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1 Geografia Virtual INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA (Parte 2) A internacionalização da indústria no Brasil: 1956-1961 (JK), 1961-1964 (João Goulart), 1964-1985 (Ditadura Militar): Em 1956, uma nova fase de industrialização no Brasil iniciou-se com o governo de Juscelino Kubitschek. O plano de metas do governo (com o lema “cinquenta anos em cinco”) definiu investimentos em cinco setores: transporte, energia, educação, alimentação e indústria. Enquanto, na Era Vargas, o Estado investia em empresas estatais, no governo de JK os investimentos foram direcionados para a criação de infraestrutura na área de energia e transporte, para atrair empresas multinacionais. A década de 1950 se caracterizava pela recuperação econômica da Europa e do Japão, intensamente prejudicados pela Segunda Guerra Mundial, e pela 2 Geografia Virtual ascensão política e econômica dos Estados Unidos, cujo estilo de vida consumista se propagava pelo mundo. O governo de JK queria se inserir neste contexto internacional de prosperidade e de modernização. O setor industrial beneficiado nessa fase da industrialização brasileira foi o de bens de consumo duráveis. A indústria automobilística foi o símbolo desse período, com a instalação de algumas fábricas de empresas multinacionais: Volkswagen, Mercedes-Benz, General Motors, Ford etc. Vários investimentos foram direcionados para apoiar este setor, tais como construção de rodovias e exploração e refino de petróleo. O governo de JK concluiu a formação de um "tripé econômico" no Brasil: Capital privado internacional, direcionado para a indústria de bens de consumo não duráveis (que exigem pouco capital e pouca tecnologia); Capital estatal, voltado para o setor industrial de bens de produção (com custo de implantação extremamente elevado e retorno de lucro a longo prazo); Capital estrangeiro, usado em investimentos diretos, por meio de fábricas de bens duráveis (que exigiam tecnologia mais avançada) e indiretos, compreendendo 3 Geografia Virtual empréstimos internacionais (que aumentaram muito a dívida externa brasileira). As principais consequências do governo JK no Brasil foram: Forte internacionalização da economia, estabelecendo uma grande dependência em relação ao capital e à tecnologia estrangeiros; Aumento da concentração de renda e desigualdade social, já que os lucros obtidos pelas grandes indústrias não eram repassados aos salários da classe operária, assim como os preços dos produtos industrializados eram mantidos relativamente altos. A construção de Brasília: A cidade de Brasília (inaugurada em 1960) foi construída em 41 meses, durante o governo do presidente JK, para ser a sede do governo federal, empregando 30 mil operários migrantes. Por seu projeto urbanístico e arquitetônico esta cidade foi declarada, em 1987, patrimônio cultural da humanidade. Para muitos brasileiros, Brasília era um símbolo da modernização, que se processava no Brasil. No entanto, tal modernização pode ser interpretada como sendo excludente, já que a classe trabalhadora não se beneficiava dos avanços econômicos e tecnológicos. Os salários eram 4 Geografia Virtual baixos e as condições de moradia, saúde, educação e alimentação era ruins. A crescente desigualdade social no Brasil se materializava em Brasília, com a formação das cidades satélites que cresciam à sua volta. Com a transferência da capital federal do Rio de janeiro para Brasília, houve o aumento da dívida externa brasileira, da inflação, além de provocar o distanciamento entre governo, legisladores e população. O período que se seguiu, de 1961 a 1964, foi marcado por uma grande crise política, agravada com os problemas econômicos herdados do governo JK (dívida externa e inflação). O que estava em jogo era o papel que cabia ao Estado de investir no setor público ou no setor privado, o que pode ser melhor explicado no período que se segue - a ditadura militar. Dando continuidade ao processo da internacionalização da economia, os governos militares, instalados a partir de 1964, promoveram um período de intenso crescimento econômico denominado "milagre brasileiro"(1968-1974). Esta fase foi favorecida pela grande disponibilidade de capital internacional, relacionada a dois importantes fatores: prosperidade econômica dos Estados Unidos e dos principais países europeus; intensificação da guerra fria, onde os blocos capitalista e socialista procuravam 5 Geografia Virtual conquistar áreas de influência por meio de investimentos diretos e indiretos. O "milagre brasileiro" se caracterizou por elevadas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB - soma dos valores gerados nós diferentes setores da economia em um ano), alimentado pelo desenvolvimento e pela diversificação do setor industrial. Nesse período os governos militares investiram em: Infraestrutura: rodovias, ferrovias, telecomunicações, portos, usinas hidrelétricas, usinas nucleares; Indústrias de base: mineração, siderurgia e metalurgia; Indústrias de transformação: papel, cimento, alumínio, produtos químicos, fertilizantes; Indústrias de equipamentos: geradores, sistemas de telefonia, máquinas, motores, turbinas; Indústrias de bens duráveis: automóveis e eletrodomésticos; Agroindústria de alimentos: produção e industrialização de grãos, carnes e laticínios. O “milagre econômico” persistiu até 1974, quando a crise internacional do petróleo repercutiu na disponibilidade de capital estrangeiro. Entre 1963 e 1973 havia facilidade de pegar empréstimos a juros baixos e com longos prazos de pagamento. Aproveitando a fartura desse período, o 6 Geografia Virtual governo brasileiro contraiu uma grande dívida externa, que se transformou em grande pesadelo após 1974, devido ao aumento dos juros dos empréstimos realizados. A década de 1980 ficou conhecida com a “década perdida”, caracterizada por: Incapacidade do Estado em continuar investindo na economia, devido aos grandes gastos para o pagamento da dívida externa; Aumento da inflação; Desvalorização contínua dos salários; Estagnação do setor industrial, gerando seu sucateamento. Embora várias empresas multinacionais estivessem instaladas no Brasil, na década de 1980 havia pouco interesse das matrizes dessas empresas em investir na modernização dos sistemas de produção e na qualidade dos produtos. Assim, o carro da Ford no Brasil geralmente era de um modelo ultrapassado e apresentava elevados custos de produção, quando comparado aos carros produzidos pela mesma empresa nos Estados Unidos ou na Europa. A política neoliberal e as mudanças na indústria no Brasil: 1985-2007 A crise econômica instalada na década de 1980 estimulou mudanças no quadro político do Brasil. No plano industrial, 7 Geografia Virtual o então presidente da república Fernando Collor de Mello adotou medidas neoliberais por meio da abertura do mercado brasileiro aos produtos estrangeiros. Além da livre entrada de produtos importados, a política neoliberal adotada permitiu a inserção de capitais especulativos, para aplicação no mercado de ações, e de capitais produtivos, para instalação de novos negócios ou compra de empresas falidas. Além disso, a onda de privatizações também provocou muitos embates políticos, pois grandes empresas, consideradas símbolos da modernização brasileira e pertencentes a setores econômicos estratégicos, foram vendidas, em alguns casos, a preços relativamente baixos. Empresas e setores importantes privatizados em meados da década de 1990 foram a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Companhia Vale do Rio Doce, o sistema Telebras (quebra de monopólio nas telecomunicações) e as distribuidoras de energia (CERJ, atual Ampla). As empresas multinacionaisque atuavam no Brasil também buscaram diminuir seus custos de produção. Em alguns casos, optaram por deslocar-se para Estados e cidades que ofereciam vantagens fiscais. Áreas industriais, importantes até então, começaram a sofrer um pequeno esvaziamento. Esse foi o caso do ABC Paulista, a grande concentração 8 Geografia Virtual industrial dessa área tornou os custos de produção muito elevados: terrenos valorizados, mão de obra cara e sindicalizada, engarrafamentos etc. Tais condições caracterizaram os antigos centros comerciais como deseconomias de aglomeração. As reformas econômicas implantadas, sobretudo no governo de FHC, atraíram vários tipos de investimentos para o Brasil e possibilitaram a modernização de importantes setores da economia (especialmente o das telecomunicações). As empresas nacionais que não faliram, tiveram que se modernizar, muitas vezes com a participação do capital transnacional. A entrada de novas empresas estrangeiras de automóveis (Peugeot, Renault, Honda etc.) levou à reestruturação das antigas multinacionais já instaladas (Ford, Fiat, Volkswagen e General Motors), que não queriam perder espaço no mercado consumidor para as concorrentes. Nessa nova fase da indústria brasileira, verifica-se uma mudança do papel do Estado. Antes, ele atuava de forma direta na produção de bens (aço, petróleo, máquinas pesadas etc.) e serviços (portos, bancos, telecomunicações, energia etc.). Atualmente, o Estado assumiu novas funções de normatização e fiscalização da economia, criando agências nacionais de controle. 9 Geografia Virtual Atualmente, o Brasil, junto com Argentina, México, Índia, China e África do Sul, faz parte do grupo de países considerados industrializados. No entanto, ainda não conseguiu superar problemas de concentração de renda, existência de bolsões de pobreza, crescimento do setor informal, pequeno nível educacional da maior parte da população, entre outros. Referências bibliográficas: SALGADO, Carla M. Pré-Vestibular Social: geografia. V. 1 / Carla M. Salgado, Sonia V. G. da Gama – 4 ed. rev. – Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2012. 120 p.
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