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1 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA FÁRMACOS QUE CONTRIBUEM PARA A PERDA ÓSSEA A lista acima mostra fármacos que contribuem para a perda óssea: normalmente não são interessantes para serem utilizados em grupos de risco. Ex. Pacientes mulheres, idosos, que não fazem reposição hormonal. CLASSES FARMACOLÓGICAS Pode-se dividir em classes farmacológicas que atuam no sistema ósseo em alguns grupos: Agentes antirreabsortivos e agentes anabólicos ósseos (classes bem definidas). Existem alguns agentes que não se encaixam nessas outras 2 classes: Agentes fixadores de fosfato orais; vitamina D e calcimiméticos. ❖ Antirreabsortivos: Diminuem a reabsorção óssea; atrapalham, dificultam e prejudicam a atividade dos osteoclastos. ❖ Anabólicos ósseos: Estimulam a construção óssea; principalmente os osteoblastos. ❖ Agentes fixadores de fosfato orais: vão dificultar/prejudicar a absorção de fosfato. Se eu tenho menor quantidade de fosfato no organismo, eu tenho menos cálcio circulante também, ou seja, mais cálcio nos ossos. ❖ Vitamina D: estimulam a absorção de cálcio exógeno. ❖ Calcimiméticos: classe relativamente nova. Funciona estimulando o receptor de cálcio. As células sensíveis ao cálcio, ficam mais sensíveis ainda, ou seja, precisa de menos cálcio para que o sinal aconteça. AGENTES ANTIRREABSORTIVOS TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL (TRH) Principalmente terapia com estrógenos. O mecanismo de absorção e reabsorção acontece normalmente. Osteoblasto estimula precursor osteoclástico a se diferenciar/maturar. Outros estímulos, através de MCP ou outras metaloproteinases também estimulam esses osteoclastos, que vão começar a absorver o osso. • Suprime a transcrição dos genes que codificam citocinas, como a IL-6, que induzem a proliferação, a diferenciação e a ativação dos osteoclastos. Isso faz com que menos osteoclastos sejam ativados e aconteça uma menor reabsorção. • O estrógeno também promove a apoptose dos osteoclastos, enquanto inibe a apoptose dos osteoblastos e osteócitos. • Importante: O estrógeno não aumenta a formação óssea (não tem nenhum mecanismo que estimule a reposição), porém mantém a massa óssea ou retarda a perda de osso (reabsorção) através de suas propriedades antirreabsortivas. O estrógeno atua nos osteócitos (redução da apoptose → diminuição da ativação da remodelagem óssea), osteoblastos (redução da apoptose, diminuição do estresse oxidativo e do NF-kB → manutenção da formação óssea) e osteoclastos (estímulo à apoptose, diminuição RANK-L da indução e diferenciação → diminuição da reabsorção). EFEITOS ADVERSOS DO ESTRÓGENO: ❖ Sangramento vaginal e hipersensibilidade das mamas; ❖ Aumento do risco a longo prazo de câncer de mama; ❖ Característica interessante: Ele deve ser administrado de modo cíclico intercalando com um agente progestacional para reduzir o risco de câncer endometrial. A TRH também aumenta o risco de tromboembolia venosa, visto que o estrógeno promove a síntese hepática dos fatores de coagulação. Quando você administra hormônio de forma exógena, você tende a fazer com que o seu fígado produza mais fatores de coagulação, aumentando o risco de Fármacos que atuam no metabolismo ósseo 2 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA tromboembolismo venoso. É o mesmo risco das meninas que usam anticoncepcional. • Tem se preconizado que as doses mínimas necessárias para o estrogênio proteger o esqueleto seriam as seguintes de acordo com a via de administração: ➢ Oral: 0,625mg de estrogênios conjugados (sulfato de estrona), 2 mg de estradiol micronizado ou 2mg de valerianato de estradiol, diariamente (1x/dia); ➢ Transdérmica: 50mcg por dia, aplicados na pele do abdômen ou nádegas e removidos duas vezes por semana; ➢ Percutânea: 1,5 a 3mg aplicados na pele do antebraço ou abdômen diariamente. MODULADORES SELETIVOS DOS RECEPTORES DE ESTRÓGENO (MSRE) - RALOXIFENO É uma classe seletiva a alguns receptores de estrógeno. Eles modulam/agem seletivamente em alguns tipos de receptores de estrógeno. • Objetivo: redução da reabsorção óssea e dos efeitos adversos associados ao estrógeno. ➢ Agonista do estrógeno no osso; Redução da reabsorção óssea. ➢ Antagonista no endométrio e na mama; quando o receptor é ligado por essa molécula, ele não vai desencadear as funções que desencadearia se fosse um hormônio convencional. ➢ Não está associado a câncer de mama ou endometrial; ➢ Reduz os níveis de colesterol LDL; provavelmente tem relação com a função do estrógeno do fígado. ➢ Dose recomendada: 60mg/dia (5 anos). O ideal é que se utilize no máximo por 5 anos ininterruptos. Depois se avalia uma nova terapia, pois por mais que seja seletivo para o estrógeno do osso, trata- se de um agonista hormonal. Por conta da seletividade, não existe relação nenhuma entre uso de raloxifeno e o câncer de mama e endometrial. • Dependendo do tecido, um MSRE é capaz de atuar como agonista ou como antagonista do estrógeno. Os mecanismos pelos quais um composto pode exercer efeitos tanto estrogênicos quanto antiestrogênicos estão começando a ser elucidados. Parece que os complexos de MSRE (Modulador Seletivo do Receptor de Estrogênio)-ER (Receptor de Estrogênio): 1. Ligam-se de modo seletivo a elementos de resposta hormonal teciduais específicos; e/ou 2. Recrutam corepressores e co-ativadores da transcrição tecidual seletivos. O complexo MSRE-RE, nos ossos, desestimula a reabsorção, assim como o estrogênio faz. Porém, em outros tecidos, como mama e útero, eles provavelmente estimulam ou recrutam substâncias que não provocam efeito farmacológico algum nesses locais. BIFOSFANADOS/BIFOSFONATOS Alendronoato, Ibandronato, risedronato e ácido zoledrônico (a pegadinha do bifosfonado é o ácido zolêndronico, o resto possui nomes muito semelhantes com DRONATO) são os fármacos preferidos para prevenção e tratamento da osteoporose pós- menopausa. Esses bifosfonados, junto com o Etidronato, pamidronato e tiludronato, constituem um grupo farmacológico importante para o tratamento de distúrbios ósseos, como Osteoporose e a Doença de Paget bem como o tratamento de metástases ósseas e hipercalcemia de malignidade. Classe de muita importância para tratar doenças mais graves. São muito potentes! Como os átomos de oxigênio nos grupos fosfonato podem combinar-se com cátions divalentes, como o cálcio, os BP tendem a concentrar-se no osso, onde são incorporados a matriz mineralizada. Tem grande capacidade de incorporação na matriz óssea mineralizada por causa de sua estrutura química (isso é importante!). Quando um fármaco tem capacidade de se armazenar/ estocar, em um tecido, você aumenta a biodisponibilidade dele, porque cria reservas no osso, o que vai fazer com que ele seja liberado mais lentamente e, consequentemente, tem atividade por mais tempo. No caso dos bifosfonados, como eles ficam armazenados nos ossos, e é justamente lá que ele precisa estar (sensacional!). Os BP permanecem na matriz até que o osso seja subsequentemente remodelado. Quando os ácidos são secretados pelos osteoclastos, dissolvem a matriz mineral e liberam os BP. Os BP também diminuem a solubilidade da hidroxiapatita, tornando-a mais resistente a reabsorção osteoclástica. Quando o osteoclasto chega aos ossos, ele vai degradando a matriz, que está cheia de bifosfonatos aderidos, e a matriz começa a se solubilizar, se soltando. A consequência disso é que os bifosfonatos vão ser absorvidos pelos osteoclastos, e é justamente matando os osteoclastosque os bifosfonatos 3 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA funcionam. Além disso diminuem a solubilidade da hidroxiapatita, e fica mais difícil do osteoclasto solubilizar esse cristal, pois ele está mais rígido. Como ele é liberado na região de reabsorção óssea, dificilmente ele causa efeitos tóxicos nos osteoblastos, pois nessa região, eu tenho basicamente a ação osteoclástica. Como os bifosfonastos causam a morte dos osteoclastos? Bloqueiam uma enzima chamada FPP sintase (importante na cascata de produção do mavelonato). A vida do mavelonato é importante para adicionar agrupamentos prenilas, que é o grupamento cheio de carbonos, com várias insaturações. Algumas proteínas precisam desse processo para que funcionem normalmente e o osteoclasto tenha a sua função fisiológica normal. Se tenho substância que inibe FPP sintase, vou diminuir quantidade de proteínas preniladas, e como consequência, menor função delas intracelularmente, prejudicando a sobrevivência e levando as células a apoptose. Algumas das moléculas de BP liberadas são então internalizadas pelos osteoclastos altamente fagocíticos. No interior dos osteoclastos, os amino- bifosfonados inibem uma etapa da via do mevalonato, que é muito importante na prenilação de proteínas. Há várias etapas nesse processo. O mevalonato é convertido em isopentenil difosfato, que é convertido em fanesil difosfato, que por sua vez será adicionado a proteínas intracelulares (citoesqueleto, transporte de vesículas) que vão desencadear a homeostase. Se eu inibo a fanesil difosfato (auxilia na produção do colesterol), vai ter uma inibição da produção das proteínas preniladas e do colesterol e a redução da maleabilidade celular, desestruturando essa célula como um todo. A ruptura da via do mevalonato leva à perda de várias funções doosteoclastos (por exemplo, a atividade de H+~ATPase) e provoca, em última análise, a apoptose dessas células. Como a reabsorção óssea osteoclástica aumenta acentuadamente a concentração de BP na vizinhança local dos osteoclastos, os efeitos celulares da inibição da via do mevalonato parecem ser LIMITADOS aos osteoclastos. Restrinjo ao osteoclasto os danos, mato um pouco seletivamente. Diminuem a reabsorção osteoclástica do osso, principalmente pelo aumento da apoptose osteoclástica e pela inibição da biossíntese do colesterol, importante para a função osteoclástica. A diminuição da reabsorção óssea osteoclástica resulta em pequeno aumento da massa óssea e diminuição do risco de fraturas em pacientes com osteoporose. A partir daí criamos tudo em cima dele (todos os fármacos da classe presentes na tabela). E o alendronato teve níveis de atividade até mesmo 10 mil vezes maior do que o Etiodronato. Os efeitos benéficos do alendronato persistem por vários anos de tratamento, mas a interrupção resulta na perda gradual dos efeitos. Foi feita uma densitometria óssea para determinar alterações da densidade mineral óssea a partir da linha basal (%), e viu-se que quando tratado com alendronato, houve um aumento da densidade mineral óssea em cerca de 10% (3 anos depois). Ele permanece por vários anos porque, os alendronatos se mantém nos ossos e continuam neles por muitos anos! Conforme interrompe o fármaco, ele vai decrescendo gradualmente, e ao longo dos anos, volta a ter uma perda óssea. Os bifosfonatos são derivados do ácido bifosfônico (facilmente hidrolisada) e foram produzidos a partir do ácido bifosfórico (essa não é facilmente hidrolisada), sendo retirado um carbono. Vários constituintes foram adicionados ao ácido bifosfônico como pode-se ver nessa tabela. Responsável pelos potencias antirreabsortivos. 4 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA INTRUÇÕES DE USO DOS BISFOSFONATOS ORAIS: O tempo de administração entre uma dose e outra dos bifosfonatos é grande! Devem ser tomados com água potável (200-250ml). Nota: tomar o resindronato comprimido de liberação lenta com um mínimo de 150ml de água. pois os fármacos tem um tempo de desintegração diferente da forma farmacêutica, precisando de quantidade de água para serem dissolvidos, solubilizados e absorvido pelo organismo o máximo possível. Deve ser tomado no mínimo antes de 30 minutos antes da alimentação, bebidas e outros medicamento, sendo que se for o ibandronato, deve ser ingerido antes de 60 min antes da alimentação, bebida e outros fármacos. Costumam interagir muito com o cálcio, e essa é a justificativa de ele ter afinidade com o tecido ósseo (tem muito cálcio). Se tomar bifosfonatos com leite, ele vai formar agregados com o leite e não vai conseguir ser reabsorvido. O risendronato, deve ser IMEDIATAMENTE consumido após desjejum. É importante permanecer de pé e não se deitar ou reclinar por pelo menos 30 min (60 min para ibandronato) após a ingestão, pois é muito comum a apresentação de refluxo e gastrite. Se ficar em pé reduz esses sintomas e os efeitos adversos. CALCITOCINA A calcitonina exógena é a mesma que a endógena (como fármaco), só que a exógena NÃO é humana! A calcitonina de salmão é indicada para o tratamento da osteoporose em mulheres que tem pelo menos 5 anos de pós menopausa. Ela reduz reabsorção óssea, mas é menos eficaz que os bifosfonatos. Uma característica interessante da calcitonina é o alívio da dor associada com a fratura osteoporótica (funciona como um analgésico para esse tipo de dor, ainda não se sabe como e o porquê, mas tem potencial analgésico para dor de fraturas ósseas). Por isso, a calcitonina pode ser benéfica para pacientes com fratura de vértebra recente. Como a calcitonina reduz a reabsorção óssea? Calcitonina é o símbolo de que existe muito cálcio no sangue. Quando administra calcitonina, seu corpo entende que tem muito cálcio circulante. A principais função da calcitonina no osso é estimular a deposição, inibindo assim a reabsorção. Para o paciente com osteoporose (desequilíbrio na atividade osteoclástica), informar que tem muito cálcio no sangue (administração de calcitonina), você inibe os osteoclastos de funcionar, inibindo a reabsorção. Considerações: Está disponível em formulação intranasal (mais comum) e parenteral (usada raramente). Foi observada resistência a calcitonina no uso prolongado contra a doença de Paget (Para Paget é observado a taquifilaxia - forma/ mecanismos que o organismo desenvolve para não responder ao fármaco, costuma ser diferente de tolerância). Devido ao risco potencial aumentado de malignidades com a calcitonina, esse fármaco deve ser reservado aos pacientes intolerantes aos outros fármacos contra a osteoporose. Esse é o grande problema da calcitonina ... geralmente aparecem tumores hepáticos e ósseos. Logo, nunca será primeira escolha! AGENTES ANABÓLICOS ÓSSEOS Os agentes antirreabsortivos retardam a taxa de perda óssea, mas não induzem a formação de novo osso. Surgiu a necessidade clínica de fármacos que fizessem a formação de um novo osso (reposição do osso já perdido). Pacientes que já perderam uma grande quantidade de massa óssea (DMO de mais de 3 desvios-padrão abaixo do normal) ou que já sofreram uma ou mais fraturas osteoporóticas, os agentes antirreabsortivos não constituem uma terapia ideal. Então começou a se fazer agentes anabólicos ósseos. FLUORETOS O fluoreto (de cálcio e dentre outros fluoretos) é funciona como mitógenos (estimulam a divisão celular 5 Nicole Telles MoreiraFARMACOLOGIA de uma célula) para oesteoblastos. Então, espera-se uma maior produção de osteoblastos (para anabolismo ósseo). Os estudos clínicos realizados demonstraram que o fluoreto, em concentrações mais altas do que aquelas utilizadas para fluoração dos sistemas públicos de água, aumenta a massa de osso trabecular (a quantidade de flúor adicionada aos sistemas de abastecimento de água não é suficiente para aumentar a massa óssea). Entretanto, o uso do fluoreto leva à conversão da hidroxiapatita em fluroroapatita, que é mais densa, porém mais quebradiça. É uma terapia que sabidamente estimula osteoblastos a se dividirem, depositarem mais material ósseo, porém, por outro lado, pode converter cristais de hidroxiapatita em fluoroapatita. Ainda não é certeza quanto ao fato do fluoreto ser efetivo na prevenção das fraturas associadas à osteoporose; até o momento, os estudos conduzidos forneceram resultados inconsistentes. • Geralmente apresentados em associação com polivitamínicos (na maioria dos que são usados em idosos) • (10mg) e (20mg) é a quantidade de fluoreto presente em cada comprimido: • Gerovital (10mg) • Femme com flúor (2mg) PTH (PARATORMÔNIO) O paratormônio é produzido pela paratireoide quando tem uma diminuição de cálcio no sangue, estimulando a reabsorção óssea no sentido de aumentar os valores séricos do cálcio. O PTH apresenta um papel DUAL (cuidado!). Ele tem papel tanto de osteocatabolismo, como de osteoanabolismo, o que vai mudar é a DOSE! Quando ele está na circulação sanguínea em baixas doses, ele estimula o anabolismo ósseo → Aumentando a diferenciação de osteoblastos e diminuindo sua apoptose; Conforme a sua concentração na circulação sanguínea ou a sua dose vai aumentando, o PTH passa a ter um papel catabólico → Aumentando RANKL e diminuindo OPG, aumentando assim a diferenciação dos osteoclastos e aumentando a reabsorção óssea. Quando o PTH age em baixas doses, há uma maior diferenciação e proliferação de osteoblastos com consequente aumento da massa óssea (maior deposição óssea), sendo inibida a apoptose dos osteoblastos. Considerações: A administração de uma dose baixa subcutânea de PTH uma vez ao dia favorece o anabolismo ósseo, enquanto a exposição contínua e elevada ao PTH favorece o catabolismo ósseo. A formulação atualmente disponível é uma injeção subcutânea (projetada para autoadministração); dispositivo auto injetável com seringa. O PTH (1-34) foi aprovado com o nome genérico de teriparatida para o tratamento da osteoporose em mulheres pós-menopausicas e em homens. A dose recomendada é de 20 mcg uma vez ao dia (dose muito baixa, para favorecer anabolismo). Não é recomendado o uso de Teriparatida por um período superior a 2 anos. FIXADORES DE FOSFATOS ORAIS Não fazem parte de uma classe e não se encaixam em um grupo. São fármacos que vão dificultar a absorção do fosfato proveniente da dieta. Existe uma relação (equilíbrio) entre os níveis de cálcio e fosfato no sangue. Quando diminui a concentração de fosfato no sangue, há uma desestimulação da reabsorção óssea, mantendo o cálcio no osso e evitando que ele seja degradado e vá para a circulação. Hidróxido de alumínio foi um dos primeiros agentes utilizados no tratamento do hiperfosfatemia da doença renal crônica. O alumínio precipita-se com o fosfato no trata gastrointestinal, levando à formação de complexos não-absorvíveis, o que faz com que o fosfato não vá para na corrente sanguínea. Apesar de ser efetiva na redução dos níveis plasmáticos de fosfato, essa abordagem tem a desvantagem de um risco a longo prazo significativo de toxicidade pelo acúmulo de alumínio. No decorrer de vários anos, o uso crônico de fixadores de fosfato a base de alumínio pode resultar em anemia crônica (ferropriva, já que o alumínio prejudica a absorção do ferro), osteomalácia e neurotoxicidade. Por essas razões, o alumínio foi abandonado, em grande parte, como forma de tratamento da hiperfosfatemia, exceto em casos de hiperfosfatemia refratária, para diminuir o fosfato do sangue. Hoje em dia, as preparações orais de carbono de cálcio e acetato de cálcio são frequentemente utilizadas para reduzir os níveis plasmáticos de fosfato. Esses agentes, quando administrados nas refeições, ligam-se ao fosfato da dieta, inibindo a sua absorção. Ou seja, como o objetivo do uso é quelar os grupos de 6 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA fosfato vindos da dieta, é mais eficaz seu uso próximo às refeições. O sevelâmer (não é um sal) é uma resina/polímero, que funciona de forma similar, pois é uma trocadora de íons catiônicos não absorvíveis que se liga ao fosfato intestinal, diminuindo a sua absorção do fosfato dietético. VITAMINA D Também não se encaixa em nenhuma classe já descrita. Ela vai funcionar como fármaco, exatamente como ela funciona como hormônio. Ela aumenta a captação de cálcio, seja tanto aumentando a expressão de transportadores de Ca2+, quanto aumentando a expressão de proteínas transportadoras de cálcio intracelular ou ainda aumentando a quantidade de bomba de Ca2+ dependente de ATP. Normalmente os níveis de vitamina D endógenos já são suficientes para esse controle de absorção de cálcio (claro, tomando o solzinho para ativá-la). Mas quando o indivíduo tem um desequilíbrio entre o balanço osteoclasto/osteoblasto e, principalmente quando esse desequilíbrio é proveniente da falta da vitamina D, como no paciente com DRC, a reposição se faz necessária. OBS.: O calcitriol é formado no rim, então a etapa de ativação da vitamina D, de fato ocorre nos rins. Como o comprometimento na síntese de derivados da 1-vitamina D constitui um dos principais distúrbios homeostáticos que levam ao desenvolvimento de hiperparatireoidismo secundário na doença renal crônica, a vitamina D proporciona uma terapia de reposição lógica para essa doença. A reposição de vitamina D funciona também para reduzir no geral a atividade osteoclástica, por estar absorvendo mais cálcio, aumentando mais os níveis plasmáticos de cálcio, precisando reabsorver menos. Mas o papel principal da vitamina D é aumentar a absorção de cálcio, o restante é consequência. Administração de 800 UI / dia de colecalciferol por 12 semanas. Depois é feita uma reavaliação dos níveis para avaliar se há a necessidade de continuação da terapia. CALCIMIMÉTICOS Os denominados Calcimiméticos – agentes que modulam a atividade do receptor sensível ao cálcio sobre as células principais, as células da paratireoide que vão produzir o paratormônio. Um dos tratamentos efetivos para o hiperparatireoidismo. O cinacalcete, o primeiro calcimimético aprovado para FDA, liga-se à região transmembrana do receptor sensível ao cálcio e, portanto, modula a atividade do receptor, aumentando a sua sensibilidade ao cálcio. Como o receptor ligado ao cinacalcete é ativado na presença de concentrações mais baixas de cálcio, a síntese e a secreção de PTH também são suprimidas em concentrações mais baixas de cálcio. Isso significa que antes, para se ativar esses receptores de cálcio e estimular as células produtoras do paratormônio era preciso níveis bem mais baixos de cálcio do que seria preciso se estivesse fazendo o uso de calcimimético. Para se produzir o PTH, é preciso baixos níveis de cálcio. Então, a célula tem receptores que quando deixam de ser sinalizados pelo cálcio, faz com que ela produza e libere o PTH. O cinacalcete vai sensibilizar os receptores de cálcio das células liberadoras de PTH. Então, se esse receptor está sensibilizado, significa que ele vai ser ativado pelo cálcio mais facilmente. Se antes era necessária uma concentração de cálciode 7 dg/mL (valor chutado pelo prof) para estimular a célula a produzir mais PTH, agora, como os receptores estão sensibilizados, os níveis de sinalização do cálcio para estímulo do PTH vão se modificar. Exemplo: a variação da liberação de PTH conforme o nível de cálcio extracelular vai aumentando. Então, à medida que houve o aumento do cálcio extracelular, houve a diminuição sérica de PTH. Já quando o paciente fez uso de cinacalcete, níveis mais baixos de PTH vão sendo liberados quando as concentrações de cálcio são às mesmas. Ou seja, quando se tem 0,5 mM de cálcio extracelular em um paciente que não usa cinacalcete há liberação máxima (100%) de PTH, quando ele faz uso de cinacalcete, essa quantidade cai para 80%, então há uma liberação menor de PTH. E se libera menos PTH, menor vai ser o efeito catabólico dele no osso. A dose inicial recomendada para adultos é de 30 mg uma vez por dia. Porém, tem algo interessante, o ajuste de dose do cinacalcet deve ser feito com base nos valores de PTH. Cloridrato de Cinacalcet deve ser ajustado a cada 2-4 semanas até a dose máxima de 180 mg, uma vez ao dia, para atingir um valor de hormônio paratireoidiano (PTH) entre 150-300 pg/ml (15,9-31,8 pmol/l) no teste do PTH intacto (PTHi). Teste esse, que deve sempre ser feito. 7 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA Os valores da PTH devem ser analisados pelo menos 12 horas após a última dose deCloridrato de Cinacalcete. Existem algumas recomendações clínico- farmacológicas baseadas nos níveis de cálcio plasmático. Como, adicionar algumas classes (quelantes de fósforos, vitamina D) ou reduzir ou descontinuar a dose de cinacalcet ou ainda suspendê-lo e entrar novamente, depois, com uma dose menor.
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