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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CENTRO DAS ENGENHARIAS CURSO DE ENGENHARIA DE ENERGIA WIGOR BRENO ALMEIDA DA SILVA COORDENAÇÃO E SELETIVIDADE DE SISTEMAS DE PROTEÇÃO: ESTUDO DE CASO EM UMA UNIDADE DE BOMBEIO MOSSORÓ 2016 WIGOR BRENO ALMEIDA DA SILVA COORDENAÇÃO E SELETIVIDADE DE SISTEMAS DE PROTEÇÃO: ESTUDO DE CASO EM UMA UNIDADE DE BOMBEIO Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido como requisito para obtenção do título de Bacharel em Engenharia de Energia. Orientador: Isaac Barros Tavares da Silva, Prof. Msc. MOSSORÓ 2016 http://www.niemeyer.org.br/ ©Todos os direitos estão reservados à Universidade Federal Rural do Semi-Árido.O conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade do (a) autor (a), sendo o mesmo, passível de sanções administrativas ou penais, caso sejam infringidas as leis que regulamentam a Propriedade Intelectual, respectivamente, Patentes: Lei nº 9.279/1996, e Direitos Autorais: Lei nº 9.610/1998. O conteúdo desta obra tornar-se-á de domínio público após a data de defesa e homologação da sua respectiva ata, exceto as pesquisas que estejam vinculas ao processo de patenteamento. Esta investigação será base literária para novas pesquisas, desde que a obra e seu (a) respectivo (a) autor (a) seja devidamente citado e mencionado os seus créditos bibliográficos. Setor de Informação e Referência O serviço de Geração Automática de Ficha Catalográfica para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC´s) foi desenvolvido pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (USP) e gentilmente cedido para o Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (SISBI-UFERSA), sendo customizado pela Superintendência de Tecnologia da Informação e Comunicação (SUTIC) sob orientação dos bibliotecários da instituição para ser adaptado às necessidades dos alunos dos Cursos de Graduação e Programas de Pós-Graduação da Universidade. A586c Almeida da Silva, Wigor Breno. Coordenação e Seletividade de Sistemas de Proteção: Estudo de Caso em uma Unidade de Bombeio / Wigor Breno Almeida da Silva. - 2016. 74 f. : il. Orientador: Isaac Barros Tavares da Silva. Monografia (graduação) - Universidade Federal Rural do Semi-árido, Curso de Engenharia de Energia, 2016. 1. Curto-circuito. 2. Sobrecorrente. 3. Coordenação. 4. Seletividade. 5. Relés. I. Barros Tavares da Silva, Isaac , orient. II. Título. WIGOR BRENO ALMEIDA DA SILVA COORDENAÇÃO E SELETIVIDADE DE SISTEMAS DE PROTEÇÃO: ESTUDO DE CASO EM UMA UNIDADE DE BOMBEIO Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido como requisito para obtenção do título de Bacharel em Engenharia de Energia. Aprovada em: 09 / 11 / 2016. BANCA EXAMINADORA _________________________________________ AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por não ter me deixado para traz num momento irregular da minha vida acadêmica, num momento em que até eu estava desacreditado, ele me ajudou a se recuperar e me fez voltar acreditar que esse sonho poderia ser realizado; Agradeço a minha Vó “Dona Lourdes” por ser a pessoa que me criou, como ela diz, “te criei sem preguiça”, que me deu todo o amor do mundo, todo o apoio, toda a dedicação todos os cuidados e foi fundamental na minha formação como pessoa e minha vida, enfim, TE AMO VÓ; Aos meus pais, Canindé e Josefa, por sempre me apoiarem em todos os momentos, pelos carões, pela educação, pelos cuidados mas principalmente por serem dois batalhadores, que embora separados, tenham um sonho em comum, que é ver o seu filho formado como engenheiro; A minha amiga, namorada, companheira, resumindo, a mulher que eu nasci para amar, Emile Stefanine, por todo o apoio, aguentar minhas chocuras, todos os conselhos, entendimento, ensinamentos e principalmente por me fazer “muito, muito, muito feliz”; A minha Tia Sandra que também foi responsável direta na minha formação como pessoa, ajudando na minha criação e por sempre ter me dado todo o apoio do mundo; Agradeço aos meus Tios Carlinho e Antônio José, por me darem todo o apoio, conselhos, toda a disponibilidade e pelo carinho que sentem por mim; A todos os meus amigos verdadeiros e que gostam de mim, também a todos os meus colegas de faculdade em especial a todos os que me ajudaram de forma direta nessa formação e a todos os meus colegas do curso de engenharia; Ao meu orientador Isaac Barros por ter feito parte deste trabalho ajudando na orientação e sempre estando disponível para ajudar independentemente da hora ou dia. Obrigado Isaac! RESUMO A grande extensão do sistema elétrico de potência, bem como sua complexidade, submete-o a condições de operação danosas, como os curtos-circuitos. Por isso, uma das grandes preocupações das concessionárias de energia diz respeito à eficácia dos sistemas de proteção. Preocupação essa que também é apresentada pelos consumidores, pois paradas na produção geram grandes prejuízos. Este trabalho trata de um estudo de coordenação e seletividade, da proteção contra sobrecorrente, de uma Estação de Bombeamento de Água. O estudo consiste, basicamente, em dividir a instalação em zonas de proteção, calcular os ajustes de corrente e as curvas de atuação dos relés. Durante os cálculos dos ajustes, foram consideradas as características de acionamento, de funcionamento nominal e de curto-circuito, afim de garantir que os dispositivos não atuassem de maneira indevida. A partir disso, foi possível gerar gráficos de “tempo versus corrente”, que mostram as curvas de todos os elementos protegidos, bem como dos dispositivos de proteção. No caso dos motores foi possível simular as suas curvas de partida e o seu ponto de rotor bloqueado, já para o transformador foi possível mostrar seu ponto de inrush, bem como a sua curva de suportabilidade térmica. A partir disso, utilizou-se das recomendações da IEEE 242 para estabelecer critérios de coordenação entre as curvas. Desta forma, notou-se na maioria dos casos que a coordenação foi alcançada, embora devido a inflexibilidade de alguns dispositivos, como os fusíveis, houve situações em que não foi possível alcançá-la completamente. Palavras-chave: Curto-circuito, sobrecorrente, coordenação, seletividade, relés. ABSTRACT The great extension of the electric power system and its complexity, submit it to harmful operating conditions, such as short-circuits. So one of the great concerns of utilities is about the effectiveness of protection systems. Consumers also present that concern, because production stoppages generate big losses. This work is a study of coordination and selectivity, of the overcurrent protection, in a Water Pumping Station. The study is basically in to divide the installation in protection zones, calculate the current settings and the performance curves of the relays. During the calculation of adjustments, it was considered the starting characteristics, rated operating and short-circuit in order to ensure that devices not acted improperly. From this, it was possible to plot graphs of time versus current", that showing the curves of all protected elements, as well as the protection devices. In the case of engines it was possible to simulate their starting curves and its locked rotor point, as for the transformer it was possible to show its inrush point and its damage curve. From this, it was used the IEEE 242 recommendations toestablish coordination criteria between the curves. So, it was observed in most cases that the coordination is achieved, although due to inflexibility of some devices, such as fuses, there were cases where it was not possible to reach it completely. Keywords: Short-circuit, overcurrent, coordination, selectivity, relays. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Visão global de um sistema elétrico de potência. ...................................................... 16 Figura 2 – Curto-circuito trifásico. .............................................................................................. 19 Figura 3 – Circuito equivalente série do curto-circuito trifásico. ................................................ 20 Figura 4 – Curto-circuito bifásico. .............................................................................................. 21 Figura 5 – Circuito equivalente série do curto-circuito bifásico. ................................................ 21 Figura 6 – Curto-circuito fase-terra. ............................................................................................ 23 Figura 7 – Circuito equivalente série para o curto-circuito fase-terra. ........................................ 23 Figura 8 - Curto-circuito Fase-Terra-Mínimo ............................................................................. 24 Figura 9 - Circuito equivalente série do curto-circuito Fase-Terra mínimo. ............................... 25 Figura 10 - Característica de suportabilidade contra curto-circuito de um transformador delta- estrela. ......................................................................................................................................... 28 Figura 11 – Chave fusível. ........................................................................................................ 31 Figura 12 - Transformador de corrente tipo barra. ...................................................................... 32 Figura 13 - Transformador de corrente tipo enrolado. ................................................................ 33 Figura 14 - Transformador de corrente tipo janela. ..................................................................... 33 Figura 15 - Transformador de corrente tipo bucha. ..................................................................... 34 Figura 16 - Transformador de corrente tipo núcleo dividido. ..................................................... 34 Figura 17 - Transformador de corrente com vários enrolamentos primários. ............................. 35 Figura 18 - Transformador de corrente com vários núcleos secundários. ................................... 35 Figura 19 - Transformador de corrente com vários enrolamentos secundários. ......................... 36 Figura 20 - Relé de sobrecorrente microprocessado. .................................................................. 37 Figura 21 – Curva de tempo definido. ......................................................................................... 38 Figura 22 - Curvas IEC para o mesmo valor de DT. ................................................................... 40 Figura 23 – Zonas de proteção e seus dispositivos ..................................................................... 43 Figura 24 - Localização do município de Mossoró. .................................................................... 46 Figura 25 - Estação de Bombeamento II da adutora Jerônimo Rosado. ..................................... 47 Figura 26 - Diagrama unifilar da Estação de Bombeamento II da adutora Jerônimo Rosado. ... 48 Figura 27 - Relé de proteção de sobrecorrente Pextron URP 2000. ............................................ 49 Figura 28 - Coordenograma de fase da zona de proteção I. ........................................................ 54 Figura 29 - Coordenograma de fase da zona de proteção II. ....................................................... 58 Figura 30 - Coordenograma de fase entre o RELE_ENTRADA e RELÉ_SEC_TRAFO. ......... 61 Figura 31 - Coordenograma de neutro entre o RELIGADOR_21V2_COSERN e o RELÉ_SEC TRAFO. ....................................................................................................................................... 64 Figura 32 - Coordenograma de neutro entre as zonas I e II. ....................................................... 66 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Percentagens médias de ocorrência de curto-circuito. ............................................... 19 Tabela 2 - Constantes para curvas de atuação estabelecidas pelo padrão IEC. ........................... 39 Tabela 3 – Intervalos de coordenação entre os dispositivos........................................................ 44 Tabela 4 - Valores das correntes de curto-circuito, em Amperes, na zona I e na zona II. .......... 51 Tabela 5 – Tempos de abertura dos equipamentos para os curtos circuitos na zona I. ............... 55 Tabela 6 - Tempos de abertura dos equipamentos, da zona II, para os curtos-circuitos nos terminais dos motores. ................................................................................................................ 59 Tabela 7 - Tempos de abertura, dos equipamentos, para os curtos-circuitos barramento do CCM. ..................................................................................................................................................... 62 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13 1.1. OBJETIVOS ............................................................................................................. 14 1.1.1 Geral ...................................................................................................................... 14 1.1.2 Específicos ............................................................................................................. 14 2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 16 2.1 PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS ............................................................ 16 2.2 CURTO-CIRCUITO ................................................................................................ 18 2.2.1 Curto-circuito trifásico ........................................................................................ 19 2.2.2 Curto-circuito bifásico ......................................................................................... 21 2.2.3 Curto-circuito fase-terra ..................................................................................... 22 2.2.4 Curto-circuito fase-terra mínimo ....................................................................... 24 2.3 PROTEÇÃO DE TRANSFORMADORES ............................................................. 25 2.3.1 Ponto de inrush ..................................................................................................... 26 2.3.2 Curva de suportabilidade térmica ...................................................................... 27 2.4 DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO ........................................................................... 28 2.4.1 Fusíveis .................................................................................................................. 29 2.4.2 Transformador de corrente (TC) ....................................................................... 31 2.4.3 Relé de sobrecorrente .......................................................................................... 36 2.5 COORDENAÇÃO E SELETIVIDADE .................................................................. 41 3 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................................45 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA CIDADE DE MOSSORÓ E DO SEU SISTEMA DE ABASTECIMENTO ....................................................................................................... 45 3.2 ESTAÇÃO DE BOMBEAMENTO DE ÁGUA II (EB2) ........................................ 46 3.3 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA ELÉTRICO ................................................ 47 4 ANALISE E RESULTADOS ..................................................................................... 50 4.1 NIVEIS DE CURTO CIRCUITO ............................................................................ 50 4.2 PROTEÇÃO DE FASE ............................................................................................ 51 4.2.1 Zona de proteção I: Ajustes do dispositivo “RELÉ_ENTRADA” .................. 52 4.2.2 Zona de proteção II: Ajustes do dispositivo “RELÉ_SEC_TRAFO” ............. 56 4.3 PROTEÇÃO DE NEUTRO ..................................................................................... 63 4.3.1 Coordenação de neutro na zona de proteção I .................................................. 63 4.3.2 Coordenação de neutro entre as zonas de proteção I e II ................................ 65 5 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 68 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 69 ANEXO I – Dados referentes ao ponto de entrega ..................................................... 73 ANEXO II – Faixa de ajustes do relé PEXTRON URP 2000 .................................... 74 13 1. INTRODUÇÃO A partir da revolução industrial ocorrida no século XIII, estimulou-se um desenvolvimento acentuado das tecnologias de produção, visando a redução da mão de obra por maquinários capazes de reproduzir os processos, onde se utilizavam água e carvão como fontes de energia. Inicialmente a energia elétrica foi aplicada no uso das lâmpadas incandescentes e, posteriormente, se mostrou uma melhor condição de transmissão do que o vapor utilizado na época. Com o passar dos anos, a população das cidades aumentou, aumentando ainda, de forma exponencial, a demanda de energia elétrica solicitada pelas grandes indústrias, bem como dos consumidores residenciais. Essa grande quantidade de energia é produzida nas usinas geradoras e é transmitida, posteriormente, até o centro da carga por meio de um conjunto de instalações que se designa sistema elétrico de potência. A fim de evitar que essas instalações sofram danos, são aplicados esquemas de proteção que têm como principal objetivo preservar a integridade física dessas instalações e manter a segurança de todos que usufruem da energia elétrica direta ou indiretamente (HEWITSON et al., 2004 apud MATTOS, 2010). Atualmente a qualidade e a continuidade no fornecimento de energia elétrica são de fundamental importância, uma vez que paradas indevidas podem gerar prejuízos elevados. Assim, a proteção dos sistemas elétricos também tem como responsabilidade manter a continuidade no fornecimento e consequentemente a qualidade da energia. Para que esse objetivo seja alcançado, é necessário que os sistemas de proteção obedeçam aos critérios de coordenação entre os dispositivos de sobrecorrente, pois ao atingir esse objetivo, as interrupções ocorreram de maneira seletiva, ou seja, apenas os trechos onde estão localizadas as faltas serão desenergizados. Para que os sistemas de proteção sejam projetados de maneira adequada, é necessário conhecer os componentes do sistema elétrico, pois a continuidade do sistema pode ser afetada em casos onde os ajustes não respeitarem as condições transitórias ou de regime permanente de equipamentos como transformadores e motores. Além disso, deve 14 garantir a segurança dos equipamentos quando estes estiverem submetidos a condições de operação extrema ou de curto-circuito. Assim, o presente trabalho aplicou os conceitos de coordenação e seletividade a uma Unidade de Bombeio de Água na cidade de Mossoró/RN, que é responsável por bombear cerca de 800 m³/h de água para os reservatórios espalhados dentro da cidade. Desta forma, é notório que uma parada indevida na estação afetará diretamente milhares de pessoas. 1.1. OBJETIVOS Os objetivos do presente trabalho estão divididos em geral e específicos. 1.1.1 Geral Realizar um estudo dos critérios de proteção de sobrecorrente, a partir dos conceitos de coordenação e seletividade, entre os equipamentos de proteção da instalação, bem como entre a proteção em média tensão da estação, com o dispositivo de proteção da concessionária. 1.1.2 Específicos Para atingir o objetivo geral, os seguintes objetivos específicos foram desenvolvidos: Calcular os níveis de curto-circuito nos pontos de instalação dos dispositivos de proteção; Propor a divisão do circuito em zonas de proteção; 15 Realizar os ajustes das unidades instantâneas e temporizadas dos relés de sobrecorrente; Realizar a coordenação dos dispositivos presentes em cada zona de proteção; Realizar a coordenação da proteção de média tensão da instalação, com o dispositivo da concessionária; Realizar a coordenação entre as zonas de proteção propostas. 16 2 REFERENCIAL TEÓRICO Esse capítulo fará uma apresentação geral sobre proteção de sistemas elétricos. Inicialmente, mostra-se um breve histórico sobre energia elétrica e sobre a importância da utilização dos sistemas de proteção. Em seguida, aborda-se sobre curto-circuito, onde serão mostrados os principais tipos e os principais equipamentos de proteção utilizados atualmente. Por fim, esta fase será concluída através de uma abordagem sobre coordenação e seletividade. 2.1 PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS De acordo com Garcia e Duzzi Junior (2012), a estrutura de um sistema elétrico de potência compreende os sistemas de geração, transmissão, distribuição e suas subestações de energia elétrica (com transformadores, disjuntores e seccionadores das mais variadas tensões e correntes), em geral, cobrindo uma grande área geográfica. O sistema elétrico de potência pode ser visto como um conjunto de equipamentos destinados a geração, transmissão e distribuição que, ao operarem conjuntamente, fornecem energia elétrica para o consumidor. O mesmo pode ser ilustrado conforme a Figura 1. Figura 1 - Visão global de um sistema elétrico de potência. Fonte: Borges, 2016. 17 O grande número de consumidores, bem como sua diversidade, gera uma complexidade no sistema elétrico de potência, uma vez que o mesmo varia de forma dinâmica e depende tanto da solicitação de energia por meio das cargas quanto das intempéries externas ou diversos tipos de sinistro, como o curto-circuito. Essas variações podem ser vistas ainda como uma perturbação ao sistema, uma vez que mudanças bruscas no estado das cargas podem gerar danos a rede elétrica, a segurança dos usuários e operadores, além de afetar a qualidade no fornecimento dos consumidores. A partir desta premissa, surge a necessidade de proteger o sistema contra essas perturbações utilizando estudos e dispositivos capazes de manter a qualidade e a segurança no fornecimento de energia. Para Mamede Filho e Mamede (2011), na operação dos sistemas elétricos surgem, com certa frequência, falhas nos seus componentes que resultam em interrupções no fornecimento de energia aos consumidores, reduzindo assim a qualidade do serviço prestado. Ainda para Mamede Filho e Mamede (2011), a falha mais comum em qualquer sistema de potência é o curto-circuito, que dá origem a correntes elevadas circulando em todos os equipamentos energizados, tendocomo resultado severos distúrbios de tensão ao longo de todo o sistema elétrico. Além desse fator, existe ainda outros dois fenômenos que podem ocorrer nos sistemas elétricos: as sub e sobretensões com diferentes origens, como descargas atmosféricas e manobras. A proteção dos sistemas elétricos de potência é uma área de extrema importância para a manutenção do fornecimento da energia elétrica aos consumidores, bem como para a segurança dos equipamentos altamente dispendiosos que compõem o sistema elétrico. Essa área desenvolveu-se, e vem se desenvolvendo muito nos últimos anos, devido ao surgimento de novas tecnologias que possibilitaram a introdução da proteção digital através de relés microprocessados (COTOSCK, 2007). De acordo com Ferreira (2011), os sistemas de potência estão constantemente sujeitos a perturbações das mais variáveis origens, tais como descargas atmosféricas, grandes variações de carga, curtos-circuito entre outros. Portanto, deve haver um sistema para protegê-lo dessas anomalias. 18 Os sistemas de proteção detectam anomalias e iniciam uma ação corretiva para que o sistema de potência não saia da sua operação normal. Caso isto ocorra, o tempo de atuação do sistema de proteção deve ser o menor possível para evitar danos aos equipamentos e, também, a menor parte do sistema deve ser isolada para que consumidores em outras regiões não sejam afetados (FERREIRA, 2011). 2.2 CURTO-CIRCUITO Um curto-circuito pode ser definido como uma conexão intencional ou acidental, em geral de baixa impedância, entre dois ou mais pontos que normalmente estão em diferentes potenciais elétricos. Como consequência, resulta uma corrente elétrica que pode atingir valores elevados, dependendo do tipo do curto-circuito. A esta corrente dá- se o nome de corrente de curto-circuito ou corrente de falta (SANTOS, 2009). A determinação das correntes de curto-circuito é de fundamental importância na elaboração do projeto de proteção das instalações, uma vez que esses valores de corrente são utilizados para determinar tanto as características dos equipamentos quanto os ajustes para uma proteção bem coordenada entre as diversas zonas de atuação. Essas correntes, inicialmente, passam por um período de transitório e têm natureza assimétrica e, ao atingirem a condição de regime permanente, passam a ter natureza simétrica. As correntes assimétricas são utilizadas para a determinação das capacidades de ruptura ou de interrupção dos equipamentos, enquanto as correntes simétricas na escolha das características térmicas. Pela própria natureza física dos tipos de curtos-circuitos, o trifásico é o mais raro. Em contrapartida, é o curto-circuito monofásico à terra o mais corriqueiro (KINDERMANN, 1997). A Tabela 1 mostra as percentagens médias de ocorrência de cada tipo de curto-circuito. 19 Tabela 1 – Percentagens médias de ocorrência de curto-circuito. Tipos de Curtos-Circuitos Ocorrências em % Trifásico 6 Bifásico 15 Bifásico – Terra 16 Fase – Terra 63 Fonte: Kindermann, 1997. No estudo do cálculo de curto-circuito é necessário utilizar alguns princípios, como a modelagem da impedância equivalente de Thévenin e o artificio matemático dos componentes simétricos, sendo importante ressaltar que o presente trabalho não abordará essas teorias. A seguir serão listados os principais tipos de curtos-circuitos, bem como uma breve descrição de como efetuar seus cálculos. 2.2.1 Curto-circuito trifásico O curto-circuito trifásico ocorre quando se há um ponto comum entre as três fases do sistema de potência, ou seja, quando as mesmas estão em contato direto conforme mostra a Figura 2. Figura 2 – Curto-circuito trifásico. Fonte: Vianês, 2009. 20 A Figura 3 ilustra o circuito equivalente série para uma falta trifásica: Figura 3 – Circuito equivalente série do curto-circuito trifásico. Fonte: Adaptado de Kindermann, 1997. A partir do circuito apresentado na Figura 3, é possível obter a corrente de falta trifásica, que é dada pela Equação 1. Um fato a importante é que os valores calculados são dados em pu (por unidade). 𝐼𝑎₁ = 1 𝑍𝑡ℎ₁ (1) Onde: Zth1 Impedância de Thévenin de sequência positiva referente ao ponto de ocorrência da falta; Ia₁ Corrente do curto-circuito trifásico. 21 2.2.2 Curto-circuito bifásico O curto-circuito bifásico ocorre quando há um contato entre duas fases do sistema elétrico de potência. De acordo com Hermanns (2013) apud Bock (2010), o curto-circuito bifásico não possui ligação a terra, portanto não possui componente de sequência zero. A Figura 4 exemplifica uma falta entre as fases b e c. Figura 4 – Curto-circuito bifásico. Fonte: Vianês, 2009. A Figura 5 mostra o circuito equivalente série para uma falta bifásica. Figura 5 – Circuito equivalente série do curto-circuito bifásico. Fonte: Adaptado de Kindermann, 1997. 22 A partir do circuito apresentado na Figura 5, é possível obter a corrente de falta bifásica, que é dada pela Equação 2. 𝑍𝑡ℎ₁ = 𝑍𝑡ℎ₂ 𝐼𝑎₁ = − 𝐼𝑎₂ = 1 𝑍𝑡ℎ₁+𝑍𝑡ℎ₂ (2) Logo, 𝐼𝑏 = −𝐼𝑐 = √3 2𝑍𝑡ℎ₁ Onde: Zth₁ e Zth₂ São respectivamente as impedâncias de Thévenin de sequência positiva e negativa no ponto de falta; Ib e Ic São as correntes de curto-circuito na fase b e na fase c. 2.2.3 Curto-circuito fase-terra O curto-circuito fase-terra ocorre quando há um contato entre uma das fases do sistema elétrico de potência com a terra, conforme mostra a Figura 6. Um fato importante é que nesse tipo de curto não se leva em consideração a resistência de contato entre a fase e a terra, por isso também é conhecido como curto-circuito fase-terra franco. A Figura 7 mostra o circuito equivalente série para um curto-circuito Fase-Terra. 23 Figura 6 – Curto-circuito fase-terra. Fonte: Vianês, 2009. Figura 7 – Circuito equivalente série para o curto-circuito fase-terra. Fonte: Adaptado de Kindermann, 1997. A partir do circuito apresentado na Figura 7, é possível obter a corrente da falta fase-terra, que é dada pela Equação 3. 𝐼𝑎 = 3𝐼𝑎₀ = 3 2Zth₁+Zth₀ (3) Onde: Zth₀ e Zth₁ São as impedâncias de Thévenin de sequência zero e de sequência positiva respectivamente; 24 Ia₀ É a corrente de sequência zero; Ia É a corrente de curto-circuito que circula na fase a. 2.2.4 Curto-circuito fase-terra mínimo O curto-circuito fase-terra mínimo ocorre quando há um contato entre uma das fases do sistema elétrico de potência com a terra, levando-se em consideração a impedância de contato entre o meio condutor e a terra, como mostra a Figura 8. O valor de Zd representa a impedância de contato entre o meio condutor e o solo, sendo um parâmetro de difícil obtenção, pois as impedâncias do solo são diversificadas. A Figura 9 mostra o circuito equivalente série para a obtenção do curto-circuito Fase-Terra mínimo. Figura 8 - Curto-circuito Fase-Terra-Mínimo Fonte: Vianês, 2009. 25 Figura 9 - Circuito equivalente série do curto-circuito Fase-Terra mínimo. Fonte: Adaptado de Kindermann, 1997. A partir do circuito apresentado na Figura 9, é possível obter a corrente da falta fase-terra, que é dada pela Equação 4. 𝐼𝑎 = 3 2𝑍𝑡ℎ₁+𝑍𝑡ℎ₀+3𝑍𝑑 (4) Em (4): Zth₀ e Zth₁ são as impedâncias de Thévenin de sequência zero e de sequência positiva respectivamente; Ia é a corrente de curto-circuitoque circula na fase a; Zd = 100 3 Ω. 2.3 PROTEÇÃO DE TRANSFORMADORES Os transformadores podem ser considerados como um dos principais componentes do sistema elétrico de potência. Desta forma é muito importante assegurar que o mesmo esteja trabalhando em condições seguras, impedindo a redução da vida útil, avarias indesejadas e ainda manter a continuidade do fornecimento. 26 Assim como os demais equipamentos, os transformadores têm algumas características que devem ser respeitadas ao fazer sua proteção, para que ela não atue de forma indevida, prejudicando o desempenho ideal do transformador. As características que devem ser respeitadas são a corrente nominal de operação, sua corrente de energização (tempo e intensidade de corrente de energização), os limites de suportabilidade às correntes de curto-circuito tanto no lado primário quanto no lado secundário (MATTOS, 2010). Independentemente do esquema de proteção utilizado, os ajustes devem ser definidos de forma a permitir a operação do transformador em condições nominais, não atuar para corrente de energização do mesmo e promover a atuação dos dispositivos de proteção antes que a condição anormal do sistema elétrico provoque a violação dos limites térmico e mecânico do transformador. Estes limites são definidos pela característica de suportabilidade térmica do transformador contra curtos-circuitos (IEEE, Std. C57.109, 199; IEEE Std. C57.12.00, 2006; IEEEStd. 242, 2001 apud SOARES, 2009). 2.3.1 Ponto de inrush A corrente de magnetização do transformador, também conhecida como “corrente de inrush”, é o valor de corrente atingido no momento que o transformador é energizado, no momento de ocorrência de uma falta externa ou ainda durante a tensão de reestabelecimento após uma falta externa. É válido ressaltar que este valor de corrente se localiza apenas nos terminais secundários do transformador. A energização de um transformador provoca um pico transitório da corrente, que pode atingir até 20 vezes a corrente nominal com constantes de tempo de 0,1 a 0,7 segundos. Este fenômeno acontece devido à saturação do circuito magnético, que provoca o aparecimento de uma corrente de magnetização elevada. O valor de pico da corrente ocorre quando a energização for efetuada na passagem a zero da tensão e com indução remanente máxima na mesma fase. A forma de onda contém uma quantidade substancial de harmônicos de 2ª ordem. Este fenômeno é uma manobra normal de operação da rede. 27 Logo, não deve ser detectado como uma falha pelas proteções, que deverão permitir o pico de energização (SOUZA, 2013). 2.3.2 Curva de suportabilidade térmica A vida útil dos transformadores e a probabilidade de o mesmo sofrer avarias durante o seu funcionamento depende da curva de suportabilidade térmica do equipamento. Estas características levam em consideração tanto os elevados níveis de corrente atuantes por um determinado período (curva de suportabilidade térmica), quanto o número de vezes que o transformador será submetido as condições extremas de curto- circuito. Desta forma, a proteção deverá ser previamente ajustada de modo a impedir que o equipamento permaneça em funcionamento durante essas ocasiões. O principal objetivo da proteção é garantir que o equipamento funcione normalmente e que, em caso de faltas, não seja danificado - nem termicamente, nem mecanicamente. Por estes motivos, existem limites que definem a curva de suportabilidade do transformador aos efeitos térmicos e mecânicos das correntes de curto- circuito. Estes devem ser respeitados ao efetuar a proteção. Tais curvas definem os limites térmico e mecânico do transformador. Elas dependem das normas que regulam a fabricação e da potência nominal do equipamento, dentre outros fatores (SOUZA, 2013). A proteção do transformador, portanto, deve garantir que essa região de suportabilidade não seja atingida em nenhuma ocasião de operação, intermitente ou não do equipamento (SOUZA, 2013). A Figura 10 detalha um exemplo de curva de suportabilidade térmica, também conhecida como curva da American National Standards Constituinte (ANSI), mostrando ainda o valor de corrente nominal, o ponto da corrente de magnetização, limite mecânico e a curva ANSI. 28 Figura 10 - Característica de suportabilidade contra curto-circuito de um transformador delta-estrela. Fonte: Soares, 2009. Segundo o Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE) Std. 242 (2001) apud Soares (2009) a curva ANSI (58%) é utilizada quando o transformador em análise é do tipo delta-estrela com neutro solidamente aterrado. Neste tipo de transformador, um curto circuito fase-terra no lado secundário provoca uma circulação de corrente nas outras duas fases do lado primário igual a 58% da corrente total de defeito no secundário referida ao primário. 2.4 DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO Os dispositivos de proteção são encontrados em todas as partes dos sistemas elétricos de potência, uma vez que sua funcionalidade impacta diretamente na qualidade e na continuidade do fornecimento de energia. 29 Segundo Mamede Filho e Mamede (2011), existem dois dispositivos básicos na proteção dos sistemas elétricos de qualquer natureza: fusíveis e relés. Vale ressaltar ainda que outros equipamentos, como os TCs e disjuntores, se fazem importantes no âmbito de permitir o funcionamento integral dos relés dentro do sistema de proteção, pois sem o auxílio dos mesmos os relés não teriam funcionalidade. Neste tópico serão abordados os principais equipamentos utilizados atualmente, onde serão detalhados sua forma construtiva e dimensionamento. 2.4.1 Fusíveis Os fusíveis podem ser classificados como um dos elementos de proteção com forma construtiva mais simples, uma vez que não necessitam de nenhuma eletrônica e seu acionamento se deve a fusão do elo fusível, que por sua vez abrirá o circuito. Pode-se dizer ainda que os fusíveis podem ser divididos em uma parte ativa (elo fusível) e em uma parte passiva (chave fusível), ou seja, a partir da fusão do elo a chave abrirá o circuito. 2.4.1.1 Elos fusíveis Pode-se descrever o elo fusível como o elemento sensor e atuador da chave fusível, pois, em condições normais, a corrente fluirá continuamente, mas em caso de sobrecarga ou curto-circuito, o elo sentirá essa elevação e se fundirá, atuando assim para que chave interrompa o circuito. Vale ressaltar que o tempo de ocorrência da fusão completa do elo depende de forma inversamente proporcional a intensidade da corrente de sobrecarga ou curto-circuito, ou seja, quanto maior a corrente, menor será o tempo de fusão do mesmo. De acordo com IEEE 100 (2000) apud Mattos (2010), o elo fusível é um dispositivo de proteção contra sobrecorrente que é caracterizado por um filamento ou 30 placa metálica com um ponto de fusão baixo, tornando-o sensível às elevações na corrente, uma vez que, por efeito Joule, o filamento se funde e interrompe a circulação da corrente elétrica. Os elos fusíveis são classificados de acordo com suas características de atuação, onde se leva em consideração as características de corrente x tempo de atuação e de acordo com Mamede Filho e Mamede (2011) esse fato permite que sejam codificados nas seguintes classificações: Tipo H: denominados fusíveis de alto surto, apresentam tempo de atuação lento e são utilizados somente na proteção de transformadores de distribuição. Esta característica lenta se dá devido o mesmo ter que suportar as correntes de magnetização sem que o circuito seja aberto (MAMEDE FILHO; MAMEDE, 2011); Tipo K: apresentam um tempo de atuação rápido, sendo utilizados normalmente na proteção de ramais de alimentadores de distribuição ou mesmo instalados ao longo desses alimentadores (MAMEDE FILHO; MAMEDE, 2011); Tipo T:apresentam tempo de atuação lento, sendo utilizados na proteção de alimentadores de distribuição e seus ramais correspondentes, não sendo estes muito difundidos no Brasil (MAMEDE FILHO; MAMEDE, 2011). 2.4.1.2 Chaves fusíveis De acordo com Almeida (2000), as chaves fusíveis podem ser descritas como dispositivos eletromecânicos que abrem o circuito no momento que há a fusão do elo fusível. Seu princípio de abertura se baseia na extinção do arco elétrico por meio de gases desionizantes que surgem no momento da combustão do tubinho e das paredes da porta fusível, onde esses gases geram um empuxo para cima e faz com que a porta fusível se desconecte, abrindo assim o circuito. Outro detalhe que também ajuda no momento da abertura é o fato da chave possuir uma inclinação de cerca de 70° com a cruzeta. As Figuras 11a e 11b detalham, respectivamente, cada componente da chave fusível e da porta fusível. 31 Figura 11a – Chave fusível. Fonte: Adaptado de EMD, 2016. Figura 11b – Porta fusível. Fonte: Adaptado de EMD, 2016. O tópico 2.4.2 dá início aos transformadores de corrente e cita alguns dos principais tipos. 2.4.2 Transformador de corrente (TC) Os transformadores de corrente têm como principal função possibilitar que outros equipamentos de leitura e de proteção desempenhem suas funções, já que as correntes que circulam nos circuitos são geralmente elevadas e este fato impossibilita sua conexão direta no circuito. Desta forma, os TCs trabalham como um intermediário entre equipamentos e o circuito principal, onde nos seus terminais secundários são geradas correntes inferiores e proporcionais as que fluem nos circuitos principais. 32 Os transformadores de corrente na sua forma mais simples possuem um primário, geralmente de poucas espiras, e um secundário, no qual a corrente nominal transformada é, na maioria dos casos, igual a 5 A. Desta forma, os instrumentos de medição e proteção são dimensionados em tamanhos reduzidos devido aos baixos valores de correntes secundárias para os quais são projetados (MAMEDE FILHO; MAMEDE, 2011). O TC é destinado a reproduzir proporcionalmente em seu circuito secundário a corrente de seu circuito primário com sua posição fasorial mantida, conhecida e adequada para o uso em instrumentos de medição, controle e proteção. Assim, o transformador de corrente deve reproduzir, no seu secundário, uma corrente que é réplica em escala da corrente do primário do sistema elétrico (KINDERMANN, 2005). Os TCs podem ser construídos de diferentes formas e para diversas finalidades, dentre os tipos construtivos destacam-se: Tipo barra – Neste tipo de TC o primário é uma barra fixada ao núcleo do transformador. Ele é comumente utilizado na medição e na proteção de quadros de comando de motor ou em circuitos de baixa tensão com elevados valores de corrente. A Figura 12 mostra um transformador do tipo barra. Figura 12 - Transformador de corrente tipo barra. Fonte: Gonçalves, 2012. Tipo enrolado – O enrolamento primário deste TC é composto de, no mínimo, uma espira. Este é comumente utilizado em sistemas de medição, mas também pode ser 33 utilizado em sistemas de proteção. A Figura 13 mostra um transformador do tipo enrolado. Figura 13 - Transformador de corrente tipo enrolado. Fonte: Gonçalves, 2012. Tipo janela – Neste tipo de TC não existe um primário fixo no mesmo, desta forma há uma abertura no equipamento (por isso o nome janela) que possibilita a passagem do meio condutor (cabo, barramento etc.). A Figura 14 mostra um transformador do tipo janela. Figura 14 - Transformador de corrente tipo janela. Fonte: Gonçalves, 2012. 34 Tipo bucha – Pode-se dizer que este TC é parecido com o do tipo barra, diferenciando- se apenas no fato de que seu primário é a própria bucha do equipamento (transformador, disjuntor etc.). A Figura 15 mostra um transformador do tipo bucha. Figura 15 - Transformador de corrente tipo bucha. Fonte: Gonçalves, 2012. Tipo núcleo dividido – Este tipo de TC é parecido com o do tipo janela, onde não detém de um primário fixo, diferencia-se no fato de seu núcleo ter a capacidade de se abrir para facilitar a medição de corrente. A aplicação mais conhecida desse TC são os alicates amperímetros. A Figura 16 mostra um transformador do tipo núcleo dividido. Figura 16 - Transformador de corrente tipo núcleo dividido. Fonte: Gonçalves, 2012. 35 TC com vários enrolamentos primários – Sua principal característica é possuir vários enrolamentos primários de forma isolada e apenas um enrolamento secundário. A Figura 17 mostra um transformador do tipo vários enrolamentos primários. Figura 17 - Transformador de corrente com vários enrolamentos primários. Fonte: Mamede Filho; Mamede, 2011. TC com vários núcleos secundários – Esse tipo de TC tem seu secundário formado por vários enrolamentos, mas cada um contém um núcleo individual. A Figura 18 mostra um transformador do tipo vários núcleos secundários. Figura 18 - Transformador de corrente com vários núcleos secundários. Fonte: Mamede Filho; Mamede, 2011. TC com vários enrolamentos secundários – Este tipo de TC contém vários enrolamentos secundários embora só se tenha um único enrolamento primário. A Figura 19 mostra um transformador do tipo vários enrolamentos secundários. 36 Figura 19 - Transformador de corrente com vários enrolamentos secundários. Fonte: Mamede Filho; Mamede, 2011. Depois de descritos os tipos de transformadores de corrente, é possível dar início a explanação sobre os relés de sobrecorrente. 2.4.3 Relé de sobrecorrente O relé de sobrecorrente, como o próprio nome sugere, tem como grandeza de atuação a corrente elétrica do sistema. Este pode ser aplicado para proteger qualquer elemento de um sistema de energia, como, por exemplo, linhas de transmissão, transformadores, geradores ou motores, entre outros dispositivos, equipamento e sistemas (COURY, 2007 apud BREDA, 2009). O relé pode ser descrito como um dos principais componentes do sistema de elétricos de potência, pois o mesmo executa tanto funções de monitoramento das diversas grandezas elétricas (tensão, corrente, frequência etc.) como participa ativamente do sistema de proteção. Este equipamento funciona a partir do acompanhamento, em tempo real, de todas as grandezas durante o período em que o sistema se encontra em regime permanente. A partir do instante que ocorre alguma anomalia ou curto-circuito, o relé identifica a mesma e posteriormente envia um comando para que o disjuntor abra o circuito, isolando somente o trecho defeituoso, visando a melhor forma de suprir a demanda e restaurar a normalidade do sistema o mais rápido possível. De acordo com Soares (2009), a aplicação do relé abrange desde a proteção de motores em 37 sistemas elétricos industriais, transformadores, linhas de transmissão de energia elétrica e geradores de grande porte podendo ser empregados como proteção primária ou de retaguarda. É importante ressaltar que a função de um relé, aplicado a um sistema de proteção, é de remover de serviço alguns elementos ou componentes que estão operando de maneira inadequada, o que caracteriza uma situação de falta. Logo, estes não previnem situações perigosas aos equipamentos, mas somente atuam tão rápido quanto possível após algumas anomalias terem sido detectadas, buscando manter a integridade e estabilidade do sistema remanescente. Neste contexto, os relés devem propiciar determinadas características funcionais essenciais a um sistema de proteção (GONDIM, 2010). A Figura 20 mostra um modelo de relé de sobrecorrente. Figura 20 - Relé de sobrecorrente microprocessado. Fonte:Pextron, 2016. A característica dos relés de sobrecorrente é representada pelas suas curvas tempo versus corrente. Estas curvas variam em função do tipo do relé (disco de indução, estático, digital). Antigamente, na época dos relés de disco de indução, a escolha da característica do equipamento era feita no momento da compra e, assim, não era possível alterá-la. Atualmente fabricam-se praticamente somente os relés digitais e a maior parte deles permite escolher a característica tempo corrente apenas alterando-se os parâmetros no próprio relé (MARDEGAN, 2010). As operações dos relés de sobrecorrente se baseiam em curvas com características de: Tempo Definido – Esta curva tem como característica a necessidade de se efetuar os ajustes de tempo de atuação e de corrente de atuação. Desta forma, o relé enviará um sinal de comando para que o disjuntor abra o circuito sempre que a corrente de atuação for atingida e permaneça no circuito pelo tempo pré-ajustado no relé. Segundo Mattos (2010) os 38 parâmetros de tempo de atuação (TUP) corrente de atuação (IUP) indicam os valores em que o relé irá atuar, ou seja, o dispositivo atuará para valores maiores ou iguais à corrente mínima de atuação, em um tempo igual ao TUP, conforme mostra a Figura 21. Figura 21 – Curva de tempo definido. Fonte: Soares, 2009 apud Mattos, 2010. Tempo dependente – Os tempos de atuação dos relés são inversamente proporcionais as intensidades de corrente elétrica, ou seja, o relé irá atuar mais rapidamente quão maior for o valor da corrente elétrica. Segundo Soares (2009) apud Mattos (2010), existem diversos tipos de curvas de tempo dependente, que podem seguir padrões norte-americanos (ANSI), europeus da International Electrotechnical Commission (IEC) ou padrões próprios de determinado fabricante de relé. Neste trabalho serão utilizadas as curvas do padrão IEC, e com isso se faz importante apresentar as mais comuns, sendo elas: Normal Inversa (NI), Muito Inversa (MI) e Extremamente Inversa (EI). Os valores de tempo destas curvas são determinados com base na Equação 5 que é apresentada a seguir. 𝑡 = 𝐾₁∗𝐷𝑇 𝑚𝑘₂−1 (5) 39 Onde, K₁ e K2 Constantes definidas pelo tipo da curva (estão mostradas na Tabela 2); m Múltiplo de corrente; DT Multiplicador de tempo (Dial time). São ajustes utilizados para denotar as características de tempo do relé. Tabela 2 - Constantes para curvas de atuação estabelecidas pelo padrão IEC. CONSTANTES DE SOBRECORRENTE Curva K₁ K₂ Extremamente Inversa 80 2 Muito Inversa 13.5 1 Normal Inversa 0.14 0.02 Fonte: IEEE Std C37.112, 1996. De posse desses dados é possível estabelecer as curvas a serem utilizadas nos relés. A Figura 22 mostra um exemplo de curvas IEC para o mesmo DT. 40 Figura 22 - Curvas IEC para o mesmo valor de DT. Fonte: Mardegan, 2010. Explicadas as curvas de operação dos relés, é possível agora falar das duas unidades que os desenvolvem, sendo elas: unidade instantânea e unidade temporizada. 2.4.3.1 Função de sobrecorrente (50/51, 50N/51N) Os relés que implementam esta função atuam para uma corrente maior do que a corrente que foi parametrizada inicialmente. Caso ocorra alguma falha no sistema e o parâmetro sensível do relé ultrapasse o seu ajuste, o mesmo atua (OLIVEIRA JÚNIOR, 2009). De acordo com Kindermann (2005), os relés instantâneos não são na essência da palavra instantâneos, mas o seu tempo é o correspondente ao da movimentação de seus mecanismos de atuação. Ainda para Kindermann (2005), a unidade instantânea pode atuar instantaneamente ou de acordo com um tempo previamente definido. Segundo Kindermann (2005), a unidade 51 tem na sua própria funcionalidade característica temporizada, ou seja, a sua atuação ocorre após um certo tempo. Ainda para Kindermann (2005) a unidade 51 opera através das curvas de tempo definido ou de tempo dependente. 41 De acordo com Mamede Filho e Mamede (2011), os ajustes da unidade 50/51 e 50N/51N devem obedecer às seguintes condições: UNIDADE INSTANTANEA 50 o A corrente mínima de acionamento deve ser inferior à menor corrente simétrica de curto-circuito no trecho protegido pelo relé; o A corrente mínima de acionamento deve ser superior a corrente de magnetização do transformador. UNIDADE INSTANTANEA 50 N o A corrente mínima de acionamento deve ser inferior à menor corrente assimétrica de curto-circuito monopolar no trecho protegido pelo relé. UNIDADE TEMPORIZADA 51 o O relé não deverá atuar para as condições de carga máxima admitidas; o O relé deve operar de acordo com a curva temporizada para o múltiplo de corrente ajustado. UNIDADE TEMPORIZADA 51 N o A corrente ajustada deve ser multiplicada por um fator K, compreendido entre 0,1 e 0,3, que representa a taxa de desequilíbrio máximo admitida. 2.5 COORDENAÇÃO E SELETIVIDADE Em regime permanente, o sistema de potência deve se encontrar em condições normais, mas no momento que ocorre alguma anormalidade, por exemplo o curto-circuito, o sistema de proteção deve abrir o circuito através do equipamento de interrupção mais próximo da área de 42 ocorrência do sinistro. Existe ainda um fator que demarca a ordem de abertura dos dispositivos, ele é conhecido como o nível de atuação, este se divide em proteção principal, que é a primeira proteção a atuar em um curto na zona protegida, e em proteção de retaguarda, que atuará apenas em caso de falha da proteção principal. Para garantir que a falta em um determinado ponto do sistema seja detectada e que todos os elementos do sistema estejam protegidos, é necessário que os elementos desse sistema estejam em pelo menos uma zona de proteção, região do sistema em que o dispositivo de proteção é responsável pela detecção e atuação em caso de falta. Essas zonas são definidas pelo posicionamento dos dispositivos de proteção, como exemplificado na Figura 23. Nela são mostradas em tracejado as zonas de proteção, e os quadros em preto adjacentes à barra são os locais onde os dispositivos de proteção estão instalados. Como é possível notar, sempre há uma sobreposição nas zonas de proteção, isto é feito para elevar a confiabilidade do sistema de proteção, de forma que o dispositivo de proteção do elemento protegido esteja em mais de uma zona de proteção. Quando existe a sobreposição de zonas de proteção, é preciso que essas zonas sejam classificadas por ordem de atuação. A região que tem a responsabilidade de atuar primeiro, em caso de falta é definida como zona de proteção primária, já a região que tem uma atuação mais demorada e menos seletiva é denominada zona de proteção de retaguarda. Esta se torna responsável pela proteção da zona primária quando o dispositivo de proteção por qualquer motivo falhe (MATTOS, 2010). 43 Figura 23 – Zonas de proteção e seus dispositivos Fonte: Mattos, 2010. O principal objetivo dos estudos de coordenação e seletividade de dispositivos de proteção contra sobrecorrente é minimizar os efeitos que os curtos-circuitos podem causar no sistema elétrico. Isso é feito eliminando-se o curto-circuito rapidamente por meio do desligamento do menor número de equipamentos possível. Quando um sistema é capaz de detectar um comportamento faltoso e garantir que somente essas partes faltosas são tiradas de operação é possível denominar esse circuito como seletivo (HEWITSON et al., 2004 apud MATTOS, 2010). De acordo com Medeiros (2010), o termo “seletividade” é uma expressão associada ao arranjo dos dispositivos de proteção de forma que somente o elemento em falta seja retirado do sistema. Isto é, os demais elementos devem permanecer conectados ao sistema. A característica de seletividaderestringe a interrupção somente dos componentes que estão em falta. A seletividade está atrelada ao conceito de coordenação, sendo que um sistema elétrico de proteção é dito seletivo quando, diante da ocorrência da falta em um ponto, apenas a menor parte do sistema de potência ao redor deste ponto é isolada pela proteção, garantindo assim que 44 o restante do sistema (e suas respectivas cargas) continue a funcionar de forma satisfatória (RODRIGUES, 2013). Segundo Medeiros (2010), a coordenação determina os ajustes com o objetivo de conseguir a sensibilidade de coordenação entre os dispositivos de proteção, de forma que as proteções adjacentes só atuem no caso de falha das proteções responsáveis por prover proteção à zona específica. A coordenação da proteção de um circuito elétrico tem como principal objetivo garantir a seletividade no sistema elétrico: somente os dispositivos instalados mais próximos ao local da falta devem atuar. Atinge-se tal objetivo aplicando-se os critérios de coordenação entre os dispositivos de proteção (Mattos, 2010). Segundo IEEE Std 242 (2001), os intervalos de coordenação, que são aplicados entre os dispositivos de proteção, são definidos conforme mostra a Tabela 3. Tabela 3 – Intervalos de coordenação entre os dispositivos. Dispositivo a Jusante Dispositivo a montante Fusível Disjuntor de baixa tensão Relé digital Fusível 120 ms 120 ms 120 ms Disjuntor de baixa tensão 120 ms 120 ms 120 ms Relé digital 250 ms 250 ms 250 ms Fonte: IEEE Std 242, 2001. 45 3 MATERIAIS E MÉTODOS Este capítulo tem como ponto de partida mostrar os detalhes da Estação de Bombeamento de Água II, local onde o estudo de proteção foi realizado, sendo citados os principais equipamentos que compõem o sistema elétrico potência do recinto, as características nominais de funcionamento das máquinas, bem como as principais características dos dispositivos de proteção já instalados. Além disso, o capítulo serve de embasamento para que seja iniciada a etapa de cálculos de curto-circuito e posteriormente dos ajustes dos dispositivos de proteção. 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA CIDADE DE MOSSORÓ E DO SEU SISTEMA DE ABASTECIMENTO A cidade de Mossoró está localizada no interior do estado do Rio Grande do Norte, encontrando-se a uma distância de aproximadamente 280 km da capital do estado, Natal. Mais precisamente, está próxima a linha do equador, com 05 ° 13’ de latitude e 37 ° 18’ de longitude, além de possuir altitude média de 16 m acima do nível do mar (IBGE, 2014). De acordo com o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Mossoró é estimada em cerca de 291 mil habitantes. A Figura 24 mostra a localização do município em relação ao país e ao estado. 46 Figura 24 - Localização do município de Mossoró. Fonte: Simonsen, 2010. O sistema de abastecimento de água da cidade de Mossoró é composto basicamente por duas fontes, são elas: subterrânea e superficial. É importante ressaltar que a captação subterrânea é a mais utilizada, correspondendo a 70% do abastecimento, devido à grande abundância do lençol freático presente na região. A captação superficial é realizada na Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves que pertence a bacia hidrográfica do rio Piranhas-Assu. A água é enviada para o município de Mossoró a partir do sistema adutor Jeronimo Rosado, que é composto pelas Estações de Bombeamento e pela adutora. A Estação de Bombeamento I é o ponto de envio da água e se localiza no município de Assu/RN. Posteriormente, a adutora entrega à água diretamente na Estação de Bombeamento II, que se localiza no município de Mossoró/RN, sendo responsável por 30% do abastecimento da cidade e ainda por beneficiar diversas comunidades localizadas entre as duas cidades. 3.2 ESTAÇÃO DE BOMBEAMENTO DE ÁGUA II (EB2) A Estação de Bombeamento ou EB2, localiza-se nas margens da BR 304, é responsável por receber, tratar e bombear, à água que chega através da adutora, para os reservatórios 47 localizados na cidade. A Figura 25 mostra a Estação de Bombeamento II da adutora Jerônimo Rosado. Figura 25 - Estação de Bombeamento II da adutora Jerônimo Rosado. Fonte: Autoria Própria, 2016. O funcionamento da estação acontece da seguinte forma: a agua recebida é direcionada para grandes reservatórios localizados no pátio do terreno e posteriormente é bombeada, através de 2 motores de 150 kW, até os reservatórios espalhados dentro da cidade. O tópico 3.3, a seguir, dará início ao estudo de proteção proposto através, inicialmente, de um detalhamento sobre a composição do sistema elétrico da estação. 3.3 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA ELÉTRICO É importante ressaltar que o estudo foi realizado em um circuito já existente, não sendo objetivo deste trabalho escolher os dispositivos de proteção, e sim aplicar os critérios de coordenação e seletividade estudados de modo a propiciar uma maior confiabilidade ao mesmo. A Figura 26 mostra um diagrama unifilar que detalha os equipamentos da estação. 48 Figura 26 - Diagrama unifilar da Estação de Bombeamento II da adutora Jerônimo Rosado. Fonte: Autoria Própria, 2016. O sistema elétrico da estação é composto de uma subestação ao tempo de 500 kVA, com transformador de primário conectado em delta e secundário conectado em estrela aterrado, que recebe energia em média tensão (13,8 kV) diretamente da concessionária e posteriormente reduz o potencial para 380/220 V. No interior da subestação se encontram instalados um cubículo de medição, um cubículo de proteção e um cubículo de transformação, sendo o segundo dotado de um disjuntor comandado por relé através das funções 50/51 e 50N/51N. Na média tensão, o sistema ainda é protegido por um elo fusível de 25K. O equipamento RELIGADOR_21V2_COSERN, mostrado na figura 26, não faz parte do circuito da estação, mas foi adicionado com o intuito de se mostrar a coordenação dos dispositivos do consumidor com o dispositivo da concessionária. Na baixa tensão, três cabos de 120 mm²/fase alimentam o barramento principal do Centro de Comando de Motor (CCM), sendo a proteção do mesmo realizada através de um disjuntor comandado por um relé através das funções 50/51 e 50N/51N. 49 As cargas conectadas diretamente no barramento são três motores de 150 kW, onde apenas dois funcionam continuamente e o outro fica na reserva para o caso de quebra, desta forma, para simplificar o diagrama se optou por representar apenas os dois que operam em tempo integral. A proteção dos circuitos terminais dos motores é realizada através de fusíveis do tipo SITOR de 500 A nominais. Os dois relés no circuito de proteção da estação são do modelo Pextron URP 2000 que é um relê de proteção de sobrecorrente trifásico, com religador automático, falha de disjuntor e relê de alta impedância. Entre as diversas funções se faz importante ressaltar as proteções utilizadas nesse trabalho, que são as funções 50/51 e 50N/51N (As informações sobre os ajustes permitidos pelo relé estão mostradas no Anexo II deste trabalho). A Figura 27 mostra o relé Pextron URP 2000. Figura 27 - Relé de proteção de sobrecorrente Pextron URP 2000. Fonte: Pextron, 2016. 50 4 ANALISE E RESULTADOS Descrito todo o sistema elétrico onde o estudo foi realizado, o presente capítulo tem como objetivo apresentar os resultados obtidos na realização dos ajustes da proteção, bem como mostrar os coordenogramas entre as zonas de proteção delimitadas. 4.1 NÍVEIS DE CURTO CIRCUITO As correntes de curto-circuito foram calculadas a partir dos dados informados pela concessionária (os mesmos estão descritos no Anexo I) e das características dos equipamentos instalados no sistema, como transformador e condutores. Vale salientarque não é objetivo deste estudo demonstrar o passo a passo dos cálculos de curto-circuito, e sim de detalhar todos os critérios utilizados na obtenção dos ajustes dos equipamentos de proteção. Para uma melhor compreensão, o circuito foi dividido em duas partes e de acordo com o seu nível de tensão. Desta forma, foram propostas duas zonas de proteção, são elas: zona I, que se localiza no lado de média tensão, em 13,8 kV, e a zona II, que se localiza no lado de baixa tensão, em 380 V. Os valores de curto-circuito da zona I podem ser considerados, aproximadamente, iguais aos valores de corrente no ponto de entrega fornecidos pela concessionária, já que as distancias entre os mesmos é pequena, ou seja, a impedância dos cabos que conectam os dois pontos é praticamente nula. Na zona II, decidiu-se calcular os níveis de curto-circuito no barramento do CCM, pois os mesmos serão importantes na coordenação do dispositivo RELÉ_SEC_TRAFO com o equipamento RELÉ_ENTRADA, e nos terminais do motor, que por sua vez serão importantes na coordenação do fusível, que protege cada motor, com o equipamento RELÉ_SEC_TRAFO. A Tabela 4 mostra todos os valores de curto-circuito calculados, onde as correntes da zona II são dadas tanto ao nível de tensão de 380 V, quanto seus respectivos valores refletidos para os terminais primários do transformador, em 13,8 kV. 51 Tabela 4 - Valores das correntes de curto-circuito, em Amperes, na zona I e na zona II. Tipo do curto- circuito Zona I Zona II Primário Transformador Barramento CCM Terminal do Motor - 13,8 kV 380/220 V 13,8 kV 380/220 V 13,8 kV Trifásico 1.469,54 A 11.315,6 A 311,5 A 6.663,5 A 183,48 A Bifásico 1.272,66 A 9.799,6 A 269,8 A 5.770,7 A 158,90 A Fase-Terra 685,52 A 11.931 A 190,2 A 6.024,2 A 96,03 A Fase-Terra-Mínimo 180,76 A 6.207 A 98,95 A 3.851,9 A 61,39 A Fonte: Autoria Própria, 2016. De acordo com a Tabela 4, é possível observar que no barramento do CCM o maior valor calculado foi o do curto-circuito fase-terra (11.931 A), embora quando os valores foram refletidos para o lado de alta tensão, notou-se que o mesmo (190,2 A) foi superado pela falta trifásica (311,5 A). Já nos terminais dos motores a falta trifásica (6.663,5 A) teve a maior intensidade. De posse dos valores de curto-circuito, é possível descrever os ajustes efetuados nos relés de proteção. Desta forma o tópico 4.2 detalhará os critérios utilizados na definição dos parâmetros. 4.2 PROTEÇÃO DE FASE A proteção de fase foi realizada com o auxílio dos gráficos de tempo versus corrente (coordenogramas de proteção) produzidos computacionalmente. Os mesmos possibilitam uma melhor visualização das regiões protegidas e das particularidades adotadas na configuração de cada um dos relés. As curvas de dano do transformador e a curva de partida dos motores serão plotadas com o intuito de mostrar a eficácia do sistema. 52 A finalidade desta proteção é assegurar que as faltas envolvendo as fases do sistema sejam eliminadas antes que os equipamentos sofram algum dano. É importante ressaltar que, os ajustes efetuados foram adotados de forma a permitir que se tenha uma continuidade no serviço durante os elevados valores de corrente transitória, normais ao funcionamento da unidade (como a corrente de magnetização do transformador e a corrente de partida dos motores), mas que fosse eficaz na presença das correntes de curto-circuito. As subseções seguintes apresentam os resultados obtidos no estudo de coordenação e seletividade para as zonas de proteção propostas. 4.2.1 Zona de proteção I: Ajustes do dispositivo “RELÉ_ENTRADA” A proteção da zona I é realizada pelo elo fusível de 25K e pelo dispositivo RELÉ_ENTRADA, sendo que os mesmos devem atuar de maneira coordenada com o equipamento de proteção da concessionária. Como o elo fusível é normatizado pela concessionária, de acordo com a potência do transformador utilizado na subestação, o ajuste efetuado na zona I se limita a configuração do relé. Assim, o dispositivo RELÉ_ENTRADA teve sua unidade de sobrecorrente 50/51 ajustada com base nas características do transformador e dos níveis de curto-circuito em seus terminais primários. A unidade temporizada foi ajustada em 1,57 A para uma curva 1.4 EI IEC de modo que o relé atue para qualquer valor superior a 120% da corrente de carga nominal, ou seja, permitindo-se ainda uma folga de 20%. A unidade instantânea foi ajustada em 22 A, valor este escolhido de forma a impedir que o relé atue durante a magnetização do transformador (para uma corrente máxima de doze vezes a corrente nominal). Assim, para qualquer valor de corrente superior a este (inclusive para a menor corrente de falta no ponto de instalação), o relé atuará instantaneamente. É importante ressaltar que os valores de correntes informados são correntes oriundas de um TC 80/5, ou seja em valores nominais, a unidade temporizada foi ajustada em 25,12 A e a unidade instantânea em 352 A. Desta forma, o ajuste da unidade temporizada é superior a corrente de carga máxima (25 A), do transformador, e o ajuste da unidade instantânea é maior 53 que a corrente de magnetização (251 A) e inferior a menor corrente de curto-circuito (1272 A) no ponto de instalação do relé, ou seja, obedece aos critérios estabelecidos. A Figura 28 mostra o coordenograma de fase da zona I. 54 Figura 28 - Coordenograma de fase da zona de proteção I. Fonte: Autoria Própria, 2016. 55 A aplicação dos conceitos de coordenação e seletividade do equipamento ELO_25K com os demais dispositivos de proteção da estação se mostrou inviável, uma vez que o fato de coordena-lo com o dispositivo à sua jusante, torna impraticável a coordenação entre os demais equipamentos. Desta forma, a seletividade entre o ELO_25K e o RELÉ_ENTRADA não foi atingida. Assim, o mesmo atuará de forma seletiva apenas no trecho compreendido entre o ponto de entrega da concessionária e o ponto de instalação do relé. A partir do coordenograma da Figura 28 é notório que os dispositivos não atuam durante a corrente de magnetização do transformador. É possível visualizar que o elo fusível está violando a curva de dano do transformador, sendo esse fato desconsiderado, pois durante o intervalo de tempo que ocorre essa violação, a região é totalmente protegida pela curva temporizada do relé. A Tabela 5 mostra os tempos de abertura, dos dispositivos de proteção, para as correntes de curto-circuito calculadas na zona I, onde o equipamento RELIGADOR_21V2_COSERN atua em sua curva temporizada tanto para a falta bifásica quanto para a falta trifásica, enquanto o dispositivo RELÉ_ENTRADA atua para estas correntes em sua curva instantânea, que de acordo com o manual do relé tem tempo de atuação de aproximadamente 0,02 segundos. Tabela 5 – Tempos de abertura dos equipamentos para os curtos circuitos na zona I. Corrente de curto- circuito Tempo de abertura dos equipamentos RELIGADOR_21V2_COSERN RELÉ_ENTRADA Bifásico (1273 A) 1,05 s 0,02 s Trifásico (1470 A) 0,84 s 0,02 s Fonte: Autoria Própria, 2016. De acordo com os valores observados na Tabela 5 é possível notar que os critérios de coordenação dos relés digitais são obedecidos, uma vez que a diferença entre os tempos de abertura, do RELIGADOR_21V2_COSERN e do RELÉ_ENTRADA, para as faltas bifásicas e trifásicas são respectivamente de 1,02 e 0,82 segundos, ou seja, são superiores aos 0,25 56 segundos estabelecidos pela IEEE 242 (2001). Pode-se dizer ainda que a coordenação obtida entre os equipamentos da estação e da concessionária é satisfatória, pois tanto para as condições de carga nominal quanto as de curto-circuito, os equipamentos ELO_25K e RELÉ_ENTRADA operam, no sentido de interromper o circuito, antes do equipamento RELIGADOR_21V2_COSERN. 4.2.2 Zonade Proteção II: Ajustes do dispositivo “RELÉ_SEC_TRAFO” A proteção da zona II é realizada pelo dispositivo RELÉ_SEC_TRAFO (que protege o BARRAMMENTO_CCM) e pelos fusíveis que protegem os terminais de motores. Como os motores são idênticos, será apresentada apenas a curva de um deles, bem como o seu fusível correspondente. O equipamento RELÉ_SEC_TRAFO teve sua unidade de sobrecorrente 50/51 ajustada com base nas características de funcionamento (em regime permanente), de acionamento das maquinas, de rotor bloqueado e de curto-circuito no barramento do CCM. A unidade temporizada foi ajustada com base na corrente nominal de 540 A (correspondentes aos dois motores que estão diretamente conectados ao barramento), sendo acrescentado ainda uma folga de 10%, totalizando assim um valor de 110% da corrente nominal no barramento. Desta forma, a corrente da unidade 51 foi ajustada em 3,75 A para uma curva 1,75 EI IEC. A unidade instantânea foi ajustada de forma a garantir que o relé não opere indevidamente durante a partida dos motores. Desta forma, considerou-se uma situação (pior caso) de acionamento onde um dos motores já estivesse operando em regime permanente, para que a partir daí, o outro pudesse ser acionado. Considerando-se uma corrente de partida, máxima, de oito vezes a corrente nominal somado ao valor de corrente do motor em regime, a corrente de atuação da unidade 50 poderia ser ajustada em 16 A, mas para melhorar a seletividade entre o RELÉ_SEC_TRAFO e o FUSIVEL_M1_SITOR_500 A, optou-se por adotar o valor de 60 A. É importante ressaltar que os valores de correntes informados são correntes oriundas de um TC 800/5, ou seja em valores nominais a unidade temporizada foi ajustada em 600 A e a unidade instantânea em 9600 A. Desta forma, o ajuste da unidade temporizada é superior a corrente de carga máxima (540 A) e o ajuste da unidade instantânea é maior que a corrente de partida dos motores (2160 A) e inferior 57 a menor corrente de curto-circuito (9800 A) no ponto de instalação do relé, ou seja, obedece aos critérios estabelecidos. A Figura 29 apresenta o coordenograma de fase da zona de proteção II. 58 Figura 29 - Coordenograma de fase da zona de proteção II. Fonte: Autoria Própria, 2016. 59 O coordenograma da Figura 29 mostra que os equipamentos de proteção não atuam durante a corrente de partida dos motores, sendo o intervalo entre a curva de partida e a curva do relé, aproximadamente, de 5,7 segundos. Já para o caso de rotor bloqueado, o fusível não consegue realizar a proteção, pois sua curva não está totalmente abaixo do ponto de rotor bloqueado, ou seja, o motor será danificado antes que o fusível atue. Desta forma, o ponto de rotor bloqueado fica protegido pela curva temporizada do relé, pois, como pode ser visto na Figura 29, a curva está localizada abaixo do ponto, ou seja, o relé vai atuar antes que a máquina seja danificada. Assim, não há seletividade entre FUSÍVEL_M1_SITOR_500A e RELÉ_SEC_TRAFO na proteção de rotor bloqueado. A Tabela 6 mostra os tempos de abertura, dos dispositivos de proteção, para as correntes de curto-circuito calculadas nos terminais dos motores, onde o equipamento RELÉ_SEC_TRAFO atua em sua curva temporizada tanto para a falta bifásica, quanto para a falta trifásica, enquanto o FUSÍVEL_M1_SITOR_500A atua para estas correntes em sua curva de interrupção. Tabela 6 - Tempos de abertura dos equipamentos, da zona II, para os curtos-circuitos nos terminais dos motores. Corrente de curto- circuito Tempo de abertura dos equipamentos RELÉ_SEC_TRAFO FUSÍVEL_M1_SITOR_500A Bifásico (5.771 A) 1,52 s 0,77 s Trifásico (6.664 A) 1,14 s 0,42 s Fonte: Autoria Própria, 2016. Um fato importante de se observar na Figura 29 é que embora o relé esteja ajustado para uma curva consideravelmente alta, não foi possível garantir a seletividade de toda a sua curva com o fusível. Porém, para faltas localizadas na zona de proteção dos fusíveis é possível visualizar (conforme mostra a Tabela 6) que nos terminais dos motores, os intervalos de tempo, entre a curva do RELÉ_SEC_TRAFO e o fusível, para as correntes bifásicas e trifásicas são respectivamente 0,75 e 0,72 segundos. Assim, o relé atuará apenas como proteção de 60 retaguarda, pois os critérios de coordenação estabelecidos pela IEEE 242 (2001) foram obedecidos, já que a norma descreve que o intervalo mínimo entre as curvas deve ser de 0,12 segundos. Após as explanações sobre os ajustes efetuados em cada uma das zonas protegidas, o coordenograma apresentado na Figura 30 tem como objetivo abordar a coordenação entre o equipamento RELÉ_ENTRADA e o RELÉ_SEC_TRAFO. 61 Figura 30 - Coordenograma de fase entre o RELE_ENTRADA e RELÉ_SEC_TRAFO. Fonte: Autoria Própria, 2016. 62 A partir do coordenograma da Figura 30 foi criada a Tabela 7 que mostra os tempos de abertura, dos dispositivos de proteção, para as correntes de curto-circuito calculadas no barramento do CCM, onde o equipamento RELÉ_ENTRADA atua em sua curva temporizada tanto para a falta bifásica, quanto para a falta trifásica, enquanto o RELÉ_SEC_TRAFO atua para estas correntes em sua curva instantânea. Tabela 7 - Tempos de abertura, dos equipamentos, para os curtos-circuitos barramento do CCM. Corrente de curto- circuito Tempo de abertura dos equipamentos RELÉ_ENTRADA RELÉ_SEC_TRAFO Bifásico (9.800 A) 0,98 s 0,02 s Trifásico (11.316 A) 0,74 s 0,02 s Fonte: Autoria Própria, 2016. Conforme pode ser visto na Tabela 7, é possível notar que os critérios de coordenação dos relés digitais são obedecidos, uma vez que a diferença entre os tempos de abertura, do equipamento RELÉ_ENTRADA e do RELÉ_SEC_TRAFO, para as faltas bifásicas e trifásicas são respectivamente de 0,96 e 0,72 segundos, ou seja, são superiores aos 0,25 segundos estabelecidos pela IEEE 242 (2001). Pode-se dizer ainda que a coordenação obtida entre os equipamentos é satisfatória, pois, para as condições estabelecidas, sempre o equipamento RELÉ_SEC_TRAFO atua como proteção principal, ficando o RELÉ_ENTRADA responsável pela atuação, apenas, em caso de falhas do dispositivo montado a jusante, ou seja, ele atuará como proteção de retaguarda. Finalizados os ajustes de fase, o próximo tópico tem como finalidade explanar sobre a coordenação entre as unidades 50N/51N dos relés utilizados. 63 4.3 PROTEÇÃO DE NEUTRO A proteção de neutro do sistema foi realizada por meio de relés de sobrecorrente. Uma particularidade do sistema é o fato do transformador ter seu enrolamento primário conectado em delta (13,8 kV) e o secundário em estrela aterrado (380/220 V), assim o neutro fica isolado entre as duas zonas de proteção e a coordenação entre as mesmas é realizada através da unidade de neutro do RELÉ_SEC_TRAFO com a unidade de fase do RELÉ_ENTRADA. Inicialmente foram mostrados os critérios adotados na coordenação de neutro entre o RELIGADOR_21V2_COSERN e o RELÉ_ENTRADA. Em seguida foram mostrados os critérios adotados na coordenação de neutro do RELÉ_SEC_TRAFO. Nos coordenogramas de neutro apresentados, a seguir, são representadas apenas as faltas fase-terra mínima, uma vez que a probabilidade de acontescer um curto-circuito fase-terra franco é muito pequena. 4.3.1 Coordenação de neutro na zona de proteção I O equipamento RELÉ_ENTRADA foi ajustado com base nas características nominais e de magnetização do transformador, bem como os níveis de curto-circuito no seu ponto de instalação. Assim, para uma taxa de desequilíbrio de 0,3, a sua unidade temporizada foi ajustada para um valor de corrente de 0,5 A para uma curva 0,8 MI IEC e sua unidade instantânea em 6 A. É importante ressaltar que os valores de correntes informados são correntes oriundas de um TC 80/5,
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