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1 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética INTRODUÇÃO ✓ Conceito de Arma de fogo » são peças constituídas deum ou dois canos, aber- tos numa das extremidades e parcial- mente fechados na parte de trás, por onde se coloca o projétil, o qual é lan- çado a distância através da força ex- pansiva dos gases pela combustão de determinada quantidade de pólvora; ✓ Produzido o tiro, escapam pela boca da arma o projétil ou projéteis, gases su- peraquecidos, chama, fumaça, grânu- los de pólvora incombusta e a bucha; ✓ A munição compõe-se de cinco partes » estojo, espleta, bucha, pólvora e pro- jétil; ✓ O projétil é o verdadeiro instrumento perfuro-contundente, quase sempre de chumbo nu ou revestido de níquel ou de outra liga metálica, podendo ser ci- líndrico ou ogival. CLASSIFICAÇÃO DAS ARMAS DE FOGO: ▪ Segundo suas dimensões: Portáteis; Semiportáteis; Não portáteis. ▪ Segundo o municiamento: antecarga (carregado pela boca); retrocarga (mu- nição colocada no pente, no tambor ou na parte posterior do cano). ▪ Modo de percussão: perdeneira; espo- leta. ▪ Calibre: nas armas raiadas – em milí- metros, centésimos ou milésimos de polegada; nas de cano liso – calculado em peso. ✓ Raias: saliências encontradas na face interna do cano, seguindo uma orienta- ção curva de grande abertura no sen- tido do maior eixo da alma do cano. ✓ Munição: compõe-se de cinco partes: estojo, espoleta, bucha, pólvora e pro- jétil. ✓ A pólvora é uma substância que ex- plode pela combustão. Há a pólvora negra e a pólvora branca. Esta última não tem fumaça. Ambas produzem de 800 a 900 cm³ de gases por grama de peso. Em geral, são compostas de uma mistura de carvão pulverizado, enxo- fre e salitre. ✓ O projétil é o verdadeiro instrumento perfurocontundente, quase sempre de chumbo nu ou revestido de níquel ou de outra liga metálica. Os mais antigos eram esféricos. Os mais modernos são cilíndrico-ogivais. ✓ Nos casos de munição com projéteis múltiplos deve-se levar em conta que esses muitos projéteis são lançados juntos e, depois, começam a separar- se, dando uma área de projeção com diâmetro cada vez maior, originando a chamada rosa do tiro. Lesões produzidas por armas de fogo 2 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética NOÇÕES DE BALÍSTICA FO- RENSE ✓ Balística interna trata do funciona- mento das armas, da sua estrutura e mecanismo, e da técnica do tiro. ✓ Balística externa estuda o trajeto e a trajetória do projétil, desde sua saída da arma até seu impacto ou sua parada. ✓ A balística dos efeitos ou balística do ferimento manifesta-se sobre os efei- tos produzidos pelo projétil disparado, incluindo, entre outros, os ricochetes, os impactos e as lesões e danos sofri- dos pelos corpos atingidos, sejam eles animados ou inanimados. ✓ Identificação das armas de fogo: pode ser direta ou indireta. ▪ Direta – quando a identificação é feita na própria arma. ▪ Indireta - quando feita através de es- tudo comparativo de características deixadas pela arma nos elementos de sua munição. ✓ Na identificação direta, leva-se em conta os chamados dados de qualifica- ção, representados pelo conjunto de caracteres físicos constantes de seus registros e documentos, como tipo da arma, calibre, número de série, fabri- cante, escudos e brasões, entre tantos. ✓ Na identificação indireta, usam-se mé- todos comparativos macro e microscó- picos nas deformações verificadas nos elementos da munição da arma questi- onada ou suspeita. ✓ Nas armas de fogo raiadas este ele- mento é o projétil. ✓ Nas armas de alma lisa, a identificação indireta é feita nas deformações impressas no estojo e suas espoletas ou cápsulas de espoletamento. ✓ O projétil de uma arma de fogo raiada, ao passar pelo cano, inevitavelmente deixa-se gravar de impressões de cheios e de raias, sob a forma de cava- dos e ressaltos, os quais produzirão mi- crodeformações no projétil (estrias). ✓ As deformações macroscópicas têm valor insignificante para uma identifi- cação específica. ✓ As microdeformações nunca se repro- duzirão em dois ou mais canos diferen- tes, ainda que fabricados pelo mesmo fabricante e trabalhados pela mesma broca. ✓ Sendo assim, contribuirão com segu- rança na identificação individual da arma que deflagrou o projétil. ✓ Classificação da deformações: ▪ Normais - provocadas no desloca- mento no interior do cano da arma; ▪ Periódicas - provocadas pelo mau ali- nhamento entre o tambor e o cano. ▪ Deformações acidentais - produzidas não especificamente por uma mesma arma. ▪ Deformações produzidas na base do estojo ou na cápsula de sua espoleta – oriundas da ação do percutor ou pelas irregularidades da superfície da cula- tra. ▪ Ao reutilizarmos estojos de munição (utilizada em armas raiadas ou de alma lisa) será possível encontrarmos im- pressões na base do estojo de dois ou mais tiros com uma mesma ou com di- versas armas. ▪ O sistema de identificação nos estojos e nas espoletas é muito importante nos casos em que o projétil não é encon- trado ou quando ele se apresenta muito 3 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética deformado para uma identificação mi- crocomparativa, tratando-se de armas raiadas. ✓ Nos casos de armas automáticas ou se- miautomáticas com canos removíveis, aconselha-se combinar o exame com- parativo das microdeformações nota- das no projétil com as encontradas na ápsula da espoleta e na base dos esto- jos percutidos existentes no local da ocorrência. ✓ Assim, em um processo procura-se identificar o cano da arma e no outro, a identificação da própria arma. ✓ Para se proceder a um exame compa- rativo nos elementos da munição, é ne- cessário que se tenham à mão, por exemplo, em um caso de arma raiada, projéteis-padrão, projétil(eis) questio- nado(s) e os equipamentos necessários para o exame. ✓ Obtenção dos projéteis-padrão ou tes- temunha – utiliza-se método de coleta que não proporcione nenhum dano ou deformação. Os mais comuns são a água, a solução glicosada e o algodão. ✓ O(s) projétil(eis) questionado(s) é(são) aquele(s) encontrado(s) no corpo da vítima, no interior de outras estruturas ou nos locais de ocorrência. ✓ Equipamentos usados na macrocom- paração: balança, macrômetro, paquí- metro, projetor horizontal de perfil, lu- pas manuais etc. ✓ Exame microscópico – material: mi- croscópio de comparação, também chamado de microcomparador balís- tico, acoplado a dispositivos que per- mitam fotografar as imagens, e que te- nham um visor, uma câmara de vídeo e um comparador. ✓ O método mais usado na comparação dos projéteis é o que se alia à macro e à microcomparação. EXAME MICROCOMPARATIVO: ▪ É o mais importante; ▪ Procura-se estabelecer a identidade ou não identidade entre os elementos ca- racterísticos do projétil-padrão e do projétil questionado, principalmente nas estrias ou microestrias convergen- tes; ▪ Nas convergências ou coincidências estão os fundamentos da identificação individual da arma, mesmo tendo-se em conta que essas coincidências ja- mais poderão ser perfeitas ou totais pe- las modificações surgidas na arma e na munição. ✓ Projéteis encamisados: em face de sua disposição, a maior parte dos seus mi- croelementos está dentro das cavadas. EXAME MICROCOMPARATIVO DOS ESTOJOS: ✓ devem-se ressaltar algumas caracterís- ticas - marca de percussão; marcas das microestrias encontradas na espoleta ou cápsula de espoletamento dos esto- jos. ✓ Armas automáticas ou semiautomáti- cas - elementos para identificação: a marca do extrator e a marca do ejetor no culote dos estojos. ✓ Resultados devem ser oferecidos nos moldes de possibilidade (poucos mi- croelementos, porém com padrão e macroelementos coincidentes, como calibre, massa, largura,profundidade e inclinação dos ressaltos e cavados), probabilidade (quando os projéteis comparados apresentem poucos mi- croelementos coincidentes) e certeza, (quando existam elementos 4 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética quantitativos e qualitativos que pos- sam afirmar ou negar com convicção a identidade ou a não identidade da arma em questão). EXAMES NA ARMA: determinação da precisão da pontaria, de- terminação da distância de um certo tiro, alteração das suas características origi- nais, condições de funcionamento, ocor- rência de tiro acidental e deformações an- teriores, contemporâneas ou posteriores ao evento. ✓ Exames na munição: composição dos cartuchos; alteração das características originais; tipo, marca, calibre, estojo. ✓ Exames no projétil: determinação do tipo e calibre; número e orientação dos ressaltos e cavados, além das deforma- ções acidentais, exame microscópico de comparação e outras consequências do impacto, em que se possa identifi- car o tipo de estrutura atingida. ✓ Nas espingardas, podem-se também examinar os chumbos dos cartuchos quanto à sua classificação e ao número de esferas; e o exame na bucha e nos discos divisórios dos cartuchos, a fim de identificar seu calibre e tipo de ma- terial utilizado na sua confecção. ✓ Exame da pólvora: determinação da origem e composição; formato dos grãos; espoletas dos cartuchos, po- dendo-se determinar o tipo de fabri- cante e a data de fabricação. LESÕES ✓ No estudo das lesões ou ferimentos produzidos por projéteis de arma de fogo, devemos considerar os seguintes critérios I. A distância de disparo; II. O ferimento de entrada; III. O ferimento de saída; IV. O trajeto. ✓ As lesões perfuro-contundentes cai=usam perfuração e ruptura dos te- cidos; ✓ Os ferimentos possuem como caracte- rísticas I. As bordas irregulares; II. O predomínio da profundidade; III. O caráter penetrante e transfixante. ✓ Ferimento de Entrada: pode ser resul- tante de tiro encostado, a curta dis- tância ou a distância. ✓ Ferimentos de entrada nos tiros encos- tados ❖ plano ósseo logo abaixo; ❖ forma irregular, denteada ou com enta- lhes, devido à ação resultante dos ga- ses que descolam e dilaceram os teci- dos; ❖ inexistência de zona de tatuagem ou de esfumaçamento; ❖ vertentes enegrecidas e desgarradas, com aspecto de cratera de mina. ❖ SINAL DE BENASSI - Nos tiros da- dos no crânio, costelas e escápulas, principalmente quando a arma está so- bre a pele, podemos encontrar um halo fuliginoso na lâmina externa do osso referente ao orifício de entrada, ene- grecida, denominado de Sinal de Be- nassi. ✓ Ferimentos de entrada nos tiros encos- tados ❖ CÂMARA DE MINA DE HO- FFMANN - Os ferimentos de entrada nos tiros encostados com plano ósseo logo abaixo, possuirão forma irregular (estrelado), denteada ou com entalhes, com bordas invertidas para fora, dife- rente dos orifício de entrada apresenta- dos devido à ação resultante dos gases 5 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética que se deslocam e dilaceram o tecido; Isso ocorre porque os gases da explo- são penetram no ferimento e refluem ao encontrar a resistência do plano ós- seo; é comum nos tiros encostados na fonte. ❖ Sinal de Werkgaertner – tiros encosta- dos ainda permitem deixar impresso na pele tal sinal, representado pelo dese- nho da boca e da massa de mira do cano, produzido por sua ação contun- dente ou pelo seu aquecimento. FERIMENTOS DE ENTRADA NOS TI- ROS ENCOSTADOS ❖ Diâmetro das lesões: pode ser maior do que o do projétil em face de explo- são dos tecidos pelo efeito “de mina”, e suas bordas algumas vezes voltadas para fora, devido ao levantamento dos tecidos pela explosão dos gases. ❖ Sinal do “schusskanol”: representado pelo esfumaçamento das paredes do conduto produzido pelo projétil. ❖ Para um diagnóstico seguro de tiro en- costado: presença de carboxi-hemo- globina no sangue do ferimento, assim como nitratos da pólvora, nitritos de sua degradação e enxofre decorrente da combustão da pólvora (Gisbert Ca- labuig, in Medicina Legal e Toxicolo- gia, op. cit.). FERIMENTO DE ENTRADA NOS TI- ROS A CURTA DISTÂNCIA ❖ Possuem forma arredondada ou elíp- tica, de um modo geral; ❖ Impacto do projétil (efeito primário); ❖ Apresentam orla de escoriação (ou contusão), devido ao arrancamento da epiderme; ❖ Bordas invertidas, devido à ação trau- mática de fora para dentro sobre a na- tureza elástica da pele; ❖ Halo de enxugo (orla de Chavigny), ocasionado pela passagem do projétil através dos tecidos, atritando e contun- dindo – concêntricos nos tiros perpen- diculares e rm meia-lua, nos oblíquos; ❖ Provocam halo ou zona de tatuagem, resultante da impregnação de grãos de pólvora incombustos que alcançam o corpo; ❖ Ação dos resíduos de combustão ou semicombustão da pólvora e das partí- culas sólidas do próprio projétil expe- lido pelo cano da arma (efeitos secun- dários). ❖ Orla de esfumaçamento é decorrente do depósito deixado pela fuligem que circunscreve a ferida de entrada; ❖ Zona de queimadura, devido a ação su- peraquecida dos gases que atingem e queimam o alvo; ❖ Aréola equimótica, oriunda da rotura de pequenos vasos localizados na vizi- nhança do ferimento; ❖ Zona de compressão de gases, repre- sentada pela depressão da pele e vista apenas nos primeiros instantes no vivo. ❖ Os ferimentos possuem diâmetro me- nor que o do projétil; ❖ Tiro à queima-roupa: Quando além das zonas de tatuagens e de esfumaça- mento há alterações produzidas pela elevada temperatura dos gases, como crestação de pelos e cabelos (entorti- lhados e quebradiços), manifestações de queimadura sobre a pele (apergami- nhada e escura ou amarelada) e zona de compressão de gases (no vivo). 6 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética ❖ Conceito de tiro a curta distância: não diz respeito a essa ou aquela extensão entre a boca da arma e o alvo. Esse conceito deve ser eminentemente prá- tico e admitido até quando se podem evidenciar os estigmas dos efeitos se- cundários. ❖ Forma arredondada (quando o tiro for perpendicular) ou ovalar ( quando oblíquo); ❖ Orla de escoriação ou Zona ou Anel de Fisch, de aspecto concêntrico nos ori- fícios arredondados e em crescente ou meia lua, nos ovalares. um exame de- talhado poderá esclarecer a direção do tiro; ❖ Halo de enxugo: Aréola equimótica, que tem por origem a formação de uma equimose bem justa ao ferimento em face do rompimento de capilares, vê- nulas e arteríolas e quando presente possuí um colorido violáceo; ❖ Apresentam as bordas reviradas para dentro, dada a ação contundente as margens do ferimento, agindo de fora para dentro. FERIMENTO ÚNICO DE ENTRADA POR VÁRIOS PROJÉTEIS ❖ Um só ferimento de entrada e serem encontrados dois ou mais projéteis no interior do corpo. ❖ Duas são as situações mais comuns para tais achados: a) tipos de cartuchos fabricados com dois ou mais projéteis acoplados; b) tiro disparado com pro- jétil ou projéteis retido(s) na arma: “fe- nômeno do tiro encaixado”. ❖ Quando tal fenômeno acontece, geral- mente a arma é do tipo revólver. ❖ Primeiro passo da perícia é identificar os projéteis com a arma suspeita, depois ver se estão oxidados ou bri- lhantes. ❖ Examinar a base de um dos projéteis para ver se apresenta alguma depres- são que abrigou a ogiva do outro pro- jétil. ❖ Ver se nessa depressão da jaqueta de cobre existe chumbo. ❖ Nesses casos, os projéteis se compor- tam como um só, mas a tendência é que o primeiro seja empurrado pelo outro. ❖ Mesmo havendo um único ferimento de entrada, na maioria das vezes ele é irregular e bifenestrado. ❖ Vários Ferimentos de Entrada por Um Só Projétil ❖ Para que isso aconteça, basta queo projétil entre e saia de alguns segmen- tos ou regiões. Assim, por exemplo, é possível um projétil transfixar a coxa esquerda, o saco escrotal e a coxa di- reita deixando nesses seus trajetos três orifícios de entrada e três orifícios de saída. ❖ A partir do segundo ferimento de en- trada estes não apresentam mais a forma circular e a regularidade do pri- meiro ferimento de entrada. FERIMENTO DE SAÍDA ❖ A lesão de saída das feridas produzidas por projéteis de arma de fogo tem forma irregular, com diâmetro maior que o do orifício de entrada, pois o pro- jétil que sai não é o mesmo que entrou; ❖ O projétil deforma-se pela resistência encontrada nos diversos planos e nunca conserva seu eixo longitudinal; ❖ As bordas são reviradas para fora, pois a ação do projétil se dá de dentro para fora; 7 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética ❖ São mais sangrentas pelo maior diâme- tro, pela irregularidade de sua forma e pela eversão de bordas, permitindo um maior fluxo sanguíneo; ❖ Não possuem halo de enxugo; ❖ Não apresentam orla de escoriação; ❖ Apresenta aréola equimótica no es- paço que circunda o ferimento de sa- ída, pois o mecanismo de produção é o mesmo dos ferimentos de entrada. SINAL DE FUNIL DE BONNET ❖ Diagnóstico diferencial entre o feri- mento de entrada e o de saída no plano ósseo, principalmente nos osso do crâ- nio; ❖ Ferimento de entrada ❖ Lâmina externa » ferimento arredon- dado, regular, em “saca-bocado”; ❖ Lâmina interna » ferimento irregular, maior que o da lâmina externa, com bi- sel interno bem definido, dando a per- furação a forma de um funil ou de um tronco de cone; ❖ Ferimento de saída ❖ É exatamente o contrário; ❖ Apresenta amplo bisel externo, repe- tindo a forma de funil ou tronco de cone com a base voltada para fora. ❖ Trajetória é o caminho percorrido pelo projétil fora do corpo ( da arma até a superfície atingida. ❖ Trajeto é o caminho percorrido pelo projétil no interior do corpo. ❖ O trajeto da ferida por projétil de arma de fogo pode ser transfixante ou não transfixante; ❖ O trajeto pode ser o mais variável pos- sível, desde linhas retas, curvas ou até mesmo o aparecimento do fenômeno da bala giratória, onde o projétil entra pela parte anterior do corpo e sai late- ralmente, fazendo um semicírculo; ❖ Não é raro o projétil desviar-se por en- contrar um órgão móvel; ❖ O perito deverá ficar atento a todos es- ses particulares trajetos das feridas produzidas por PAF. LESÕES PRODUZIDAS POR PRO- JÉTEIS MÚLTIPLOS ❖ Pode produzir um ou vários ferimen- tos, com características que dependem da distância do tiro ou dos elementos integrantes da carga. ❖ Em geral são constituídos de pequenas e inúmeras esferas metálicas, de chumbo ou antimônio, contidas em cartuchos cilíndricos de metal ou pape- lão. ❖ Em disparos a curta distância, causam, geralmente, ferimento único, de grande dimensão, perda de pele, forma irregular e estrelada. ❖ Pode apresentar orla de esfumaça- mento, zonas de queimaduras, halo de tatuagem e pequenas feridas. ❖ Nos disparos a distância: ferimentos são múltiplos, pequenos, perfurocon- tusos, de cor enegrecida, de forma e ta- manhos que variam conforme o tipo de esfera utilizada. ❖ Apresentam inúmeros e variados traje- tos, dependendo das regiões atingidas e dos impactos sofridos. ❖ Os ferimentos de saída são muito ra- ros, principalmente quando a área de dispersão é grande; exceção se faz quando a estrutura atingida não ofe- rece maior resistência. LESÕES PRODUZIDAS POR PRO- JÉTEIS DEFORMADOS ❖ O ferimento produzido possui forma irregular-estrelada, em forma de fenda ou de sulco. ❖ Orla de escoriação. 8 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética ❖ Lesões Produzidas por Projéteis de Alta Energia ❖ Ferimentos de entrada: podem apre- sentar vultosas áreas de destruição dos tecidos atingidos, deixando à mostra regiões ou estruturas mais profundas, com orifícios muito maiores que o di- âmetro do projétil. ❖ Pode ocorrer ausência ou pouca nitidez da orla de escoriação. ❖ Quando encontram maior resistência, como, por exemplo, no tecido ósseo, apresentam-se como verdadeiras ex- plosões. ❖ Ferimentos de saída, na maioria das vezes, têm a forma de rasgões, como se a pele fosse puxada e rasgada. LESÕES PRODUZIDAS POR PRO- JÉTEIS DE ALTA ENERGIA ❖ Quando se trata de balística dos feri- mentos por projéteis de alta energia, um fenômeno que não pode ser esque- cido é o das ondas pressórica e de cho- que, principalmente quando elas apre- sentam grande amplitude, pois, ao co- lidirem com tecidos mais resistentes, essa ação origina ondas muito mais in- tensas que se potencializam pela su- perposição de uma outra onda inci- dente, provocando um efeito verdadei- ramente arrasador. ❖ Túnel da lesão: extensa laceração de tecidos, mostrando, às vezes, material aspirado do meio e de estruturas vizi- nhas. NOVOS CONCEITOS DE DISTÂN- CIA DE TIRO E DE FERIMENTOS DE ENTRADA EM TIROS PRÓXI- MOS ❖ As armas que apresentam compensa- dores de recuo alteram profundamente o formato do residuograma e deixam de apresentar os formatos habituais nos tiros encostados ou bem próximos ao alvo. ❖ Assim, por exemplo, os ferimentos em “boca de mina” nos tiros encostados não são encontrados quando as armas que os deflagram apresentam os com- pensadores de recuo, isso em virtude da dispersão dos gases pelos furos da extremidade distal do cano da arma. PROTOCOLO DE NECROPSIA EM MORTE POR ARMA DE FOGO SUSPEITA DE EXECU- ÇÃO SUMÁRIA RECOMENDAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS (MANUAL DE PREVENÇÃO E INVESTIGAÇÃO DAS EXECUÇÕES EXTRALEGAIS, ARBITRÁRIAS E SU- MÁRIAS) ❖ Toda morte suspeita de causa contro- vertida necessita de esclarecimentos, exigindo que a perícia seja feita de forma minuciosa. O ideal seria que nos casos de suspeita de execução extrale- gal, arbitrária e sumária por disparo de arma de fogo a perícia fosse realizada de forma isenta de conivência, em lo- cais dotados de meios e recursos para tais fins e feitas por peritos especifica- mente preparados para exames nessas circunstâncias e capazes de seguir um protocolo mínimo para assegurar um exame sistemático no sentido de facul- tar uma ideia positiva ou negativa em torno do fato que se quer apurar. ❖ A finalidade em tais perícias é reunir o maior número de informações para as- segurar a identificação do morto, a de- terminação precisa da causa mortis e da causa jurídica da morte e a 9 Luiza Lyrio e Agatha Carvalho MED-103C Bioética descrição e caracterização das lesões violentas. Para tanto se propõe que o cadáver fique à disposição da institui- ção médico-legal pelo menos por 12 h. PROTOCOLO DE NECROPSIA EM MORTE POR ARMA DE FOGO SUSPEITA ❖ RECOMENDAÇÕES, ALÉM DO QUE É PRAXE EM TODAS AS NE- CROPSIAS MÉDICO-LEGAIS 1. Proteger, analisar e encaminhar as vestes para os devidos exames em la- boratório; 2. Proteger as mãos da vítima com sacos de papel ou plástico, anotar a hora do início e do término da perícia e foto- grafar em cores as lesões mais signifi- cativas e, também, fotografar a se- quência do exame interno e externo, tendo o cuidado de usar escalas, núme- ros e nomes para identificação do caso; 3. Valorizar o exame externo do cadáver, o que, em muitos casos, é a parte mais importante, como nos casos de tortura ou maus-tratos. O mesmo se diga quanto à valorização da temperatura, do estado de preservação, da rigidez e dos livores cadavéricos para avaliação do tempo aproximado de morte; 4. Descrever em detalhes as lesões pro- duzidas pelos projéteis de arma de fogo quanto a forma, direção, trajeto, inclinação e distância de tiro e, se pos- sível, estabelecer a determinação da ordem dos ferimentos; 5. Recolher amostras de sanguede pelo menos 50 ml de um vaso subclávio ou femoral; 6. Examinar bem a face, com destaque para os olhos, nariz e ouvido, assim como o pescoço interna e externa- mente em todos os seus aspectos; 7. Examinar os genitais e, em casos sus- peitos de violência sexual, examinar todos os orifícios, recolher pelos pubi- anos, secreções vaginal e anal para exames em laboratório; 8. Trocar o maior número de informações com a criminalística 9. Recolher insetos presentes em cadáve- res encontrados após algum tempo de morte para estudo entomológico fo- rense; 10. Acondicionar os projéteis encontrados no local e retirados do cadáver assegu- rando da melhor forma a sua inviolabi- lidade; 11. Documentar e radiografar toda lesão do sistema ósseo, especialmente as fra- turas dos dedos das mãos e pés; 12. Extrair amostras de tecido no trajeto da ferida e microvestígios biológicos dos projéteis para exame microscópico; 13. Recolher amostras de vísceras para exame toxicológico e guardar parte das amostras para possível reexame; 14. Utilizar todos os meios possíveis e ne- cessários para a identificação da ví- tima; 15. Obter, quando o paciente foi hospitali- zado antes da morte, todos os dados e registros relativos a admissão, evolu- ção, medicação e causa mortis.
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