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DISCIPLINA: Introdução aos Estudos de História TÓPICO 1: Fato histórico e acontecimento DESAFIO História não é a ciência das perguntas gerais, mas das respostas locais. Não se pode imaginar uma generalização em História que seja válida, ou seja, pode-se perguntar o que é o fascismo, mas há fascismos diferentes na Itália, na Espanha e em Portugal. Por isso, no trabalho do historiador, é preciso preservar as particularidades e o local — aqui entendido como uma situação específica. O grande problema da História é trabalhar sobre o geral, mas um geral que sempre se configura como perguntas, não como respostas. A ciência parte do pressuposto da generalização. Apesar de a História ser considerada uma ciência, não é possível generalizar seus fatos históricos, pois as repostas para as perguntas são caracterizadas de maneira específica. Nesse contexto, imagine que você foi convidado para dar uma entrevista em um renomado jornal local sobre o assunto, e o jornalista fez a seguinte pergunta: A História da Escravidão no Brasil é considerada um fato ou um acontecimento? Explique a sua visão. PADRÃO DE RESPOSTA ESPERADO Apesar de ser considerada uma ciência, a História não deve ser generalizada, pois acontecimentos são específicos. Um ou vários acontecimentos constituem fatos históricos. A História da Escravidão no Brasil não pode ser generalizada, afinal, ocorreu de forma diferente em cada território, por conta dos tipos de trabalhos necessários nas regiões brasileiras. Houve a escravidão nas grandes lavouras de café, em São Paulo, e, também, no Rio Grande do Sul, por meio do trabalho com o charque. As caraterísticas regionais, o clima, o tipo de trabalho, as guerras, as religiões, além de outros fatores, não permitem generalizar a História da Escravidão no Brasil. 1) Leia atentamente a afirmação a seguir e assinale a alternativa correta. "Toda a tentativa de compreender a realidade (histórica) sem hipóteses subjetivas só conseguiria chegar a um caos de juízos existenciais sobre inúmeros acontecimentos isolados" (WEBER, Max). Como se forma um fato histórico? b) O fato histórico constitui-se de diversos acontecimentos objetivos e subjetivos. RESPOSTA CORRETA É relevante considerar a análise dos fatos históricos com base em fatos objetivos e subjetivos que fazem parte da essência humana, pois o fato histórico é formado por diversos acontecimentos de várias naturezas, não apenas fatos, acontecimentos ou documentos oficiais e objetivos. 2) Por que o fato não é, em História, a base essencial de objetividade? e) Porque os fatos históricos são fabricados e não dados. Também, porque, em História, a objetividade não é a pura submissão aos fatos. RESPOSTA CORRETA O fato histórico é construído por um povo, por uma sociedade com características específicas, localizada em tempo e espaço delimitados. A sua análise não deve delimitar-se a documentos oficiais objetivos, como se fosse uma ciência exata. Por exemplo: uma obra de arte pode revelar como vivia uma comunidade primitiva. 3) A contradição mais flagrante da História é, sem dúvidas, o fato do seu objeto ser singular, um acontecimento, uma série de acontecimentos, de personagens que só existem uma vez, enquanto o seu objetivo, como o de todas as ciências, é atingir o universal, o geral, o regular (LE GOF). O trecho acima se refere a qual característica do fato histórico? c) Reconhecimento da singularidade do fato histórico no contexto de seu tempo, de seu espaço e de sua sociedade. RESPOSTA CORRETA Apesar de a História ser considerada uma ciência, o fato do seu objeto de estudo ser singular causa certa contradição, no sentido de um acontecimento, uma série de acontecimentos ou de personagens que só existem uma vez. Os acontecimentos não se repetem na sua integralidade; eles possuem essa característica de especificidade, que necessita ser analisada pelo historiador por meio de diversas fontes, não apenas através de documentos oficiais. 4) A sistematização que demonstra a diferença entre o passado e o presente, aquilo que se vive no cotidiano e a História enquanto conhecimento, é produto da pesquisa e, portanto, das escolhas e das seleções. Em contrapartida, os acontecimentos que estão no passado, dispersos nas memórias dos sujeitos, nas fontes e marcas deixadas pelo homem, também precisam ser considerados. A que se refere a afirmação acima? b) Ao ofício do historiador. RESPOSTA CORRETA A afirmação se refere ao ofício do historiador, que percorre o caminho da análise e da sistematização das diferenças entre o passado e o presente, aquilo que vivemos e estamos vivendo, sendo sistematizado como resultado de pesquisa pelo profissional de História a partir das suas seleções, das suas reflexões, do seu resumo e das comunicações do conhecimento organizado e investigado nas mais variadas fontes e especificações. 5) Leia atentamente a afirmação a seguir e assinale a alternativa correta. A História quer tornar as coisas contemporâneas, mas, ao mesmo tempo, tem que reconstituir a distância e a profundidade da lonjura histórica. Finalmente, essa reflexão procura justificar todas as aporias do ofício de historiador, as que Marc Bloch tinha assinalado na sua apologia da História e do ofício de historiador. b) A História quer ser objetiva, mas não pode ser. RESPOSTA CORRETA Apesar de a História apresentar-se como ciência, buscar os fatos do passado para tentar compreender o presente, usar documentos oficiais, fatores históricos, aplicação de métodos de investigação e padronização, coleta de informações para transformá-las em conhecimento, ela não é completamente objetiva e não produz objetividade. DISCIPLINA: Introdução aos Estudos de História TÓPICO 2: A história cultural DESAFIO Uma das contribuições da obra de Roger Chartier para o campo historiográfico foram os conceitos de 'práticas' e de 'representações', articulando-os para explicar a realidade. Veja, a seguir, um exemplo, citado por José D’Assunção Barros em seu livro O campo da História. A partir do exemplo citado no texto, quais características podem ser atribuídas às práticas e às representações? Elabore um pequeno texto sobre esses conceitos e os resultados historiográficos de sua aplicação. PADRÃO DE RESPOSTA ESPERADO Primeiramente, é importante ressaltar que as práticas e as representações elaboradas e circulantes pela sociedade têm uma historicidade, ou seja, as percepções sobre a realidade que circunda as pessoas, em seu cotidiano, se altera com a passagem do tempo e, portanto, as ações oriundas dessas percepções também se alterarão. Em segundo lugar, e em decorrência do comentado acima, as práticas e as representações possuem uma complementariedade no estudo sobre determinada sociedade. As práticas geram representações, e as representações geram práticas, em um emaranhado de ações e discursos. No exemplo citado no texto, percebe-se as diferenças entre as formas de ler socialmente os mendigos em dois momentos históricos distintos. Poderíamos complementar essa análise, ao pensar, em outras culturas que não a europeia, como essas pessoas foram representadas, e quais práticas surgiram a partir dessas representações. 1) O surgimento da corrente historiográfica da História Cultural ocorre em um determinado contexto político-social e intelectual. Assinale a alternativa que expressa corretamente essas duas conjunturas. d) Conjuntura de 1968 – Crítica ao marxismo e à História Social. RESPOSTA CORRETA A História Cultural surge em um ambiente de crítica às abordagens marxistas e da História Social, por acreditar-se que ambas as correntes não davam conta da complexidade social revelada a partir das manifestações de 1968. Era necessário abordar a cultura a partir de um entendimento mais amplo e historicizar novos objetos da realidade. 2) Leia o trecho a seguir, escrito pela historiadora Sandra Pesavento: “Mas no campo da História Cultural, o historiador sabe que a suanarrativa pode relatar o que ocorreu um dia, mas que esse mesmo fato pode ser objeto de múltiplas versões. A rigor, ele deve ter em mente que a verdade deve comparecer no seu trabalho de escrita da História como um horizonte a alcançar, mesmo sabendo que ele não será jamais constituído por uma verdade única ou absoluta. O mais certo seria afirmar que a História estabelece regimes de verdade, e não certezas absolutas”. A partir desse trecho, assinale a alternativa que apresenta uma das preocupações da História Cultural. a) A preocupação com a imaginação e com a ficção na escrita da História. RESPOSTA CORRETA O trecho da historiadora Sandra Pesavento faz referência à possibilidade da narrativa histórica ser compreendida como verdade. Isso remete diretamente aos debates sobre a imaginação e a ficção na narrativa historiográfica, temas que foram explorados por diversos historiadores vinculados à História Cultural. 3) Sobre a cultura enquanto objeto da História Cultural são feitas as seguintes afirmações: I - Os historiadores que abordaram o âmbito cultural dedicaram-se somente aos estudos das produções artísticas e literárias das sociedades analisadas. II - Os investigadores mantiveram uma distinção entre a cultura erudita e a cultura popular, a fim de perceber as diferenças existentes entre as classes sociais. III - A cultura passou a ser compreendida a partir das apropriações, das práticas e das representações elaboradas socialmente sobre a realidade. Quais dessas afirmativas estão corretas? c) Apenas a afirmativa III está correta. RESPOSTA CORRETA Apenas a afirmativa III está correta. Os historiadores que abordaram o âmbito cultural dedicaram-se ao estudo não somente das produções artísticas e literárias de uma sociedade, mas a toda a sua dimensão cultural, abolindo a distinção entre cultura erudita e cultura popular, que representava uma série de preconceitos e hierarquizações de classe. A predileção de suas análises foi por compreender a cultura a partir das apropriações, das práticas e das representações elaboradas socialmente sobre a realidade. 4) Roger Chartier contribuiu significativamente para a disciplina histórica com suas leituras sobre a cultura. Assinale a alternativa que apresenta os conceitos empregados pelo autor para a análise de seus objetos de estudo. e) Apropriações, práticas e representações. RESPOSTA CORRETA O historiador francês Roger Chartier empregou, em suas análises, os conceitos de 'apropriação', de 'prática' e de 'representação', a fim de compreender as leituras que as sociedades faziam de si e de que forma era assimilada, decodificada, aceita ou rechaçada. 5) Em relação à prática da interdisciplinaridade na História Cultural, são feitas as seguintes afirmações: I - Os historiadores vinculados à corrente da História Cultural não praticavam a interdisciplinaridade, por causa das múltiplas definições existentes sobre 'cultura em outros campos do saber. II - A busca da historicidade de determinados objetos a partir do enfoque da História Cultural levou os historiadores a buscarem referenciais na Antropologia, na Linguística e na Ciência Política. III - As problematizações realizadas pelos historiadores extrapolaram os enfoques e as temáticas, questionando, do ponto de vista epistemológico, alguns preceitos da História enquanto disciplina. Quais dessas afirmativas estão corretas? d) Apenas as afirmativas II e III estão corretas. RESPOSTA CORRETA As afirmativas II e III estão corretas. A interdisciplinaridade foi uma constante na prática dos historiadores vinculados à História Cultural e, em alguns casos, torna-se difícil classificá-los como historiadores, pela fluidez da fronteira com outras áreas do conhecimento, tais como a Antropologia, a Linguística ou a Ciência Política. Além disso, o intercâmbio com os debates realizados em outros campos do saber permitiu a formulação de questionamentos epistemológicos sobre a disciplina histórica, relacionados à verdade e à ficção, à narrativa e à realidade, etc. DISCIPLINA: Introdução aos Estudos de História TÓPICO 3: A escola dos Annales DESAFIO O surgimento da revista dos Annales pode ser considerado como o marco inicial de uma nova tradição historiográfica, trazendo consequências e influências até os dias atuais. A seguir, leia o trecho do historiador francês Lucien Febvre, que, junto com Marc Bloch, foi o fundador da revista. “E aqui está sem dúvida, com que abalar outra doutrina, tantas vezes ensinada. ‘O historiador não poderia escolher os fatos. Escolher? Com que direito? Em nome de que princípio? Escolher a própria negação da obra científica...’ – Mas toda a história é escolha. É-o, até devido ao acaso que aqui destruiu e ali salvou os vestígios do passado. É-o devido ao homem: quando os documentos abundam, ele resume, simplifica, põe em destaque isto, apaga aquilo. É-o, sobretudo, porque o historiador cria os seus materiais, ou se quiser, recria-os: o historiador que não vagueia ao acaso com uma intenção precisa, um problema a resolver, uma hipótese de trabalho a verificar [...] O essencial do seu trabalho consiste em criar, por assim dizer, os objetos da sua observação, com o auxílio de técnicas muitas vezes bastante complicadas. E, uma vez adquiridos esses objetos, ‘ler’ os seus cortes e as suas preparações. Tarefa singularmente árdua; porque descrever o que se vê, ainda vá; o difícil é ver o que é preciso descrever.” (FEBVRE, Lucien, 1989, p. 15). Nesse excerto, Febvre explicita um dos preceitos que orientaram os trabalhos dos historiadores vinculados aos Annales e que pode ser considerado um legado para a disciplina histórica. Colocando-se no papel de historiador, seu Desafio é pesquisar em seu material de estudo que preceito era esse e escrever de que forma essa ideia transformou a disciplina histórica a partir dos anos de 1930. PADRÃO DE RESPOSTA ESPERADO Lucien Febvre, nesse trecho, chama a atenção para o caráter de seleção que o historiador opera na escrita da história, construindo os fatos históricos a partir das fontes que estão disponíveis. Essa mudança epistemológica significou uma grande transformação da concepção da escrita da história que, naquele período, era compreendida hegemonicamente como uma narrativa de determinados acontecimentos que estariam esperando a descrição do historiador. Nesse sentido, Febvre afirma que o historiador tem um papel ativo de seleção na escrita da história. Essa seleção é orientada pelas problematizações que elabora em relação ao passado, que vai sendo construído à medida que é narrado. Essa observação permite também afirmar que o trabalho do historiador não pode ser desvinculado de suas crenças, ideologias, visões de mundo, pois sua ação e presença são fundamentais quando se concebe a escrita da história. 1) A chamada escola dos Annales contribuiu para a disciplina histórica ao promover uma série de questionamentos à forma hegemônica como a história era escrita na França no início do século XX. Sendo assim, assinale a alternativa que tem uma dessas contribuições. e) Uma problematização em relação às fontes históricas, rompendo com a ideia de que as fontes históricas eram apenas oficiais e escritas. RESPOSTA CORRETA A chamada escola dos Annales deixou como legado a defesa da interdisciplinaridade, a ênfase em aspectos econômicos e sociais das sociedades, uma problematização do tempo histórico, entendido como de curta, média e longa duração, bem como uma ampliação no entendimento do que eram as fontes históricas. 2) Leia o trecho a seguir. Um dos nomes mais importantes da escola dos Annales foi o historiador medievalista francês Marc Bloch. Sua proposta epistêmica buscou romper com o paradigma __________ em que a ciência histórica hegemonicamente se assentava desde meados do século XIX, problematizando a própria noção de que a __________ naquele momento definia o ________ como um dado rígido, inalterável. A alternativa que preenche corretamenteas lacunas do texto é: b) positivista – história – passado. RESPOSTA CORRETA A escola dos Annales insurgiu-se contra os paradigmas positivista e metódico, hegemônicos no campo disciplinar francês até meados do século XX, apresentando uma nova concepção de história, porque a em vigor considerava o passado como acabado, passível de ser "alcançado" pelo historiador, que não influenciaria em nada a narrativa. 3) O movimento dos Annales provocou uma série de modificações na concepção de história e na forma de sua escrita. Sobre os participantes dessa renovação historiográfica, são feitas as seguintes considerações: I. Marc Bloch e Lucien Febvre fundaram a revista Annales para propor um espaço de discussão sobre novas abordagens, concepções e metodologias da escrita da história. II. De acordo com Braudel, existem diferentes temporalidades que atravessam uma mesma sociedade, e a compreensão desses tempos históricos é fundamental para alcançar a almejada totalidade. III. A interdisciplinaridade não foi uma preocupação para os Annales, que se dedicaram unicamente a pensar a disciplina histórica. Está(ão) correta(s): c) apenas as afirmativas I e II. RESPOSTA CORRETA Estão corretas as afirmativas I e II. Já que a revista Annales foi criada por Marc Bloch e Lucien Febvre como uma forma de aglutinar historiadores que pensavam em renovar as práticas historiográficas desenvolvidas até aquele momento. Essa renovação implicou problematizar as temporalidades da história, em busca de uma história total, e da prática da interdisciplinaridade, como possibilidade de compreender as múltiplas e variadas dimensões da realidade. 4) Marc Bloch afirma em Apologia da história que os acontecimentos e os fatos históricos são imutáveis, mas que o conhecimento do passado não, modificando-se a cada conjuntura e de acordo com as perguntas que o historiador elabora em relação ao seu objeto de estudo. Das opções a seguir, qual a que corretamente faz referência ao pensamento do autor? a) Não há conhecimento sobre o passado que seja incontestável. RESPOSTA CORRETA Marc Bloch afirma que a subjetividade dos historiadores sempre incluencia sua escrita, bem como a conjuntura em que está inserido. Isso porque o historiador interroga o passado por meio de seus vestígios, com questionamentos elaborados a partir do presente. Assim, a escrita da história e a historiografia propriamente dita modificam-se, pois as conjunturas – o presente – também mudam. 5) Em seu livro O Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo na época de Filipe II (1949), o historiador Fernand Braudel desenvolveu algumas reflexões sobre as temporalidades da história. Aponte a alternativa que explicita corretamente sua proposição. d) Existem três tempos: os de curta, os de média e os de longa duração, sendo possível sua coexistência em uma mesma sociedade. RESPOSTA CORRETA A proposta de Fernand Braudel para compreender o tempo histórico pressupõe que se entenda os diferentes ritmos em que ocorrem as mudanças e as transformações na sociedade: a curta, a média e a longa duração.
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