Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Aula 12 – Concreto Dosado em Centrais CONCRETO 140 Aula 12: Concreto Dosado em Centrais De acordo com a norma brasileira NBR7212:1984 o CDC pode ser definido como: “...concreto dosado, misturado em equipamento estacionário ou caminhão betoneira, transportado por caminhão betoneira ou outro tipo de equipamento, dotado ou não de agitação, para entrega antes do início de pega do concreto, em local e tempo determinados, para que se processem as operações subsequentes à entrega, necessárias à obtenção de um concreto endurecido com as propriedades pretendidas”. 1. Introdução O sucesso da utilização do CDC na construção civil frente ao concreto produzido no canteiro de obras pode ser atribuído a fatores como: • Redução de desperdícios de materiais utilizados na produção de concreto no canteiro de obras; • Racionalização do número de operários na obra, com consequente redução de encargos sociais e trabalhistas; • Redução no controle de insumos, permitindo eliminação da área de estoque e melhor aproveitamento do canteiro de obras; • Maior agilidade e produtividade da equipe de trabalho em função da possibilidade de entrega de grandes volumes de concreto; • Redução do custo total da obra. Em se tratando de um serviço prestado à um determinado consumidor, é de extrema importância que seja realizado o controle de qualidade do processo de produção do CDC, uma vez que o desempenho deste pode ser comprometido por uma série de fatores, como por exemplo, falta de controle de abatimento, falta de precisão no proporcionamento dos materiais, carência técnica na execução dos procedimentos de moldagem e transporte dos corpos-de-prova, entre outros. De modo a facilitar o entendimento das propriedades do concreto e os fatores que as afetam, é de extrema importância conhecer as características dos insumos utilizados, bem como o método empregado para a sua produção. Assim sendo, tomando por base a linha de Aula 12 – Concreto Dosado em Centrais UNIDADE 4 – COMPORTAMENTO DO CONCRETO ARMADO 141 produção ilustrada na Figura abaixo, ao longo desta aula são apresentados os principais insumos empregados na produção do concreto. Definidos os insumos, são apresentadas as diferentes configurações das centrais de concreto e equipamentos utilizados para o transporte da central à obra. 2. Centrais de Concreto Uma central de concreto trata-se de um conjunto de instalações e equipamentos necessários para o desenvolvimento das etapas de produção de concreto, isto é, armazenamento, manuseio, proporcionamento dos materiais constituintes, homogeneização da mistura, transporte e lançamento do concreto. Além da produção do concreto, as centrais abrangem serviços de administração, vendas, faturamento, cobranças, logística, controle de qualidade, assessoria técnica, treinamento e aperfeiçoamento profissional. As centrais de concreto apresentam os mais variados tipos de instalações podendo ser classificadas de acordo com diversos critérios, dentre eles destacam-se: disposição da central, controle de proporcionamento e mistura de concreto. 2.1. Classificação das Centrais de Concreto e Transporte As centrais de concreto podem ser classificadas quanto à sua disposição, controle de proporcionamento e processo de mistura do concreto. Os detalhes referentes a cada uma dos tipos de centrais são apresentados nos itens que seguem. Existem vários tipos de Centrais, não cabendo a esta aula adentrar em todas elas. Trabalharemos, a título de praticidade, com a mais comum no Brasil. Aula 12 – Concreto Dosado em Centrais CONCRETO 142 2.2. Centrais Verticais É considerado o modelo de central mais tradicional e trata-se de unidades mais robustas caracterizadas pela simplicidade dos acionamentos na linha de produção. Tal simplicidade se reflete na reduzida motorização e consequente redução de desgaste de equipamentos. A estocagem do cimento é feita em silos e dos agregados em caixas, sendo o transporte deste feito sem o uso de correias transportadoras o que permite a redução do espaço físico ocupado pela central. Apesar do menor espaço físico ocupado e uso de sistemas simplificados, as centrais verticais apresentam baixa mobilidade de equipamento, ou seja, tratam-se de unidades permanentes ou semipermanentes, sendo recomendadas para obras de longa duração ou mercados definitivos. As centrais verticais são também conhecidas como centrais de gravidade em função do sistema de manuseio dos materiais, isto é, transporte e pesagem, para produção do concreto. 2.3. Caminhões Betoneira O caminhão betoneira é o principal equipamento de transporte do CDC. Este tipo de caminhão é provido de um balão rotativo com eixo inclinado. No interior deste há um par de lâminas (facas), que contornam o balão em uma configuração helicoidal no sentido da cabine do motorista (parte anterior do caminhão) para o trecho de descarga do concreto (parte posterior). Tal configuração permite que o concreto seja misturado quando o balão gira em um sentido, compensando a tendência de segregação no transporte, e descarregado quando o balão gira no sentido contrário. Aula 12 – Concreto Dosado em Centrais UNIDADE 4 – COMPORTAMENTO DO CONCRETO ARMADO 143 Os caminhões betoneira são também comercializados em versões acopladas com correias transportadoras ou bombas de lançamento de concret. Todavia, devido ao elevado custo de aquisição, estes tipos de caminhões são recomendados para centrais que atendem grande demanda de concreto. 2.4. Bombas de Concreto As bombas são equipamentos de extrema importância para a construção civil. Tanto para grandes quanto para pequenas obras, elas imprimem mais velocidade à concretagem, diminuem a quantidade de mão de obra e equipamentos, facilitam a aplicação e permitem um melhor acabamento, devido à maior plasticidade do concreto. Seu funcionamento é muito complexo, mas podemos dizer que está baseado em acionar dois pistões para funcionarem alternadamente. Enquanto um se enche com o concreto proveniente do caminhão betoneira, o outro se esvazia, empurrando o concreto para a tubulação de saída. Dependendo do seu modelo, as bombas podem ser montadas sobre o chassi de um caminhão, ou serem do tipo rebocável, seguindo para a obra engatada em outro veículo. Não existe uma classificação oficial para estes equipamentos, portanto, para distingui-los, serão agrupados da seguinte forma: Aula 12 – Concreto Dosado em Centrais CONCRETO 144 • Bomba Lança: Equipamento que obrigatoriamente deve ser montado sobre o chassi de um caminhão, devido ao seu tamanho e peso. O nome lança se deve ao fato dela possuir um mastro distribuidor, articulado normalmente em três ou quatro partes. No Brasil as bombas-lança mais utilizadas são as de 28 m e 32 m de alcance do mastro e a maior bomba que existe em atividade possui 56 metros de Lança; • Bomba Reboque ou Estacionária: São equipamentos sem o mastro distribuidor, mas que podem ter o mesmo desempenho de uma Bomba Lança em termos de velocidade e potência de bombeamento. São rebocadas até a obra e necessitam da montagem de tubulação até o local de descarga. São mais utilizadas em prédios, galpões com pé direito baixo, estacas hélice, etc.; • Auto Bomba: Seria uma Bomba Reboque ou Estacionária montada sobre o chassi de um caminhão, dispensando a necessidade de um veículo para rebocá-la; • Bomba de Mangote: São bombas com menor potência e velocidade de bombeamento, mas perfeitas para serem utilizadas em obras residenciais. A distribuição do concreto é feita através de mangotes de três polegadas e a consistência do concreto(slump) é excelente para o enchimento de lajes, vigas, etc. 3. Recepção do Concreto Com a chegada do caminhão à obra, deve-se verificar se o concreto que está sendo entregue está de acordo com o pedido. Deve ser conferido no documento de entrega: • Volume do concreto; • Classe de agressividade; • Abatimento (slump-test); • Resistência característica do concreto à compressão (fck); ou consumo de cimento/m³; • Aditivo, quando solicitado. Antes da descarga do caminhão-betoneira, deve-se ainda avaliar se a quantidade de água existente no concreto está compatível com as especificações, não havendo falta ou excesso de água. A falta de água dificulta a aplicação do concreto, criando “nichos” de concretagem. Por sua vez, o excesso de água, embora facilite a aplicação do concreto, diminui a resistência. Aula 12 – Concreto Dosado em Centrais UNIDADE 4 – COMPORTAMENTO DO CONCRETO ARMADO 145 Durante o trajeto da central dosadora até a obra é comum ocorrer perda na consistência do concreto devido às condições climáticas – temperatura e umidade relativa do ar. Parte da água da mistura deve ser reposta na obra compensando a perda por evaporação durante o trajeto. Para isso, utiliza-se o ensaio de abatimento (slump-test), bastante simples e de fácil execução. As regras para a reposição de água perdida por evaporação são especificadas pela NBR 7212 – Execução de Concreto Dosado em Central. Como regra geral, a adição de água não deve ultrapassar a medida do abatimento solicitada pela obra e especificada no documento de entrega do concreto. 3.1. A Tentação da Água É muito comum em canteiros de obras os Técnicos em Edificações ficarem responsáveis por todo o concreto da edificação. Isto acontece principalmente em grandes canteiros onde os Técnicos auxiliam o Engenheiro na gestão do empreendimento. Algo muito corriqueiro de se acontecer, infelizmente, é o casamento dos seguintes fatores: • Obra de Grande Porte (movimentada); • Muitas atividades acontecendo juntas; • Concretagens em grandes volumes; • Concreteira distante; • Fator climático desfavorável. Imagine o aluno a seguinte situação: “Na concretagem de uma Laje de 40 m³ foram programados os devidos caminhões de 9 m³ + corte (corte é o pedido do último caminhão com a estimativa de volume para finalizar a concretagem). O tempo está armado para chuva e o “corte” chegou fora de especificação de abatimento de cota (que era 12 ± 2, para ser bombeado). Não dá tempo para se rejeitar o caminhão pois existirá uma emenda com um dos caminhões anteriores que chegou há 2 horas e o início de pega é eminente. Também não existe a possibilidade de se dilatar esta Laje. Ademais, um possível novo pedido levaria 40 minutos para ser atendido com a especificação correta”. Vejamos o que foi solicitado: • Resistência: 25 MPa; • Volume: 6 m³; • Slump: 12 ± 2; • Brita 1. Ao se realizar o Slump Test, verificou-se que o abatimento foi 6 cm. O que fazer? Aula 12 – Concreto Dosado em Centrais CONCRETO 146 Esta situação é muito rotineira. Para a solução do problema, deve-se em primeiro lugar aferir a quantidade máxima de água a ser adicionada na nota fiscal. Porém, tenha em mente a seguinte informação expressa no gráfico: Ao se adicionar água, a resistência do concreto diminui, pois aumenta-se a relação água/cimento com água, o que mitiga esta propriedade do concreto. O contrário, por exemplo, em um panorama onde o Slump Test atingisse 16 cm, adicionar cimento majoraria a resistência do concreto e diminuiria o abatimento (passaria de 16 cm para um número menor). Esta decisão tem que ser tomada com responsabilidade, pois pode comprometer uma estrutura inteira e causar grande prejuízo. Nunca se deve adicionar água, em qualquer quantidade, quando não se sabe o volume de concreto existente no caminhão e jamais em volume superior ao permitido em nota fiscal para o volume solicitado. Geralmente (não é uma certeza, pois influenciam diversos fatores nesta assertiva) em um concreto de Resistência 30 MPa, sacrificam-se de 3 a 5 MPa ao se adicionar 10 l/m³ de água para se elevar 2 centímetros o abatimento (aumentar o Slump). Faz-se isso pois as bombas não conseguem projetar concretos com Slump abaixo de 8 cm e também devido a concreteira geralmente dosar misturas com maior resistência à que foi solicitada. Se aos 28 dias o rompimento do corpo de prova indicar que a resistência de projeto está atendida, tudo bem. Caso não, aí se tem um GRANDE problema.
Compartilhar