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03 Publicação anual do Curso de Pedagogia da FAMA - Faculdade Aldete Maria Alves Mantenedora Instituição Ituramense de Ensino Superior Presidente Eva Dias de Freitas Diretoria Acadêmica Prof. Ana Paula Pereira Arantes Coordenadora do Curso de Pedagogia Prof. Naime Souza Silva Edição e Revisão Eduardo Barbuio Design e Diagramação César Bechara Faculdade Aldete Maria Alves - FAMA Av. Rio Paranaíba, 1295 - Centro Iturama - MG - CEP 38280-000 Tel.: (34) 3411-9700 www.facfama.edu.br Índice O AVESSO DA INCLUSÃO Celso Antunes RECORTES SOBRE A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE ITURAMA- MG - OS DIFERENTES SIGNFICADOS DESTE PASSADO Léo Huber JOGOS E CONHECIMENTOS SISTEMATIZADOS Luzia Magna Soares Alvarenga / Fabiana Rodrigues F. Lima / Francisca Eva da Silva / Maria Aparecida Lio / Maria Guilhermina R. D. Barbosa O SER INFANTIL DA LITERATURA Ilma Rodrigues L. Alves / Rosiley Queiroz V. Portilho / Geralda Nair de Andrade / Glauciene B. de Oliveira / Rosania Márcia de Freitas A IMPORTÂNCIA DA PRESENÇA DA FAMÍLIA NO CONTEXTO ESCOLAR Elisângela Maria Cavalcante / Luciane Alves Rodrigues / Maria José dos Santos Dantas / Marlei Aparecida Real Arruda Faria / Valquíria Bernardino da Silva UMA RÁPIDA ANÁLISE SOBRE O PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM José Henrique de Oliveira EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E O CONTEXTO DO ESPORTE NA ESCOLA Rodrigo Barbuio EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: RELATOS DE EXPERIÊNCIAS Gilvânia Queiroz de Oliveira / Rosilene Freitas Minaré / Nêomia Aparecida de Urzedo Bernardo / Luzia Luiza Moreira PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR Aparecida Francisca da Silva / Flaviana Ribeiro Costa / Helen Santos de Oliveira / Nevilda Martha Dias Queiroz WEB 2.0 E A CONSTRUÇÃO COLETIVA DO CONHECIMENTO César de Mello Bechara / Eduardo Barbuio O ENSINO DA LITERATURA INFANTIL E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL Nevilda Martha Dias Queiroz TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO ‘CONTRIBUIÇÃO SOCIAL’ Kellen Cristine Almeida Mamede AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: PROPOSTAS PARA A EDIFICAÇÃO DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS DE QUALIDADE Naime Souza Silva 07 09 22 35 40 49 53 56 61 68 76 80 30 Naime Souza Silva Coordenadora do curso de Pedagogia da FAMA e-mail: naimefama@hotmail.com APRESENTAÇÃO É com grande orgulho que lançamos mais um número da Revista Pedagogia em Foco, produzida pelo curso de Pedagogia da Faculdade Aldete Maria Alves – FAMA. Chegamos à terceira edição. A Revista Pedagogia em Foco foi criada em 2006, é uma revista científica anual, voltada para a Educação. Este periódico é dirigido à comunidade científica: estudantes de graduação, professores, pós- graduandos e profissionais que atuam nas áreas correlatas a Pedagogia. Dessa maneira, a Revista Pedagogia em Foco é um veículo para a divulgação da pesquisa, com a finalidade de disseminar e construir o conhecimento, ampliando e promovendo o debate acerca de assuntos de interesse da comunidade científica e da sociedade dos dias de hoje. Esta revista pretende ser um espaço para a produção científica dentro de nossa faculdade, desenvolvendo a metodologia do trabalho acadêmico e promovendo a publicação de artigos voltados à discussão pedagógica. Boa leitura! A leitura especializada é útil, a diversificada dá prazer. Sêneca PREFÁCIO As instituições de ensino superior têm como função transmitir o saber historicamente acumulado pela huma- nidade, produzir conhecimentos novos e originais, formar profissionais de que a sociedade necessita e contribuir para a evolução social e cultural. Em sintonia com o cumprimento dessa missão, lançamos a terceira edição da revista Pedagogia em Foco que vem sendo publicada pela Faculdade Maria Aldete Alves (FAMA) a fim de divulgar e de estimular a pesquisa e a reflexão referente a temas que estão em voga no meio pedagógico e que são de suma importância para a sociedade atual. Por conseguinte, nesta edição o tema que norteia os textos apresentados é: A educação e suas interfaces. Para abordar o tema em questão a revista contou com textos produzidos por discentes e docentes do curso de Pedagogia da FAMA e de profissionais convidados de outras áreas ligadas a educação. Iniciamos com uma crônica do renomado pesquisador Celso Antunes. A revista é composta por 13 artigos científicos sobre diferentes temas e uma crônica escrita pelo renomado pesquisador Celso Antunes, especialmente, para a terceira edição da revista Pedagogia em Foco. Com uma crônica intitulada “O Na realidade, todo leitor é, quando lê, leitor de si mesmo. A obra não passa de uma espécie de instrumento óptico oferecido ao leitor a fim de lhe ser possível discernir o que, sem ela, não teria certamente visto em si mesmo. avesso da inclusão”, Celso Antunes inicia a terceira edição da revista, comentando sobre diversos assuntos que considera ter sido modismos da educação brasileira ao longo dos últimos anos e critica a maneira como a questão da inclusão de crianças com dificuldades e deficiências tem acontecido nos dias atuais. O segundo texto intitula-se “Recortes sobre a história da educação de Iturama - MG - Os diferentes signficados deste passado”, escrito pelo professor Léo Huber (FAMA), no artigo encontramos os significados atribuídos pelos sujeitos às diferentes experiências educativas proporcionados por propostas metodo- lógicas que se sucederam ao longo do tempo no município de Iturama. Na seqüência, apresenta-se o texto “Jogos e conhecimentos sistematizados”, escrito pelas discentes do 6°semestre de Pedagogia da FAMA, Luzia Magna Soares Alvarenga, Fabiana Rodrigues F. Lima, Francisca Eva da Silva, Maria Aparecida Lio e Maria Guilhermina R. D. Barbosa . Esse artigo aborda alguns aspectos referentes à importância dos jogos e proporcionar reflexões a respeito da utilização destes na sala de aula, com a finalidade principal de funcionamento como elemento motivador do aluno em sua aquisição de conhe- Marcel Proust. O tempo redescoberto cimentos sistematizados. Faz a classificação dos jogos, definindo-os e identificando os objetivos propostos em cada uma das ações efetivadas e bem realizadas. Também produzido por discentes o texto das discentes do 6semestre , Ilma Rodrigues L. Alves, Rosiley Queiroz V. Portilho, Geralda Nair de Andrade, Glauciene B. de Oliveira e Rosania Márcia de Freitas, intitulado “O ser infantil da Literatura” apresenta uma abordagem sobre o valor da literatura na educação das crianças e leva-nos à reflexão acerca do que seria o termo “infantil” como qualificativo especificador de determinada espécie dentro de uma categoria mais ampla e geral do fenômeno literário. A seguir, temos das alunas do 6 semestre Pedagogia da FAMA o artigo “A importância da família no contexto escolar” , o texto escrito por Elisângela Maria Cavalcante, Luciane Alves Rodrigues, Maria José dos Santos Dantas, Marlei Aparecida Real A. Faria e Valquíria Bernardino da Silva aborda a questão do envolvimento da família com a escola e seu impacto sobre a aprendizagem e o desenvolvimento do aluno. Em “Uma rápida análise sobre o processo ensino-aprendizagem”, José Henrique de Oliveira (FAMA) faz uma rápida a n á l i s e d e p r o c e s s o s d e e n s i n o - aprendizagem visando verificar algumas possíveis deficiências e buscando levar o docente a rever se os objetivos perseguidos são realmente aqueles que darão qualidade ao ensinado e se este objetivo é ou não significativo. “Educação Física escolar e o contexto do esporte na escola” é o titulo do artigo escrito pelo educador físico Rodrigo Barbuio em que comenta sobre a importância da disciplina de educação fí- sica na grade curricular do ensino básico e relata como a disciplina vem sendo tratada nas escolas. Gilvânia Queiroz de Oliveira, Rosilene Freitas Minaré, Nêomia Aparecida de U. Bernardo e Luzia Luiza Moreira, alunas do 6°semestre de Pedagogia da FAMA, no artigo “Educação de Jovens e Adultos:relatos de experiências” analisam a Educação de Jovens e Adultos da rede pública municipal da cidade de Iturama, realidade com a qual tiveram contato por meio de um projeto de extensão a sociedade realizado pela FAMA. Abordando a temática da avaliação escolar e a busca por métodos, estratégias, instrumentos e práticas avaliatórias mais adequadas é também de autoria de discentes do 6semestre de Pedagogia o a r t i g o “ P r á t i c a s d e A v a l i a ç ã o d a Aprendizagem Escolar”. O texto tem como autoras as discentes Aparecida Francisca da Silva, Flaviana Ribeiro Costa, Helen Santos de Oliveira. César de Mello Bechara (UNILAGO) e Eduardo Barbuio ( FAMA), com base no fato de haver a inda um alto grau de inacessibilidade quanto às novas mídias digitais e seus usos educacionais, escre- veram o artigo “ WEB 2.0 e a construção coletiva do conhecimento”. Discente do 6°semestre de Peda- gogia realizando pesquisas sobre literatura infantil e alfabetização para seu trabalho de conclusão de curso de graduação, Nevilda Martha Dias Queiroz discute em seu artigo “O ensino da literatura infantil e sua contribuições para o desenvolvimento infantil” as inúmeras contribuição que a l i teratura infant i l oferece para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo de crianças em fase de alfabetização. A professora Kellen Cristine Almeida Mamede (FAMA) produziu o artigo Eduardo Barbuio Editor e Revisor Revista Pedagogia em Foco email: edubarbuio@msn.com intitulado “Trabalhos de conclusão de curso “contribuição social””, e nele comenta a importância dos trabalhos de conclusão de curso e de conhecimento cientifico e a necessidade de expandir os conhe- cimentos e descobertas obtidos com essas pesquisas a comunidade. Naime Souza Silva (FAMA), no texto “Avaliação Institucional: propostas para a edificação de políticas educacionais de qualidade”, a pedagoga aponta a enorme importância de que as instituições de ensino superior se conscientizem sobre a necessidade da realização da avaliação institucional em busca de melhorias da qualidade das atividades desenvolvidas em faculdades. Em suma, os textos quem compõem a terceira edição da revista, focam a temática das diversas interfaces da educação abordando variadas temáticas pedagógicas e preocupações da atuali- dade, tendo como escopo despertar novos olhares para questões tão relevantes, mas que ainda precisam ser muito pensadas. Assim, esperamos que os leitores dessa revista, desde estudantes até profissionais, não só da área da pedagogia, mas sim da educação de maneira geral, reflitam sobre essa questão e possam, de alguma maneira, contribuir para que o profissional pedagogo tenha seu trabalho reconhecido. O tema "inclusão" está em moda. Lamentavelmente é assim. A expressão da cultura educacional por estes lados do mundo exalta determinados modismos, assuntos da vez, temas emergentes e não raramente importantes, mas que por algum período são falados, escritos e discutidos por todos em toda parte, mas que não escapam de um certo ciclo vital que os relega para o esqueci- mento tempos depois, como moda passageira. Foi assim com o "construtivismo", logo depois com o "construtivismo interacionista", depois com "as inteligências múltiplas", apareceram os tempos das "competências" e agora parece ser chegada a hora da inclusão. O assunto aparece com destaque em toda reunião pedagógica, as poucas revistas peda- gógicas abrem-lhes edição especial, congressos e seminários são repetitivamente organizados para apresentá-los. Algum tempo depois, o tema da moda é por outro substituído e seus fundamentos prosseguem apenas para alguns poucos, refletidos neste ou naquele lugar. Agora o tema da moda é a inclusão. A inclusão, abrindo direito à educação para todo aluno seja qual for sua dificuldade ou deficiên- cia, em seu sentido mais amplo parece ser idéia que não admite contestação. Todo ser humano, por mais severas que sejam suas limitações é educável e a O AVESSO DA INCLUSÃO Celso Antunes escola verdadeira é toda aquela que a todos se abre e a todos oferece igual possibilidade de progresso, ainda que trabalhando de forma profissional e responsável as diferenças, sejam elas quais forem. Mas, nem por isso, a questão inclusiva escapa de uma análise crítica onde é possível aplaudir seu "lado direito", mas criticar com rigor seus excessos, protestar contra seus desvios. É esta a finalidade crítica deste artigo. O lado direito da inclusão é aquele que fala de oportunidades para todos e que identifica a diversidade como forma de riqueza, jamais castigo. Esse mesmo lado enfatiza que todos somos essenci- almente diferentes e que não são aceitas fórmulas para estabelecer a normalidade e a anormalidade. Anormal é crer que a diferença deve ser elemento de discriminação e assim a falsa escola elege quem acolhe como plausível e discrimina e afasta todos quantos se distanciam dos padrões de um critério grotesco, perverso e exclusivista. O triste avesso da inclusão é a tolice de se crer que como não existe a anormalidade é essencial que todos se nivelem e, dessa forma, bons e ruins são semelhantes, esforçados e negligentes são iguais. De maneira sutil, mas persistente começa se instituir como verdadeiro valor da escola nos tempos de agora a crença absurda de que exaltar o bom implica em denegrir o fraco, aplaudir o esforço é extremamente perverso e segregacionista para quem é indolente. Essa tolice afasta a educação brasileira das melhores do mundo e gera falsos argumentos para defender indolentes. Temos uma educação entre as piores do mundo? Paciência. É mais importante ser feliz que ser sábio, como se pudesse existir felicida- de autêntica sem sabedoria; demonstramos redun- Licenciado em Geografia, Especialista em Inteligência e Cognição e Mestre em Ciências Humanas pela Universidade de São Paulo. Autor de cerca de 180 livros didáticos consultor e autor em diversas revistas especializadas em Ensino e Aprendizagem. Como palestrante tem participado desde 1963 de Simpósios, Congressos e Seminários ministrados em todo o Brasil, América Latina e Europa. 07 dante fracasso esportivo nas Olimpíadas de Pequim? Paciência. Deus não quis que nossos atletas alcançassem o pódio. Ao refletir sobre a arrogância da exclusão, resolvemos incluir a todos para que o êxito de alguns, não magoassem o esforço dos demais e com essa mentalidade olha- mos nossos fracassos não mais como alerta para providências, mas como contingência de que acolhemos heróis e vagabundos com igual distinção. Fracassar, errar, tropeçar e abandonar-se ao lazer deixou de ser prova de fraqueza e medida de acomo- dação covarde para se transformar em valor digno de aplauso tão expressivo quanto se dedicar com afinco, buscar o sucesso sempre, planejar caminhos viáveis para conquistas sempre maiores. O avesso da inclusão é se acreditar que fraqueza, insucesso e covardia é destino, não indiferença, preguiça ou omissão. 08 RECORTES SOBRE A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE ITURAMA-MG OS DIFERENTES SIGNIFICADOS DESTE PASSADO Léo Huber Resumo: Os estudos e debates sobre a História da Educação no Brasil se encontram em fase de aprofunda- mento e uma série de novas publicações traz contribuições importantes sobre os significados dos proces- sos educativos escolares desenvolvidos nos país. Este artigo tem o propósito de contribuir com estes estudos embora esteja focado na experiência particular de uma única escola, a Escola Nossa Senhora de Lourdes, a primeira de Iturama/MG, com meio século de existência. Embora seja somente uma escola, buscou reunir os entendimentos de todos os sujeitos envolvidos no processo educativo, pais, alunos, professores, servidores e comunidade. O entendimento é que apesar do estudo ser restrito no campo de abordagem é representativo dos significados que toda a comunidade atribuiexperiência esco- lar/educacional. As fontes trabalhadas na pesquisa centraram-se especialmente em depoimentos orais, situação a qual fomos obrigados pela precariedade de outras fontes de pesquisa, especialmente a escas- sez do registro escrito. O uso das fontes orais, porém, estava previsto e parte do entendimento de que a memória dos sujeitos é recurso importante e indispensável e cientificamente aceito nos estudos históri- cos. No artigo encontramos os significados atribuídos pelos sujeitos às diferentes experiências educativas proporcionados por propostas metodológicas que se sucederam ao longo do tempo. Suas representações e sentidos não são consensuais, podemos dizem que são até mesmo antagônicas em diversos dos aspec- tos analisados. PALAVRAS-CHAVE: educação; disciplina; metodologia; aprendizagem; professor. INTRODUÇÃO Este artigo foi elaborado a partir da parte das fontes de pesquisa reunidas pelo Projeto de Iniciação Científica do Curso de Pedagogia através do programa de bolsas do PIBIC/FAMA, no qual fui orientador das alunas Elisângela Maria Cavalcante e Maria José dos Santos Dantas. A pesquisa e este artigo se colocam dentro do debate sobre a história da educação e sua relevância, pois, os pesquisadores que se dedicam ao tema, ressaltam a carência de estudos neste campo específico e pretende contribuir, ainda que baseado na Mestre em História Social pela PUC/SP é também especialista em História do Brasil e docente nos cursos de Pedagogia e Direito na FAMA/MG e dos cursos de História e Serviço Social na UNIJALES/SP. Atualmente coordena pesquisas de iniciação científica vinculadas às duas instituições em que trabalha. 09 experiência local, em compreender as práticas efetivas da educação que se deram na Escola Estadual Nossa Senhora de Lourdes, Iturama/MG, como estas atenderam as determinações das políticas de educação, de que forma a comunidade analisa seus resultados e quais sentidos lhes atribui. O depoimento oral foi aqui largamente utilizado como recurso de investigação. No total, foram colhidos vinte e sete depoimento distribuídos entre alunos, professores e servidores da educação com o foco voltado aos períodos das décadas de 1950/60 e outro da década de 1990/2007. No caso dos nossos sujeitos de pesquisa, as narrativas são entendidas como expressão das experiências vividas nos vários tempos, especialmente as relacionadas com a escola e a compreensão que estes têm dos processos de ensino. Também será exercitada a percepção do lugar do entrevistador que intervém e interpreta (PORTELLI, 1997). Adotar a experiência vivida pelos sujeitos sociais como referência principal de pesquisa, cujos dados são base deste artigo, está vinculada à compreensão de que essa ajuda a entender as visões de mundo e as ações dos sujeitos, que se fazem no cotidiano. A experiência é gerada na vida material, com valores culturais vividos dentro de um mesmo vínculo, onde não se separam o pensamento e a cultura material (LOWENTAHL, 1998). As experiências são experimentadas de formas diversas, porque como afirma Thompson, os sujeitos “... experimentam sua experiência como sentimento e lidam com esses sentimentos na cultura, como normas, obrigações familiares e de parentesco, e reciprocidades, como valores ou (através das formas mais elaboradas) na arte ou nas convicções religiosas” (THOMPSON, 1981). O método de pesquisa aplicado compreende a realidade dentro de uma lógica dialética que se transforma na ação de forças objetivas e subjetivas e onde a sucessão de fases é parte integrante de um processo histórico, por sua vez, resultado do confronto de “unidade dos contrários” (DEMO, 1995). Pode-se sintetizar o objetivo da pesquisa e deste artigo como uma discussão das experiências vividas por diferentes sujeitos que passaram pela escola onde cumpriram papel de alunos, professores, diretores ou colaboradores, para analisar e interpretar a ação educativa desempenhada pela escola ao longo de seu tempo e as mudanças que nela ocorreram especialmente nas propostas pedagógicas, da sua relação com a comunidade, visto que estas são elaboradas distantes das realidades locais. Iniciamos o desenvolvimento desta reflexão pelo grau de realização que a atividade educacional promove entre os profissionais desta área. As diversas profissões promovem graus de satisfação diferentes àqueles que se dedicam ao trabalho. Normalmente os professores expressam graus elevados de realização com os resultados obtidos na execução de suas tarefas. Uma das possibilidades desta ocorrência está vinculada à análise dos teóricos do trabalho (MARX, 1984) que entendem que os sujeitos quando se apropri- am do resultado do seu labor ou pelo menos conseguem identificar com clareza o que produzem isto gera um grau maior de satisfação, pois percebem ali a sua realização enquanto planejadores da atividade, da sua execução e o produto é percebido como fruto de seu trabalho, neste caso, o resultado é o nível de desenvol- vimento alcançado por seu alunos através das ações propostas e desenvolvidas pelo professor. O mesmo sentimento de satisfação é dominante entre os alunos sempre que estes dominam uma habilidade ou conhecimento. Nos estudos sobre a história da educação de Iturama isto é percebido em diferentes tempos mesmo com a aplicação de métodos de ensino diferenciados. [...] quando a gente não sabia uma matéria, i você queria sabê... I não tinha pra onde perguntá, só quando chegava à sala de aula, que a gente ficava feliz, que a gente fazia a pergunta para professor i ele respondia na altura que você queria. (OLIVEIRA, 10 18/06/2007). O depoimento mostra a satisfação do aluno quando este tem sua dúvida respondia “na altura” pelo professor. O que importava ao aluno era a dúvida que uma vez resolvida resultava em felicidade do aluno e certamente o professor, ao proporcionar, este sentimento ao seu aluno, realiza-se em seu trabalho, pois ali está a razão de seu labor. Souza no depoimento que segue expressa igualmente este seu sentimento de realização no momen- to em que aprende: “Na escola... Deixa eu vê... Ah!... Quando eu... Aprendo uma coisa assim... Uma matéria que o professor... Explica eu consigo passar... Passa prus meu colegas o que eu...Consegui apren- de...Eu gosto...” (SOUSA, 19/08/2007). Souza manifesta também que o fato dele dominar um conhecimen- to transforma-o um sujeito capaz de “passar” para os colegas aquele conteúdo. Além do elemento da satisfação direta gerada pelo domínio do conhecimento, sua aquisição tem também um sentido projetado para o futuro e que do mesmo modo gera felicidade, pois com o conheci- mento se acredita que as portas do emprego e da inserção social se abrirão. Ortelam, um estudante, fala disso: O que me deixa mais feliz é ter condição é... Vamos supor assim... Condição financei- ra pra podê estuda, apesar de ser uma escola pública mais é... Mais pelo fato que eu gosto, mais o que me deixa mais feliz é isso... É ter condição entendeu... Ter condi- ção pra estuda, ter condição mensal, financeira... Pra sempre ta aqui estudando... Sempre ta comprando o material... Mais isso (ORTELAN, 28/08/2007). Estudar, freqüentar a escola, adquirir conhecimentos, ainda que em escola pública, representa também um mínimo de recursos financeiros, nem sempre acessíveis a todos, para a aquisição de material. Ter este recurso significa a possibilidade de freqüentar a escola e ter acesso ao conhecimento que por sua vez apontam para a possibilidade de uma melhor inserção no mercado de trabalho. A menção a este recurso financeiro necessário ao estudo indica que esta é uma dificuldade para o depoente ou no mínimo esse conhece pessoas que devido à falta desta condição ficam impedidos acessarem o conhecimento por meio da escola. Em outro depoimento a falta de condições financeiras, embora se refira a um tempo mais distante, representou o fim do sonho de freqüentar a escola e dominar o conhecimento:“Mais triste... Foi à diretora falar pra mim que não podia mais mi dar meus material... (triste com semblante de choro) i ai eu tive que abandonar a escola...” (OLIVEIRA, 03/05/2007). Oliveira não cita diretamente da frustração de expectativas de uma melhor inserção social se tivesse conseguido continuar seus estudos, mas podemos aceitar que a tristeza citada no depoimento vai além da impossibilidade de estudar mais e que esta tem vínculo também com as oportunidades que ela acredita ter perdido. A questão financeira é lembrada também na narrativa de Garrido. Esta alia a questão financeira como algo que atormenta a vida do aluno aliado a outras questões que igualmente dificultam os estudos dos alunos. A família já não tem tempo não tem recurso é desemprego e é miséria é vício que é tem atormento a vida familiar e esse aluno vai para escola com tudo isso na cabeça. Chega encontra uma professora estressada, num colega com outros tipos de problema, ou às vezes com o mesmo problema, pois dificulta muito a educação... 11 (GARRIDO, 11/04/2007). O destaque da narrativa está para além da questão financeira e enfoca ainda questões como vícios presentes no seio familiar que, possivelmente por tudo isto teria uma relação entre seus membros marcada por dificuldades. O depoimento chama atenção para a vida do professor, que também estaria “estressada”, portanto não nas condições ideais para o exercício da atividade educacional, que segundo o depoimento sugere exige pessoas desestressadas. Embora as realizações sejam marca importante na história da educação há outras ocorrências que se destacam e entre elas está a frustração como enfatiza o depoimento de Mamede: “É uma frustração que acontece ao contrário quando a pessoa foi aluno que agente procurou ensinar tudo de bom; agente vê que ele esta fazendo tudo ao contrário então é uma decepção muito grande...” (MAMEDE, 26/04/2007). O professor planejou sua atividade, executou da melhor forma que lhe foi possível, acreditou ter conseguido transmitir seu ensinamento ao educando, mas o êxito que esperava alcançar, segundo o depoimento se apresenta em forma de “decepção” ao ver que todo seu esforço, todo planejamento e trabalho não alcan- çou o objetivo planejado. Se uma parte da frustração do professor na execução de sua atividade se deve a resultados não alcançados, outra parte está vinculada à falta de valorização e reconhecimento por parte das autoridades que são os responsáveis pelas políticas públicas. O que deixa triste na realidade o profissional da educação hoje é a falta de valoriza- ção né, porque você vê um militar hoje aí, que tem (pensou) é o segundo grau concluído ele tá com salário muito melhor, do o professor que tem 18 anos de estudo né... Só que infelizmente o governo não reconhece isso, nem o governo e nem a escola particular e nem nada (RIBEIRO, 24/08/2007). Ribeiro entende que a função de professor é no mínimo comparável a de “um militar” que segundo ele tem apenas o “segundo grau concluído”, mas tem uma remuneração “muito melhor”. Já o professor com muito mais estudo, “18 anos” segundo Ribeiro, não tem o mesmo reconhecimento por parte do governo e nem as escolas particulares que cobram mensalidades estariam, também segundo Ribeiro, valorizando devidamente o professor. O depoimento não faz referência ao assunto, mas é comum também um senti- mento de que a educação é atividade essencial na sociedade e que por isto deveria ser mais bem reconheci- da. Acima já se fez referências aos sentidos que são atribuídos à educação escolar. Além daqueles já lembrados há outros como o apontado por Machado: “É... A gente fica com uma... Mais aguçada, pra ver as coisas, pra prestar atenção nas coisas... Pra prestar atenção numa revista, num jornal, nas conversas...” (MACHADO, 01/06/2007). O enfoque está na abertura de visão e entendimento das “coisas” em conseguir “prestar atenção” nelas, pois elas estariam nas revistas, nos jornais, nas conversas. Seu entendimento sugere que a educação ajuda a identificar os sentidos dos acontecimentos e dos valores adotados na vida dos sujeitos e que este entendimento ajudaria a discernir entre o que deve e o que não deve ser valorizado, aceito ou atribuído importância. Diniz enfoca outro elemento que estaria na própria civilidade promovida pela educação escolar: “Uai eu, a gente não era civilizado né...(sorriu)...Aí... Foi onde eu aprendi... A ler, escrever e conhecer prestar 12 atenção... Na cabeça dos outros, das pessoas, dos professor.. Isso fez parte da minha vida” (DINIZ, 18/05/2007). O termo civilizado citado por Diniz como resultado de sua educação escolar tem os sentidos de bem-educado, bem-criado, de fineza, cortesia, elementos que teria adquirido com os conhecimentos e convivências da escola. Diniz é de um tempo em que poucos valorizaram ou tiveram acesso a educação escolar por falta de vagas ou por não reconhecerem ainda sua importância e o depoimento permite deduzir que este, por ter freqüentado a escola e adquirido a civilidade, se compare a outros do seu tempo que não vivenciaram a escola e que por isso não teriam conseguido superar sua condição de “atraso”. Ortelam enfoca outros valores da educação escolar hoje: Todo mundo precisa de educação hoje, todo mundo mesmo. Não tem como você... Saí daqui querer viajar, você trabalhar e num ter uma educação, como é que você vai associar que dinheiro que você tem, como é que você vai associar a sua vida sem educação, num tem jeito, é em tudo (ORTELAN, 28/08/2007). O depoimento enfoca a possibilidade de visitar outros lugares, conhecer regiões novas e diferentes o que, pela falta de estudos, poderia ser prejudicado pois uma viagem exige informações e forma de lidar com situações novas que quem não freqüentou a escola não teria, ou pelo menos este teria mais dificuldade. Refere-se também a “ter uma educação” e “vida sem educação”, afirmativas que se aproximam do que Diniz mencionou em seu depoimento ao falar de “civilizado”. Ter acesso à vida escolar está ligado também à possibilidade de realização de sonhos: O que estimula o aluno é a mesma coisa que estimula seres humanos qualquer é o sonho, a possibilidade de criar a partir de. A gente precisa voltar a ter esperança, esperança de vencer, a esperança de crescer, a esperança de fazer acontecer e são isso que estamos sem. Nós todos, estamos ficando... sem esperança de acreditar que o mundo vai melhor, que as oportunidade de trabalho vai crescer né. ...Então o que se faz é exatamente a esperança de fazer os nossos sonhos a realizado (CÂMARA, 10/09/2007). O depoimento sugere que você estimula o aluno para a aprendizagem quando consegue vincular seu sentido e validade com a possibilidade de realizar seus sonhos, de ser um sujeito criativo e integrado socialmente. Novamente vincula a educação escolar com a oportunidade de trabalho e o trabalho que permite crescer e realizar sonhos. A realidade pode ser mais complexa que isto e a educação escolar pode não garantir a realização dos sonhos, pois sobre estes pesam também outros e importantes fatores sociais, porém o que a narrativa lembra é que sem o conhecimento tudo pode ser ainda mais complicado. O depoimento que segue fala justamente desta realidade social e que o conhecimento escolar pode não ser a garantia da realização dos sonhos. ... E hoje o que era para o aluno o futuro, hoje ele num tem aquele estímulo que ele tem estuda, estuda cabe de estudar e cadê o emprego não tem. Então para acaba 13 sem, fica complica para ele onde vou trabalhar porque eu preciso disso, aí ele vê tanto pessoa que não tem nada e cabe dando bem. Então vem a contradição que deveria dirigir o nosso País né, nosso político... (ALVES, 10/09/2007). Alves na condição de aluno preocupado com seu futuro, com sua inserção no mercado de trabalho, reflete sobre uma realidade que atinge a muitos sujeitos com o desemprego e falta deoportunidade de inserção no mercado de trabalho. O tipo de narrativa sugere que os sujeitos que são referência para sua avaliação têm educação escolar, mas que esta não consegue garantir um emprego para eles. Esta realidade desmentiria na prática a crença de que o conhecimento escolar é a chave de acesso ao emprego gerando o desestímulo do aluno de prosseguir seus esforços e sacrifícios normalmente envolvidos na vida de alunos que muitas vezes são também ao mesmo tempo trabalhadores. O método de ensino ao longo da história da educação em Iturama acompanha o processo de mudan- ças estimulado pelos estudos filosóficos e pedagógicos em nível nacional e que sistematicamente propõe nova metodologia. Contudo as percepções sobre as validades destas alterações propostas na metodologia de ensino não são consensuais entre os envolvidos nos processos educativos escolares. Machado narra como era o método de ensino em sua época: Então, a gente aprendia e aquilo não sai mais. Eu sei muitos fatos históricos até hoje, que não saiu da minha cabeça, porque eu tinha que estudar... Aquilo era assim... Era decorado, tá certo que hoje é tão condenado, mas num saia mais da cabeça...Era parece que o método silábico, mas eu, isso é hoje que eu, que eu imagino que fosse, né... Deve se porque a gente soletrava... (MACHADO, 01/06/2007). Machado não tem certeza sobre qual a denominação do método utilizado na sua formação escolar, desconfia, por ouvir falar que se tratasse do método silábico. Mas aponta que era exigida que as lições fossem decoradas a tal ponto que esta fixava as lições em sua memória que “num saia mais da cabeça”. A narrativa destaca especialmente fatos históricos que decorou dos quais lembra de muitos “até hoje”. O método daquela época... Nós por exemplo estudava his... É história geral... Do... Do Brasil todo, nós estudava é geografia o mapa... Geográfico todinho, nós estudá- vamos tabuada que infelizmente hoje na educação, não tem tabuada, hoje um... Um menino que saia naquela época da quarta série... Hoje vale pro segundo grau... Nós tínhamos e os professores de português e de matemática, era um só.. (OLIVEIRA, 18/06/2007). O depoimento de Oliveira também nos permite deduzir que o método utilizado fosse o de memori- zação dos conteúdos. Faz referências aos estudos de história e geografia, mas foca especialmente a tabuada e faz referência que hoje “não tem mais tabuada”. É provável que Oliveira tenha conhecimento que a tabuada continua sendo estudada no ensino de matemática, o que nos permite inferir que sua referência é a forma como esta era ensinada e exigida sua memorização nos tempos em que ela estudou um tempo em que o conteúdo tinha que ser decorado. 14 No depoimento de Barbosa podemos identificamos outra característica do método utilizado em seu tempo de escola: E se era aula de ciências era só matéria de ciências. Explicava e depois fazia as perguntinhas devido a explicações, e em seguida dava um ditado de palavras, há tinha a ficha da escola para fazer as copias. Usava a cartilha. E depois ainda cantava umas músicas com as crianças. Contava historinha. As criancinhas participavam de tudo e obedecia. (SILVA, 18/05/2007). Atualmente o entendimento dominante na pedagogia é o estudo por meio de temas abordados de forma interdisciplinar. O foco pedagógico anterior estava na separação clara dos conteúdos das diferentes áreas de conhecimento. A indicação de que “aula de ciência era só aula de ciência” aponta para esta caracte- rística, além de limitar as possibilidades de abordagens dos estudos desenvolvidos, pois estes eram orienta- dos pela “cartilha”. O apego à cartilha certamente devia ser tão forte que originou até o ditado popular “reza pala cartilha” para se referir a alguém que reproduz fielmente as ordens ou normas impostas por um indiví- duo ou empresa. Cabe também enfocar o destaque de Barbosa ao dizer que “as criancinhas participavam de tudo e obedecia”, sugerindo que havia disciplina e a existência de outros valores e comportamentos. Normalmente o emprego de métodos fechados como o da cartilha e estudos descontextualizados são questionados por não motivarem o aluno, contudo, o fato das crianças participarem, dá a entender que haviam outros elementos que geravam este comportamento, possivelmente o rigor da disciplina e da autoridade exercida pelo professor, abordados abaixo. Embora o método que privilegia a memorização dos conteúdos seja considerado ultrapassado na pedagogia atual, professores que trabalharam com este método não estão convencidos de que ele seja impróprio: Assim à medida que ia passando os dias tava sempre modificando os métodos... Mas eu continuo afirmando que de todos que eu já conheci até hoje o melhor é o silábico. Porque ele dá a chance do aluno conhecer, memorizar... Letra por letra e juntar uma com a outra, formando palavras i logo em seguida sentem... . (RODRIGUES, 06/08/2007). O depoimento enfoca que memorização é também uma forma de conhecimento e por este método exigir que o aluno memorizasse os conteúdos escolares Rodrigues entende que era não só adequado, ma até mesmo mais eficiente. Contudo os novos métodos adotados também têm seus méritos reconhecidos: O que acontece é o seguinte, os professores... Eles até agora estão adotando os novos métodos de ensino, onde ta assim é... Chamando mais a atenção do, do aluno, pra pode aprender né... Eles usam métodos tanto é... Métodos assim... Como que eu vou dizer alegres né... Qui... Pode que é o qui chama bem a atenção dos alunos mesmo são esses métodos... (VENTURA, 03/09/2007). 15 Ventura aponta o esforço dos professores que atualmente se empenham em estimular o aluno e fazer com que a atividade estudantil não seja algo que desagrade ou que exija muito sacrifício. Isto é aponta- do em sua narrativa ao apontar que os métodos utilizados buscam a aprendizado sem o abandono da alegria o que sugere que a atividade estudantil pode ser prazerosa, justamente como enfoca ventura “chama bem a atenção dos alunos”. As novas propostas metodológicas de ensino ainda que destaquem a atividade estudantil como uma atividade prazerosa não garante que a prática do professor seja adequada. O depoimento abaixo aponta para ações de professores que estão na contramão do que atualmente é aceito como uma ação pedagógica adequada: A forma de ensinar hoje é, é a prática, e o aluno e a professora chega na sala, faz uma explicação de dez minutos, passa na lousa você copia e responde.Eu acho que... Eu num gosto, dessa forma, porque eu acho que o aluno num, num tem a capa... Alguns alunos num tem a capacidade de associar nada em dez minutos... (ORTELAN, 28/08/2007). Ortelan é aluno que vive esta experiência em sala de aula e da forma com discorre sobre o assunto sugere que esta não seja uma prática de uma professora apenas, mas uma prática recorrente das professo- ras de diversas áreas de conhecimento visto que ele não aponta nenhuma exceção. É possível crer que Ortelan seja benevolente ao afirmar que “alguns alunos” não assimilam os conteúdos apresentados desta forma, pois, como ele fez questão de registrar esta prática, é provável que ele perceba que a dificuldade de assimilação seja geral. Mais um aspecto que chamou-nos a atenção e merece ser analisado é o controle disciplinar nas escolas e onde se identificam uma série representativa de mudanças. Muitos certamente já ouviram relatos sobre os controles disciplinares rigorosos adotados também em Iturama no final da década de 1950 e anos seguintes. O relato de Queiroz impressiona pela clareza e tranqüilidade com que aborda práticas que nos comovem hoje, mas que eram comuns em seu tempo: Era isso aí, e castigo... Tinha assim fazer aquelas bata... Chamadas batalhas, vamos fazer uma batalha de tabuada escrita. E a gente nunca que ia estudar, chegava lá o professor ia tomar... Quem não desse conta ia joelhar em cima de grãode milho, e se você tava conversando, eu lembro, que tinha uma professora ....ela pois uma vara... De amora... Imensa assim que alcançava cá, se agente conversava... Varada, e tudo era normal sabe, mãe não importava, professora podia bater, podia por de castigo... Era isso aí método era... (QUEIROZ, 23/04/2007) 16 Diferentes elementos estão presentes no relato acima. Um deles fala sobre as motivações artificiais usadas para que os alunos se empenhassem na assimilação dos conteúdos. São o que ela denomina de “batalhas”, prática na qual uma classe de alunos era dividida em grupos menores de disputavam entre si quem obtinha maior número de acertos, muitas vezes acompanhado de premiação ou no mínimo reconhe- cimento público da conquista. Além disso, as práticas de “joelhar em cima de grão de milho” ou “varada” “de amora” “imensa assim” “era normal” “podia bater, podia por de castigo”, supõe-se hoje, devem ter provoca- do efeito aterrador e traumatizante sobre os alunos, embora Queiroz enfoque que “era normal” na época em que este recurso era comum. Rodrigues faz referência a outro instrumento disciplinador ou motivador de uso repetitivo nos primeiros anos da vida escolar em Iturama: A tinha, naquele tempo era mais rebelde... Naquele tempo o professor tinha autonomia de bate no aluno... Se entendeu, existia um aparelhinho chamava de palmatória...É uma tabinha redonda assim duns três centímetros de espessura, com cinco buraquinho... Quando a gente num sabia tabuada... Elis batia aquela... Aquela palmatória na mão assim. Então a pele da mão da gente chupava naquele buraqui- nho. Ficava as marcas na mão só que também era uma, duas veis você num queria mais no outro dia você tava craque... (RODRIGUES, 06/08/2007). Além de mencionar o uso da palmatória como instrumento disciplinador o chama a atenção é a narrativa clara e contundente como se fosse algo vivido há pouco tempo ou como se ainda estivesse vendo como “a pele da mão da gente chupava naquele buraquinho” e se ela própria não foi vítima da palmatória, certamente tem viva em sua memória a lembrança da dor manifestada por colegas quando usado contra eles. A descrição do fato também lembra o efeito produzido pela palmatória no aluno, que este, depois de “uma, duas veis você num queria mais no outro dia você tava craque...”. A existência da possibilidade do uso da palmatória, ainda que suponhamos não fosse tão comum, mesmo assim, o simples fato de a professora estar autorizada a fazer uso dela, provavelmente gerava um temor permanente nos alunos que os levava a estudar e a estar “craque” quando cobrados no domínio do conhecimento repassado. Esta é uma situação que mudou nas últimas décadas: Não é... Hoje em dia castigo não existi né, uma até por que... Foi criada as leis né onde... o professor hoje num pode... discipliná um aluno, porque se o professor discipliná um aluno ele tá errado... Então hoje... nesse ponto de... disciplina, isso hoje num existe. Hoje chegou ao ponto de aluno disrespeitá professor até mesmo... aluno agredi professor e o professor num podê faze nada, porque senão ele tá errado (VENTURA, 03/09/2007). A observação de Ventura é de que o castigo já não existe e seu uso decaiu porque foram criadas leis, 17 primeiramente sugere que o abandono do castigo foi imposição externa motivada por uma nova legislação e não uma nova compreensão do pedagogo que efetivamente atua na sala de aula. O professor não pode castigar pois a lei entende que, neste caso, “ele ta errado”. Por outro lado, ainda segundo o entendimento de Ventura, a nova situação criou problemas sérios em relação a disciplina “que isso hoje não existe”. Aponta para uma relação em sala de aula onde o professor é desrespeitado pelo aluno que chega a agredi-lo. O depoimento de Mamede segue no mesmo sentido: Na disciplina mudou tudo hoje o aluno tem direito e o professor não pode nada... ...O professor perdeu a autonomia de corrigir o aluno, perdeu a autoridade, a autonomia não pode fazer mais nada. Então os alunos não são muito bem orienta- dos. (MAMEDE, 26/04/2007). A indicação é de que o professor está sem um instrumental adequado para conseguir o que ela chama de “corrigir o aluno”, pois a falta do recurso do castigo teria tirada a autoridade do professor. Os depoimentos apontam um conflito em relação às novas propostas pedagógicas que propõe uma ação diferenciada na educação daquela utilizado no passado, que, mesmo que esteja correta, não foi assimilado pelos professores o que produz resultados igualmente negativos. A lei que limitou a ação repressiva do professor também é percebida nos depoimentos como uma imposição de quem não vive a realidade da sala de aula ou no mínimo, que quem entendimento diverso daquele apontado pelos depoentes. Ribeiro, no testemunho abaixo aponta para uma possível falta de “gabarito” para o professor conse- guir resultados melhores: Aluno tem determinada liberdade, só que ele tem que ter também obrigações né, que não existe. Então você dá a liberdade não tem como cobrar o que é de obriga- ção dele então. O que eu tenho notado é justamente isso ai, então e os profissionais que tem realmente facilidade de comunicação que tenham certo gabarito eles conseguem manter certa disciplina na sala de aula, mas a maioria num tenham conseguido não (RIBEIRO, 24/08/2007). Contudo, não seria somente a falta de gabarito, estaria também havendo uma falta de compreensão da liberdade que o aluno conquistou e que foi incorporada no sistema escolar. Segundo Ribeiro haveria um entendimento que ter liberdade seria também a ausência de obrigações. O depoimento a seguir aponta também uma dificuldade de entendimento do que representa “essa liberdade hoje”: O que é essa liberdade hoje, o aluno acha que é tudo e não é. Liberdade também tem regra, tem limites. Eles acham que pode tudo. Ele só quer vantagem, ele só pensa em direitos ele acha que pode que pode. Mai não é bem assim, ter a liberdade 18 quer dizer controlável, é o que ta faltando é que estamos falando, faltando talvez à disciplina se perca por esse acesso de liberdade, num digo acesso de liberdade. É eu acho que é a falta de saber a aonde... até onde vai à liberdade (ALVES, 10/09/2007). Alves aponta não somente para um entendimento onde a liberdade estaria sendo entendida como uma falta de obrigações, mas também de um sentimento onde tudo é permitido, portanto sem regras nem limites. O depoimento sugere que uma melhor compreensão do que representa a liberdade que hoje se tem poderia contribuir na recuperação da disciplina na escola e uma melhoria no ensino/aprendizagem. CONSIDERAÇÕES FINAIS O artigo poderia se estender por mais uma série de outros depoimentos para a análise de outros aspectos apontados nos depoimentos gravados durante o projeto de iniciação científica ou presente nos documentos da escola Nossa Senhora de Lourdes, também analisados durante esta pesquisa. Contudo, a delimitação de tamanho de um artigo científico nos impõe o fechamento. O que queremos destacar final- mente, é que o processo educativo é um processo polêmico de debates entre propostas pedagógicas diferentes, onde não há certeza dos resultados. Pedro Demo nos diz que em ciências sociais nunca temos a certeza do resultado (DEMO, 1981). Os filósofos pragmáticos americanos há muitos já nos indicavam que as verdades só estabelecem mediante a verificação dos resultados (WILLIAM, 1942). Podemos aqui aplicar o mesmo entendimento sobre as propostas pedagógicas que se podem ser efetivamente avaliadas na sua validade mediante os resultados que produzem. E é no debate dos resultados dos diferentes métodos pedagógicos que a polêmica se estabelece. Os métodos atuais são questionados por aqueles que vivencia- ram outros métodos exatamente nos resultados. Apontam baixo aproveitamento escolar, pouca prepara- ção para a vida social e insuficiente preparação até mesmo para sua inserçãono mercado de trabalho. Certamente devemos considerar também as condições em que se aplicam os métodos de ensino e que tem efeitos sobre os resultados. Um dos aspectos particularmente relevantes e que podem influenciar nos resultados obtidos por qualquer proposta metodológica está presente nos relatos e apontam para a desva- lorização do educador na sociedade atual representado, entre outros elementos, por uma falta de reconhe- cimento revelado principalmente pelos baixos salários percebidos pelo professor. Os sentidos das diferen- tes propostas metodológicas presentes na história da educação escolar de Iturama, conforme apontam os depoimentos, ainda estão em processo de construção e se alteram conforme novas questões são colocadas e, entre os sujeitos envolvidos, não há consenso de que atualmente aplica-se um método escolar correto e adequado para os desafios dos tempos atuais. REFERÊNCIAS DEMO, P. Metodologia Científica em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1981. 19 WILLIAM, James. A Filosofia de William James Seleção das Suas Obras Principais. São Paulo: Nacional, 1943. LOWENTAHL, David. Como Conhecemos o Passado. Projeto História, nº18. São Paulo: EDUC, 1998, pp. 63- 180. PORTELLI, Alessandro. O que faz a história oral diferente. Projeto de História nº 14, São Paulo: EDUC/FAPESP, 1997, pp. 25-39. MARX, K. O Capital. 9.ed. São Paulo: DICEL, 1984. THOMPSON, E. P. A Miséria da Teoria, Rio de Janeiro: Zahar, 1981. ORAIS ALVES, Dedival Francisco. Recortes Sobre a História da Educação – Iturama/MG – 1954-2007. Depoimento gravado na residência de Alves, por Maria José Santos Dantas. Iturama, 10/09/2007. CÂMARA, Dulcinéia Regina. Recortes Sobre a História da Educação – Iturama/MG – 1954-2007. Depoimento gravado no local de trabalho de Câmara por Maria José Santos Dantas. Iturama, 10/09/2007. DINIZ, Arédio Pádua. Recortes Sobre a História da Educação - Iturama/MG - 1954-2007. Depoimento gravado na residência de Diniz por Elisângela Maria Cavalcante. Iturama, 18/05/2007. GARRIDO, Dalva Barbosa. Recortes Sobre a História da Educação – Iturama/MG – 1954-2007. Depoimento gravado na residência de Garrido por Maria José Santos Dantas. Iturama, 11/04/2007. MACHADO, Sônia Dias Faria. Recortes Sobre a História da Educação – Iturama/MG – 1954-2007. Depoimento gravado na residência de Machado, por Maria José Santos Dantas. Iturama, 01/06/2007. MAMEDE, Maria do Carmo. Recortes Sobre a História da Educação – Iturama/MG – 1954-2007. Depoimento gravado na residência de Mamede por Maria José Santos Dantas. Iturama, 26/04/2007. OLIVEIRA, Emídio Rodrigues. Recortes Sobre a História da Educação - Iturama/MG - 1954-2007. Depoimento gravado no local de trabalho de Queiroz por Elisângela Maria Cavalcante. Iturama, 18/06/2007. ORTELAN, Yuri Piardi. . Recortes Sobre a História da Educação – Iturama/MG – 1954-2007. Depoimento gravado na escola onde Ortelan estuda, por Elisângela Maria Cavalcante. Iturama, 28/08/2007. QUEIROZ, Dilá Rosa. Recortes Sobre a História da Educação - Iturama/MG - 1954-2007. Depoimento gravado na residência de Queiroz por Elisângela Maria Cavalcante. Iturama, 23/04/2007. RIBEIRO, Antônio Domingos. Recortes Sobre a História da Educação – Iturama/MG – 1954-2007. 20 Depoimento gravado na residência de Ribeiro, por Maria José Santos Dantas. Iturama, 24/08/2007. RODRIGUES, Eunice Maria Urzedo. Recortes Sobre a História da Educação - Iturama/MG - 1954-2007. Depoimento gravado na residência de Rodrigues por Elisângela Maria Cavalcante. Iturama, 06/08/2007. SOUZA, Heloisa Martins. Recortes Sobre a História da Educação – Iturama/MG – 1954-2007. Depoimento gravado na residência de Sousa por Elisângela Maria Cavalcante. Iturama, 19/06/2007. SILVA, Zaida Barbosa. Recortes Sobre a História da Educação – Iturama/MG – 1954-2007. Depoimento gravado na residência de Silva por Maria José Santos Dantas. Iturama, 18/05/2007. VENTURA, Wednesdey Araújo. Recortes Sobre a História da Educação – Iturama/MG – 1954-2007. Depoimento gravado na escola onde Ventura estuda, por Elisângela Maria Cavalcante. Iturama, 03/09/2007. 21 JOGOS E CONHECIMENTOS SISTEMATIZADOS Luzia Magna Soares Alvarenga Fabiana Rodrigues F. Lima Francisca Eva da Silva Maria Aparecida Lio Maria Guilhermina R. D. Barbosa RESUMO: O presente artigo pretende apresentar aos educadores e demais interessados a importância dos jogos e proporcionar reflexões a respeito da utilização destes na sala de aula, com a finalidade principal de funcionamento como elemento motivador do aluno em sua aquisição de conhecimentos sistematizados. Faz a classificação dos jogos, definindo-os e identificando os objetivos propostos em cada uma das ações efetivadas e bem realizadas. Ele trata da importância da qualificação do professor e o seu conhecimento em saber distinguir qual jogo é mais adequado a determinado aluno, e/ou turmas de alunos. Contundo, ele considera aqui o grau de influência da modernidade e tudo que esta proporciona, focalizando a tecnologia como uma conquista para os indivíduos de diversas faixas etárias. Nesse sentido versa sobre os muitos benefícios que os jogos trazem quando usados como instrumentos de trabalho numa tentativa de lazer e produtividade tanto para os envolvidos no processo tanto para manter a harmonia no ambiente educacional. Enfim o artigo trata das ações de um bom educador e de sua disposição em reconhecer e revisar todas as possibilidades encontradas em determinado jogo para melhor adequar o seu trabalho pedagógico objetivando atingir o maior grau de sucesso no que se almeja alcançar. As idéias de Piaget e Vygostsky são apresentadas com o intuito de fornecer embasamento teórico aos conceitos presentes no artigo no que se refere à importância dos jogos e o seu caráter interativo. PALAVRAS-CHAVE: jogos; ensino-aprendizagem; ambiente educacional. INTRODUÇÃO Considerando a atual situação da vida moderna e levando em conta o sufoco causado pelo acúmulo de informações através das constantes transformações em todos os setores e aspectos as quais o homem deve selecionar e analisar acredita-se que os elementos lúdicos advindos de atividades envolvendo jogos Alunas do 6º semestre do curso de Pedagogia da Faculdade Aldete Maria Alves de Iturama-MG. 22 funcionam como fios condutores no resgate de sensibilidades, preparando o terreno das emoções para que as práticas pedagógicas se transformem em sementes férteis e saudáveis, as quais, neste terreno irão germinar produzir frutos e conseqüentemente perpetuar os sentimentos característicos da harmonia humana. Fornecer situações prazerosas faz com que os alunos desprendam de possíveis amarras, daí o fato de diversos autores salientarem a importância da ludicidade no processo de construção de conhecimento. Snyders (1986) defende que quando se ama o mundo, esse amor ilumina e ajuda revelá-lo, a descobri-lo. O amor não é diferente do conhecimento, pois este pode ser sentido e tornar em alegria o prazer de compreender. Afirma RIZZO (1997) não há aprendizado sem atividade intelectual e sem prazer. Segundo MEDNICK (1983) se não há aprendizagem sem o lúdico, a motivação, através do ludicidade parece ser uma boa estratégia no auxilio da aprendizagem. Fica, portanto bem evidenciado a grande necessidade que os indivíduos têm tanto de aprendizagem quanto de motivação para um bom desempenho ao realizar suas funções e ambas estão ligadas de modos intrínsecos, pois a motivação sem a aprendizagem se torna um elemento neutro ou nulo, assim como a aprendizagem sem a motivação pode ser adormecida tomada por um sono profundo e eterno. O educador que propõe jogos aos seus alunos ajuda na construção de conhecimentos e ainda permite que tragam de suas vivências sua realidade e seus jogos, sendo assim um valorizador de bagagem cultural que todos possuem. Portanto o desafio maior está em enxergar as potencialidades dos alunos, dar asas e deixar voar aimaginação e a criatividade singular de cada um. Para obter maior êxito nada melhor que considerar os dizeres de Wittgenstein (apud Huizinga, 1940, p. 209) em seu livro “Homo Ludens”. “O jogo fornece uma chave hermenêutica excelente para o estudo da natureza da linguagem, a qual, em seu juízo é essencialmente um jogo de sons ou mesmo de outros signos”. Explicando melhor, diria que os jogos possuem capacidades comunicativas que se dão de várias formas, realizando atividades com jogos o homem pode ao mesmo tempo usar o corpo e as expressões lingüísticas, as quais estando contextualizadas fazem com que o homem possa realizar-se, e o melhor, ter a oportunidade de ressignificar a própria linguagem falada e escrita. Os jogos em geral estão presentes na vida dos seres humanos desde os tempos mais remotos, e estes, são amplamente aceitáveis não só na infância como em diversos momentos ao longo de suas vidas, pois, de algum modo influenciam todas as faixas etárias. Considerando tantas relevâncias diria que, jogando o ser humano estará construindo algo com maior ou menor intensidade, e ao contrário do que muitos pensam quem joga jamais encontra ociosidade, e sim, momentos positivos, que, de algum modo estarão sendo positivamente aproveitados para sua formação social enquanto cidadão. Para KISHIMOTO (1999) a formação lúdica possibilita ao educador conhecer-se como pessoa, saber de suas possibilidades, desbloquearem resistências e ter uma visão clara sobre a importância do jogo e do brinquedo para a vida da criança. É nesse sentido que se deve observar com mais atenção o que ensinar aos alunos, que tipo de cidadãos se pretende formar, por que é através de jogos e brincadeiras que cada um se desenvolve e tem a sua identidade formada. O bom uso dos jogos em aula requer que tenhamos uma noção clara do que queremos explorar ali e fazê-lo. É importante direcionar para quem, onde e para qual realidade vamos aplicar os jogos. O ato 23 de brincar proporciona a construção do conhecimento de forma natural e agradável; é um grande agente de socialização; cria e desenvolve a autonomia (CUNHA, 2001, p.14). O PAPEL DO JOGO NA EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS Com relação ao jogo Piaget (1998) acredita que ele é essencial na vida da criança. De início tem-se o jogo de exercício que é aquele em que a criança repete uma determinada situação por puro prazer, por ter apreciado seus efeitos. Em torno dos 2-3 e 5-6 anos nota-se a ocorrência dos jogos simbólicos, que satisfazem à necessidade da criança de não somente relembrar mentalmente a realidade. Em período posterior surgem os jogos de regras, que são transmitidos socialmente de criança para criança e por conseqüência vão aumentando de importância de acordo com o progresso de seu desenvolvimento social. Para Piaget, o jogo constitui-se em expressão e condição para o desenvolvimento infantil, já que as crianças quando jogam assimilam e podem transformar a realidade. Segundo ROBLES (2007) foi necessário um longo período até se chegar nestas conclusões e a brincadeira ser levada como algo “sério”. Hoje, esta importância e seriedade em relação ao tema podem ser expressas através do advento das brinquedotecas, dos congressos cujo tema central é jogos infantil, do crescente número de artigos e trabalhos científicos com base no estudo de brincadeiras, etc. Na educação, não se pode deixar de se referir ao Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) que ressalta a importância brincadeira quando afirma que educar significa “propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas”. Para VYGOSTSKY (1998) o desenvolvimento ocorre ao longo da vida e as funções psicológicas superiores são construídas ao longo dela. Ele estabelece fases para explicar o desenvolvimento como Piaget e para ele o sujeito não é ativo nem passivo: é interativo. A criança usa as interações sociais como formas privilegiadas de acesso a informações: aprendem à regra do jogo, por exemplo, através dos outros e não como o resultado de um engajamento individual na solução de problemas. Desta maneira, aprende a regular seu comportamento pelas reações, quer elas pareçam agradáveis ou não (VYGOTSKY, 1998). O jogo permite uma assimilação e apropriação da realidade humana pelas crianças já que este não surge de uma fantasia artística, arbitrariamente construída no mundo imaginário da brincadeira infantil; a própria fantasia da criança é engendrada pelo jogo, surgindo precisamente neste caminho pelo qual a criança penetra na realidade. É dentro deste contexto que se pode afirmar que o jogo constitui a primeiro trabalho da criança, tanto é que Henry Barbusse afirma “Os jogo infantis são graves ocupações. Apenas os adultos brincam.” Além de serem considerados como agentes de diversão, motivação, agora é importante que se ressalve que, já é comprovado e bem divulgado seu aspecto funcional como facilitador da aprendizagem, pois utilizado adequadamente como ferramenta institucional pode facilitar tanto no que se refere a uma melhor prática por parte do docente quanto no quesito apreensão e aumento da capacidade de retenção dos alunos do que foi proposto, isso se dá devido os jogos oferecerem oportunidades de ação e reação exercitando suas devidas funções mentais e intelectuais. 24 25 Trabalhados nesse sentido, os jogos oportunizam o reconhecimento e entendimento das regras, dos limites, o caminhar dentro do contexto e permitindo novos juntamente com a elaboração de novas regras que enquadrem nestes. Através dos jogos os indivíduos adquirem autonomia, expressam sua criatividade, demonstram sua originalidade, além de que possibilitam a simulação e experimentação de situações perigosas ou proibidas que ocorram no cotidiano, já que estes participam do mundo do faz de contas, mundo este que traz oportunidades de enfrentarem os desafios sem se ferir e ainda encontrando espaço e momento para o entretenimento. Quando estes jogos se tratam de elementos usados nas estratégias escolares para a transmissão de conhecimentos e saberes ou conteúdos sistematizados, são, portanto definidos como jogos educacionais, ou seja, instrumentos que o professor utiliza para melhor transmitir conteúdos e conseqüentemente melhor serem apreendidos por parte dos alunos. Todavia (no que se referem às especificidades da educação, há muita discussão quanto às definições dos jogos) Dempsey, Rasmussem e Lucassem (1996), citados por Botelho, defendem que os jogos educacionais “se constituem por qualquer atividade de formato instrucional ou de aprendizagem que envolva competição e que seja regulada por regras e restrições” (BOTELHO, 2004). Complementando é melhor que se frise que, jogos educacionais são todos aqueles que puderem ser aplicados e utilizados visando atingir o alcance de algum objetivo específico na educação salientando também que estes devem ser bem embasados tanto teoricamente quanto pedagogicamente. Outro fator de suma importância é a disponibilidade do professor em analisar cuidadosamente todos os materiais que serão utilizados para que o objetivo que se propõe alcançar se dê da melhor forma e com maior grau de intensidade. Conhece-se muito pouco de comportamentos de crianças em situações de escolha livre, muito embora, estas situações sejam muito freqüentes no cotidiano das escolas, uma vez que as educadoras disponibilizam brinquedos e sucatas e deixam as crianças brincarem livremente nas situações não estruturadas (MARTINEZ, 2005). Neste contexto, ressalta-se a importância do adulto como responsável pela escolha dos materiais escolares e atividades que serão desenvolvidas em sala de aula e como o responsável em gerar condições para que a criança possa escolher as atividades e materiais preferidos. Citado por (MARTINEZ, 2005; OLIVEIRA, 1990; FONSECA, 2003; PONTES 2003). Seja qual for o jogo educacional que se pretende utilizar, a grande relevância sefaz em torno do desempenho e atenção do professor, pois estes materiais pedagógicos jamais deverão ser utilizados sem o conhecimento prévio dos mesmos por parte do professor, principalmente no que se referem aos princípios teórico-metodológicos, os quais devem ser claros e bem fundamentados, inclusive aqueles que são necessários à utilização de recursos tecnológicos. È dentro deste contexto que está o grande desafio e a necessidade do professor estar sempre reciclando, capacitando e atualizando para trabalhar com desenvoltura nos chamados jogos do momento, É responsabilidade e dever do educador identificar quais são os objetivos presentes em determinado jogo e quais as reais condições de alcançá-los. Contudo, o desenvolvimento de jogos educacionais envolve a escolha de um tema, o público alvo e objetivos. Além disso, é preciso ter um esboço de como o material será organizado. Bittencourt e Giraffa (2003) definem que No planejamento de jogos e simulações é de vital importância definir e fixar os objetivos da atividade, a determinação do contexto desejado para a mesma, a identificação dos recursos utilizáveis para se alcançar os objetivos finais e a determinação da seqüência de interações. 26 Atualmente, existem no mercado, alguns softwares que possibilitam a criação de jogos educacionais, com destaque para o Hot Potatoese o Macromedia Flash MX. Ambos não foram desenvolvidos especialmente para a criação de jogos; contudo, devido à combinação de interfaces intuitivas com barras de ferramentas que possibilitam a inserção de imagens, sons, vídeos e botões interativos, é possível a criação de jogos por alunos e professores, possibilitando que os mesmos possam ser criados de acordo com suas necessidades e realidade. CLASSIFICAÇÃO DOS JOGOS Os jogos em geral são classificados de acordo com seus objetivos e dentre os inúmeros podemos citar os de ação, aventura, lógico, estratégicos, rolplaying games etc. Os jogos de ação auxiliam dentre muitos aspectos o desenvolvimento psicomotor atuando nos reflexos e na rapidez de pensamento. Os de aventura são ótimos simuladores de situações em que são impossíveis de serem vivenciadas em sala de aula, como acontece nos experimentos químicos e nas situações de desastres ecológicos. Já os jogos lógicos são ótimos desafiadores da mente humana oferecendo limites para que os usuários finalizem tarefas. Os jogos estratégicos funcionam como excelentes facilitadores para o desenvolvimento focando na sabedoria e habilidades para o negócio. Com referência aos jogos de role-playing games (R P G) nestes o indivíduo controla um personagem em um ambiente. Através destes os jogadores interagem seus personagens com outros que estão no ambiente virtual, podendo ser uma situação simples ou complexa dependendo da escolha da tarefa o que exige dos jogadores atenção concentração e utilização de seu conhecimento cognitivo para que se obtenha sucesso e vitórias. Os jogos podem ser utilizados de diferentes formas independentes do seu tipo. O que norteará o trabalho são os objetivos e conseqüentemente a exploração da criatividade pessoal é o que afirma e destaca Botelho (2004). ...para treinamento de habilidades operacionais conscientização e reforço motivacional, desenvolvimento de insight e percepção, treinamento em comunicação e cooperação, integração e aplicação prática de conceitos apreendidos e até mesmo na assement. (avaliação da aprendizagem). Estamos vivendo na era do período pós-industrial, o qual exige uma renovação perene da sociedade e conseqüentemente uma transformação de conhecimentos mediante o mundo da globalização. Nessa sociedade, as informações multiplicam-se e distribuem-se rapidamente, tornando-se indispensável à busca e a seleção daquelas que podem ser relevantes para auxiliar nas respostas dos questionamentos e, conseqüentemente, contribuir para a construção de conhecimento. Exigem-se, assim, indivíduos com uma postura crítica e criativa diante da realidade. Esta era é também a do aprendizado permanente, que não se restringe apenas a um período de vida do indivíduo, mas é contínuo ao longo desta. É em meio a tal realidade que se percebe a importância de se pensar em estratégias de ensino para adultos que buscam qualificação dentro de suas profissões, sem a repetição dos modelos que vêem o aprendiz como “passivo” no processo de ensino-aprendizagem, afirma Liane Margarida Rockenbach Tarouco (V.3. Nº. 2, Novembro, 2005). Com a possibilidade de mudanças no paradigma pedagógico e o surgimento das novas tecnologias, tais como o computador, os alunos e professores podem utilizar os recursos tecnológicos a favor de uma prática pedagógica que leve em conta os desejos e necessidades dos alunos. O importante dessas experiências foi que usando ferramentas que geram também exercícios tradicionais foi possível a inversão dessa lógica, fazendo com que os alunos pensem e sejam criativos. Um exemplo seria ao invés de completar 27 uma cruzadinha, propor que eles elaborem os conceitos a partir das palavras apresentadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando a criança com um ser global, onde o afetivo, o cognitivo e o simbólico estão integrados, proporcionando, o pensar, o agir e a representar inteiramente o meio físico ou humano, cabe à escola criar espaços onde a troca de experiências, os significados, as idéias sejam construídas e partilhadas. A educação deve ser entendida e trabalhada de forma interdisciplinar, onde não se priorize somente uma área de conhecimento, mas sim sua totalidade, tornando todas as atividades prazerosas, lógica e atrativa para as crianças. Nesse sentido é importante refletir com pensamentos como o do autor Josette Jolibert. “A atividade do sujeito aprendiz é determinante na construção do seu saber operatório. Ele nunca está sozinho, isolado. Ele age em integração com os meios ao seu redor.” Mediante isso é que devemos valorizar todos os materiais que possam oferecer um aprendizado significativo. No contexto educacional os jogos devem ser situados corretamente, e isso só acontece através da utilização partindo da compreensão dos fatores que podem colaborar para uma aprendizagem ativa e não funcionando apenas com a passividade dos alunos em cumprir a risca o que determina as regras de tais jogos. Melhor do que o próprio ato de jogar em si, é a aprendizagem que só acontece por meio da dialética, isto é, da oportunidade de oferecer um clima de discussão, e do momento de troca, ambiente onde o professor permite várias tentativas e inúmeras respostas, tolerando os erros e aceitando novos desafios, analisando o desenvolvimento e a participação em todo o processo e não apenas o produto final. Tal processo faz com que o próprio educando realize a sua auto-avaliação compreenda o porquê dos desvios na trajetória que se segue. Com as mudanças no paradigma pedagógico e o surgimento das novas tecnologias, tais como o computador e a Internet, os professores abriram as portas ao uso de recursos que extrapolam a visão tradicional e os métodos meramente discursivos no processo de ensino aprendizagem. Assim, com o crescimento da Tecnologia Educativa, os jogos educacionais se configuraram como uma ferramenta complementar na construção e fixação de conceitos desenvolvidos em sala de aula, e num recurso motivador tanto para o professor como para o aluno. Com certeza busca-se que as escolas disponham de uma equipe de educadores que utilizem em sua prática pedagógica as novas tecnologias e os recursos disponibilizados por ela. É preciso valorizar não somente os jogos, mas a construção destes, pois não basta somente jogar, é preciso também criar e inovar. Quando as crianças jogam ou criam seus jogos adquirem compreensão de como o mundo funciona e como lidar com este mundo, sendo assim ultrapassam seus próprios limites rumo a autonomia da aprendizagem. REFERÊNCIAS BORGES, J. L. Henri Barbusse. In: Obras completas de Jorge LuisBorges. São Paulo: Globo, 2001, v. 4, p. 306. B O T E L H O , L . J o g o s e d u c a c i o n a i s a p l i c a d o s a o e - l e a r n i n g . D i s p o n í v e l e m : http://www.elearningbrasil.com.br/news/artigos/artigo_48.asp Acessado em: setembro/2008. as 9h e 40 min. . 28 BITTENCOURT, J.R.; GIRAFFA, L.M.M. Modelando Ambientes de Aprendizagem Virtuais utilizando Role- Playing Games In: XIV Simpósio Brasileiro de Informática na Educação, Rio de Janeiro: SBC, 2003. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de educação Fundamental, Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Vol.1 Brasília: MEC/SEF, 1998. FONSECA, M. L. S. Adaptação Escolar: Como viver este momento. UEI. UFCG. In; III Encontro Nacional das Unidades Universitárias de Educação Infantil. UAC, Secretaria de assuntos Comunitários da Universidade Federal de São Carlos, (No prelo). (2003). HUIZINGA, Johan. 1940, apud, Homo Ludens.: O jogo como elemento cultural. São Paulo: Perspectiva, 2001. JOLIBERT, Josette. Formando Crianças Leitoras. Belo Horizonte: Fapi, vol 8. p.5. Revista Dia a Dia do professor,1985 KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. MARTINEZ, Ana Paula. (2005) Experiência em contar e ouvir estórias: uma relação com os comportamentos de escolha escolar e atividades. Psicóloga, mestre em Educação Especial. Programa de Pós Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos e atualmente Aluna Especial do Doutorado PPGE/UFSCar. MEDNICK, S. A. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 5.ª ed. Petrópolis: Vozes, 1983. OLIVEIRA, Z. R. Jogo de Linguagem: pontos para uma reflexão a respeito do valor da interação social no desenvolvimento infantil. Paper apresentado na mesa redonda, do II Congresso Brasileiro de Brinquedos na Educação. FEUSP, julho, 1990. PIAGET. J, A psicologia da criança. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. PONTES, G. M. D. (2003) Vivências teatrais na escola infantil. NEI (Núcleo de Educação Infantil), UFRN. In; III Encontro Nacional das Unidades Universitárias de Educação Infantil. UAC, Secretaria de assuntos Comunitários da Universidade Federal de São Carlos, (No prelo). RIZZO, J. P. Corpo Movimento e Educação - o desafio da criança e adolescente deficientes sociais. Rio de Janeiro: Sprint, 1997. ROBLES. Heloisa Stoppa Menezes, A brincadeira na Educação Infantil: conceito, perspectiva histórica e possibilidade que ela oferece. Graduação em psicologia e mestrado em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Professora no Centro Universitário Central Paulista (UNICEP – São Carlos) e Centro de Formação Profissional (CEFORP- Ribeirão Preto) e atua como psicóloga em consultório particular 29 no atendimento de crianças e adultos. SNYDER, A. C. et al. Sports Exercise. São Paulo: Rideel, 1983. TAROUCO, Liane Margarida Rockenbach. O aluno como co-construtor e desenvolvedor de jogos educacionais. v.3. nº. 2, Nov., 2005. Paper escrito como exigência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. VYGOTSKY. L, A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998. O SER INFANTIL DA LITERATURA Ilma Rodrigues L. Alves Rosiley Queiroz V. Portilho Geralda Nair de Andrade Glauciene B. de Oliveira Rosania Márcia de Freitas Alunas do 6º semestre do curso de Pedagogia da Faculdade Aldete Maria Alves de Iturama-MG. RESUMO: O principal objetivo deste artigo é o de refletir sobre o valor da literatura na educação das crian- ças, livros são fontes de inspiração, beleza e informação, e acrescentam mais encanto à vida da criança. Literatura infantil leva-nos de imediato à reflexão acerca do que seja esse “infantil” como qualificativo especificador de determinada espécie dentro de uma categoria mais ampla e geral do fenômeno literário. Como conclusão, o estudo aponta que devemos continuar a desenvolver a nossa própria apreciação da literatura buscando melhores técnicas. PALAVRAS-CHAVE: literatura; educação infantil; infância. INTRODUÇÃO O conceito de literatura infantil é bastante discutido entre os estudiosos do assunto. Há aqueles que defendem o que é o objeto escolhido pelo seu próprio leitor, outros é que o objeto de formação de um agente transformador da sociedade e há até aqueles que questionam o fato de existir uma literatura infantil ou dela ser uma questão de estilo. Apresentamos a problemática seguinte: De que forma a literatura infantil pode contribuir para a educação das crianças? Dentro do contexto da literatura infantil, a função pedagógi- ca implica a ação educativa do livro sobre a criança. De um lado, relação comunicativa leitor-obra, tendo por intermédio o pedagogo, que dirige e orienta o uso da informação; de outro, a cadeia de mediadores que interceptam a relação livro-criança: família escola, biblioteca e o próprio mercado editorial, agentes contro- ladores de usos que dificultam à criança a decisão e escolha do que e como ler. O assunto selecionado ocorreu através de uma pesquisa bibliográfica em livros. A LITERATURA INFANTIL: ASPECTOS TEÓRICOS 30 Segundo Borges (1994), é inegável a importância da literatura, quando se pensa na formação com- pleta do ser humano, num processo que busque o equilíbrio entre o desenvolvimento da inteligência e da afetividade, entre a razão e a emoção, entre o utilitário e o estético. No processo de desenvolvimento pelo qual vem passando humanidade ao longo de sua história, e cada sujeito, em particular, pode-se perceber que a literatura esteve e está presente em nossas vidas, muito antes da leitura e da escrita – nas cantigas de ninar, nos brinquedos de roda, no ouvir histórias, fornecendo, no dizer de Cecília Meireles, “a verdadeira nutrição de que o espírito necessita”. Com a aproximação do estágio escolar, a literatura tem o poder de constituir-se, para a criança, em “elo lúdico” entre o mundo do imaginário, dos símbolos subjetivos, e o mundo da escrita, dos signos conven- cionalizados e impostos pela cultura. Se assim compreendida, sentida e amada, a literatura passa a fazer parte da vida das crianças, adolescentes e adultos, gerando uma sede insaciável de ler, acompanhada da crença intuitiva de que, em cada novo texto literário, há sempre a possibilidade de novas descobertas, de ampliação da compreensão de si e do mundo, de desenvolvimento pessoal, no plano do pensar e do sentir. Entretanto, para que a literatura possa ser “presença” na vida de uma criança, acreditamos que, juntamente com os exemplos e estímulos familiares, a maneira como a escola “vive” e “convive” com os textos literários, tem um papel fundamental, a partir da formação do professor de educação infantil que, necessariamente, deve apresentar uma sensibilidade a esta forma de expressão, que o leve não apenas a “passá-la” às crianças, mas, conforme dissemos, a “vivê-la” com as crianças. Fazendo as suas leituras de adulto, ao mesmo tempo em que penetra nas sutilezas e nas emoções da obra literária, mesmo aquelas produzidas para um público infantil, estará o professor se capacitando para transmitir essas emoções aos seus alunos. Quando isto ocorre em uma classe pré-escolar, o momento de se ouvir ou inventar histórias representa o clímax das atividades pedagógicas, tornando-se realmente o momento mágico esperado por todos e de inigualável valor educativo. A literatura infantil moderna tem apresentado um enorme progresso nos últimos anos. Através de autores, tais como: Ana Maria Machado, Eva Furnari, Mary e Eliardo França, Ruth Rocha, Joel Rufino dos Santos, Ziraldo, Luís Camargo, Fernanda Lopes de Almeida, Elvira Vigna, Sylvia Orthof, Maria Mazzetti e de muitos outros, vamos encontrar uma narrativa literária que busca relativizar os valores e, com isto, criar um espaço de criticidade, sem prejuízos ao imaginário infantil. Assim, nas suas narrativas, o “rico” nem sempre é “belo” e “feliz”, ao mesmo tempo em
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