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HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO GOVERNO FERNANDO COLLOR (1990 - 1992) Alexandre Alves ESTRUTURA DE CONTEÚDO Governo Fernando Collor de Mello (1990-1992) Governo Itamar Franco (1992-1995) Governo José Sarney e a Redemocratização (1985-1990) AS ELEIÇÕES DE 1989 E A VITÓRIA DE FERNANDO COLLOR DE MELLO INTRODUÇÃO As eleições presidenciais marcadas para o ano de 1989 seriam marcantes para a história brasileira. Isso porque, com o insucesso da campanha pelas Diretas Já, o povo não votava para presidente há muito tempo. Para relembrar, o último chefe do executivo eleito foi Jânio Quadros, político que governou por um breve período até renunciar. Dessa forma, a expectativa pelo resultado da eleição era muito grande. Ademais, vale destacar a presença de diversos partidos no cenário nacional. Pela primeira vez na história, uma eleição presidencial teve a participação de mais de vinte candidatos de diversas legendas, algumas desconhecidas pelo público do período. CANDIDATOS E PARTIDOS Foram candidatos mais relevantes naquele ano: Enéias Carneiro (PRONA), ficou famoso pela sua forma característica de ser, seu temperamento forte e aparência. Leonel Brizola (PDT), ex-governador do Rio Grande do Sul e genro de Jango. Brizola figurou como um dos nomes prováveis para o segundo turno. Mário Covas (PSDB), ex-governador de São Paulo. Paulo Maluf (PDS), famoso político, ex-governador de SP. Disputou as eleições indiretas contra Tancredo Neves em 1985. Ulysses Guimarães (PMDB), famoso opositor da ditadura militar, uma das lideranças no movimento pelas Diretas Já e da Constituinte que elaborou a Carta Magna de 1988. CAMPANHA SÍLVIO SANTOS Merece destaque ainda a campanha para presidente de Sílvio Santos, empreendedor paulista. Sílvio apareceu como um nome possível para disputar o segundo turno. Isso porque o empresário foi bem recebido pela população mais pobre e pelo empresariado que viu nele a possibilidade de derrotar a esquerda, representada por Brizola e por Luís Inácio Lula da Silva. Contudo, a candidatura foi impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral – TSE por conta de irregularidades com o partido. IMAGEM 01 - Sílvio Santos durante sua campanha eleitoral. Fonte: Terra Notícias. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/eleicoes/ha-25-anos-silvio- santos-tentou-presidencia-voce- votaria,b08df5b2bb568410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html Acesso em 15 de agosto de 2021. https://www.terra.com.br/noticias/eleicoes/ha-25-anos-silvio-santos-tentou-presidencia-voce-votaria,b08df5b2bb568410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html COLLOR X LULA Além dos nomes já mencionados e daqueles de menor importância, devemos nos ater aos dois principais candidatos Fernando Collor de Mello e Luís Inácio Lula da Silva. Fernando Collor de Mello era um jovem político, ex-prefeito de Maceió, ex-deputado federal e ex-governador de Alagoas. Sua carreira política teve certo êxito durante os anos da ditadura. Seu opositor era Luís Inácio Lula da Silva, líder sindical que foi um importante nome durante as greves no final da ditadura militar, entre os governos de Ernesto Geisel e João Figueiredo. Lula também foi uma importante personalidade na formação do Partido dos Trabalhadores - PT. FERNANDO COLLOR DE MELLO Inicialmente Collor fez sua campanha no primeiro turno utilizando das modernas técnicas audiovisuais e de recursos de marketing. Sua campanha o colocava como um candidato jovem, um homem bonito, inteligente e esportista. Além disso, sua figura era muito associada ao seu discurso contra o funcionalismo público. Se recusando a pagar, em Alagoas, os vencimentos de funcionários com altos salários. Esse feito rendeu a ele o título de “Caçador de Marajás”. Ademais, defendia ideias identificadas com o neoliberalismo. Propunha privatizações e redução do tamanho do Estado com a promessa de assim modernizar o Brasil e gerar empregos. Uma análise pouco cuidadosa pode parecer que Collor só agradava o empresariado. Contudo, seu discurso cativou tanto os empreendedores ansiosos pelas privatizações como o povo, que se encantou com sua figura e acreditava da ideia de modernidade e de que todo esse processo geraria empregos. FERNANDO COLLOR DE MELLO IMAGEM 02 - Fernando Collor de Mello durante a campanha em 1989. Fonte: O Globo. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/eleicao- de-1989-30-anos-do-pleito-mais-esperado-dos-brasileiros-24082660 Acesso em 15 de agosto de 2021. https://oglobo.globo.com/brasil/eleicao-de-1989-30-anos-do-pleito-mais-esperado-dos-brasileiros-24082660 LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA Luís Inácio Lula da Silva, por sua vez, fez sua campanha com apoio de três partidos: O Partidos dos Trabalhadores – PT, o Partido Comunista do Brasil – PCdoB e o Partido Socialista Brasileiro – PSB. Essa coligação ficou conhecida como Frente Brasil Popular. Defendeu um programa mais social de atenção a população mais pobre. Diferentemente de Collor, o discurso de Lula agradava as camadas mais populares, mas causava certo desconforto no empresariado. Os próprios partidos da Frente Brasil Popular não eram bem vistos pelas classes dominantes dado seus discursos e ideias principais. Apesar de tudo, Lula conseguiu ser o segundo candidato mais votado, perdendo apenas para Collor. Como não obteve 50% mais um dos votos, a disputa seria resolvida em um segundo turno. LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA IMAGEM 03 - Luís Inácio Lula da Silva (ao centro) durante sua campanha em 1989. Fonte: DW Notícias. Disponível em: https://www.dw.com/pt- br/os-ecos-de-1989-na-eleição-de-2018/a-44855640 Acesso em 15 de agosto de 2021. https://www.dw.com/pt-br/os-ecos-de-1989-na-eleição-de-2018/a-44855640 O SEGUNDO TURNO Collor já havia marcado sua campanha no primeiro turno com fortes ataques ao então presidente Sarney, o que lhe rendia bons frutos nas pesquisas eleitorais. O povo gostava de ver o então presidente atacado como culpado pela situação econômica do Brasil e Collor sabia disso. Dessa vez, no segundo turno, o ex-governador de Alagoas atacou Lula da mesma forma. Identificando o petista como apoiador do socialismo, doutrina que se mostrou, nas palavras de Collor, fracassada com a queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. Além disso, insinuava que o PT era capaz de iniciar uma luta armada para tomar o poder. O que causava certo medo na população em geral. Chegou a exibir uma fala da ex-namorada de Lula, Mirian Cordeiro, afirmando que o ex-parceiro teria oferecido lhe dinheiro e insistido para que realizasse um aborto. O SEGUNDO TURNO O último debate em rede nacional, transmitido pela Rede Globo por uma questão de contrato, foi decisivo para a vitória de Collor. O encontro dos candidatos foi ao vivo, contudo já no final da noite. Isso impedia que muitas pessoas pudessem acompanhar em tempo real. Sobretudo as camadas mais pobres que precisavam acordar mais cedo no dia seguinte. Dessa forma, grande parte do eleitorado acompanhou os melhores momentos no dia seguinte. Sabendo disso, os momentos selecionados foram cuidadosamente editados para favorecer Collor. O SEGUNDO TURNO IMAGEM 04 - Lula cumprimenta Collor durante o debate eleitoral na Rede Globo. Fonte: Revista Cult. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/ecos-e-ruidos-de-89/ Acesso em 15 de agosto de 2021. https://revistacult.uol.com.br/home/ecos-e-ruidos-de-89/ VITÓRIA DE COLLOR “No segundo turno eleitoral, em 14 de dezembro, Collor recebeu 42,75% dos votos contra 37,86% dados a Lula. A vitória foi garantida no eixo formado pelos estados de Minas Gerais, Paraná e São Paulo, além dos do Nordeste — em Alagoas, por exemplo, Collor obteve 76,07% dos votos, contra 23,93% dados a Lula —, que neutralizaram a vantagem de Lula no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal.” (Verbete Fernando Collor de Mello. FGV CPDOC, 2021. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/collor-fernando Acesso em 03 de agosto de 2021)http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/collor-fernando GOVERNO FERNANDO COLLOR (1990 – 1992) ASPECTOS ECONÔMICOS INTRODUÇÃO Nas aulas passadas analisamos o resultado dos choques do petróleo para a economia brasileira e como as opções tomadas durante os governos dos militares causou forte impacto negativo na economia ao longo das décadas de 80 e 90. Os anos 80, inclusive, são conhecidos no mundo todo como década perdida. No Brasil, por sua vez, podemos dizer que de certa forma, foram duas décadas perdidas. Uma vez que a crise econômica se prolonga para os anos 90. Collor recebeu um país com uma economia já bastante desgastada pelo problema da hiperinflação. No Governo Sarney foram grandes os esforços no sentido de conter a alta dos preços, no entanto, sem sucesso. Ao todo foram quatro planos econômicos e duas trocas de moedas. As duas na proporção de 1 para 1000. ZÉLIA CARDOSO DE MELLO Fernando Collor terá que enfrentar o mesmo problema que Sarney: a hiperinflação. Apesar das tentativas de controle do aumento geral de preços, o Brasil enfrentava uma situação bastante complicada. Para tentar resolver isso Collor nomeou a jovem economista Zélia Cardoso de Mello para o Ministério da Fazenda. Ambos anunciaram já no dia seguinte a posse, o Plano Brasil Novo ou Plano Collor. IMAGEM 05 - Ministra da Fazenda de Collor, Zélia Cardoso de Mello. Fonte: Revista Exame. Disponível em https://exame.com/blog/primeiro-lugar/ha-espaco- para-um-superministro-no-brasil/ Acesso em 15 de agosto de 2021. https://exame.com/blog/primeiro-lugar/ha-espaco-para-um-superministro-no-brasil/ PLANO BRASIL NOVO O Plano da economista Zélia buscou compreender o porquê de os planos anteriores terem resultado em fracasso e buscou atuar de maneira diferente para resolver os problemas. Contudo, algumas medidas foram bastante semelhantes: congelamento de preços e salários, reforma monetária instituindo uma nova moeda, o Cruzeiro (CR$) em substituição ao Cruzado Novo (Czn$), bloqueio ao acesso de cerca de 80% dos ativos financeiros do setor privado e reforma fiscal objetivando reduzir o valor das contas do setor público. Analisaremos melhor cada uma dessas medidas. PLANO BRASIL NOVO O congelamento de preços era uma medida visando impedir que a inflação passada, bastante elevada, fosse imediatamente repassada para os preços seguintes. Além disso, foi feita uma medida engenhosa que buscava desatrelar o reajuste dos valores em geral pelo aumento de preços do passado. A ideia era basicamente evitar os efeitos da inflação inercial. O governo permitiria o reajuste de acordo com uma nova taxa divulgada no primeiro dia útil após o dia 15 de cada mês. A responsabilidade pelo computo desse valor ficaria a cargo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. No entanto, o órgão nunca calculou esse valor. CONFISCO DA POUPANÇA A medida mais famosa do Plano, no entanto, foi o bloqueio ao setor privado de cerca de 80% das operações com ativos financeiros. Entendo melhor, o Governo decretou o confisco por até 18 meses de contas correntes e cadernetas de poupança que possuíssem valores acima de Czn$: 50.000,00. A ideia era basicamente reduzir a circulação de moeda na economia. Como as pessoas ficariam restritas, sem acesso ao dinheiro no banco, tenderiam a consumir menos e consequentemente os preços baixariam, reduzindo assim a inflação. No entanto, vale ressaltar que após o período os valores seriam liberados juntamente com uma remuneração pelo prazo que o dinheiro ficou retido mais a correção monetária. CONFISCO DA POUPANÇA Apesar de parecer uma boa ideia, a medida causou pânico em muitas pessoas que correram para as agências bancárias na expectativa de sacar o dinheiro e evitar perdas. Além disso, causou sérios problemas com a classe média e o empresariado. Muitos empreendedores vão falir nesse momento devido a dificuldade em acessar seu saldo no banco. O resultado seria um forte aumento do desemprego, falências e misérias. CONFISCO DA POUPANÇA IMAGEM 06 - Pessoas fazem fila para tentar sacar seus recursos após o confisco temporário de Collor. Fonte: Isto é Dinheiro. Disponível em: https://www.istoedinheiro.com.br/detalhes-do-acordo-de-r-10-bi-entre-bancos-e-poupadores/ Acesso em 15 de agosto de 2021. https://www.istoedinheiro.com.br/detalhes-do-acordo-de-r-10-bi-entre-bancos-e-poupadores/ VAMOS TREINAR - QUESTÃO 01 Ano: 2019 Banca: INEP Órgão: ENCCEJA Prova: INEP - 2019 - ENCCEJA - Exame - Linguagens e Ciências Humanas - Ensino Médio Plano Collor foi intervenção mais drástica na economia Um Brasil traumatizado com a inflação. É assim que os economistas definem o país que criou o Plano Collor em março de 1990, uma das mais severas intervenções do governo na economia. O pacote tinha como objetivo controlar a inflação que rondava os 2 000% ao ano. A ideia era diminuir a circulação de dinheiro no mercado para inibir o consumo da população e reduzir a inflação. CASADO, L. Disponível em: http://noticias.r7.com. Acesso em: 20 ago. 2013 (adaptado). Uma medida adotada por esse plano econômico foi o A. aumento da oferta de empregos. B. fechamento das casas de câmbio. C. confisco das cadernetas de poupança. D. estabelecimento de medidas protecionistas VAMOS TREINAR - QUESTÃO 01 Ano: 2019 Banca: INEP Órgão: ENCCEJA Prova: INEP - 2019 - ENCCEJA - Exame - Linguagens e Ciências Humanas - Ensino Médio Plano Collor foi intervenção mais drástica na economia Um Brasil traumatizado com a inflação. É assim que os economistas definem o país que criou o Plano Collor em março de 1990, uma das mais severas intervenções do governo na economia. O pacote tinha como objetivo controlar a inflação que rondava os 2 000% ao ano. A ideia era diminuir a circulação de dinheiro no mercado para inibir o consumo da população e reduzir a inflação. CASADO, L. Disponível em: http://noticias.r7.com. Acesso em: 20 ago. 2013 (adaptado). Uma medida adotada por esse plano econômico foi o A. aumento da oferta de empregos. B. fechamento das casas de câmbio. C. confisco das cadernetas de poupança. D. estabelecimento de medidas protecionistas QUESTÃO 01 - COMENTÁRIO Questão bem simples sobre o Plano Brasil Novo ou Plano Collor I. Como acabamos de ver, uma das medidas mais radicais e drásticas do plano foi o confisco de 80% dos ativos financeiros, como medida para reduzir a circulação de moeda. Essa medida ficou conhecida como confisco das cadernetas de poupança. Levou muitas pessoas às agências para tentar sacar o dinheiro e levou ainda a falência de muitos empresários. Dessa forma, a resposta correta é Letra C. Não aumentou a oferta de emprego, como sugere a Letra A, na verdade reduziu o emprego, uma vez que complicou a situação de muitos empreendedores que não conseguiram acessar seu saldo no banco. O Plano não atacava as casas de câmbio. Dessa forma, a letra não faz qualquer sentido com a presente questão. Por fim, a letra D está incorreta, pois Collor não assumiu medidas protecionistas. Na verdade, Collor representa a chegada do neoliberalismo, como veremos a partir de agora. RESULTADO Os resultados do Plano Collor foram bastante limitados. Apesar de um aparente sucesso inicial, em parte devido ao congelamento de preços. A inflação voltou a disparar ao final do ano de 1990. Dessa forma, em 1991 foi lançado o Plano Collor II. Foram extintos o overnight (transações realizadas pelos bancos que consistia em empréstimos com juros para uma noite. Era utilizado pelos bancos e pela classe média para reduzir os efeitos da inflação sobre os salários), o BTN, o BTN fiscal e os outros indexadores da economia, mais uma vez foram congelados preços e salários; e criada uma taxa referencial de juros para o mercado financeiro. Alugueis e mensalidades escolares não poderiam ser ajustados. PLANO COLLOR II E MARCÍLIO O Plano Collor II e as medidas adotadas pelo Ministro Marcílio Marques Moreira (também chamadas de Plano Marcílio por algunshistoriadores) não surtiram os efeitos necessários. Aliado a isso, os casos de corrupção e o processo de impeachment do presidente que ocorreria no plano político foram importantes para o insucesso da política econômica. IMAGEM 07 - Ministro Marcílio Marques Moreira (a esquerda). Fonte: FGV. Disponível em https://70anos.fgv.br/fotos/fgv-70-anos Acesso em 15 de agosto de 2021. https://70anos.fgv.br/fotos/fgv-70-anos A CHEGADA DO NEOLIBERALISMO O Governo Collor é entendido como a chegada do neoliberalismo no Brasil. Apesar de ser mais famosa a atuação de Fernando Henrique Cardoso nessa linha de pensamento, FHC representa uma consolidação do neoliberalismo, mas a chegada dessa teoria acontece agora com Collor. Dessa forma, se faz necessário conceituar o neoliberalismo. Essa teoria da ciência econômica e da ciência política diz respeito, grosso modo, ao retorno das ideias liberais após um período de grande preponderância das ideias keynesianas e do estado de bem estar social. Em linhas gerais defende um conjunto de regras, tais como: disciplina fiscal, redução dos gastos públicos, reforma fiscal, reforma tributária, juros de mercado, câmbio de mercado, privatizações, flexibilização trabalhista e legal etc. GOVERNO FERNANDO COLLOR (1990 – 1992) ASPECTOS POLÍTICOS INTRODUÇÃO Em termos políticos, Collor foi o primeiro presidente eleito por vias democráticas desde a chegada ao poder de Jânio Quadros. Jânio governou por sete meses e renunciou iniciando uma crise sucessória que em seguida levou ao Governo Jango, o Golpe Civil- Militar de 1964 e os 21 anos de ditadura. Durante esse período o povo não votou para presidente. Se levarmos em consideração a campanha pelas Diretas Já, a população acreditava fortemente que um candidato eleito por vias democráticas seria capaz de realizar mudanças significativas no Brasil, um país ansioso por modernização, combate a pobreza e a miséria. Collor representava bem esse papel. O que lhe rendeu bons frutos nas eleições de 1989. Contudo, o aspecto político mais mencionado em um curso introdutório de História do Brasil são os casos de corrupção que culminaram no impedimento do presidente e ascensão de Itamar Franco. PEDRO COLLOR O processo que levou a queda de Collor se inicia no primeiro trimestre de 1992 quando seu irmão, Pedro Collor concedeu uma série de três entrevistas a Revista Veja denunciando a corrupção do presidente, da primeira dama Rosane Collor e do tesoureiro da campanha Paulo Cezar Farias. Segundo informações, PC era responsável por uma série de acordos obscuros com o empresariado que fornecia valores altos para ele em contas no exterior, sobretudo na Suíça, em troca de benesses no Governo Federal e nas privatizações que ocorreriam. PEDRO COLLOR IMAGEM 08 - Famosa da Revista Veja, quando Pedro Collor denunciou o irmão. Fonte: Revista Veja. Disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/a-entrevista-que-pedro-concedeu-a-veja-ha-20-anos-e-que-esta-na-raiz-do-odio-que-fernando-collor- tem-da-revista/ Acesso em 07 de agosto de 2021. . https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/a-entrevista-que-pedro-concedeu-a-veja-ha-20-anos-e-que-esta-na-raiz-do-odio-que-fernando-collor-tem-da-revista/ PEDRO COLLOR Com base nessas denúncias a Polícia Federal iniciou um trabalho de investigação e a Câmara aprovou a formação de uma CPI. Diversos partidos da oposição e entidades da sociedade civil e da Igreja Católica pressionaram pelo fim da impunidade. Manifestação que ficou conhecida como “Vírgula pela Ética na Política”. Pouco tempo depois, a Justiça Federal de Brasília condenou Rosane Collor a devolver dinheiro público usado por ela para custear a festa de aniversário de uma amiga e condenou a primeira dama por uma licitação com superfaturamento na compra de leite em pó na Legião Brasileira de Assistência – LBA. A opinião pública acompanhava de perto o andamento do processo. ROSANE COLLOR IMAGEM 09 - Rosane Collor, condenada pela justiça por corrupção à frente da LBA. Foto da primeira-dama em seu gabinete. Fonte: Folha Online Brasil UOL. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fol/pol/po09062.htm Acesso em 15 de agosto de 2021. . https://www1.folha.uol.com.br/fol/pol/po09062.htm O APOIO DE COLLOR Por outro lado, vale destacar que Collor também teve apoio. Nesse sentido, o mais relevante era do então senador e presidente da Comissão Nacional da Indústria Albano Franco. O senador ressaltou a importância da continuidade da política econômica em vigor e dos esforços para solucionar o problema da inflação. Outro apoio também veio do Governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola. Os dois chegaram a discursar juntos para cerca de 1500 pessoas em defesa de seu mandato. Apesar disso, as sondagens iniciais na Câmara e no Senado não eram animadoras para Fernando Collor. Aparentemente, em caso de impeachment, a maioria votaria a favor. OS CARAS PINTADAS Durante os trabalhos da CPI, em agosto de 1992, Collor foi em rede nacional pedir a população que se manifestasse em seu apoio. Segundo o presidente, todos deveriam ir de verde e amarelo para escola ou trabalho no dia seguinte. O uso dessas cores era característico de sua campanha desde as eleições de 1989. Essa medida foi uma tentativa de reaver certo prestígio junto com a população e mostrar para todos que o povo ainda o apoiava. No entanto, a população respondeu de forma contrária. Nesse sentido, surgiu o movimento Fora Collor ou Movimento dos Caras Pintadas. Composto principalmente por estudantes, mas também por empresários, partidos políticos de oposição e organizações da sociedade civil, esse movimento tomou as ruas do país com pessoas vestindo a cor preto (em oposição ao pedido de Collor) e com as cores da bandeira brasileira pintadas no rosto. As reivindicações eram basicamente o impedimento do presidente e a prisão do tesoureiro da campanha, Paulo Cezar Farias. OS CARAS PINTADAS IMAGEM 10 – Movimento dos Caras Pintadas pedindo o impedimento do então presidente Collor. Fonte: Gazeta do Povo. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/historia/quando-curitiba-vestiu-preto-para-destituir-fernando-collor-de-mello- 6zg60a9h0oh9s4dpalkj6mpre/ Acesso em 15 de agosto de 2021. https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/historia/quando-curitiba-vestiu-preto-para-destituir-fernando-collor-de-mello-6zg60a9h0oh9s4dpalkj6mpre/ O IMPEACHMENT O processo de impedimento de um presidente se inicia na Câmara dos Deputados e precisa ser aprovado pela maioria do número total de deputados. Caso aprovado, o presidente é afastado e o vice assume o poder. Contudo, esse afastamento inicial não é definitivo. Uma nova votação ocorre no Senado assim como na Câmara. No caso de aprovado, o chefe do executivo é afastado de forma permanente e perde os direitos políticos por oito anos. O IMPEACHMENT Em outubro de 1992 a Câmara dos Deputados aprovou o impeachment do presidente. Dessa forma, Collor foi afastado das funções públicas e em seu lugar assumiu interinamente o vice Itamar Franco. Em dezembro daquele mesmo ano, o Senado Federal aprovou de forma permanente o afastamento de Collor e a perda dos direitos políticos por oito anos. Collor ainda tentou uma manobra renunciando antes da votação acabar. O Congresso, no entanto, entendeu ser uma manobra e recusou o pedido. CONCLUSÃO VÍDEO 01 – Reportagem especial “Collor: Do Voto ao Veto. Link Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=NabkUlIOvAA&t=410s https://www.youtube.com/watch?v=NabkUlIOvAA&t=410s REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, Reinaldo. A entrevista que Pedro concedeu à VEJA há 20 anos e que está na raiz do ódio que Fernando Collor tem da revista. Revista Veja. 31 de julho de 2020. Disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/a- entrevista-que-pedro-concedeu-a-veja-ha-20-anos-e-que-esta-na-raiz-do-odio-que-fernando-collor-tem-da-revista/ Acesso em 06 de agosto de 2021. BRASIL. Constituição (1988).Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm CEZARINi, Victor. O Programa Nacional de Desestatização na década de 90. Jornal Terraço Econômico. 25 de maio de 2020. Disponível em: https://terracoeconomico.com.br/o-programa-nacional-de-desestatizacao-na-decada-de-90/ Acesso em 06 de agosto de 2021. https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/a-entrevista-que-pedro-concedeu-a-veja-ha-20-anos-e-que-esta-na-raiz-do-odio-que-fernando-collor-tem-da-revista/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm https://terracoeconomico.com.br/o-programa-nacional-de-desestatizacao-na-decada-de-90/ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12 edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo – EdUSP, 2006. ISBN: 85-314-0240-9. O que é neoliberalismo. Politize! 1 de julho de 2016. Disponível em: https://www.politize.com.br/neoliberalismo-o-que- e/ Acesso em 06 de agosto de 2021. Plano Collor. Memória Globo. Disponível em: https://memoriaglobo.globo.com/jornalismo/coberturas/plano- collor/plano-collor-ii/ Acesso em 06 de agosto de 2021. SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. https://www.politize.com.br/neoliberalismo-o-que-e/ https://memoriaglobo.globo.com/jornalismo/coberturas/plano-collor/plano-collor-ii/ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Verbete biográfico Fernando Collor. FGV CPDOC, 2021. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/collor-fernando Acesso em 06 de agosto de 2021. Verbete Caras Pintadas. FGV CPDOC, 2021. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete- tematico/caras-pintadas Acesso em 06 de agosto de 2021. Verbete Plano Collor. FGV CPDOC, 2021. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete- tematico/plano-collor Acesso em 06 de agosto de 2021. http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/collor-fernando http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/caras-pintadas http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/plano-collor OBRIGADO PELA ATENÇÃO!
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