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Anemia megaloblástica Referência: Tratado de pediatria Nelson 20°ed; Medcel 2020 Obs: as doses estão de acordo com Nelson 20°ed A anemia megaloblástica descreve um grupo de distúrbios que são causados pela síntese de DNA prejudicada. A maioria dos casos de anemia megaloblástica da infância resulta de uma deficiência de ácido fólico ou vitamina B12 (cobalamina), vitaminas essenciais para a síntese do DNA. As células precursoras da hematopoese na medula óssea estão entre as que têm maior replicação no organismo humano e, portanto, são as mais sensíveis as alterações na síntese de DNA causadas pela deficiência de B12 e/ou folato. Ocorrem dois defeitos principais na hematopoese: a transformação megaloblástica, causada por defeito na divisão celular e que cursa com hemácias macrocíticas e neutrófilos hipersegmentados no sangue periférico, e eritopoese insuficiente, que ocorre quando existe morte prematura das células precursoras eritopoéticas da medula óssea (por fagocitose ou endocitose). O diagnóstico da deficiência B12 e de ácido fólico baseia-se na identificação de uma anemia com eritrócitos grandes e detecção de concentrações baixas de uma ou de ambas as vitaminas nos exames de sangue. O diagnóstico é confirmado por meio de uma amostra de medula óssea que revela precursores dos eritrócitos grandes e imaturos. Deficiência de ácido fólico A anemia megaloblástica como consequência da deficiência de folato tem seu pico de incidência aos 4-7 meses de idade, um pouco mais cedo do que a anemia ferropriva, embora ambas as condições possam estar presentes concomitantemente em lactentes com má nutrição. O folato está presente em alimentos de origem vegetal (folhas verde-escuras) e animal (fígado). É um comporto muito importante para o corpo humano, uma vez que age no núcleo celular para sintetizar purinas e pirimidinas que serão usadas na síntese do DNA. Obs: folato é a vitamina B9 tiologia: -Ingestão inadequada de folato: A anemia causada pela ingestão insuficiente de folato geralmente ocorre no contexto de necessidades aumentadas de vitamina associadas à gravidez, períodos de crescimento acelerado e/ou hemólise crônica; na gravidez ocorre passagem de ácido fólico para o feto, porém com o nascimento os bebês prematuros ou doentes e aqueles com certos distúrbios hemolíticos terão elevadas necessidades de folato; o leite humano, as fórmulas infantis e o leite de vaca pasteurizado fornecem quantidades adequadas de ácido fólico; a desnutrição é a causa mais comum de deficiência de ácido fólico em crianças mais velhas, com uma dieta livre de ácido fólico, a anemia megaloblástica acontecerá em 2-3 meses (é recomendado suplementar ácido fólico na gestação até 12 semanas para evitar defeitos na formação do tubo neural) Fármacos anticonvulsivantes podem reduzir absorção de folato Abuso de álcool também reduz absorção de folato Diarreia crônica e doença inflamatória difusa também prejudicam Cirurgia intestinal prévia -Anormalidades congênitas no metabolismo e transporte de folato Má absorção hereditária de folato (MAHF): a pessoa tem uma mutação genética e por isso não tem um gene transportador de ácido fólico, fica com pouco ácido fólico sérico e também em líquido cefalorraquidiano, podendo ter anormalidades neurológicas do SNC como convulsões, atraso no desenvolvimento e retardo mental Deficiência funcional de metionina sintase: pode causar anemia megaloblástica, nistagmo, cegueira e tônus muscular alterado -Anormalidades induzidas por drogas no metabolismo do folato: Anticonvulsivantes, Metotrexato, Pirimetamina, Primetoprima Características clínicas: Além das características clínicas associadas à anemia, lactentes e crianças com deficiência de folato podem manifestar irritabilidade, diarreia crônica, e/ou ganho de peso insatisfatório. Hemorragias por trombocitopenia podem ocorrer em casos avançados. A má absorção congênita de folato e outras etiologias raras de deficiência de folato podem, ainda, estar associadas à hipogamaglobulinemia, infecções graves, insuficiência de crescimento, anormalidades neurológicas e atrasos cognitivos. Achados laboratoriais: Anemia macrocítica, variação na forma e no tamanho dos eritrócitos, contagem de reticulócitos baixa, e hemácias nucleadas com morfologia megaloblástica são frequentemente visualizadas no sangue periférico. Neutropenia e trombocitopenia podem estar presentes, particularmente em pacientes com deficiências graves e de longa duração. Os neutrófilos são grandes, alguns com hipersegmentação nuclear. A medula óssea é hipercelular devido à hiperplasia eritroide, e alterações megaloblásticas são proeminentes. Formas neutrofílicas grandes, anormais (metamielócitos gigantes) com vacuolização citoplasmática também são observadas. Nível baixo de ácido fólico (o normal seria 5-20 ng/mL, sendo que abaixo de 4 é limítrofe e abaixo de 2 é baixo), sendo que para anemia crônica o melhor medidor é o nível eritrocitário de folato. Tratamento: Quando o diagnóstico da deficiência de folato é estabelecido, o ácido fólico pode ser administrado por via oral ou parenteral a uma dose de 0,5-1,0 mg/dia. Se o diagnóstico específico for duvidoso, doses menores (0,1 mg/dia) podem ser utilizadas durante uma semana como um teste diagnóstico, pois uma resposta hematológica pode ser esperada dentro de 72 horas. A terapia com ácido fólico (0,5–1,0 mg/dia) deve ser continuada durante 3-4 semanas até que uma resposta hematológica definitiva tenha ocorrido. A terapia de manutenção com um multivitamínico (contendo 0,2 mg de folato) é adequada. Deficiência de vitamina B12 A vitamina B12, um termo genérico que engloba todas as cobalaminas biologicamente ativas. A cobalamina é sintetizada exclusivamente por micro- organismos e os seres humanos devem confiar em fontes alimentares para atender às suas necessidades. As cobalaminas participam de reações enzimáticas que são fundamentais para síntese de DNA, RNA e de proteínas (atua como cofator na reação que devolve o grupo metil ao tetra-hidrofolato, permitindo ser reutilizado como doador de carbono, a ação conjunt do folato e da vitamina B12 é fundamental para a síntese de purinas e pirimidinas que compõe do DNA). A deficiência de vitamina B12 pode resultar da ingestão inadequada de Cobalaminal na dieta, da falta de fator intrínseco (proteína gástrica que se conjuga com a cobalamina no intestino para que ela possa ser absorvida), absorção intestinal deficiente de Cobalamina - Fator intrínseco ou ausência da proteína de transporte da vitamina B12. A vitamina B12 está presente em alimentos de origem animal, como carne animal, frutos do mar, ovos, leite e derivados; não está presente em alimentos de origem vegetal. Ultimamente a deficiência de B12 está muito atrelada a vegetarianos estritos que não fazem o devido acompanhamento com profissional nutricionista. Etiologia: - Ingestão inadequada de vitamina B12: Durante o período fetal acontece transporte placentário ativo de B12, contudo os estoques de B12 não são repostos pelo leite materno em filhos de mães com deficiência dessa vitamina, por isso é importante a triagem para reposição precoce de b12, uma vez que com o tempo podem ocorrer deficiências permanentes. Dieta vegetariana ou vegana restrita. - Absorção prejudicada: Cirurgia gástrica ou medicamentos que prejudicam a secreção de ácido gástrico, insuficiência pancreática, enterocolite necrosante neonatal, doença intestinal inflamatória, doença celíaca, remoção cirúrgica do íleo terminal, supercrescimento de bactérias intestinais dentro de divertículos (nesses casos trata com antibiótico), duplicações do intestino delgado, tênia do peixe (Diphyllobothrium latum). Deficiência hereditária do fator intrínseco (DHFI) é uma doença na qual ocorre falta de fator intrínseco gástrico ou fator intrínsecofuncionalmente anormal. Síndrome de Imerslund-Grasbeck é uma doença pediátrica rara, hereditária recessiva resultante de uma má absorção seletiva de vitamina B12, é resultante de mutação genética Anemia perniciosa clássica é uma doença na qual o paciente apresenta anticorpos contra fator intrínseco nas células gástricas (tem anticorpos contra outros elementos das células gástricas também). Ausência de proteína de transporte transcobalamina (TC) é uma causa rara de anemia megaloblástica, observa-se insuficiência de crescimento, diarreia, vômitos, glossite, anormalidades neurológicas e anemia megaloblástica, contudo o paciente fica com B12 em nível normal por que 80% da B12 é transportada no sangue por outra proteína, a HC. Helucobacter pylori -Erros inatos do metabolismo de cobalamina Manifestações clínicas: Crianças com deficiência de cobalamina frequentemente apresentam manifestações inespecíficas como fraqueza, letargia, dificuldades de alimentação, insuficiência de crescimento e irritabilidade. Outros achados comuns incluem palidez, glossite, vômitos, diarreia e icterícia. Sintomas neurológicos podem incluir parestesia, déficits sensoriais, hipotonia, convulsões, atraso no desenvolvimento, regressão do desenvolvimento e alterações neuropsiquiátricas. Achados laboratoriais: Anemia macrocítica (VHS aumentado), neutrófilos grandes e hipersegmentados, neutropenia, trombocitopenia.Nníveis séricos de vitamina B12 estão baixos, e as concentrações séricas de ácido metilmalônico e homocisteína geralmente estão elevadas. As concentrações de ferro sérico e de ácido fólico sérico estão normais ou elevadas. A atividade da desidrogenase lática (DHL) sérica está acentuadamente aumentada, um reflexo da eritropoese ineficaz. A excreção excessiva de ácido metilmalônico na urina (quantidade normal, 0-3,5 mg/24 h) é um indicador confiável e sensível da deficiência de vitamina B12. Diagnóstico: Fundamental medir o nível de B12 total e frações, o nível de ácido metilmalônico na urina (quantidade normal: 0-3,5 mg/24 h) também é um índice sensível de deficiência de vitamina B12. Tratamento: A causa da anemia é que dita a dose e o tempo do tratamento. A exigência fisiológica para vitamina B12 é de cerca de 1-3 μg/dia. Decifiência de ácido fólico Reticulócitos diminuídos; VCM aumentado; folato sérico diminuído; vitamina B12 normal Deficiência de vitamina B12 Reticulócitos diminuídos, VCM aumentado, vitamina B12 diminuida, folato normal
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