Deus é espírito, e importa que também o 
sejamos para termos comunhão com Ele e 
participação da sua vida divina. 
 
 
 
 
46 
 
Porque a Vida Eterna Demanda a 
Morte do Nosso Ego 
 
Paulo poderia ter começado o 4º capítulo de 2 
Coríntios com as palavras do verso 5: 
“Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a 
Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos 
servos por amor de Jesus.”. 
Porque para não pregarmos a nós mesmos, mas a 
Cristo é preciso trazer o morrer de Jesus em nosso 
corpo, em nosso ego, e em tudo que se refira à 
nossa própria vontade e desejos, que devem ser 
levados à morte na cruz, para que a vida de Jesus 
possa se manifestar através de nós (v. 10). 
Esta mortificação progressiva de todas as áreas de 
nossas vidas há de ocorrer se tivermos uma 
chamada para o ministério, tal como Paulo a tivera, 
porque o ministério consiste em manifestar não a 
nós mesmos, mas o que é relativo à vida de Cristo. 
47 
 
E para isto o velho homem tem que ser despojado, 
para que a nova criatura se manifeste em poder 
nestes vasos de barro que são os nossos corpos 
mortais. 
São vasos de barro porque têm a ver com o que 
herdamos da natureza terrena de Adão, que foi 
criada a partir do barro, dos elementos naturais 
deste mundo, que passa. 
Todavia, a nova vida em Cristo é do céu, e o seu 
poder excelente pode se manifestar somente se a 
casca do velho homem com suas vontades e desejos 
for completamente quebrada através das 
tribulações, perplexidades, perseguições, e 
abatimentos, ao mesmo tempo que somos 
consolados e amparados pelo Senhor pela 
manifestação do Seu poder e amor, para que não 
sejamos angustiados, desanimados, desamparados 
e destruídos (v. 8, 9). 
48 
 
Esta será a experiência de todos aqueles que 
consagrarem efetivamente suas vidas ao serviço do 
Senhor. 
Tal como Paulo, saberão, por experiência, o que 
significa trazer diariamente no corpo o morrer de 
Jesus para que a Sua vida possa se manifestar em 
nós. 
Eles saberão por experiência que toda a 
mortificação que é operada neles, sobretudo no seu 
ego, tem o propósito de gerar a vida de Cristo nos 
seus ouvintes (v. 12). 
Eles saberão que todo o seu dever é anunciar a fé 
em Cristo, e a Sua morte e ressurreição, para a nossa 
própria ressurreição, de modo que ministrando por 
amor aos homens, possam todos abundar em ações 
de graças, para a glória de Deus, por causa da 
multiplicação da graça em muitos corações (v. 13 a 
15). 
Eles saberão que um cristão em seu posto de 
trabalho, operando fielmente no Espírito, não 
49 
 
desfalece e suportará e sofrerá tudo por amor a 
Cristo, ainda que o homem exterior se corrompa, 
isto é, que enfraqueça, enferme, envelheça, porque 
o homem interior, a saber, o Espírito é renovado 
gradual e diariamente por Deus, segundo o Seu 
próprio poder e glória (v. 16). 
Assim saberá também que toda tribulação traz em 
si mesma um propósito de nos tornar mais íntimos 
e participantes da glória de Deus, e que se tornam 
leves e momentâneas comparadas ao peso das 
consolações e operações poderosas do Senhor no 
nosso corpo, alma e espírito. 
Um cristão experimentado, como Paulo, saberá 
discernir a vida espiritual que não se experimenta 
por vista, mas por fé, que se firma não nas coisas 
visíveis que são temporais, mas nas invisíveis que 
são eternas. 
Portanto, à luz de todas estas afirmações que o 
apóstolo faz nos últimos versos deste 4º capítulo, 
50 
 
nós podemos entender melhor o que ele pretendia 
dizer nos seus quatro primeiros versículos. 
Os que são de Cristo podem entender as palavras de 
Paulo, a saber, o evangelho da cruz de Cristo, mas 
não os incrédulos, porque seus entendimentos 
foram cegados pelo Inimigo, de modo que não 
podem enxergar a glória que há no evangelho, que 
produz a sua vida ressurreta à medida que nosso 
velho homem vai sendo despojado, 
progressivamente, pela mortificação operada pela 
cruz. 
Para o mundo isto não é glória, quando muito, 
masoquismo, porque não pode experimentar o 
poder da vida do Espírito que se manifesta naqueles 
que permitem a mortificação dosfeitos do corpo 
pelo poder de Deus. 
Eles não podem entender que a cruz não é 
carregada para nos aniquilar, mas para gerar a vida 
eterna de Cristo, porque Ele veio a este mundo não 
51 
 
para nos matar, mas para que tivéssemos vida, e 
vida em abundância. 
Mas esta vida não pode ser experimentada, a não 
ser na nova criatura, gerada em nós pelo Espírito, e 
isto demanda a morte e despojamento progressivo 
dos atos pecaminosos do velho homem, trabalho 
este que é feito pela cruz que carregamos 
diariamente, para que o Espírito não somente 
mortifique o nosso pecado, como também 
manifeste a vida poderosa de Cristo em nós. 
 
Enquanto o que prevalece é o eu, eu, eu ... posso, 
não posso; quero, não quero, jamais conheceremos 
o significado de ser conduzido pela vontade de 
Deus, e ser por ela capacitado a fazer 
voluntariamente e com amor o que seja necessário 
e contrário ao nosso querer, ao nosso sentir, e até 
mesmo tudo que não haja em nós habilidade e 
poder para fazer. 
 
52 
 
Aquele que Não Renunciar a Tudo o 
Que Tem Não Pode Ser Meu Discípulo 
 
Nosso Senhor Jesus Cristo foi quem proferiu as 
palavras do nosso título. 
Há muitos ensinamentos para nós quanto a isto, na 
chamada de Eliseu. 
Gostaríamos de enfocar o que lemos no texto de I 
Reis 19.19-21: 
“19 Partiu, pois, Elias dali e achou Eliseu, filho de 
Safate, que andava lavrando com doze juntas de 
bois adiante dele, estando ele com a duodécima; 
chegando-se Elias a Eliseu, lançou a sua capa sobre 
ele. 
20 Então, deixando este os bois, correu após Elias, e 
disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e 
então te seguirei. Respondeu-lhe Elias: Vai, volta; 
pois, que te fiz eu? 
21 Voltou, pois, de o seguir, tomou a junta de bois, 
e os matou, e com os aparelhos dos bois cozeu a 
53 
 
carne, e a deu ao povo, e comeram. Então se 
levantou e seguiu a Elias, e o servia.” . 
 Deus mesmo chamou Eliseu para ser profeta no 
lugar de Elias, conforme se vê no verso 16, quando 
lhe ordenou que ungisse a Jeú, rei de Israel, a 
Hazael, rei da Síria, e a Eliseu por profeta. 
Não foi numa escola de profetas, nem num templo, 
que Eliseu foi chamado, mas no seu local de 
trabalho, quando arava o campo com doze juntas de 
bois, sendo que ele próprio arava com uma destas 
juntas. 
E não tem sido assim o método comum com o qual 
muitos têm sido chamados pelo Senhor, para 
deixarem suas atividades seculares, para viverem 
do evangelho? 
Eliseu não deixou pouco para se consagrar à sua 
chamada, pois se diz que arava com doze juntas de 
bois. 
Ele ofereceu tudo o que tinha como um holocausto, 
nas mãos do Senhor, como símbolo da sua renúncia 
54 
 
ao seu antigo modo de vida, quando matou os seus 
bois e fez uma fogueira para assar a carne com os 
instrumentos com os quais arava a terra. 
Ele não seria mais agricultor dali por diante, porque 
se desfez dos meios que eram necessários para a 
realização do seu antigo sustento de vida. 
Um dos motivos de Deus ter chamado Eliseu para 
ser sucessor de Elias, foi o fato de apesar dele ser 
um homem importante, que tinha servos, era 
simples e trabalhador, porque se diz que ele 
também estava trabalhando no arado, quando 
podia deixar todo o serviço pesado a cargo dos seus 
empregados. 
Pessoas que buscam uma vida de mordomia neste 
mundo não serão chamadas por Deus para a Sua 
obra. 
O pedido de Eliseu para se despedir de seus pais, 
não foi uma desculpa para demorar a atender à 
chamada do Senhor, como a citada em Lucas 9.61. 
55 
 
Ele somente o fizera por uma questão de respeito e 
dever para com os seus pais. 
Elias não constrangeu Eliseu a segui-lo, mas 
lembrou-lhe somente que havia lançado o seu 
manto sobre ele, como uma indicação de que estava 
sendo chamado por Deus para ser preparado por 
ele, Elias, para o ministério, e isto estava 
representado no fato de que estaria debaixo das 
vestes de Elias, isto é, de sua proteção e cuidado. 
Eliseu se colocou humildemente na posição de servo 
de Elias, e era o servo que lavava as mãos do profeta 
como se vê em II Reis 3.11. 
Há renúncias impostas para o exercício do 
ministério 
Muitos que são chamados pelo Senhor, 
especialmente para a obra de missões, vivendo pela 
fé, custam a entender em princípio, qual é o caráter 
da chamada deles. 
Até o próprio Eliseu, aquele gigante espiritual, 
demonstrou estar ainda ligado a laços familiares de 
56 
 
sangue, quando o Senhor o chamou para o 
ministério profético através de Elias (I Rs 19.19-21). 
Muitos ficaram perplexos por grande tempo até 
entenderem que as perdas que sofreram em suas 
vidas, foram decorrentes desta chamada do Senhor 
para o exercício do ministério. 
O Senhor impõe renúncias àqueles aos quais chama, 
tal como fizera com todos os apóstolos, que tudo 
tiveram que deixar para poder segui-lO. 
A quantas coisas e pessoas estamos apegados, 
ainda que não estejamos devidamente 
conscientizados de tal realidade. 
E dificilmente entendemos que muitas perdas que 
sofremos, e guinadas violentas que são produzidas 
por Deus em nossas vidas, têm o propósito de nos 
tornar desimpedidos para a realização da Sua obra. 
Se não houver esta renúncia aprendida e recebida 
de modo voluntário, pela consagração de tudo o 
que somos e do que temos ao Senhor, não será 
possível trabalhar para Deus, porque o nosso 
57 
 
coração estará apegado àquelas coisas e pessoas 
das quais, o Senhor sabe que devemos nos 
desprender primeiro (não deixar de lhes assistir, 
nem abandoná-las, mas não ser presa de laços 
sentimentais e emocionais, ou de dependência 
financeira, psicológica ou de qualquer outra 
ordem), para que possamos então fazer a Sua 
vontade, sem que sejam tais coisas e pessoas a 
principal ocupação de nossos pensamentos, 
afeições e desejos. 
Quando Deus chamou Eliseu através do profeta 
Elias, este lançou a sua capa sobre Eliseu, indicando 
que a autoridade espiritual que estava sobre Elias, 
seria transferida por Deus, no tempo oportuno, 
para Eliseu. 
Mas desde já, ele teria que abandonar tudo para 
poder seguir Elias, para ser preparado para ser o seu 
sucessor. 
Quando Jesus lança sobre nós a sua capa 
concedendo-nos dons, capacitações, e Sua 
58 
 
autoridade, é para a realização da Sua obra, e não 
da nossa. Para fazermos a Sua vontade e não a 
nossa. 
Adeus amigos! Adeus prazeres carnais e mundanos! 
Adeus parentes! Adeus interesses particulares! 
Adeus sonhos seculares! É a atitude que devemos 
ter em nosso coração, tão logo identifiquemos que 
fomos chamados para a realização de uma obra 
específica para Deus. 
Aqueles que não se auto negarem não poderão 
tomar diariamente a sua cruz. 
E sem tomar a cruz é absolutamente impossível 
seguir a Jesus. 
Porque a cruz nos imporá renúncias, empenhos, 
deslocamentos, que a nossa carne não sente 
nenhum prazer neles. 
A cruz será um objeto de ofensa para aqueles que 
não se autonegarem primeiro. 
59 
 
Eles se escandalizarão com os sofrimentos e aflições 
que a cruz lhes trará quando estiverem 
empenhados na realização da obra do Senhor. 
Por isso, os apóstolos nos advertem quanto à 
necessidade de estarmos armados com o 
pensamento de que importa suportar todo tipo de 
tribulação e oposição, que nos possam sobrevir por 
causa da nossa consagração ao serviço de Deus. 
Assim, aqueles que têm sido chamados por Deus, 
em vez de ficarem perplexos e gemendo por causa 
das coisas que estão sofrendo, devem aprender, tal 
como Paulo, a se gloriarem nas tribulações que 
estiverem sofrendo, e nas renúncias que o próprio 
Deus lhes está impondo, porque estas aflições são a 
prova mesma de que estão empenhados numa obra 
que procede verdadeiramente de Deus, e isto é um 
motivo não para tristeza, mas para alegria, é uma 
grande honra, e não uma condição humilhante; uma 
grande vantagem, recompensa e riqueza espiritual, 
e nenhuma tragédia ou miséria. Afinal,deixaram de 
60 
 
confiar no cuidado dos homens, para viverem 
debaixo do cuidado do Deus Altíssimo e 
Onipotente. 
Gloriemo-nos portanto somente no Senhor, nas 
tribulações e na Sua cruz, porque, por meio de todas 
estas coisas, somos capacitados a sermos bem 
sucedidos na obra que realizamos para a glória do 
Seu nome, e por meio das quais cessarão todos os 
nossos fracassos e vazio de vida. 
Eliseu que o diga! Tudo o que ele realizou para Deus 
se tornou um grande exemplo para nós, de que vale 
muito a pena tudo deixar para podermos seguir a 
Jesus. 
 
 
 
 
 
 
 
61 
 
Se Não Perder Não Ganhará 
 
“João 12:24 Em verdade, em verdade vos digo: se o 
grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele 
só; mas, se morrer, produz muito fruto. 
João 12:25 Quem ama a sua vida perde-a; mas 
aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-
la-á para a vida eterna.” 
 
Se formos interpretar de modo literal a verdade 
proferida nas palavras de nosso Senhor Jesus Cristo 
- de que quem ama a vida a perde, e de que quem a 
odeia a preserva para a vida eterna – poderemos 
pensar que está sendo afirmado algum tipo de 
absurdo, e na verdade o seria caso o sentido destas 
palavras fosse interpretado segundo a razão natural 
e comum do mundo; todavia elas expressam de 
forma resumida o grande segredo de se alcançar a 
vida eterna não somente para este mundo quanto 
62 
 
para o vindouro. Porque importa que sejam 
interpretadas em seu significado espiritual, com a 
ajuda da iluminação do Espírito Santo, que é o único 
que pode nos tornar capazes de discernir 
espiritualmente as realidades que são espirituais. 
Primeiro, Jesus aplicou este ensino do céu ao seu 
próprio caso, pois não viveu para fazer a sua própria 
vontade, senão a de Deus Pai que o enviou para 
morrer no nosso lugar. 
Ele se esvaziou completamente e tomou a forma 
humana e de servo, não sendo dirigido pelo seu 
próprio ego, mas pelo Espírito Santo que o guiava 
em tudo. 
Jesus não é somente a vida eterna, a sua fonte, 
como também o caminho e a verdade que nos 
conduzem também à vida eterna, pelo mesmo 
caminho que ele seguiu. 
O morrer para o eu, para se viver pela vontade e 
poder de Deus é o grande segredo disto, que Jesus 
veio revelar em si mesmo. Por isso ele venceu a 
63 
 
morte, e não pôde a sua vida ser retida pelo 
sepulcro, e se encontra agora assentado em glória à 
destra do Pai no céu, intercedendo continuamente 
por nós, para que alcancemos a vida eterna e que a 
vivamos do modo digno pelo qual importa ser 
vivida. 
Agora, em relação a nós, quão indispostos somos a 
fazer morrer o modo de viver pelo nosso ego, quão 
apegados somos à nossa vontade e ao mundo, e 
então necessitamos - diferentemente do Senhor 
Jesus que não tinha qualquer pecado – de mortificar 
a nossa natureza terrena pecaminosa, para que 
tendo a nossa mente renovada, possamos conhecer 
de modo experimental a boa, perfeita e agradável 
vontade de Deus, pela qual somos santificados. 
Perdas de entes queridos e coisas que amamos nos 
causam grande sofrimento, e por isso tememos 
abandonar esta coisa que é a primeira em ordem a 
amarmos mais do que tudo, a saber, o nosso modo 
de viver neste mundo, ao qual nosso Senhor se 
64 
 
refere como algo que devemos aprender a odiar, 
porque está cheio de hábitos e desejos que são 
contrários à justiça e santidade de Deus. 
Então, se não odiarmos esta vida pecaminosa 
mundana, a nossa condição espiritual permanece 
sendo de morte, que por fim virá a ser morte eterna, 
e não vida eterna, conforme é prometido àqueles 
que a odiarem, por amarem o modo de vida 
celestial, espiritual e divino. 
Em muitos outros textos da Bíblia vemos esta 
verdade de João 12.24,25, sendo reafirmada, e para 
nossa apreciação, estamos destacando alguns deles 
a seguir: 
 
Mateus 16:25 Porquanto, quem quiser salvar a sua 
vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha 
causa achá-la-á. 
 
65 
 
Mateus 10:39 Quem acha a sua vida perdê-la-á; 
quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-
la-á. 
 
Lucas 14:26 Se alguém vem a mim e não aborrece a 
seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs 
e ainda a sua própria vida, não pode ser meu 
discípulo. 
 
Lucas 17:33 Quem quiser preservar a sua vida 
perdê-la-á; e quem a perder de fato a salvará. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
66 
 
Trazendo no Corpo a Mortificação de 
Jesus 
 
“Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a 
Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos 
servos por amor de Jesus.” (II Coríntios 4.5) 
 
Para não pregarmos a nós mesmos, mas a Cristo é 
preciso trazer o morrer de Jesus em nosso corpo (II 
Cor 4.10), em nosso ego, e em tudo que se refira à 
nossa própria vontade e desejos, que devem ser 
levados à morte na cruz, para que a vida de Jesus 
possa se manifestar através de nós. 
Aquele que não traz o seu ego mortificado pela cruz 
não está habilitado a pregar e a ensinar o evangelho 
da cruz. 
Aquele que não renunciou a tudo quanto tem não 
pode pedir aos seus ouvintes que renunciem a si 
mesmos para confiarem suas almas ao Salvador. 
67 
 
É por isso que o nosso velho homem tem que ser 
despojado, para que a nova criatura se manifeste 
em poder nestes vasos de barro que são os nossos 
corpos mortais. 
São vasos de barro porque têm a ver com o que 
herdamos da natureza terrena de Adão, que foi 
criada a partir do barro, dos elementos naturais 
deste mundo, que passa. 
Todavia, a nova vida em Cristo é do céu, e o seu 
poder excelente pode se manifestar somente se a 
casca do velho homem com suas vontades e desejos 
for completamente quebrada através das 
tribulações, perplexidades, perseguições, e 
abatimentos, ao mesmo tempo que somos 
consolados e amparados pelo Senhor pela 
manifestação do Seu poder e amor, para que não 
sejamos angustiados, desanimados, desamparados 
e destruídos (II Cor 4.8,9). 
68 
 
Esta será a experiência de todos aqueles que 
consagrarem efetivamente suas vidas ao serviço de 
Deus. 
Tal como Paulo, saberão, por experiência, o que 
significa trazer diariamente no corpo o morrer de 
Jesus para que a Sua vida possa se manifestar em 
nós. 
Eles saberão por experiência que toda a 
mortificação que é operada neles, sobretudo no seu 
ego, tem o propósito de gerar a vida de Cristo nos 
seus ouvintes (II Cor 4.12). 
Eles saberão que todo o seu dever é anunciar a fé 
em Cristo, e a Sua morte e ressurreição, de modo 
que ministrando por amor aos homens, possam 
abundar as ações de graças, para a glória de Deus, 
por causa da multiplicação da graça em muitos 
corações (v. 13 a 15). 
Eles saberão que um cristão em seu posto de 
trabalho, operando fielmente no Espírito, não 
desfalecerá e suportará e sofrerá tudo por amor a 
69 
 
Cristo, ainda que o homem exterior se corrompa, 
isto é, que enfraqueça, enferme, envelheça, porque 
o homem interior, a saber, o espírito é renovado 
gradual e diariamente por Deus, segundo o Seu 
próprio poder e glória (v. 16). 
Assim reconhecerão também que toda tribulação 
traz em si mesma um propósito de nos tornar mais 
íntimos e participantes da glória de Deus, e que se 
tornam leves e momentâneas comparadas ao peso 
das consolações e operações poderosas do Senhor 
no nosso corpo, alma e espírito. 
Um cristão experimentado, como Paulo, saberá 
discernir a vida espiritual que não se experimenta 
por vista, mas por fé, que se firma não nas coisas 
visíveis que são temporais, mas nas invisíveis que 
são eternas. 
 
 
 
 
 
70 
 
Esvaziar-nos de nós Mesmos Para 
Sermos Úteis 
 
"5 Tende em vós o mesmo sentimento que houve 
também em Cristo Jesus, 
6 o qual, subsistindo em forma de Deus, não 
considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia 
aferrar, 
7 mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de 
servo, tornando-se semelhante aos homens; 
8 e, achado na forma de homem, humilhou-se a si 
mesmo,tornando-se obediente até a morte, e 
morte de cruz. 
9 Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, 
e lhe deu o nome que é sobre todo nome; 
10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho 
dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da 
terra, 
11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, 
para glória de Deus Pai." (Filipenses 2.5-11) 
71 
 
 
Ninguém jamais poderá se humilhar tanto quanto 
Cristo se humilhou, pois não era um homem 
pecador; porém se fez homem, sendo Deus, 
exaltado à destra do Pai, coroado de honra e glória 
diante dos serafins, querubins, arcanjos e anjos no 
céu. 
Foi desta altura infinita de glória que Ele desceu até 
nós humilhando-se a si mesmo, esvaziando-se e 
tomando a forma de servo, assumindo a natureza 
do homem, apesar de ser Deus. 
Ele fez isto, porque era governado completamente 
por um sentimento de humildade e não de orgulho. 
É este mesmo sentimento de Cristo que todos os 
cristãos devem possuir. 
Cristo não considerou uma desonra o fato de ter 
sido feito menor do que os anjos, ainda que por um 
determinado período, a saber, enquanto viveu em 
carne neste mundo esvaziado da Sua glória divina, 
como vemos em Hb 2.9, porque considerou maior 
72 
 
coisa fazer a vontade do Pai, relativamente à 
salvação dos pecadores. 
Os cristãos têm um serviço a fazer para Deus, que é 
a continuidade do mesmo serviço de Cristo, e para 
tanto necessitam ter o mesmo sentimento de 
humildade que houve em Cristo Jesus. 
Nosso Senhor comprovou Sua humildade através da 
Sua obediência ao Pai, e é do mesmo modo que 
nossa humildade é comprovada diante de Deus, a 
saber, na nossa obediência a Ele. 
Jesus se manifestou também, para o propósito de 
nos ensinar qual é o modo correto de se viver para 
Deus. 
Este modo que nos revelou é em completa 
submissão e serviço, mediante a Sua Palavra, 
escolhendo fazer a vontade de Deus, em vez da 
nossa vontade, gastando-se inteiramente na Sua 
obra, porque afinal, nos deu vida para que 
trabalhássemos para Ele. 
73 
 
Fomos colocados neste mundo para este propósito. 
Bem-aventurados são todos aqueles que não 
somente descobrem isto, como também se aplicam 
a isto. 
A humilhação voluntária de Jesus se comprova 
também, no fato de que Ele tem o nome que é sobre 
todo o nome. Por isso, ao nome de Jesus se dobra e 
se dobrará todo joelho dos que estão nos céus, na 
terra e debaixo da terra, e toda língua confessa e 
confessará que Jesus é Senhor, porque Ele sempre 
foi e será o Senhor de tudo e de todos. 
Este que é o Senhor foi achado em Seu ministério 
terreno na forma de servo e em completa 
humildade. Servo na verdadeira acepção da 
palavra, ou seja, servindo de fato tanto a Deus 
quanto aos homens criados à Sua imagem e 
semelhança. 
Como devem ser e andar então, os cristãos, os quais 
não estavam na glória do céu antes de serem 
74 
 
gerados, e que nunca tiveram e jamais terão a 
mesma intensidade de glória do seu Senhor? 
Caberia, se deixarem dominar por qualquer forma 
de orgulho ou vanglória? 
Jesus viveu suportando pacientemente a maldade 
dos homens, em grande pobreza, a ponto de não ter 
onde reclinar a cabeça; viveu de ofertas e sabia o 
que era a aflição; não viveu em pompa externa e 
não buscou nenhuma posição que O exaltasse sobre 
os demais homens, buscando fama e honrarias 
deste mundo. 
Ele não deu somente Seu serviço aos homens, mas 
Sua própria vida; morrendo por eles na cruz. 
Ninguém nunca desceu tanto ou poderá descer 
tanto em humilhação, quanto nosso Senhor, porque 
Ele estava na glória do céu quando veio assumir 
nossa humanidade, ao ser gerado com um corpo 
humano no ventre de Maria. 
Ele passou a ter a natureza humana, além da 
natureza divina na qual Ele subsistia. E, consentiu, 
75 
 
apesar de sua perfeição gloriosa, em suportar 
conviver com pecadores falhos, impuros, 
imperfeitos e ignorantes como nós. 
Se Ele não tivesse feito isto, jamais poderíamos 
receber a natureza divina para estar em nós, além 
da nossa natureza humana. 
Para nós, receber a natureza divina é uma grande 
honra e glória. Mas para Cristo, assumir nossa 
natureza humana, sendo Deus, foi uma grande 
humilhação. A Palavra, porém nos afirma que Ele 
não se envergonhou disto, porque não se 
envergonha em nos chamar de irmãos, por ter-se 
feito semelhante a nós, como lemos em Hb 2.11 e 
11.16. 
Nós não somos, por natureza humildes, ao 
contrário, somos governados pela carne. 
Por isso é preciso mortificar a carne para que 
possamos ser governados pelo Espírito Santo, e 
crescermos em humildade diante de Deus e dos 
76 
 
homens, para que Ele possa nos transformar 
segundo a semelhança de Cristo. 
A nossa vontade natural quer sempre fazer aquilo 
que seja do nosso próprio interesse egoísta, mas a 
vontade de Deus é santa, perfeita, boa, agradável. É 
esta vontade que o Espírito Santo quer implantar 
em nossa natureza. 
O Espírito Santo não nos foi dado, portanto para 
fazermos o que seja da nossa própria vontade, mas 
aquilo que é da vontade de Deus, na transformação 
de nossas vidas. 
Quando o Espírito luta contra a carne, não é para 
fazer nossa vontade, mas para aplicar em nossa vida 
a vontade de Deus, como vemos em Gál 5.17. 
É a graça de Deus que inclina nossa vontade ao que 
é bom, e nos permite executar o bem. 
Não há nenhuma força, mérito ou capacidade em 
nós mesmos, que nos habilite a fazer a obra de 
Deus. 
 
77 
 
Escrito na Mente e no Coração 
 
Quando lemos o Sermão do Monte, em Mateus 5 a 
7, costumamos pensar que estamos diante de um 
novo código de leis, que nos foram dadas por Jesus 
Cristo para cumprirmos em complemento aos 
mandamentos da Lei de Moisés. 
Todavia, a intenção de nosso Senhor Jesus Cristo 
não foi esta, mas a de revelar quais são as 
características pessoais e circunstâncias que 
acompanharão aqueles que foram tornados 
cidadãos do reino dos céus, por meio da fé nEle, e 
por terem nascido de novo do Espírito Santo. 
Ali está descrito sobretudo, quais são as atitudes, 
pensamentos, ações e o programa de vida de um 
cristão amadurecido. 
Dizemos amadurecido, porque ninguém amará seus 
inimigos, perdoará seus ofensores, orará pelo bem 
dos que lhe perseguem, e bendirá os que lhe 
amaldiçoam, ou ainda, não reclamará o que se 
78 
 
considera seus direitos legítimos quando sofrer 
injustiças, caso não tenha feito progresso no 
crescimento na fé, na graça e no conhecimento 
pessoal de Jesus Cristo, sendo e agindo como o Seu 
Mestre. 
A glória de Deus é ser amoroso, misericordioso, 
longânimo, bondoso, perdoador, para com todos, 
inclusive para com os piores pecadores. 
E assim como Ele é, importa que sejam aqueles que 
se tornaram seus filhos amados, por meio da fé em 
Cristo. 
Então o Senhor delineou no Sermão do Monte, 
quais são as características essenciais que estarão 
presentes naqueles que se converterem a Ele, como 
resultado do fruto do Espírito Santo, que operou 
neles a regeneração (novo nascimento espiritual) e 
a santificação (mortificação das obras da carne e 
revestimento das suas virtudes divinas). Cristãos 
amadurecidos não são dominados por amarguras, 
79 
 
iras, contendas, gritarias, glutonarias, e todas as 
demais obras da carne que são nomeadas na Bíblia. 
Cristãos amadurecidos são longânimos, como Deus 
é completamente longânimo. São amorosos, como 
Deus é amoroso. São misericordiosos, como Deus é 
misericordioso. Não são legalistas, moralistas, 
acusadores, mas promotores do amor, da paz, do 
perdão, da oferta da justiça de Cristo para a 
justificação dos que se encontram presos às 
amarras do pecado. São tardios para se irar e para 
falar, e prontos para ouvir, porque sabem que a ira 
do homem não promove a justiça de Deus, mesmo 
quando esta ira é motivada pela defesa dos 
princípios de Deus contra o pecado. 
A propósito, era justamente isto o que Tiago queria 
ensinar quandoescreveu a epístola que leva o Seu 
nome. Ele indicou a necessidade de se aprender a 
ser paciente e longânime, debaixo das mais variadas 
provações, porque estas visam ao aperfeiçoamento 
espiritual do cristão, para que seja conformado ao 
80 
 
caráter amoroso, longânime, bondoso e paciente do 
próprio Deus. Não estava portanto escrevendo uma 
cartilha de bons modos, ou de procedimentos 
sociológicos e psicológicos para sermos bem 
sucedidos em possíveis demandas e disputas com o 
nosso próximo, por nos mantermos serenos e 
calados. 
O que ele tinha em foco, tal como o Seu Senhor no 
Sermão do Monte, era muito mais profundo e 
significativo do que isto. A semelhança com Jesus 
Cristo em tudo. Este é o alvo principal. A vida de 
Cristo manifestada no comportamento do cristão. 
Este é o ponto central. E isto não é obtido por mero 
conhecimento intelectual da vontade revelada de 
Deus nas Escrituras. Tem a ver com experiências 
reais transformadoras da graça de Jesus, do poder 
do Espírito Santo, dando-nos um novo coração e um 
crescimento progressivo na obtenção das virtudes 
espirituais do próprio Deus. 
81 
 
Foi para esta exata imagem e semelhança com o 
caráter santo de Deus que o homem foi criado por 
Ele. De modo que saberemos que temos sido 
aperfeiçoados em tal caráter, quando virmos as 
realidades afirmadas no Novo Testamento, sendo 
implantadas no nosso viver diário, especialmente 
pela forma como agimos nas situações que nos são 
adversas. Então temos estas leis, se é assim que 
devemos considerá-las (porque são inscritas por 
Deus na nossa mente e coração, ou seja, farão parte 
da nova natureza recebida pela fé), como as leis 
principais que devemos observar e praticar: a do 
amor a Deus, à Sua Palavra e ao próximo; a da 
paciência na tribulação; a da longanimidade na 
provocação; a da fé e do ânimo constante nas 
aflições; a da mansidão, da paz de mente e coração 
nas perturbações. 
Na verdade, nada disto se obtém por uma simples 
vontade de cumprir a lei ou o mandamento, mas por 
82 
 
uma andar constante no Espírito Santo, debaixo de 
um temor e amor real a Cristo. 
Gál 5:16-25: 
Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à 
concupiscência da carne. Porque a carne milita 
contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, 
porque são opostos entre si; para que não façais o 
que, porventura, seja do vosso querer. Mas, se sois 
guiados pelo Espírito, não estais sob a lei. Ora, as 
obras da carne são conhecidas e são: prostituição, 
impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, 
porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, 
facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas 
semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos 
declaro, como já, outrora, vos preveni, que não 
herdarão o reino de Deus os que tais coisas 
praticam. Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, 
paz, longanimidade, benignidade, bondade, 
fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas 
coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus 
83 
 
crucificaram a carne, com as suas paixões e 
concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos 
também no Espírito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
84 
 
O Governo Usurpador da Alma Sobre o 
Nosso Espírito 
 
Nós lemos em Hebreus 4.12: 
"...a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante 
do que qualquer espada de dois gumes, e penetra 
até a divisão de alma e espírito, e de juntas e 
medulas, e é apta para discernir os pensamentos e 
intenções do coração". 
Este texto fala de separação de alma e espírito pela 
Palavra de Deus. 
Sabemos que o corpo, a alma e o espírito do homem 
formam uma grande unidade, e estão intimamente 
ligados, de modo que se pode dizer que são uma só 
coisa, assim como Deus é um, e no entanto são três 
pessoas: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. 
Por isso, quando o espírito deixa este mundo, o 
corpo morre; se o corpo morre, sai o espírito e volta 
para Deus. 
85 
 
Quando o corpo e alma descansam no sono, 
também descansa o espírito. 
Todavia, há diferenças marcantes entre os três. 
Mas nos concentraremos neste artigo somente na 
alma e no espírito, porque a Bíblia fala de separação 
de alma e espírito, e o que se quer afirmar é a 
distinção das funções que competem 
respectivamente ao espírito e à alma. 
Com vistas a um melhor entendimento de tudo o 
que vai ser comentado, gostaríamos, antes, de 
explicar quais são as faculdades da alma, que não 
fazem parte do espírito humano. 
Entre estas faculdades estão nossos sentimentos, 
nossa mente, nossa vontade, nossas emoções e 
pensamentos, até mesmo a nossa razão. 
Alma tem a ver com o cérebro, de onde procedem 
todas estas faculdades referidas. 
Cérebro tem a ver com o que é natural, e não 
sobrenatural, como é o caso do espírito, que nos 
veio de Deus, e que volta para Ele, na nossa morte. 
86 
 
De maneira que ao falar em separação de alma e 
espírito, pela Palavra de Deus, a Bíblia quer nos 
mostrar que precisamos ser governados pelo 
espírito, e não meramente por nossos sentimentos, 
vontade, emoções, pensamentos e até mesmo pela 
nossa própria razão. 
Somente quando estamos santificados pelo Espírito 
Santo, mediante aplicação da Palavra de Deus em 
nossas vidas, a nossa alma entra automaticamente 
debaixo do governo do nosso espírito e passa a ser 
uma serva do espírito, ficando este portanto, livre 
das suas paixões irregulares e desordenadas que 
nos levam a pecar. 
Portanto, não é possível ser espiritual, conforme é 
do propósito de Deus na criação do homem, sem 
que se tenha a habitação do Espírito Santo. 
Entretanto, como o pecado continua operando na 
carne, há necessidade do trabalho da cruz para que 
sejamos as pessoas espirituais que Deus planejou 
desde antes da fundação do mundo. 
87 
 
Nós lemos em Gênesis 6.3 o seguinte: 
“Então disse o Senhor: O meu Espírito não 
permanecerá para sempre no homem, porquanto 
ele é carnal, mas os seus dias serão cento e vinte 
anos.” 
O que podemos deduzir desta passagem das 
Escrituras, senão que Deus não havia criado o 
homem para que ele vivesse pelo governo da sua 
alma natural? 
A palavra “carnal” no texto de Gên 6.3 reporta à 
inclinação da natureza decaída no pecado, e não 
propriamente ao fato de o homem também possuir 
um corpo físico. 
Deus é espírito, e criou o homem para ter comunhão 
com Ele em espírito, porque é somente este o modo 
possível de tal comunhão. 
Por isso Jesus destacou que não se pode adorar a 
Deus a não ser apenas em espírito e em verdade. 
88 
 
O propósito de Deus na criação do homem é que 
este fosse espiritual e não carnal, conforme 
veremos neste nosso estudo. 
E quando Deus diz que o homem se tornou carnal 
por causa do pecado é a isto que Ele quer 
principalmente se referir, porque não é governado 
pelo reino espiritual divino, mas pelo reino natural 
segundo a carne. 
Por isso se impõe o trabalho da cruz sobre o ego 
carnal, para que o Espírito Santo possa assumir o 
pleno governo, conforme Deus havia planejado 
desde antes da criação do mundo. 
Desde a Queda no Éden a alma deixou de 
estar em sujeição ao espírito e passou a assumir o 
governo do ser humano, tornando-se assim uma 
barreira para o conhecimento experimental da vida 
de Deus, que é espírito. 
Se Cristo não estabelecer o Seu governo no nosso 
coração, o que haverá será o governo usurpador da 
alma contra a vontade de Deus. 
89 
 
E este governo da alma é designado na Bíblia como 
um viver segundo a carne. Segundo o homem 
natural e não segundo o homem espiritual. 
Vale lembrar que a palavra constante de I Cor 2.14 
para “natural”, quando Paulo diz que o homem 
natural não aceita as coisas do Espírito, tal palavra 
é no original grego psiquikós, que significa aquilo 
que é relativo à alma. 
Quando o homem é governado pelas faculdades da 
alma, e não pelas faculdades do espírito, ele agirá 
segundoa natureza terrena, 
Daí se afirmar que o homem natural, ou seja, aquele 
que é governado por um viver segundo a alma, e 
não segundo o espírito, não pode entender as coisas 
do Espírito Santo de Deus. 
Os cristãos carnais a que Paulo se refere em I Cor 
3.1 em contraposição aos espirituais, são 
designados no original grego pela palavra sarkikós, 
para carnais, e os espirituais, pela palavra 
pneumatikós, que se refere ao espírito. 
90 
 
O trabalho da alma no cristão carnal é fazê-lo viver 
pela sua própria vida natural e tentar trabalhar e 
servir a Deus pela sua própria habilidade natural. 
Com isto, ele não chega a ter um conhecimento 
verdadeiro e progressivo de Deus, porque este 
conhecimento decorre de uma comunhão e de 
experiências reais com o Espírito Santo de Deus, em 
espírito. 
A carne não pode ter tal comunhão e experiência 
com o Espírito Santo de Deus. 
Por isso nosso Senhor Jesus Cristo afirmou que a 
carne para nada aproveita, e que o que tudo é 
gerado pela carne é carnal. 
Nossos pensamentos, emoções, sentimentos e 
vontade, e razão, que são faculdades que emanam 
do nosso cérebro, devem ser submetidos ao 
governo do Espírito Santo de Deus, e por 
conseguinte do nosso próprio espírito. 
E a Bíblia afirma que isto é operado pela Palavra de 
Deus, em Hb 4.12. 
91 
 
Chegará o dia em que não haverá mais esta 
dependência do cérebro, ou da alma, quando 
sairmos deste mundo pela morte, porque somente 
o espírito subirá à presença do Senhor, libertado 
completamente dos desejos e das paixões da alma. 
Então o espírito terá vida e expressão 
independentemente do nosso cérebro. 
E não há nenhum outro modo para subjugar o 
governo usurpador da alma, senão somente pela 
crucificação do ego pela nossa cruz, que deve ser 
carregada voluntária e diariamente. 
Nos quatro Evangelhos, nós vemos que 
Jesus chamou os seus discípulos para renunciarem 
ao modo de viver pelo governo das suas almas, 
submetendo-o à morte na cruz, para que pudessem 
segui-lO. 
O Senhor sabia que renunciar ao modo de viver 
pela alma é uma exigência absolutamente 
indispensável, para que os cristãos possam segui-
lO. 
92 
 
Em Mt 10:38 e 39 o Senhor Jesus disse: "38 E quem 
não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é 
digno de mim. 39 Quem achar a sua vida perdê-la-
á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-
la-á.". 
Neste texto, a palavra para vida no original grego é 
psiquê, que significa alma. 
Não se trata propriamente de se matar a alma, mas 
o modo de viver pela alma, para que se possa viver 
pelo espírito. É isto que Jesus quis dizer com suas 
palavras. 
Este modo de viver pela alma somente pode ser 
morto pela cruz. 
É por isso que em outras passagens do Evangelho, 
como em Lc 14.26,27 por exemplo, Jesus associou 
a perda da vida da alma ao ato voluntário de se 
carregar a cruz e de se auto negar, para poder segui-
lO. 
Estes versos nos chamam a perder o viver pela alma 
por causa do Senhor, entregando este viver à cruz, 
93 
 
para que seja crucificado, e Ele ensinou que isto 
deve ser feito diariamente. 
De acordo com nosso viver pela alma, nós 
fazemos a vontade daqueles a quem amamos, 
ainda que isto contrarie a vontade de Deus, por isso 
se impõe a morte deste viver pela alma. 
Nada há de errado em demonstrar sentimentos e 
emoções, mas quando nossos sentimentos, 
emoções e vontade são irregulares e são a causa de 
não nos submetermos à Palavra e vontade de Deus, 
é porque estamos sendo pessoas carnais e não 
espirituais. 
Quando Deus está em conflito com o desejo do 
homem, embora aquela pessoa 
seja a que nós mais amamos, importa antes amar 
mais a Deus. 
Por isso nosso Senhor disse em Mt 10.37: "Quem 
ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno 
de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que 
a mim não é digno de mim.". 
94 
 
Em Lucas 14:26 e 27 está escrito: "26 Se alguém vier 
a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e 
filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria 
vida, não pode ser meu discípulo. 27 Quem não leva 
a sua cruz e não me segue, não pode ser meu 
discípulo.". 
É proibido pelo Senhor que eu ame somente 
aqueles a quem eu amo naturalmente. 
O próprio Jesus nos deixou este exemplo quando 
definiu a sua família como sendo a que é composta 
por aqueles que conhecem a Deus e fazem a Sua 
vontade. 
O Senhor Jesus quer nos libertar deste tipo de 
domínio do afeto natural, de modo que possamos 
ser cheios do seu amor sobrenatural, que é um 
amor por todos os homens, e que não faz qualquer 
tipo de acepção de pessoas. 
O afeto natural é muito importante, mas convém se 
dar um passo além e se amar com o amor ágape, 
sobrenatural de Deus. 
95 
 
O amor ágape nos vem do alto, e o amor filéo, de 
mera amizade, é terreno e inerente à nossa própria 
natureza. 
Este amor ágape, que é o amor derramado pelo 
Espírito Santo nos nossos corações, é o amor de 
comunhão entre espíritos, que capacita a tudo 
sofrer, perdoar, suportar, e não ficarmos irados com 
as injustiças e ofensas que sofremos, de modo que 
é um amor que habilita a amar até mesmo inimigos. 
A espada referida no texto de Hb 4.12 é uma alusão 
à que era usada pelo sumo sacerdote para dividir o 
holocausto em partes. 
Esta espada representa a Palavra que é 
usada por Cristo através do trabalho do Espírito 
Santo para separar espírito e alma nos cristãos, de 
maneira que possam ser verdadeiramente 
espirituais. 
A espada do Espírito é a Palavra de Deus. É portanto 
a palavra do evangelho de Cristo, que aplicada à 
mente e ao coração, traz à tona o viver na dimensão 
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do que é espiritual e celestial, prevalecendo sobre 
tudo o que se refere ao homem exterior com suas 
cobiças e paixões. 
Veja o que o apóstolo nos ensina sobre a luta que 
existe permanentemente entre a carne e o Espírito, 
e vice- versa: 
"Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito 
contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para 
que não façais o que quereis." (Gál 5.17). 
Observe que ele afirma que a carne e o Espírito se 
opõem mutuamente para que não façamos o que 
seja do nosso querer. 
O que ele quis dizer com isto? 
É que na verdade tanto a carne quanto o Espírito 
lutam contra a lei natural da nossa mente, e contra 
as disposições da nossa alma. e, tanto um quanto 
o outro pretendem ter o domínio da nossa vontade 
e de todo o nosso ser. 
A carne pretende nos levar a pecar ainda que não o 
queiramos; e o Espírito Santo pretende nos 
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santificar e nos levar a viver não pelo que é 
propriamente da nossa vontade, mas por aquilo 
que é da vontade de Deus. 
Então o Espírito não luta contra a carne para que 
seja feito o que seja do nosso querer, mas para que 
a vontade de Deus possa se cumprir em nós. 
O Espírito procurará nos levar portanto à cruz para 
que a carne possa ser crucificada com as 
suas paixões e desejos (Gál 5.24). 
Como estas paixões e desejos da carne operam 
principalmente na mente, então é fundamental que 
a mente seja renovada. 
Uma mente renovada pelo Espírito coopera e muito 
para que tenhamos comunhão com Deus, porque 
ajudará o espírito nesta comunhão, porque a mente 
renovada e guiada não pela carne, mas pelo Espírito 
Santo. 
E o Espírito poderá então comunicar à nossa mente 
renovada o conhecimento da vontade de Deus 
revelada na Sua Palavra. 
98 
 
Para entendermos melhor a distinção entre alma e 
espírito, podemos nos valer de uma análise do que 
há no comportamento dos 
animais, porque sabidamente eles não são dotados 
de espírito como os homens, senão somente de 
corpo e alma. 
Nós podemos, em certo grau, entender o que é 
relativo à nossa alma pelo que observamos no 
comportamento dos animais, porque tudo o que 
eles sentem se refere aos poderes da alma, porque 
como já dissemos, eles não possuem espírito. 
Há afeto

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