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FACULDADE BAIANA DE DIREITO INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO PRIVADO II DOCENTE: THIAGO BORGES DISCENTE: DANILO MAGALHÃES SERRÃO PELEGRINE ALVES TURMA: T3A 1ª AVALIAÇÃO – 2021-1 Verifique a veracidade ou a falsidade das afirmações a seguir, justificando a sua resposta com base na doutrina e na legislação civil vigente. A mera indicação de veracidade ou falsidade não atribui nenhuma pontuação. Assertivas: 1) (4,0) A produção de efeitos jurídicos é um dos requisitos para que determinado fato do mundo da vida seja classificado como fato jurídico. 2) (4,0) Se a vontade é manifestada no campo em que o sistema jurídico admite a autonomia da vontade, ela gerará negócio, mas os efeitos dependem da compatibilidade com as normas jurídicas aplicáveis ao caso. 3) (2,0) Serão juridicamente inexistentes quaisquer atos praticados pelo representante convencional que não estejam no âmbito dos poderes que lhe forem conferidos pelo representado. 1) Um fato jurídico é um fato do mundo da vida que possui relevância para o mundo do direito, e que, por conta disso sofre incidência de uma norma jurídica. Segundo Marcos Bernardes de Mello, ao compor o seu suporte fático suficiente, ocorre a incidência da norma jurídica, havendo a juridicização do fato. Logo, para o jurista, o fenômeno da incidência é o efeito da norma de transformar a parte relevante para o mundo jurídico do seu suporte fático em fato jurídico, sendo este fenômeno o requisito para que determinado fato do mundo da vida seja classificado como fato do mundo do direito. Fatos jurídicos resultam da incidência da norma sobre seu suporte fático concretizado. Dessa forma, Pontes de Miranda e Marcos Bernardes destacam que a produção de efeitos jurídicos consiste em uma consequência do fato jurídico. Somente após a geração de um fato jurídico é que se poderá tratar de situações jurídicas, como a produção de efeitos, porque nem sempre um fato jurídico gerará efeitos. Desse modo, há a possibilidade de que um fato jurídico exista e deixe de existir, não produzindo efeitos, como exemplifica Cristiano Chaves, um testamento somente produz efeitos após a morte do testador, porém, caso este venha a ser revogado, ainda em vida, como previsto nos artigos 1.969, 1.970, caput e parágrafo único, 1.971 e 1972, do Código Civil, deixa de existir, sendo assim, um fato jurídico que existiu e deixou de existir, não chegando a produzir efeitos jurídicos. Destarte, diante de tudo o que foi exposto, verifica-se a falsidade da assertiva em questão, pois, segundo a doutrina de Marcos Bernardes de Mello e Pontes de Miranda, a produção de efeitos não é um requisito para a classificação de um fato do mundo da vida como fato do mundo do direito, uma vez que a produção de efeitos jurídicos é decorrência do fato jurídico. 2) Segundo Marcos Bernardes de Mello, os negócios são os fatos jurídicos cujo elemento nuclear do suporte fático consiste na manifestação ou declaração de vontade dentro dos limites predeterminados pelo ordenamento jurídico. Os indivíduos possuem uma margem de liberdade para o exercício de sua autonomia da vontade, ou seja, os efeitos almejados no negócio jurídico somente ocorrerão quando a vontade for compatível com os limites da estrutura da manifestação desta, os critérios de validade, prefixados no ordenamento, no artigo 104, caput e incisos I, II e III, do Código Civil. Tal entendimento pode ser ilustrado no artigo 111, da legislação civil, cujo dispositivo prevê que a manifestação de vontade, por meio do silêncio, importará anuência somente quando as circunstâncias do caso concreto o permitirem, e quando não houver necessidade de manifestação de vontade expressa. Como por exemplo, em um contrato de compra e venda de imóvel, negócio jurídico formal, o ordenamento exige via declaratória, a escritura pública, como previsto no art. 108 do mesmo código, deste modo, o silêncio não importa anuência, não havendo declaração de vontade, devido as circunstâncias, consequentemente, não produzindo efeitos. Já em caso de doação, negócio jurídico gratuito, o silêncio do donatário presume a aceitação da doação, por trazer um benefício, logo o silêncio importa anuência, sendo considerado como uma forma de manifestação de vontade para o caso, e, por conta disso, produz efeitos. Diante desses exemplos, pode-se notar que a vontade manifestada, dentro dos parâmetros estabelecidos em lei, como na forma do silêncio, produz efeitos jurídicos, ao passo que o ordenamento confere essa possibilidade, mas não admite esta forma em todos casos. Portanto, verifica-se a veracidade da afirmação em questão, pois a autonomia da vontade dos indivíduos é exercida de acordo com a compatibilidade entre a vontade e a norma, e, devido a esta concordância, produz efeitos. 3) Contrariando o que foi afirmado, os atos praticados pelo representante convencional, que exorbitam os poderes que lhe foram conferidos na procuração, não são juridicamente inexistentes, mas sim, ineficazes. A manifestação de vontade de uma pessoa por meio de um terceiro, que extrapola os poderes concebidos no contrato de mandato, sejam eles gerais ou especiais e genéricos ou específicos, existe, pois faz parte do mundo do ser, possuindo os elementos existenciais de um negócio jurídico, previstos nos artigos 104, caput incisos I, II e III, 107 e 110, do Código Civil, possuindo um agente, um objeto, uma forma e uma manifestação de vontade, entretanto, deixa de ser um mandato e passa a ser classificado como gestão de negócios, a luz do artigo 861 da legislação civil, por haver uma interferência em negócio alheio sem a autorização do interessado. Porém, mesmo sendo existente, como previsto no artigo 662 do mesmo código, será ineficaz em relação ao sujeito que foi representado, pois este não o concedeu poderes suficientes para a prática de determinados atos. Estas ações, por sua vez, somente serão eficazes, caso o representado venha a ratifica-las expressamente, ou resultando de ato inequívoco, retroagindo à data do ato, como previsto no parágrafo único deste mesmo artigo. Como diz a doutrina de Marcos Bernardes de Mello, os atos anuláveis entram no plano da eficácia e irradiam seus efeitos, dessa forma, os atos praticados sem os devidos poderes conferidos são anuláveis, porque necessitam da ratificação do interessado, sendo assim ineficazes, por conta de sua anulabilidade. Portanto, verifica-se a falsidade da assertiva em questão, pois os atos que exorbitam os poderes conferidos na procuração são existentes, porém, ineficazes, sem a ratificação do representado.