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DOCÊNCIA EM SAÚDE PRIMEIROS SOCORROS 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842p Primeiros socorros / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 193p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-293-0 1. Primeiros socorros. I. Portal Educação. II. Título. CDD 616.0252 2 SUMÁRIO 1 CONCEITOS BÁSICOS EM PRIMEIROS SOCORROS ............................................................ 9 2 ASPECTOS LEGAIS DO ATENDIMENTO DE URGÊNCIA ..................................................... 11 3 SINAIS VITAIS .......................................................................................................................... 14 3.1 PULSO ...................................................................................................................................... 14 3.2 RESPIRAÇÃO ........................................................................................................................... 15 3.3 PRESSÃO ARTERIAL ............................................................................................................... 16 3.4 TEMPERATURA ....................................................................................................................... 18 4 ATENDIMENTO PRÉ- HOSPITALAR ....................................................................................... 21 4.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR....................................... 22 4.2 NORMATIZAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DO SAMU ............................................................. 24 4.3 O SOCORRISTA ....................................................................................................................... 26 4.3.1 Atribuições e Responsabilidades dos Socorristas ..................................................................... 27 5 AVALIAÇÃO DA CENA ............................................................................................................ 30 6 CINEMÁTICA DO TRAUMA ..................................................................................................... 34 6.1 ENERGIA E LEIS FÍSICAS ....................................................................................................... 37 6.2 CAVITAÇÃO .............................................................................................................................. 39 6.3 TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA ............................................................................................. 41 6.3.1 Densidade ................................................................................................................................. 42 6.3.2 Área de superfície ..................................................................................................................... 42 3 7 AVALIAÇÃO PRIMÁRIA ........................................................................................................... 44 7.1 CIRCULAÇÃO ........................................................................................................................... 46 7.2 VIAS AÉREAS COM CONTROLE DA COLUNA CERVICAL .................................................... 50 7.3 DESOBSTRUÇÃO DAS VIAS AÉREAS .................................................................................... 54 7.4 MANOBRA DE HEIMLICH ........................................................................................................ 55 7.5 RESPIRAÇÃO ........................................................................................................................... 59 7.6 AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA ................................................................................................... 60 7.7 EXPOSIÇÃO DA VÍTIMA ........................................................................................................... 63 7.8 AVALIAÇÃO PRIMÁRIA EM SITUAÇÕES ESPECIAIS ............................................................ 64 7.8.1 Vítima com capacete ................................................................................................................. 64 7.8.2 Vítima presa em ferragem ......................................................................................................... 65 8 AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA .................................................................................................... 67 8.1 CABEÇA .................................................................................................................................... 70 8.2 PESCOÇO ................................................................................................................................. 71 8.3 OLHOS ...................................................................................................................................... 71 8.4 ORELHA E NARIZ ..................................................................................................................... 71 8.5 BOCA ........................................................................................................................................ 72 8.6 TÓRAX ...................................................................................................................................... 72 8.7 ABDÔMEN ................................................................................................................................ 73 8.8 DORSO ..................................................................................................................................... 74 8.9 PELVE ....................................................................................................................................... 75 8.10 MEMBROS INFERIORES ......................................................................................................... 75 4 8.11 MEMBROS SUPERIORES ........................................................................................................ 77 9 RESSUSCITAÇÃO CARDIORRESPIRATÓRIA E CEREBRAL ............................................... 79 9.1 RECONHECENDO A PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA ..................................................... 82 10 SUPORTE BÁSICO DE VIDA ................................................................................................... 84 11 SUPORTE AVANÇADO DE VIDA ............................................................................................ 87 12 DESFIBRILADOR EXTERNO AUTOMÁTICO .......................................................................... 88 13 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL ..................................................................... 90 14 FRATURAS ............................................................................................................................... 92 15 ENTORSE ................................................................................................................................ 95 16 LUXAÇÃO ................................................................................................................................. 96 17 CONTUSÃO .............................................................................................................................97 18 AMPUTAÇÕES ......................................................................................................................... 98 19 QUEIMADURAS....................................................................................................................... 100 20 ASFIXIA ................................................................................................................................... 106 21 HEMORRAGIA ......................................................................................................................... 111 21.1 CLASSIFICAÇÃO DAS HEMORRAGIAS ................................................................................. 112 21.1.1 Hemorragias Externas .............................................................................................................. 112 21.1.2 Hemorragias Internas ............................................................................................................... 112 21.2 CONSEQUÊNCIAS DAS HEMORRAGIAS .............................................................................. 113 21.3 RECONHECIMENTO DAS HEMORRAGIAS ........................................................................... 114 21.4 ABORDAGEM DA VÍTIMA E CONDUTAS NAS HEMORRAGIAS EXTERNAS ....................... 115 21.5 CONTROLE DAS HEMORRAGIAS INTERNAS ....................................................................... 117 5 22 CHOQUE .................................................................................................................................. 118 22.1 CHOQUE HIPOVOLÊMICO ..................................................................................................... 118 22.2 CHOQUE CARDIOGÊNICO ..................................................................................................... 119 22.3 CHOQUE ANAFILÁTICO ........................................................................................................ 120 22.4 CHOQUE NEUROGÊNICO ...................................................................................................... 121 22.5 CHOQUE SÉPTICO ................................................................................................................. 122 22.6 TRATAMENTO DO CHOQUE .................................................................................................. 123 23 EMERGÊNCIAS CAUSADAS PELO CALOR EXCESSIVO .................................................... 124 23.1 INSOLAÇÃO ............................................................................................................................. 124 23.2 INTERMAÇÃO .......................................................................................................................... 125 24 CONVULSÕES ........................................................................................................................ 127 24.1 ABORDAGEM E CONDUTA .................................................................................................... 129 25 ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO ................................................................................. 131 25.1 CAUSAS DO ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO ............................................................. 131 25.2 FATORES DE RISCO .............................................................................................................. 132 25.3 SINAIS E SINTOMAS DO ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO ......................................... 132 25.4 ABORDAGEM E CONDUTA .................................................................................................... 134 26 ANGINA DE PEITO .................................................................................................................. 136 27 INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO ...................................................................................... 137 27.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS.................................................................................................. 137 27.2 ABORDAGEM E CONDUTA .................................................................................................... 138 28 INTOXICAÇÕES ...................................................................................................................... 140 6 28.1 INTOXICAÇÃO POR INGESTÃO ............................................................................................. 142 28.2 INTOXICAÇÃO POR INALAÇÃO ............................................................................................. 143 28.3 INTOXICAÇÃO POR ABSORÇÃO ........................................................................................... 144 29 AFOGAMENTOS .................................................................................................................... 145 29.1 CLASSIFICAÇÕES DO AFOGADO ......................................................................................... 146 29.2 ABORDAGEM E CONDUTA .................................................................................................... 147 30 TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO ............................................................................... 148 30.1 LESÕES NO COURO CABELUDO ......................................................................................... 148 30.2 FRATURAS DE CRÂNIO ......................................................................................................... 149 30.3 LESÕES CEREBRAIS .............................................................................................................. 150 30.4 AVALIAÇÃO E ABORDAGEM DA VÍTIMA ............................................................................... 152 30.5 ESCALA DE COMA DE GLASGOW ........................................................................................ 152 31 DESMAIO ................................................................................................................................. 154 32 CHOQUE ELÉTRICO ............................................................................................................... 158 32.1 ELETROCUSSÃO .................................................................................................................... 158 32.2 CAUSAS DO CHOQUE ELÉTRICO ......................................................................................... 159 32.3 QUEIMADURAS ....................................................................................................................... 159 32.4 QUEDA DE ALTURA ................................................................................................................ 160 32.5 PRIMEIROS SOCORROS ....................................................................................................... 160 33 FERIMENTOS NO TÓRAX ...................................................................................................... 163 33.1 FRATURA DE COSTELA ......................................................................................................... 163 33.2 TÓRAX INSTÁVEL ................................................................................................................... 164 7 33.3 CONTUSÃO PULMONAR ........................................................................................................ 165 33.4 PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO .......................................................................................... 166 33.5 PNEUMOTÓRAX ABERTO ...................................................................................................... 167 33.6 CONTUSÃO CARDÍACA .......................................................................................................... 167 33.7 TRATAMENTO E CONDUTA ................................................................................................... 168 34 FERIMENTOS NO ABDÔMEN ................................................................................................169 34.1 TRAUMATISMOS FECHADOS ................................................................................................ 169 34.2 TRAUMATISMOS PENETRANTES ......................................................................................... 170 34.3 PRIMEIROS SOCORROS ........................................................................................................ 171 35 FERIMENTOS POR ANIMAIS PEÇONHENTOS ..................................................................... 173 35.1 ENVENENAMENTO OFÍDICO ................................................................................................. 173 35.1.1 Micrurus (Corais) ...................................................................................................................... 173 35.1.2 Crotalus (Cascavéis) ................................................................................................................ 174 35.1.3 Bothops (Jararacas) ................................................................................................................. 176 35.1.4 Lachesis (Surucucus) ............................................................................................................... 177 35.1.5 Conduta .................................................................................................................................... 178 35.2 ACIDENTES COM ARANHAS.................................................................................................. 179 35.3 ACIDENTES COM ESCORPIÃO.............................................................................................. 180 35.3.1 Reconhecimento ....................................................................................................................... 180 36 FERIMENTOS NOS OLHOS .................................................................................................... 182 37 CAIXA DE PRIMEIROS SOCORROS ..................................................................................... 185 38 CORPOS ESTRANHOS ........................................................................................................... 187 8 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 192 9 1 CONCEITOS BÁSICOS EM PRIMEIROS SOCORROS Primeiros socorros são cuidados realizados imediatamente a uma pessoa cujo estado físico coloca em perigo a sua saúde ou até mesmo a sua vida, com o objetivo de manter as suas funções vitais e evitar o agravamento de suas condições, até que seja prestada uma assistência médica qualificada e especializada. Como o próprio nome refere, são os procedimentos de emergência que devem ser aplicados a uma pessoa em perigo de vida, com o objetivo de manter os sinais vitais e evitar o agravamento, até que ela receba assistência definitiva. Podemos ainda considerar comouma série de procedimentos simples com o intuito de salvar e manter vidas em situações de urgência e emergência, realizadas por pessoas comuns com esses conhecimentos, até a chegada de atendimento médico especializado. Os primeiros socorros também podem ser definidos como medidas que se aplicam imediatamente ao acidentado, enquanto se aguarda assistência médica. Devem limitar-se aos procedimentos mínimos, que não prejudiquem a vítima e a coloquem em situação de manter os seus sinais vitais estáveis. Essas medidas se resumem basicamente em: Retirar a vítima do local; Mantê-la em posição adequada, de preferência em decúbito dorsal; Identificar as lesões; Adotar medidas de urgência; Transportar a vítima se houver condições para isso. DOCÊNCIA EM SAÚDE 10 Diversas situações podem necessitar de primeiros socorros. As situações mais comuns que observamos no dia a dia são: Atendimento de vítimas de acidentes automobilísticos; Atropelamentos; Incêndios; Aglomeração de pessoas; Afogamentos; Catástrofes naturais; Acidentes em indústrias; Emergências clínicas, como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral; Ataques epilépticos; Convulsões. Tão importante quanto o próprio atendimento a vítima é providenciar o atendimento especializado, ou seja, entrar em contato com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), o Corpo de Bombeiros ou a Polícia. Não se esquecer deinformaro local correto da ocorrência, o número de vítimas e as condições destas vítimas. FIGURA 1 – PRIMEIROS SOCORROS FONTE: Disponível em: <http://vidasaudavel.powerminas.com/wp-content/uploads/2010/05/Primeiros-socorros- 1.jpg>.Acesso em: 25 ago. 2011. 11 2 ASPECTOS LEGAIS DO ATENDIMENTO DE URGÊNCIA Quando falamos em aspectos legais do atendimento de urgência não podemos deixar de citar o artigo 135 do Código Penal Brasileiro, que trata da omissão de socorro: Art.135:Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, em desamparo ou em grave e iminente perigo; não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública. Pena - detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. Parágrafo único: A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta em morte. Só o fato de chamar o socorro especializado, nos casos em que a pessoa não possui um treinamento específico ou não se sente confiante para atuar, já descaracteriza a ocorrência de omissão de socorro. É importante saber também que a vítima pode se recusar a receber o atendimento, portanto nestes casos o socorrista deve respeitar a vontade da vítima.Quando o paciente é adulto, esse direito existe quando ele estiver consciente e com clareza de pensamento. Essa situação pode ocorrer por vários motivos, tais como crenças religiosas ou até mesmo falta de confiança no socorrista que for realizar o atendimento. Nestes casos, a vítima não pode ser forçada a receber os primeiros socorros, devendo assim certificar-se de que o socorro especializado foi solicitado e continuar monitorando a vítima, enquanto tenta ganhar a sua confiança por meio do diálogo. Caso a vítima não possa falar em decorrência do acidente, como um trauma na boca, por exemplo, mas consegue demonstrar por meio de sinais que não aceita o atendimento, 12 fazendo uma negativa com a cabeça ou empurrando a mão do socorrista, é importante proceder da seguinte forma: Nunca discuta com a vítima; Nunca questione suas razões, principalmente se elas forem baseadas em crenças religiosas; Não toque na vítima, isto poderá ser considerado como violação dos seus direitos; Tente conversar com a vítima, informando a ela que você sabe realizar o atendimento em primeiros socorros, que irá respeitar o direito dela de recusar o atendimento, mas que você é treinado e pode prestar uma assistência de qualidade, enquanto o atendimento médico especializado não chega; É importante que testemunhas provem que o atendimento foi recusado por parte da vítima, portanto você pode reunir os dados destas testemunhas. Quando a vítima for uma criança, a recusa do atendimento pode ser feita pelo pai, pela mãe ou pelo responsável legal. Se a criança é retirada do local do acidente antes da chegada do socorro especializado, o prestador de socorro deverá, se possível, arrolar testemunhas que comprovem o fato. O consentimento da vítima para que se possa realizar o atendimento de primeiros socorros pode ser formal, quando esta fala ou sinaliza que concorda com o atendimento e após o socorrista ter se identificado e informado à vítima de que possui treinamento específico em primeiros socorros. Pode ser tambémimplícitoquando esta vítima estiver inconsciente,confusa ou ferida gravemente, a ponto de não poder falar ou sinalizar consentindo com o atendimento. A legislação nesses casos conclui que a vítima daria o consentimento, caso tivesse condições de expressar o seu desejo de receber o atendimento de primeiros socorros. O consentimento implícito pode ser adotado também nos casos de acidentes 13 envolvendo menores desacompanhados dos pais ou responsáveis legais. Do mesmo modo, a legislação conclui que o consentimento seria dado pelos pais ou responsáveis, caso estivessem presentes no local. 14 3 SINAIS VITAIS Os sinais vitais são indicadores das funções vitais do nosso organismo e podem orientar o diagnóstico inicial e acompanhar a evolução do quadro clínico de uma vítima. São considerados também como os sinais emitidos pelo nosso corpo de que suas funções vitais estão normais e que qualquer alteração indica uma anormalidade. Os sinais vitais são: Pulso; Respiração; Pressão arterial; Temperatura. 3.1 PULSO É a ondulação exercida pela expansão das artérias seguida por uma contração do coração. Nada mais é que a pressão exercida pelo sangue contra a parede arterial em cada batimento cardíaco. O pulso pode ser percebido sempre que uma artéria é comprimida contra um osso. Os locais mais comuns para obtenção do pulso são nas artérias carótida, radial, femoral e braquial. Pode ainda ser verificado por meio da ausculta cardíaca com o auxílio de um estetoscópio e denominamos pulso apical. Na verificação do pulso deve-se observar a sua 15 frequência, ritmo e volume. TABELA 1 – ÍNDICES NORMAIS DE PULSO ÍNDICES NORMAIS DE PULSO Homem 60 a 70 bpm Mulher 65 a 85 bpm Criança 80 a 120 bpm Bebê 100 a 160 bpm 3.2 RESPIRAÇÃO A respiração refere-se à entrada de oxigênio na inspiração e a eliminação de dióxido de carbono pela expiração. É a sucessão rítmica de movimentos de expansão e de retração pulmonar com a finalidade de efetuar trocas gasosas entre a corrente sanguínea e o ar nos pulmões. Para avaliar a respiração devemos verificar seu caráter, se ela é superficial ou profunda, seu ritmo que pode ser regular e irregular e por último sua frequência, ou seja, a quantidade de movimentos respiratórios por minuto. 16 TABELA 2 – ÍNDICES NORMAIS DA RESPIRAÇÃO ÍNDICES NORMAIS DA RESPIRAÇÃO Homem 15 a 20 movimentos respiratórios por minuto Mulher 18 a 20 movimentos respiratórios por minuto Criança 20 a 25 movimentos respiratórios por minuto Lactente 30 a 40 movimentos respiratórios por minuto Outros fatores podem alterar os valores normais da respiração como exercícios físicos, medicamentos, fatores emocionais, portanto, é importante que o socorrista saiba reconhecer estas alterações. São empregados termos específicos para definir as alterações dos padrões respiratórios, tais como: Eupneia: respiração normal, com movimentos regulares, sem dificuldades; Apneia: é a ausência dos movimentos respiratórios; Dispneia: dificuldade na execução dos movimentos respiratórios; Bradipneia: diminuição da frequência respiratória; Taquipneia: aumento da frequência respiratória. 3.3 PRESSÃO ARTERIAL 17 É a força exercida pelo sangue contra a parede interna das artérias quando este é impulsionado pela contração cardíaca. Pode variar de acordo com a idade do paciente, devido ao aumento da atividade física, situações que levam ao estresse e ao medo e por alterações cardíacas. A pressão arterial é influenciada pela força dos batimentos cardíacos e pelo volume circulante. A contração cardíaca é denominada sístole e o relaxamento do coração é denominado diástole. A pressão sistólica é a pressão máxima do coração, enquanto a pressão diastólica é a pressão mínima do coração. FIGURA 2 – PRESSÃO ARTERIAL FONTE:Disponível em:<http://nickmartins.com.br/atualidades/wp-content/uploads/2011/01/perigo-pressao- baixa.jpg>. Acesso em: 16 set. 2011. São empregados termos específicos para definir alterações nos valores anormais da pressão arterial, são eles: 18 Hipertensão: aumento dos níveis da pressão arterial; Hipotensão: redução dos níveis da pressão arterial; Normotenso: são os parâmetros normais da pressão arterial. TABELA 3 – VALOR NORMAL DA PRESSÃO ARTERIAL VALOR NORMAL DA PRESSÃO ARTERIAL 4 anos 85/60 mmHg 6 anos 95 x 62 mmHg 12 anos 108 x 67 mmHg Adulto 120 x 80 mmHg 3.4 TEMPERATURA É o nível de calor que chega a um determinado corpo, ou seja, é a diferença entre o calor perdido e o calor produzido pelo organismo. É influenciada por meios físicos e químicos e seu controle é realizado por meio da estimulação do sistema nervoso central. A temperatura corporal reflete o balanceamento entre o calor produzido e o calor perdido pelo corpo e pode ser verificada nas regiões axilar, oral e retal. É medida por meio do termômetro clínico e possui uma graduação que varia de 34ºC a 42ºC, sendo que raramente o ser humano sobrevive com sua temperatura acima ou abaixo destes parâmetros. 19 FIGURA 3 –TEMPERATURA FONTE:Disponível em:<http://www.atmosferafeminina.com.br/content/user/images/febre_materia.jpg>. Acesso em: 13set. 2011. Veja na tabela abaixo, os parâmetros normais da temperatura corporal em adultos e crianças: TABELA 4 – PARÂMETROS NORMAIS DA TEMPERATURA Pontos de aferição Adulto Criança Oral 37ºC 37,4ºC Retal 37,5ºC 37,8ºC Axilar 36,7ºC 37,2ºC 20 Variações de 0,3ºC a 0,6ºC da temperatura são consideradas normais e pode se elevar em situações como: Infecção. Medo. Ansiedade. São causas da diminuição da temperatura corporal: Exposição ao frio. Estado de choque. Hemorragias. São empregados termos específicos para definir alterações nos valores anormais da temperatura, são eles: Afebril: temperatura corporal normal. Hipotermia: temperatura corporal abaixo do normal. Hipertermia: temperatura corporal acima do normal. 21 4 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR O atendimento pré-hospitalar (APH) é aquele atendimento emergencial prestado a vítimas no ambiente externo ao hospital. Pertence a um dos elos da cadeia de atendimento a vítimas sendo também conhecida como segundo socorro ou resgate. FIGURA 4 – CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA FONTE: Disponível em: <http://www.inem.pt/files/2/multimedias/Thumbnail.axd?WM_FICHEIRO=/files/2/multimedias/2010052409065785283 1.jpg&WM_WIDTH=500&WM_HEIGHT=147>. Acesso em: 13 set. 2011. O atendimento pré-hospitalar é destinado às vítimas de trauma, violência urbana, mal súbito e distúrbios psiquiátricos visando a sua estabilização clínica e remoção para uma unidade hospitalar adequada. Este atendimento é realizado por profissionais de saúde treinados, como socorristas, técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos. No Brasil, os serviços de atendimento pré-hospitalar são realizados por: Corpo de Bombeiros dos estados, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) ou por profissionais treinados de empresas particulares. 22 Os objetivos das manobras de salvamento são retirar a vítima de uma situação hostil, como por exemplo, um incêndio, um ambiente confinado realizando a remoção da mesma para uma área adequada possibilitando o atendimento de suporte básico de vida (SBV) ou do suporte avançado de vida (SAV). Há diversos protocolos e modelos de atendimento pré-hospitalar, onde podemos destacar o Protocolo Norte-Americano e o Protocolo Francês. NoProtocolo Norte-Americano aplica-se o conceito de chegar à vítima no menor tempo possível, realizar manobras essenciais para estabilizá-la e removê-la o mais rápido possível a um hospital adequado.No protocolo Francês adota-se o princípio de ofertar o atendimento médico no local até a estabilização da vítima. Atualmente no Brasil, o sistema adotado é o misto, em que se estabeleceram unidades de suporte básico, que são tripuladas por socorristas treinados em atendimento pré-hospitalar e por unidades de suporte avançado, com a presença domédico. A emergência ocorre quando há uma situação crítica ou algo iminente, com a ocorrência de perigo, ou seja, um incidente ou imprevisto. Considerando a área médica, é uma situação que exige uma intervenção médica imediatamente. A urgência é quando existe uma situação que não pode ser adiada, mas que deve ser resolvida rapidamente, pois se houver uma demora, haverá para a vítima um risco de morte. Na medicina, estas situações necessitam de um tratamento médico com um caráter menor que a emergência, ou seja, menos imediatista. 4.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR Em 1792, houve a primeira tentativa de organização de auxílio médico de urgência, realizada pelo médico cirurgião Dominique Larrey. Esses cuidados eram realizados com vítimas de guerras no período de Napoleão, ainda no campo de batalha, com o objetivo de prevenir 23 complicações. Com base nessas informações podemos considerar que as guerras contribuíram de forma benéfica para o desenvolvimento do atendimento pré-hospitalar. Na prática civil, os médicos demoraram a se mobilizar, mesmo com o aumento crescente e progressivo das perdas de vidas humanas por traumas originados de acidentes automobilísticos. Essa demora fez com que as autoridades sanitárias delegassem essas atividades aos profissionais responsáveis pelos resgates, principalmente os soldados do Corpo de Bombeiros. Em 1955, na França, foram criadas as primeiras equipes móveis de reanimação, com a obrigação inicial de prestar assistência médica a vítimas de acidentes de trânsito e a manutenção da vida das vítimas submetidas a transferências entre as unidades hospitalares. O SAMU francês iniciou-se por volta da década de 60, quando os médicos começaram a detectar que havia uma desproporção considerável entre os meios disponíveis para tratar vítimas nos hospitais e os meios ultrapassados que eram utilizados no atendimento pré- hospitalar. Dessa forma, constatou-se a necessidade da realização de um treinamento específico para as equipes de resgate e a importância da presença e atuação do médico no local da ocorrência, com o objetivo de aumentar as chances de sobrevivência das vítimas, iniciando imediatamente os cuidados básico e avançado, restaurando a ventilação, respiração e circulação das vítimas. No ano de 1965, foram criados oficialmente os Serviços Móveis de Urgência e Emergência (SMUR) e, em 1968, foi criado o SAMU com o objetivo de controlar as atividades do SMUR. No Brasil, o SAMU teve início por meio de um acordo assinado entre os governos brasileiro e francês, por meio de uma solicitação do Ministério da Saúde, quando se optou pelo modelo de atendimento francês, em que as viaturas de suporte avançado possuem obrigatoriamente a participação do médico, diferente do modelo americano em que as atividades de resgate são exercidas primariamente por paramédicos. 24 4.2 NORMATIZAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DO SAMU O Atendimento Pré-Hospitalar no Brasil surgiu sem muito sucesso, mas hoje é considerado um serviço primordial e tem demonstrado importantes resultados para a sociedade. A Portaria nº 2048/MS, em 5 de novembro de 2002, normatiza a implantação do SAMU e considera que a área de Urgência e Emergência constitui-se em um importante componente da assistência à saúde. E, de acordo com o § 2º, este regulamento é de caráter nacional, devendo ser utilizado pelas Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios na implantação dos Sistemas Estaduais de Urgência e Emergência, com ou sem vínculo com a prestação de serviços aos usuários do Sistema Único de Saúde. FIGURA 5 – VIATURA DO SAMU FONTE: Disponível em: <http://www.esmeraldanoticias.com.br/wp-content/uploads/2011/06/samu.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011. 25 Como descreve a Portaria citada acima, a área de urgência e emergência constitui-se em um importante componente da assistência à saúde. A expansão de serviços nesta área nos últimos anos tem contribuído decisivamente para a sobrecarga dos serviços de urgência e emergência disponibilizados para o atendimento da população, conforme ressalta o Ministério da Saúde. O Ministério da Saúde, ciente dos problemas existentes e em parcerias com as Secretarias de Saúde dos estados e municípios, tem contribuído para reversão deste quadro amplamente desfavorável à assistência da população. O sistema estadual de urgência e emergência deve se estruturar a partir da leitura ordenada das necessidades sociais em saúde e sob o imperativo das necessidades humanas nas urgências. O diagnóstico dessas necessidades deve ser feito a partir da observação e da avaliação dos territórios sociais com seus diferentes grupos humanos, da utilização de dados de morbidade e mortalidade disponíveis e da observação das doenças emergentes. Para sanar a necessidade do atendimento emergencial foi implantado pelo governo federal o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU-192), um serviço de socorro pré-hospitalar móvel que chega rapidamente às pessoas, em qualquer lugar para atender qualquer problema de saúde urgente que possa levar ao sofrimento ou até mesmo à morte. São feitos atendimentos por equipes de profissionais de saúde, que recebem as chamadas gratuitas, feitas pelo telefone, e como resposta envia uma ambulância, com técnico de enfermagem ou com enfermeiro e médico, ou mesmo uma simples orientação. O Ministério da Saúde considera como nível pré-hospitalar, na área de urgência e emergência, aquele atendimento que procura chegar à vítima nos primeiros minutos. Após ter ocorrido o agravo à saúde, agravo este que possa levar à deficiência física ou mesmo à morte, sendo necessário, portanto, prestar-lhe atendimento adequado e transporte a um hospital devidamente hierarquizado e integrado ao Sistema Único de Saúde. A equipe de atendimento pré-hospitalar realiza os seguintes procedimentos: Reanimação cardiorrespiratória; Oxigenoterapia; Contenção de hemorragias; Imobilizações; Intubação orotraqueal; Punção venosa com reposição de volume e medicação; Transporte de pacientes. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) deve ser composto por uma equipe 26 multiprofissional oriundos da área de saúde, sendo o coordenador do serviço, responsável técnico um médico, o responsável de enfermagem um enfermeiro, médicos reguladores, médicos intervencionistas, enfermeiros assistenciais, auxiliares e técnicos de enfermagem. Além dessa equipe de saúde, em situações de atendimento às urgências relacionadas com as causas externas ou de pacientes em locais de difícil acesso, deverá haver uma ação integrada com outros profissionais, com bombeiros militares, policiais militares e rodoviários e outros. Essa equipe deve trabalhar em conjunto, em busca de um só objetivo, ou seja, o atendimento sistematizado, dinâmico e com qualidade ao cliente e asua família. A portaria 824/99, adaptada pelo Ministério da Saúde, define que o sistema de atendimento pré-hospitalar é um serviço médico, sua coordenação, regulação e supervisão direta é a distância e deve ser efetuada unicamente por médico, tem na Central de Regulação Médica o elemento ordenado e orientador da atenção pré-hospitalar, sendo o médico regulador o responsável pela decisão técnica em torno dos pedidos de socorro e decisão gestora dos meios disponíveis. Diversos pontos de interesse no atendimento pré-hospitalar são discutidos por organizações médicas, como por exemplo, a SociedadeBrasileira de Cardiologia, que desde julho de 1999 define as “Diretrizes sobre o Tratamento de Infarto Agudo do Miocárdio”. E, ainda, aborda em parte o atendimento pré-hospitalar no infarto agudo do miocárdio, demonstrando que um melhor preparo das equipes de atendimento pré-hospitalar, a eficiência dos treinamentos, o uso de algumas drogas, a assistência via telefonia, colocação rápida da ambulância junto à vítima e a conscientização da população possivelmente reduzirão os números de óbito por mal súbito. 4.3 O SOCORRISTA O socorrista é uma pessoa que foi treinada para prestar o primeiro atendimento e auxiliar os profissionais do atendimento pré-hospitalar, no local da emergência. 27 FIGURA 6 – SOCORRISTA FONTE: Disponível em: <http://www.fiocruz.br/ccs/media/cpqam_samu2.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011. É geralmente a primeira pessoa treinada a entrar em contato com o paciente. Nos Estados Unidos foi criado um programa de treinamento de socorristas, onde centenas de pessoas completaram os cursos formais e auxiliam na assistência às emergências e à manutenção da vida. Em quase todas as regiões dos EUA, os socorristas tornaram-se parte importante do sistema de saúde e os cuidados, por eles prestados, reduziram o sofrimento, diminuíram sequelas adicionais e salvaram muitas vidas. No Brasil, existem diversos cursos de primeiros socorros para treinamento de socorristas, realizados tanto por instituições privadas quanto públicas. 4.3.1 Atribuições e Responsabilidades dos Socorristas 28 A primeira atribuição do socorrista, no local da emergência, é com relação à segurança pessoal. O desejo de ajudar as pessoas que têm necessidade de atendimento pode favorecer o esquecimento dos riscos no local. O socorrista deve ter segurança ao aproximar-se da vítima e permanecer em segurança enquanto presta o atendimento. Parte das preocupações do socorrista com a sua segurança pessoal está relacionada com a própria proteção contra as doenças infecciosas. Ao avaliar ou prestar atendimento a vítimas, deve evitar contato direto com o sangue do paciente, fluidos corpóreos, mucosas, ferimentos e queimaduras. O socorrista tem quatro deveres relacionados aos pacientes, que devem ser cumpridos no local da emergência. Estes deveres são: Ter acesso ao paciente, com segurança e utilizando instrumentos manuais, quando necessário; Identificar o que está errado com o paciente e providenciar a assistência de emergência necessária; Elevar ou mobilizar o paciente apenas quando for preciso e realizar tal procedimento sem ocasionar lesões adicionais; Transferir o paciente e as informações pertinentes para os profissionais do serviço de emergência. As responsabilidades do socorrista no local da emergência incluem o cumprimento das seguintes atividades: Controlar o local do acidente de modo a proteger a si mesmo, ao paciente e prevenir outros acidentes; Ter certeza de que a central do sistema de emergência foi notificada, permitindo a chegada dos profissionais no local da ocorrência, com o menor tempo possível; Identificar o que está errado com o paciente, utilizando-se das informações obtidas 29 no local e pelo exame físico do paciente; Fazer o melhor possível, dentro de sua capacidade; Obter ajuda do pessoal presente no local da emergência e controlar suas atividades; Transferir as informações pertinentes, sobre a ocorrência, para os profissionais do serviço de emergência; Auxiliar os profissionais do serviço de emergência no local da ocorrência e trabalhar segundo sua orientação. 30 5 AVALIAÇÃO DA CENA Devemos sempre avaliar a cena de um acidente, pois assim a abordagem da vítima poderá ser mais eficiente e segura para quem está prestando o socorro, e com isso a vítima terá um atendimento satisfatório. Esse procedimento pode muitas vezes salvar vidas. No primeiro momento,o socorrista deverá ter ideia do contexto geral da situação, pois apenas com uma pré-avaliação do local é que ele pode conhecer o tipo de vítima com que está lidando. O socorrista na sua pré-avaliação deverá classificar a cena de forma simples em: Emergência clínica: Infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, mal súbito ou outras afecções clínicas. Trauma: Acidentes automobilísticos, fraturas, quedas, queimaduras, etc. FIGURA 7 – AVALIANDO A CENA FONTE: Disponível em: <http://rmtonline.globo.com/banco_imagens_novo/noticias/%7B0485B56F-CCBB-4212- 8698-25859A854E69%7D_acidente_Chapada_carro_600.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011. 31 A avaliação da cena também é importante para que o socorrista possa dimensionar os riscos potenciais existentes na cena, prevenindo assim que a pessoa que for realizar o primeiro atendimento não se torne mais uma vítima da ocorrência. Cinco etapas na fase de avaliação da cena devem ser verificadas, com o objetivo de diminuir os riscos e promover um socorro eficiente até a chegada do socorro especializado.São elas: Segurança: É necessário avaliar se a cena é segura para que as vítimas possam ser abordadas, e assim procurar tornar o ambiente adequado para o atendimento. Por exemplo, no caso de acidentes automobilísticos, deve-se sinalizar o local evitando assim que ocorra um atropelamento da equipe de resgate. Cinemática: Verificar como o acidente ocorreu ou no caso de uma emergência clínica verificar o que aconteceu com a vítima, perguntando a ela, se estiver plenamente consciente, ou a pessoas próximas que testemunharam o mal súbito. Caso não consiga colher essas informações iniciais deve-se adotar procedimentos de primeiros socorros. Bioproteção: Devemos evitar possíveis infecções por meio do contato direto com os fluidos corporais das vítimas, usando equipamentos de proteção individual, como por exemplo, luvas de procedimentos e máscaras. Se não existem equipamentos de proteção individual, devemos abortar os primeiros socorros, realizando apenas procedimentos seguros. Apoio: Devemos procurar auxílio de pessoas próximas da cena, para que estas possamajudarna organização do espaço necessário para o atendimento a vítimas, chamando o socorro médico especializado, orientando o trânsito de veículos, mantendo a ordem e a calma entre as outras pessoas. Se não houver pessoas por 32 perto, o atendimento deve serrealizadocom o máximo de agilidade e tranquilidade. Triagem: Realizada com o objetivo de calcular a quantidade de vítimas envolvidas na ocorrência e o estado clínico de cada uma. O dimensionamento da cena poderá ser iniciado mesmo antes da chegada da equipe de resgate no local da ocorrência. Os socorristas poderão antecipar as prováveis condições da vítima por meio das informações repassadas pelocentro de comunicações. É importante que seja repassada à equipe de resgate informações como: A localização exata da emergência; A natureza da emergência; O número de pessoas envolvidas; A existência de perigos no local da ocorrência. Após identificar os perigos potenciais do local, o socorrista deverá iniciar o gerenciamento dos riscos presentes e o controle destes riscos. Esta tarefa inclui medidas já comentadas anteriormente, mas que são muito importantes, tais como:sinalização do local, isolamento, estabilização de veículos, controle de tráfego, desligamento de cabos elétricos energizados, desligamento de motores automotivos, desativação de sistemas de air bags, remoção de vítimas em situação de risco iminente, entre outros. É importante que o socorrista seja capaz de estabelecer uma associação entre o cenário do acidente e o padrão de lesões produzidas por ele. A capacidade de avaliar o cenário de um acidente, identificando os mecanismos físicos ou asforças que atuaram na produção de lesões, constitui uma habilidade importante para qualquer socorrista, pois propiciará que ele identifique lesões potenciais, associadas ao padrão de transferência de energia em determinadas situações, mesmo que a vítima não apresente sinais externos evidentes de trauma. Para isso, o socorrista deverá conhecer os conceitos básicos da mecânica aplicada ao trauma, ou seja, do processo de avaliação da cena de um acidente para determinar as lesões 33 que provavelmente estão presentes, com base na força e no movimento envolvido no trauma. FIGURA 8 – AVALIAÇÃO DA CENA FONTE: Disponível em: <http://www.servesisma.com.br/resg.JPG>. Acesso em: 13 set. 2011. 34 6 CINEMÁTICA DO TRAUMA A equipe de resgate que atende uma vítima politraumatizada deve ter dois tipos de lesões em mente quando se deparar com a ocorrência. O primeiro tipo de lesão é aquele identificado facilmente no exame físico, permitindo tratamento precoce, como por exemplo, uma hemorragia externa, uma fratura exposta. O segundo tipo de lesão é aquele identificado como potencial, ou seja, não identificado facilmente no exame físico, mas pode estar presente pelo mecanismo de trauma sofrido pelo paciente. Dependendo do grau de suspeita destas lesões pela equipe de resgate, danos menos aparentes podem passar despercebidos, sendo tratados tardiamente, e trazendo problemas graves e por muitas vezes irreversíveis à vítima. Deste modo, ressalta-se a importância de se conhecer a história do acidente. Quando bem acurada e interpretada pela equipe, tem-se a suspeita de mais de 90% das lesões antes de ter contato direto com o paciente. Podemos dizer que a história no trauma divide-se em três fases: Pré-impacto: São aqueles eventos que precedem o acidente, tais como ingestão de álcool e/ou drogas, doenças preexistentes da vítima ou idade. Estes dados terão influência significativa no resultado final da ocorrência. Impacto: Avalia-se o tipo de evento traumático, como por exemplo, um acidente automobilístico, atropelamento, queda ou perfuração por arma de fogo ou arma branca. Deve-se estimar a quantidade de energia trocada, ou seja, a velocidade do veículo, a altura da queda ou o calibre da arma. Pós-impacto: Essa fase inicia-se após a vítima ter absorvido a energia do impacto. As informações levantadas nas fases de pré-impacto e impacto são utilizadas para conduzir as ações pré-hospitalares na fase de pós-impacto. A ameaça à vida pode ser rápida ou lenta, dependendo em parte das ações tomadas nesta fase pela 35 equipe de resgate. Por exemplo, as informações coletadas pela equipe de resgate a respeito dos danos externos e internos de um veículo constituem-se em pistas para as lesões sofridas pelos seus ocupantes. Com esta análise, a identificação das lesões de difícil diagnóstico ou aquelas ocultas são facilitadas, permitindo tratamento mais precoce reduzindo-se a morbimortalidade das vítimas. Algumas observações são muito comuns, são fáceis de ser identificadas, tais como: Deformidades do volante de direção: Sugere um trauma torácico. FIGURA 9 – TRAUMA TORÁCICO FONTE: Disponível em: <http://www.tecnocaronline.com.br/img/dicas_feriado-02.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011. Quebra com abaulamento circular do para-brisa: Indica o impacto da cabeça, o que 36 sugere lesão cervical e craniana. FIGURA 10 – TRAUMATISMO CRANIANO FONTE: Disponível em: <http://a5.sphotos.ak.fbcdn.net/hphotos- aksnc1/6215_106329806877_53662206877_2056170_1867475_n.jpg. Acesso em: 13 set. 2011. Deformidades baixas do painel do carro: Sugere luxação do joelho, quadril ou fratura de fêmur. FIGURA 11 – LUXAÇÃO DO JOELHO, QUADRIL OU FRATURA DE FÊMUR FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_FO02u2K5S5Q/SjAK- 8C2fVI/AAAAAAAAAHE/ei7_Vf6jENE/s1600/painel+II.001.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011. 37 6.1 ENERGIA E LEIS FÍSICAS Para que possamos entender e interpretar as informações obtidas na cena do acidente faz-se necessário considerar algumas leis da física, como por exemplo, a primeira Lei de Newton, que diz que um corpo em movimento ou em repouso tende a ficar neste estado até que uma energia externa atue sobre ele. Um corpo em movimento, sendo este movimento retilíneo e uniforme, irá continuar no seu movimento, com a mesma velocidade, até que haja uma força que o faça alterar o seu movimento. Ainda com relação a esta lei podemos acrescentar que a tendência que um objeto tem para resistir a alterações no seu movimento chama-se inércia e que a massa é a propriedade do corpo que nos vai permitir especificar qual é a resistência que este oferece à alteração de seu movimento. É nesta lei que se baseia o princípio dos cintos de segurança, para evitar que num acidente os passageiros sejam projetados para fora do veículo devido à inércia. FIGURA 12 – LEI DA INÉRCIA FONTE: Disponível em: <http://fikolars.pbworks.com/f/colisao_cinto.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011. 38 A Lei da conservação da energia afirma que a energia não é criada ou destruída, mas sim, pode mudar de forma. As formas mais comuns são: Mecânica; Térmica; Elétrica; Química. A energia cinética é igual à massa multiplicada pelo quadrado da velocidade, dividido por dois. FIGURA 13 – FÓRMULA DA ENERGIA CINÉTICA FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_DASlMWE- Pxw/TFYD_hIUfHI/AAAAAAAAACs/FHE7UpAtcKQ/s320/cin%C3%A9tica+1.png>. Acesso em: 13 set. 2011. Portanto, a velocidade é o fator gerador de energia cinética mais importanteque a massa, ou seja,a energia trocada em um acidente em alta velocidade é muito maior do que uma em baixa velocidade. Já a diferença da massa dos ocupantes do veículo pouco interfere na energia de colisão. Uma força é igual ao produto da massa pela sua aceleração ou desaceleração. 39 Outro fator que devemos considerar em um acidente é a distância de parada, pois antes da colisão, o veículo e o passageiro viajam numa mesma velocidade. Durante o impacto, os dois sofrem uma brusca desaceleração e chegam até a parar. Portanto, quanto maior a distância de parada, menor será a força de desaceleração sobre o veículo e seus passageiros. A compressibilidade do material também exerce influência na distância de parada e consequentemente na força de desaceleração sofrida pelo veículo. Assim que ocorre a compressão do material, há um aumento na distância de parada, absorvendo parte da energia, impedindo que o corpo absorva toda a energia, diminuindo as lesões no mesmo. FIGURA 14 – COMPRESSIBILIDADE FONTE: Disponível em: <http://pitstopbrasil.files.wordpress.com/2009/09/bel-air_malibu_7_640x408.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011. 6.2 CAVITAÇÃO É o deslocamento violento dos tecidos do corpo humano para longe do local do 40 impacto, devido à transmissão de energia. Este rápido movimento de fuga dos tecidos a partir da região do impacto leva a uma lesão por compressão tecidual e também a distância, pela expansão da cavidade e estiramento dos tecidos. Este fenômeno gera dois tipos de cavidades ou deformações, são elas: Cavidade temporária: São formadas no momento do impacto, sendo que os tecidos retornam a sua posição prévia após o impacto. A cavidade temporária pode ser encontrada em traumas fechados e em traumas penetrantes, como por exemplo, ferimento por arma de fogo. Por ser uma cavidade temporária, essa não está visível quando o socorrista examina a vítima, portanto, avaliar as energias envolvidas no evento e correlacionar com possíveis lesões são passos fundamentais na avaliação da biomecânica. FIGURA 15 – CAVIDADE TEMPORÁRIA FONTE: Disponível em: <http://0.tqn.com/f/p/440/graphics/images/en/15818.jpg>.Acesso em: 13 set. 2011. 41 Cavidade permanente: São causadas pelo impacto e compressão dos tecidos e podem ser vistas após o trauma. A diferença básica entre os dois tipos de cavidades é a elasticidade dos tecidos envolvidos. Quando um motoqueiro bate sua cabeça contra um obstáculogeram-se múltiplas fraturas de crânio, não permitindo o retorno dos ossos às suas posições originais, causando um afundamento de crânio. Isto forma uma cavidade permanente que é facilmente identificável no exame. FIGURA 16 – CAVIDADE PERMANENTE FONTE: Disponível em: <http://www.chuckhawks.com/energy_transfer_12ga.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011. 6.3 TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA Transferência de energia é a modificação do tipo de energia, como por exemplo, a fricção (energia mecânica) contra algum objeto gera calor (energia térmica), ou também apenas 42 a transferência de energia para um corpo diferente, por meio da primeira lei de Newton. Para avaliarmos melhor a transferência de energia, temos que estudar dois fatores que influenciam em sua transferência, a densidade e a área de superfície. 6.3.1 Densidade Quanto mais denso o tecido, maior o número de partículas atingidas, portanto, poderemos encontrar lesões mais extensas. Quanto menor a densidade do tecido, menor o número de partículas atingidas, mas isso não representa diretamente lesões menos extensas, mas menos aparentes. Podemos encontrar tecidos pouco densos, mas com lesões graves, entretanto, com apresentações diferentes. 6.3.2 Área de superfície Quando há transferência de energia, tanto para um tecido muito denso quanto para um tecido pouco denso, a área de superfície de impacto é determinante para o tamanho da lesão, contudo, não existirá influência direta na gravidade da lesão. Por exemplo, um ferimento proveniente de uma lâmina em que sua área de contato com a pele não é muito grande. No entanto, a trajetória da lâmina pode lesionar grandes vasos, ocasionando ferimentos com risco de morte. 43 O conhecimento da ocorrência da transferência de energia e de suas variáveis pela equipe de resgate tem grande importância prática. Isto pode ser confirmado quando se compara duas equipes que atendem um motorista que se chocou violentamente contra o volante. A que conhece cinemática do trauma, mesmo não reconhecendo lesões externas, saberá que ocorreu uma cavitação temporária e uma grande desaceleração suspeitando de lesões de órgãos intratorácicos. Com isso, a conduta será mais agressiva, minimizando a morbimortalidade dos pacientes. Já a equipe que não possui estes conhecimentos, não suspeitará de lesões de órgãos intratorácicos, retardando o diagnóstico e conduta das mesmas, influenciando diretamente na sobrevida dos pacientes. 44 7 AVALIAÇÃO PRIMÁRIA O exame primário tem por objetivo identificar e manejar situações que ameaçam a vida desta vítima. Ele é realizado sem movimentar a vítima da sua posição inicial, com exceção dos casos em que haja necessidade de intervir em alguns passos, como por exemplo, na desobstrução das vias aéreas. Para avaliar o nível de consciência devemos chamar a vítima ou dando-lhe um comando vigoroso, em voz alta, tocando-a pelos ombros com cuidado, dizer: "ei, você está bem?", "o que aconteceu?" ou "abra seus olhos!". Se a vítima responder, emitindo som, gemido, pronunciando palavras ou obedecendo ao comando, significa que as vias aéreas estão livres, a respiração e circulação estão presentes. FIGURA 17 – AVALIANDO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_OFTzR8CWOqI/S_wWr4vQ- _I/AAAAAAAAAEE/kQDHbwA66kc/s1600/10.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011. Caso não responda, evidenciando a inconsciência, é necessário solicitar AJUDA de um serviçode atendimento móvel de urgência (SAMU) e um Desfibrilador Externo Automático (DEA). 45 FIGURA 18 – DESFIBRILADOR EXTERNO AUTOMÁTICO FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_Ug0eQeQQUS0/Sp2YTQW1TaI/AAAAAAAAAGo/QvhKlAahETQ/s320/500T.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011. O momento do pedido de ajuda dependerá do tipo de ocorrência, quando o socorrista estiver sozinho. Em caso desubmersão ou afogamento, trauma, overdose de drogas e parada respiratória, o socorrista deve iniciar os procedimentos de ressuscitação durante dois minutos antes de solicitar ajuda. Excetuando-se os casos citados acima, o socorrista deve chamar ajuda imediatamente. Os números de telefone utilizados são: 193: Serviço de Resgatedo Corpo de Bombeiros; 192: Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Após a avaliação do nível de consciência, ésempre realizado um processo que segue uma sequência fixa e padronizada, sendo que o socorrista só pode passar para o passo seguinte 46 após a completa resolução do passo anterior. Na prática, alguns passos podem ser avaliados simultaneamente. A sequência padronizada no exame primário é a seguinte: C- Circulação; A- Vias aéreas com controle da coluna cervical; B- Respiração; D- Avaliação neurológica; E- Exposição da vítima. 7.1 CIRCULAÇÃO Definimos por circulação artificial a compressão torácica externa, ou seja, a massagem cardíaca. A reanimação cardiopulmonar deverá ser realizada logo que o socorrista identificar que a vítima não apresenta pulso, caracterizando assim a parada cardíaca. Quando realizada a avaliação primária, a abordagem busca sinais, entre estes, a frequência cardíaca denota a parada cardíaca. Em um adulto, é feita pela constatação da ausência de pulso na artéria carótida ou, na artéria femoral associada à perda de consciência e a outros sinais periféricos, como palidez, cianose e pele pegajosa. 47 FIGURA 19 – VERIFICANDO PULSO NA REGIÃO DO PESCOÇO FONTE: Disponível em:<http://www.coracaosaudavel.com/images/abcressu05.jpg>. Acesso em: 13 set. 2011. A verificação do pulso não deve ultrapassar mais do que cinco ou dez segundos pela possibilidade dele ser lento, pela sua irregularidade ou por sua amplitude reduzida. Se existe pulso, porém a respiração é ausente, após as duas ventilações iniciais, elas devem ser continuadas na frequência de uma ventilação a cada cinco segundos. Se caracterizada a parada cardíaca, deve-se imediatamente chamar por auxílio de "socorro especializado" sem abandono da vítima e prontamente iniciar a compressão torácica externa. O paciente deve estar em decúbito dorsal horizontal, apoiado numa superfície rígida como o solo, uma tábua ou uma bandeja de servir de tamanho apropriado, interposta entre o doente e o leito. 48 FIGURA 20 – LOCAL CORRETO PARA REALIZAÇÃO DA MASSAGEM CARDÍACA FONTE: Disponível em:<http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/prisocorros.htm> Acesso em: 13 set. 2011. O socorrista posiciona a vítima em decúbito dorsal (deitada de costas); Encontre a posição na metade inferior do esterno, entre os mamilos; Coloque a palma de uma mão (com os dedos estendidos) sobre esse local; Coloque a palma da outra mão (com os dedos estendidos) em cima da primeira. FIGURA 21– POSIÇÃO DAS MÃOS PARA REALIZAÇÃO DA MASSAGEM CARDÍACA FONTE: Disponível em:<http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/prisocorros.htm>.Acesso em: 13 set. 2011. http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/prisocorros.htm http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/prisocorros.htm 49 Posicione seu corpo diretamente sobre suas mãos. Os ombros devem ficar “olhando” para as mãos; Inicie as compressões; Pelo menos trinta compressões para cada duas ventilações; Realize o ciclo de compressões e ventilações por pelo menos cinco ciclos ininterruptos ou até que o resgate especializado chegue ao local do atendimento. FIGURA 22– MASSAGEM CARDÍACA FONTE:Disponível em:<http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/prisocorros.htm>. Acesso em: 13 set. 2011. Os braços do socorrista devem permanecer em extensão com as articulações dos cotovelos fixas, transmitindo ao esterno da vítima a pressão exercida pelo peso dos seus ombros e tronco, reduzindo a fadiga. A pressão aplicada deve ser suficiente para deprimir o esterno em de cinco centímetros no adulto. Ao realizar as compressões elas deverão ser rítmicas e regulares, seguindo-se imediatamente o relaxamento de igual duração, aliviando totalmente a pressão, permitindo ao http://portal.ua.pt/projectos/mermaid/prisocorros.htm 50 tórax retornar a sua posição normal, sem, entretanto, retirar as mãos. Tal movimento permite o enchimento das câmaras cardíacas para redistribuição do sangue pelo organismo, atingindo enfim as perspectivas das manobras de RCP. A sequência destas manobras não deve ser interrompida. A respiração artificial e a massagem cardíaca externa devem ser associadas, para uma reanimação efetiva. Caso atenda sozinho à vítima, serão trinta compressões para cada duas ventilações. Em dois socorristas a ideia é a mesma, mas não há a necessidade de parar a massagem para realizar as ventilações. Após quatro ou cinco ciclos de compressão e ventilação, que deve durar aproximadamente um minuto, aconselha-se a reavaliação de presença de pulso e de respiração espontânea, repetindo-se as reavaliações a cada três minutos. Durante a parada cardíaca, a massagem cardíaca realizada de modo apropriado pode produzir uma onda de pressão sistólica próximo a 100 mmHg, entretanto, a pressão diastólica é ao redor de zero, resultando, assim, uma pressão média de 40mmHg que irá representar a pressão de perfusão em grandes vasos, ou seja, 1/3 a 1/4 do normal. Essa situação de fluxo em nível crítico impõe ao socorrista uma eficiência e exige uma constância nas compressões. 7.2 VIAS AÉREAS COM CONTROLE DA COLUNA CERVICAL A causa mais comum de obstrução de vias aéreas em pacientes inconscientes é o relaxamento da musculatura da língua, que se projeta para o fundo da garganta ou orofaringe impedindo a passagem de ar nas vias aéreas superiores e inferiores. Para restabelecer a permeabilidade das vias aéreas superiores, devemos simplesmente remover corpos estranhos ou realizar a elevação da mandíbula. A possibilidade de 51 lesão na coluna cervical deve ser sempre considerada, portanto, movimentos bruscos, excessivos ou aplicados com uma força desproporcional poderá causar lesões neurológicas irreversíveis na coluna cervical, como por exemplo, uma tetraplegia. A cabeça e o pescoço da vítima nunca devem ser hiperestendidos ou mesmo fletidos para manter ou estabelecer uma via aérea permeável. Para que possamos verificar se esta via aérea não está obstruída devemos solicitar à vítima que ela fale. Caso a vítima não consiga falar, observamos que esta vítima possui uma alteração do nível de consciência. Caso a vítima atenda a solicitação, podemos considerar que esta via aérea está livre, com a ventilação e perfusão cerebral mantidas, devido à passagem de ar por esta via aérea. Se a vítima apresentar rouquidão ou falta de voz significa que deve haver um comprometimento das vias aéreas superiores, ou seja, uma obstrução.Avaliar e controlar as vias aéreas são condutas rápidas e simples, não necessitando inicialmente de nenhum equipamento, portanto estas técnicas manuais de desobstrução e controle ou estabilização da coluna cervical não devem ser retardadas a espera do socorro especializado. A obstrução das vias aéreas pode ser causada por: Objetos sólidos; Queda da língua; Líquidos. Os principais sintomas apresentados pela vítima com obstrução das vias aéreas são: Tosse; Respiração ruidosa; Movimentos respiratórios alterados; Cianose (extremidades roxas). Para realizarmos o controle das vias aéreas podemos realizar as seguintes técnicas: 52 Manobra tríplice ou elevação da mandíbula. FIGURA 23– ELEVAÇÃO DA MANDÍBULA FONTE: Disponível em:<http://www.sbp.com.br/img/cursos/curso_suporte/fig02-05.gif>. Acesso em: Acesso em: 13 set. 2011. Manobra de tração da mandíbula. 53 FIGURA 24 – TRAÇÃO DA MANDÍBULA FONTE: Disponível em:<http://www.concursoefisioterapia.com/2010/02/manobra-de-tracao-de-mandibula-jaw.html >. Acesso em: Acesso em: 13 set. 2011. Inserção de uma cânula orofaríngea. FIGURA 25 – INSERÇÃO DA CÂNULA DE GUEDEL FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_P- MzoBY5JIc/S1djluYhWBI/AAAAAAAAAsk/lI3bPhqETck/s400/canula+guedel.JPG>. Acesso em: 13 set. 2011. http://1.bp.blogspot.com/_P-MzoBY5JIc/S1djluYhWBI/AAAAAAAAAsk/lI3bPhqETck/s400/canula+guedel.JPG http://1.bp.blogspot.com/_P-MzoBY5JIc/S1djluYhWBI/AAAAAAAAAsk/lI3bPhqETck/s400/canula+guedel.JPG http://3.bp.blogspot.com/_P-MzoBY5JIc/S1derfSM0nI/AAAAAAAAAsE/saaRILhCjCM/s1600-h/tra%C3%A7%C3%A3o+mandibula 54 Uma vez realizado o controle ou a estabilização da coluna cervical, não podemos em hipótese alguma liberá-la, até que esta seja imobilizada definitivamente com o colar cervical ou com outro dispositivo que evite o movimento tanto lateral, como de flexão da cabeça. 7.3 DESOBSTRUÇÃO DAS VIAS AÉREAS O reconhecimento rápido da obstrução das vias aéreas determinará se esta vítima será socorrida rapidamente ou se ela evoluirá para o óbito. A obstrução poderá ser parcial, quando não há a completa interrupção do fluxo de ar, ou total, quando há uma completa interrupção do fluxo de ar das vias aéreas superiores para as vias aéreas inferiores, estabelecendo assim, as trocas gasosas. A troca ineficiente de ar é indicada pela presença de: Tosse ineficaz e fraca; Ruídos respiratórios gementes ou estridentes; Dificuldade respiratória; Cianose. Os métodos de desobstrução das vias aéreas variam de acordo com o tipo de objeto que está causando a obstrução. Caso a vítima apresente uma obstrução das vias aéreas por sólidos, devemos realizar: Remoção manual do objeto; Compressões torácicas. Caso ocorra a obstrução por líquidos, devemos realizar: 55 Aspiração das vias aéreas; Rolamento 90º para que o líquido seja retirado pela boca evitando assim sua aspiração para os pulmões. 7.4 MANOBRA DE HEIMLICH A manobra de Heimlich é o melhor método pré-hospitalar de desobstrução das vias aéreas superiores por um corpo estranho. Esta manobra foi descrita pela primeira vez pelo médico Henry Heimlich, em 1974, que induz uma tosse artificial, que vai expelir o objeto da traqueia da vítima. Uma pessoa sozinha consegue realizar a técnica correta e desobstruir a via aérea, posicionando suas mãos na região abdominal e exercendo uma pressão sobre o final do diafragma, comprimindo indiretamente a base dos pulmões e expelindo o objeto causador da obstrução. As compressões abdominais devem ser realizadas da seguinte forma: Vítima em pé: Ficar atrás da vítima; 56 FIGURA 26 – MANOBRA DE HEIMLICH FONTE: Disponível em: <http://www.lxjovem.pt/index.php?id_tema=473>. Acesso em: 13 set. 2011. Posicionar uma de suas pernas entre as pernas da vítima, servindo de base caso ela desmaie; Colocar o braço em volta da cintura da mesma; FIGURA 27– POSIÇÃO DAS MÃOS FONTE: Disponível em: <http://www.lxjovem.pt/index.php?id_tema=473>. Acesso em: 13 set. 2011. http://www.lxjovem.pt/index.php?id_tema=473 http://www.lxjovem.pt/index.php?id_tema=473 57 Fechar uma mão e colocar o lado do polegar contra o abdômen da vítima entre a cicatriz umbilical e o apêndice xifoide; FIGURA 28– POSIÇÃO DAS MÃOS FONTE: Disponível em: <http://www.lxjovem.pt/index.php?id_tema=473>. Acesso em: 13 set. 2011. Com a outra mão envolver amão fechada e pressionar o abdômen da vítima; FIGURA 29– POSIÇÃO DAS MÃOS FONTE: Disponível em: <http://www.lxjovem.pt/index.php?id_tema=473>. Acesso em: 13 set. 2011. http://www.lxjovem.pt/index.php?id_tema=473 http://www.lxjovem.pt/index.php?id_tema=473 58 Puxar ambas as mãos em sua direção, com um rápido empurrão para cima e para dentro, comprimindo a parte superior do abdômen com a base do pulmão, expulsando o ar e movimentando o objeto causador da obstrução; Realizar cinco vezes a manobra com uma compressão firme e vigorosa, suficiente para movimentar o objeto e desobstruir as vias aéreas; Caso a vítima fique inconsciente, a manobra deverá ser interrompida e deve-se iniciar a reanimação cardiorrespiratória. Se a vítima estiver deitada ou inconsciente: A vítima deve ser colocada em decúbito dorsal, ou seja, com as costas no chão; Ajoelhar-se por cima da coxa da vítima ou posicionar-se lateralmente a ela; Colocar a segunda mão diretamente sobre a primeira e realizar a compressão abdominal; FIGURA 30 – COMPRESSÃO ABDOMINAL FONTE: Disponível em: <http://csaudeesp.blogspot.com/>. Acesso em: 13 set. 2011. http://csaudeesp.blogspot.com/ 59 Observar se o objeto foi expulso. Em vítimas obesas ou grávidas devemos realizar os seguintes procedimentos: Posicionar-se atrás do paciente; Posicionar uma de suas pernas entre as pernas da vítima; Posicionar as mãos acima do apêndice xifoide; Realizar as compressões abdominais; Verificar se o objeto foi expulso. A desobstrução de vias aéreas em crianças menores que um ano deve ser realizada da seguinte forma: Deitar a criança de bruços sobre o braço; Apoiá-la na palma da mão, de cabeça para baixo; Bater nas costas com as mãos em concha; Verificar se o objeto foi expulso. 7.5 RESPIRAÇÃO Anteriormente havia uma recomendação para que os movimentos respiratórios fossem avaliados pelo procedimento ver, ouvir e sentir, porém não há mais esta necessidade. O socorrista deve priorizar a qualidade da massagem cardíaca, ou seja, realizar o ciclo com trinta compressões e abrir a via aérea e aplicar duas ventilações. 60 A respiração boca a boca só deve ser realizada nas seguintes situações: Em situações de afogamento; Traumatismos; Em crianças e bebês. Existem estudos comprovando que a massagem cardíaca realizada corretamente e ritmada é suficiente para manter a vítima viva até a chegada de socorro profissional sem a utilização da respiração boca a boca. No caso de crianças e bebês, afogamento ou traumatismos, a massagem cardíaca se faz em sintonia com a respiração bocaaboca, porém em situações de parada cardíaca em adultos apenas a massagem cardíaca deve ser feita, até que os socorristas cheguem para levar a vítima ao hospital. 7.6 AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA Na avaliação neurológica, o socorrista deve avaliar o estado de consciência da vítima. Pode-se usar a sequência AVDS, como descrito a seguir: A: Alerta; V: Responde a estímulos verbais; D: Responde a estímulos dolorosos; S: Sem resposta. Se a vítima estiver consciente, pergunte nome, telefone paracontato e endereço. Faça 61 também perguntas que você possaavaliar se ela está respondendo com coerência. Por exemplo: Que dia é hoje? É dia ou é noite? Converse com ela, procure acalmá-la e pergunte onde sentedores e em caso de suspeita de fratura da coluna, pergunte seestá sentindo os braços e as pernas. Se ela não se comunicar, veja se reage ao estímulo verbal e se não houver resposta, veja se a vítima reage ao um estímulo tátil oudoloroso.Caso esteja inconsciente, abra os olhos dela e verifique aspupilas.O estado das pupilas pode significar: Normais: normalmente não há lesões neurológicas aparentes e oxigenação está presente. Pupilas diferentes: uma normal e a outra dilatada significa presença de lesão neurológica. O socorrista deve intensificar a avaliação, pois pode haver parada cardiorrespiratória. Se as duas pupilas estiverem dilatadas: significa parada cardiorrespiratória há mais de um minuto. Também pode haver lesão neurológica. Nesse caso, o socorrista deve iniciar imediatamente as manobras de ressuscitação. Sempre que a vítima estiver inconsciente, deve-se desconfiarde fratura da coluna vertebral ou de parada cardiorrespiratória. Nesse caso, movimente a vítima o mínimo possível, protegendosempre a coluna A escala de coma de Glasgow deve ser usada. Lembrando que esta é uma escala neurológica que constitui um método confiável e objetivo de registrar o nível de consciência de uma pessoa para avaliação inicial e contínua após um traumatismo craniano. Seu valor também é utilizado no prognóstico do paciente e é de grande utilidade na previsão de eventuais sequelas. Segue abaixo a escala completa: 62 TABELA 5 – ESCALA DE COMA DE GLASGOW VARIÁVEIS ESCORE Abertura ocular Espontânea À voz À dor Nenhuma 4 3 2 1 Resposta verbal Orientada Confusa Palavras inapropriadas Palavras incompreensivas Nenhuma 5 4 3 2 1 Resposta motora Obedece aos comandos Localiza dor Movimento de retirada Flexão anormal Extensão anormal Nenhuma 6 5 4 3 2 1 O escore máximo permitido pela escala é quinze pontos e o mínimo de três pontos. Se o paciente apresentar uma pontuação de oito pontos ou menos, a intubação orotraqueal está indicada. Pontuação total: de 3 a 15 3 = Coma profundo (85% de probabilidade de morte; estado vegetativo); 63 4 = Coma profundo; 7 = Coma intermediário; 11 = Coma superficial; 15 = Normalidade. Classificação do trauma cranioencefálico: 3-8 = Grave (necessidade de intubação imediata); 9-12 = Moderado; 13-15 = Leve. 7.7 EXPOSIÇÃO DA VÍTIMA Sendo assim, para que um diagnóstico diferencial mais preciso seja realizado, é preconizado que dentre o C-A-B-D-E dos primeiros socorros, o “E” refere-se à exposição da vítima. Quando estabilizadas respiração e circulação, iniciamos a exposição da vítima para verificar se existem outros ferimentos, complicações e situações a serem resolvidas. Lembre-se que tal procedimento deverá ser realizado com cautela e precaução a fim de evitar maiores dolos na vítima já fragilizada. Todo movimento realizado, principalmente se em pós-trauma, deverá atender normas de manipulação assegurando a assistência prestada. A busca por outras e/ou maiores lesões pode no momento da primeira assistência 64 salvar a vida da vítima. Em primeiros socorros, chamamos de “a hora de ouro” a primeira hora de atendimento, portanto, se o socorrista fizer o seu melhor, a probabilidade desta vítima ter sua vida prolongada é grande. 7.8 AVALIAÇÃO PRIMÁRIA EM SITUAÇÕES ESPECIAIS 7.8.1 Vítima com capacete A retirada do capacete deve ser realizada por dois socorristas treinados. O primeiro passo é posicionar a vítima em decúbito dorsal, ou seja, posição supina, por meio do rolamento em bloco. Um socorrista posiciona-se atrás da cabeça da vítima, abre a viseira e segura cada lado do capacete com os dedos estabilizando a mandíbula. O outro socorrista mantém a estabilização da coluna cervical, colocando os dedos polegar no ângulo da mandíbula de um dos lados e o indicador e médio no outro lado. A outra mão mantém a imobilização do pescoço, apoiando a região cervical. A seguir, o socorrista que segura o capacete pelas laterais, força a sua abertura liberando as orelhas e traciona-o delicadamente, enquanto o outro socorrista mantém a estabilização do pescoço para evitar a inclinação da cabeça. Após a retirada do capacete, os socorristas devem manter a imobilização da coluna cervical manualmente até obter dispositivo que o faça. 65 FIGURA 31– RETIRANDO
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