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A FÁBULA DO SILÊNCIO - Edgar Allan Poe

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Prévia do material em texto

Edgar Allan Poe
A fábula do silêncio
 
 
Tradução
Laura S. Azevedo
 
Revisão
Lilian S. Azevedo e Eduarda W. Thompson
 
A Fábula do Silêncio
Silence: A Fable – Publicado em 1838
 
Dormem os pináculos da montanha; vales, penhascos e cavernas
silenciam.
 
Alcman
 
– Ouça-me – disse o Demônio, ao colocar a mão sobre minha cabeça. – A
região da qual falo é uma região sombria na Líbia, às margens do Rio
Zaire. Não há quietude lá, nem silêncio.
– As águas do rio são de um doentio tom âmbar e não fluem para o mar,
mas palpitam eterna e incessantemente sob o olhar rubro do sol em um
movimento tumultuado e convulsivo. Em ambos os lados do leito lodoso
do rio há um pálido deserto de gigantescos nenúfares que se estende por
muitos quilômetros. Eles suspiram uns sobre os outros naquela solidão,
esticam seus pescoços longos e medonhos em direção ao céu, acenando de
um lado para o outro suas cabeças perenes. E havia um murmúrio
indistinto que saía do meio das plantas como o jorrar das águas
subterrâneas. E eles suspiram uns sobre os outros.
– Mas há um limite para seus domínios; a fronteira da grandiosa, horrível
e obscura floresta. Lá, os arbustos baixos agitam-se de forma contínua,
como as ondas nas ilhas Hébridas. Mas não há vento que sopre pelo céu. E
as altas árvores primitivas balançam de um lado para o outro num
movimento eterno com um som forte e imponente. E de seus altos cumes,
uma a uma, caem gotas de orvalho sem fim. E nas raízes, estranhas flores
venenosas contorcem-se em um sono inquieto. E acima, com o barulho
alto do farfalhar das folhas, as nuvens cinzentas correm para o oeste
continuamente, até que se juntam a uma catarata sobre a parede ígnea do
horizonte. Mas não há vento que sopre pelo céu. E às margens do rio Zaire
não há quietude, nem silêncio.
– Era noite e a chuva caía. Caindo, era chuva, mas tendo caído, era sangue.
E fiquei no pântano por entre os altos lírios e a chuva caiu sobre minha
cabeça – e os lírios suspiraram entre si na solenidade de sua desolação.
– E, em um rompante, a lua surgiu através da sinistra névoa tênue; tinha
um tom escarlate. E os olhos que a mim pertencem pairaram sobre uma
imensa rocha cinzenta à margem do rio, iluminada pela luz da lua. E a
rocha era cinzenta, horripilante e alta, – e a rocha era cinzenta. Na fronte
da rocha haviam caracteres gravados; e eu atravessei o emaranhado de
nenúfares até me aproximar da margem, para que pudesse ler os caracteres
na rocha. Mas não pude decifrá-los. E eu estava voltando para o pântano
quando a lua brilhou com um vermelho mais intenso e voltei a observar a
rocha, e os caracteres – e os caracteres eram D-E-S-O-L-A-Ç-Ã-O.
– E eu olhei para cima, e lá havia um homem no cume da rocha; escondi-
me entre os nenúfares para descobrir o que faria o homem. E o homem era
alto e imponente em aparência e vestia uma toga da Roma antiga que ia
dos ombros aos pés. E os contornos de sua silhueta eram indistintos – mas
suas feições eram feições de uma divindade; pois o manto da noite, da
névoa, da lua e do orvalho havia deixado descobertas as feições de seu
rosto. E sua sobrancelha era erguida pelo pensamento, e seus olhos
cuidadosamente selvagens; e, nos poucos sulcos de sua bochecha eu lia as
fábulas de tristeza, cansaço e desgosto com a humanidade e um desejo de
solidão.
– E o homem se assentou sobre a rocha e, apoiando a cabeça sobre a mão,
observou a desolação. Ele olhou para baixo, direcionando o olhar para os
arbustos pequenos e inquietos, olhou para as altas árvores primitivas e
mais altas, para o céu farfalhante e a lua escarlate. E eu me mantive perto
dali, no abrigo dos lírios e observei as ações do homem. E o homem
tremeu na solidão – mas a noite esmoreceu, e ele se assentou sobre a
rocha.
– E o homem desviou a atenção do céu e olhou para o sombrio rio Zaire, e
sobre as horripilantes águas amarelas, e sobre a pálida legião dos
nenúfares. E o homem ouviu os suspiros dos nenúfares, e o murmúrio que
subia dos domínios daquelas flores. E eu me mantive no disfarce e
observei as ações do homem. E o homem tremeu na solidão – mas a noite
esmoreceu e ele se assentou sobre a rocha.
– Então adentrei as reentrâncias do pântano, e caminhei por entre o deserto
dos lírios, e invoquei os hipopótamos que habitavam nos lamaçais das
reentrâncias do pântano. E os hipopótamos ouviram meu chamado e se
aproximaram da base da rocha junto ao beemote, que rugiu alto e temeroso
sob a luz da lua. E eu me mantive no disfarce e observei as ações do
homem. E o homem tremeu na solidão – mas a noite esmoreceu e ele se
assentou sobre a rocha.
– Então invoquei os elementos com a maldição da tormenta, e uma terrível
tempestade se formou no céu onde antes não havia vento. E o céu ficou
pálido com a violência da tempestade – e a chuva se chocou contra a
cabeça do homem – e as ondas do rio se agitavam – e o rio atormentou-se
em espuma – e os nenúfares gritaram em seus leitos – e a floresta
desmoronou perante o vento – e o trovão rufou – e o relâmpago caiu – e a
rocha se agitou até sua fundação. E eu me mantive no disfarce e observei
as ações do homem. E o homem tremeu na solidão – mas a noite
esmoreceu e ele se assentou sobre a rocha.
– Então fui tomado pela raiva e amaldiçoei, com a maldição do silêncio, o
rio e os nenúfares, e o vento, e a floresta, e o céu, e o trovão, e os suspiros
dos nenúfares. E a maldição caiu sobre todos, impondo o silêncio. E a lua
deixou de percorrer seu caminho para o céu – e o trovão desapareceu – e o
relâmpago não brilhou – e as nuvens ficaram imóveis – e as águas
retornaram ao seu nível, assim ficando – e o movimento das árvores
cessou – e os nenúfares não mais suspiraram – e não se ouvia mais o seu
murmúrio, ou sinal algum de um som pelo vasto deserto sem fim. E eu
olhei para os caracteres da rocha, e já não eram mais os mesmos; – e os
caracteres eram S-I-L-Ê-N-C-I-O.
– E os olhos que a mim pertencem pairaram sobre o semblante do homem,
e seu semblante estava pálido de terror. E, rapidamente, ele levantou a
cabeça, que repousava sobre a mão e ficou de pé sobre a rocha. Escutou.
Mas não havia voz alguma por todo o vasto deserto sem fim, e os
caracteres sobre a rocha eram S-I-L-Ê-N-C-I-O. E o homem estremeceu, e
virou seu rosto, e fugiu para longe, com pressa, assim não mais o vi.
Há bons contos nos volumes dos Magos – nos volumes melancólicos dos
Magos. Neles, eu digo, há gloriosas histórias do céu e da Terra, e do
poderoso mar – e dos Gênios que governaram o mar, e a Terra, e o elevado
céu. Havia muito conhecimento também nos ditados proferidos pelas
Sibilas; e coisas sagradas e santas eram ouvidas nas folhas escuras que
tremulavam no entorno de Dodona – mas, como Alá vive, aquela fábula
contada pelo Demônio quando ele se sentou ao meu lado sob a sombra da
tumba, asseguro ser a obra mais maravilhosa de todas! E quando o
Demônio deu um fim à sua história, voltou à cavidade da tumba e riu. E
não consegui rir com ele, e por isso fui amaldiçoado. E o lince, que faz do
sepulcro sua eterna morada, saiu da tumba, e repousou aos pés do
demônio, o encarando.
Sobre o autor
 
Edgar Allan Poe nasceu em Boston, Estados Unidos, no dia 19 de janeiro
de 1809. Filho de pai americano e mãe inglesa, ambos atores, Poe tinha
ainda dois irmãos. Seu pai os abandonou quando ele tinha um ano e meio,
e sua mãe morreu no ano de 1811.
Após a morte da mãe, Edgar foi acolhido por uma família com boa
condição financeira, o que o permitiu receber uma educação de qualidade
desde a infância. Em 1815, aos seis anos, mudou-se com a família adotiva
para Londres, Inglaterra. Em 1820 retornou aos Estados Unidos e em 1826
entrou na Universidade de Virgínia, em Charlottesville, mas foi expulso
devido aos seus costumes desregrados.
Em 1827, Poe lança seu primeiro livro “Tamerlane and Other Poems”. No
ano de 1829 lança “Al Aaraf”, sua segunda obra. Mudou-se para
Baltimore, onde se instalou na casa de sua tia viúva Maria Clemm e de sua
prima, Virgínia Clemm. Nesse período, Poe sustentou-se com a escrita de
ficção. Em 1836 casou-se em segredo com a primaVirgínia, que na época
tinha treze anos.
Mudou-se para Nova Iorque no ano de 1837, onde passou por um período
pouco produtivo, mudando-se posteriormente para a Filadélfia. Em 1839
lança “Histórias Extraordinárias”, considerada uma das obras mais
importantes da literatura norte-americana.
Nessa época, sua esposa contraiu tuberculose. A doença levou Poe a
consumir álcool de forma excessiva. Voltou a Nova Iorque, trabalhando no
jornal Evening Mirror, no qual publicou em 1845 seu famoso poema “O
Corvo”. Adotando um estilo gótico, que abordava temas mórbidos, não
raro relacionados com a morte, é considerado um dos mais importantes
escritores do gênero.
Vírginia morreu em 1847, deixando o escritor em um estado de
instabilidade. Em 3 de outubro de 1849, Poe foi encontrado em um estado
de delírio nas ruas de Baltimore, e foi levado ao Washington College
Hospital, vindo a falecer no dia 7 de outubro. A causa de sua morte não foi
confirmada até os dias de hoje.
Conheça outras obras publicadas pelo
Literatura Descoberta
 
• Acampamento dos Mortos, Ambrose Bierce
• Uma Emboscada Surpreendente, Ambrose Bierce
• O Vale das Três Colinas, Nathaniel Hawthorne
• Isso não é uma História, O. Henry
• O Caçador de Detetives, O. Henry
• Cara de Lua, Jack London
• A Ilha da Fada, Edgar Allan Poe
• O Milésimo Segundo Conto de Sherazade, Edgar Allan Poe
• Von Kempelen e sua Descoberta, Edgar Allan Poe
• O Fabricante de Diamantes, H.G. Wells
Copyright © 2019 de Laura Scaramussa Azevedo
 
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de forma alguma sem autorização expressa, por escrito, da tradutora,
exceto pelo uso de citações breves devidamente referenciadas em uma
resenha do e-book ou em produções acadêmicas.
 
Primeira edição, 2019.
 
 
A versão original do texto, em inglês, está disponível no portal do
Domínio Público.
 
E-mail para contato: literaturadescoberta@gmail.com
 
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