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Metabolismo do nitrogênio dos aminoácidos - Ciclo da Ureia ➢ O primeiro passo para o catabolismo da maioria dos aminoácidos envolve a remoção dos grupos alfa-amino ➢ Essa reação envolve a transferência dos grupos alfa-amino para o alfa-cetoglutarato produzindo o respectivo alfa-cetoácido, análogo ao aminoácido. ➢ O ciclo da ureia, que tem como propósito converter o nitrogênio dos aminoácidos em ureia, ocorre no fígado e compreende cinco reações, duas das quais na matriz mitocondrial, enquanto as outras três no citosol. ➢ A formação da ureia inclui a utilização de dois grupos amino: um do NH+4 (íon amônio livre) e um oriundo do aspartato; já o carbono da molécula de ureia é fornecido pelo CO2, que, posteriormente, será convertido em bicarbonato (HCO–3) em reação com a água. Essa cadeia de reações gasta energia, e de fato três moléculas de ATP sofrem cisão: 2 ADP + 1 AMP; assim, gastam-se quatro ligações fosfato. ➢ Após a remoção dos grupos nitrogenados dos aminoácidos, o esqueleto carbônico sofre oxidação produzindo compostos utilizados no ciclo do ácido cítrico, como acetil-CoA e piruvato, com predominância da produção de piruvato. Em períodos de jejum, esses compostos são convertidos em glicose ou corpos cetônicos pelo fígado, atuando como substrato energético para os demais tecidos. Finalmente, ao metabolizar a glicose, os tecidos transformam o esqueleto carbônico desses aminoácidos em CO2. Remoção do nitrogênio dos aminoácidos - Reação de transaminação ➢ A transaminação é a primeira etapa no processo de catabolismo dos aminoácidos e designa a remoção dos grupos alfa-amino dos aminoácidos para o alfa-cetoglutarato, uma substância que é um dos intermediários do ciclo do ácido cítrico (ciclo de Krebs). ➢ Essa reação forma como produtos um α-cetoácido, resultante do aminoácido que perdeu seu grupo alfa-amino, e um glutamato, que se forma quando o α-cetoglutarato aceita o grupo alfa-amino. ➢ As aminotransferases são específicas para um ou poucos aminoácidos, cuja nomenclatura relaciona-se com o doador do grupo alfa-amino, uma vez que o aceptor é sempre o alfa-cetoglutarato, que, por sua vez, atua como um reservatório de grupos alfa-amino. Ciclo da ureia ➢ O ciclo da ureia compõe uma via central no metabolismo do nitrogênio e inicia-se na matriz mitocondrial, mas três passos ocorrem no citosol, uma vez que as enzimas que catalisam essas reações se encontram nesse local da célula. ➢ O nitrogênio entra no ciclo da ureia na forma de NH+4 e aspartato, e cada uma dessas substâncias fornece um átomo de nitrogênio para a formação da ureia, enquanto o carbono e o oxigênio são fornecidos pelo CO2. Reações na matriz mitocondrial ➔ formação do carbamoil fosfato, um composto energético que impulsiona a reação para a direita. A formação do carbamoil fosfato ocorre quando o CO2 se combina com a água para originar o ácido carbônico, que sofre cisão para produzir HCO3–; este combina-se com o íon NH+4 para formar o carbamoil fosfato. O NH+4 origina-se da desaminação oxidativa do glutamato catalisada pela enzima glutamato desidrogenase mitocondrial. ➔ A síntese do carbamoil fosfato envolve gasto de duas moléculas de ATP ➔ síntese da citrulina, catalisada pela enzima ornitina-transcarbamoilase e que produz, além da citrulina, o aminoácido não proteogênico ornitina; é por essa razão que o ciclo da ureia é também chamado de ciclo da ornitina. A energia para a catálise dessa reação é oriunda do carbamoil fosfato, já que este tem uma ligação fosfato de “alta energia”. A citrulina produzida deve ser exportada da matriz mitocondrial para o citosol por meio de um sistema transportador específico. Trata-se de um cotransporte, ou seja, a citrulina é exportada da matriz mitocondrial para o citosol em troca do transporte da ornitina citossólica para a matriz mitocondrial. Reações fora da matriz mitocondrial ➔ Após a citrulina ser transportada da matriz mitocondrial para o citosol, ela condensa-se com o aspartato, o doador do segundo átomo de nitrogênio da ureia ➔ Essa reação produz arginilsuccinato e é direcionada pela cisão de um ATP (o terceiro ATP consumido na síntese da ureia); já o aspartato é oriundo da transaminação do oxalacetato. ➔ o arginilsuccinato sofre cisão pela enzima arginilsuccinato liase, produzindo fumarato e arginina. ➔ A arginina sintetizada nesse momento atua como precursor imediato da ureia, enquanto o fumarato é criado pelo carbono arginilsuccinato e sofre hidratação, produzindo malato por meio da enzima fumarase citossólica. ➔ O fumarato produzido nessa etapa pode seguir para diversas vias metabólicas, podendo ser transportado para a matriz mitocondrial por meio de uma lançadeira de malato e entrar no ciclo de Krebs, formando assim um elo entre o ciclo da ureia e o ciclo de Krebs, conhecido como “bicicleta de Krebs” ➔ No ciclo de Krebs, o malato é oxidado até a formação de oxalacetato, o qual pode seguir para a gliconeogênese, culminando na formação de glicose, ou então ser convertido a aspartato por meio de reações de transaminação e novamente entrar no ciclo da ureia ➔ A enzima arginase cliva a L-arginina em L-ornitina e ureia. A L-ornitina é transportada para o interior da matriz mitocondrial em troca com a L-citrulina. A ureia formada deixa o fígado por difusão e segue para o plasma até os rins, nos quais sofre filtração e excreção. Uma fração da ureia plasmática difunde-se para o intestino, no qual sofre metabolização por ureases bacterianas, sendo convertida em CO2 e NH3. Essa porção de amônia formada nos intestinos é parcialmente excretada nas fezes e o restante é reabsorvido para o sangue. Relação do ciclo da ureia e ciclo de krebs ➔ A enzima arginilsuccinato liase converte o arginilsuccinato em L-arginina, tendo como subproduto o fumarato, um intermediário do ciclo do ácido cítrico. O fumarato, por si só, pode entrar no ciclo do ácido cítrico, no qual as atividades combinadas da fumarase e da malato desidrogenase transformam o fumarato em oxaloacetato, ou pode ainda ser convertido em dois outros intermediários do ciclo, o malato e o oxaloacetato, que também podem adentrar o ciclo do ácido cítrico. O aspartato, que age como doador de nitrogênios na reação do ciclo da ureia catalisada pela argininossuccinato sintetase no citosol, é formado a partir do oxaloacetato por meio de reação de transaminação com o glutamato; o alfa-cetoglutarato é o outro produto dessa transaminação e também um intermediário do ciclo do ácido cítrico. As relações entre o ciclo da ureia e o ciclo do ácido cítrico são conhecidas como “bicicleta de Krebs” Destino dos esqueletos carbônicos dos aminoácidos ➢ Após a remoção dos grupos NH2 dos aminoácidos, o esqueleto carbônico remanescente deve ser convertido em intermediários metabólicos que possam servir de precursores de glicose ou qualquer outro composto que possa ser oxidado no ciclo do ácido cítrico. De fato, do repertório de vinte aminoácidos, as vias metabólicas são capazes de converter seus esqueletos carbônicos em apenas sete substâncias: piruvato, acetil-CoA, acetoacetil-CoA, alfa-cetoglutarato, succinil-CoA, fumarato e oxalacetato (Figura 17.8). Essa convergência de vinte aminoácidos em apenas sete substâncias mostra a grande economia metabólica, bem como ilustra a grande relevância bioquímica dessas sete substâncias. Os aminoácidos que convergem para a síntese de piruvato ou dos intermediários do ciclo do ácido cítrico são denominados glicogênicos. Eles produzem intermediários que são substratos para a gliconeogênese e podem, portanto, originar a formação líquida de glicose ou de glicogênio no fígado e de glicogênio no músculo esquelético. Em contrapartida, os aminoácidos cujo catabolismo produz acetoacetato ou um de seus precursores (acetil-CoA ou acetoacetil-CoA) são denominados cetogênicos, leucina e lisina são os únicos aminoácidos exclusivamente cetogênicos. Seus esqueletos carbonados não são substratos para a gliconeogênese e para o glicogênio RESUMO Estudo dirigido 1.Em relação às aminotransferases ou transaminases,observe as afirmativas a seguir, considere os valores no interior dos parênteses e calcule a soma apenas dos valores das afirmativas corretas: a)(19) São proteínas envolvidas na oxidação de ácidos graxos de cadeia curta no ciclo da betaoxidação. b)(70) São enzimas capazes de transferir grupos amina e estão envolvidas nas operações do ciclo da ureia. c)(11) São enzimas capazes de transferir grupos amina para o alfa-cetoglutarato, um reservatório temporário de grupo alfa amino. d)(07) São enzimas responsáveis pela transferência de grupos amônio para as moléculas de aspartato que, posteriormente, sofrem desaminação no ciclo da ureia. e)(80) São uma classe de enzimas envolvidas na ativação dos ácidos graxos na membrana mitocondrial interna para possibilitar o lançamento dos grupos acil dos ácidos graxos para que estes possam ser oxidados no ciclo da betaoxidação. f24) São enzimas que apresentam alto valor diagnóstico; seus valores plasmáticos elevados indicam alto grau de oxidação dos ácidos graxos. 2.Sobre a ornitina e a citrulina, é correto afirmar que: a)A ornitina e a citrulina são substâncias tóxicas formadas durante o ciclo da ureia. Essas substâncias são posteriormente convertidas em ureia. b)O ciclo da ureia chama-se também ciclo da ornitina. A ornitina é um tipo de carboidrato que aparece durante o ciclo da ureia. c)A citrulina é um aminoácido presente somente no interior da mitocôndria durante o ciclo da ureia. Esse aminoácido não está presente no citosol durante o ciclo. d)A ornitina e a citrulina são aminoácidos formados durante as reações do ciclo da ureia. Esses aminoácidos não são incorporados em proteínas, pois não existem códons para eles; são, portanto, aminoácidos não proteogênicos. e)A ornitina está presente somente fora da mitocôndria durante o ciclo da ureia; posteriormente; ela é secretada para fora da célula e dá origem à amônia. 3.A reação CO2 + NH4 + 2ATP está envolvida no seguinte processo: a)Síntese do carbamoil fosfato. b)Conversão dos grupos amino em amônio. c)Formação do arginilsuccinato. d)Síntese da ureia. e)Degradação do carbamoil fosfato. 4.O ciclo da ureia produz fumarato, cujo destino é: a)Voltar para o ciclo da ureia na forma de carbamoil fosfato, já que o ciclo da ureia regenera a ornitina. b)Voltar para o ciclo da ureia, mas na sua fase mitocondrial e na forma de acetil-CoA. c)O fumarato pode ser convertido em malato e adentrar o ciclo de Krebs de modo que o ciclo de Krebs e o ciclo da ureia tendem a se complementar. d)O fumarato pode ser convertido em oxaloacetato e adentrar o ciclo de Krebs, compondo o que se se chama bicicleta de Krebs. e)O fumarato produzido no ciclo da ureia é aproveitado na síntese de outros compostos orgânicos em outras vias metabólicas, como a gliconeogênese. 5.Descreva as reações do ciclo da ureia que ocorrem na matriz mitocondrial. 6.Após sofrerem desaminação, os aminoácidos dão origem a esqueletos carbônicos. Explique o destino metabólico dessas substâncias. 7.Explique como ocorre a regulação do ciclo da ureia. 8.O arginilsuccinato sofre cisão pela enzima arginilsuccinato liase, tendo como produtos fumarato e arginina. Explique o destino metabólico dessas duas substâncias. 9.Explique a origem dos compostos amônicos que têm como destino o ciclo da ureia. 10.Explique quais os sintomas decorrentes de falhas de alguma enzima envolvida no ciclo da ureia. Respostas 1.Soma: 81. 2.Alternativa correta: d. 3.Alternativa correta: a. 4.Alternativa correta: c. 5.A primeira reação do ciclo da ureia ocorre na matriz mitocondrial, sendo a formação do carbamoil fosfato, um composto energético que impulsiona a reação para a direita. A segunda reação que ocorre na matriz mitocondrial é a síntese da citrulina, sendo catalisada pela enzima ornitina-transcarbamoilase. 6.Após a remoção dos grupos NH2 dos aminoácidos, o esqueleto carbônico remanescente deve ser convertido em intermediários metabólicos que possam servir de precursores de glicose ou qualquer outro composto que possa ser oxidado no ciclo do ácido cítrico. Os aminoácidos que convergem para a síntese de piruvato ou dos intermediários do ciclo do ácido cítrico são denominados glicogênicos. Eles produzem intermediários que são substratos para a gliconeogênese e podem, portanto, originar a formação líquida de glicose ou de glicogênio no fígado e de glicogênio no músculo esquelético. Em contrapartida, os aminoácidos cujo catabolismo produz acetoacetato ou um de seus precursores (acetil-CoA ou acetoacetil-CoA) são denominados cetogênicos; leucina e lisina são os únicos aminoácidos exclusivamente cetogênicos. Seus esqueletos carbonados não são substratos para a gliconeogênese e para o glicogênio. 7.A regulação do ciclo da ureia pode se dar de maneira rápida ou lenta, mas ambas as formas são moduladas pela disponibilidade de substrato, ou seja, quanto maior a concentração de amônia (substrato), maior será a produção da ureia. A maneira lenta de controle do ciclo da ureia ocorre no jejum ou durante a ingestão de dietas hiperproteicas, enquanto a regulação rápida, também chamada de regulação alostérica do ciclo da ureia, se dá quando a enzima carbamoil fosfato sintetase sofre estimulação por N-acetilglutamato. A síntese do N-acetilglutamato é fortemente estimulada por arginina, de modo que níveis elevados de arginina no fígado causam dois efeitos importantes: aumento da síntese de N-acetilglutamato, que, por sua vez, aumentará a velocidade de síntese de carbamoil fosfato; e aumento da síntese de ornitina por meio da enzima arginase. Esses dois efeitos promovem aumento da velocidade das reações do ciclo e, portanto, da remoção da amônia. 8.A arginina atua como precursor imediato da ureia, enquanto o fumarato é produzido a partir dos carbonos arginilsuccinato e sofre hidratação produzindo malato por meio da enzima fumarase citossólica. O fumarato produzido nessa etapa pode seguir para diversas vias metabólicas, podendo ser transportado para a matriz mitocondrial por meio de uma lançadeira de malato e entrar no ciclo de Krebs, formando assim um elo entre o ciclo da ureia e o ciclo de Krebs, conhecido como “bicicleta de Krebs”. No ciclo de Krebs, o malato é oxidado até a formação de oxaloacetato, o qual pode seguir para a gliconeogênese culminando na formação de glicose, ou então ser convertido a aspartato por meio de reações de transaminação e, novamente, entrar no ciclo da ureia. 9.A desaminação do glutamato por parte da enzima glutamato desidrogenase é uma das mais relevantes fontes de íons amônio (NH+4) do organismo. O glutamato atua como uma reserva de grupos NH2 e a reação é prontamente reversível, ou seja, o glutamato pode incorporar amônia (NH+3) ou liberá-la. As formas NH+3 e NH+4 são intercambiáveis; no entanto, em pH fisiológico, existe predominância da forma NH+4 em detrimento da forma NH+3 em uma razão de 100/1. A forma NH+3 é a única que pode atravessar as membranas biológicas, na qual o nitrogênio produzido nos intestinos ganha a corrente sanguínea pela veia porta e chega ao fígado, no qual sofre conversão em ureia. Além do glutamato, outros aminoácidos liberam íons amônio, como a histidina, a serina e a treonina. Já a glutamina e a asparagina apresentam nitrogênio em seus grupos R, que também são liberados na forma de NH+4. Outra fonte de nitrogênio são os nucleotídeos de purinas. Esse nitrogênio é coletado pelo glutamato também por meio de reações de transaminação. 10.Os sintomas decorrentes de falhas no ciclo da ureia aparecem no período neonatal e são caracterizados por rápida e progressiva deterioração neurológica. À medida que os níveis de amônia aumentam, os indivíduos afetados desenvolvem recusa alimentar, anorexia, alterações do comportamento, irritabilidade, vômitos, letargia, ataxia, convulsões, coma, edema cerebral e, finalmente, colapso circulatório.
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