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FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 1 FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 2 DIVERSIDADE NA APRENDIZAGEM Módulo I e II 1. A educação para a diversidade e a formação de professores 2. Educação para a diversidade: uma prática a ser construída na Educação Básica 3. Educação contemporânea 4. Desafios da profissão docente na educação atual 5. Diversidade e educação para todos 6. Inclusão 7 Algumas diversidades no contexto da escola pública 7.1 Diversidades Religiosas 7.2 Diversidades de Gênero 7.3 Diversidade do campo 7.4 Alunos com Necessidades Educacionais Especiais 7.5 Diversidade Étnico-Racial e Cultura Afro-brasileira e Africana 7.6 Diversidade Socioeconômica e Cultural 7.7 Diversidade Indígena Considerações finais Referências FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 3 Módulo III e IV 1. Desigualdades e diversidade na educação 2. Sobre identidade e diferenças na escola 3. Escola dos diferentes ou escola das diferenças? 3.1. A escola comum na perspectiva inclusiva 3.2. mudanças na escola 4. O projeto político pedagógico, autonomia e gestão democrática 5. O atendimento educacional especializado – AEE 5.1. Articulação entre escola comum e educação especial: ações e responsabilidades compartilhadas 5.2. O projeto político pedagógico e o AEE 6. A organização e a oferta do AEE 6.1. A formação de professores para o AEE 7. Salas de recursos multifuncionais 7.1. Conhecendo alguns recursos acessíveis Considerações finais Referência FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 4 1. A educação para a diversidade e a formação de professores Por: Patrícia Bianchini A política de inclusão, na rede regular de ensino, dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, não consiste somente na permanência física desses alunos na escola; mas no propósito de rever concepções e paradigmas, respeitando e valorizando a diversidade desses alunos, exigindo assim, que a escola crie espaços inclusivos. Dessa forma, a inclusão significa que não é o aluno que se molda ou se adapta à escola, mas a escola consciente de sua função que se coloca a disposição do aluno. As escolas inclusivas devem reconhecer e responder às diversas dificuldades de seus alunos, acomodando os diferentes estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade para todos mediante currículos apropriados, modificações organizacionais, estratégias de ensino, recursos e parcerias com a comunidade. A inclusão, na perspectiva de um ensino de qualidade para todos, exige da escola novos posicionamentos que implicam num esforço de atualização e reestruturação das condições atuais, para que o ensino se modernize e para que os professores se aperfeiçoem, adequando as ações pedagógicas à diversidade dos aprendizes. Deste modo, pode-se dizer que a escola inclusiva é aquela que acomoda todos os seus alunos independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais ou linguísticas. Seu principal desafio é desenvolver uma pedagogia centrada no aluno, e que seja capaz de educar e incluir além dos alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, aqueles que apresentam dificuldades temporárias ou permanentes na escola, os que estejam repetindo anos escolares, os que sejam forçados a trabalhar, os que vivem nas ruas, os que vivem em extrema pobreza, os que são vítimas de abusos e até mesmo os que apresentam altas habilidades como a superdotação, uma vez que a inclusão não se aplica apenas aos alunos que apresentam alguma deficiência. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 5 Para incluir a escola precisa, primeiramente, acreditar no princípio de que todas as crianças podem aprender e que todas devem ter acesso igualitário a um currículo básico, diversificado e uma educação de qualidade. As adaptações curriculares constituem as possibilidades educacionais de atuar frente às dificuldades de aprendizagem dos alunos e têm como objetivo subsidiar a ação dos professores. Constituem num conjunto de modificações que se realizam nos objetivos, conteúdos, critérios, procedimentos de avaliações, atividades e metodologias para atender as diferenças individuais dos alunos. Assim sendo, é preciso desenvolver uma rede de apoio (constituída por alunos, pais, professores, diretores, psicólogos, terapeutas, pedagogos e supervisores) para discutir e resolver problemas, trocar ideias, métodos, técnicas e atividades, com a finalidade de ajudar não somente aos alunos, mas aos professores para que possam ser bem sucedidos em seus papéis. A realização das ações pedagógicas inclusivas requer uma percepção do sistema escolar como um todo unificado, em vez de estruturas paralelas, separadas como uma para alunos regulares e outra para alunos com deficiência ou necessidades especiais. Os educadores devem estar dispostos a romper com paradigmas e manterem-se em constantes mudanças educacionais progressivas criando escolas inclusivas e de qualidades. Essas estratégias para a ação pedagógica no cotidiano escolar inclusivo são necessárias para que a escola responda não somente aos alunos que nela buscam saberes, mas aos desafios que são atribuídos no cumprimento da função formativa e de inclusão, num processo democrático, reconhecendo e valorizando a diversidade, como um elemento enriquecedor do processo de ensino e aprendizagem. Portanto, incluir e garantir uma educação de qualidade para todos os alunos é uma questão de justiça e equidade social. A inclusão implica na reformulação de políticas educacionais e de implementação de projetos educacionais inclusivo, sendo o maior desafio estender a inclusão a um maior número de escolas, facilitando incluir todos os indivíduos em uma sociedade na qual a diversidade está se tornando mais norma do que exceção. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 6 Por isso é preciso refletir sobre a formação dos educadores, uma vez que ela não é para preparar alguém para a diversidade, mas para a inclusão; porque a inclusão não traz respostas prontas, não é uma “multi” habilitação paraatender a todas as dificuldades possíveis na sala de aula, mas uma formação na qual o educador olhará seu aluno de outro modo, tendo assim acesso as peculiaridades dele, entendendo e buscando o apoio necessário. Por fim, cabe refletirmos sobre que é ser igual ou diferente? Pois, se olharmos em nossa volta, perceberemos que não existe ninguém igual, na natureza, no pensamento, nos comportamentos e/ou ações; e que as diferenças não são sinônimos de incapacidade ou doença, mas de equidade humana. * Patrícia Ferreira Bianchini Borges é professora da Rede Municipal de Ensino de Uberaba, licenciada em Letras pela Uniube – MG, e pós-graduanda em Estudos Lingüísticos: “Fundamentos para o Ensino e Pesquisa” pela UFU – MG. 2 . EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE: uma prática a ser construída na Educação Básica FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 7 APRESENTAÇÃO “Temos o direito de ser iguais sempre que as diferenças nos inferiorizem, temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracterize”. Boaventura Santos Esta unidade temática constitui-se num instrumento de reflexão para aos professores da Educação Básica, acerca dos desafios postos pela sociedade contemporânea, principalmente no que diz respeito à diversidade humana e ao pluralismo cultural, pois, acredita-se que a reflexão sobre a diversidade, seja o ponto de partida da nossa caminhada rumo a transformações conceituais e práticas da escola, a fim de garantir educação para todos, por meio de aprendizagens efetivas que garantam a permanência do aluno e, consequentemente, seu sucesso escolar. É sabido a todos que a diversidade humana está posta desde os primórdios da humanidade, mas, apenas a partir do final do século XX é que a sociedade se dá conta desta especificidade, declarando que os seres humanos não são iguais. Neste contexto, pode-se afirmar que a comunidade escolar é composta por alunos de diferentes grupos sociais, políticos, econômicos, étnicos, religiosos, etc. No entanto, a escola vem demonstrando grande dificuldade para atender esta diversidade humana, uma vez que, ainda conserva concepções e práticas pautadas em tendências pedagógicas que acreditam no processo de aprendizagem homogeneizado, desconsiderando, a diversidade, ou seja, as diferenças. Segundo Carvalho (2002, p. 70), “Pensar em respostas educativas da escola é pensar em sua responsabilidade para garantir o FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 8 processo de aprendizagem para todos os alunos, respeitando-os em suas múltiplas diferenças.” Corroborando com Carvalho, Araújo (1998, p.44) diz: “[...] a escola precisa abandonar um modelo no qual se esperam alunos homogêneos, tratando como iguais os diferentes, e incorporar uma concepção que considere a diversidade tanto no âmbito do trabalho com os conteúdos escolares quanto no das relações interpessoais.” Reconhecendo a importância a e relevância da temática em discussão, o presente texto acredita ser fundamental levar o professor a refletir que vivemos em um mundo de diversidades, onde a individualidade humana deve ser respeitada, reconhecida e aceita, uma vez que, comprovadamente somos diferentes uns dos outros, o que faz com que todos nós tenhamos capacidades e limitações para aprender. Neste contexto, cabe ao professor reconhecer seu papel de mediador de aprendizagens, para todos os alunos, devendo ser esta mediação desprovida de preconceito, estigma e exclusão. Nesse sentido, Amaral (1998), ressalta que a educação precisa prestar um bom serviço à comunidade, buscando atender as especificidades dos alunos que chegam à escola, cabendo à educação adequar-se às necessidades dos alunos e não os alunos às necessidades e limitações escola. Vale destacar que não é nosso objetivo, transformar a escola em um serviço de assistência social, desconsiderando seu papel de promotora de novos conhecimentos necessários ao exercício de cidadania consciente, uma vez que sua função é capacitar o aluno para ser um agente transformador da sua realidade social. Mas, queremos enfatizar que o direito de emancipação humana é de todos, devendo a escola e os seus professores, buscar alternativas diferenciadas para atingir seus diferentes grupos de acadêmicos, evitando desta forma, a exclusão e, consequentemente, a discriminação. Acredita-se, portanto, ser necessário oferecer subsídios aos professores para auxiliá-los na FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 9 condução de sua prática pedagógica inclusiva, deste modo, o presente texto tem por objetivo re- significar o pensar e o agir do professor, frente ao processo de ensino e aprendizagem no contexto de uma escola aberta às diferenças, levando-os à prática da ação-reflexão-ação. Esta unidade pedagógica está organizada de forma que leve o leitor a interar-se de uma breve visão da educação contemporânea, conhecer os atuais desafios da profissão docente, compreender o conceito de diversidade e educação para todos, bem como o conceito de inclusão; reconhecer os princípios norteadores de uma educação inclusiva, além de apresentar e caracterizar o universo da diversidade, bem como, apresentar caminhos que anunciam uma ação docente que colabora efetivamente com a construção de uma escola pública sem preconceitos e exclusões. 3. EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA A sociedade contemporânea vem sofrendo muitas interferências políticas, econômicas, sociais, tecnológicas, fazendo com que mudanças também ocorram dentro das escolas, uma vez que o ensino precisa compreender quais são os conhecimentos necessários para capacitar o aluno e torná-lo agente de transformação social. Deste modo, é importante ressaltar que a escola não é a única detentora de saber, visto que os meios de comunicação de massa e as tecnologias estão muito presentes na atualidade. Pensando sobre esta nova realidade escolar Heerdt (2003, p. 69) diz, “o grande desafio, sem dúvida, não é o de estar ciente destas transformações, mas sim integrá-las e contemplá-las no trabalho educacional.” Assim, a escola precisa promover um resgate da sua função de promotora de novos conhecimentos, buscando refletir criticamente sobre as ações e condutas cotidianas, tendo em vista desenvolver novas formas de atuar na educação que promova o sucesso do aluno. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 10 Ao adentrar este universo da ação-reflexão-ação, é necessário que a equipe escolar busque respostas para os seguintes questionamentos acerca do currículo: Qual é a concepção de mundo, de homem, de sociedade, de conhecimento, de ensino e de aprendizagem que o nosso currículo possui? Buscar respostas para estas indagações demonstra que a comunidade escolar visualiza o currículocomo uma ferramenta que ajuda o professor a mediar a aquisição de novos conhecimentos, principalmente quando reconhece o valor dos conhecimentos prévios dos alunos – conhecimento real, e compromete-se em levar o aluno a adquirir o conhecimento científico – conhecimento ideal, ao considerar o currículo como dinâmico, transformador e articulado com a prática social. Na atual instituição educacional não se admite mais currículos que não sejam críticos, que desafiem os alunos, que os levem a pensar, a refletir, a buscar, a se tornar pessoas ativas no processo de construção de novas aprendizagens, cujo objetivo dever ser capacitar os alunos a sua emancipação cultural e assim, não serem pessoas passivas e submissas frente a uma situação imposta pela sociedade. Na Educação Contemporânea é necessário que a escola preocupe-se com desenvolvimento de um sistema de ensino interconectado com os problemas da sociedade atual, abolindo a velha estruturação um ensino fragmentado e descontextualizado da realidade. Vale destacar que o professor e a escola na educação contemporânea, possuem um papel fundamental, o de levarem os alunos a desenvolverem a sua capacidade crítica para analisarem as informações que recebem e assim, desenvolverem o seu senso crítico. Neste contexto, o processo de aprendizagem na educação contemporânea é vista numa perspectiva globalizante e multidimensional, tendo o foco da educação voltado para o aluno, uma vez que o processo educativo leva em conta as suas peculiaridades, considerando-o integralmente. Deste modo, reconhece-se que o aluno do século XXI precisa desenvolver-se de forma global, FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 11 assim, o processo de ensino e aprendizagem não poderá acontecer por áreas de desenvolvimento, mas, sim, de forma que contemple os aspectos cognitivos, afetivo, sociocultural e da comunicação, indissociáveis, já que as fontes de informação, de solução de problemas, de investigação e de crítica não são adquiridas apenas nas experiências escolares, mas, principalmente, da interação do sujeito com o ambiente, com as experiências de vida e com a sua cultura. A construção do conhecimento na Educação Contemporânea deve ocorrer coletivamente e estar voltada para questões que contemplem as diferenças, ou seja, a diversidade humana que compõe a escola, sendo necessário para isso, incluir questões a serem discutidas e/ou refletidas tais como: etnia, raça, gênero, classe, sexo, entre outras, valorizando todo o conhecimento que os diferentes grupos trazem para a sala de aula, enriquecendo muito mais o ensino e a aprendizagem, onde, infelizmente acabam sendo despercebidos ou ignorados por muitos professores. 4. DESAFIOS DA PROFISSÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO ATUAL Antigamente a escola era reconhecida como um dos únicos locais onde o processo ensino- aprendizagem ocorria, sendo a figura do professor de extrema relevância, pois ele era o responsável pelo ato de ensinar. Era dele a missão de ensinar a ler, a escrever, a somar, multiplicar... As responsabilidades ligadas ao processo de ensino cabiam aos professores e as responsabilidades ligadas à educação eram da família, de acordo com normas e valores estabelecidos pela igreja. O contexto atual marcado por grandes evoluções na sociedade, principalmente de cunho científicas e tecnológicas requerem mudanças na escola, especialmente na atuação do FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 12 professor, que ao longo dos anos vem sentindo que sua profissão está perdendo a identidade. É necessário resgatar a função fundamental do professor enquanto agente formador que oportuniza a formação e transformação dos alunos, desenvolvendo neles o espírito crítico e a cidadania. O professor precisa estar ciente de seu papel frente à realidade social, econômica, tecnológica que ocorre atualmente. Estamos vivendo no mundo da globalização, o que torna as coisas fora da escola muito mais atraentes, pois esta ainda continua ministrando aulas desinteressantes e maçantes, que em nada oportunizam ao aluno a reflexão e o desenvolvimento do senso crítico. A influência do mundo globalizado recai diretamente sobre os processos de ensino, pois o conhecimento ocorre em concomitância com a influência da mídia, das tecnologias e até mesmo com as influências da sociedade, exigindo muito mais do professor que precisa propiciar aos alunos situações que possam estimular e motivar o desejo de aprender, levando-os a reconhecer a importância e utilidade da busca pelo conhecimento. Assim, precisa utilizar-se de metodologias diferenciadas que surpreendam os alunos, que os encante para o desenvolvimento do assunto a ser desenvolvido, pois é necessário reconhecer que somente o fato de o professor falar e de o aluno escutar não significa que ocorreu aprendizagem. Porém, de nada adianta ao professor utilizar-se de estratégias diferenciadas, de tecnologias variadas se ele não conseguir atrair a atenção dos alunos especialmente para o ensino. De acordo com Heerdt (2003, p. 69) “Se o recurso não estiver sintonizado com aquilo que está sendo apresentado, o aluno aciona um zap mental. Ele muda de canal, desliga-se do professor que está na frente dele. Continua fisicamente na sala de aula, mas sua mente viaja para bem longe dali.” Promover aprendizagem não é uma tarefa fácil para a atual função docente, o que demanda compromisso e responsabilidade bem como, estar disposto a buscar novas metodologias, FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 13 através da formação continuada, cabendo, portanto à escola oferecer aos seus professores momentos de atualização profissional. Por outro lado, vale lembrar que a escola não é a única responsável pela formação continuada de seus professores, mas sim uma parceira, quando também cabe ao professor, buscar autonomamente a sua formação continuada. Esta parceria, com certeza, tende a proporcionar a melhoria na qualidade do ensino. Segundo Heerdt (2003, p. 70), “Evidenciam-se, uma série de desafios, alguns inéditos, que precisam ser assumidos e incorporados na prática docente. A mudança, o novo, o questionamento, o diferente, quase sempre são causa de insegurança e medo. Mas é necessário ousar e enfrentar”. Entre os inúmeros desafios postos para o professor, podemos destacar a atualização profissional, a criatividade, a organização do trabalho pedagógico por meio da ação de planejar, a mediação do processo ensino aprendizagem, a relação interpessoal entre professor e aluno, bem como a parceria escola e família, lidar com todos estes desafios faz parte da profissão docente. Percebe-se, portanto que atualmente não está sendo fácil ao professor competir com tudo aquilo que o mundo fora da escola oferece aos alunos. O professor precisa abusar de sua capacidade de criação e ter consciência da necessidade de mudar sua prática pedagógica. Assim, o desafio está no fazer diferente o que diz respeito à ação docente, tendo claro que o professor não pode restringir a sua competência apenas aosconhecimentos específicos de sua área de atuação, mas, a competência pedagógica que lhe proporcionará conhecimentos e domínios dos processos de ensino e aprendizagem. Para isso o professor deve reconhecer que a aula expositiva, verbalista, utilizada como única forma de interação do processo de ensino e de aprendizagem no ensino tradicional, já está ultrapassada. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 14 Deste modo, ao planejar o professor precisa estar ciente do que quer ensinar e de como vai ensinar, para que possa interagir adequadamente com seus alunos, uma vez que, professores e alunos têm acesso a muitos outros conhecimentos através de diversos recursos tecnológicos e pedagógicos, sendo na maioria das vezes atraentes e interativos. De acordo com Gadotti (1992, p. 70) é preciso saber e entender que, “Todo ser humano é capaz de aprender e de ensinar, e, no processo de construção do conhecimento, todos os envolvidos aprendem e ensinam. O processo de ensino-aprendizagem é mais eficaz quando o educando participa, ele mesmo, da construção do „seu‟ conhecimento e não apenas “aprendendo” o conhecimento.” O aluno atual é esperto, curioso, sente prazer em investigar, em descobrir, não aceitando mais os conhecimentos prontos repassados pelo professor. A tarefa do professor está cada vez mais difícil. É chegada a hora de superar a reprodução e fragmentação dos conhecimentos. O professor precisa assumir seu papel de mediador, de facilitador do processo, instigando os alunos a pensar, a refletir, a pesquisar, conduzindo os para a construção do conhecimento. A relação professor e aluno não poderiam ficar de fora, uma vez que é considerada de suma importância para todo o processo de construção do conhecimento, pois o clima de afetividade nesta relação pode contribuir para que a aprendizagem ocorra em uma interação contínua. É comum, muitas vezes, os alunos encontrarem no professor aquilo que gostariam de encontrar em seus familiares, mas também pode trazer consequências desastrosas se o professor não souber conduzir esta situação de afetividade em sala de aula. A presença e participação da família durante todo o processo de aprendizagem é fundamental. Infelizmente é possível perceber que as famílias delegam somente à escola a responsabilidade pela educação de seus filhos, fazendo com que os professores, muitas vezes, se encontrem sozinhos neste processo, tendo que desenvolver vários papéis dentro da escola, o que acaba por influenciar em sua ação docente. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 15 Mas, o desafio posto para este texto diz respeito à diversidade, o qual envolve a quebra de paradigmas historicamente construídos para que a escola possa assumir seu papel de inclusão. 5 DIVERSIDADE E EDUCAÇÃO PARA TODOS É a diversidade que melhor ilumina a necessária globalidade, ou seja, é sendo diferentes que nos tornamos iguais na condição humana. Guenther Um dos aspectos a ser desenvolvido em nossos alunos é a cidadania, que pressupõe respeito às diferenças, não com a intenção de acentuar as desigualdades, mas de respeitar as diversidades entre os indivíduos. Cada aluno é único, portanto, tem suas características particulares que merecem ser consideradas pelo professor e pela escola. · Mas o que é a diversidade? · O que a diversidade pode influenciar na educação de nossos alunos? · Na escola pública é possível perceber a existência da diversidade? Questões como estas fazem parte das discussões realizadas nas escolas, tanto na escola pública como na privada, uma vez que a escola é considerada como um dos universos em que a diversidade humana se faz presente. Ao analisarmos etimologicamente a palavra diversidade, podemos constatar que, de acordo com o Mini-dicionário Aurélio (2004), diversidade significa: “1Qualidade ou condição do que é diverso, diferença, dessemelhança. 2Divergência, contradição (entre idéias, etc.) 3Multiplicidade de coisas diversas: existência de seres e entidades não idênticos, ou dessemelhantes, oposição.” Quando falamos sobre diversidade em educação nos remetemos a idéia de dar oportunidades a todos os alunos de acesso e permanência na escola, com as mesmas igualdades de condições, FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 16 respeitando as diferenças. Ao se abordar a questão das diferenças ou diversidades, não se remete somente às minorias ou às crianças com necessidades especiais. É muito mais amplo, pois todos nós seres humanos somos únicos, portanto diferentes uns dos outros. Tal fato trata-se de denominar como diversidade as diferentes condições étnicas e culturais, as desigualdades socioeconômicas, as relações discriminatórias e excludentes presentes em nossas escolas e que compõem os diversos grupos sociais. Pesquisas demonstram que cada vez mais tem aumentado a presença de alunos que historicamente tinham sido excluídos da escola. Esta realidade pode ser vista principalmente nas escolas públicas, por constituir um espaço de grande diversidade, bem quando descrever no seu Projeto Pedagógico o perfil dos alunos que compõem as suas salas de aula, o que demonstra claramente que a educação pública está voltada para a educação de todas as pessoas e não mais para uma minoria como relata a história da Educação, ao descrever que nos primórdios da educação da humanidade ela era totalmente elitista, sendo o seu acesso permitido apenas a uma pequena parcela da população. Atualmente, é grande o acesso da população a escola publica, no entanto o seu desafio é garantir a permanência e o sucesso escolar de todos os alunos, por meio de suas aprendizagens. Este avanço ocorreu devido a Declaração Mundial sobre Educação para todos (1990), no seu Artigo 3º, quando declarou que: é necessário universalizar o acesso à educação e promover a equidade, melhorando sua qualidade, bem como tomar medidas efetivas para reduzir as desigualdades. Na escola do século XXI, é possível perceber que a heterogeneidade está presente, ou seja, os alunos que lá estão são muito diferentes dos das décadas passadas, pois a escola atualmente é composta por grupos muito diferentes, tais como: sociais, econômicos, religiosos, culturais, de gênero, étnicos, com necessidades especiais, etc. Além desses grupos, ainda encontramos os que apresentam facilidade para aprender e outros que FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 17 sofrem para assimilar os conceitos mais simples, alguns que apresentam facilidade para aprender; mas não se interessam, pois não querem nada com nada; outros com dificuldades e se mostram muito interessados; outros com estilos de aprendizagem diferentes; e outros indisciplinados. Todo esse contexto mostra que os alunos que compõem nossas salas de aula não são iguais e que,portanto, não é possível desenvolver uma ação pedagógica única e homogênea. Considerando que a escola pública trabalha com a diversidade e que é necessário respeitar as diferenças existentes em sala de aula e em todo o ambiente escolar, não é possível que o professor continue desenvolvendo o ensino aplicável a todos os alunos. É preciso que se diversifique a prática pedagógica, buscando atender as características e as necessidades de cada aluno, criando contextos educacionais que permitam atender as especificidades de todos. É primordial que o professor se preocupe em desenvolver sua aula reconhecendo as diferenças existentes entre os alunos, senão estará desenvolvendo um ensino igual para todos, valorizando somente a transmissão de conteúdos, sendo um trabalho descontextualizado, que não desafia os alunos, que não os leva a produção de uma verdadeira aprendizagem, fazendo com que o ensino se efetive somente para alguns alunos, não atingindo o todo. Este pensamento é corroborado pelo Conselho Nacional de Educação no seu Parecer n. 017/2001, quando reconhece que, “A consciência do direito de constituir uma identidade própria e do reconhecimento da identidade do outro se traduz no direito à igualdade e no respeito às diferenças, assegurando oportunidades diferenciadas (eqüidade), tantas quantas forem necessárias, com vistas à busca da igualdade. O princípio da eqüidade reconhece a diferença e a necessidade de haver condições diferenciadas para o processo educacional.” (BRASIL, 200, p.11) Deste modo acredita-se que o professor que reconhece as diferenças em suas FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 18 aulas é capaz de reconhecer o outro e valorizá-lo de acordo com suas especificidades e potencialidades, assegurando aos alunos a equidade, ou seja, igualdade de oportunidades a todos para poderem se desenvolver de acordo com sua realidade, promover uma educação que valorize as raízes de cada cultura, ou seja, uma educação multicultural. Segundo Gadotti (1992, p. 21), “A escola que se insere nessa perspectiva procura abrir os horizontes de seus alunos para a compreensão de outras culturas, de outras linguagens e modos de pensar, num mundo cada vez mais próximo, procurando construir uma sociedade pluralista.” Na escola inclusiva todos os alunos, independente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, linguísticas, religiosas, sexuais ou outras, têm direito de acesso, de permanência e de sucesso. De acordo com Carvalho (2000, p. 120), uma escola inclusiva é aquela escola que “inclui a todos, que reconhece a diversidade e não tem preconceito contra as diferenças, que atende às necessidades de cada um e que promove a aprendizagem.” É fundamental então, identificar os obstáculos que dificultam o sucesso dos alunos no processo de aprendizagem e buscar tornar o ensino e a aprendizagem um processo prazeroso, numa interação contínua entre o professor, o aluno e o conhecimento. O professor necessita estar bem preparado para desafiar os alunos, através do uso de estratégias mais interessantes, que permitam uma participação reflexiva dos alunos e, para tanto, é fundamental que o professor tenha convicção de que a aprendizagem é possível para todos os alunos. Talvez a grande dificuldade atual da humanidade esteja em entender que, Ser humano é entender que a diversidade leva à unidade, que a unidade leva à solidariedade, que a solidariedade leva à igualdade, que a igualdade leva à liberdade, que a liberdade leva à diversidade. (BOURDOUKAN, apud Cadernos da EJA – Diversidades e trabalho. 2007, p. 26 e 27) Deste modo, acredita-se que a escola e o professor sejam parceiros incondicionais da diversidade, uma vez que o educador é modelo para o aluno, portanto professores FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 19 preconceituosos terão alunos preconceituosos, professores inclusivos terão alunos que reconhecem na diversidade o significado de ser humano. 6. INCLUSÃO De acordo com o Mini-dicionário Aurélio (2004), incluir (inclusão) significa: 1Conter ou trazer em si; compreender, abranger. 2Fazer tomar parte; inserir, introduzir. 3Fazer constar de lista, de série, etc; relacionar.” Para Monteiro (2001): “[...] A inclusão é a garantia, a todos, do acesso contínuo ao espaço comum da vida em sociedade, uma sociedade mais justa, mais igualitária, e respeitosa, orientada para o acolhimento a diversidade humana e pautada em ações coletivas que visem a equiparação das oportunidades de desenvolvimento das dimensões humanas (MONTEIRO, 2001, p. 1).” De acordo com Mantoan (2005), inclusão: “É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência física, para os que têm comprometimento mental, para os superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro motivo. Costumo dizer que estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com, é interagir com o outro.” FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 20 Em se tratando de educação partimos do pressuposto de que inclusão é a ideia de que todas as crianças têm o direto de se educar juntos em uma mesma escola, sem que esta escola exija requisitos para ingresso e não selecione os alunos, mas, sim, uma escola que garanta o acesso e a permanência com sucesso, dando condições de aprendizagem a todos os seus alunos. Tudo isso é possível na medida em que a escola promova mudanças no seu processo de ensinar e aprender, reconhecendo o valor de cada criança e o seu estilo de aprendizagem, reconhecendo que todos possuem potencialidades e que estas potencialidades devem ser desenvolvidas. Quando pensamos em uma escola inclusiva, é necessário pensar em uma modificação da estrutura, do funcionamento e da resposta educativa, fazendo com que a escola dê lugar para todas as diferenças e não somente aos alunos com necessidades especiais. A fim de mudar a sua prática educativa, a escola deverá desenvolver estratégias de ensino diferenciadas que possibilitem o aluno a aprender e se desenvolver adequadamente. De acordo com Carvalho (2000, p. 111) “A proposta inclusiva pressupõe uma „nova‟ sociedade e, nela, uma escola diferente e melhor do que a que temos.” E diz ainda, “Mas aceitar o ideário da inclusão, não garante ao bem intencionado mudar o que existe, num passe de mágica. A escola inclusiva, isto é, a escola para todos deve estar inserida num mundo inclusivo onde as desigualdades não atinjam os níveis abomináveis com os quais temos convivido.” A escola é o espaço primordial para se oportunizar a integração e melhor convivência entre os alunos, os professores e possibilita o acesso aos bens culturais. Portanto é preciso que a escola busque trabalhar de forma democrática, oferecendo oportunidades de uma vida melhor para todos independente de condiçãosocial, econômica, raça, religião, sexo, etc. Todos os alunos têm direito de estarem na escola, aprendendo e FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 21 participando, sem ser discriminado ou ter que enfrentar algum tipo de preconceito por motivo algum. Segundo Haddad (2008) “[...] o benefício da inclusão não é apenas para crianças com deficiência, é efetivamente para toda a comunidade, porque o ambiente escolar sofre um impacto no sentido da cidadania, da diversidade e do aprendizado.” Na Constituição Federal (1988) a educação já era garantida como um direito de todos e um dos seus objetivos fundamentais era, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.” No (artigo 3º, inciso IV) da Constituição Federal (1988), como também no artigo 205, a educação é declarada como um direito de todos, devendo ela garantir o pleno desenvolvimento da pessoa, o seu exercício de cidadania e a qualificação para o trabalho. A educação inclusiva é reconhecida como uma ação política, cultural, social e pedagógica a favor do direito de todos a uma educação de qualidade e de um sistema educacional organizado e inclusivo. À escola cabe a responsabilidade em atender as diferenças, considerando que para haver qualidade na educação é necessário assegurar uma educação que se preocupe em atender a diversidade. Segundo Mantoan (2005, p.18), se o que pretendemos é que a escola seja inclusiva, é urgente que seus planos se redefinam para uma educação voltada para a cidadania global, plena, livre de preconceitos e que reconhece e valoriza as diferenças. A educação inclusiva visa desenvolver valores educacionais e metodologias que permitam desenvolver as diferenças através do aprender em conjunto, buscando a remoção de barreiras na aprendizagem e promovendo a aprendizagem de todos, principalmente dos que se encontram mais vulneráveis, em contraposição com a escola tradicional, que sempre foi seletiva, considerando as diferenças FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 22 como uma anormalidade e, desenvolvendo um ensino homogeneizado Carvalho (2000). Corroborando a afirmação de Carvalho, Araújo (1988, p. 44) diz: “[...] a escola precisa abandonar o modelo no qual se esperam alunos homogêneos, tratando como iguais os diferentes, e incorporar uma concepção que considere a diversidade tanto no âmbito do trabalho com os conteúdos escolares quanto no das relações interpessoais. É preciso que a escola trabalhe no sentido de mudar suas práticas de ensino visando o sucesso de todos os alunos, pois o fracasso e o insucesso escolar acabam por levar os alunos ao abandono, contribuindo assim com um ensino excludente.” A educação inclusiva, dentro de um processo responsável, precisa garantir a aprendizagem a todas as pessoas, dando condições para que desenvolvam sentimentos de respeito à diferença, que sejam solidários e cooperativos. De acordo com Mantoan, (2008, p.2): “Temos de combater a descrença e o pessimismo dos acomodados e mostrar que a inclusão é uma grande oportunidade para que alunos, pais e educadores demonstrem as suas competências, poderes e responsabilidades educacionais. As ferramentas estão aí, para que as mudanças aconteçam, urgentemente, e para que reinventemos a escola, desconstruindo a máquina obsoleta que a dinamiza, os conceitos sobre os quais ela se fundamenta os pilares teórico-metodológicos em que ela se sustenta.” Em busca de uma escola de qualidade, objetivando uma educação voltada para a emancipação e humanização do aluno, é fundamental que o sistema educacional prime por uma educação para todos, onde o enfoque seja dado às diferenças existentes dentro da escola. Uma tarefa nada fácil, que exige transformações acerca do sistema como um todo e mudanças significativas no olhar da escola, pensando a adaptação do contexto escolar ao aluno. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 23 Com o objetivo de construir uma proposta educacional inclusiva e responsável é fundamental que a equipe escolar tenha muito claro os princípios norteadores desta proposta que devem estar calcados no desenvolvimento da democracia. De acordo com o documento Diretrizes Nacionais para a Educação Especial (2001, p. 23) os princípios norteadores de uma educação inclusiva são: - Preservação da dignidade humana; - Busca de identidade; - Exercício de cidadania. 7. ALGUMAS DIVERSIDADES NO CONTEXTO DA ESCOLA PÚBLICA A realidade que permeia as escolas públicas apresenta desafios a serem enfrentados, ou pelo menos, a serem colocados como reflexão aos professores e a toda a comunidade escolar, preocupada com os novos rumos e um novo caminhar do processo de ensino e aprendizagem. A seguir, o presente texto apresentará as diversidades normalmente encontradas na escola e que hoje despontam como desafios para a ação docente do educador. 7.1 DIVERSIDADES RELIGIOSAS Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 24 Nelson Mandela O respeito à diversidade é um dos valores de cidadania mais importantes, sendo fundamental valorizar cada pessoa, independente de qual religião pertença, tendo consciência de que cada uma teve e tem sua contribuição ao longo da história. Assim, as diferentes expressões religiosas devem ser consideradas na escola, especialmente na escola pública. Para melhor entender este novo universo conceitual e de conteúdo, Silva (2004, p. 140) esclarece dizendo, “Ensino de religiões, estudo de diversidades, exercícios de alteridade: estes sim podem ser conteúdos trabalhados na escola pública. Da mesma forma que o professor de literatura faz referência a diversas escolas literárias; da mesma forma que o professor de História enfatiza diversos povos, assim o ensino de religiões deve enfatizar diversas expressões religiosas, considerando que as religiões fazem parte da aventura humana.“ A escola precisa valorizar os fenômenos religiosos como patrimônio cultural e histórico, buscando discutir princípios, valores, diferenças, tendo em vista a compreensão do outro. Por isso é importantíssimo que o professor trabalhe com os alunos atitudes de tolerância e respeito às diferenças desenvolvendo um trabalho com a diversidade religiosa. E ele pode estar utilizando-se das aulas de Ensino Religioso para estar fazendo este trabalho ou de quaisquer outras situações em suas áreas de conhecimento, tomando o cuidado em refletir com os alunos o maior número possível de expressões religiosas existentes na sociedade, buscando garantir o direito de livre expressão de culto,evitando se o proselitismo ou intolerância religiosa. Ao estar abordando estas questões religiosas, especialmente nas aulas de Ensino Religioso, é preciso que se tome o cuidado para não realizar catequese dentro da escola, pois a escola pública não é confessional e, portanto, não pode se reduzir a nenhum tipo específico de religião, o que pode causar crime de discriminação. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 25 Segundo a LDB 9394/96, em seu artigo 33º podemos encontrar o seguinte esclarecimento, “O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas do ensino fundamental, assegurando o respeito a diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.” (BRASIL, 1996) A liberdade religiosa é um dos direitos fundamentais da humanidade, como afirma a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) em seu art. XVIII: Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou particular.( NACÕES UNIDAS, 1948.) A própria Constituição Brasileira (1988) em seu art. 5º, inciso VI diz: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.” (BRASIL, 1998, p. 5). É preciso cuidar para que não seja realizado dentro da escola discriminação quanto as diversidades religiosas existentes mantendo equilíbrio e imparcialidade, em busca de uma educação de qualidade. É um grande desafio para a escola pública levar os alunos a reflexão sobre a diversidade de nossa cultura, marcada pela religiosidade. Segundo Heerdt, (2003, p. 34) ”É fundamental que as escolas incentivem os educandos a conhecer a sua própria religião, a ter interesse por outras formas de religiosidade, valorizando cada uma e respeitando a diversidade religiosa, sem nenhum tipo de preconceito.” FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 26 A escola pública deve trabalhar no sentido de ampliar os limites quanto aos vários tipos de culturas religiosas, desmontando os preconceitos, fazendo com que todos sejam ouvidos e respeitados, pois intolerância religiosa é desrespeito aos direitos humanos. De acordo com o Código Penal Brasileiro constitui crime (punível com multa e até detenção), zombar publicamente de alguém por motivo de crença religiosa, impedir ou perturbar cerimônia ou culto, e ofender publicamente imagens e outros objetos de culto religioso. Assim, cada cidadão precisa assumir a postura do respeito pelo ser humano, independente de religião ou crença, tendo consciência de que cada pessoa pode fazer sua opção religiosa e manifestar-se livremente de acordo com os princípios de cada cultura. Sugestões de filmes que abordam a temática: Fé; Marcelino pão e vinho; 21 gramas; Baraka; Deus é brasileiro; 7.2 DIVERSIDADES DE GÊNERO Vivemos em uma sociedade pluralista, onde o respeito à individualidade e o direito de expressão devem ser considerados. A escola pública deve ser o espaço das liberdades democráticas. Segundo Gomes (1998, p.116), “Entre preconceitos e discriminações, cabe à escola pública o importante papel de proporcionar a seus alunos um modelo de tolerância a ser aplicado na sociedade.” Ao se abordar a questão de gênero, logo vem a idéia de gênero ligada aos sexos masculino e feminino, enfatizando a questão da exclusão da mulher, sempre desprivilegiada na sociedade ao longo da história. Essa exclusão é marcada na sociedade em diversas situações, como mercado de trabalho, política etc, privilegiando o homem, e enxergando-o com capacidade de liderança, força física, virilidade, capaz de garantir o sustento da família e atender ao mercado de trabalho, FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 27 etc, em contraposição a mulher vista como reprodutora, com a responsabilidade por cuidar dos filhos, da família, das atividades domésticas, etc. Muitas transformações vêm ocorrendo nas relações de sexo na sociedade, fazendo com que essa visão sobre a mulher seja desmistificada e dando oportunidades às mulheres para dividirem os mesmos espaços profissionais e pessoais com os homens, apesar de ainda haver uma grande desproporção e divisão de poderes que favorecem mais aos homens, discriminando, por sua vez, o sexo feminino. Mas quando se trata a questão de gênero na sociedade não podemos relacionar somente ao sexo feminino ou masculino, pois atualmente abrange também outras formas culturais de construção de sexualidade humana, vistos muitas vezes com desprezo e com atitudes discriminatórias na sociedade e, mesmo, na escola, como os homossexuais, um grupo que, assim como as mulheres, sofreram e continuam sofrendo discriminações ao longo dos séculos e, tem sofrido com os estigmas, estereótipos e preconceitos. É preciso desconstruir os preconceitos e estereótipos em termos de diferença sexual, possibilitando a inclusão de todas as pessoas, sejam elas do sexo feminino ou masculino e, considerando as múltiplas formas em que estes podem se desdobrar, pois a diferença na orientação sexual e nas formas como as diferenças de gênero se estabelecem, não justificam a exclusão. É preciso enxergar o mundo presente nas relações humanas e aceitar que a diversidade baseada na igualdade e na diferença é possível. A escola precisa levar a reflexão sobre as diferenças e preconceitos de gênero, buscando sensibilizar a todos os envolvidos na educação para as situações que produzem preconceitos e resultam em desigualdades, muito presentes no cotidiano escolar, onde muitas vezes preponderam falas ou situações diversas de distinção de sexo entre os alunos. É preciso ter consciência que o enaltecimento da diferença de gênero traz aspectos negativos, desconsiderando muitas vezes o direito, a habilidade e a capacidade de cada pessoa. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 28 De acordo com Vianna e Ridenti (1998, p. 102) “O ambiente escolar pode reproduzir imagens negativas e preconceituosas, por exemplo, quando professores relacionam o rendimento de suas alunas ao bom comportamento, ou quando as tratam como esforçadas e quase nunca como potencialmente brilhantes, capazes de ousadia e lideranças. O mesmo pode ocorrer com os alunos quando estes não correspondem a um modelo masculino predeterminado.” A escola, como bem aponta o material pedagógico “Educar para a diversidade – um guia para professores sobre orientação sexual e identidadede gênero”, tem a função de contribuir para o fortalecimento da autoestima dos alunos, independente do gênero, buscando afirmar o respeito pelo outro, bem como o interesse pelos sentimentos dos outros, independente das suas diferenças, É preciso que cada um reconheça no outro: homem, mulher, homossexual, etc, pessoas com necessidades, interesses, sentimentos... e que estas possuem seu valor na sociedade e precisam ser valorizados e terem os mesmos direitos garantidos a qualquer cidadão. Sugestões de filmes que abordam a temática: Filadélfia; O segredo de Brokeback Montain; O sorriso de Monalisa; Beijando Jessica Stein; Gia - Fama e Destruição; Lost and Delirious - Assunto de meninas; Essa Estranha Atração; O talentoso ripley; Beleza americana; 7.3 DIVERSIDADES DO CAMPO A escola atende em seu cotidiano, muitos alunos advindos de diversos grupos, entre eles, possui os alunos do campo com sua cultura e seus valores que precisam ser reconhecidos e valorizados, pois são muitas as influências e contribuições trazidas por eles, FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 29 principalmente em relação ao trabalho, a história, o jeito de ser, os conhecimentos e experiências, etc. A LDB 9394/96 (1996), reconhece a diversidade do campo e as suas especificidades, estabelecendo as normas para a educação do campo em seu artigo 28. A escola precisa refletir sobre a educação para as pessoas do campo, que muitas vezes são obrigados a aceitar e desenvolver seu processo educativo dentro de um currículo totalmente urbano, que desconhece a realidade e as necessidades do campo. As pessoas que vivem no campo têm sua cultura, seus saberes de experiência, seu cotidiano, que acabam sendo esquecidos, fazendo com que percam sua identidade, supervalorizando somente o espaço urbano, quando eles têm muitos conhecimentos a serem considerados e aproveitados pela escola. Na maioria das vezes esses alunos advindos do campo precisam deixar seu habitat para irem estudar nas cidades. Seria muito importante que a educação desses alunos fosse realizada no e do campo, privilegiando a cultura ali no seu espaço, de acordo com sua realidade. Porém esses alunos são retirados do seu espaço e trazidos para os centros urbanos para que o seu processo de escolarização aconteça, o que acaba colocando em risco suas vidas em meios de transportes precários e estradas rurais ruins. O povo do campo quer ver garantido o seu direito à educação, mas que este seja assegurado ali no ambiente em que vivem, atendendo as suas especificidades. De acordo com Caldart (2002, apud DCE Educação do Campo, 2006, p. 27) “[...] o povo tem o direito de ser educado no lugar onde vive; o povo tem o direito a uma educação pensada desde o FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 30 seu lugar e com sua participação, vinculada à sua cultura e às suas necessidades humanas e sociais.” Já que este direito de ter a educação ali onde vive deixou de existir e, enquanto essa realidade permanece, é necessário que se promovam reflexões e discussões acerca da vida no campo, valorizando os alunos do campo que freqüentam a escola urbana, que não podem ser marginalizados ou discriminados por sua condição geográfica. Muitos assuntos relacionados à vida no campo podem ser abordados pelos professores em seu dia-a-dia da sala de aula como reforma agrária, MST, desenvolvimento sustentável, cultura, produção agrícola, entre outros, primando por fazer com que estes alunos sintam-se valorizados dentro da escola e que tenham sua cultura, forma e estilo de vida valorizada. Segundo Caldart (2005, apud DCE Educação do Campo, 2006) “[...] A escola precisa cumprir sua vocação universal de ajudar no processo de humanização, com as tarefas específicas que pode assumir nesta perspectiva.” Ao mesmo tempo, é chamada a estar atenta às particularidades dos processos sociais do seu tempo histórico e ajudar na formação das novas gerações trabalhadoras e de militantes sociais. Os alunos advindos do campo precisam se sentir parte do processo e terem o seu valor reconhecido pela sociedade, a começar pela escola, que trabalha no sentido de desenvolver a humanização e a emancipação dos cidadãos. Sugestão de filme que aborda a temática: Não há terra sem dono. 7.4 ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 31 Aos alunos com necessidades educacionais especiais devem ser garantidos os mesmos direitos e as mesmas oportunidades dos alunos ditos “normais”, pois a escola é o espaço de formação para todos. Segundo Carvalho (2000, p. 106) “Enquanto espaço de formação, diz respeito ao desenvolvimento, nos educandos, de sua capacidade crítica e reflexiva, do sentimento de solidariedade e de respeito às diferenças, dentre outros valores democráticos.” O movimento pela inclusão oportuniza o direito de todos os alunos de estarem juntos aprendendo, tendo suas especificidades atendidas. Assim, a Lei abre espaço também aos alunos com necessidades educacionais especiais a serem atendidos em escolas especiais ou escolas regulares, de acordo com suas especificidades. A Constituição Federal de 1988 define, em seu artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No artigo 206, inciso 1, estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola”, como um dos princípios para o ensino e, garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional, preferencialmente na rede regular do ensino (art. 208). A atual LDB 9394/96 (1996) também assegura aos alunos com necessidades educacionais especiais o atendimento, em seu artigo 4, inciso 3 “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino.” A escola é a responsável em oportunizar aos alunos o acesso aos conhecimentos historicamente produzidos, principalmente a escola pública regular, considerada o local preferencial para a escolarização formal dos alunos com necessidades especiais, tendo como forma de complementação curricular os apoios e serviços especializados. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 32 É chegada a hora de a escola oferecer oportunidades a todos os alunos indiscriminadamente, como um direito essencial na vida de cada cidadão, inclusive os com necessidades especiais. Assim, a escola regular precisa se preocupar em refletir com seus alunos o conceito de diferença e de especial, salientando que não são somente os alunos com necessidades especiais que são diferentes e especiais, mas todos nós e que, as mesmas oportunidades devem ser dadas a todos, para que possam obtersucesso em sua vida escolar e pessoal e assim, exercer a cidadania. Há a necessidade de criar dentro da escola espaços para diálogos, trocas de idéias e experiências, a fim de reconhecer os alunos considerados como especiais e valorizá-los dentro do ensino regular, visando remover barreiras frente à diferença e reconhecer que cada aluno possui as suas potencialidades e, a eles, devem ser oportunizadas, condições de acesso, permanência e sucesso na escola regular. Carvalho (2006) afirma que é necessário desmontar o mito de que os professores do ensino regular não estão preparados para trabalhar com esses alunos e que não são alunos do ensino regular e sim da educação especial, onde terão os chamados especialistas para atendê-los. A escola, enquanto instituição aberta a todos, precisa superar o sentimento de rejeição que os alunos com necessidades especiais enfrentam e, lutar para que tenham as mesmas oportunidades que são oferecidas aos outros alunos assegurando-lhes o desenvolvimento da aprendizagem. Assim é preciso algumas modificações no sistema e na escola como: - no currículo e nas adaptações curriculares; - na avaliação contínua do trabalho; - na intervenção psicopedagógica; - em recursos materiais; - numa nova concepção de especial em educação, etc. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 33 Sugestões de filmes que abordam a temática: Rain Man; Tomy; O milagre de Anne Sullivan; O Guardião de memórias; Uma lição de amor; Meu nome é rádio; Meu namorado Pupkim; Uma mente brilhante; Óleo de Lorenzo; Hellen Keller; O despertar para a vida; Sempre amigos; Simples como amar; Meu pé esquerdo. 7.5 DIVERSIDADE ETNICO-RACIAL E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA O que nos faz semelhantes ou mais humanos são as diferenças. Nilma Lino Gomes Somos uma sociedade sem preconceitos? Há igualdade de direitos entre negros e brancos em nossa sociedade? Presenciamos situações de preconceito em nosso dia-a-dia, evidenciadas em frases como estas: “pessoa de cor “, “a coisa tá preta”, “olha o cabelo dela”, “olha a cor do fulano”, “tem o pezinho na senzala”, “serviço de preto”, etc? A escola é responsável por trabalhar no sentido de promover a inclusão e a cidadania de todos os alunos, visando a eliminar todo tipo de injustiça e discriminação, enxergando os seres humanos dotados de capacidades e valorizando-os como pessoas, principalmente dos afro- descendentes, marcados por um histórico triste na educação e na sociedade brasileira de discriminação, racismo e preconceito. A escola tem o importante papel de transformação da humanidade e precisa desenvolver seu trabalho de forma democrática, comprometendo-se com o ser humano em sua totalidade e respeitando-o em suas diferenças. De acordo com Ribeiro (2004, p.7) “[...] a educação é essencial no processo de formação de qualquer sociedade e abre caminhos para a ampliação da cidadania de um povo.” FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 34 Os afro-descendentes devem ser reconhecidos em nossa sociedade com as mesmas igualdades de oportunidades que são concedidas a outras etnias e grupos sociais, buscando eliminar todas as formas de desigualdades raciais e resgatar a contribuição dos negros na formação da sociedade brasileira e, assim, valorizar a história e cultura dos afro-brasileiros e africanos. Segundo as DCN para a Educação das Relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2003, p. 5) ”Reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis, culturais e econômicos, bem como valorização da diversidade daquilo que distingue os negros dos outros grupos que compõem a população brasileira. E isto requer mudança nos discursos, raciocínios, lógicas, gestos, posturas, modo de tratar as pessoas negras. Requer também que se conheça a sua história e cultura apresentadas, explicadas, buscando-se especificamente desconstruir o mito da democracia racial na sociedade brasileira; mito este que difunde crença de que, se os negros não atingem os mesmos patamares que os não negros, é por falta de competência ou interesse, desconsiderando as desigualdades seculares que a estrutura social hierárquica cria com prejuízos para o negro.” Para que haja realmente a construção de um país democrático, faz-se necessário que todos tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada, a começar pela escola que, infelizmente, continua desenvolvendo práticas preconceituosas detectadas no currículo, no material didático, nas relações entre os alunos, nas relações entre alunos, e não poucas vezes até professores. Segundo Pinto (1993, apud Rosemberg, 1998, p. 84) “[...]“ao que tudo indica, a escola, que poderia e deveria contribuir para modificar as mentalidades antidiscriminatórias ou pelo menos para inibir as ações discriminatórias, acaba contribuindo para a perpetuação das discriminações, seja por atuação direta de seus agentes, seja por sua FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 35 omissão perante os conteúdos didáticos que veicula, ou pelo que ocorre no dia-a-dia da sal de aula.” Corroborando o que diz Pinto, Silva (2002, p. 140) afirma que: “Os dados mostram claramente que o sistema educacional brasileiro é seletivo e discriminatório, porque seleciona em especial os pobres, os negros, os mulatos os nordestinos.” “[...] Assim sendo, a marginalização cultural e o racismo estão entre as principais razões que explicam as grandes taxas de evasão e repetência na escola básica.” A educação é o fato de maior eficácia para contribuir para a promoção dos excluídos. Por isso, muitas ações têm sido desencadeadas no sentido de reconhecimento e valorização do negro, garantindo a eles as mesmas condições, numa constante luta contra o racismo e o preconceito. Luta esta que deve ser de todos, todos que acreditam num país democrático, justo e igualitário. Atualmente, a escola e a sociedade têm se preocupado com a criação de representações positivas sobre o negro, possibilitando uma inserção social do negro em alguns setores da sociedade, mudando aos poucos a situação do negro. Um exemplo real e recente disso é a Presidência dos Estados Unidos, sendo conquistada por um negro: Barako Obama. O próprio estabelecimento da Lei nº 10.639/03 que altera a LDB 9394/96 já retrata a preocupação na reflexão acerca do preconceito e da discriminação, buscando democratizar e universalizar o ensino, garantindo a todos os alunos o reconhecimento e valorização de sua cultura, de sua história, de sua identidade, e, assim, combater o racismo e as discriminações, educando cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial tendo seus direitos garantidos e sua identidade valorizada. Sugestões de filmes que abordam a temática: Mentes que brilham; Hotel Ruanda; Encontrando Forrester; Quanto vale ou é por quilo: Escritores da Liberdade; Carandiru; A cor púrpura; Separados mas iguais; Homens de Honra; Amistad; FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOSNÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 36 7.6 DIVERSIDADE SÓCIO-ECONÔMICA E CULTURAL A escola pública possui em sua grande maioria alunos provenientes de uma classe sócio- econômica cultural desfavorecida, de famílias que possuem uma condição de vida desfavorável e que, na maioria, possuem dificuldades de aprendizagem. São alunos filhos da classe trabalhadora, cujo pais permanecem a maior parte do dia fora de casa trabalhando como empregados em indústrias, lojas, casas de família, em trabalhos sazonais como bóias-frias na zona rural, cortadores de cana, pedreiros, garis, empregadas domésticas, etc. Muitos pais encontram-se até desempregados, realizando um “bico” aqui ou ali. Esses compõem a maioria dos alunos que a escola pública atende e que precisa dar conta, oportunizando condições de aprendizagem, num processo de qualidade. Eles são alunos que estão à margem da sociedade, e que muitas vezes passam por diversas circunstâncias perversas, como a fome, situações de violência, problemas com alcoolismo e drogas, situações de abandono, entre outros. Esses são os verdadeiros excluídos da sociedade que estão na escola clamando por ajuda. E as condições socioeconômicas e culturais é um dos fatores que podem interferir, e muito, no desempenho escolar dos alunos. O desafio da escola é este: possibilitar a essa grande maioria o acesso à escola, mas garantindo- lhes permanecer e ter sucesso no processo de ensino e aprendizagem, pois o acesso ao conhecimento historicamente elaborado é que poderá dar a esses alunos, muitas vezes excluídos do sistema e da sociedade, condições para transformar suas vidas e possibilitar uma maior inserção na comunidade, podendo atuar como cidadãos, capazes de transformá-la. O sistema, a escola, os professores, precisam reconhecer nesses alunos os seres humanos que ali estão e clamam por uma oportunidade, que sonham com uma perspectiva de vida melhor e FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 37 que querem ter seus direitos de cidadãos garantidos. É preciso destruir o histórico de exclusão e desigualdade do sistema escolar público, reconhecendo em cada aluno suas potencialidades. A escola precisa se preocupar em oferecer um ensino público de maior qualidade, que possa compensar, pelo menos parcialmente, as dificuldades de aprendizagem. É preciso que se fique claro que as crianças que vivem em ambientes desfavoráveis também podem ter um nível de aprendizagem satisfatória. Cabe à escola oportunizar essas condições, oferecendo o apoio necessário aos alunos em condições socioeconômicas e culturais desfavoráveis, ajudando-os a superar as dificuldades e carências do contexto onde vivem, procurando destruir o histórico de exclusão e desigualdade do sistema escolar público. Sugestões de filmes que abordam a temática: Orgulho e preconceito; Diário de uma paixão; Hoje e amanhã; 7.7 DIVERSIDADE INDÍGENA Uma outra diversidade verificada no interior da escola pública, que vem sendo muito valorizada atualmente é com relação à educação escolar indígena. Os indígenas também clamam por processos educacionais que lhes permitam o acesso aos conhecimentos universais, mas que valorize também suas línguas e saberes tradicionais. A Constituição de 1988 reconheceu o direito dos índios (autóctones) de permanecerem índios e de terem suas tradições e modos de vida respeitados. Em seu art. 210 fica assegurado aos povos indígenas o direito de utilizarem suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem buscando transformar a instituição escolar em um instrumento de valorização e FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 38 sistematização de saberes e práticas tradicionais, ao mesmo tempo em que possibilita aos índios o acesso aos conhecimentos universais e a valorização dos conhecimentos étnicos. A partir da Constituição de 1988 e mais fortemente na LBB 9394/96 os indígenas passaram a ser reconhecidos legalmente em suas diferenças e peculiaridades. A LDB 9394/96 (1996) estabelece em seu artigo 78, que aos índios devem ser proporcionadas a recuperação de suas memórias históricas, a reafirmação de suas identidades étnicas e a valorização de suas línguas e ciências. Aos índios, suas comunidades e povos devem ser garantidos o acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e das demais sociedades indígenas e não-índias. O Plano Nacional de Educação (2001) estabelece objetivos e metas para o desenvolvimento da educação escolar indígena diferenciada, intercultural, bilíngüe e de qualidade. Muitas ações em relação à educação escolar dos indígenas já foram realizadas, porém ainda se percebe um quadro desigual, fragmentado e pouco estruturado de oferta e atendimento educacional aos índios. A diversidade dos povos indígenas precisa ser considerada de fato, exigindo iniciativas diferenciadas por serem portadores de tradições culturais específicas. A escolarização dos indígenas precisa acontecer a partir do paradigma da especificidade, da diferença, da interculturalidade e da valorização da diversidade linguística desenvolvendo assim, ações culturais, históricas e linguísticas. Os indígenas precisam ser respeitados e incluídos nos sistemas de ensino do país, tendo a sua diversidade étnica valorizada e que entre os indígenas e não indígenas haja um diálogo tolerante e verdadeiro. A proposta é por uma educação escolar indígena diferenciada, que possibilite a inclusão deste grupo no sistema educacional, tendo respeitadas as suas peculiaridades. Por isto, muitos investimentos têm sido realizados com relação a educação escolar dos FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 39 indígenas, principalmente em relação aos professores, capacitando professores indígenas que conhecem a realidade, a história e a cultura do seu grupo ao longo de todo o processo histórico brasileiro. A questão da educação escolar indígena é uma grande evolução e conquista. Muitas reflexões e muitas ações ainda precisam ser desencadeadas com o objetivo de valorização e preservação da cultura indígena, propiciando o reconhecimento dos indígenas como sujeitos da história e que a eles devem ser garantidos o acesso aos direitos de qualquer cidadão. Sugestões de filmes que abordam a temática: Pocahontas; Dança com os lobos; Pirinop – meu primeiro contato; Dança da ema; A semente da vingança; Estratégia Xavante; A paixão de Maria Helena, Ana Terra. CONSIDERAÇÕES FINAIS A lei preconiza a universalização da educação para todos, garantindo o direito ao acesso, a permanência e ao sucesso dos alunos. No entanto, a realidade educacional contemporânea coloca a escola pública como o palco da diversidade, pois ali se encontram alunos de diferentes grupos. A diferença entre os grupos é visível e o trabalho pedagógico precisa voltar-se à diferença, oportunizando o direito deeducação para todos. Vale destacar que o trabalho com a diversidade está ligado à proposta de inclusão, que emerge como um grande desafio para a educação, pois, pensar em inclusão pressupõe uma série de fatores, principalmente os que dizem respeito aos alunos. Assim, pensar em inclusão, não é só dirigir o olhar para os alunos com necessidades especiais, mas sim, para todos aqueles alunos que estão nas salas de aula, que muitas vezes sofrendo preconceitos e discriminações por FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 40 pertencer a este ou aquele grupo. Trabalhar com uma proposta de diversidade, propiciando oportunidades de inclusão a todos os alunos na escola, não é uma tarefa fácil, uma vez que não se resume apenas na garantia do direito de acesso. É preciso que lhes sejam garantidas as condições de permanência e sucesso na escola. Para que o processo de inclusão ocorra satisfatoriamente é preciso que haja investimento em educação, senão é um projeto fadado ao insucesso, pois a escola precisa oferecer estrutura adequada para que ele ocorra. A dura realidade das condições de trabalho e os limites da formação profissional, o número elevado de alunos por turma, a rede física inadequada, o despreparo para ensinar "alunos especiais" ou diferentes são fatores a ser considerados no processo de inclusão que garanta a participação de todos os alunos e o sucesso, evitando-se assim o alto número de alunos evadidos e até os retidos no ano letivo. É de extrema relevância que a escola, especialmente a pública, reconheça as diferenças, valorizando as especificidades e potencialidades de cada um, reconhecendo a importância do ser humano, lutando contra os estereótipos, as atitudes de preconceito e discriminação em relação aos que são considerados diferentes dentro da escola. É preciso que todos tenham clareza de que sempre vai haver diferenças, mas é possível minimizá-las, desde que haja interesse em propiciar uma educação de qualidade a todos. Portanto é preciso haver uma transformação da realidade com o objetivo de diminuir a exclusão dos alunos, especiais ou não do sistema educacional. É necessário que se proponha ações e medidas que visem assegurar os direitos conquistados, a melhoria da qualidade da educação, o investimento em uma ampla formação dos educadores, a remoção de barreiras físicas e atitudinais, a previsão e provisão de recursos materiais e humanos entre outras possibilidades Como diz Mantoan (2008, p. 20) FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 41 “O essencial, na nossa opinião, é que todos os investimentos atuais e futuros da educação brasileira não repitam o passado e reconheçam e valorizam as diferenças na escola. Temos de ter sempre presente que o nosso problema se concentra em tudo o que torna nossas escolas injustas, discriminadoras e excludentes, e que, sem solucioná-lo, não conseguiremos o nível de qualidade de ensino escolar, que é exigido para se ter uma escola mais que especial, onde os alunos tenham o direito de ser (alunos), sendo diferentes.” Precisamos ser otimistas e transformar em realidade o sonho de uma educação para todos, nos convencendo das potencialidades e capacidades dos seres humanos, acreditando que, somando nossas diferenças, poderemos provocar mudanças significativas na educação e na sociedade, diminuindo preconceitos e estereótipos e tornando nosso país mais humano, fraterno, justo e solidário. REFERÊNCIAS: AMARAL, Lígia Assumpção. Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos e sua superação. In: AQUINO , Julio Groppa (org.): Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. 4. ed. São Paulo: Summus Editorial, 1998. p. 11 a 30. ARAÚJO, Ulisses Ferreira de. O déficit cognitivo e a realidade brasileira. In:AQUINO, Julio Groppa (org.): Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. 4. ed. São Paulo: Summus Editorial, 1998. p. 44. BRASIL, Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro- FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 42 Brasileira e Africana. Brasília: MEC/CNE, 2004. ______. Conselho Nacional de Educação. Lei nº 10.639/03. Brasília. MEC/CNE. 2003. ______. Conselho Nacional de Educação. Parecer nº 017/2001. Brasília. MEC/CNE 2001. ______. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988. ______. 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FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 45 VIANNA, Cláudia. RIDENTI. Sandra, Relações de Gênero e Escola: das diferenças ao preconceito. In: AQUINO, Julio Groppa (org.): Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. 4. ed. São Paulo: Summus Editorial, 1998. p. 102. ABRAMOWICZ, A.; RODRIGUES, T.C.; CRUZ, A.C.J. A diferença e a diversidade na educação. Contemporânea, São Carlos, n. 2, p. 85-97, ago.-dez. 2011. Módulo III e IV 1. Desigualdades e diversidade na educação A diversidade, entendida como construção histórica, social, cultural e política das diferenças, realiza-se em meio às relações de poder e ao crescimento das desigualdades e da crise econômica que se acentuam no contexto nacional e internacional. Não se pode negar, nesse debate, os efeitos da desigualdade socioeconômica sobre toda a sociedade e, em especial, sobre os coletivos sociais considerados diversos. Portanto, a análise sobre a trama desigualdades e diversidade deverá ser realizada levando em consideração a sua inter-relação com alguns fatores, tais como: os desafios da articulação entre políticas de igualdade e políticas de identidade ou de reconhecimento da diferença no contexto nacional e internacional, a necessária reinvenção do Estado rumo à emancipação social, o acirramento da pobreza e a desigual distribuição de renda da população, os atuais avanços e desafios dos setores populares e dos movimentos sociais em relação ao acesso à educação, à moradia, ao trabalho, à saúde e aos bens culturais, bem como os impactos da relação entre igualdade, desigualdades e diversidade nas políticas públicas. No Brasil, diferentes alternativas e proposições econômicas, políticas e teóricas têm sido desencadeadas na tentativa de apontar caminhos para essa situação. Desde o processo de reabertura política a partir dos anos de 1980 aos dias atuais, vem se configurando um novo foco FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 46 de interpretações a respeito de como equacionar a oferta da educação pública no contexto das desigualdades socioeconômicas e da diversidade. A postura central dos movimentos sociais, dos profissionais da educação e daqueles comprometidos com uma sociedade democrática e com a educação pública, gratuita e laica tem sido reafirmar o princípio constitucional contido no artigo 205 da Constituição Federal de 1988, ou seja, "a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho". Portanto, não se educa "para alguma coisa", educa-se porque a educação é um direito e, como tal, deve ser garantido de forma igualitária, equânime e justa. O objetivo da educação e das suas políticas não é formar gerações para o mercado, para o vestibular ou, tampouco, atingir os índices internacionais de alfabetização e matematização. O foco central são os sujeitos sociais, entendidos como cidadãos e sujeitos de direitos. Essa interpretação tem sido adensada do ponto de vista político e epistemológico pelos movimentos sociais ao enfatizarem que os sujeitos de direitos são também diversos em raça, etnia, credo, gênero, orientação sexual e idade, entre outros. Enfatizam, também, que essa diversidade tem sido tratada de forma desigual e discriminatória ao longo dos séculos e ainda não foi devidamente equacionada pelas políticas de Estado, pelas escolas e seus currículos. Dessa forma, devido às pressões sociais, o entendimento da diversidade como construção social constituinte dos processos históricos, culturais, políticos, econômicos e educacionais e não mais vista como um "problema" começa a ter mais espaço na sociedade, nos fóruns políticos, nas teorias sociais e educacionais. São também os movimentos sociais, principalmente os de caráter identitário (indígenas, negros, quilombolas, feministas, LGBT, povos do campo, pessoas com deficiência, povos e comunidades tradicionais, entre outros), que, a partir dos anos de 1980, no Brasil, contribuem para a entrada do olhar afirmativo da diversidade na cena social. Eles reivindicam que a educação considere, nos seus níveis, etapas e modalidades, a relação entre desigualdades e diversidade. Indagam o caráter perverso do capitalismo de acirrar não só as desigualdades no plano econômico, mas FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 47 também de tratar de forma desigual e inferiorizante os coletivos sociais considerados diversos no decorrer da história. A imbricação entre desigualdades e diversidade tem sofrido interpretações as mais diversas no contexto das relações de poder, nas quais se inserem as lutas sociais. São interpretações advindas tanto das políticas neoliberais que se acirraram no Brasil, nos países latino-americanos e em outros contextos do mundo a partir dos anos de 1990, quanto das lutas por identidade e reconhecimento desenvolvidas pelos próprios movimentos sociais, ações coletivas, organizações de caráter emancipatório e novos sujeitos sociais no mesmo período. No terceiro milênio é possível dizer que estamos diante de uma mudança política e epistemológica, no que diz respeito ao entendimento sobre a imbricação entre desigualdades e diversidade que vai além do campo educacional. Trata-se de uma inflexão em nível nacional e internacional provocada por vários fatores, tais como: os questionamentos à globalização capitalista, a construção de uma rede internacional contra-hegemônica, os conflitos étnicose religiosos na América Latina, Europa e Ásia, a formação e o fortalecimento das redes sociais e das novas mídias com foco na emancipação social, as lutas nacionais e transnacionais pelo direito à terra e ao território. Esses fatores se tornam mais incisivos quanto mais se intensificam, nacional e internacionalmente, fenômenos como: neocolonialismo, racismo, xenofobia, sexíssimo, homofobia e violência religiosa. A pressão histórica dos movimentos sociais, somada a um perfil mais progressista de setores do Estado brasileiro nos últimos dez anos, trouxe mudanças no trato da diversidade no contexto das políticas públicas de caráter universal, desencadeando, inclusive, a implementação de políticas de ações afirmativas. Contudo, um dos limites que ainda persiste está no fato de que a maioria dessas ações ainda se limita às políticas de governo. Falta o seu enraizamento como políticas de Estado. Mesmo assim, é possível afirmar que, nos últimos anos, no Brasil e na América Latina, com avanços e limites, algumas dimensões da diversidade pleiteadas historicamente pelos movimentos sociais e demais setores organizados da sociedade começam a fazer parte da pauta da agenda das políticas públicas. Transformam-se em temas de debate e de disputa na arena FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 48 política e na própria produção intelectual. É nesse contexto que a discussão sobre a justiça social passa a ocupar mais espaço na produção teórica, na análise e na implementação das políticas públicas, entre elas, as educacionais. O conjunto de artigos apresentados neste número temático analisa, problematiza e indaga a complexa relação entre desigualdades e diversidade na educação. A partir de diferentes abordagens e perspectivas educacionais, históricas, sociológicas, antropológicas e políticas, os autores e as autoras analisam essa desafiadora imbricação no contexto nacional e internacional. O primeiro artigo, de Elsie Rockwell, Movimientos sociales emergentes y nuevas maneras de educar, discute a força dos movimentos sociais contemporâneos ao trazer para a sociedade indagações e questões sobre a relação desigualdade social e diversidade cultural e social gerada pelas recentes mudanças na economia e por projetos alternativos de vida e de formação. A autora destaca que, ao longo da história da classe trabalhadora, a formação de um "homem novo" tem sido um tema recorrente. Porém, a atual economia capitalista global tem gerado uma classe trabalhadora cada vez mais fragmentada e despossuída. Essa situação leva a uma reorganização social e se formam novos sujeitos sociais que retomam os recursos e as práticas culturais disponíveis, a fim de fortalecer os movimentos sociais emergentes. Conclui-se que o reconhecimento destes movimentos sociais e dos processos de formação tem transformado o pensamento iluminista, produzindo outras formas de pensar e atuar nos processos educativos. Vera Maria Ferrão Candau, no seu artigo Direito à educação, diversidade e educação em direitos humanos, discute que os direitos humanos estão no centro da problemática das sociedades contemporâneas. Tendo por referência a tensão entre igualdade e diferença na concepção e prática dos direitos humanos, a autora analisa as especificidades, articulações e entrelaçamentos entre o direito à educação e a educação em direitos humanos, sendo esta última considerada atualmente como um componente fundamental do direito à educação. Esse contexto traz desafios aos processos educativos e à formação de sujeitos de direitos que considere suas especificidades e, ao mesmo tempo, fortaleça os processos democráticos, em que redistribuição e reconhecimento se articulem. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 49 O artigo Movimento negro e educação: ressignificando e politizando a raça, de Nilma Lino Gomes, discute o papel do movimento negro brasileiro na ressignificação e politização da ideia de raça. A raça é entendida como construção social que marca, de forma estrutural e estruturante, as sociedades latino-americanas, em especial, a brasileira. Parte-se da premissa de que este movimento social, por meio de suas ações políticas, sobretudo em prol da educação, reeduca a si próprio, o Estado, a sociedade e o campo educacional sobre as relações étnico- raciais no Brasil, caminhando rumo à emancipação social. A ideia de raça analisada pela autora se assenta, ainda, na reflexão realizada pelos estudos pós-coloniais, que discutem a sua centralidade nos países com passado colonial e a sua operacionalidade nas relações de poder, as quais têm sido mantidas e subsistem no pensamento moderno ocidental, inclusive no educacional. Maria Antônia de Souza, no artigo Educação do campo, desigualdades sociais e educacionais, caracteriza a gênese da prática e concepção da educação do campo, atentando para a concentração da terra e da propriedade como elementos estruturais geradores de desigualdade social. Destaca as principais conquistas efetivadas de 1990 até 2012 no âmbito da educação do campo e pontua conflitos judiciais em torno do direito à educação superior entre os povos do campo. Parte-se do pressuposto central de que esta educação é fruto de experiência coletiva construída pelos movimentos e organizações de trabalhadores do campo. No artigo Roteiro para uma história da educação escolar indígena: notas sobre a relação entre política indigenista e educacional, Luiz Antônio de Oliveira e Rita Gomes do Nascimento apresentam um roteiro para a história das políticas educacionais voltadas para os povos indígenas, a partir da consideração das suas relações com as políticas indigenistas. Destacam que a articulação entre os campos indigenista e da educação sugere pensar como as questões das diferenças culturais dos povos indígenas orientaram diferentes projetos de educação escolar indígena. Os autores partem do período "assimilacionista" e "civilizatório" do início do século XX, marcado pela ideia de uma necessária unidade da nação, passando pelas reformas desta política, em que é reconhecida a importância do ensino bilíngue nos processos de escolarização, até o momento atual, caracterizado pela busca do reconhecimento da diversidade FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 50 cultural como direito fundamental, trazendo novos desafios para as políticas educacionais. Choukri Ben Ayed, no artigo As desigualdades socioespaciais de acesso aos saberes: uma perspectiva de renovação da sociologia das desigualdades escolares, analisa o avanço dos conhecimentos sobre as desigualdades sócio espaciais de acesso aos saberes na França. Segundo o autor, embora este objeto envolva muitas questões societais, as pesquisas empíricas a ele consagradas continuam embrionárias. Na sua argumentação, Ben Ayed insiste tanto no que está em jogo, metodologicamente, no estudo das variações do aprendizado escolar em função dos contextos de escolarização, quanto na necessidade de não dissociar, nas análises, o impacto dos fatores sociais e espaciais. Reconhece que, hoje, um dos desafios da renovação das abordagensna sociologia da educação consiste em levar em conta uma combinação desses dois fatores. O artigo Novos olhares para as desigualdades de oportunidades educacionais: a segregação residencial e a relação favela-asfalto no contexto carioca, de Mariane Campelo Koslinski e Fatima Alves, discute a tradição de estudos quantitativos que tiveram origem no Relatório Coleman (1966) e seus desdobramentos nos estudos de efeito escola e, posteriormente, de efeito vizinhança. As autoras focam a sua análise nos limites e possibilidades trazidos pela literatura de efeito vizinhança e da geografia de oportunidades para a compreensão de mecanismos mediadores entre a segregação residencial e resultados escolares. Discutem estudos que partiram desse arcabouço teórico e metodológico, focalizando o contexto brasileiro. Ao final, apresentam os próximos desafios para se avançar na compreensão da organização social do território e as desigualdades educacionais nesse contexto. Mônica Carvalho Magalhães Kassar, no artigo Educação especial no Brasil: desigualdades e desafios no reconhecimento da diversidade, argumenta que abordar a educação especial no Brasil implica considerar a política educacional proposta nos últimos anos pelo governo federal e, especialmente, a presença nas escolas de diversas populações que constituem o país de formas historicamente desiguais. A partir dessas considerações, a autora analisa as mudanças registradas na educação das populações marginalizadas no processo escolar, especialmente de pessoas com deficiências, e reflete sobre os limites ainda presentes na educação brasileira, FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 51 incluindo as complexas relações que envolvem os lugares da diferença nas proposições legais e nas práticas escolares. No artigo Subjetividade docente, inclusão e gênero, Maura Corcini Lopes e Maria Cláudia Dal'Igna discutem de que modos o gênero opera como elemento organizador das subjetividades docentes e do desempenho escolar em tempos de inclusão e de governamentalidade neoliberal. Governamentalidade, subjetividade e gênero são as ferramentas teórico-metodológicas adotadas pelas autoras para examinar de que formas algumas práticas de governamento estão implicadas na produção de diferenças de gênero, no que se refere ao desempenho escolar, e na constituição das subjetividades docentes inclusivas. Duas pesquisas fornecem subsídios para sustentar a argumentação das autoras: uma que objetiva conhecer como docentes são subjetivados pelas práticas de inclusão; outra que investiga como o gênero atravessa e constitui a prática docente. Néstor López, em Adolescentes en las aulas: la irrupción de la diferencia y el fin de la expansión educativa, inicia o seu artigo com uma revisão das recentes tendências de escolarização dos adolescentes na América Latina, enfatizando em que medida a expansão da escolarização desde o início dos anos de 1990 se traduziu em uma significativa redução das desigualdades de acesso à educação e, ao mesmo tempo, como a desaceleração do processo de escolarização vivido nos últimos anos reinstala o desafio das desigualdades como elemento central da agenda educativa. Em seguida, o autor levanta algumas hipóteses em torno das causas dessa desaceleração visível nos processos de universalização do acesso à escola, enfatizando aquelas que centram a sua atenção nas desigualdades resultantes da impossibilidade dos sistemas educativos operarem em contextos de crescente diversidade cultural e identitária, evidenciando a persistência de múltiplos mecanismos cotidianos e naturalizados de discriminação nas práticas das instituições escolares. O artigo Há algo novo a se dizer sobre as relações raciais no Brasil contemporâneo?, de Valter Roberto Silvério e Cristina Teodoro Trinidad, discute o contexto da aprovação da Lei n. 10.639/2003 e suas diretrizes, alterando a Lei de Diretrizes e Base da Educação Brasileira (LDB), que pressupõem um conjunto de mudanças substantivas que passam a alterar a política pública FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 52 educacional no país. Segundo os autores, a obrigatoriedade da educação das relações étnico- raciais e do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana em toda a educação básica é resultado do reconhecimento da discriminação racial e do racismo, como constitutivos de nossa formação social, e permite desvendar as contribuições das culturas africanas na constituição de nossa brasilidade para além do trabalho escravo. A identidade negra, produto político do apagamento da multiplicidade cultural de povos que aportaram no país, passa a dar lugar ao prefixo "afro" como possibilidade de novas identificações e recriações dos brasileiros descendentes de africanos. Para adensar ainda mais a rica discussão aqui realizada, apresentamos a entrevista com Boaventura de Sousa Santos, concedida à Júlia F. Benzaquen, sobre A Universidade Popular dos Movimentos Sociais, seguida da resenha do livro de Miguel G. Arroyo, Currículo, território em disputa, escrita por André Marcio Picanço Favacho. Entrevista e resenha abordam as principais reflexões de dois brilhantes intelectuais sintonizados com a dinâmica do nosso tempo e sempre alertas aos desafios trazidos pela relação entre desigualdades e diversidade no campo educacional e na sociedade como um todo. Cabe ressaltar, ainda, que a temática da diversidade já esteve presente entre as edições da revista Educação & Sociedade no dossiê "Diferenças", dez anos atrás. De lá para cá, a construção das diferenças se complexificou e passou a tencionar ainda mais as práticas educativas, o Estado e suas políticas, por meio da ação dos sujeitos sociais. Esse contexto trouxe novos entendimentos sobre o tema, outras perspectivas de análise e tem produzido um instigante debate teórico e político. Um dos desafios colocados é a compreensão das diferenças como constituintes do complexo processo da diversidade e a sua imbricação com as desigualdades. 2. SOBRE IDENTIDADE E DIFERENÇAS NA ESCOLA A inclusão rompe com os paradigmas que sustentam o conservadorismo das escolas, contestando os sistemas educacionais em seus fundamentos. Ela questiona a fixação de modelos ideais, a normalização de perfis específicos de alunos e a seleção dos eleitos para FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 53 frequentar as escolas, produzindo, com isso, identidades e diferenças, inserção e/ou exclusão. O poder institucional que preside a produção das identidades e das diferenças define como normais e especiais não apenas os alunos, como também as suas escolas. Os alunos das escolas comuns são normais e positivamente valorados. Os alunos das escolas especiais são os negativamente concebidos e diferenciados. Os sistemas educacionais constituídos a partir da oposição - alunos normais e alunos especiais - sentem-se abalados com a proposta inclusiva de educação, pois não só criaram espaços educacionais distintos para seus alunos, a partir de uma identidade específica, como também esses espaços estão organizados pedagogicamentepara manter tal separação, definindo as atribuições de seus professores, currículos, programas, avaliações e promoções dos que fazem parte de cada um desses espaços. Os que têm o poder de dividir são os que classificam, formam conjuntos, escolhem os atributos que definem os alunos e demarcam os espaços, decidem quem fica e quem sai destes, quem é incluído ou excluído dos agrupamentos escolares. Ambientes escolares inclusivos são fundamentados em uma concepção de identidade e diferenças, em que as relações entre ambas não se ordenam em torno de oposições binárias (normal/especial, branco/negro, masculino/feminino, pobre/rico). Neles não se elege uma identidade como norma privilegiada em relação às demais. Em ambientes escolares excludentes, a identidade normal é tida sempre como natural, generalizada e positiva em relação às demais, e sua definição provém do processo pelo qual o poder se manifesta na escola, elegendo uma identidade específica através da qual as outras identidades são avaliadas e hierarquizadas. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 54 Esse poder que define a identidade normal, detido por professores e gestores mais próximos ou mais distantes das escolas, perde a sua força diante dos princípios educacionais inclusivos, nos quais a identidade não é entendida como natural, estável, permanente, acabada, homogênea, generalizada, universal. Na perspectiva da inclusão escolar, as identidades são transitórias, instáveis, inacabadas e, portanto, os alunos não são categorizáveis, não podem ser reunidos e fixados em categorias, grupos, conjuntos, que se definem por certas características arbitrariamente escolhidas. É incorreto, portanto, atribuir a certos alunos identidades que os mantêm nos grupos de excluídos, ou seja, nos grupos dos alunos especiais, com necessidades educacionais especiais, portadores de deficiências, com problemas de aprendizagem e outros tais. É incabível fixar no outro uma identidade normal, que não só justifica a exclusão dos demais, como - igualmente determina alguns privilegiados. A educação inclusiva questiona a artificialidade das identidades normais e entende as diferenças como resultantes da multiplicidade, e não da diversidade, como comumente se proclama. Trata- se de uma educação que garante o direito à diferença e não à diversidade, pois assegurar o direito à diversidade é continuar na mesma, ou seja, é seguir reafirmando o idêntico. A diferença (vem) do múltiplo e não do diverso. Tal como ocorre na aritmética, o múltiplo é sempre um processo, uma operação, uma ação. A diversidade é estática, é um estado, é estéril. A multiplicidade é ativa, é fluxo, é produtiva. A multiplicidade é uma máquina de produzir diferenças - diferenças que são irredutíveis à identidade. A diversidade limita-se ao existente. A multiplicidade estende e multiplica, prolifera, dissemina. A diversidade é um dado – da natureza ou da cultura. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 55 A multiplicidade é um movimento. A diversidade reafirma o idêntico. A multiplicidade estimula a diferença que se recusa a se fundir com o idêntico (SILVA, 2000, p.100-101). De fato, a diversidade na escola comporta a criação de grupos de idênticos, formados por alunos que têm uma mesma característica, selecionada para reuni-los e separá-los. Ao nos referirmos a uma escola inclusiva como aberta à diversidade, ratificamos o que queremos extinguir com a inclusão escolar, ou seja, eliminamos a possibilidade de agrupar alunos e de identificá-los por uma de suas características (por exemplo, a deficiência), valorizando alguns em detrimento de outros e mantendo escolas comuns e especiais. Atenção, pois ao denominarmos as propostas, programas e iniciativas de toda ordem direcionadas à inclusão, insistimos nesse aspecto, dado que somos nós mesmos quem atribuímos significado, pela escolha das palavras que utilizamos para expressá-lo. É por meio da representação que a diferença e a identidade passam a existir e temos, dessa forma, ao representar o poder de definir identidades, currículos e práticas escolares. 3. ESCOLA DOS DIFERENTES OU ESCOLA DAS DIFERENÇAS? A educação inclusiva concebe a escola como um espaço de todos, no qual os alunos constroem o conhecimento segundo suas capacidades, expressam suas ideias livremente, participam ativamente das tarefas de ensino e se desenvolvem como cidadãos, nas suas diferenças. Nas escolas inclusivas, ninguém se conforma a padrões que identificam os alunos como especiais e normais, comuns. Todos se igualam pelas suas diferenças! FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 56 A inclusão escolar impõe uma escola em que todos os alunos estão inseridos sem quaisquer condições pelas quais possam ser limitados em seu direito de participar ativamente do processo escolar, segundo suas capacidades, e sem que nenhuma delas possa ser motivo para uma diferenciação que os excluirá das suas turmas. Como garantir o direito à diferença nas escolas que ainda entendem que as diferenças estão apenas em alguns alunos, naqueles que são negativamente compreendidos e diagnosticados como problemas, doentes, indesejáveis e a maioria sem volta? O questionamento constante dos processos de diferenciação entre escolas e alunos, que decorre da oposição entre a identidade normal de alguns e especial de outros, é uma das garantias permanentes do direito à diferença. Os alvos desse questionamento devem recair diretamente sobre as práticas de ensino que as escolas adotam e que servem para excluir. Os encaminhamentos dos alunos às classes e escolas especiais, os currículos adaptados, o ensino diferenciado, a terminalidade específica dos níveis de ensino e outras soluções precisam ser indagados em suas razões de adoção, interrogados em seus benefícios, discutidos em seus fins, e eliminados por completo e com urgência. São essas medidas excludentes que criam a necessidade de existirem escolas para atender aos alunos que se igualam por uma falsa normalidade - as escolas comuns - e que instituem as escolas para os alunos que não cabem nesse grupo - as escolas especiais. Ambas são escolas dos diferentes, que não se alinham aos propósitos de uma escola para todos. Quando entendemos esses processos de diferenciação pela deficiência ou por outras características que elegemos para excluir, percebemos as discrepâncias que nos faziam defender as escolas dos diferentes como solução privilegiada para atender às necessidades dos alunos. Acordamos, então, para o sentido includente das escolas das diferenças. Essas escolas reúnem, em seus espaços educacionais, os alunos tais quais eles são: únicos, FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 57 singulares, mutantes, compreendendo-oscomo pessoas que diferem umas das outras, que não conseguimos conter em conjuntos definidos por um único atributo, o qual elegemos para diferenciá-las. 3.1. A ESCOLA COMUM NA PERSPECTIVA INCLUSIVA A escola das diferenças é a escola na perspectiva inclusiva, e sua pedagogia tem como mote questionar, colocar em dúvida, contrapor-se, discutir e reconstruir as práticas que, até então, têm mantido a exclusão por instituírem uma organização dos processos de ensino e de aprendizagem incontestáveis, impostos e firmados sobre a possibilidade de exclusão dos diferentes, à medida que estes são direcionados para ambientes educacionais à parte. A escola comum se torna inclusiva quando reconhece as diferenças dos alunos diante do processo educativo e busca a participação e o progresso de todos, adotando novas práticas pedagógicas. Não é fácil e imediata a adoção dessas novas práticas, pois ela depende de mudanças que vão além da escola e da sala de aula. Para que essa escola possa se concretizar, é patente a necessidade de atualização e desenvolvimento de novos conceitos, assim como a redefinição e a aplicação de alternativas e práticas pedagógicas e educacionais compatíveis com a inclusão. Um ensino para todos os alunos há que se distinguir pela sua qualidade. O desafio de fazê-lo acontecer nas salas de aulas é uma tarefa a ser assumida por todos os que compõem um sistema educacional. Um ensino de qualidade provém de iniciativas que envolvem professores, gestores, especialistas, pais e alunos e outros profissionais que compõem uma rede educacional em torno de uma proposta que é comum a todas as escolas e que, ao mesmo tempo, é FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 58 construída por cada uma delas, segundo as suas peculiaridades. O Projeto Político Pedagógico é o instrumento por excelência para melhor desenvolver o plano de trabalho eleito e definido por um coletivo escolar; ele reflete a singularidade do grupo que o produziu, suas escolhas e especificidades. Nas escolas inclusivas, a qualidade do ensino não se confunde com o que é ministrado nas escolas-padrão, consideradas como as que melhor conseguem expressar um ideal pedagógico inquestionável, medido e definido objetivamente e que se apresentam como modelo a ser seguido e aplicado em qualquer contexto escolar. As escolas-padrão cabem na mesma lógica que define as escolas dos diferentes, em que as iniciativas para melhorar o ensino continuam elegendo algumas escolas e valorando-as positivamente, em detrimento de outras. Cada escola é única e precisa ser, como os seus alunos, reconhecida e valorizada nas suas diferenças. 3.2. MUDANÇAS NA ESCOLA Para atender a todos e atender melhor, a escola atual tem de mudar, e a tarefa de mudar a escola exige trabalho em muitas frentes. Cada escola, ao abraçar esse trabalho, terá de encontrar soluções próprias para os seus problemas. As mudanças necessárias não acontecem por acaso e nem por Decreto, mas fazem parte da vontade política do coletivo da escola, explicitadas no seu Projeto Político Pedagógico - PPP e vividas a partir de uma gestão escolar democrática. É ingenuidade pensar que situações isoladas são suficientes para definir a inclusão como opção de todos os membros da escola e configurar o perfil da instituição. Não se desconsideram aqui os esforços de pessoas bem intencionadas, mas é preciso ficar claro que os desafios das mudanças devem ser assumidos e decididos pelo coletivo escolar. A organização de uma sala de aula é atravessada por decisões da escola que afetam os FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 59 processos de ensino e de aprendizagem. Os horários e rotinas escolares não dependem apenas de uma única sala de aula; o uso dos espaços da escola para atividades a serem realizadas fora da classe precisa ser combinado e sistematizado para o bom aproveitamento de todos; as horas de estudo dos professores devem coincidir para que a formação continuada seja uma aprendizagem colaborativa; a organização do Atendimento Educacional Especializado - AEE não pode ser um mero apêndice na vida escolar ou da competência do professor que nele atua. Um conjunto de normas, regras, atividades, rituais, funções, diretrizes, orientações curriculares e metodológicas, oriundo das diversas instâncias burocrático-legais do sistema educacional, constitui o arcabouço pedagógico e administrativo das escolas de uma rede de ensino. Trata-se do que está INSTITUÍDO e do que Libâneo e outros autores (2003) analisaram pormenorizadamente. Nesse INSTITUÍDO, estão os parâmetros e diretrizes curriculares, as leis, os documentos das políticas, os regimentos e demais normas do sistema. Em contrapartida, existe um espaço e um tempo a serem construídos por todas as pessoas que fazem parte de uma instituição escolar, porque a escola não é uma estrutura pronta e acabada a ser perpetuada e reproduzida de geração em geração. Trata-se do INSTITUINTE. A escola cria, nas possibilidades abertas pelo INSTITUINTE, um espaço de realização pessoal e profissional que confere à equipe escolar a possibilidade de definir o seu horário escolar, organizar projetos, módulos de estudo e outros, conforme decisão colegiada. Assim, confere autonomia a toda equipe escolar, acreditando no poder criativo e inovador dos que fazem e pensam a educação. 4. O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, AUTONOMIA E GESTÃO DEMOCRÁTICA. Autora FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 60 Maria Terezinha da Consolação Teixeira dos Santos A constatação de que a realidade escolar é dinâmica e depende de todos dá força e sentido à elaboração do PPP, entendido não apenas como um mero documento exigido pela burocracia e administração escolar, mas como registro de significados a serem outorgados ao processo de ensino e de aprendizagem, que demanda tomada de decisões e acompanhamento de ações consequentes. O PPP não pode ser um documento paralelo que não diz respeito, que não atravessa o cotidiano escolar e fica restrito à categoria de um arquivo ou de uma alegoria, de caráter residual. Ele altera a estrutura escolar e escrevê-lo e arquivá-lo nos registros da escola só serve para acomodar a consciência dos que não têm um verdadeiro compromisso com uma escola de todos, por todos e para todos. Nossa legislação educacional é clara no que toca à exigência de a escola ter o seu PPP; ela não pode se furtar ao compromisso assumido com a sociedade de formação e de desenvolvimento do processo de educação, devidamente planejado. A exigência legal do PPP está expressa na LDBEN - Lei Nº. 9.394/96 que, em seu artigo 12, define, entre as atribuições de uma escola, a tarefa de "[...] elaborar e executar sua proposta pedagógica", deixando claro que ela precisa fundamentalmente saber o que quer e colocar em execução esse querer, não ficando apenas nas promessas ou nas intenções expostas no papel. Ao sistematizar estas escolhas e decisões, o PPP, a partir de um estudo da demanda da realidade escolar cria as condições necessáriaspara a elaboração do planejamento e o desenvolvimento do trabalho da sua equipe e da avaliação processual das etapas e metas propostas. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 61 Para Gadotti e Romão (1997), o Projeto Político Pedagógico deve ser entendido como um horizonte de possibilidades para a escola. O Projeto imprime uma direção nos caminhos a serem percorridos pela escola. Ele se propõe a responder a um feixe de indagações de seus membros, tais como: qual educação se quer e qual tipo de cidadão se deseja, para qual projeto de sociedade? O PPP propõe uma organização que se funda no entendimento compartilhado dos professores, alunos e demais interessados em educação. Todas as intenções da escola, reunidas no Projeto Político Pedagógico, conferem-lhe o caráter POLÍTICO, porque ele representa a escolha de prioridades de cidadania em função das demandas sociais. O PPP ganha status PEDAGÓGICO ao organizar e sistematizar essas intenções em ações educativas alinhadas com as prioridades estabelecidas. O caráter coletivo e a necessidade de participação de todos é inerente ao PPP, pois ele não se resume a um mero plano ou projeto burocrático, que cumpre as exigências da lei ou do sistema de ensino. Trata-se de um documento norteador das ações da escola que, ao mesmo tempo, oportuniza um exercício reflexivo do processo para tomada de decisões no seu âmbito. O professor, portanto, ao contribuir para a elaboração do PPP, bem como ao participar de sua execução no cotidiano da escola, tem a oportunidade de exercitar um ensino democrático, necessário para garantir acesso e permanência dos alunos nas escolas e para assegurar a inclusão, o ensino de qualidade e a consideração das diferenças dos alunos nas salas de aula. Exercer esse papel como um dos mentores do PPP não é uma obrigação formal, mas o resultado de um envolvimento pessoal do professor. Nesse sentido, vem antes a sua disposição de participar, porque contribuir é reconhecer a importância de sua colaboração FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 62 para que o projeto se execute. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 206, explicita, como um dos princípios para a educação no Brasil, "[...] a gestão democrática do ensino público". Essa preocupação é reiterada na LDBEN (Lei nº 9394/96), no artigo 3º, ao assinalar que a gestão democrática, além de estar em conformidade com a Lei, deve estar consoante à legislação dos sistemas de ensino, pois como Lei que detalha a educação nacional, acrescenta a característica das variações dos sistemas nas esferas federal, estadual e municipal. Ainda nesse detalhamento, a LDBEN avança, no seu artigo 14, afirmando que: [...] Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Nos textos legais, fica clara a ênfase dada ao Projeto Político Pedagógico de cada escola, bem como a reiteração de que a proposta seja construída e administrada à luz de uma gestão democrática. Outra legislação que vem corroborar nesse sentido é o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei Nº. 8.069/90), que, no seu artigo 53, enfatiza os objetivos da educação nacional, repetindo os princípios constitucionais e os da LDBEN, mas deixando claro em seu parágrafo único que "[...] é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais". Evidencia-se na legislação o caráter da comunidade escolar participativa e ampliada para além dos muros escolares, com compromisso conjunto nos rumos da educação dos cidadãos. A gestão democrática ampliada nos contornos da comunidade ganha, por meio do texto legal, condições de ser exercida com autonomia. Embora a escola não seja independente de seu sistema de ensino, ela pode se articular e FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 63 interagir com autonomia como parte desse sistema que a sustenta, tomando decisões próprias relativas às particularidades de seu estabelecimento de ensino e da sua comunidade. Entretanto, mesmo outorgada por lei, a autonomia escolar é construída aos poucos e cotidianamente. Do ponto de vista cultural e educacional, encontram-se poucas experiências de construção da autonomia e do cultivo de hábitos democráticos. A democracia, frequentemente proclamada, mas nem sempre vivenciada nas redes de ensino, tem no PPP a oportunidade de ser exercida, e essa oportunidade não pode ser perdida, para que consiga espalhar-se por toda a instituição. Gadotti e Romão (1997) manifestam suas posições sobre a construção da democracia na escola e afirmam que esse tipo de gestão constitui um passo relevante no aprendizado da democracia. Os professores constroem a democracia no cotidiano escolar por meio de pequenos detalhes da organização da prática pedagógica. Nesse sentido, fazem a diferença: o modo de trabalhar os conteúdos com os alunos; a forma de sugerir a realização de atividades na sala de aula; o controle disciplinar; a interação dos alunos nas tarefas escolares; a sistematização do AEE no contra-turno; a divisão do horário; a forma de planejar com os alunos; a avaliação da execução das atividades de forma interativa. Embora já tenhamos uma Constituição, estatutos, legislação, políticas educacionais e decretos que propõem e viabilizam novas alternativas para a melhoria do ensino nas escolas, ainda atendemos a alunos em espaços escolares semi ou totalmente segregados, tais como as classes especiais, as turmas de aceleração, as escolas especiais, as aulas de reforço, entre outros. O salto da escola dos diferentes para a escola das diferenças demanda conhecimento, determinação, decisão. As propostas de mudança variam e dependerão de disposição, discussões, estudos, levantamento de dados e iniciativas a serem compartilhadas pelos seus membros, enfim, de gestões democráticas das escolas, que favoreçam essa mudança. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 64 Muitas decisões precisam ser tomadas pelas escolas ao elaborarem seus Projetos Político Pedagógicos, entre as quais destacamos algumas, que estão diretamente relacionadas com as mudanças que se alinham aos propósitos da inclusão: fazer da aprendizagem o eixo das escolas, garantindo o tempo necessário para que todos possam aprender; reprovar a repetência; abrir espaço para que a cooperação, o diálogo, a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico sejam praticados por seus professores, gestores, funcionários e alunos, pois essas são habilidadesmínimas para o exercício da verdadeira cidadania; valorizar e formar continuamente o professor, para que ele possa atualizar-se e ministrar um ensino de qualidade. É frequente a escola seguir outros caminhos, adotando práticas excludentes e paliativas, que as impedem de dar o salto qualitativo que a inclusão demanda. Elas se apropriam de soluções utilitárias, prontas para o uso, alheias à realidade de cada instituição educacional. Essas práticas admitem: ensino individualizado para os alunos com deficiência e/ou problemas de aprendizagem; currículos adaptados; terminalidade específica; métodos especiais para ensino de pessoas com deficiência; avaliação diferenciada; categorização e diferenciação dos alunos; formação de turmas escolares buscando a homogeneização dos alunos. No nível da sala de aula e das práticas de ensino, a mobilização do professor e/ou de uma equipe escolar em torno de uma mudança educacional como a inclusão não acontece de modo semelhante em todas as escolas. Mesmo havendo um Projeto Político Pedagógico que oriente as ações educativas da escola, há que existir uma entrega, uma disposição individual ou grupal de sua equipe de se expor a uma experiência educacional diferente das que estão habituados a viver. Para que qualquer transformação ou mudança seja verdadeira, as pessoas têm de ser tocadas pela experiência. Precisam ser receptivas, disponíveis e abertas a vivê-la, baixando suas guardas, submetendo-se, entregando-se à experiência [...] sem resistências, sem segurança, poder, firmeza, garantias (BONDÍA, 2002). FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 65 As mudanças não ocorrem pela mera adoção de práticas diferentes de ensinar. Elas dependem da elaboração dos professores sobre o que lhes acontece no decorrer da experiência educacional inclusiva que eles se propuseram a viver. O que vem dos livros e o que é transmitido aos professores nem sempre penetram em suas práticas. A experiência a que nos referimos não está relacionada com o tempo dedicado ao magistério, ao saber acumulado pela repetição de uma mesma atividade utilitária, instrumental. Estamos nos referindo ao saber da experiência, que é subjetivo, pessoal, relativo, adquirido nas ocasiões em que entendemos e atribuímos sentidos ao que nos acontece, ao que nos passa, ao que nos sucede ao viver a experiência (BONDÍA, 2002). O reconhecimento de que os alunos aprendem segundo suas capacidades não surge de uma hora para a outra, só porque as teorias assim afirmam. Acolher as diferenças terá sentido para o professor e fará com que ele rompa com seus posicionamentos sobre o desempenho escolar padronizado e homogêneo dos alunos, se ele tiver percebido e compreendido por si mesmo essas variações, ao se submeter a uma experiência que lhe perpassa a existência. O professor, então, desempenhará o seu papel formador, que não se restringe a ensinar somente a uma parcela dos alunos que conseguem atingir o desempenho exemplar esperado pela escola. Ele ensina a todos, indistintamente. O caráter de imprevisibilidade da aprendizagem é constatado por professores que aproveitam as ocasiões para observar, abertamente e sem ideias pré-concebidas, a curiosidade do aluno que vai atrás do que quer conhecer, que questiona, duvida, que se detém diante do que leu, do que lhe respondemos, procurando resolver e encontrar a solução para o que lhe perturba e desafia com avidez, possuído pelo desejo de chegar ao que pretende. Ao se deixar levar por uma experiência de ensinar dessa natureza, querendo entender o que ela revela e compartilhando-a com seus colegas, o professor poderá deduzir que certas práticas e FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 66 aparatos pedagógicos, como os métodos especiais e o ensino adaptado para alguns alunos, não correspondem ao que se espera deles. Ambos provêm do controle externo da aprendizagem, de opiniões que circulam e se firmam entre os professores, que são creditadas pelo conhecimento livresco e generalizado e pelas informações equivocadas que se naturalizam nas escolas e fora delas. Opor-se a inovações educacionais, resguardando-se no despreparo para adotá-las, resistir e refutá-las simplesmente, distancia o professor da possibilidade de se formar e de se transformar pela experiência. Oposições e contraposições à inclusão incondicional são freqüentes entre os professores e adiam projetos do ensino comum e especial focados na inserção das diferenças nas escolas. É nos bancos escolares que se aprende a viver entre os nossos pares, a dividir as responsabilidades, a repartir tarefas. Nesses ambientes, desenvolvem-se a cooperação e a produção em grupo com base nas diferenças e talentos de cada um e na valorização da contribuição individual para a consecução de objetivos comuns de um mesmo grupo. A interação entre colegas de turma, a aprendizagem colaborativa, a solidariedade entre alunos e entre estes e o professor devem ser estimuladas. Os professores, quando buscam obter o apoio dos alunos e propõem trabalhos diversificados e em grupo, desenvolvem formas de compartilhamento e difusão dos conhecimentos nas salas de aula. A formação de turmas tidas como homogêneas é um dos argumentos de defesa dos professores, gestores e especialistas em favor da qualidade do ensino, que precisa ser refutado, porque se trata de uma ilusão que compromete o ensino e exclui alunos. A avaliação de caráter classificatório, por meio de notas, provas e outros instrumentos similares, mantém a repetência e a exclusão nas escolas. A avaliação contínua e qualitativa da aprendizagem, com a participação do aluno, tendo, inclusive, a intenção de avaliar o ensino FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 67 oferecido e torná-lo cada vez mais adequado à aprendizagem de todos os alunos conduz a outros resultados. A adoção desse modo de avaliar com base na qualidade do ensino e da aprendizagem já diminuiria substancialmente o número de alunos que são indevidamente avaliados e categorizados como deficientes nas escolas comuns. Os professores em geral concordam com novas alternativas de se avaliar os processos de ensino e de aprendizagem e admitem que as turmas são naturalmente heterogêneas. Sentem-se, contudo, inseguros diante da possibilidade de fazer uso dessas alternativas em sala de aula e inovar as rotinas de trabalho, rompendo com a organização pedagógica pré- estabelecida. Ao contrário do que se pensa e se faz, as práticas escolares inclusivas não implicam um ensino adaptado para alguns alunos, mas sim um ensino diferente para todos, em que os alunos tenham condições de aprender, segundo suas próprias capacidades, sem discriminações e adaptações. A ideia do currículo adaptado está associada à exclusão na inclusão dos alunos que não conseguem acompanhar o progresso dos demais colegas na aprendizagem. Currículos adaptados e ensino adaptado negam a aprendizagem diferenciada e individualizada. O ensino escolar é coletivo e deve ser o mesmo para todos, a partir de um único currículo. É o aluno que se adaptaao currículo, quando se admitem e se valorizam as diversas formas e os diferentes níveis de conhecimento de cada um. A aprovação e a certificação por terminalidade específica, como propõe a LDBEN/1996, não faz sentido, quando se entende que a aprendizagem é diferenciada de aluno para aluno, constituindo-se em um processo que não pode obedecer a uma terminalidade prefixada com base na condição intelectual de alguns. Outra prática usual nas escolas é o ensino dos conteúdos das áreas disciplinares (Matemática, FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 68 Língua Portuguesa, Geografia, Ciências, etc.) como fins em si mesmos e tratados de modo fragmentado nas salas de aulas. A afirmação da interdisciplinaridade é a afirmação, em última instância, da disciplinarização: só poderemos desenvolver um trabalho interdisciplinar se fizermos uso de várias disciplinas. [...] A interdisciplinaridade contribui para minimizar os efeitos perniciosos da compartimentalização, mas não significaria, de forma alguma, o avanço para um currículo não disciplinar (GALLO, 2002, p. 28-29). Um currículo não disciplinar implica um ensino sem as gavetas das disciplinas, em que se reconhece a multiplicidade das áreas do conhecimento e o trânsito livre entre elas. O ensino não disciplinar não deve ser confundido com os Temas Transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os quais não superam a disciplinarização, continuando a organizar o currículo em disciplinas, pelas quais perpassam assuntos de interesse social, como o meio ambiente, sexualidade, ética e outros. Segundo Gallo (2002), transversalidade em educação e currículo não disciplinar tem a ver com processos de ensino e de aprendizagem em que o aluno transita pelos saberes escolares, integrando-os e construindo pontes entre eles, que podem parecer caóticas, mas que refletem o modo como aprendemos e damos sentido ao novo. As propostas curriculares, quando contextualizadas, reconhecem e valorizam os alunos em suas peculiaridades de etnia, de gênero, de cultura. Elas partem das vidas e experiências dos alunos e vão sendo tramadas em redes de conhecimento, que superam a tão decantada sistematização do saber. O questionamento dessas peculiaridades e a visão crítica do multiculturalismo trazem uma perspectiva para o entendimento das diferenças, a qual foge da tolerância e da aceitação, atitudes estas tão carregadas de preconceito e desigualdade. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 69 O multiculturalismo crítico, segundo Hall (2003), um estudioso das questões da pós-modernidade e das diferenças na atualidade, é uma das concepções do multiculturalismo. Essa concepção questiona a exclusão social e demais formas de privilégios e de hierarquias das sociedades contemporâneas, indagando sobre as diferenças e apoiando movimentos de resistência dos dominados. O multiculturalismo crítico toma como referência a liberdade e a emancipação e defende que a justiça, a democracia e a equidade não são dadas, mas conquistadas. Difere do multiculturalismo conservador, em que os dominantes buscam assimilar as minorias aos costumes e tradições da maioria. Outras práticas educacionais inclusivas que derivam dos propósitos de se ensinar à turma toda, sem discriminações, por vezes são refutadas pelos professores ou aceitas com parcimônia, desconfiança e sob condições. Motivos não faltam para que eles se comportem desse modo. Muitos receberam sua própria formação dentro do modelo conservador, que foi sendo reforçado dentro das escolas. 5. O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO – AEE Uma das inovações trazidas pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) é o Atendimento Educacional Especializado - AEE, um serviço da educação especial que "[...] identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas" (SEESP/MEC, 2008). FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 70 O AEE complementa e/ou suplementa a formação do aluno, visando a sua autonomia na escola e fora dela, constituindo oferta obrigatória pelos sistemas de ensino. É realizado, de preferência, nas escolas comuns, em um espaço físico denominado Sala de Recursos Multifuncionais. Portanto, é parte integrante do projeto político pedagógico da escola. São atendidos, nas Salas de Recursos Multifuncionais, alunos público-alvo da educação especial, conforme estabelecido na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e no Decreto N.6.571/2008. * Alunos com deficiência: aqueles [...] que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (ONU, 2006). * Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. (MEC/SEESP, 2008). *Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse (MEC/SEESP, 2008). A matrícula no AEE é condicionada à matrícula no ensino regular. Esse atendimento pode ser oferecido em Centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou privada, sem fins lucrativos. Tais centros, contudo, devem estar de acordo com as orientações da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) e com as Diretrizes FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 71 Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica (MEC/SEESP, 2009). Na perspectiva da educação inclusiva, o processo de reorientação de escolas especiais e centros especializados requer a construção de uma proposta pedagógica que institua nestes espaços, principalmente, serviços de apoio às escolas para a organização das salas de recursos multifuncionais e para a formação continuada dos professores do AEE. Os conselhos de educação têm atuação primordial no credenciamento, autorização de funcionamento e organização destes centros de AEE, zelando para que atuem dentro do que a legislação, a Política e as Diretrizes orientam. No entanto, apreferência pela escola comum como o local do serviço de AEE, já definida no texto constitucional de 1988, foi reafirmada pela Política, e existem razões para que esse atendimento ocorra na escola comum. O motivo principal de o AEE ser realizado na própria escola do aluno está na possibilidade de que suas necessidades educacionais específicas possam ser atendidas e discutidas no dia a dia escolar e com todos os que atuam no ensino regular e/ou na educação especial, aproximando esses alunos dos ambientes de formação comum a todos. Para os pais, quando o AEE ocorre nessas circunstâncias, propicia-lhes viver uma experiência inclusiva de desenvolvimento e de escolarização de seus filhos, sem ter de recorrer a atendimentos exteriores à escola. 5.1. ARTICULAÇÃO ENTRE ESCOLA COMUM E EDUCAÇÃO ESPECIAL: AÇÕES E RESPONSABILIDADES COMPARTILHADAS Ao se articular com a escola comum, na perspectiva da inclusão, a Educação Especial muda seu rumo, refazendo caminhos que foram abertos tempos atrás, quando se propunha a substituir a escola comum para alguns alunos que não correspondiam às exigências do ensino regular. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 72 A mudança de rumos implica uma articulação de propósitos entre a escola comum e a Educação Especial, ao contrário do que acontece quando tanto a escola comum como a especial constituem escolas dos diferentes, dividindo os alunos em normais e especiais e estabelecendo uma cisão entre esses grupos, que se isolam em ambientes educacionais excludentes. A escola das diferenças aproxima a escola comum da Educação Especial, porque, na concepção inclusiva, os alunos estão juntos, em uma mesma sala de aula. A articulação entre Educação Especial e escola comum, na perspectiva da inclusão, ocorre em todos os níveis e etapas do ensino básico e do superior. Sem substituir nenhum desses níveis, a integração entre ambas não deverá descaracterizar o que é próprio de cada uma delas, estabelecendo um espaço de intersecção de competências resguardado pelos limites de atuação que as especificam. Para oferecer as melhores condições possíveis de inserção no processo educativo formal, o AEE é ofertado preferencialmente na mesma escola comum em que o aluno estuda. Uma aproximação do ensino comum com a educação especial vai se constituindo à medida que as necessidades de alguns alunos provocam o encontro, a troca de experiências e a busca de condições favoráveis ao desempenho escolar desses alunos. Os professores comuns e os da Educação Especial precisam se envolver para que seus objetivos específicos de ensino sejam alcançados, compartilhando um trabalho interdisciplinar e colaborativo. As frentes de trabalho de cada professor são distintas. Ao professor da sala de aula comum é atribuído o ensino das áreas do conhecimento, e ao professor do AEE cabe complementar/suplementar a formação do aluno com conhecimentos e recursos específicos que eliminam as barreiras as quais impedem ou limitam sua participação com autonomia e independência nas turmas comuns do ensino regular. As funções do professor de Educação Especial são abertas à articulação com as atividades FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 73 desenvolvidas por professores, coordenadores pedagógicos, supervisores e gestores das escolas comuns, tendo em vista o benefício dos alunos e a melhoria da qualidade de ensino. São eixos privilegiados de articulação: * a elaboração conjunta de planos de trabalho durante a construção do Projeto Pedagógico, em que a Educação Especial não é um tópico à parte da programação escolar; * o estudo e a identificação do problema pelo qual um aluno é encaminhado à Educação Especial; * a discussão dos planos de AEE com todos os membros da equipe escolar; * o desenvolvimento em parceria de recursos e materiais didáticos para o atendimento do aluno em sala de aula e o acompanhamento conjunto da utilização dos recursos e do progresso do aluno no processo de aprendizagem; * a formação continuada dos professores e demais membros da equipe escolar, entremeando tópicos do ensino especial e comum, como condição da melhoria do atendimento aos alunos em geral e do conhecimento mais detalhado de alguns alunos em especial, por meio do questionamento das diferenças e do que pode promover a exclusão escolar. No caso do atendimento educacional especializado - AEE, por exemplo, as dimensões do INSTITUÍDO podem ser identificadas na existência de leis, políticas, decretos, diretrizes curriculares que chegam à escola definidas nos documentos oficiais, dando contornos à sistematização da oferta desse serviço na escola comum. Na dimensão do INSTITUINTE, muito pode ser criado nesse sentido: parcerias com setores da comunidade para a implementação de Planos de AEE; organização dos horários de oferta do AEE no horário oposto ao período escolar do aluno; projetos escolares interdisciplinares que incluam a necessidade da tecnologia assistiva - TA; planejamento para alterações na acessibilidade física da escola e assim por diante. Do ponto de vista intra-escolar, essas articulações mostram o impacto, os efeitos, a pertinência, os limites e mesmo as distorções dos atendimentos que estão sendo oferecidos aos alunos nas FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 74 turmas comuns de ensino regular e nos serviços de Educação Especial, entre os quais o atendimento educacional especializado - AEE. No plano extra-escolar, quando a escola se articula a outros serviços da comunidade, os efeitos dessas articulações se irradiam e se fazem sentir junto às famílias e demais profissionais que atendem aos alunos, dando destaque à escola no seu entorno e na rede de ensino, pois fortalece a sua posição e representatividade no conjunto das demais unidades e instituições filiadas à educação. Há ainda certa dificuldade de se articular serviços dentro da escola. O que se entende equivocadamente por articulação entre a Educação Especial e a escola comum tem descaracterizado a interlocução entre ambas. Na perspectiva da educação inclusiva, os professores itinerantes, o reforço escolar e outras ações não constituem formas de articulação, mas uma justaposição de serviços, que continua incidindo sobre a fragmentação entre a Educação Especial e o ensino comum. A efetivação dessa articulação é ensejada pela inserção do AEE no Projeto Político Pedagógico das escolas. Uma vez considerado esse serviço da Educação Especial como parte constituinte do Projeto, os demais eixos de articulação entre ensino comum e especial serão envolvidos e contemplados, e o ensino comum e especial terão seus propósitos fundidos em uma visão inclusiva de educação. O PPP já contém em si as premissas dessa articulação, que podemos apreciar no que ocorre quando o AEE torna-se um de seus tópicos. 5.2. O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E O AEE De acordo com as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, publicada pela Secretaria de Educação EspecialFCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 75 - SEESP/MEC, em abril de 2009, o Projeto Político Pedagógico da Escola deve contemplar o AEE como uma das dimensões da escola das diferenças. Nesse sentido, é preciso planejar, organizar, executar e acompanhar os objetivos, metas e ações traçadas, em articulação com as demais propostas da escola comum. A democracia se exercita e toma forma nas decisões conjuntas do coletivo da escola e se reflete nas iniciativas da equipe escolar. Nessa perspectiva, o AEE integra a gestão democrática da escola. No PPP, devem ser previstos a organização e recursos para o AEE: sala de recursos multifuncionais; matrícula do aluno no AEE; aquisição de equipamentos; indicação de professor para o AEE; articulação entre professores do AEE e os do ensino comum e redes de apoio internos e externos à escola. No caso da inexistência de uma sala de recursos multifuncionais na escola, os alunos não podem ficar sem este serviço, e o PPP deve prever o atendimento dos alunos em outra escola mais próxima ou centro de atendimento educacional especializado, no contraturno do horário escolar. O AEE, quando realizado em outra instituição, deve ser acordado com a família do aluno, e o transporte, se necessário, providenciado. Em tal situação, destaca-se, a articulação com os professores e especialistas de ambas as escolas, para assegurar uma efetiva parceria no processo de desenvolvimento dos alunos. O PPP prevê ações de acompanhamento e articulação entre o trabalho do professor do AEE e os professores das salas comuns, ações de monitoramento da produção de materiais didáticos especializados, bem como recursos necessários para a confecção destes. Além das condições para manter, melhorar e ampliar o espaço das salas de recursos multifuncionais, inclui-se no PPP a previsão de outros tipos de recursos, equipamentos e suportes que forem indicados pelo professor do AEE ao aluno. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 76 O PPP de uma escola considera, no conjunto dos seus alunos, professores, especialistas, funcionários e gestores, as necessidades existentes, buscando meios para o atendimento dessa demanda, a partir dos objetivos e metas a serem atingidas. Ao delimitar os tempos escolares, o PPP insere os calendários, os horários de turnos e contraturno na organização pedagógica escolar, atendendo às diferentes demandas, de acordo com os espaços e os recursos físicos, humanos e financeiros de que a escola dispõe. No caso do AEE, por fazer parte desta organização, o PPP estipulará o horário dos alunos, oposto ao que frequentam a escola comum e proporcional às necessidades indicadas no plano de AEE; e o horário do professor, previsto para que possa realizar o atendimento dos alunos, preparar material didático, receber as famílias dos alunos, os professores da sala comum e os demais profissionais que estejam envolvidos. Enquanto serviço oferecido pela escola ou em parceria com outra escola ou centro de atendimento especializado, o PPP estabelece formas de avaliar o AEE, de alterar práticas, de inserir novos objetivos e de definir novas metas visando ao aprimoramento desse serviço. Na operacionalização do processo de avaliação institucional, caberá à gestão zelar para que o AEE não seja descaracterizado das suas funções e para que os alunos não sejam categorizados, discriminados e excluídos do processo avaliativo utilizado pela escola. O PPP define os fundamentos da estrutura escolar e deve ser coerente com os propósitos de uma educação que acolhe as diferenças e, sendo assim, não poderá manter seu caráter excludente e próprio das escolas dos diferentes. 5. A ORGANIZAÇÃO E A OFERTA DO AEE O Decreto Nº. 6.571, de 17 de setembro de 2008, que dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado, destina recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica - FUNDEB ao AEE de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 77 habilidades/superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular, admitindo o cômputo duplo da matrícula desses alunos em classes comuns de ensino regular público e no AEE, concomitantemente, conforme registro no Censo Escolar. Esse Decreto possibilita às redes de ensino o investimento na formação continuada de professores, na acessibilidade do espaço físico e do mobiliário escolar, na aquisição de novos recursos de tecnologia assistiva, entre outras ações previstas na manutenção e desenvolvimento do ensino para a organização e oferta do AEE, nas salas de recursos multifuncionais. As Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado (2009) reiteram que, no caso de a oferta do AEE ser realizada fora da escola comum, em centro de atendimento educacional especializado público ou privado sem fins lucrativos, conveniado para essa finalidade, a oferta conste também do PPP do referido centro. Eles devem seguir as normativas estabelecidas pelo Conselho de Educação do respectivo sistema de ensino para autorização de funcionamento e seguir as orientações preconizadas nestas Diretrizes, como ocorre com o AEE nas escolas comuns. Conforme as Diretrizes, para o financiamento do AEE são exigidas as seguintes condições: a) matrícula na classe comum e na sala de recursos multifuncional da mesma escola pública; b) matrícula na classe comum e na sala de recursos multifuncional de outra escola pública; c) matrícula na classe comum e em centro de atendimento educacional especializado público; d) matrícula na classe comum e no centro de atendimento educacional especializado privado sem fins lucrativos. A organização do Atendimento Educacional Especializado considera as peculiaridades de cada aluno. Alunos com a mesma deficiência podem necessitar de atendimentos diferenciados. Por isso, o primeiro passo para se planejar o Atendimento não é saber as causas, diagnósticos, prognóstico da suposta deficiência do aluno. Antes da deficiência, vem a pessoa, o aluno, com FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 78 sua história de vida, sua individualidade, seus desejos e diferenças. Há alunos que frequentarão o AEE mais vezes na semana e outros, menos. Não existe um roteiro, um guia, uma fórmula de atendimento previamente indicada e, assim sendo, cada aluno terá um tipo de recurso a ser utilizado, uma duração de atendimento, um plano de ação que garanta sua participação e aprendizagem nas atividades escolares. Na organização do AEE, é possível atender aos alunos em pequenos grupos, se suas necessidades forem comuns a todos. É possível, por exemplo, atender a um grupo de alunos com surdez para ensinar-lhes LIBRAS ou para o ensino da Língua Portuguesa escrita . Os planos de AEE resultam das escolhasdo professor quanto aos recursos, equipamentos, apoios mais adequados para que possam eliminar as barreiras que impedem o aluno de ter acesso ao que lhe é ensinado na sua turma da escola comum, garantindo-lhe a participação no processo escolar e na vida social em geral, segundo suas capacidades. Esse atendimento tem funções próprias do ensino especial, as quais não se destinam a substituir o ensino comum e nem mesmo a fazer adaptações aos currículos, às avaliações de desempenho e a outros. É importante salientar que o AEE não se confunde com reforço escolar. O professor de AEE acompanha a trajetória acadêmica de seus alunos, no ensino regular, para atuar com autonomia na escola e em outros espaços de sua vida social. Para tanto, é imprescindível uma articulação entre o professor de AEE e os do ensino comum. Na perspectiva da inclusão escolar, o professor da Educação Especial não é mais um especialista em uma área específica, suas atividades desenvolvem-se, preferencialmente, nas escolas comuns, cabendo-lhes, no atendimento educacional especializado aos alunos, público- alvo da educação especial, as seguintes atribuições: a) identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 79 acessibilidade e estratégias, considerando as necessidades específicas dos alunos de forma a construir um plano de atuação para eliminá-las (MEC/SEESP, 2009). b) Reconhecer as necessidades e habilidades do aluno. Ao identificar certas necessidades do aluno, o professor de AEE reconhece também as suas habilidades e, a partir de ambas, traça o seu plano de atendimento. Se ele identifica necessidade de comunicação alternativa para o aluno, indica recursos como a prancha de comunicação, por exemplo; se observa que o aluno movimenta a cabeça, consegue apontar com o dedo, pisca, essas habilidades são consideradas por ele para a seleção e organização de recursos educacionais e de acessibilidade. Com base nesses dados, o professor elaborará o plano de AEE, definindo o tipo de atendimento para o aluno, os materiais que deverão ser produzidos, a frequência do aluno ao atendimento, entre outros elementos constituintes desse plano. Outros dados poderão ser coletados pelo professor em articulação com o professor da sala de aula e demais colegas da escola. c) Produzir materiais tais como textos transcritos, materiais didático-pedagógicos adequados, textos ampliados, gravados, como, também, poderá indicar a utilização de softwares e outros recursos tecnológicos disponíveis. d) Elaborar e executar o plano de AEE, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos educacionais e de acessibilidade (MEC/SEESP, 2009). Na execução do plano de AEE, o professor terá condições de saber se o recurso de acessibilidade proposto promove participação do aluno nas atividades escolares. O plano, portanto, deverá ser constantemente revisado e atualizado, buscando-se sempre o melhor para o aluno e considerando que cada um deve ser atendido em suas particularidades. e) Organizar o tipo e o número de atendimentos (MEC/SEESP, 2009). O professor seleciona FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 80 o tipo do atendimento, organizando, quando necessários, materiais e recursos de modo que o aluno possa aprender a utilizá-los segundo suas habilidades e funcionalidades. O número de atendimentos semanais/mensais varia de caso para caso. O professor vai prolongar o tempo ou antecipar o desligamento do aluno do AEE, conforme a evolução do aluno. f) Acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola (MEC/SEESP, 2009). O professor do AEE observa a funcionalidade e aplicabilidade dos recursos na sala de aula, as distorções, a pertinência, os limites desses recursos nesse e em outros ambientes escolares, orientando, também, as famílias e os colegas de turma quanto ao uso dos recursos. O professor de sala de aula informa e avalia juntamente com o professor do AEE se os serviços e recursos do Atendimento estão garantindo participação do aluno nas atividades escolares. Com base nessas informações, são reformuladas as ações e estabelecidas novas estratégias e recursos, bem como refeito o plano de AEE para o aluno. g) Ensinar e usar recursos de Tecnologia Assistiva, tais como: as tecnologias da informação e comunicação, a comunicação alternativa e aumentativa, a informática acessível, o soroban, os recursos ópticos e não ópticos, os softwares específicos, os códigos e linguagens, as atividades de orientação e mobilidade (MEC/SEESP, 2009). h) Promover atividades e espaços de participação da família e a interface com os serviços de saúde, assistência social e outros (MEC/SEESP, 2009). O papel do professor do AEE não deve ser confundido com o papel dos profissionais do atendimento clínico, embora suas atribuições possam ter articulações com profissionais das áreas da Medicina, Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia e outras afins. Também estabelece interlocuções com os FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 81 profissionais da arquitetura, engenharia, informática. No decorrer da elaboração e desenvolvimento dos planos de atendimento para cada aluno, o professor de AEE se apropria de novos conteúdos e recursos que ampliam seu conhecimento para a atuação na Sala de Recursos Multifuncional. São conteúdos do AEE: Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e LIBRAS tátil; Alfabeto digital; Tadoma; Língua Portuguesa na modalidade escrita; Sistema Braille; Orientação e mobilidade; Informática acessível; Sorobã (ábaco); Estimulação visual; Comunicação alternativa e aumentativa - CAA; Desenvolvimento de processos educativos que favoreçam a atividade cognitiva. São recursos do AEE: Materiais didáticos e pedagógicos acessíveis (livros, desenhos, mapas, gráficos e jogos táteis, em LIBRAS, em Braille, em caracter ampliado, com contraste visual, imagéticos, digitais, entre outros); Tecnologias de informação e de comunicação (TICS) acessíveis (mouses e acionadores, teclados com colméias, sintetizadores de voz, linha Braille, entre outros); e Recursos ópticos; pranchas de CAA, engrossadores de lápis, ponteira de cabeça, plano inclinado, tesouras acessíveis, quadro magnético com letras imantadas, entre outros. O desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem é favorecido pela participação da família dos alunos. Para elaborar e realizar os Planos de AEE, o professor necessita dessa parceria em todos os momentos. Reuniões, visitas e entrevistas fazem parte das etapas pelas quais os professores de AEE estabelecem contatos com as famílias de seus alunos, colhendo informações, repassando outras e estabelecendo laços de cooperação e de compromissos. As parcerias intersetoriais e com a comunidade onde a escolaestá inserida estão entre as prioridades do Projeto Político Pedagógico, pois a educação não é apenas uma área restrita aos órgãos do sistema educacional. Elas aparecem nas ações integradas da escola com todos os FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 82 segmentos da sociedade civil e da sociedade política dos Municípios e Estados com as escolas. Indicadores importantes das parcerias intersetoriais são as ações desenvolvidas entre as escolas e as Secretarias de Educação, de Saúde, Poder Executivo, Poder Legislativo, Poder Judiciário, Ministério Público, instituições, empresas e demais segmentos sociais. O PPP, ao propor essas parcerias, está consubstanciado em uma visão de complementação e de alinhamento da educação escolar com outras instituições sociais. No caso do AEE, faz parte do seu Plano a previsão, desenvolvimento e avaliação de ações sincronizadas com a Saúde, Assistência Social, Esporte, Cultura e demais segmentos. As parcerias fortalecem esse Plano, sem correr o risco de perder o foco no AEE, na medida em que a participação de outros atores amplia o caráter interdisciplinar do serviço. 6.1. A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O AEE Para atuar no AEE, os professores devem ter formação específica para este exercício, que atenda aos objetivos da educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Nos cursos de formação continuada, de aperfeiçoamento ou de especialização, indicados para essa formação, os professores atualizarão e ampliarão seus conhecimentos em conteúdos específicos do AEE, para melhor atender a seus alunos. A formação de professores consiste em um dos objetivos do PPP. Um dos seus aspectos fundamentais é a preocupação com a aprendizagem permanente de professores, demais profissionais que atuam na escola e também dos pais e da comunidade onde a escola se insere. Neste documento, apresentam-se as ações de formação, incluindo os aspectos ligados ao estudo das necessidades específicas dos alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Este estudo perpassa o cotidiano da FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 83 escola e não é exclusivo dos professores que atuam no AEE. À gestão escolar compete implementar ações que garantam a formação das pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, nas unidades de ensino. Ela pode se dar por meio de palestras informativas e formações em nível de aperfeiçoamento e especialização para os professores que atuam ou atuarão no AEE. As palestras informativas devem envolver o maior número de pessoas possível: professores do ensino comum e do AEE, pais, autoridades educacionais. De caráter mais amplo, essas palestras têm por objetivo esclarecer o que é o AEE, como ele está sendo realizado e qual a política que o fundamenta, além de tirar dúvidas sobre este serviço e promover ações conjuntas para fazer encaminhamentos, quando necessários. Para a formação em nível de aperfeiçoamento e especialização, a proposta é que sejam realizadas ações de formação fundamentadas em metodologias ativas de aprendizagem, tais como Estudos de Casos, Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) ou Problem Based Learning (PBL), Aprendizagem Baseada em Casos (ABC), Trabalhos com Projetos, Aprendizagem Colaborativa em Rede (ACR), entre outras. Essas metodologias trazem novas formas de produção e organização do conhecimento e colocam o aprendiz no centro do processo educativo, dando-lhe autonomia e responsabilidade pela sua aprendizagem por meio da identificação e análise dos problemas e da capacidade para formular questões e buscar informações para responder a estas questões, ampliando conhecimentos. Tradicionalmente os cursos de formação continuada são centrados nos conteúdos, classificados de acordo com o critério de pertencimento a uma especificidade, tendo sua organização curricular pautada num perfil "ideal" de aluno que se deseja formar. Estes modelos de formação FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 84 estão sendo cada vez mais questionados no contexto educacional e algumas metodologias começam a surgir com a finalidade de romper com esta organização e determinismo. Tais metodologias rompem com o modelo determinista de formação, considerando as diferenças entre os estudantes e apresentando uma nova perspectiva de organização curricular. Zabala (1995) defende uma perspectiva de organização curricular globalizadora, na qual os conteúdos de aprendizagem e as unidades temáticas do currículo são relevantes em função de sua capacidade de compreender uma realidade global. Para Hernandez (1998), o conceito de conhecimento global e relacional permite superar o sentido da mera acumulação de saberes em torno de um tema. Ele propõe estabelecer um processo no qual o tema ou problema abordado seja o ponto de referência para onde confluem os conhecimentos. É neste contexto que surgem as metodologias ativas de aprendizagem. Elas requerem uma mudança de atitude do docente. Uma delas refere-se à flexibilidade diante das questões que surgirão e dos conhecimentos que se construirão durante o desenvolvimento dos trabalhos. Este processo permite aos professores e aos alunos aprenderem a explicar as relações estabelecidas a partir de informações obtidas sobre determinado assunto e demonstra respeito às diferentes formas e procedimentos de organização do conhecimento. Essas propostas colocam o aprendiz como protagonista do processo de ensino e aprendizagem e agrega valor educativo aos conteúdos da formação. Os conteúdos não se tornam à finalidade, mas os meios de ensino. As metodologias ativas de aprendizagem têm como característica o fato de se desenvolverem em pequenos grupos e de apresentarem problemas contextualizados. Trata-se de um processo ativo, cooperativo, integrado e interdisciplinar. Estimula o aprendiz a desenvolver os trabalhos em equipe, ouvir outras opiniões, a considerar o contexto ao elaborar as propostas das soluções, tornando-o consciente do que ele sabe e do que precisa aprender. Motiva-o a buscar as informações relevantes, considerando que cada problema é um problema e que não existem receitas para solucioná-los. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 85 Entre as diversas metodologias, a Aprendizagem Colaborativa em Redes - ACR, construída a partir da metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas, foi desenvolvida para um programa de formação continuada a distância de professores de AEE. Seu foco é a aprendizagem colaborativa, o trabalho em equipe, contextualizado na realidade do aprendiz. A ACR é composta de etapas que incluem trabalhos individuais e coletivos. As etapas compreendem a apresentação, a descrição e a discussão do problema; pesquisas em fontes bibliográficas para favorecera compreensão do problema; apresentação de propostas de soluções para o problema em foco; elaboração do plano de atendimento; socialização; re- elaboração da solução do problema e do plano de atendimento; avaliação. A proposta de formação ACR prepara o professor para perceber a singularidade de cada caso e atuar frente a eles. Nesse sentido, a formação não termina com o curso, visto que a atuação do professor requer estudo e reflexões diante de cada novo desafio. Finalizada a formação, é importante que os professores constituam redes sociais para dar continuidade aos estudos, estudar casos, dirimir dúvidas e socializar os conhecimentos adquiridos a partir da prática cotidiana. Para contribuir com estas ações, a internet disponibiliza várias ferramentas de livre acesso que podem ser utilizadas pelos professores. As tecnologias de informação e comunicação - TICs, em especial as tecnologias Web 2.0, possibilitam aos usuários o acesso às informações de forma rápida e constante. Elas permitem a participação ativa do usuário na grande rede de computadores e invertem o papel de usuário consumidor para usuário produtor de conhecimento, de agente passivo para agente ativo, o que pode ampliar as possibilidades dos programas de formação pautados em metodologias ativas de aprendizagem. Estas e outras ferramentas possibilitam viabilizar a construção coletiva do conhecimento em FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 86 torno das práticas de inclusão e, o mais importante, socializar estas práticas e fazer delas um objeto de pesquisa. 7. SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS As Salas de Recursos Multifuncionais são espaços localizados nas escolas de educação básica, onde se realiza o Atendimento Educacional Especializado - AEE. Essas salas são organizadas com mobiliários, materiais didáticos e pedagógicos, recursos de acessibilidade e equipamentos específicos para o atendimento aos alunos público alvo da educação especial, em turno contrário à escolarização. O Ministério da Educação, com o objetivo de apoiar as redes públicas de ensino na organização e na oferta do AEE e contribuir com o fortalecimento do processo de inclusão educacional nas classes comuns de ensino, instituiu o Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais, por meio da Portaria Nº. 13, de 24 de abril de 2007. Nesse processo, o Programa atende a demanda das escolas públicas que possuem matrículas de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou superdotados / altas habilidades, disponibilizando as salas de recursos multifuncionais, Tipo I e Tipo II. Para tanto, é necessário que o gestor do município, do estado ou do Distrito Federal garanta professor para o AEE, bem como o espaço para a sua implantação. As Salas de Recursos Multifuncionais Tipo I são constituídas de microcomputadores, monitores, fones de ouvido e microfones, scanner, impressora laser, teclado e colmeia, mouse e acionador de pressão, laptop, materiais e jogos pedagógicos acessíveis, software para comunicação alternativa, lupas manuais e lupa eletrônica, plano inclinado, mesas, cadeiras, armário, quadro melanínico. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 87 As Salas de Recursos Multifuncionais Tipo II são constituídas dos recursos da sala Tipo I, acrescidos de outros recursos específicos para o atendimento de alunos com cegueira, tais como impressora Braille, máquina de datilografia Braille, reglete de mesa, punção, soroban, guia de assinatura, globo terrestre acessível, kit de desenho geométrico acessível, calculadora sonora, software para produção de desenhos gráficos e táteis. 7.1. CONHECENDO ALGUNS RECURSOS ACESSÍVEIS a) Jogo Cara a Cara: O objetivo do jogo é encontrar a outra cara igual a que o outro participante tem em mãos. Crianças com cegueira têm a possibilidade de encontrar os pares em função das texturas, e crianças com baixa visão, em função das cores contrastantes. O jogo foi feito em borracha e com retângulos em tamanho grande para permitir que crianças com dificuldades motoras possam jogar. Dessa forma, o jogo permite a participação de todos. b) Maquete da planta baixa: Uma maquete de planta baixa pode ser confeccionada com diferentes materiais, como o papel cartão, o papel camurça e outros. Esse material proporciona a percepção do ambiente, a orientação espacial e a mobilidade. c) Máquina Braille d) Jogo da velha e dominó: Estes jogos são constituídos de peças e tabuleiro em diferentes materiais, texturas, cores e formas geométricas que permitem acessibilidade para alunos com cegueira ou com baixa visão. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 88 e) Teclado com colmeia: A colmeia é um recurso da tecnologia assistiva feita em acrílico transparente com furos coincidentes às teclas do teclado comum. A colmeia facilita a digitação do aluno com dificuldade motora. f) Mouse e acionador de pressão: O acionador de pressão, conectado ao mouse, é utilizado por alunos com deficiência física. Por exemplo, em casos em que os alunos apresentam amputação de braços, o acionador poderá ser ativado com o queixo ou, se o aluno apresenta dificuldades motoras nas mãos, o acionador poderá ser ativado com o movimento do cotovelo. g) Aranha-mola: O recurso da tecnologia assistiva denominado Aranha-mola é produzido com um arame revestido, onde os dedos e a caneta são encaixados. O objetivo deste recurso é estabilizar ou auxiliar nos movimentos de pessoas com deficiência física nas atividades em que utilizam lápis, caneta ou pincel. Considerações Finais A garantia de acesso, participação e aprendizagem de todos os alunos nas escolas contribui para a construção de uma nova cultura de valorização das diferenças. Este fascículo destacou em seus tópicos a importância de se rever a organização pedagógica e administrativa das escolas para que estas possam tornar-se espaços inclusivos. Do ponto de vista da escola comum, ressaltou-se o papel do Projeto Político Pedagógico como instrumento orientador desses espaços e a participação e comprometimento dos professores na elaboração e execução desse Projeto. Quanto à Educação Especial, reiteramos a necessidade de esta modalidade de ensino ser parte integrante do PPP, para que seus serviços possam ser implementados na perspectiva da educação inclusiva, como prevê a Política Nacional da Educação Especial. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 89 O entrelaçamento dos serviços de Educação Especial, entre os quais o Atendimento Educacional Especializado, conjuga igualdade e diferenças como valores indissociáveis e como condição de acolher a todos nas escolas. As ações para consolidação do AEE exigem firmeza e envolvimento de todos os que estão se empenhandopara que as escolas se tornem ambientes educacionais plenamente inclusivos. Nessa caminhada em favor de uma escola para todos, a educação especial brasileira tem tomado decisões e iniciativas que surpreendem pela ousadia de suas propostas e coerência de seus posicionamentos com o que nossa Constituição de 1988 prescreve como direito à educação. A possibilidade de inventar o cotidiano (CERTEAU, 1994) tem sido a saída adotada pelos que colocam sua capacidade criadora para inovar, romper velhos acordos, resistências e lugares eternizados na educação. É a determinação e um forte compromisso com a melhoria da qualidade da educação brasileira que está subjacente a todas essas mudanças que estão propostas pela Política atual da Educação Especial. FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO FCE – Faculdade Campos Elíseos Núcleo de Pós Graduação em Educação Rua Vitorino Carmilo, 644 – Bairro de Campos Elíseos São Paulo / SP - CEP. 01153-000 Telefones: 11-3661-5400 90 Referências AZANHA, J. M. P. Autonomia da escola: um reexame. In: Série Idéias, n.16, São Paulo: FDE, 1993. BONDÍA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. In: Revista Brasileira de Educação, Jan/Fev/Mar/Abr 2002, nº. 19, p. 20-28. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. 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