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PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 1 Projeto de instalações de energias renováveis PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 2 Projeto de instalações de energias renováveis APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA A implementação em grande, mediana e pequena escala das energias renováveis está crescendo a um ritmo elevado nos últimos anos, impulsionada por políticas governamentais e por uma grande evolução na eficiência das tecnologias. A matriz energética brasileira compõe-se de variadas alternativas, dando maior participação a energias que são mais limpas e, em alguns casos, mais eficientes, onde cabe ressaltar o enorme crescimento dos setores solar e eólico. Na instalação destas energias renováveis, encontram-se métodos e alternativas bastante variados, com diferentes níveis de dificuldade na implementação. Podendo- se encontrar soluções que se adequam a diferentes panoramas e condições, e que são regidas por uma série de metodologias e regulamentações desenvolvidas por várias organizações no Brasil e no mundo. Atualmente é objeto de estudo o desenvolvimento não somente de sistemas isolados (os quais resolvem problemas pontuais), senão a integração dos diferentes sistemas de energia (parques eólicos, pequenas centrais hidrelétricas, células a combustível, sistemas a biomassa, sistemas fotovoltaicos e termossolares etc.), em redes interligadas onde procura-se a modernização das tecnologias de geração, transformação, transmissão, distribuição e uso final da energia. OBJETIVOS: • Identificar métodos e procedimentos usados na instalação de projetos que envolvem energias renováveis como usinas de biodiesel, sistemas fotovoltaicos, biorrefinarias de etanol, parques eólicos, entre outros; PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 3 • Descrever as normativas que regulam a implementação de grandes projetos de engenharia que envolvem energias renováveis, como as pequenas centrais hidrelétricas, os sistemas fotovoltaicos e os parques eólicos; • Analisar as tecnologias desenvolvidas e em desenvolvimento para a integração dos diferentes tipos de energias renováveis nas redes elétricas modernas. UNIDADE 1. INTRODUÇÃO À INSTALAÇÃO DE PROJETOS DE ENERGIA A geração de energia elétrica com a exploração de fontes renováveis é atualmente uma tendência crescente em distintos países, nos quais se verifica também a concessão de incentivos para a geração distribuída de grande e de pequeno porte. Os incentivos à geração distribuída, localizada próxima aos centros de consumo, proporcionam diversas vantagens para o sistema elétrico, quais sejam: adiam investimentos na expansão dos sistemas de transmissão e distribuição e reduzem o carregamento dessas redes e as perdas dos sistemas, têm baixo impacto ambiental, eliminando ou reduzindo emissões de gases do efeito estufa, e permitem a diversificação da matriz energética (CBIC, 2016). Nos últimos anos, tem-se ampliando no Brasil o debate sobre a necessidade de incentivar o uso de fontes renováveis alternativas que possibilitem a expansão e diversificação do parque gerador de eletricidade do país, incluindo-se nesse tema variadas alternativas como usinas de biodiesel, parques eólicos, biorrefinarias de etanol, projetos de energia solar, entre outros. Outra questão igualmente importante que também está inserida nesse debate é a da eficiência no uso da energia. 1.1 Parte de um projeto elétrico de uma central de energias renováveis Dos sistemas de geração de energia renovável mais difundidos na atualidade encontram-se os sistemas de energia solar fotovoltaica. Esses sistemas podem ser configurados de três formas (CBIC, 2016): PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 4 • Isolados - quando se apresentam como a única fonte de energia para carga, podendo apresentar ou não elementos armazenadores de energia; • Híbridos - quando são associados a outras fontes de geração de energia; e • Interligados à rede elétrica - quando disponibiliza para a rede a energia gerada não necessitando de elementos armazenadores Os sistemas interligados, também conhecidos como sistemas fotovoltaicos conectados à rede (SFCR), utilizam as células fotovoltaicas para realizar a conversão direta da radiação solar em eletricidade, através do fenômeno físico conhecido como efeito fotovoltaico. Todos os sistemas fotovoltaicos interligados à rede apresentam uma topologia básica, tanto para os sistemas de grande porte, quanto para os de médio e pequeno porte. Essa arquitetura básica compreende, como ilustrado na Figura 1: • Um sistema conversor de energia solar em elétrica composto de módulos fotovoltaicos; • Um sistema condicionador de energia, que envolve principalmente conversores estáticos (inversores de frequência); e • Sistemas de proteção elétrica e de medição de energia. Figura 1. Principais pontos de utilização de água em apartamentos Fonte: (CBIC, 2016) PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 5 Assim, o sistema fotovoltaico é conectado ao sistema elétrico da edificação. A Figura 2 exibe o conjunto painel fotovoltaico e inversor que são conectados ao quadro de distribuição da residência por meio de um circuito elétrico adicional. Figura 2. Equipamentos e topologia básica SFCR Fonte: (CBIC, 2016). 1.2 Linhas de distribuição de energia elétrica Como foi visto no exemplo anterior e será visto ao longo da disciplina, os projetos de geração de energia têm a função essencial de fornecer energia elétrica aos usuários, com qualidade adequada, no instante em que for solicitada. Para isso, deve-se transportar a energia desde a sua captação até a distribuição final. Em conjunto, isto é conhecido como Sistema Elétrico de Potência (SEP) e para um melhor entendimento pode ser subdividido em três grandes blocos: • Geração - conversão de alguma forma de energia (hidráulica, solar, eólica, etc.) em energia elétrica; PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 6 • Transmissão - transporte da energia elétrica dos centros de produção aos de consumo; • Distribuição - a energia elétrica recebida do sistema de transmissão é levada aos grandes, médios e pequenos consumidores. A seguir, apresenta-se um diagrama unifilar típico de um Sistema Elétrico de Potência, destacando a existência de três usinas, um conjunto de linhas de transmissão, uma rede de subtransmissão, uma de distribuição primária e três de distribuição secundária (KAGAN et al., 2010). Figura 3. Sistema elétrico de potência Fonte: (KAGAN et al., 2010). As redes de distribuição primária, emergem das Subestações de distribuição. Elas podem ser tanto aéreas como subterrâneas, sendo as primeiras de uso mais difundido, pelo seu menor custo, e as segundas, encontrando grande aplicação em áreas de maior densidade de carga, por exemplo: zona central de uma metrópole ou onde há restrições paisagísticas. As redes aéreas são construídas utilizando-se postes, de concreto, em zonas urbanas, ou de madeira tratada, em zonas rurais. Suportam em seu topo a cruzeta, usualmente de madeira, com cerca de dois metros de comprimento, na qual são fixados os isoladores de pino ou de disco. Utilizam-se condutores de alumínio com alma de aço PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 7 (CAA), ou sem alma de aço (CA), nus ou protegidos. 1.3 Instalação elétrica de parques, cálculos e design Em todos os países existem normas que apresentam diretrizes básicas de como utilizar/aplicar/trabalhar com a energia elétrica em suas distintas aplicações. Estas normas visam a padronização de procedimentos de forma que pesquisadores, educadores, projetistas, executores, fornecedores etc., possam manter um diálogo em torno do mesmo tema. Os projetos de instalações elétricas devem seguir as normas condizentes ao tipo de instalação que será feita. No Brasil, tem-se a ABNT (AssociaçãoBrasileira de Normas Técnicas), que regulamenta diversas atividades no país. Para analisar uma Rede de Energia Elétrica, deve ser obtida uma solução em regime estacionário das grandezas de interesse, usualmente designado por Trânsito de Energia (TE). Uma vez que, em uma rede de dimensão elevada, o número de barramentos e de ramos se torna bastante elevado e as equações que o modelam são não lineares, é necessário o uso de um método iterativo de cálculo. Para realizar o Trânsito de Energia, é necessário modelar os componentes e o sistema com suficiente rigor. Assim, deve ser especificado o tipo de barramento e as respectivas grandezas, para, deste modo, obter a solução numérica das equações do trânsito de energia (que fornece a amplitude e o argumento das tensões em todos os barramentos). Obtidos estes resultados, podem, por último, ser calculadas as potências que transitam nos ramos e as suas perdas. Ainda em termos de análise de redes, a análise técnica só faz sentido quando é realizada em paralelo com uma análise económica (CAMPOS, 2007). 1.4 Sistema de potência e obra civil de uma subestação elétrica PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 8 Como comentou-se anteriormente, um sistema elétrico de potência (SEP) é constituído por inúmeros equipamentos para transportar a energia elétrica, desde a sua geração até a sua utilização (área urbana, rural ou industrial), sendo a subestação uma parte fundamental do sistema. Uma subestação pode ser definida como um conjunto de condutores, aparelhos e equipamentos associados para modificar as características elétricas (tensão e corrente), permitindo a distribuição aos consumidores com diversos níveis de utilização. Elas são equipadas com dispositivos de proteção capazes de detectar faltas de energia e seccionar trechos com falhas. Na construção de uma subestação, deve ser considerada uma série de elementos constituintes (TRASHORRAS, 2015): • Transformador de força: Eleva ou abaixa os níveis de tensão de acordo com a necessidade da instalação; • Transformador de potencial (TP): Reduz a tensão do sistema para níveis de tensões compatíveis de medida do circuito. Ou seja, fornece tensões proporcionais aos circuitos de alta tensão que estão sendo medidas; • Transformador de corrente (TC): Usado em aplicações de alta tensão, fornecendo correntes suficientemente reduzidas para possibilitar o seu uso por equipamentos de medição, controle e proteção; • Disjuntores: São os principais equipamentos de proteção de uma subestação. Eles têm a capacidade de conduzir, interromper e estabelecer correntes de carga, controlando as condições operacionais do sistema elétrico. Contam com controles manuais e remotos; • Capacitor de derivação ou série: São dispositivos de compensação de reativos com a finalidade de corrigir o fator de potência; PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 9 • Barramentos: Estes interligam os circuitos e os equipamentos existentes na subestação. A sua composição física deve atender às especificações técnicas do circuito e suportar os esforços de tração impostos pela estrutura da subestação; • Religadores: São dispositivos sensores que restabelecem a distribuição de energia em caso de falta momentânea. Suas principais funções são detectar e interromper condições de sobrecorrente, bem como restaurar as condições operacionais da linha; • Chaves seccionadoras: São dispositivos de manobras destinados a isolar equipamentos ou barramentos, podendo ser operados apenas sem carga, ou sob tensão; • Muflas: São utilizadas para manter as condições de isolamento elétrico nas conexões entre cabos, condutores e barramentos; • Relés de proteção: São dispositivos de proteção interligados com os disjuntores capazes de proteger o sistema elétrico contra curtos-circuitos e faltas de tensão; • Isoladores: Fornecem isolamento às diversas partes do SEP e auxiliam na suspensão de cabos e de barramentos. Os isoladores podem ser de porcelana, de vidro ou de polímeros; • Para-raios: São dispositivos de proteção destinados a limitar surtos de tensão originados de descargas atmosféricas; • Resistores de aterramento: São utilizados em subestações para limitar a corrente de falta de fase a um valor que não danifique os equipamentos, permitindo, ainda, proteger a integridade física das pessoas. Ele atua em PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 10 conjunto com outros equipamentos de proteção, como, por exemplo: relés e disjuntores. 1.5 Subestação elétrica: tipos e topologia As subestações (SE) são pontos de convergência, entrada e saída, de linhas de transmissão ou distribuição. Com frequência, constituem uma interface entre dois subsistemas. Uma primeira classificação, dependendo do nível de tensão, permite ter dois grupos bem diferenciados (KAGAN et al., 2010): • SEs de Alta Tensão (tensão nominal abaixo de 230kV); e • SEs de Extra Alta Tensão (tensão nominal acima de 230kV). As SEs também podem ser classificadas em vários grupos, dependendo da função realizada: • SEs de manobra: Permitem manobrar partes do sistema, inserindo ou retirando- as de serviço, em um mesmo nível de tensão; • SEs de transformação: o Elevadoras: Elevam a tensão para níveis de transmissão e subtransmissão (transporte econômico da energia). Estão localizadas na saída das usinas geradoras; o Abaixadoras: Diminuem os níveis de tensão evitando inconvenientes para a população, como rádio interferência, campos magnéticos intensos, e faixas de passagem muito largas. Estão localizadas na periferia das cidades; • SEs de distribuição: Diminuem a tensão para o nível de distribuição primária. Podem pertencer à concessionária ou a grandes consumidores; PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 11 • SEs de regulação de tensão: Através do emprego de equipamentos de compensação tais como reatores, capacitores, compensadores estáticos etc.; • SEs conversoras: Associadas a sistemas de transmissão em CC (SE Retificadora e SE Inversora). 1.6 Sistema de controle Controlar um sistema elétrico significa executar todas as ações necessárias para a manutenção dos níveis de tensão e frequência programados por meio do programa de operação. Embora a premissa de controle de uma programação preestabelecida seja a ideal para a operação de um sistema elétrico, variações intempestivas podem ocorrer, motivadas por alterações bruscas nas configurações das linhas. Além disso, a violação dos limites estabelecidos nos níveis de tensão ou intercâmbio pode impor alterações na programação, pois o fluxo de potência é variável. Como o consumo varia a cada momento em função das necessidades dos consumidores, a geração também terá que ser variável, pois a cada instante a geração de todas as fontes do sistema elétrico deverá se adequar à carga solicitada pelos consumidores (GEBRAN, 2014). Quando há um sistema interligado, deve-se ter pleno controle da frequência e dos fluxos de carga nas interligações. Por conseguinte, cada sistema (área de controle) deve possuir uma reserva de geração para atender às suas variações de carga com uma frequência normal. Além disso, deve operar de forma a evitar a transferência de suas responsabilidades de regulação (mudanças na geração resultante da variação de carga em um sistema adjacente) para um sistema vizinho; e também deve equilibrar a cada instante sua PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 12 carga com sua geração, para que na interligação o fluxo real seja igual aos valores programados. Para tanto, o melhor equipamento de controle automático é aquele conhecido como TLB (Tie Line Bias) que satisfaz as três condições citadas, sendo um sistema que responde tanto às variações de frequência como às variações de intercâmbio, mantendo-as em seus valores programados. Muitas das ações e decisões que antigamenteeram tomadas pelos operadores de sistemas (despachantes) hoje são tomadas de maneira totalmente automatizada, embora as decisões de restauração de um sistema com a saída intempestiva de um equipamento por qualquer problema ainda sejam realizadas pelo despacho (GEBRAN, 2014). UNIDADE 2. PROJETO DE INSTALAÇÃO DE UMA USINA DE BIODIESEL A introdução do Biodiesel na matriz energética brasileira representou grande avanço, pois, além da justificativa ambiental para a substituição do óleo diesel de origem fóssil, existem várias potenciais vantagens técnicas, socioeconômicas e ambientais. Segundo Lima (2004), a produção de biodiesel nacional potencializa ganhos, como novas oportunidades de negócios na agroindústria, geração de emprego e melhor distribuição de renda (OKADA, 2008). O biodiesel passou a ser mais divulgado no Brasil através do Probiodiesel (Programa Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológico de Biodiesel), criado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. A tradição agrícola e a pesquisa voltaram-se para a produção deste combustível e tem se mostrado viável pela grande extensão territorial para plantação (DELAI, 2012). PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 13 2.1 Parâmetros requeridos para a usina 2.1.1 Matéria-prima O biodiesel é um combustível que pode ser obtido de diversas matérias-primas, como: • Óleos vegetais: na temperatura ambiente são encontrados no estado líquido (óleo de amendoim, babaçu e canola); • Gorduras animais: na temperatura ambiente são pastosas (sebo bovino, óleo de peixe, banha de porco e outros); • Óleos e gorduras residuais: são as que se encontram habitualmente no meio urbano (óleo de fritura e gordura de esgoto). A escolha da melhor matéria-prima a ser cultivada para a produção do biodiesel em uma determinada região do país depende de uma série de aspectos agronômicos, tais como (DELAI, 2012): • O teor em óleos vegetais; • A produção por unidade de área; • O equilíbrio agronômico; • Os diferentes sistemas de produção; • A sazonalidade; • A sua capacidade de adaptação à região; • O impacto socioambiental para o seu desenvolvimento; • As suas competitividades técnica, econômica e socioambiental. 2.1.2 Processo escolhido A transesterificação é o processo mais utilizado atualmente para a produção de biodiesel. Consiste em uma reação química dos óleos vegetais ou gorduras animais PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 14 com o álcool comum etanol ou o metanol, estimulada por um catalisador, da qual também se extrai a glicerina, produto com aplicações diversas na indústria química. Além da glicerina, a cadeia produtiva do biodiesel gera uma série de outros coprodutos, que podem agregar valor e se constituir em outras fontes de renda importantes para os produtores (BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 2006). A reação de transesterificação, ilustrada na Figura 4, pode ser via duas rotas: a metílica ou etílica. Segundo Parente (2003), sob o ponto de vista técnico e econômico, a reação via rota metílica é mais vantajosa do que a reação via rota etílica (OKADA, 2008). Figura 4. Processo de transesterificação Fonte: (BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 2006) PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 15 Após a reação de transesterificação que converte a matéria graxa em biodiesel, a massa reacional final é constituída de duas fases separáveis por decantação e/ou por centrifugação. Há dois métodos de produção industrial utilizados: por batelada e/ou por processo contínuo. O primeiro é mais indicado para pequenas plantas, porque os equipamentos necessários têm preço menor. A desvantagem é que o tamanho físico da planta tende a ter uma relação direta com a sua produção. Para o dobro de produção, são necessários tanques de processamento duas vezes maiores. Isso significa que, no processo por batelada, não há economias de escala. Outro problema desse processo é que ele torna mais difícil a obtenção de um combustível homogêneo em cada batelada, resultando em um biodiesel que sofre variações em suas especificações. O processo contínuo é funcional para plantas maiores, que operam sob temperaturas mais elevadas para encurtar o tempo de reação. Essas plantas evitam utilizar processos demorados, bem como equipamentos de grandes dimensões, realizando um mesmo trabalho mais rápido e com menos espaço. Portanto, neste processo existem economias de escala. Uma vantagem desse processo é a de não apresentar problemas de falta de homogeneidade na especificação do combustível, uma vez que o processo é constante (VISCARDI, 2005). 2.2 Capacidade de produção A participação do biodiesel na matriz energética brasileira é cada vez maior e continuará aumentando nos próximos anos, em função do aumento percentual obrigatório no diesel, o qual atualmente deve ser composto de 10% de biodiesel. PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 16 Se preveem três cenários possíveis até 2030, o primeiro deles onde esse porcentual é mantido constante e os outros dois onde são aumentados a um 17% ou 20%, como observamos na Figura 5 (COELHO, 2017). Figura 5. Cenários para o percentual obrigatório de biodiesel até 2030 Fonte: (COELHO, 2017) O planejamento energético brasileiro conta com o biodiesel, e tem-se criado oportunidades de investimento em novas unidades e expansões de capacidade de extração de óleo e de produção (COELHO, 2017). É uma realidade que nos próximos anos vai se manter um crescimento na demanda de biodiesel em território brasileiro. Os diferentes cenários são apresentados na Figura 6. Figura 6. Crescimento na demanda de biodiesel no Brasil por cenário PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 17 Fonte: (COELHO, 2017) Uma usina de biodiesel é projetada para um determinado tipo de matéria-prima, sendo que, às vezes, é conveniente a instalação de usinas “multi-feed”, isto é, com a capacidade de produzir biodiesel a partir de misturas de óleos. É geralmente aceito que, para uma produção industrial de biodiesel, é melhor ter usinas grandes, centralizadas e operando de forma autônoma, com base em grandes economias de escala. Entretanto, quanto maior a capacidade de produção da usina, mais remotas são as fontes de suprimento da matéria-prima. Isso tem um impacto nos custos de transporte da matéria-prima para a fábrica. 2.3 Operações unitárias utilizadas A metodologia que poderia ser de maior difusão para o pequeno produtor é o processo de Batch (onde opera-se sob uma certa quantidade de material) usando um catalisador alcalino, que, na maioria dos casos, é o hidróxido de sódio (DONATO et al., 2008). As etapas na produção são: PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 18 Pré-mistura: Neste estágio é produzida a mistura do álcool com o catalisador, obtendo-se o metóxido correspondente. Dependendo da temperatura, da agitação e do tipo de álcool, a reação pode ser realizada em um período de tempo entre 5 minutos e 1 hora; Transesterificação: É a principal reação do processo. Nele, o óleo reage com o metóxido, a uma temperatura de média de 65°C (podendo ir de valores mínimos de 25°C a máximos de 85°C) por um tempo aproximado de 1 hora (mínimo de 20 minutos e máximo de 2 horas). A pressão na qual a reação é realizada é a atmosférica, embora existam algumas experiências em que os reatores funcionam a uma pressão mais alta. A razão entre o álcool e o triglicérido é de 6:1 (realizada com excesso de 100%), enquanto o catalisador é adicionado a 1% em peso na mistura. Este é o estágio principal devido à transformação de triglicérides em ésteres metílicos. Segundo o NREL (Laboratório Nacional de Energia Renovável, EUA), há valores de eficiência de transesterificação entre 85% e 94%. Entretanto, na maioria dos estudos, 93% da transformação é adotada, ou seja, 1000kg de óleo produzem 930kg debiodiesel; Neutralização: Se produz a adição de ácido (sulfúrico ou clorídrico) para neutralizar a alcalinidade obtida pelo produto com a adição de soda cáustica. Este passo é feito antes da decantação; Separação: Nos processos de Batch (Batelada), a separação da glicerina com biodiesel é realizada com decantadores. A partir da diferença de densidade, obtém-se uma corrente “pesada” (glicerina com impurezas) e outra “leve” (biodiesel com impurezas). A presença de álcool em ambas as fases pode dificultar a separação. Se o processo de decantação ocorre a uma temperatura mais alta, a separação de fases pode ser otimizada porque um aumento na temperatura provoca uma diminuição na viscosidade e um aumento na PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 19 velocidade de separação. O tipo de separador (se é centrífugo ou por gravidade) também influencia no tempo de decantação, que pode ir de 1 hora a 8 horas; Purificação do biodiesel: consiste em três etapas: o Evaporação do álcool: O álcool é recuperado por evaporação. Deve-se ter cuidado para que não haja resíduos de álcool nos efluentes; o Lavagem: A adição de água é produzida para eliminar as impurezas que podem permanecer no biodiesel, como glicerina, álcool e sabões. A água gerada como efluente pode ser reutilizada na purificação da glicerina; o Secagem: Consiste em eliminar os restos de água que o produto final pode ter; Purificação de glicerina: ocorre em duas etapas: o Primeiro estágio (Refinamento): O refinamento pode ser físico ou químico. Se for físico, a destilação instantânea ocorre a uma temperatura entre 65°C e 93°C. Se for químico, os sabões devem ser removidos com sulfato de alumínio ou cloreto férrico e terminar a sua purificação com carvão ativado ou barro; o Segunda etapa: Realiza-se uma lavagem com injeção de vapor e um posterior clareamento com carvão ativado. 2.4 Parâmetros de operação A alcoólise dos óleos vegetais depende da temperatura e tempo de reação, da razão molar álcool/óleo vegetal, do tipo de álcool, do tipo e concentração do catalisador, da intensidade de mistura, do teor de ácidos graxos livres (AGL) e da umidade. No óleo bruto gerado, além da sua umidade, deve-se considerar a presença de: • Traços de metais (Ca, Mg) que podem impedir a decantação e o refino do glicerol; • Ácidos graxos livres; e PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 20 • Surfactantes naturais (fosfolipídios) que causam emulsão. Para avaliar os insumos e produtos da usina, é necessário mencionar as especificações consideradas razoáveis para a reação: O rendimento de conversão de triglicerídeos e metanol em ésteres na presença do catalisador pode ser ajustado em 99%, um número que os reatores contínuos permitem atingir. Este requisito facilita a conformidade do teor de éster no biodiesel comercial de 96,5%; Todos os fluxos são dados em ton/dia e ton/hora para facilitar a visão do todo. Para levar em conta o tempo de manutenção da planta e outras operações, considera-se que uma usina opera aproximadamente 8000 horas por ano, o equivalente a 333,3 dias de operação, 24 horas por dia; A reação de transesterificação consome 3 moles de metanol para cada mole de triglicérides. Para acelerar a reação e obter um melhor desempenho de conversão, geralmente é bem aceito um excesso de 100% de metanol. Isso equivale ao cálculo das necessidades de metanol em 6 moles por mole de triglicerídeos. 2.5 Número mínimo de variáveis controladas Algumas variáveis de processo que merecem atenção são: • A quantidade de álcool utilizada na reação: A estequiometria mostra uma relação de 1 mol da substância rica em triglicerídeos para 3 mols de álcool. Entretanto, uma alimentação com excesso de álcool provoca o deslocamento do equilíbrio reacional, favorecendo uma maior formação do produto desejável, éster, aumentando assim o rendimento (RAMOS et al., 2011); PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 21 • A temperatura e a água presente no meio: Segundo alguns autores, apesar da temperatura favorecer a cinética da reação, ela também favorece a formação de reações concorrentes, como a hidrólise. E, assim, a hidrólise do éster acarreta menor rendimento reacional (RAMOS et al., 2011); • Controle do pH do meio: Em meios muito básicos, os ácidos graxos livres da biomassa podem reagir com a base do meio reacional e formar sabões, que também reduzem o rendimento da reação (RAMOS et al., 2011). 2.6 Balanço de massa e energia Os balanços de massa e energia são utilizados para a análise das reações e operações presentes no processo de produção de biodiesel. O balanço de massa considerando um volume de controle em regime permanente é representado pela seguinte equação (SMITH et al., 2007): ��̇�𝑚𝑒𝑒 −��̇�𝑚𝑠𝑠 = 0 Considere que na equação de balanço de massa para um composto devem-se incluir os termos de consumo e geração quando ocorrem reações químicas. No caso particular da produção de biodiesel a partir de soja, temos: • Valores de entrada - matéria-prima (grãos) e alguns insumos (álcool, ácidos, água etc.); • Valores de saída - produtos (óleo ou biodiesel), subprodutos (farinha/pellets, glicerina) e os desperdícios (águas residuais). Para fazer o balanço de energia, usa-se a primeira lei da termodinâmica para um volume de controle. PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 22 Usando as hipóteses de que os valores de energia cinética e potencial são pequenos em relação aos demais termos, e de que se trabalha em um regime permanente, a equação pode ser reescrita como segue (SMITH et al., 2007): �̇�𝑄𝑉𝑉.𝐶𝐶. − �̇�𝑊𝑉𝑉.𝐶𝐶. + ��̇�𝑚𝑒𝑒𝐻𝐻𝑒𝑒 −��̇�𝑚𝑠𝑠𝐻𝐻𝑠𝑠 = 0 Sendo: �̇�𝑄𝑉𝑉.𝐶𝐶.: Taxa de calor trocado pelo meio com o volume de controle (kW); �̇�𝑊𝑉𝑉.𝐶𝐶.: Taxa de transferência de trabalho entre o volume de controle e o meio (kW); 𝐻𝐻𝑒𝑒: Entalpia específica da corrente de entrada no volume de controle (kJ/kg); 𝐻𝐻𝑠𝑠: Entalpia específica da corrente de saída no volume de controle (kJ/kg). UNIDADE 3. PROJETO DE INSTALAÇÃO DE UMA BIORREFINARIA DE ETANOL Uma biorrefinaria é uma instalação que integra processos de conversão de biomassa em biocombustíveis, insumos químicos, materiais, alimentos, rações e energia. O objetivo de uma biorrefinaria é otimizar o uso de recursos e minimizar os efluentes, maximizando os benefícios e o lucro. As biorrefinarias integram diversas rotas de conversão (bioquímicas, microbianas, químicas e termoquímicas) em busca do melhor aproveitamento da biomassa e da energia nela contida (EMBRAPA AGROENERGIA, 2011). As biorrefinarias fazem parte da agenda de PD&I da maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, como o Brasil, mobilizando grandes quantias de recursos e esforços públicos e privados voltados para o aproveitamento integral da biomassa, para agregar valor às cadeias produtivas e reduzir os impactos ambientais. PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 23 3.1 Parâmetros requeridos para a usina 3.1.1 Matéria-prima Para a produção de etanol, é necessário extrair o álcool de outras substâncias. A forma mais simples e comum de obtê-lo é através das moléculas de açúcar, encontradas em vegetais como a cana-de-açúcar, o milho, a beterraba, a batata, o trigo e a mandioca. Dentre todas as matérias-primas do etanol presentes na natureza, a cana-de-açúcar é a mais simples e produtiva, o que dá ao Brasil uma grande vantagem, visto ser esse o principal produto de extração de etanol no país, e posicionando-o no segundo lugar no mercado mundial do etanol com 27% da participação da produção global. O primeiro lugar pertence aos Estados Unidos onde fabricam o etanol a partir de milho, representando cerca de 60% da produção global. 3.1.2 Processo escolhido A forma mais simples e antiga de produzir etanol ea mais difundida no Brasil é a fermentação. Por meio dela, é produzido o álcool utilizado para todos os fins, inclusive como combustível. Essa técnica consiste em, basicamente, adicionar ao caldo da cana-de-açúcar micro- organismos que quebram moléculas de açúcar, transformando-as em duas moléculas de etanol mais duas moléculas de gás carbônico. Nas usinas produtoras de etanol, a cana-de-açúcar passa por diversos processos, até se obter delas os álcoois anidros e hidratados (NOVACANA, 2018). Além da fermentação, existem outros processos mais complexos de se produzir o etanol. Um deles é a hidratação do etileno (gás incolor obtido no aquecimento da PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 24 hulha), que consiste em uma síntese química entre as moléculas de água e as moléculas do etileno, resultando no etanol. Esse método, controlado em laboratório, utiliza ácidos como catalizadores, como o ácido sulfúrico, ou o ácido fosfórico, que possibilitam que a reação aconteça. Esse método não é muito utilizado no Brasil, porém estima-se que 80% do etanol produzido nos Estados Unidos seja por hidratação de etileno. Outra possibilidade de se obter o etanol é pela redução do acetaldeído. Também chamado de etanal, ou acetaldeído que possui estrutura molecular muito semelhante ao álcool etílico, diferindo apenas pela ausência da hidroxila. Com a ação de um agente redutor, o acataldeído ganha um íon de hidrogênio que se liga ao oxigênio formando a hidroxila, e consequentemente, o etanol. A matéria-prima desse processo costuma ser o acetileno, que, em processo de hidratação, produz o acetaldeído, que finalmente produz o etanol. 3.2 Capacidade de produção Um estudo inédito produzido pelo Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), a pedido do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), responde algumas questões fundamentais a quem trabalha na área de etanol, seja cientista, empresário ou formulador de políticas públicas. Dentre elas, qual é a evolução do custo de produção do etanol celulósico, obtido a partir do bagaço e da palha, e quando essa tecnologia se tornará economicamente viável no Brasil. (MILANEZ et.al., 2015) Simulações computacionais realizadas na Biorrefinaria Virtual de Cana-de-açúcar (BVC) do CTBE estimam que o etanol celulósico, também conhecido como segunda geração (2G), será viável nas usinas brasileiras no médio-prazo, a partir de 2020. PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 25 De acordo com os cálculos da BVC, o custo de produção atual do etanol 2G gira em torno de R$1,50 por litro, enquanto o custo do etanol de primeira geração (1G) fica em torno de R$1,15. No médio prazo, o valor para a segunda geração será drasticamente reduzido para R$0,75, podendo chegar, em mais alguns anos, a R$0,52 em determinados cenários tecnológicos e econômicos. A este custo, o etanol 2G permanecerá competitivo mesmo se o preço internacional do barril de petróleo atingir o mínimo de U$44. Tais valores foram obtidos a partir de dados propostos pelo CTBE, após levantamento inicial junto a 22 empresas e especialistas do setor de etanol. As informações adquiridas englobam temas como características e qualidade das matérias-primas empregadas, produtividade no campo, nível de mecanização agrícola, rendimentos industriais, produtividade das diferentes operações nas usinas, insumos empregados, integração da primeira com a segunda geração, período de operação na safra e na entressafra, matéria-prima empregada na entressafra, entre outros. 3.3 Operações unitárias utilizadas Como se comentou anteriormente, no processo de produção de etanol, o método de obtenção mais difundido é a fermentação. As operações realizadas em uma biorrefinaria são as seguintes (NOVACANA, 2018): Lavagem: A cana-de-açúcar, chegando às usinas em sua forma pura, é colocada em uma esteira rolante. Lá, ela é submetida a uma lavagem que retira sua poeira, areia, terra e outros tipos de impurezas. Na sequência, a cana é picada e passa por um eletroímã, que retira materiais metálicos do produto; PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 26 Moagem: Nesse processo, a cana é moída por rolos trituradores, produzindo um líquido chamado melado. Cerca de 70% do produto original viram esse caldo, enquanto os 30% da parte sólida se transforma em bagaço. Do melado, continua-se o processo de fabricação do etanol, enquanto o bagaço pode ser utilizado à geração de energia na usina; Eliminação de impurezas: Para eliminar os resíduos presentes no melado (restos de bagaço, areia etc.), o líquido passa por uma peneira. Em seguida, ele segue a um tanque para repousar, fazendo com que as impurezas se depositem ao fundo – processo chamado decantação. Depois de decantar, o melado puro é extraído e recebe o nome de caldo clarificado. O último processo de extração de impurezas é a esterilização, em que o caldo é aquecido para eliminar os micro-organismos presentes; Fermentação: Após estar completamente puro, o caldo é levado a domas (tanques) no qual é misturado e eles um fermento com leveduras (fungos, sendo mais comum a levedura de Saccharomyces Cerevisia). Esse micro- organismos se alimentam do açúcar presente no caldo. Nesse processo, as leveduras quebram as moléculas de glicose, produzindo etanol e gás carbônico. O processo de fermentação dura diversas horas, e, como resultado, produz o vinho, chamado também de vinho fermentado, que possui leveduras, açúcar não fermentado e cerca de 10% de etanol; Destilação: Estando o etanol misturado ao vinho fermentado, o próximo passo é separá-lo da mistura. Nesse processo, o líquido é colocado em colunas de destilação, nas quais ele é aquecido até se evaporar. Na evaporação, seguida da condensação (transformação em líquido), é separado o vinho do etanol. Com isso, fica pronto o álcool hidratado, usado como etanol combustível, com grau alcoólico em cerca de 96%; PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 27 Desidratação: Com o álcool hidratado preparado, basta retirar o restante de água contido nele para se fazer o álcool anidro. Essa é a etapa da desidratação, no qual podem ser utilizadas diversas técnicas. Uma delas é a desidratação, em que um solvente colocado ao álcool hidratado mistura-se apenas com a água, com os dois sendo evaporados juntos. Outros sistemas, chamados peneiração molecular e pervaporação, utilizam tipos especiais de peneiras que retêm apenas as moléculas da água. Após ser desidratado, surge o álcool anidro, com graduação alcoólica em cerca de 99,5%, utilizado misturado à gasolina como combustível; Armazenamento: Nesta etapa, o etanol anidro e o hidratado são armazenados em enormes tanques, até serem levados por caminhões que transportam até as distribuidoras. Os resíduos produzidos durante toda a fabricação do etanol também podem ser aproveitados pelas indústrias. Os resíduos sólidos, como bagaço, podem ser reutilizados energeticamente como biomassa. Já o dióxido de Carbono (CO2), derivado do processo de fermentação, pode ser utilizado à produção de refrigerantes. 3.4 Parâmetros de operação Existem muitos fatores que influenciam o desempenho do processo de fermentação alcoólica, agindo de forma direta, ou indiretamente, sobre as propriedades da levedura, tais como (CINELLI, 2017): • Temperatura; • Aeração; • pH; • Substratos; • Aditivos químicos (ácidos, biocidas, antibióticos, sais e nutrientes); • Contaminação microbiana; • Inibição por alguns componentes. PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 28 Desses fatores, os parâmetros que tem maior influência na eficiência da produção de etanol são: Efeito da temperatura: A temperatura é um passo crítico no processo de fermentação. Em geral, a levedura tem a capacidade de crescer em ampla faixa de temperatura. Embora a taxa de formação inicialde etanol seja maior a temperaturas mais elevadas (35-40°C), as temperaturas mais elevadas afetam o desempenho da levedura, resultando em menor teor de etanol no vinho, o que aumenta o consumo de energia durante a fase de destilação e a razão de volume de vinhaça/volume de etanol produzido (JACQUES, 2003). Por outro lado, as temperaturas mais baixas promovem melhores condições de fermentação, com menor inibição de etanol sobre a levedura e menor contaminação bacteriana, embora impacte em uma diminuição da produtividade de etanol, resultando em tempos mais longos de fermentação. A reação bioquímica de conversão do açúcar em etanol é uma reação exotérmica na qual, geralmente, as usinas necessitam do uso de água para controlar a temperatura de fermentação por meio de trocadores de calor por placas, externos aos fermentadores, ou serpentinas internas. Portanto, para fermentação a baixas temperaturas, maiores os custos com o sistema de resfriamento das dornas; Efeito do etanol: O etanol é um dos principais fatores de estresse que atuam sobre a levedura. A acumulação de etanol no meio de fermentação, em última análise, inibe o crescimento e a viabilidade dos microrganismos produtores de etanol, causando um efeito tóxico na levedura. O etanol foi o primeiro fator a ser reconhecido como um inibidor da fermentação alcoólica. Os fatores que mais influenciam na sensibilidade do microrganismo ao etanol são: a temperatura, a aeração e a composição do meio, agindo direta ou indiretamente sobre as propriedades da membrana plasmática provocando modificações na membrana lipídica e nos sistemas de transporte de soluto e ação de algumas enzimas (ATALA, 2004). Portanto, na maioria das destilarias, o teor final de PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 29 etanol no interior do fermentador é limitado pela tolerância ao etanol da cepa de fermentação. Alguns estudos mostram que uma faixa de valores entre 87,5 – 140 g/L de etanol resulta em morte celular de leveduras, verificando que o aumento da concentração de etanol no meio de fermentação resulta na redução da viabilidade das células (PATERNINA, 2011); Efeito do substrato: A concentração inicial de substrato também exerce forte influência sobre a taxa específica de crescimento microbiano. A concentração inicial de açúcar para as destilarias está em uma faixa de 15 a 22 % (m/m) de açúcares. Elevadas concentrações de substrato resultam em maior pressão osmótica dentro da célula e, por conseguinte, resultando no aumento de morte celular, limitando o crescimento microbiano (PATERNINA, 2011). 3.5 Número mínimo de variáveis controladas Segundo uma avaliação integral do processo de fabricação de etanol usado nas usinas, as fases de preparo do caldo ou mosto e a fermentação são as que têm maior impacto na produtividade do etanol, e consequentemente nos resultados financeiros de uma biorrefinaria. Nesse sentido, foram identificadas as variáveis que indicam o nível de qualidade em cada uma dessas fases. A seguir descrevem detalhadamente cada uma dessas variáveis (OLIVEIRA; LIMA, 2011): Brix do mosto: é a quantidade de sólidos solúveis aparentes contidos no mosto. O brix é uma das variáveis utilizadas para calcular a eficiência da fermentação. A concentração brix é determinada com base na qualidade da fermentação, mais precisamente na velocidade de fermentação. Busca-se encontrar um ponto de equilíbrio, pois tanto o excesso quanto a falta de açúcar durante o processo impactam diretamente na eficiência da fermentação; PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 30 Viabilidade celular na dorna: Como o próprio nome já diz, o principal objetivo do cálculo da viabilidade celular é representar em porcentagem as células viáveis, ou seja, as que estão saudáveis e podem ser reutilizadas no processo de fermentação. Esse controle é feito a fim de monitorar a qualidade das células, pois quando a viabilidade celular está abaixo do normal, isso indica uma possível infecção na dorna. Em tais casos, a dorna deve ser tratada rapidamente, pois isso afeta diretamente a produção do etanol; Tempo de fermentação: O tempo de fermentação é cronometrado a fim de saber quanto tempo foi gasto para terminar o processo de fermentação. É através do tempo de fermentação que os operadores julgam a qualidade do fermento em processo, podendo inclusive aumentar ou diminuir o grau brix do mosto; Temperatura do vinho em fermentação: As leveduras utilizadas no processo de fermentação são extremamente sensíveis a baixas ou altas temperaturas. Em virtude dessa sensibilidade é necessário medir a temperatura do vinho que está em processo fermentativo, pois temperaturas baixas retardam o processo fermentativo e temperaturas altas matam as leveduras e causam perdas por evaporação alcoólica; Teor alcoólico do vinho: O teor alcoólico do vinho delevedurado é analisado para que se saiba o grau alcoólico do vinho fermentado. Posteriormente, esse valor é utilizado para calcular a eficiência da destilação e da fermentação; Eficiência da fermentação: O objetivo da eficiência da fermentação é indicar como está o processo de fermentação, informando se a quantidade de etanol produzida na dorna é a esperada. 3.6 Balanço de massa e energia PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 31 Como exemplo, se apresenta o balanço aproximado de massa e energia, para a produção de 1 tonelada de álcool etílico. São consideradas as matérias-primas e insumos necessários à produção e são identificados os fluxos de saída do processo, sejam eles o principal produto, subprodutos ou fluxos de resíduos gerados no processo (Figura 7). Da mesma forma, se mostra a quantidade de calor necessária em todas as etapas da produção (Figura 8). Figura 7. Balanço de massa em um processo de produção de etanol. Fonte: Adaptado de UIS- IDEAM (2017) Figura 8. Quantidade de calor necessária em todas as etapas da produção. PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 32 Fonte: Adaptado de UIS- IDEAM (2017) UNIDADE 4. PROJETO DE INSTALAÇÃO DE UMA PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA A construção de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) representa uma importante alternativa de produção de energia renovável, pois não produz o impacto ambiental causado pela grande intervenção na natureza dos grandes reservatórios, possuindo, em sua maioria, quedas d’água de pequeno e médio portes, inclusive não interferindo no regime hidrológico do curso d’água. Ademais, as PCHs podem servir para a complementação de sistemas de grande porte em função do menor risco de investimento. Além do importante fator ambiental, as PCHs possuem outras vantagens, como custo acessível, vantagens técnicas, menor prazo de implementação e maturação do investimento, sendo que seu excedente de energia gerada pode ser colocado à disposição das concessionárias para aquisição dessa energia. Adicionalmente verifica-se também que é viável realizar os investimentos necessários apenas com aportes feitos pela iniciativa privada. É possível realizar simplificações no projeto quando comparado a gerações de maior porte; e pode-se contar com ganhos advindos da operação centralizada remota para um conjunto de PCHs (MAKARON, 2012). Ressalte-se, ainda, que o processo de construção específico das PCHs apresenta simplificações regulatórias importantes com relação às usinas hidrelétricas de grande porte. Entre elas podem ser citadas: • O processo de autorização pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL); • O processo de obtenção das licenças ambientais concedidas pelos órgãos competentes; • Os benefícios fiscais, como o desconto na tarifa de uso do sistema de transporte; e PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 33 • A possibilidade de compartilhar o risco hidrológico com as grandes centrais, através do Mecanismo de Realocação de Energia (MRE).As PCHs podem ocupar um papel importante na complementação da geração da matriz energética, inclusive pelo fato de serem disseminadas pelo país, o que diminui custos com a instalação de grandes linhas de transmissão. Elas também são garantia de abastecimento regional, o que alivia o sistema nacional. Além disso, essas usinas contam com uma indústria de equipamentos, operação e manutenção 100% nacional (BORGES, 2011). Mesmo com as vantagens apresentadas, a construção de PCHs ainda é um investimento que apresenta muitas incertezas e riscos para os empreendedores privados. Tais riscos são inerentes ao processo de construção, pois as condicionantes técnicas (hidráulicas e energéticas) são semelhantes àquelas das grandes obras do setor e as PCHs possuem ainda o agravante de serem mais sensíveis à variação do valor do empreendimento. Dessa maneira, torna-se vital para o sucesso da implementação do empreendimento um rigoroso processo de planejamento e controle da construção (MAKARON, 2012). 4.1 Aprovação e procedimento segundo ANEEL (Res. 393) A ANEEL regulamentou o processo de autorização para as PCHs com a resolução normativa nº 343, de 9 de dezembro de 2008. Estabelece procedimentos para registro, elaboração, aceite, análise, seleção e aprovação de projeto básico e para autorização de potenciais PCHs para produtores independentes e autoprodutores. PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 34 O primeiro passo para a autorização é o inventário do rio, que consiste no levantamento dos potenciais para construções de usinas, considerando o equilíbrio entre a maior capacidade de geração, menor custo e menor impacto ambiental. Uma vez aprovado o registro de inventário e ter sido efetuado o depósito do aporte da garantia, se realiza o registro para elaboração do projeto básico. A ANEEL aprovará o registro por meio de despacho. Após aprovação, o investidor tem o prazo de 14 meses para apresentação do projeto básico, e, a partir do momento em que for protocolado na ANEEL, o investidor não poderá desistir de prosseguir com o projeto. O projeto deve ser elaborado conforme os documentos “Diretrizes para Estudos e Projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas” e “Diretrizes para Elaboração de Serviços de Cartografia e Topografia, Relativos a Projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs”. O projeto apresentado não poderá conter alterações infundadas com relação ao potencial aprovado no estudo de inventário. Pequenos ajustes são aceitos (MAKARON, 2012). Após o aceite do projeto básico, inicia-se a fase de análise técnica. Dois requisitos para a aprovação do projeto é a obtenção da licença ambiental junto ao órgão ambiental e apresentação da consulta da disponibilidade hídrica junto ao órgão gestor dos recursos hídricos para posterior emissão de declaração da reserva da disponibilidade hídrica pela ANEEL. A partir do momento que for emitido despacho aprovando o projeto básico, o interessado terá 30 dias para apresentar a documentação complementar. PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 35 Todo o processo de autorização para a construção de uma PCH, mesmo considerando as simplificações regulatórias comparadas às grandes usinas, tem uma duração média de nove anos, desde a identificação do rio até o início da operação comercial. Sendo que metade do processo é estimado para a aprovação da ANEEL, que leva em média dois anos para aprovar o inventário e mais dois anos para aprovação do projeto básico. Esse ainda pode ser agravado pela demora na emissão das licenças ambientais e atrasos no cronograma das obras. Na Figura 9, apresenta-se um resumo das atividades realizadas na criação de uma PCH em conjunto com os processos regulatórios correspondentes. 4.2 Elaboração do projeto básico de engenharia O Projeto Básico é um estudo de engenharia do eixo do aproveitamento integrante da alternativa de divisão de queda selecionada nos estudos de inventário hidrelétrico aprovados pela ANEEL, que tem como objetivo principal determinar o potencial hidrelétrico correto, visando sua otimização técnico-econômica, levando em consideração a topografia, questões ambientais e hidrológicas, entre outros aspectos. Essa concepção compreende o dimensionamento da central geradora, as obras de infraestrutura local, necessárias à sua implantação, o seu reservatório, os outros usos da água e as ações ambientais correspondentes. Tais fatores tornam possível a definição do orçamento da central, o que permitirá a elaboração dos documentos de contratação das obras civis e do fornecimento e montagem dos equipamentos eletromecânicos. Figura 9. Fluxograma de Implantação de uma PCH PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 36 Fonte: (MAKARON, 2012) Na Figura 10 é possível visualizar as etapas de engenharia presentes durante a realização do projeto básico. Trata-se de um fluxograma de atividades para realização de estudos e projetos de pequenas centrais hidrelétricas que foi desenvolvido pela Eletrobrás e apresenta a sequência de estudos para o projeto e as atividades previstas PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 37 típicas para estudos e projetos dessa natureza, independentemente do porte do aproveitamento. Figura 10. Fluxograma de atividades para estudos e projeto básico de PCH. Fonte: (Eletrobrás, 2014) 4.3 Levantamentos complementares de campo PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 38 Caso os levantamentos e produtos realizados nos estudos de inventário e de viabilidade necessitem de complementos, estes deverão ser realizados, de acordo com a relação abaixo (ANEEL, 2009): • Planialtimetria do local das principais estruturas (Barragem, Circuito de Adução, Casa de Força, Túneis e Canais em geral), nas quantidades definidas nos estudos hidráulicos e de modelo reduzido; • Planialtimetria da área de empréstimo (materiais naturais de construção) e da área para implantação do canteiro e das vilas residenciais; • Amarração das investigações geológicas e geotécnicas na área das estruturas (locação planialtimétrica); • Amarração e nivelamento de réguas limnimétricas (amarradas ao Datum Local – referido ao Sistema Geodésico Brasileiro e niveladas geometricamente, em relação a esta referência); • Programa de aferição da restituição aerofotogramétrica da área do reservatório; • Amarração Planialtimétrica das investigações geológico-geotécnicas, hidrométricas e ambientais realizadas; • Levantamentos de eventuais selas nas bordas do reservatório. Salienta-se que os objetivos dos referidos levantamentos são o atendimento de finalidades específicas das investigações geológicas e geotécnicas, das pesquisas de materiais de construção, das simulações do escoamento e da análise da qualidade da água para o modelo reduzido, reservatório e outras. 4.4 Estudos hidrológicos e pluviométricos PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 39 Aqui determina-se o fluxo de design do projeto da central. Para o estudo hidrológico, deve-se levar uma estatística das flutuações da água durante vários anos para ter uma ideia do comportamento da fonte. Porém, como em muitas ocasiões não há muitos estudos desse tipo, deve-se recorrer à medição pluviométrica das precipitações na região onde a PCH funcionará, para estudar o fluxo da bacia hidrográfica que alimenta o rio. 4.5 Estudos geológicos A localização e adequação das obras civis é feita em relação à estabilidade do terreno e às possíveis falhas geológicas que ele contém. É um estudo muito importante para o projeto e a construção da pequena central hidrelétrica, uma vez que permite que os projetistas tenham uma ideia de que riscos geológicos devem ser levados em conta ao projetar a planta. 4.6 Estudos energéticos O dimensionamento de uma usina está baseado nos estudos energéticos consistentes na definição de doisparâmetros: a vazão e a queda (PINELI, 2005). O potencial hidráulico pode ser encontrado através da seguinte equação: 𝐸𝐸𝐸𝐸𝑒𝑒 = 9.81 ∗ 𝜇𝜇 ∗ 𝑄𝑄 ∗ 𝐻𝐻𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 1000 ∆𝑡𝑡 Ou: 𝐸𝐸𝐸𝐸𝑒𝑒 = 0.0083 ∗ 𝑄𝑄 ∗ 𝐻𝐻𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 [𝑀𝑀𝑊𝑊 𝑚𝑚é𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑] Onde: PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 40 𝐸𝐸𝐸𝐸𝑒𝑒: Energia firme estimada em MW médios, considerando-se 𝑄𝑄 e 𝐻𝐻𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 constantes durante o funcionamento da usina (1 MW médio = 8760 MWh por ano, durante a vida útil da usina); 𝜇𝜇: Rendimento do conjunto turbina-gerador, sendo sugerido pelas Diretrizes para projetos de PCHs o valor final de 0.85; ∆𝑡𝑡: Intervalo de tempo igual a 1 segundo; 𝑄𝑄: Vazão mínima medida no local ao longo do período crítico do sistema interligado [m3/s]; 𝐻𝐻𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙: Queda líquida [m]. Será igual à queda bruta menos as perdas hidráulicas iguais a 3% para casas de força ao “pé” da barragem e 5% para aduções em túnel/canal. 4.7 Estudos ambientais As obras a serem construídas e a operação da central implicam um grande impacto ambiental, já que, dependendo da área do reservatório, haverá grande área de terra alagada e o que traz grandes efeitos (como a perda de terras agrícolas, florestas e fauna) e o impacto que isso causaria à área ao redor da barragem. Logo, o estudo deve cobrir como mitigar esse dano. No final, o estudo dará viabilidade ao projeto ou não. Em específico deve desenvolver- se: O Estudo de Impacto Ambiental (EIA): É o conjunto de estudos realizados por especialistas de diversas áreas, com dados técnicos detalhados, com o objetivo de se fazer um diagnóstico ambiental da área de atuação do projeto, análise dos impactos ambientais, definição de medidas mitigadoras aos impactos negativos, e elaboração de programas de acompanhamento e monitoramentos desses fatores; PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 41 O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA): É um relatório que aborda as conclusões do EIA. É um documento não técnico, deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto. 4.8 Estudos de interligação O sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil é um sistema hidro- termo-eólico de grande porte, com predominância de usinas hidrelétricas e com múltiplos proprietários. O Sistema Interligado Nacional (SIN) é constituído por quatro subsistemas: Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e a maior parte da região Norte (ONS, 2018). A interconexão dos sistemas elétricos, por meio da malha de transmissão, propicia a transferência de energia entre subsistemas, permite a obtenção de ganhos sinérgicos e explora a diversidade entre os regimes hidrológicos das bacias. A integração dos recursos de geração e transmissão permite o atendimento ao mercado com segurança e economicidade. A capacidade instalada de geração do SIN é composta, principalmente, por usinas hidrelétricas distribuídas em dezesseis bacias hidrográficas nas diferentes regiões do país. Entenda-se que, no planejamento de uma PCH, estuda-se a possibilidade de interligação com usinas eólicas ou térmicas, compartilhando os recursos energéticos. Além disso, é importante destacar que, para a operação centralizada ótima de um sistema elétrico interligado de dimensões continentais como o SIN, é imprescindível ter a capacidade de escoamento de energia associada à capacidade de armazenamento da mesma. PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 42 PCHs possuem limitada capacidade de armazenamento de energia, com baixo grau de intermitência e razoável previsibilidade de geração. O SIN possibilita a otimização desses reservatórios através das linhas de transmissão, transportando energia de uma bacia hidrográfica que esteja em um momento de abundância de água, para outra, onde haja necessidade de se economizar água escassa. 4.9 Detalhamento do projeto As usinas de pequeno porte no Brasil são projetadas e construídas com praticamente dois arranjos básicos (PINELI, 2005). O primeiro é composto de barragem/vertedouro, tomada de água, canal de adução, câmara de carga, tubulação forçada, casa de máquinas e canal de fuga. Apresenta-se um esboço deste arranjo na Figura 11. O segundo arranjo, apresentado na Figura 12, difere do primeiro apenas através da substituição do canal de adução pela tubulação de baixa pressão e a câmara de carga pela chaminé de equilíbrio. Os demais itens componentes são os mesmos. Figura 11. Arranjo típico para pequeno aproveitamento hidrelétrico. Fonte: (BALARIM, 1999) PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 43 Figura 12. Arranjo típico para pequeno aproveitamento hidrelétrico com tubulação de baixa pressão e chaminé de equilíbrio. Fonte: (BALARIM, 1999) Após a determinação do arranjo, deve definir-se a barragem. Esta tem como finalidade o armazenamento de água para a geração de energia. Destina-se a criar um desnível hidráulico localizado, a fim de elevar o nível das águas, permitindo o afogamento da tomada de água. Pode ter ou não o objetivo de regularização da vazão. No caso de PCH, não há essa necessidade, pois, a mesma funciona a fio d’água, operando com a vazão constante do rio. Os principais tipos de barragens utilizados em pequenas centrais hidrelétricas são de: • Madeira; • Terra; • Pedra; ou • Concreto. A grande maioria dos aproveitamentos hidrelétricos tem necessidade de elementos destinados a liberar o excesso de água que aflui ao reservatório durante as cheias. Estas estruturas chamadas vertedouros são, usualmente, localizadas de modo a acarretar um mínimo de obras civis. PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 44 Mesmo assim, os vertedouros respondem por uma parcela significativa dos recursos totais para a implantação de uma usina hidrelétrica de pequeno porte (BALARIM, 1999). A descarga pode ser realizada em lâmina livre ou com o auxílio de dispositivos como, por exemplo, comportas, que mantêm sempre constante o nível de água no reservatório. Esse controle evita a perda de queda para centrais com pouco desnível. Os vertedouros mais utilizados em pequenas centrais hidrelétricas são: vertedouro de borda livre e de canal. Para levar a água desde a represa na tomada de água até as turbinas, se desenvolve o chamado “sistema de adução e tomada de água” composto de: Tomada de água: Tem como função a captação e condução da água aos elementos adutores e daí às turbinas. Deve possuir uma grade de proteção que impeça a entrada de corpos flutuantes os quais podem danificar as turbinas. Localizam-se normalmente às margens do rio. Constituem-se por dois tipos: tomada de água acoplada ao canal de adução ou à tubulação. A principal grandeza para definir as dimensões da tomada de água, é a máxima vazão turbinada. Seu dimensionamento deve prover a captação da vazão requerida pela motorização completa da usina funcionando a plena carga (BALARIM 1999); Canal de adução: Sendo a adução de baixa pressão, após a tomada da água é construído um canal em solo natural, em concreto, em alvenaria de pedra ou de forma mista. A escolha deve levar em consideração a vazão a ser aduzida, a velocidade possível, a declividade do canal, o custo do material utilizado para o revestimento. A importância da forma a ser escolhida deve levar em conta, que o não revestimento do canal produzirá perda de fluído, reduzindo a PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 45 capacidade produtiva. Sua capacidade deve ser suficiente para aduzir a quantidade de água necessária ao aproveitamento máximo da potência das turbinas. Para sistemas de baixa pressão, a adução podeser feita através do uso de tubulação. A céu aberto ou subterrânea, a tubulação deve ser apoiada em blocos de concreto cujo espaçamento varia de 6 a 15 metros para tubos de ferro. O uso de tubulação implica a instalação de chaminé de equilíbrio; Câmara de carga: É a estrutura destinada a fazer a ligação entre o canal de adução e a tubulação forçada. Possui comporta destinada ao controle da vazão para absorver variações no escoamento da água, bem como grade protetora a fim de eliminar impurezas existentes tais como folhas, animais mortos e areia. O dimensionamento hidráulico da câmara de carga deve ser feito visando o fornecimento suficiente ao pleno aproveitamento das turbinas; Chaminé de equilíbrio: É utilizada quando o sistema adutor é composto somente de tubos, substituindo a câmara de carga. Tem a função de absorver as variações repentinas do escoamento da água, que ocorrem quando há uma rejeição de carga, protegendo o conduto de derivação contra os efeitos do golpe de ariete. Este efeito ocorre quando a velocidade do escoamento é modificada atuando-se no distribuidor da turbina (SOUZA 1992). Assim, no fechamento da válvula da turbina, a força da água represada sobe através da chaminé até o ponto de equilíbrio; Tubulação forçada: É o elemento que faz a ligação entre a câmara de carga e a turbina por meio de um sistema de alta pressão, que pode ser constituído de uma ou mais tubulações. O material mais comumente utilizado é o aço, podendo, no entanto, ser construída até de madeira, dependendo do tipo de pressão. A determinação do diâmetro econômico do tubo deve ser feita segundo a vazão máxima requerida. Sua instalação requer blocos de concreto para apoio, destinadas a absorver esforços das manobras rápidas das máquinas hidráulicas. PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 46 Além disso, deve-se construir uma casa de máquinas e equipamentos eletromecânicos destinada a abrigar os equipamentos (turbina, gerador, painel de controle e o comando da central). Nela se processa a transformação da energia hidráulica em elétrica. Seu espaço deve ser suficiente para acomodar as máquinas, bem como a movimentação de equipamentos necessários à manutenção e reparos. O tipo de turbina e equipamentos a serem instalados é o que determina a sua posição e espaço. Os equipamentos eletro-hidromecânicos que compreendem os grupos geradores (turbinas, geradores elétricos e reguladores de velocidade) são responsáveis pelo funcionamento da PCH. É recomendável que a subestação seja localizada junto à casa de máquinas. Cabos isolados devem ser utilizados na ligação entre o gerador e a subestação. As características de funcionamento do sistema de distribuição são de grande importância, uma vez que elas definem a tensão de transmissão e a forma de operação da central. Após sua passagem pela turbina, a água é reconduzida ao leito do rio em um local escolhido de maneira conveniente. O canal de fuga é a estrutura que realiza esse trabalho. Seu comprimento depende da posição da casa de máquinas em relação ao rio. UNIDADE 5. PROJETO DE INSTALAÇÃO DE ENERGIA SOLAR Os sistemas de energia solar fotovoltaica (FV ou PV) desempenham um papel fundamental na geração de eletricidade. De fato, verifica-se um dos maiores crescimentos de utilização desta tecnologia para geração de eletricidade na área das energias renováveis e é expectável que essa tendência expansionista se verifique nos próximos anos (ELTAWIL; ZHAO, 2010). PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 47 Existem vários tipos de aplicação e opções para o uso da energia solar fotovoltaica entre os que se encontram (AMARAL, 2016): • Conectados à rede: Normalmente os painéis fotovoltaicos são colocados sobre o telhado de casas e escritórios. É necessária a presença de um inversor, para transformar a corrente contínua em corrente alternada. A energia gerada pelos painéis é entregue à rede elétrica convencional; • Isolados: Instalado em áreas de difícil acesso à rede elétrica, como zonas rurais, ilhas, locais ermos etc., necessita armazenamento em baterias. Podem gerar energia para apenas uma residência ou pode ser instalado em minirredes para atender uma pequena comunidade; • Híbridos: A geração fotovoltaica funciona em conjunto com outros, como geradores eólicos ou diesel. Considerados mais complexos, tais sistemas exigem um controle capaz de integrar as diferentes formas de geração de energia. Estes sistemas podem estar conectados à rede, isolados ou ter o apoio da rede. A integração da eletricidade gerada por sistemas fotovoltaicos na rede pode levar a problemas nas redes de distribuição de eletricidade, dada a sua imprevisibilidade horária e anual. Poderão ocorrer momentos com excesso de produção elétrica, em especial nos dias de sol de verão, ou de carência de eletricidade face ao consumo (note-se que este recurso é variável e incontrolável). Estas questões poderão ser resolvidas com o desenvolvimento de sistemas adequados de armazenamento de energia associados ao fotovoltaico. Estes sistemas são apropriados para autoconsumo, sendo a sua principal prioridade satisfazer a procura de energia local e, ocasionalmente, alimentar a rede com qualquer excedente de energia produzido. PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 48 Desta forma, energia produzida em excesso pode ser imediatamente armazenada. Estes sistemas deverão estar associados a estratégias inteligentes de gestão, de modo a evitar a sobrecarga e a injeção de potência excessiva na rede (MOSHÖVEL et al., 2015). 5.1 Dimensionamento completo de instalações fotovoltaicas isoladas Com respeito aos sistemas fotovoltaicos isolados (SFI), um arranjo padrão consiste em painéis acoplados diretamente à carga CA ou CC através de uma unidade de condicionamento de potência (UCP), com um respaldo usando baterias, onde a carga demanda é atendida diretamente pela energia solar gerada e o excedente é armazenado no banco de baterias para atender períodos de pico ou as horas sem luz solar. Todo esse processo será gerenciado por um controlador de carga que irá decidir onde e quando usar a energia gerada, e os limites de carga e descarga das baterias, ajudando assim a melhorar o desempenho do conjunto e prolongar sua vida útil (RAWAT et al., 2016). Esta tecnologia é ideal para abastecer regiões isoladas, ajudando a melhorar seu desenvolvimento e conforto. Sendo que o tamanho do conjunto de painéis fotovoltaicos irá depender da carga demandada, e a dimensão do banco de baterias está atrelada ao tempo de autonomia que requer a instalação. Para dimensionar este tipo de sistema primeiro é necessário caracterizar o local de instalação, a disponibilidade do recurso solar e as características dos equipamentos a serem instalados. Assim, usando técnicas de otimização, obtém-se a melhor configuração para o sistema. Por fim, é configurado o controlador de carga para gerenciar o funcionamento do sistema. O SFI é dimensionado visando satisfazer a demanda do mês crítico de consumo. Logo, para determinar a potência de pico (𝑃𝑃𝑚𝑚) que requer o painel fotovoltaico para suprir a demanda de irrigação tem-se a seguinte equação: PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 49 𝑃𝑃𝑚𝑚 = 𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑙𝑙=112 � 𝐿𝐿𝑙𝑙 𝐻𝐻𝑃𝑃𝐻𝐻𝑙𝑙 ∗ 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑑𝑑1 ∗ 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑑𝑑2 � Onde: • 𝐿𝐿𝑙𝑙 (Wh/dia) é a quantidade média diária de energia consumida durante cada mês 𝑑𝑑; • 𝐻𝐻𝑃𝑃𝐻𝐻𝑙𝑙 (h/dia) indica a média diária de horas de pleno sol no plano do painel fotovoltaico para cada mês 𝑑𝑑, 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑑𝑑1 (%) é o fator de redução da potência dos módulos devido a fatores ambientais e 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑑𝑑2 (%) é o fator de redução da potência devido a perdas no sistema. Sendo que a quantidade média de energia vem dada por: 𝐿𝐿 = 𝐿𝐿𝑐𝑐𝑐𝑐 𝜂𝜂𝑏𝑏𝑐𝑐𝑏𝑏 ∗ 𝜂𝜂𝑙𝑙𝑖𝑖𝑖𝑖 Onde: • 𝐿𝐿𝑐𝑐𝑐𝑐 (Wh/dia)é a energia média diária consumida em corrente alternada em um mês; • 𝜂𝜂𝑏𝑏𝑐𝑐𝑏𝑏 (%) é a eficiência global da bateria; e • 𝜂𝜂𝑙𝑙𝑖𝑖𝑖𝑖 (%) é a eficiência do inversor. Para estabelecer a configuração do arranjo FV é necessário definir o módulo FV e o Seguidor do Ponto de Máxima Potência (MPPT) que serão usados no projeto. O MPPT é uma nova tecnologia presente nos inversores para aumentar a eficiência energética. Diferentemente dos sistemas fotovoltaicos conectados à rede onde os componentes usados devem ser acreditados pelo INMETRO, nesse tipo de sistemas não é obrigatório. O que expande as opções de equipamentos a serem utilizados, porém, a escolha dos dispositivos sempre deve considerar a credibilidade do fabricante, a eficiência do dispositivo, a disponibilidade do produto no mercado brasileiro e o recurso PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 50 de monitoramento sem fio (importante para sistemas em zonas rurais), entre outras coisas. O número de módulos em série que permite cada MPPT é determinado pela seguinte equação, a qual garante que a máxima tensão de operação do controlador de carga sempre será maior do que a tensão máxima de saída do painel fotovoltaico: 𝑁𝑁𝑚𝑚ó𝑑𝑑𝑑𝑑𝑙𝑙𝑑𝑑𝑠𝑠,𝑠𝑠𝑒𝑒𝑠𝑠𝑙𝑙𝑒𝑒 ≤ 𝑉𝑉𝑑𝑑𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑚𝑚𝑐𝑐𝑀𝑀 𝑉𝑉𝑑𝑑𝑐𝑐𝑀𝑀𝑚𝑚𝑙𝑙𝑖𝑖 Onde: • 𝑉𝑉𝑑𝑑𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑚𝑚𝑐𝑐𝑀𝑀 (V) é a máxima tensão de operação do MPPT do controlador; • 𝑉𝑉𝑑𝑑𝑐𝑐𝑀𝑀𝑚𝑚𝑙𝑙𝑖𝑖 (V) é a tensão de circuito aberto do módulo FV na sua mínima temperatura de operação. Complementarmente, se pode determinar a quantidade de fileiras em paralelo que podem ser conectadas no controlador, usando a seguinte equação: 𝑁𝑁𝑠𝑠𝑏𝑏𝑠𝑠𝑙𝑙𝑖𝑖𝑠𝑠𝑠𝑠,𝑝𝑝𝑐𝑐𝑠𝑠𝑐𝑐𝑙𝑙𝑒𝑒𝑙𝑙𝑑𝑑 ≤ 𝐼𝐼𝑆𝑆𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑚𝑚𝑐𝑐𝑀𝑀 1.25 ∗ 𝐼𝐼𝑆𝑆𝐶𝐶 Sendo: • 𝐼𝐼𝑆𝑆𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑚𝑚𝑐𝑐𝑀𝑀 a corrente máxima do controlador; e • 𝐼𝐼𝑆𝑆𝐶𝐶 a corrente de curto-circuito do módulo. Esta fórmula garante que a corrente máxima do controlador sempre será maior do que a corrente de curto-circuito do painel. Sendo que é acrescido um fator mínimo de segurança de 25%, assumindo que o painel pode receber uma irradiância maior (ainda que por curtos períodos). PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 51 Além de responder pelo tempo de autonomia do sistema, o banco de baterias abastece a carga no período de baixa irradiação. Para determinar a capacidade de armazenamento que deverá ter o banco de bateria, usam-se as seguintes equações (RAWAT et al., 2016): 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶20 = 𝐿𝐿𝑚𝑚 ∗ 𝑁𝑁 𝑃𝑃𝑑𝑑 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐼𝐼𝐶𝐶20 = 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶20 𝑉𝑉𝑠𝑠𝑙𝑙𝑠𝑠𝑏𝑏 Onde: • 𝐿𝐿𝑚𝑚 (Wh) é a energia média diária consumida no mês crítico; • 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶20 (Wh) é a capacidade do banco de baterias para o regime de descarga em 20 horas; • 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐼𝐼𝐶𝐶20 é a respectiva capacidade em Ampère-hora (Ah); • 𝑁𝑁 é o número de dias de autonomia; • 𝑉𝑉𝑠𝑠𝑙𝑙𝑠𝑠𝑏𝑏 é a tensão do sistema; • 𝑃𝑃𝑑𝑑 (%) é a máxima profundidade de descarga da bateria. Já definida a capacidade do sistema de acumulação, a seguinte equação permite calcular o número necessário de baterias em paralelo para conseguir a corrente de alimentação do sistema: 𝑁𝑁𝑏𝑏𝑐𝑐𝑏𝑏𝑒𝑒𝑠𝑠𝑙𝑙𝑐𝑐𝑠𝑠,𝑝𝑝𝑐𝑐𝑠𝑠𝑐𝑐𝑙𝑙𝑒𝑒𝑙𝑙𝑑𝑑 = 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐼𝐼 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐼𝐼𝑏𝑏𝑐𝑐𝑏𝑏 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐼𝐼𝑏𝑏𝑐𝑐𝑏𝑏 representa a capacidade da bateria selecionada, em Ah, no mesmo regime de descarga do valor calculado para 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐼𝐼. Por fim, o dimensionamento do inversor deve levar em conta a potência máxima demandada pelo sistema, a tensão de entrada do controlador de carga e banco de PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 52 baterias, a tensão de saída, e que os motores elétricos geram uma demanda de pico na partida. Ainda é recomendável usar inversores de forma de onda senoidal pura em cargas eletrônicas sensíveis a ondas com distorção harmônica como o caso dos motores elétricos. 5.2 Dimensionamento completo de instalações fotovoltaicas conectadas à rede No caso do sistema fotovoltaico conectado à rede, este fornece a potência gerada diretamente à concessionária, utilizando a rede elétrica como unidade de armazenamento. Isto reduz significativamente a complexidade e custos iniciais da instalação, mas, em contrapartida, surgem complicações com o acoplamento do sistema à rede. Este sistema consiste basicamente em painéis solares, conversor CC/CC com MPPT, inversor com proteção de ilhamento e um transformador elevador de tensão. No dimensionamento do inversor e o arranjo de painéis, vários fatores devem ser levados em consideração como: • A capacidade de geração dos painéis em condições padrão de teste; • Localização geográfica; • Condições ambientais; • Perdas no inversor, conversor, transformador e cabos de energia. A potência do painel FV necessária para atender a demanda do sistema é calculada pela seguinte equação: 𝑃𝑃𝐹𝐹𝑉𝑉 = (𝐸𝐸/𝑇𝑇𝑇𝑇) 𝐻𝐻𝐻𝐻𝑃𝑃𝑀𝑀𝑀𝑀 PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 53 Onde: • 𝑃𝑃𝐹𝐹𝑉𝑉 é a potência de pico do painel FV; • 𝐸𝐸 (Wh/dia) é o consumo diário médio anual da edificação; • 𝐻𝐻𝐻𝐻𝑃𝑃𝑀𝑀𝑀𝑀 (h) é a média diária anual das horas de pleno sol incidente no plano do painel FV; • 𝑇𝑇𝑇𝑇 (adimensional) é a taxa de desempenho do sistema fotovoltaico (uma relação entre a produção real do sistema sobre o seu máximo teórico possível). Determinada a potência total do painel FV, já é possível dimensionar o inversor. A escolha do inversor adequado está intimamente atrelada à potência, características elétricas e topologia do gerador FV, além das características ambientais do local. Isso se evidencia na redução da potência do módulo FV com o aumento de temperatura (coeficiente negativo de temperatura). Esta característica tem popularizado o uso de geradores FV com potência nominal superior à do inversor, pois, mesmo em situações onde a irradiância é próxima de 1.000 W/m2, a potência do gerador FV dificilmente se aproxima de sua potência nominal (PINHO; GALDINO, 2014). Assim, surge o FDI (Fator de Dimensionamento do Inversor) que expressa a relação entre a potência nominal CA do inversor e a potência de pico do gerador FV. É determinado pela seguinte equação: 𝐸𝐸𝑇𝑇𝐼𝐼 = 𝑃𝑃𝑁𝑁𝑐𝑐𝑐𝑐 𝑃𝑃𝐹𝐹𝑉𝑉 Em que: • 𝑃𝑃𝑁𝑁𝑐𝑐𝑐𝑐 é a potência nominal em CA do inversor; • 𝑃𝑃𝐹𝐹𝑉𝑉 é a potência pico do painel FV. PROJETO DE INSTALAÇÕES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS 54 Para otimizar ao máximo o inversor utilizado, este deve ser dimensionado para não trabalhar em potências muito abaixo da nominal por períodos prolongados, de modo a diminuir seu tamanho (inversor mais barato) sem impactar na quantidade e confiabilidade do fornecimento de energia e, em consequência, reduzir o custo final de produção da energia. A literatura recomenda valores de FDI com limite inferior na faixa de 0.75 a 0.85, enquanto que o limite superior é de 1.05 (PINHO; GALDINO, 2014). Para configurar o arranjo final do painel fotovoltaico é preciso definir o módulo que será utilizado. Para o inversor, a seleção do módulo fotovoltaico considera a credibilidade do fabricante no que diz respeito à garantia do equipamento (performance e assistência técnica no Brasil), a eficiência do dispositivo e a disponibilidade do produto no mercado brasileiro. Portanto, é recomendado optar por módulos certificados pelo INMETRO. No entanto, para garantir que o inversor e o arranjo FV sejam compatíveis, é necessário verificar se a tensão e corrente CC máxima de entrada estão dentro da faixa de operação do inversor, o que determina o número de módulos em série e o número de fileiras em paralelo, respetivamente. Como a tensão e a corrente possuem uma forte dependência da temperatura, as condições extremas do inverno e do verão deverão
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