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Princípio da dignidade da pessoa humana como instrumento de reconhecimento do direito sucessório às famílias simultâneas

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Princípio da dignidade da
pessoa humana como
instrumento de
reconhecimento do direito
sucessório às famílias
simultâneas
Hemerson Daniel Fernandes de Sousa
A legislação brasileira é omissa no que diz respeito ao
reconhecimento de famílias simultâneas para fins de
direito sucessório, mas o tema vem sendo tratado pela
doutrina e jurisprudência.
RESUMO:A legislação brasileira é omissa no que diz
respeito ao reconhecimento de famílias simultâneas para
https://jus.com.br/976259-hemerson-daniel-fernandes-de-sousa/publicacoes
fins de direito sucessório. O tema, cada vez mais
recorrente nos tribunais, vem sendo tratado apenas pela
doutrina e pela jurisprudência, de modo que o presente
trabalho, que busca uma análise dessa relação familiar,
vem pautado apenas nestas duas fontes. O
reconhecimento de famílias simultâneas para o direito
sucessório compreende aquelas que envolvam um
casamento e uma união estável ou até mesmo entre duas
ou mais uniões estáveis, englobando, inclusive, as
relações homoafetivas, tema cada vez mais recorrente no
cenário jurídico e político brasileiro. Em razão dessas
diversas formas de relação familiar, é salutar que exista
uma análise do tema baseada no princípio da dignidade
da pessoa humana.
PALAVRAS-CHAVE:Casamento; união estável; família;
sucessões; famílias simultâneas; direito civil; direito das
sucessões; dignidade da pessoa humana.
INTRODUÇÃO
“Ah, esses moralistas... Não há nada que empeste mais
que um desinfetante”. (Mário Quintana)
Não é novidade para a sociedade brasileira, muito menos
para os Tribunais, a existência de famílias simultâneas.
Todavia, o seu reconhecimento encontra uma grande
barreira no Poder Legislativo, o que também não é
novidade quando se trata de assuntos polêmicos, uma
https://jus.com.br/tudo/direito-civil
vez que muitos dos nossos parlamentares preferem
permanecer omissos nesses casos, a bater de frente com
a opinião pública e seu eleitorado. Pois bem, essa
dificuldade em se debater o tema, alimentada pela
“moralização” do direito e das relações sociais, tem feito
que ele encontre espaço apenas na doutrina e nos
tribunais.
O Direito é feito pela sociedade e para sociedade. No
entanto, não consegue acompanhar com a mesma
velocidade a dinâmica das relações sociais e
consequentemente das relações familiares. Ao longo do
tempo o conceito e a forma de estruturação da família
vêm sofrendo mutações e muitas delas ainda não estão
previstas em lei, entre elas, as famílias simultâneas.
O fato de a sociedade não ver com bons olhos a
existência dessa relação familiar não exclui a sua
existência. Elas estão ai e precisam ser amparadas pelo
direito, sob pena de que se cometam injustiças e que se
fira o princípio do acesso ao judiciário. A dinâmica do
direito dá espaço para o surgimento dessas novas
relações sociais e familiares e exige que o direito crie
formas de tutelá-las.
Antes de adentrarmos no mérito a que o artigo se propõe,
é importante uma conceituação do que são as famílias
simultâneas. Em breves palavras, essa relação familiar se
dá quando o cônjuge no casamento ou o companheiro na
união estável mantém uma relação familiar paralela à sua
família constituída. Ou seja, isso nunca foi novidade desde
a existência da humanidade.
Tal relação é muitas vezes vista pela sociedade como
adultério, traição ou um “lance”, como tem se colocado
nas letras de música. O problema e que não se trata
apenas de um caso, mas de uma relação duradoura,
muitas vezes pública e com filhos, criando uma nova
família. A visão e postura monogâmica adotada pela
nossa sociedade desde sua concepção é o principal
instrumento que faz com que essas novas relações
familiares tenham dificuldade de serem aceitas pela
sociedade.
De forma lúcida, a ilustre professora Maria Berenice Dias
traça alguns comentários acerca do tema:
Pelo jeito, infringir o dogma da monogamia
assegura privilégios. A mantença de duplo
relacionamento gera total irresponsabilidade. Uniões
que persistem por toda uma existência, muitas vezes
com extensa prole e reconhecimento social, são
simplesmente expulsas da tutela jurídica. A essa
“amante” somente se reconhecem direitos se ela
alegar que não sabia da infidelidade do parceiro. Para
ser amparada pelo direito precisa valer-se de uma
inverdade, pois, se confessa desconfiar ou saber da
traição, recebe um solene: bem feito! É condenada por
cumplicidade, “punida” pelo adultério que não é dela,
enquanto o responsável é “absolvido”. Quem mantém
relacionamento concomitante com duas pessoas sai
premiado. O infiel, aquele que foi desleal permanece
com a titularidade patrimonial, além de ser desonerado
da obrigação de sustento para com quem lhe dedicou
a vida, mesmo sabendo da desonestidade do parceiro.
Paradoxalmente, se o varão foi fiel e leal a uma única
pessoa, é reconhecida união estável, e imposta tanto a
divisão de bens como a obrigação alimentar. A
conclusão é uma só: a justiça está favorecendo e
incentivando a infidelidade e o adultério!
Para Maria Berenice Dias, o não reconhecimento de
famílias simultâneas não condiz com a realidade, é fechar
os olhos para conjuntura atual da sociedade. Esse “fechar
os lhos” é um caminho para o cometimento de diversas
injustiças. Ora, numa sociedade onde já se concede
direito a vários modelos de famílias, monoparentais,
homoafetivas, pluriparentais, eudemonistas, etc, não
existe razão de ser ao não reconhecimento de famílias
simultâneas. Negar direitos a uma família por não se
concordar com a sua formação não condiz com o Estado
Democrático de Direito.
DA AUSÊNCIA DE AMPARO LEGAL ÀS
FAMÍLIAS SIMULTÂNEAS
A importância de discussões, sejam doutrinárias, sejam
jurisprudenciais acerca do tema simultaneidade familiar é
inegável. Todavia, o não reconhecimento legal dessa
relação familiar acaba tornando-a apenas como uma
situação de fato e não de direito, o que não impede a
existência de decisões acanhadas sobre o tema.
Como dito no parágrafo anterior, a falta de normas que
regulem as famílias simultâneas não tornam o
ordenamento jurídico alheio a esse tema, mesmo que a
tenha apenas como uma relação de fato e não direito. Sua
tutela apresenta-se amparada pelos princípios, que
estabelecem uma espécie de canal entre mundo exterior,
que muda constantemente de forma bem mais rápida e
mundo das normas que o acompanha, porém de forma
mais lenta. É esse canal que permite a tutela das relações
de sucessão envolvendo famílias simultâneas.
As relações entre os indivíduos, sejam elas quais forem,
necessitam de regulamentação e amparo jurídico e legal.
Posto isto, não existe razão de ser numa omissão do
Estado para regulamentar esse tipo de relação familiar. As
famílias simultâneas estão aí, existem de fato e precisam
de amparo legal sob pena de não concederem direitos a
terceiros que podem ser entendidos como direitos
fundamentais e de violação do princípio da dignidade da
pessoa humana, tão valioso para o nosso ordenamento
jurídico.
A FAMÍLIA MONOGÂMICA
Antes de começar a traçar algumas considerações, faz-se
oportuno trazer o pensamente de dois civilistas de grande
importância, cada uma em seu tempo, Washington de
Barros Monteiro e Rodrigo da Cunha Pereira,
respectivamente:
Em todos os países em que domina a civilização cristã, a
família tem base estritamente monogâmica, que, no dizer
de Clóvis, é o modo de união conjugal mais puro, mais
conforme os fins culturais da sociedade e mais
apropriado à conservação individual, tanto para os
cônjuges como para a prole. A monogamia constitui a
forma natural de aproximação sexual da raça humana.
(MONTEIRO, 2001, v.2, p.54)
Por sua vez, Rodrigo da Cunha Pereira expõe:
Começa-se, então, a fazer distinções através das
expressões “concubinato puro” e “concubinato
impuro”. Essas expressões veiculam estigmas morais
com as quais não se pode concordar. Porém, é
necessário fazer uma distinção entre concubinato
adulterino e não adulterino. Tal distinção não tem a
função de discriminar ou de “moralizar”. A importância
desta distinção está em manter a coerência em nosso
ordenamentojurídico com o princípio da monogamia.
Se assim não o fizéssemos, estaríamos destruindo um
princípio jurídico ordenador da sociedade. Todo o
Direito de Família está organizado em torno desse
princípio, que funciona, também, como um ponto-
chave das conexões morais. (DIAS e PEREIRA, 2002, p.
231).
Antes de mais nada é importante ressaltar que a
monogamia, tal como é posta, não se trata de uma
determinação moral empurrada goela a baixo, mais de
uma imposição do nosso próprio ordenamento jurídico. O
comportamento moral das pessoas atua como um
indicativo para a criação das leis. Todavia, o
descumprimento desses indicativos não resulta em
nenhuma reprimenda jurídica, mas tão somente num
desconforto social por parte daqueles que não aceitam tal
conduta. Diferentemente, aqueles que descumprem
preceitos legais, tais como a imposição da monogamia,
sofrem restrições jurídicas. No caso da monogamia,
especificamente, gera restrições tanto de natureza civil
como de natureza penal.
Mesmo estando arraigada a cultura brasileira, a
monogamia, tão como é conceituada pelo próprio
significado da palavra, está contida de forma expressa na
Constituição Federal de 1988, tão pouco em qualquer
outra norma que verse sobre Direito de Família.
Partido desse ponto é importante destacar que a
monogamia não é um princípio jurídico, pois, como dito
anteriormente, não vem contida de forma expressa na
Carta Magna, nem na legislação infraconstitucional.
Contudo, a sua defesa de forma inflexível acaba batendo
de frente e desrespeitando princípios basilares previstos
na Constituição, como o princípio da dignidade da pessoa
humana, pois diz que aquelas formas que determinadas
famílias escolheram para se formar não são corretas, pois
não seguem determinados princípios e regras morais,
portanto não merecem reconhecimento legal e
consequente amparo jurídico.
A constatação do não reconhecimento expresso da
monogamia no ordenamento jurídico pátrio nos leva a
reflexão de qual motivo então faz com que se defenda
com tanta veemência a manutenção do modelo
monogâmico no Brasil. A resposta mais óbvia é a
proibição expressa da bigamia o que de forma inversa
acaba estimulando a defesa da monogamia.
Assim preceitua o Código Penal:
Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo
casamento:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai
casamento com pessoa casada, conhecendo essa
circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de
um a três anos.
§ 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro
casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia,
considera-se inexistente o crime.
Ora, se no plano jurídico apenas a bigamia é colocada no
ordenamento jurídico como relação de simultaneidade
familiar proibida pela legislação pátria, as demais formas
apresentam-se apenas como reprovabilidade moral.
Portanto, não cabe ao Estado fazer qualquer tipo de
imposição para que esses tipos de relações e modelos
familiares se enquadrem no modelo monogâmico, muito
menos que se adéquem ao que é moralmente aceito.
Como dito no inicio desse trabalho, a existência de
famílias simultâneas não se apresenta como novidade, tão
pouco o fato das pessoas traírem seus cônjuges ou
companheiros. Isso sempre existiu e, com a dinâmica das
relações sociais e a proximidade cada vez maior entre
pessoas pelas redes sociais, parece que tem se tornado
mais frequente. Se não é verdade que tem se tornado
mais frequente, pelo menos podemos dizer que casos de
traição tem tido cada vez mais publicidade. A questão é
que, levando em consideração essa elevação dos casos
ou de publicidade dos casos, poderíamos pensar se ainda
existe a monogamia.
A verdade é que relações exclusivamente monogâmicas
tem sido cada vez menos frequentes. A sociedade impôs
um ritmo de desvinculação desse modelo considerado
por muitos um modelo machista e ultrapassado, para
aceitar novos modelos de relações familiares mais amplos
que atendam as necessidades das pessoas na atualidade.
Todavia, o ordenamento jurídico e aqueles responsáveis
pela mutação, nosso parlamento, tem tomado uma
postura cada vez mais reacionária, indo na contramão do
caminho seguido pelos novos modelos de família.
A legislação atual proíbe expressamente a existência de
dois casamentos (bigamia). Todas as demais relações de
simultaneidade familiar são questionadas a partir de uma
tese de não seguimento do modelo monogâmico, não
amparada pelo nosso ordenamento jurídico pátrio.
Enquanto não se regulam tais relações, as mesas dos
juízes continuaram cada vez mais abarrotadas de
processos questionando a legalidade e a
constitucionalidade da forma que determinadas famílias
escolheram para se constituir.
DAS FORMAS DE SIMULTANEIDADE FAMILIAR
Uma das formas mais comuns de simultaneidade familiar
e que não encontram tanta ou quase nenhuma rejeição na
sociedade, é aquela onde os filhos, após a separação dos
pais, passam a conviver em dois núcleos familiares, cada
um composto por um dos pais juntamente com a
madrasta ou padrasto. Podemos considerar essa forma
de simultaneidade familiar como aquela vista pela
perspectiva da filiação.
Como dito anteriormente, esse espécie de simultaneidade
familiar vista sob o ponto da filiação já não encontra mais
resistência na sociedade, pois a separação entre os pais
entre os pais não encerra o vínculo entre filhos. Ou seja,
estes sempre serão um elo entre pais.
Todavia, quando a forma de simultaneidade familiar passa
do prisma da filiação para a simultaneidade conjugal, já
encontra enorme resistência por parte da sociedade,
usando como argumento de rejeição o princípio da
monogamia, se é que ele existe.
Partindo desse pseudo-princípio, a sociedade e o Poder
Judiciário têm fechado os olhos para esse tipo de relação
familiar, julgando-o moralmente inaceitável, colocando
todos os tipos de simultaneidade familiar no mesmo
balaio de qualquer traição ou adultério. O caso é que
existe uma diferença abissal entre uma mera traição e
uma relação familiar, baseada na continuidade e na
afetividade, muitas vezes gerando até filho como já dito
anteriormente. O problema é que a moralização da família
coloca-se como pedra no caminho para que sejam
criadas formas de tutelar os direitos a este modelo
familiar e sua consequente aceitação por parte da
sociedade. Ou pelo menos respeito.
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A DIFERENÇA
ENTRE A SIMULTANEIDADE FAMILIAR E O ADULTÉRIO
Importante começar essa abordagem com a afirmação de
que não é qualquer tipo de relação afetiva que pode ser
considerada como entidade familiar. Pela importância que
esse assunto representa no mundo jurídico, existem
pressupostos mínimos que devem ser observados, até
mesmo para que as formas de simultaneidade familiar não
sejam confundidas como meras traições.
O primeiro ponto a ser observado é a intenção de
continuidade, de construírem algo juntos e existência de
uma boa-fé objetiva, que estabelece a existência de um
respeito mutuo.
Isso por si só mostra que nem toda relação afetiva como
um mero adultério podem ser consideradas como família.
Ou seja, deve haver no mínimo uma característica familiar,
imposta pela intenção de continuidade.
Partindo dessa chamada intenção de continuidade, outro
ponto que merece destaque é o pré-requisito de
durabilidade para que determinado relacionamento possa
ser considerado uma família. Ora, não se mede a relação e
o afeto entre duas pessoas pelo tempo que ela dura. A
intenção de instituição de uma família entre duas pessoas
pode ser comprovada por pessoas próximas e que
possam testemunhar.
Entre os principais requisitos colocados para o
reconhecimento de entidade familiar para as relações de
simultaneidade familiar estão a boa-fé, afetividade,
coexistência e estabilidade.
O pré-requisito da boa-fé apresenta-se como o principal
e mais polêmico. Este se divide em boa-fé subjetiva e
boa-fé objetivo. Aquela diz respeito ao desconhecimento
de uma situação jurídica anterior, ou seja, do casamento
anterior de um dos cônjuges. Se esse desconhecimento
existe é porque um dos cônjugesomitiu, o que já
desrespeita a boa-fé objetiva que reza pelo respeito
mutuo e pela busca de um dos companheiros ou cônjuges
não frustrarem os outros. A partir do momento que um
dos cônjuges sabe da relação anteriormente estabelecida
e aceita se manter na relação, este fere a boa-fé subjetiva,
que preza pelo desconhecimento da situação jurídica
anterior.
Continuando a análise dos demais elementos, temos a
afetividade como um dos principais pontos que tem
embasado decisões pioneiras no direito civil,
especialmente no que diz respeito a sucessões.
Inegável é que o afeto encontra-se presente nas relações
familiares tradicionais, sendo caracterizadas no
tratamento/relação mútuo entre os cônjuges e destes
para com seus filhos, que se vinculam não só pelo
sangue, mas por amor e carinho.
A valorização do elemento afeto como basilar na sua
formação e delineação de relação de parentesco é uma
das novas concepções da ordem civil trazida pelo atual
texto de Código Civil.
Ao lado da afetividade, apresentam-se a coexistência e a
estabilidade. Relações esporádicas não podem ser
consideradas relações familiares. São esses itens que
diferenciam um simples adultério de uma relação de
simultaneidade familiar. Tal reconhecimento pode ser
feitos até mesmo por pessoas próximas ao casal.
Em suma, a observância desses aspectos, quais sejam,
boa-fé, afetividade, coexistência e estabilidade são
fundamentais para que determinada relação seja
considerada como simultaneidade familiar.

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