Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Os termos “urgências hipertensivas” (UH) e “emergências hipertensivas” (EH) tem como proposta de classificação funcional das crises hipertensivas. Consideramos UH quando há elevação acentuada da PA sintomática, sem lesão aguda ou disfunção iminente de órgão-alvo. Em contraste, as EH tipicamente têm elevação acentuada da PA (PA sistólica [PAS] > 180 mmHg e PA diastólica [PAD] > 120 mmHg), com lesão aguda ou piora de lesão crônica de órgão-alvo. Algumas diretrizes utilizam o ponto de corte de 110 mmHg de PAD para definir UH ou EH. O conceito de UH é controverso, não sendo citado nas diretrizes europeias de HAS. Por um lado, a minoria dos pacientes que se apresentam no DE com níveis pressóricos > 180/120 mmHg necessita de algum tipo de intervenção médica imediata, com o risco de eventos cardiovasculares em curto prazo não muito diferente dos hipertensos crônicos controlados ambulatorialmente. Por outro lado, alguns pacientes podem apresentar emergências hipertensivas com valores pressóricos < 180/120 mmHg. No Brasil, crises hipertensivas compreendem 0,4-0,6% dos atendimentos no DE, correspondendo a 1,7% das emergências clínicas. As mais comuns são edema agudo de pulmão e acidente vascular encefálico. As crises hipertensivas podem ocorrer em pacientes com e sem diagnóstico prévio de HAS, sendo mais comuns em homens, em pacientes mal aderentes, obesos e com doença renal crônica. Além disso, há maior incidência com o aumento da idade A fisiopatologia da crise hipertensiva ainda não está bem elucidada. O início abrupto sugere um mecanismo de gatilho, possivelmente relacionado vasoconstritores séricos, sobreposto a hipertensão preexistente. A elevação abrupta da PA provoca estresse mecânico vascular e lesão do endotélio. Estes, por sua vez, iniciam ativação inflamatória celular, aumento da permeabilidade vascular e ativação da cascata de coagulação e deposição de fibrina, levando à isquemia tecidual. Esse processo libera mediadores inflamatórios e substâncias vasoativas e ativa o sistema renina- angiotensina-aldosterona, resultando em vasoconstrição, que acaba perpetuando o processo de elevação pressórica. Entre as substâncias vasoativas, ocorre liberação de vasopressina, provocando natriurese e podendo resultar em hipovolemia, ampliando, então, a resposta vasoconstritora. A vasoconstrição inicial também pode ser provocada por excesso de sódio e por excesso de catecolaminas (como em uma crise adrenérgica por feocromocitoma). Pacientes com EH apresentam uma falha nos mecanismos autorregulatórios e a resposta ao aumento abrupto da pressão arterial ocorre através da vasoconstrição arteriolar e arterial, que mantém a pressão de perfusão tecidual constante e protege os órgãos-alvo desse aumento pressórico. Esses pacientes apresentam oclusão vascular e microtromboses evidentes, principalmente em exame de fundo de olho, e necrose fibrinoide em arteríolas. Pacientes com EH apresentam com maior frequência HAS secundária se comparados a outros pacientes hipertensos. Causas comuns de HAS secundária incluem hipertensão renovascular, doença renal crônica, hiperaldosteronismo primário e feocromocitoma. Os pacientes com uma emergência hipertensiva devem ter sua pressão arterial aferida nos dois braços e de preferência em um ambiente calmo e repetidas vezes, até a estabilização (no mínimo três medidas). A anamnese deve incluir: Definições Etiologia e fisiopatologia Avaliação do paciente • Investigação dos sintomas atuais, inclusive de tempo de evolução (súbito, minutos, horas ou dias). • Duração e gravidade de HAS previamente existente. • Uso de medicações anti-hipertensivas, grau de adesão ao tratamento e controle da PA. • Se há prévia doença cardiovascular, cerebrovascular ou doença renal crônica. • Uso de drogas ilícitas (cocaína, anfetaminas e derivados). • Situações que possam desencadear o seu aumento (ansiedade, dor, sal, comorbidades, uso de fármacos anti-hipertensivos – dosagem e adesão) ou que possam aumentar a PA (anti- inflamatórios, corticoides, simpaticomiméticos, álcool). O exame físico deve incluir: • PA nos dois braços. • PA com o paciente deitado e em pé (se possível). • Os pulsos devem ser verificados: carotídeos, braquiais ou radiais e femorais. • Procurar sinais de insuficiência cardíaca (IC): taquipneia, estase venosa jugular, crepitações pulmonares, B3, ictus desviado, hepatomegalia dolorosa, edema de membros inferiores. • Buscar sinais de dissecção de aorta (sopro aórtico e abdominal). • Exame neurológico: nível de consciência, sinais de irritação meníngea, campo visual, reflexos em mulheres grávidas ou no puerpério, sendo a hiperreflexia um dos sinais de eclâmpsia e sinais neurológicos focais • Fundo de olho: procurar por edema de papila, hemorragias e exsudatos Na avaliação inicial do paciente com pressão arterial elevada, o mais importante é excluir lesão aguda, contínua e de órgão-alvo, o que indicaria um diagnóstico de emergência hipertensiva em vez de hipertensão assintomática grave. O exame de fundo de olho ou a ultrassonografia de nervo ótico é essencial nessa avaliação. Pode-se, pela fundoscopia, utilizar a classificação de Keith-Wagener Barker de retinopatia hipertensiva: • Grau 0 – normal • Grau 1 – estreitamento arterial mínimo. • Grau 2 – estreitamento arterial óbvio com irregularidades focais. • Grau 3 – estreitamento arterial com hemorragias retinianas e/ou exsudato. • Grau 4 – grau 3 acrescido de papiledema. Os achados de retinopatia hipertensiva aguda incluem: transudatos periarteriolares, lesões epiteliais pigmentares da retina, edema do disco óptico e macular, exsudatos algodonosos (lesões brancas macias que consistem em axônios isquêmicos edemaciados causados por oclusão de pequenos vasos) e exsudatos duros (depósitos lipídicos retinianos). Quando identificadas, tais anormalidades fundoscópicas são consideradas diagnósticas; no entanto, podem estar ausentes em mais de 30% dos pacientes, com uma emergência hipertensiva clinicamente evidente. As lesões da retinopatia aguda são distintas das alterações mais crônicas, que incluem: estreitamento arterial, fio de cobre ou prata das arteríolas, estreitamento arteriovenoso e hemorragias retinianas. Desafios técnicos e falta de experiência provavelmente contribuem para a fundoscopia ser relativamente pouco realizada no DE. A fotografia digital não midriática do fundo de olho pode ajudar a superar esses problemas e mostrou-se promissora como adjuvante para detectar alterações crônicas e agudas associadas à retinopatia hipertensiva no DE. Outra opção é o ultrassom à beira do leito ocular Nas emergências hipertensivas as principais manifestações são: • Cefaleia: 85% dos casos. • Borramento visual: 55% dos casos. • Noctúria: 38% dos casos. • Astenia: 30% dos casos. Manifestações clínicas • Alteração da função renal: 30-50% dos casos. Os exames complementares devem ser solicitados de acordo com a suspeita diagnóstica. No caso de UH, a solicitação de exames complementares não é geralmente indicada, pois aumentam desnecessariamente os custos e o tempo de permanência do paciente no hospital, sem alterar a conduta São indicados, na suspeita de EH, os seguintes exames: - Hemograma completo. - Ureia e creatinina para avaliação da função renal. - Eletrólitos e um exame de sedimento urinário para avaliar proteinúria, leucocitúria e hematúria. -Marcadores de hemólise: bilirrubina, haptoglobina, LDH, pesquisa de esquizócitos (pacientes com hipertensão maligna-acelerada podem ter hemólise intravascular ou microangiopática). Outros exames são indicados para condiçõesespecíficas associadas: Suspeita de síndrome coronariana aguda: - Solicitar marcadores de necrose miocárdica. Edema agudo de pulmão: - Solicitar BNP ou nT-pro-BNP. Dissecção de aorta: - Considerar realizar dosagem do D-dímero. Os exames de imagem são úteis e devem ser direcionados para a suspeita diagnóstica: - Eletrocardiograma: deve ser solicitado em paciente com dor torácica e suspeita de edema agudo de pulmão; pode apresentar alterações do segmento ST ou sinais de sobrecarga ventricular. - Radiografia de tórax: deve ser solicitada em paciente com dor torácica e suspeita de edema agudo de pulmão; o alargamento de mediastino pode ser indicativo de dissecção aguda de aorta. Também pode mostrar sinais de congestão pulmonar. - Tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) de crânio: deve ser solicitada em paciente com sintomas neurológicos e suspeita de acidente vascular encefálico (AVE); pode ser normal em AVE isquêmico ou indicar sangue em AVE hemorrágico e hemorragia subaracnóidea. Também pode mostrar edema cerebral difuso na encefalopatia hipertensiva. -Angiotomografia de aorta: é o padrão-ouro para diagnóstico de dissecção aguda de aorta. US point of care: faz o diagnóstico de hipertensão intracraniana, pode visualizar dissecção de aorta e possibilita avaliação da função cardíaca e de congestão pulmonar. -Ecocardiografia transesofágica: pode ajudar na investigação de dissecção de aorta. -Marcadores mais novos de disfunção renal, incluindo cistatina C, lipocalina associada a gelatinase de neutrófilos e molécula de lesão renal-1, também podem ser considerados, mas sua disponibilidade na maioria dos centros médicos é limitada e eles não são indicados para uma avaliação no DE. O principal diagnóstico diferencial das crises hipertensivas são as chamadas pseudocrises hipertensivas, em que pacientes apresentam achados de níveis pressóricos elevados associados a queixas de dor torácica atípica, estresse psicológico agudo e síndrome de pânico, que possivelmente são a etiologia da elevação de níveis pressóricos. Pacientes com pseudocrise hipertensiva devem ser tratados com repouso, analgésicos ou tranquilizantes e não com agentes anti-hipertensivos. Urgências hipertensivas: Quando são excluídas lesões de órgãos-alvo, trata-se de uma UH. Inicialmente, deve-se checar se o paciente tem acompanhamento médico e verificar sua adesão ao tratamento. Na maioria dos pacientes, não é necessário controle da PA no pronto-socorro. Pelo contrário, uma terapia anti- hipertensiva rápida e agressiva pode levar à isquemia cerebral ou miocárdica ou à injúria renal aguda, caso os níveis pressóricos caiam abaixo do limite da autorregulação da perfusão desses órgãos. Exames complementares Diagnóstico Diferencial Tratamento - Pacientes com diagnóstico prévio e tratamento de hipertensão: Retomar as medicações de uso ambulatorial e reforçar a importância da adesão a medicamentos e dietética, se necessário, aumentar a dose das medicações ou adicionar uma nova classe. - Pacientes sem diagnóstico prévio: Iniciar o tratamento no DE, encaminhar para o acompanhamento ambulatorial. Em algumas situações, devemos reduzir a PA dos pacientes em UH em horas (pacientes com alto risco de eventos cardiovasculares iminentes, como aqueles com doenças da aorta ou aneurismas cerebrais, beneficiam- se de um controle de PA em horas). Nessa situação, devem-se utilizar medicamentos por via oral e com meia-vida curta. Entre as opções estão: • Captopril (6,25-12,5 mg), clonidina (0,2 mg) e hidralazina (12,5-25 mg). O objetivo é a redução de 20 a 30 mmHg na pressão sistólica em algumas horas. Uma alternativa é o uso de medicações de efeito prolongado, como a anlodipina ou a clortalidona, com avaliação ambulatorial em 1 ou 2 dias. Todos os pacientes em UH devem ter retorno precoce, de modo que suas medicações possam ser ajustadas com um objetivo de PA menor que 160 × 100 mmHg. Além disso, devem ser encaminhados para acompanhamento ambulatorial ou reavaliação ambulatorial precoce. Cabe ressaltar que colocar os pacientes em uma sala silenciosa e calma, o que nem sempre é possível, pode levar a uma queda da PAS de 10 a 20 mmHg. Emergências hipertensivas O manejo é dependente da presença de sintomas neurológicos. Se o paciente apresenta sintomas neurológicos ou alteração da função renal, deve ser tratado de forma semelhante àqueles com encefalopatia hipertensiva. Caso não apresente sintomas neurológicos, pode ser manejado com medicações por via oral. As opções incluem: Clonidina 0,2 mg, podendo ser repetida. Inibidores da ECA, como captopril 25 mg ou enalapril 10 mg. O uso da nifedipina, especialmente sublingual, é contraindicado nessa situação, pois reduz rapidamente a pressão arterial, podendo desencadear um acidente vascular encefálico, , entre outros eventos adversos. Quando se considera início de terapia oral no departamento de emergência, opções incluem bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores da ECA, tiazídicos, betabloqueadores e inibidores da angiotensina II. No estudo ACCOMPLISH a combinação de bloqueadores dos canais de cálcio e inibidores da ECA é uma boa opção. Principais medicações usadas na emergência hipertensiva: - Nitroprussiato de sódio: • Diluição: 1 ampola (50 mg/2 mL) em 248 mL de SG 5%, protegido da luz – 200 µg/mL • Dose: 0,25-10 µg/kg/min Obs.: deve ser realizada em equipo protegido da luz • Classe: Nitrato • Contraindicação: Infarto agudo do miocárdio, gestante - Nitroglicerina: • Diluição 50 mg (10 mL da solução 5 mg/mL) em 240 mL de SG 5% ou SF – 0,2 mg/mL • Dose: 5-100 µg/min • Classe: Nitrato - Labetalol: • Dose: Bolus de 20 mg, seguido de 20-80 mg a cada 10 min, com dose total de 300 mg • Classe: Alfa e betabloqueador • Contraindicações: Asma, DPOC, insuficiência cardíaca, bradicardia, uso de cocaína - Esmolol: • Diluição: 2.500 mg (10 mL da solução 250 mg/mL) em 240 mL de SG 5%, RL ou SF – 10 mg/mL • Dose: Dose de ataque de 0,5-1 µg/kg em 1 minuto seguida de manutenção de 50-200 µg/kg/min • Classe: Betabloqueador cardiosseletivo • Contraindicações: Insuficiência cardíaca, uso de cocaína - Metoprolol: • Dose: Bolus de 5 mg a 1-2 mg/min, podendo haver repetição a cada 5 min, com dose máxima de 20 mg • Betabloqueador beta-1 seletivo • Contraindicações: Insuficiência cardíaca, uso de cocaína -Hidralazina: • Bolus de 10-20 mg –ação em 10-20 minutos • Classe: Vasodilatador arteriolar direto - Nimodipino: • Dose: 60 mg de 4 em 4 horas • Classe: Bloqueador de canal de cálcio -Nicardipina: • Dose: 20-40 mg 3 vezes/dia • Classe: Bloqueador de canal de cálcio Encefalopatia hipertensiva é o termo utilizado quando temos sinais e sintomas de edema cerebral devido a aumento súbito ou elevações súbitas da PA. É um diagnóstico de exclusão, sendo feito após descarte de outras disfunções do sistema nervoso central. O que marca essa condição é a melhora importante do quadro após a redução de 10 a 15% da pressão arterial média (PAM). Fisiopatologia: O cérebro tem um mecanismo de autorregulação para garantir uma pressão de perfusão cerebral (PPC) adequada. Com elevações leves a moderadas na PA, o mecanismo autorregulador leva a uma vasoconstrição arterial e arteriolar para manter uma PPC adequada. Em um paciente normotenso, esse mecanismo pode chegar ao seu limite com moderadas a grandes elevações da PA, enquanto em pacientes hipertensos mal controlados, o mecanismo está adaptado a regimes de altas pressões, necessitando de elevações maiores na PA para chegar ao limiar. Quando a PA ultrapassa o limiar do mecanismo descrito, temos lesão endotelial, que leva a vasodilatação e a extravasamento de plasma,consequentemente resultando em edema cerebral. Por ser um mecanismo que ocorre em toda circulação do encéfalo, temos um edema cerebral difuso, o que é responsável pelos sinais e sintomas descritos a seguir. Sinais e Sintomas: O quadro é marcado por sinais e sintomas neurológicos associados à elevação da PA. O paciente pode apresentar cefaleia, náuseas, vômitos, confusão mental, convulsões, letargia e coma. Além disso, pode apresentar também alterações visuais inespecíficas, como escotomas visuais e borramento da visão. Ao exame físico, são encontradas alterações do nível de consciência. O exame de fundo de olho auxilia no diagnóstico, podendo demonstrar papiledema, um sinal indireto de hipertensão intracraniana, hemorragia retiniana e exsudatos Diagnóstico: É de exclusão, ou seja, outras causas de alterações neurológicas devem ser descartadas. Apesar de o quadro comumente não apresentar sinais focais, devem-se realizar exames de imagem para desconsiderar acidente vascular encefálico. Os exames de imagem do sistema nervoso central podem apresentar achados indiretos, como edema cerebral difuso e edema da substância branca na região parieto-occipital, mais bem visualizado em ressonância magnética, cujo achado é indicativo de encefalopatia hipertensiva. Além disso, devem-se descartar causas metabólicas e infecciosas para as alterações neurológicas, seja por história e exame físico, seja por exames complementares. Uma das características da encefalopatia hipertensiva é a rápida melhora do quadro com a redução da PA. Tratamento O objetivo do tratamento é a redução de 10 a 15% da PAM na primeira hora, tendo o cuidado de reduzir no máximo 25% nas primeiras 24 horas. Para atingir esse objetivo, pode-se fazer uso de nitroprussiato de sódio endovenoso em infusão contínua, um potente vasodilatador arterial e venoso, ou de labetalol, um bloqueador alfa e beta- adrenérgico. A preferência deve ser o uso de medicações endovenosas devido à facilidade de titulação da medicação e o controle da PA. O nitroprussiato apresenta meia-vida de 3-5 minutos, sendo que o efeito da diminuição ou do aumento da dose é visto em no máximo 5 minutos após a alteração, o que permite um controle rígido da PA. Após a melhora do quadro e controle da PA, deve-se trocar a terapia de endovenosa para via oral, podendo- se fazer uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina, como o captopril, ou bloqueadores de canal de cálcio, como o anlodipino. Em caso de crises convulsivas, o manejo habitual deve ser feito com benzodiazepínicos para abortá-las; em caso de crises recorrentes, deve-se optar pela fenitoína Encefalopatia Hipertensiva (mais detalhes no capítulo “Abordagem da primeira crise epiléptica”). Edema agudo de pulmão (EAP) hipertensivo é caracterizado por congestão pulmonar, hipertensão e insuficiência respiratória aguda. Cerca de um terço dos pacientes com EAP tem função ventricular esquerda preservada. Ver também o capítulo de insuficiência cardíaca. Fisiopatologia: A hipertensão leva a um aumento da pós-carga do ventrículo esquerdo, que, em um coração com a função diastólica ou sistólica alterada, leva a uma insuficiência cardíaca com retenção de líquido na circulação pulmonar. Além disso, a sobrecarga de volume pode piorar esse quadro, assim como a isquemia miocárdica e doenças valvares. A hipertensão pode ser a causa do EAP e também pode ser um fator que exacerba a congestão pulmonar. Por exemplo, em uma sobrecarga de volume com congestão pulmonar, a hipertensão pode ser uma resposta compensatória que leva a um aumento da resistência vascular periférica (e aumento da pós - carga), perpetuando a congestão pulmonar. O marco do EAP hipertensivo é a alta pós-carga. Sinais e Sintomas: Os sintomas mais comuns são dispneia, intolerância aos esforços, ortopneia, dispneia paroxística noturna, tosse e fadiga. Ao exame, o paciente pode se apresentar em insuficiência respiratória aguda, necessitando de tratamento imediato, estertores crepitantes em todos os campos pulmonares, taquipneia e hipertensão. Podemos identificar também ritmo de galope, com a presença de B3 ou B4. Uma radiografia de tórax pode confirmar a presença de congestão pulmonar. Além disso, a utilização de ultrassom point of care pode auxiliar no diagnóstico, demonstrando linhas B difusas que representam a congestão pulmonar. Um eletrocardiograma deve ser obtido, pois a isquemia miocárdica pode ser a causa do EAP. A dosagem de BNP pode auxiliar no diagnóstico. A presença de congestão pulmonar em todos os campos pulmonares e hipertensão estabelece o diagnóstico de EAP hipertensivo. Diagnóstico: O diagnóstico é clínico, não se devendo aguardar exames de imagem para iniciar o tratamento. Em casos de dúvida diagnóstica, os exames de imagem como radiografia de tórax e US point of care servem como auxílio. Tratamento: O marco do EAP hipertensivo é o aumento da pós-carga cardíaca devido à hipertensão e à congestão pulmonar. Deve-se tratar a PA com o objetivo de reduzi-la em 25% nas primeiras horas. Para isso, podemos utilizar o nitroprussiato ou a nitroglicerina – ambas as drogas levam à diminuição da pós-carga, reduzindo o trabalho do ventrículo esquerdo, e à diminuição da PA (nitroglicerina em altas doses apenas) com maior evidência para o uso de nitroglicerina, embora em pacientes com níveis pressóricos muito elevados a possibilidade de disfunção ventricular esquerda é muito baixa e o nitroprussiato passa a ser uma opção excelente. Além disso, é indicada a utilização de diurético de alça (furosemida) para a redução da volemia, o que leva à melhora da congestão. O uso de hidralazina e de betabloqueadores deve ser evitado. Em pacientes em insuficiência respiratória, o uso de ventilação não invasiva (VNI) é benéfico, com redução de mortalidade e de necessidade de intubação. A VNI diminui o retorno venoso devido à pressão positiva intratorácica, reduzindo a pré-carga e otimizando a contratilidade cardíaca. Além disso, também diminui a quantidade de líquido nos alvéolos. Na literatura, não foi demonstrada a superioridade de nenhuma modalidade de VNI sobre a outra (CPAP – continuous positive airway pressure – bilevel positive airway pressure), porém, para os efeitos citados, apenas o CPAP é suficiente. Uma droga comumente usada em pacientes com síndrome coronariana aguda é a nitroglicerina, que promove vasodilatação das coronárias, levando a um aumento de fluxo do miocárdio e ajudando no controle da dor. É bastante utilizada em pacientes com angina refratária, sendo titulada até o controle da dor ou até a ocorrência de hipotensão. Além disso, possui efeito venodilatador, reduzindo a pré - carga, o que auxilia no manejo da congestão pulmonar e na diminuição do consumo de oxigênio no miocárdio. Deve ser utilizada com cautela em infartos de ventrículo direito. Os betabloqueadores endovenosos, como esmolol, labetalol e metoprolol, podem ser Edema agudo de pulmão Síndrome Coronariana Aguda utilizados desde que não haja evidência de insuficiência cardíaca, congestão pulmonar ou baixo débito. Os betabloqueadores diminuem o consumo de oxigênio pelo miocárdio, também auxiliando no controle da angina. Deve-se evitar o uso de hidralazina devido à taquicardia reflexa que acontece com o uso desse medicamento, o que pode levar ao aumento de consumo de oxigênio do miocárdio e à piora da isquemia. O uso de nitroprussiato também deve ser evitado, pois há o risco de “roubo de fluxo coronário”, que é o fenômeno que ocorre quando a coronária com lesão obstrutiva já se encontra em dilatação máxima e qualquer estímulo vasodilatador ocorrerá na coronária normal. Como, na coronária normal, a resistência ao fluxo será menor, haverá tendência deo fluxo sanguíneo aumentar relativamente na coronária normal em detrimento da coronária doente, levando a aumento da isquemia e de morte. Pré-eclâmpsia é a ocorrência de hipertensão e proteinúria ou lesão de órgão-alvo em gestantes com mais de 20 semanas; já a eclâmpsia é a ocorrência de convulsão em gestantes com pré-eclâmpsia, sem causa ou condição neurológica predisponente. Pré-eclâmpsia grave é definida como PA > 160 × 110 mmHg ou PA > 140 × 90 mmHg, com alteração do nível de consciência, cefaleia intensa, alterações visuais ou lesões de órgão-alvo. A pré-eclâmpsia grave e a eclâmpsia são consideradas emergências hipertensivas, devendo receber tratamento rápido e agressivo. Se possível, deve ser realizado o parto com urgência. O manejo da PA pode ser realizado com labetalol ou hidralazina. Vale ressaltar que o controle da PA não previne a ocorrência de eclâmpsia. Para a profilaxia de crises convulsivas ou tratamento de eclâmpsia, deve-se realizar a administração de sulfato de magnésio endovenoso, na dose de 6 g de solução a 10% em 15 a 20 minutos, seguido de infusão contínua de 2 g/hora. O tratamento inicial da dissecção aguda de aorta (DAA) consiste em analgesia e diminuição do estresse na parede da aorta através do controle da PA e da frequência cardíaca (FC). Isso diminui a tendência de propagação da dissecção. A analgesia é realizada com opioides até o controle da dor, levando a uma diminuição do estímulo adrenérgico causado pela dor. Deve-se obter o controle de FC e PA o mais rápido possível, tendo como alvo uma FC abaixo de 60 batimentos por minuto, se tolerado, e a PAS mais baixa tolerada, avaliada pela diurese e sintomas, geralmente entre 100 e 120 mmHg. Inicialmente, para o controle da FC, usam-se betabloqueadores endovenosos como esmolol, metoprolol e labetalol (a via é obrigatoriamente endovenosa para se conseguir um efeito rápido das medicações). Para pacientes com intolerância a betabloqueadores, podem-se utilizar bloqueadores de canal de cálcio, como o diltiazem e o verapamil. Se após atingir o alvo de FC, a PA permanecer elevada, deve-se utilizar o nitroprussiato de sódio, que é um potente hipotensor e apresenta um efeito rápido para atingir a PA-alvo. Vale ressaltar que se deve utilizar o nitroprussiato somente após o uso de betabloqueadores, pois a vasodilatação induzida por esse fármaco leva a uma ativação reflexa do sistema simpático, aumentando a contratilidade cardíaca e consequentemente a pressão na parede da aorta no local da dissecção. O tratamento da DAA Stanford A é cirúrgico, devendo ser realizado o mais rápido possível. Essas lesões apresentam mortalidade de 1-2% por hora, atingindo 50% nas primeiras 48 horas. A mortalidade da DAA Stanford B é de 30% com tratamento clínico como abordagem inicial. A DAA Stanford B não tem indicação cirúrgica de urgência exceto se houver isquemia de órgãos ou membros, progressão da dissecção a despeito do tratamento clínico, sinais de ruptura iminente, dor ou hipertensão refratária. Todos os pacientes com EH têm indicação de internação e, em muitos casos, manejo em UTI. As UH não necessitam internação hospitalar, exceto em raras circunstâncias, e, na maioria das vezes, não precisam de qualquer tratamento no DE. Indicação de internação, terapia intensiva e seguimento Eclampsia/ Pré-clampsia Dissecção da aorta O seguimento ambulatorial deve ser rápido em pacientes com UH e EH, pois apresentam alto índice de complicações em curto e médio prazo e, em grande número de casos, apresentam causas secundárias de HAS, que podem ser tratadas e corrigidas. +
Compartilhar