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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO- UEMA NÚCLEO DE TECNOLOGIAS PARA EDUCAÇÃO- UEMANET CURSO DE PEDAGOGIA LICENCIATURA CLEOMAR NASCIMENTO DA CONCEIÇÃO NASCIMENTO A GESTÃO DEMOCRÁTICA EM ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DE ITAPECURU MIRIM: O estudo de caso da Unidade Escolar Professora Maria das Dores Cardoso da Cruz Itapecuru Mirim – MA 2021 CLEOMAR NASCIMENTO DA CONCEIÇÃO NASCIMENTO A GESTÃO DEMOCRÁTICA EM ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DE ITAPECURU MIRIM: O estudo de caso da Unidade Escolar Professora Maria das Dores Cardoso da Cruz Monografia de graduação apresentada ao curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Maranhão como requisito para a obtenção do título de Licenciado em Pedagogia. Orientadora: Prof. Me. Cecília Ordoñez Itapecuru Mirim 2021 Ficha de identificação da obra Nascimento, Cleomar Nascimento da Conceição A gestão democrática em escola da rede municipal de Itapecuru Mirim: o estudo de caso da unidade escolar professora Maria das Dores Cardoso da Cruz / Cleomar Nascimento da Conceição Nascimento. – Itapecuru Mirim, 2021. 68 f. Orientadora: Profa. Me. Cecília Ordoñez Monografia (Graduação) – Curso de Pedagogia, Universidade Estadual do Maranhão, Núcleo de Tecnologia para Educação, 2021. 1.Gestão. 2. Democrática. 3. Escola. 4.Municipal. I. Título. CDU: 37.014.53 FOLHA DE APROVAÇÃO CLEOMAR NASCIMENTO DA CONCEIÇÃO NASCIMENTO A GESTÃO DEMOCRÁTICA EM ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DE ITAPECURU MIRIM: O estudo de caso da Unidade Escolar Professora Maria das Dores Cardoso da Cruz Monografia de graduação apresentada ao curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Maranhão como requisito para a obtenção do título de Licenciado em Pedagogia. Orientador: Prof. Cecília Ordoñez Aprovado em: 15/07/2021 BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Prof.(a) Me. Cecília Ordoñez Orientadora Universidade Estadual do Maranhão _________________________________________________ Prof.(a) Me. Rodrigo Antônio Iturra Wolff Avaliador Universidade Estadual do Maranhão __________________________________________________ Prof.(a) Me. Suzana Andréia Santos Coutinho Avaliadora Universidade Estadual do Maranhão Este trabalho é dedicado aos meus colegas de classe e aos meus queridos pais. AGRADECIMENTOS Primeiramente eu quero agradecer a Deus por todas as bençãos derramada em minha vida, pelo privilégio em poder está concluindo a minha segunda graduação. Quero agradecer a minha família, em especial a minha mãe Maria Nascimento da Conceição e meu pai José Lopes Nascimento por todo apoio e por sempre acreditarem em meu potencial, a minha família é o meu porto seguro. Também não poderia de externar a minha gratidão a professora Milena Neves e o professor Jarlison Araújo pelo apoio, pelo incentivo, por sempre estarem ao meu lado. De uma forma toda especial agradeço a minha orientadora professora Cecília Ordoñez por todo suporte na construção desse trabalho, pelas as orientações e todo apoio dado a mim, também agradeço aos colegas de sala pela companhia, pela ajuda e por todo apoio durante esses quatro anos de convivência. A todos o meu muito obrigado. “ENSINAR NÃO É TRANSFERIR CONHECIMENTO, MAS CRIAR AS POSSIBILIDADES PARA A SUA PRÓPRIA PRODUÇÃO OU A SUA CONSTRUÇÃO” (Paulo Freire) RESUMO O objetivo geral deste trabalho foi analisar a gestão democrática em um contexto local na escola municipal Professora Maria das Dores Cardoso da Cruz de Itapecuru Mirim. Os objetivos específicos foram: Investigar os documentos da gestão democrática da escola; avaliar o papel da gestão escolar democrática no processo de ensino aprendizagem e identificar ações da gestão escolar democrática que são apresentadas no Plano de Ação, no Projeto Político Pedagógico e no Regimento Interno da escola. A metodologia foi realizada em três etapas: a pesquisa bibliográfica, realizada a partir da seleção de trabalhos acadêmicos já existentes e que retratam sobre o tema, documental, analisando os documentos relacionados com a gestão na escola, como o Plano de Ação, o Regimento Interno e o Projeto Político Pedagógico e a pesquisa de campo, que foi a coleta de dados realizada na escola. O referencial teórico contou com autores como Cury (2005), Fialho e Tsukamoto (2014), Rios (2012), Vieira e Bussolotti (2018), Luck (2009), Fonseca (2013), Paro (2007), Machado (2017), Militão (2019), Carvalho (2015), Brasil (2014), Tramontina et al (2020), Gomes (2015). Os resultados encontrados foram que a Escola Professora Maria das Dores Cardoso da Cruz conta com uma gestão democrática em sua prática educacional, mas necessita que isso seja mais claramente definida em seus documentos gerenciais e pedagógicos. Palavras-chave: Gestão; Democrática; Escola; Municipal. ABSTRACT The general objective of this work was to analyze the democratic management in a local context in the municipal school Professora Maria das Dores Cardoso da Cruz de Itapecuru Mirim. The specific objectives were: To investigate the documents of the democratic management of the school; evaluate the role of democratic school management in the teaching-learning process and identify actions of democratic school management that are presented in the Action Plan, in the Pedagogical Political Project and in the School's Internal Regulation. The methodology was carried out in three stages: bibliographical research, carried out from the selection of existing academic works that portray the theme, documentary, analyzing documents related to school management, such as the Action Plan, the Internal Regulation and the Pedagogical Political Project and field research, which was the data collection carried out at the school. The theoretical framework included authors such as Cury (2005), Fialho and Tsukamoto (2014), Rios (2012), Vieira and Bussolotti (2018), Luck (2009), Fonseca (2013), Paro (2007), Machado (2017), Militão (2019), Carvalho (2015), Brazil (2014), Tramontina et al (2020), Gomes (2015). The results found were that the Escola Professora Maria das Dores Cardoso da Cruz has a democratic management in its educational practice, but it needs this to be more clearly defined in its managerial and pedagogical documents. Key words: Management; Democratic; School; Municipal. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15 2. GESTÃO DEMOCRÁTICA: CONCEITO ....................................................................... 18 3. A GESTÃO DEMOCRÁTICA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ................................. 28 4 A GESTÃO DEMOCRÁTICA EM ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DE ITAPECURU MIRIM: O ESTUDO DE CASO DA UNIDADE ESCOLAR PROFESSORA MARIA DAS DORES CARDOSO DA CRUZ ................................... 42 4.1 Caracterização da Escola ........................................................................................... 42 4.2 A Gestão Democrática na Unidade Escolar Professora Maria Das Dores Cardoso Da Cruz em Itapecuru Mirim ................................................................................................ 44 4.2.1 Plano de ação ............................................................................................................... 44 4.2.2 Regimento interno........................................................................................................46 4.2.3 Projeto Político Pedagógico ....................................................................................... 48 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 52 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 53 ANEXOS .................................................................................................................. 55 15 1 INTRODUÇÃO A pesquisa investigou sobre o conceito de gestão escolar democrática, entendendo que esse processo de gerenciamento coletivo e participativo pode interferir na melhoria do processo de ensino aprendizagem dos alunos tendo como estudo de caso a escola Professora Maria das Dores Cardoso da Cruz no município de Itapecuru Mirim, analisando como a gestão democrática pode ser aplicada em um contexto local. Entende-se que o papel protagonista da escola no meio social tornou relevante e complexa as funções da equipe gestora escolar e por isso, a necessidade de adequar o conhecimento repassado com a realidade dos alunos, tratando-os como indivíduos ativos e conscientes de sua aprendizagem e não como sujeitos passivos, que apenas absorvem as disciplinas ensinadas pelo professor. Essa mudança de percepção proporciona uma educação completa, que forma valores e traz interação e aproximação com as demais instituições sociais, como a família e a comunidade, criando um sentimento de pertencimento entre a escola e a sociedade. A gestão escolar democrática aplicada em escolas municipais é um desafio, pois a escola conta com complexa organização, ligada a entidades públicas e por isso, torna-se complexa a mobilização e articulação das condições materiais e humanas, além conta com dificuldades estruturais para garantir o avanço nos processos de ensino e a efetiva aprendizagem dos alunos. A qualidade do ensino e eficácia no processo de ensino aprendizagem tem relação com as competências e habilidades dos professores e da equipe gestora escolar, que conseguem a partir da gestão democrática, possibilitar um modelo dinâmico que pode ser aplicado na escola e torná- la protagonista no meio social. Para isso, existe a necessidade de criar uma gestão escolar que tenha um viés coletivo, participativo e seja autônoma, isto é, que possibilite a tomada de decisões que levem em consideração a estrutura e o funcionamento da instituição e que torne a função social da escola de educar mais eficiente. A escola necessita de um gestor escolar para garantir o “funcionamento pleno da escola como organização social, com o foco na formação de alunos e promoção de sua aprendizagem” (LUCK, 2009, p. 15). 16 A gestão democrática faz parte de um contexto social específico, advindo após a promulgação da Constituição Federal de 1988, onde houve mudanças na percepção de gerenciamento de instituições de ensino, tendo como base uma legislação educacional o que é a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96. Essa legislação se baseia na concepção de democracia, que busca articular as capacidades individuais e coletivas para a construção de um contexto de liberdade nos espaços públicos e privados e expressar suas ideias de forma livre e autônoma. Esta pesquisa delimitou-se em colher informações sobre como a gestão democrática, observando se há a aplicabilidade ou tentativa de colocar em prática os conceitos da gestão democrática tendo como referência a escola Municipal Professora Maria das Dores Cardoso da Cruz, localizada na zona rural de Itapecuru Mirim - MA. Baseado nesta contextualização, o problema desta pesquisa foi como a gestão democrática está presente em uma escola municipal localizada no município de Itapecuru Mirim em um estudo de caso da escola Professora Maria das Dores Cardoso da Cruz? A justificativa em retratar sobre essa temática é o entendimento de que a gestão escolar democrática pode ajudar a melhorar o processo de ensino aprendizado, pois garantiria a coesão dos setores escolares com o foco de transformar a escola em uma instituição protagonista no meio social, que preconiza tornar os alunos sujeitos ativos na sociedade construindo os pilares da democracia e cidadania. O objetivo geral deste trabalho foi analisar a gestão democrática em um contexto local na escola municipal Professora Maria das Dores Cardoso da Cruz de Itapecuru Mirim. Os objetivos específicos foram: Investigar os documentos da gestão democrática da escola; avaliar o papel da gestão escolar democrática no processo de ensino aprendizagem e identificar ações da gestão escolar democrática que são apresentadas no Plano de Ação, no Projeto Político Pedagógico e no Regimento Interno da escola. A metodologia foi realizada a partir da pesquisa bibliográfica, realizada a partir da seleção de trabalhos acadêmicos já existentes e que retratam sobre o tema, pesquisa documental, analisando os documentos relacionados com a gestão na escola, como o Plano de Ação, o Regimento Interno e o Projeto Político Pedagógico 17 e a pesquisa de campo, que foi a coleta de dados realizada na escola para a complementação das informações adquiridas na pesquisa documental e bibliográfica. Este trabalho pode contribuir para ampliar as discussões sobre a utilização da gestão democrática no meio escolar, principalmente tendo como foco a realidade de escola pública municipal, que conta com características que impedem a gestão eficiente, como a subordinação aos interesses de órgãos municipais. Os limites desta pesquisa estão relacionados com o local de aplicação, pois o município está vivenciando uma realidade de pandemia mundial da Covid-19, que pode impactar na coleta de dados e na abrangência da pesquisa. Para alcançar esse objetivo, o trabalho conta com três capítulos. O primeiro apresenta o conceito de gestão democrática segundo pesquisas cientificas. O segundo capítulo aborda a gestão democrática na legislação desde as diretrizes nacionais até no contexto regional e o terceiro capitulo realiza a análise documental de documentos da escola buscando averiguar a presença da gestão democrática no contexto desta escola municipal. 18 2. GESTÃO DEMOCRÁTICA: CONCEITO A gestão democrática é um modelo de gerenciamento escolar que visa contar com maior participação dos entes envolvidos no processo de ensino aprendizagem dos alunos. Os grupos envoltos nessa percepção são os integrantes da escola, como diretor, coordenador, funcionários, professores, dentre outros, além as famílias e comunidade, visando integrar o conhecimento repassado com a realidade do aluno e preparando-o de forma completa para a vida, criando sujeitos ativos e conscientes do seu papel no meio social. O conceito de gestão está interligado segundo Cury (2005) na concepção democrática presente e esse termo “provém do verbo latino gero, gessi, gestum, gerere e significa: levar sobre si, carregar, chamar a si, executar, gerar” (Cury, 2005, p. 14). Para esse autor, a gestão escolar está relacionada com a interação entre o conhecimento e a prática pedagógica, tornando viável as diretrizes presentes no Projeto Político Pedagógico (PPP). Em relação ao contexto escolar, a gestão possibilita administrar a escola de forma completa, atendendo as exigências e demandas de todos os setores envolvidos, como a manutenção de um ambiente de trabalho saudável para os funcionários, a manutenção da estrutura física do prédio onde a escola está situada, a relação reciproca entre a escola, os alunos e os pais, tornando com isso, a instituição preparada financeiramente, socialmente e com capacidade de cumprir com sua função social. Fialho e Tsukamoto (2014) explicam que a gestão democrática se torna bemsucedida quando os integrantes da equipegestora conhecem a realidade escolar e a comunidade em seu entorno e isso possibilita a integração de toda a comunidade envolvida com a instituição, composta pelos professores, funcionários, pais e alunos e outras instâncias ligadas à escola. “O gestor com liderança participativa possibilita o aprimoramento da comunidade escolar, na conjunção de realizar com sucesso os projetos que possam transformar a realidade da escola e dos alunos” (FIALHO; TSUKAMOTO, 2014, p.4). Uma das alternativas para a melhoria da qualidade do ensino segundo Rios (2012) é a utilização da gestão democrática, pois é por esse mecanismo que a administração do meio escolar se torna completa, avaliando todos os requisitos 9 necessários para atendimento das exigências referentes a educação de qualidade, 19 como a rotina diária de aulas, o departamento financeiro e administrativo e o relacionamento entre funcionários, professores e alunos. A gestão também trata a escola como uma instituição completa, avaliando a estrutura física do local, os funcionários e a relação entre os pais e alunos e outros fatores que estão relacionados com o ambiente escolar. Além do cuidado com a gestão interna da escola, essa instituição também precisa se adequar aos alunos e a comunidade ao qual está inserida e por isso, conta com a missão de ser formadora de cidadãos que tenham opinião, consciência sobre o mundo, críticos da realidade e que estes possam participar ativamente da própria aprendizagem. Rios (2012) explica que a qualidade do gerenciamento escolar pode ser definida a partir de uma gestão democrática. "A constituição da qualidade da educação e ensino, relaciona-se à constituição de uma gestão democrática, tendo em vista que a escola é local de formação do cidadão e constituição da cidadania" (RIOS, 2012, p.4). A gestão escolar segundo Vieira e Bussolotti (2018) é importante, porque existe a necessidade de melhoria da qualidade da educação e dos processos escolares, principalmente levando-se em consideração a realidade da maioria das escolas brasileiras, que contam com diversidade de alunos e complexidade com sua estrutura administrativa, financeira e organizacional e isso torna complexo o comprimento das exigências de ser a principal fonte de transformação social. "Compreende-se que o ensino oferecido pela escola como sendo o principal meio capaz de impulsionar e transformar a atual sociedade em que vivemos, com desigualdade e problemas sociais" (VIEIRA E BUSSOLOTTI, 2018, p.48). Luck (2009) explica que a gestão escolar é entendida como uma atuação profissional na educação, com o objetivo de garantir a organização dos processos, a coordenação entre os setores, tornando as atividades escolares mais próximas e em conjunto. Também conta com a orientação e a mediação entre a ação educacional e a formação dos alunos e com isso, consegue alcançar a realização dos objetivos da escola, que é maior participação comunitária e com isso, criar conexões entre os conteúdos e a prática, transformando a escola em um centro transformador da realidade e atuante no meio social. "A gestão escolar engloba o trabalho da direção escolar, da supervisão ou coordenação pedagógica, da orientação educacional e da 20 12 secretaria da escola, considerados participantes da equipe gestora da escola" (LUCK, 2009, p.23). A gestão escolar é complexa, porque apesar da escola ser formada por diversas partes, elas devem trabalhar em conjunto, tornando-se mediadora entre o conhecimento e a realidade, cumprindo a função de preparar o aluno com práticas e conhecimentos que possibilitem serem praticados no meio social. "É um todo, que busca articular as orientações dos poderes públicos e o pensar pedagógico à sua prática do dia a dia, mediada pelo conhecimento da realidade e pela participação de todos os atores envolvidos" (VIEIRA E BUSSOLOTTI, 2018, p.48). A gestão democrática visa segundo Luck (2009) tornar a escola uma instituição dinâmica, que acompanha o contexto histórico e cultural, que está ciente das leis e políticas educacionais públicas e visa colocar em prática os princípios apresentados pelo Projeto Político Pedagógico (PPP). "A gestão escolar constitui uma dimensão e atuação em educação que objetiva promover a organização, a mobilização e articulação de todas as condições materiais e humanas" (LUCK, 2009, p.24). Para que a escola tenha condições para cumprir com a sua função social, Vieira e Bussolotti (2018) explicam que a gestão democrática, quando promove a organização, a mobilização e articulação de todos os recursos disponíveis que a escola conta, torna possível que a instituição consiga "o avanço dos processos sócio educacionais de ensino, orientados para promoção efetiva da aprendizagem dos alunos, de modo a torná-los capazes de enfrentar os desafios da sociedade" (VIEIRA E BUSSOLOTTI, 2018, p.48). A gestão escolar, para ser bem-sucedida necessita de uma gestão além dos recursos e estrutura, mas também a de pessoas, que é variada, podendo ser administrativa, pedagógica e a gestão de recursos humanos, que vão possibilitar o gerenciamento adequado e eficiente das pessoas que estão envolvidas com a atuação da escola no meio social. A gestão traz contribuições como a melhoria na qualidade da educação e do ensino da escola, pois essas variáveis estão relacionadas com a forma como essa instituição é gerenciada. A gestão democrática e participativa tem interferência na formação dos alunos, tornando-os cidadãos ativos e conscientes. Para que haja a melhoria no ensino aprendizagem, é necessário a articulação e integração de todos 21 os entes envolvidos na educação, como a própria escola, a família e a comunidade, aumentando o desempenho dos alunos e tornando a escola protagonista da localidade onde atua (FONSECA, 2013). A gestão escolar democrática é uma ampliação do antigo conceito de administração escolar, pois a instituição era administrada sem vínculo com a realidade social, entendida como uma instituição educativa, mas que não tinha atuação ativa no meio social e isso se deu "a partir da compreensão de que os problemas educacionais complexos demandam uma ação articulada e conjunta na superação das dificuldades do cotidiano escolar" (VIEIRA E BUSSOLOTTI, 2018, p.49). É por meio da gestão escolar que se percebe quais as limitações e problemas que a escola passa dentro do processo de ensino aprendizagem e buscar a solução para essas questões. A gestão consegue detectar as condições materiais e humanas que a instituição conta e assim, alcançar a meta de articulação e organização destes recursos para a resolução ou amenização dos problemas. "Por meio da gestão, se observa a escola e os problemas educacionais globalmente e se busca, pela visão estratégica e as ações interligadas, abranger, tal como uma rede, os problemas" (LUCK, 2009, p.24). Esse antigo gerenciamento escolar segundo Vieira e Bussolotti (2018) detinha características da escola clássica, onde o modelo administrativo era pautado em uma racionalidade, interferência mais limitada na comunidade e na vida dos alunos e as funções desempenhadas pelos funcionários e professores eram limitadas e mecanizadas, onde se repassam vários conteúdos sem a preocupação com a realidade dos estudantes. Luck (2009) afirma que o objetivo maior da gestão não é somente manter o ambiente escolar organizado e estruturado, mas sim alcançar a aprendizagem efetiva dos alunos e a qualidade do ensino. É possibilitar que os alunos possam utilizar os conhecimentos aprendidos na escola para serem protagonistas de sua própria aprendizagem, de tomar decisões, resolver conflitos e contextualizar as ideias e soluções, tornando o estudante um agente ativo no meio social. "A gestão escolar é um enfoque de atuação, um meio e não um fim em si mesmo. O fim último da gestão é aprendizagem efetiva e significativados alunos" (LUCK, 2009, p.25). A direção da escola era toda centralizada na figura do diretor, que seguia as normativas e regulamentos vigentes. A possibilidade de mudanças e novas 22 percepções da gestão escolar vieram a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, que criou "o movimento de democratização, descentralização e construção da autonomia, que passaram a orientar novas formas de mecanismos" (VIEIRA E BUSSOLOTTI, 2018, p.50). Luck (2009) também define que a gestão escolar necessita de uma equipe qualificada e por isso, existe a necessidade da formação para os gestores escolares, pelo fato de a exigência na educação ter aumentado a partir da concepção de que essa instituição passou a ser um local que possibilita a transformação social. Antigamente, o gestor escolar era um professor, que tinha elevados conhecimentos em sua área, mas que não contava com uma formação gestora e 13 mesmo assim, tinha a missão de organizar e estruturar todos os setores mesmo sem ter conhecimento específico de gestão, o que trazia impactos negativos principalmente para a realização do Projeto Político Pedagógico. Esse gestor improvisado tinha que lidar com interesses diversos e distintos e estabelecer uma unidade em meio à diversidade, o que exigia competências e habilidades que o gestor conta em sua formação específica. "Não se pode deixar de considerar como fundamental para a formação dos gestores, um processo de formação continuada, em serviço, e concentrado sobre temas específicos" (LUCK, 2009, p.25). Essa nova percepção trouxe significativas mudanças na gestão escolar, pois tornou essa instituição de ensino protagonista do meio social, sendo local de participação da comunidade e com os princípios da educação democrática pautando e direcionando na organização das atividades educativas e buscando o cotidiano escolar mais dinâmica e com maior percepção da proximidade da escola com a realidade social. “As ações no interior das escolas proporcionaram a participação da comunidade escolar e local nas decisões que envolvem as questões educacionais, ampliando a responsabilidade e atuação do gestor escolar" (VIEIRA E BUSSOLOTTI, 2018, p.50). A gestão escolar é um conceito diferente da administração da escola, pois esse segundo termo está relacionado com a gestão dos recursos materiais e financeiros da escola buscando otimização dos processos administrativos escolares. Já a gestão escolar busca dar um significado aos processos educacionais, isto é, dar uma finalidade que vai além do gerenciamento, mas possibilitar que a unificação de 23 todos os setores da instituição tenha como finalidade a melhoria do ensino e que traga contribuições para o processo de ensino aprendizagem dos alunos. Paro (2007) explica que o processo democrático existente no contexto social também pode ser aplicado no meio escolar. A gestão democrática segue os princípios apresentados na Constituição Federal de 1988 e tem como base uma legislação educacional denominada de lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 14 9394/96. Esse processo não deve se limitar somente aos dispositivos legais, mas também deve seguir o contexto social. "A gestão democrática como uma dinâmica que não se esgota simplesmente pela sua garantia legal, pois é um processo contínuo que se desenvolve conforme a evolução da própria sociedade e seus sujeitos" (PARO, 2007, p.53). O gestor escolar necessita de habilidades que vão além do plano pedagógico, isto é, compreender a escola como um organismo completo, que os setores são complementares, que promova a motivação dos profissionais atuantes no meio, que estimule a participação dos pais e comunidade, buscando sempre a melhoria e eficiência do processo de ensino aprendizagem. A gestão democrática segundo Paro (2007) é a própria concepção de autonomia do contexto escolar e tem-se a percepção de que é importante a participação de todos aqueles que estão envolvidos na educação e com isso, é "voltada para o desenvolvimento de um contexto social onde sobrepujem-se os valores de igualdade de participação e de respeito aos interesses mútuos dos indivíduos" (PARO, 2007, p.53). Na gestão escolar, existem algumas dimensões e que estas podem ser agrupadas em dois grupos devido à sua essência. Uma está relacionada com a organização e a outra com a implementação. A dimensão denominada de organização busca constituir o básico, montando uma estrutura para que os objetivos da escola sejam alcançados. É por meio da dimensão que as ações mais complexas do meio escolar são realizadas. "Elas diretamente não promovem os resultados desejados, mas são imprescindíveis para que as dimensões capazes de o fazer sejam realizadas de maneira mais efetiva" (LUCK, 2009, p.26). Por isso, com o entendimento de que a escola é um lugar onde há o desenvolvimento da cidadania e a possibilidade de transformação do meio social, é necessária a criação de uma estrutura gestora e pedagógica para alcançar esses 24 objetivos e para isso, deve-se incluir os princípios democráticos inclusivos que unifique todos os grupos que compõem o ambiente escolar. "Desta forma, o trabalho pedagógico desenvolvido na escola deverá proporcionar a consolidação de uma educação inclusiva que assegure a participação do coletivo no planejamento, execução e avaliação" (PARO, 2007, p.54). A dimensão da implementação segundo Luck (2009) são as ações que promovem as mudanças no meio escolar e envolvem características como gestão de pessoas, que leva em consideração os professores e funcionários da escola, a gestão pedagógica, a gestão administrativa, a gestão da cultura e do cotidiano escolar, tudo isso tendo como foco uma gestão democrática e participativa. "São aquelas desempenhadas com a finalidade de promover, diretamente as mudanças e transformações no contexto escolar" (LUCK, 2009, p.26). A gestão democrática escolar segundo Paro (2007) tem características que a define. A primeira é que a escola deve consolidar o compromisso de resolução de conflitos, unindo as diferenças e avaliando as contradições que devem ser solucionadas. A segunda característica e que está ligada a primeira é que a gestão democrática deve funcionar por meio do diálogo, onde os agentes escolares devem ouvir os anseios de alunos e responsáveis e também serem ouvidos e assim, as dificuldades educacionais poderiam ser solucionadas. "A gestão democrática requer o diálogo entre os atores educativos de igual para igual" (PARO, 2007, p. 54). Machado (2017) explica que o conceito de gestão escolar no Brasil é recente, tendo como contexto histórico o fim da Ditadura Militar (1964-1985) e a época de redemocratização política e tem como característica a utilização dos recursos disponíveis que a escola conta para que esta realize seus objetivos. Ela “tem suas origens no conceito de ‘administração escolar’, significando também, de modo geral, a utilização racional dos recursos para a realização de fim” (MACHADO, 2017, p.73). Paro (2007) explica que o modelo ideal de equipe gestora escolar é ser multifuncional e diversificada e contar com integrantes da escola, como coordenadores, supervisores, diretor e vice-diretor, os funcionários, professores e a participação dos pais e alunos, que "trabalham coletivamente com o diretor, buscando 15 soluções e alternativas para melhorar o funcionamento das escolas e a qualidade do ensino nelas constituída" (PARO, 2007, p.54). 25 Existe também a confusão segundo Machado (2017) entre os conceitos de gestão escolar e educacional e define que esses termos são diferentes e complementares, pois a gestão escolar está interligada com a organização desse ambiente, é ampla e se relaciona com todos os setores da instituição, enquanto que a educacional busca entender os sistemas de ensino, sendo a ação relacionada ao sistema utilizado pelaescola. “A gestão escolar nos remete a abrangência dos estabelecimentos de ensino, enquanto a gestão educacional se situa no espaço das ações de governo” (MACHADO, 2017, p.73). A gestão democrática incentiva a participação da sociedade no meio escolar e vice-versa, isto é, não trata a escola apartada, separada do meio social, mas integrada a ele, participando ativamente na comunidade. Isso traz proximidade entre a escola e a comunidade e cria um sentimento de pertencimento, já que todos conhecem a instituição de ensino e se envolve com ela tendo "consciência de sua função, de seus objetivos e metas e assim, tem plenas condições de tomarem decisões de modo coletivo, estas que antes centradas apenas na figura do diretor ou de equipes de especialistas em educação" (PARO, 2007, p.57). Fonseca (2013) explica que a gestão escolar tem como objetivo principal a dinamização do processo de ensino-aprendizagem, fazendo com que todos os setores escolares trabalhem em conjunto para que os problemas educacionais sejam detectados e solucionados, além da concepção de que o aluno necessita de conhecimentos além do conteúdo repassado na sala de aula, levando em consideração todo o contexto escolar e social vivenciado pelos alunos, tornando eficiente o processo de ensino-aprendizagem dos alunos. “A gestão escolar apresenta como ponto principal instituir um rumo e a mobilização capazes de sustentar e dinamizar o processo de ensino-aprendizagem escolar” (FONSECA, 2013, p.13). A gestão escolar nas concepções de Machado (2017) é composta pelo trabalho em equipe organizado pela direção e coordenação. Essa composição visa o estabelecimento de objetivos e metas para alcançar as diretrizes presentes no Projeto Político Pedagógico (PPP). O diretor, que antigamente contava com amplas funções no ambiente escolar, é hoje responsável pela articulação e integração dos setores que fazem parte da instituição, enquanto que o coordenador tem atualmente a função de tornar possível a relação entre a escola, professores e o trabalho pedagógico-didático. O diretor “procura mecanismos que possibilitam a superação dos obstáculos, muitos 26 16 decorrentes da própria estrutura e organização dos sistemas de ensino e das unidades escolares” (MACHADO, 2017, P.74). A gestão escolar é uma perspectiva que torna a escola uma instituição ativa no meio social e a percepção de que o conhecimento deve promover as mudanças sociais, a formação da cidadania e não somente a preocupação em ministrar as aulas e conteúdo, cumprindo a carga horária sem o interesse em promover a dinamização do meio escolar. “O papel da escola na atualidade tem o compromisso de promover o acesso à construção do conhecimento e a socialização do saber, a formação de cidadãos críticos, reflexivos e participativos” (FONSECA, 2013, p.13). A gestão escolar é complexa e por isso, é organizada em várias áreas de atuação. O autor citou seis, que devem ser articuladas em conjunto. A primeira é o planejamento e sua relação com o projeto pedagógico, que é a primeira parte da gestão e visa organizar as diretrizes que serão seguidas. Depois vêm o currículo e o ensino, que são respectivamente a segunda e terceira etapas. A seguir, as práticas administrativas e pedagógicas, o desenvolvimento profissional e a avaliação institucional e da aprendizagem completam as seis áreas de atuação da gestão escolar. Cada uma dessas variáveis possui características especificas, como o alcance dos objetivos, a realização das finalidades, isto é, o que se almeja atingir e os meios, que possibilitam que os objetivos alcancem os resultados. “Sendo as três primeiras se referem as ‘finalidades’ da escola, as seguintes aos ‘meios’ e a última a análise sobre os ‘objetivos e os resultados’” (MACHADO, 2017, p.74). A gestão escolar é o planejamento e elaboração de propostas que planejam e constroem um projeto pedagógico que não seja apenas um aparato legal da escola, ou seja, apenas para dar legalidade a atuação da escola, mas que tenha a possibilidade de ser colocado em prática e para que isso seja possível, é necessária uma participação coletiva, algo possível com a gestão democrática. “O projeto pedagógico necessita do envolvimento de todos os segmentos que da escola fazem parte, faz com que o gestor esteja preparado para lidar com os conflitos que possam aparecer” (FONSECA, 2013, p.14). O Projeto Político Pedagógico (PPP) segundo Fonseca (2013) precisa levar em consideração a realidade da escola, o contexto social ao qual ela está inserida, para que as ações que serão realizadas possam ser eficientes e que haja uma ação conjunta entre os sujeitos no ambiente escolar, o entendimento do real diagnóstico da 27 escola, isto é, do que ela dispõe, sua estrutura física, material e humana e como isso pode interferir no processo de ensino aprendizagem. “A construção do projeto pedagógico depende do papel ativo dos diversos atores envolvidos no contrato social, ele representa o funcionamento da escola e deve ser assumido como uma conquista do coletivo” (FONSECA, 2013, p.14). 28 3. A GESTÃO DEMOCRÁTICA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA Militão (2019) explica que a gestão democrática é um princípio que é exclusivo de um contexto histórico e social constituído pela promulgação da Constituição Federal de 1988, pois essa percepção de uma escola como instituição democrática e participante não era algo percebido em contexto anteriores, onde a característica mais comum era o amplo poder que os diretores contavam para tomar as decisões no contexto escolar. “Até o advento da constituição federal de 1988, promulgada em outubro, o princípio democrático de ensino público nunca esteve formalizado em nenhuma outra carta magna” (MILITÃO, 2019), p.1). Carvalho (2015) também define que a gestão democrática no Brasil presente na legislação é confusa e até mesmo vaga. O autor, começa analisando a Constituição Federal, que define no artigo 206, presente no inciso VI que a “gestão democrática do ensino público, na forma de lei” (BRASIL, 1988). Essa declaração jurídica, apesar da falta de clareza, foi importante porque mostrou que havia um contexto de discussões sobre a educação brasileira e quais medidas poderiam ser realizadas para a melhoria desta. “Mesmo sendo posto de forma vaga, esse dispositivo abriu caminho para futuras regulamentações” (CARVALHO, 2015, p.45). A presença desse conceito na constituição é algo pertencente a um contexto de lutas e resistências por parte dos movimentos sociais e educacionais, que lutaram pela democratização em todas as frentes, isto é, não apenas no campo da política, após o advento do regime militar, que trouxe diversos retrocessos em todos os campos: político, social, econômico e educacional ao país. “A resistência e a contestação ao regime militar por parte da sociedade foi capaz de derrubar a ordem autoritária e de criar um novo ordenamento jurídico nacional em bases democráticas” (MILITÃO, 2019), p.2). Avaliando a gestão democrática presente na Lei de Diretrizes e Base/1996, há uma preocupação com os processos democráticos no ensino, não apenas nas unidades básicas, mas alcançando também o nível superior, mas isso não se concretiza no Brasil devido a regulamentação, que ainda não é eficiente e não deixa claro como será realizado esse processo, dificultando a implementação. “A meta era promover mudanças, que garantissem a democratização do ensino e a superação dos altos índices de repetência e evasão escolar, bem como o fantasma da falta de vagas escolares e de recursos para a educação” (CARVALHO, 2015, p.8). 29 Apesar do princípio da gestão democrática na educação estar presente na legislação desde a constituição federal de 1988, a utilização deste princípio no gerenciamento escolar ainda não é plenamenteutilizada, “o modelo de gestão escolar que ainda predomina em boa parte das escolas públicas brasileiras é o técnico- cientifico ou burocrático” (MILITÃO, 2019), p.2). Isso acontece porque a figura do diretor em algumas localidades ainda é impactante e também porque o modelo de gestão escolar ainda conta com uma característica mais tecnicista, defendendo um maior controle nos processos educacionais, visando maior eficácia e eficiência e por isso, o diretor ainda conta com respaldo para gerenciar, concentrando as principais funções dentro de suas atribuições. Por isso, pelo fato da legislação brasileira não dar conta da implementação da gestão democrática na educação, vários dispositivos foram criados para tentar contornar esse problema. Segundo Carvalho (2015), essas legislações foram a Lei de Diretrizes e Base/1996 e a PNE, criada em 2001 (com o primeiro decênio de 2001- 2011) e o Novo Plano Nacional de Educação (vigente entre 2014-2024). Mas apesar da PNE ter surgido com o intuito de apresentar alternativas não vistas nas legislações anteriores, Outra característica que segundo Militão (2019) ainda respalda o modelo técnico-cientifico no funcionamento da escola é o entendimento de que as tarefas são mais importantes do que as pessoas e por isso, a centralização de decisões é visto como ideal, o que traz consequências e problemas no contexto escolar, como o “baixo grau de participação das pessoas (professores, alunos, funcionários, pais); falta de espirito de equipe; ausência de trabalhos coletivos, dentre outros” (MILITÃO, 2019), p.3). Carvalho (2015) acredita que ela não conseguiu atingir esse objetivo e que deixou lacunas na legislação brasileira. “A PNE deixou a desejar em diferentes aspectos, tomando-se o princípio constitucional da gestão democrática em educação e a necessidade de uma coordenação nacional de ações para a efetivação de suas metas” (CARVALHO, 2015, p.46). A gestão democrática traz uma concepção diferente daquela apresentada pelo antigo modelo técnico-cientifico, pois trata a escola como uma instituição ativa, que não é totalmente objetiva ou neutra e que tem participação no meio social ao qual está inserida, não estando ali somente para educar os alunos. Ela também envolve 30 todos os entes sociais (professores, diretores, alunos, funcionários, pais) criando interações sociais tendo a escola como centro irradiador. “Portanto, defende a necessidade de se enfatizar tanto as tarefas quanto as relações humanas para dirigir com êxito os objetivos da escola” (MILITÃO, 2019), p.3). Uma análise importante que Carvalho (2015) apresenta sobre a Plano Nacional de Educação é que essa legislação, quando foi promulgada em 2001, definia que a cada dez anos seria preciso atualizar as metas e objetivos desta legislação, segundo as mudanças e demandas do meio social. Quando terminou a vigência da PNE I (2011-2011), foram necessários três anos para a aprovação de uma nova PNE (2014). A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 206 “expressa princípios inerentes à transmissão do ensino nas redes escolares, viabilizando a adoção de critérios para a participação da população dentro das unidades escolares” (MILITÃO, 2019), p.4). Isso implica afirmar que a educação não é somente o conhecimento repassado pela escola, esse processo precisa estar conectado com a sociedade (comunidade) ao qual os alunos se situam e por isso, a participação de todos os entes envolvidos com a educação é fundamental. As discussões sobre a demora em oficializar uma nova Plano Nacional de Educação foi para cumprir disposto do artigo 214 da Constituição Federal. “É aprovado o PNE, com vigência de dez (10) anos, a contar da publicação desta lei, na forma do anexo, com vistas do cumprimento ao disposto no artigo 214 da Constituição Federal” (BRASIL, 2014, p.43). Esse artigo esclarece alguns pontos sobre essa discussão que levou a demora em aprovar a Nova PNE. Outro documento constitucional importante e que retrata a gestão democrática é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, conhecido no mundo jurídico como lei 9.394/96, que surgiu segundo Militão (2019) como um reforço ao que já tinha sido oficializado pela constituição federal. Apesar da legislação brasileira ainda não apresentar uma definição clara sobre a gestão democrática, a Nova Plano Nacional de Educação traz discussões importantes sobre essa temática. Para iniciar a discussão, o autor apresenta o artigo 2, que é aquele que define as diretrizes da Plano Nacional de Educação no contexto pública e que não há, na maior parte dos incisos e artigos um maior detalhamento sobre a gestão e que isso só é visualizado no artigo 9, que ao menos explica a 31 regulamentação da gestão democrática no ambiente escolar, que retrata esse conceito relacionado com a função dos entes governamentais na regulamentação e implementação desse modelo de gestão. “Apenas no artigo 9 é elucidado que os entes federativos deverão regulamentar a gestão democrática na educação pública” (CARVALHO, 2015, p.46). A Lei de Diretrizes e Base/1996, como explica Militão (2019) pelo fato de ser uma complementação da constituição federal e também ser mais especifica para a educação, também traz a percepção da gestão democrática como uma proposta para ser implementada principalmente no ensino público nacional, garantindo uma formação integral para os alunos. “Tal qual a constituição federal de 1988, a LDB/96 determina que um dos princípios que deve reger o ensino público no país é a gestão democrática, garantindo a qualidade em todos os níveis” (MILITÃO, 2019), p.4). A determinação do artigo 9 sobre o prazo de dois (2) anos para aprovar o sistema educacional a partir das percepções da gestão democrática é problemática e ineficaz, pois como afirma Carvalho (2015) falta o tempo hábil para determinar discussões mais amplas e eficazes sobre essa temática e é um jogo político que não deseja se responsabilizar em resolver as questões relacionadas com a mudança no sistema de ensino brasileiro. “Assim, esses entes federados têm pouco tempo para definir essa legislação sobre um tema tão complexo que há séculos permeia as discussões políticas e filosóficas sobre a democracia” (CARVALHO, 2015, p.47). Apesar da Lei de Diretrizes e Base/1996 apresentar a gestão democrática como um instrumento importante para o meio educacional. Ela apresenta segundo Militão (2019) limitações, pois restringe essa gestão ao ensino público, o que traz questionamentos sobre uma maior integração do ensino no Brasil, pois a educação brasileira conta com contingentes significativos de escolas, estudantes e profissionais que estão na rede privada e a regulamentação englobando todos seria benéfica para o ensino brasileiro. Outra problemática da LBD/96 e que também pode ser entendida como uma limitação dessa regulamentação é que ela “acaba postergando a sua efetivação ao remeter para os sistemas de ensino tal tarefa, mediam o emprego das expressões na forma desta lei e da legislação de ensino” (MILITÃO, 2019, p.6). As questões sobre a gestão escolar estão implícitas na Lei de Diretrizes e Base/1996 em seu artigo 12, que explica sobre a gestão escolar e suas incumbências, como a elaboração de uma PPP (Projeto Político Pedagógico), um dos principais 32 documentos da escola e que possibilita contar com maneiras eficientes de administrar os recursos da escola, a articulação da escola com a comunidade e as famílias dos alunos, realizando a interação entre esses entes. A utilização do projeto político pedagógico, documento já reconhecido na comunidade escolar como indispensável para a escola segundo Militão (2019) faz parte das consequências da Lei de Diretrizes e Base/1996, que trata esse documento como algo relevante e intrínseco com a gestão escolar. O Projeto Político Pedagógico ajuda a escola a gerir seus recursose determina como será sua atuação no meio social indicando qual caminho a instituição escolar deve seguir para alcançar seus objetivos. “A proposta pedagógica é o norte da escola, definindo caminhos e rumos que determinada comunidade busca para si e para aqueles que se agregam em seu entorno” (MILITÃO, 2019), p.6). Carvalho (2015) ainda retratando sobre a Nova Plano Nacional de Educação, define que a gestão democrática reaparece novamente nas metas vinculadas ao Programa Nacional, especificamente na meta 7, que define sobre a qualidade do ensino e como criar e utilizar procedimentos para alcançar esses objetivos, que vai desde a questões financeiras até relação com a comunidade. “A gestão democrática irá aparecer desta vez como estratégia vinculada à qualidade de ensino, à avaliação de larga escala e aporte financeiro, assumindo a responsabilidade conjunta com a comunidade escolar pela gestão desses recursos’ (CARVALHO, 2015, p.47). O Projeto Político Pedagógico tem atuação ampla na comunidade escolar, pois ele não é apenas um instrumento utilizado na gestão escolar, como o cumprimento do plano de trabalho, mas também cumpre função pedagógica, pois visa também a aprendizagem dos alunos e como está o seu rendimento “como assegura o cumprimento dos dias letivos e das horas aula estabelecidas, assim como prover os meios para a recuperação dos alunos que apresentarem menor rendimento” (MILITÃO, 2019), p.7). A consolidação da gestão democrática ainda está encaminhando a passos lentos devido as próprias duvidas e questionamentos que ainda existem sobre a democracia. Também existe um fator importante que pode explicar isso, que é a persistência do antigo modelo da gestão escolar, que ainda está presente em muitas localidades, onde o cargo de diretor é comissionado ou indicado por políticos locais e por isso, sem a possibilidade de reformas e transformações que pode ser 33 proporcionada com o advento da gestão democrática no meio escolar. Outras questões apresentadas pelo autor é a “meritocracia, que também apresenta suas dificuldades implícitas na sua compreensão, e os estados e municípios, em sua grande parte, não formularam seus planos específicos para a educação ou se fazem nem sempre é discutido com a comunidade” (CARVALHO, 2015, p.47). A Lei de Diretrizes e Base/1996 também aborda a gestão escolar interagindo com a comunidade, onde segundo Militão (2019) há a articulação entre as famílias e comunidades e essa interação com a comunidade está relacionada com ações como informar aos pais sobre o regimento dos alunos, buscando entender a situação daqueles que contam com o rendimento menor e também informar sobre a frequência, evitando a evasão escolar e tornando mais eficiente a execução da proposta pedagógica que vai permitir melhor aprendizagem dos alunos e diminuição da evasão escolar e outros problemas do cotidiano escolar. “Deste modo, é positivo que a LDB/96 acene para o fortalecimento da participação dos usuários na gestão escolar” (MILITÃO, 2019), p.7). Em relação a gestão democrática na Lei 9.394/1996, também conhecida como Lei de Diretrizes e Base/1996, Tramontina et al (2020) explica que esse documento acompanha a Constituição Federal no sentido de retratar a gestão democrática na educação e reforça que esse modelo deve estar pautado na interação e solidariedade, que visa não somente o ensino aprendizagem dos alunos, mas também a melhora na estrutura de trabalho, oferecendo qualificação para os professores, pedagogos e gestores escolares e o exercício da cidadania de todos os grupos envolvidos com a educação. “Para alcançar tal proposito, é necessário toda uma organização escolar diferenciada e um trabalho pedagógico de qualidade, a fim de atingir os objetivos” (TRAMONTINA ET AL, 2020, p.24). Outra questão importante apresentada pela Lei de Diretrizes e Base/1996 em seu artigo 13 incisos VI, que retrata sobre uma efetiva participação dos professores na aplicação da gestão democrática na escola, pois esses profissionais contam com funções importantes, como a articulação e interação da escola com a comunidade e os pais e familiares dos alunos (BRASIL, 1996). Militão (2019) explica que além do inciso VI do artigo 13 da Lei de Diretrizes e Base/1996, outros artigos também destacam a atuação do professor na implementação da gestão democrática no ambiente escolar, como os incisos VI e VII 34 do artigo 12 da LDB/96 e a efetivação dessas normativas tornam possível a implementação do uso da gestão democrática na escola. “Esses três incisos, quando realizados de forma coordenada, efetivam a integração da escola com as famílias de seus educandos e com a comunidade em que está situada” (MILITÃO, 2019), p.8). A LDB/96 afirma em seu artigo 14 sobre de que forma a gesto democrática deve ser implementada na escola, apresentando com isso os princípios que norteiam o seu funcionamento. Já a gestão democrática retratada no Plano Nacional de Educação, Tramontina et al (2020) explica que esse modelo de gestão precisa estar presente em todos os níveis da educação e essa legislação foi criada justamente para suprir lacunas que as legislações anteriores não deram conta de resolver e apesar de ainda não resolver todos os problemas ainda existentes desde o início das discussões sobre a educação brasileira, essa legislação não deixou de ter sua importância porque ampliou a participação da comunidade na gestão escolar e por isso, possibilitou dentre outras contribuições “a vigilância e controle social, que neste caso, parecem ser de uma dimensão poucas vezes (ou nunca) vista na história educacional brasileira” (TRAMONTINA ET AL, 2020, p.31). Existem questionamentos que se pode fazer a partir da análise dos princípios do artigo 14 da Lei de Diretrizes e Base/1996, pois no inciso I, que retrata a participação dos profissionais da educação na elaboração do Projeto Político Pedagógico, não traz inovações ou definições mais claras e precisas sobre de que forma essa participação acontece. O mesmo se percebe em seu inciso II, que retrata sobre a participação da comunidade no ambiente escolar, que não retrata novamente nada de inovador nesse processo. A importância de estudar sobre a gestão democrática na legislação está relacionado por esta ser o meio pela qual a gestão democrática é reconhecida e implementada integrada com o sistema de ensino e par que esse processo se concretize, é necessário o envolvimento dos entes com a educação, ir em busca de soluções e alternativas que atendam a demanda social, indo “em busca de caminhos, a fim de construir um processo é fundamental que agentes do cenário educacional reivindiquem por meio da participação ativa, a efetivação da gestão democrática” (TRAMONTINA ET AL, 2020, p.18). 35 Militão (2019) explica essa legislação pouco inovadora sobre a gestão democrática e tratam o artigo 14 como algo óbvio e que não traz esse direcionamento preciso sobre a implementação desse modelo de gestão nas escolas. Essa regulamentação existe dessa forma devido a questões políticas, que muitas vezes não deseja se responsabilizar pela implementação mais eficaz desse modelo e por isso, não existindo um projeto definido e direcionado para a resolução desse problema. “Ao instituir uma óbvia regulamentação do princípio constitucional da gestão democrática, a LDB/96 deixou sob a incumbência de estados e municípios a decisão de importantes aspectos da gestão escolar, como a escolha dos dirigentes” (MILITÃO, 2019), p.8). Um dos principais motivos para que a gestão democrática no Brasil ainda não esteja em evidência segundo Carvalho (2015) é o repasse de recursos e isso afeta e compromete a gestão escolar, pois com a gestão democrática, o repasse de recursos para as escolas seria mais ajustado e eficiente, pois a meritocracia (conceito defendido pela gestão escolar) conseguiria lidarmelhor com essa questão e isso torna-se empecilho para um sistema educacional clientelista e focado na autoridade do diretor. “A questão do dinheiro e recursos é vinculada ao desempenho (meritocracia) e ao gerencialismo em nossa educação” (CARVALHO, 2015, p.48). A gestão democrática segundo Tramontina et al (2020) analisando o contexto brasileiro, tem sua aplicação na educação fundamentada no exercício democrático, que após a ditadura militar tornou-se a alternativa viável para a condução da nação e a maior participação da coletividade e a maneira de consolidar e os princípios democráticos é a partir da educação e por isso, a escola deve ser entendida como um centro ativo de aprendizagem e de práticas inovadoras e criativas, pois é por meio dela “que se realiza o exercício de formas democráticas de gestão e de tomada de decisões, que são tomadas de forma coletiva, mas não desobrigando as pessoas da responsabilidade individual de cada grupo” (TRAMONTINA ET AL, 2020, p.19). A causa da perpetuação na falta de utilização da gestão democrática nas escolas e a ainda preferência pelo modelo de gestão técnico-cientifico é a escolha do diretor, pois na gestão democrática, as eleições para a direção da escola é feita de forma participativa e direta e não por indicação. Esse modelo segundo Militão (2019) é o mais indicado e identificado com o uso da gestão democrática nas escolas, mas somente a presença das eleições participativas não garantem totalmente a 36 implementação desse modelo de gestão, pois também precisa-se aliar com a participação da comunidade no ambiente escolar. A ampliação da gestão democrática na escola faz parte da demanda da sociedade em contar segundo Tramontina et al (2020) com uma instituição que efetivamente seja direcionadora da vida dos alunos e as demandas da educação só serão resolvidas se haver mudanças no modelo estrutural do ensino vigente, ofertando uma educação de qualidade, que somente ocorrerá se houver a universalização do ensino e maior participação dos entes evolvidos com a educação. “A garantia da qualidade em educação acontece por meio da participação da comunidade escolar, realizando pressão sobre o estado, a fim de que este proporcione as mudanças necessárias para o desenvolvimento da educação” (TRAMONTINA ET AL, 2020, p.20). Outra legislação importante citada por Militão (2019) e que também contempla sobre a gestão democrática no meio escolar é o Plano Nacional de Educação, que foi aprovado a partir da lei 10.172 de janeiro de 2001 e que além das demais já citadas, tornou-se importante base normativa para a educação brasileira, criando metas e diretrizes para a educação nacional nas décadas seguintes, pois essa modalidade legislativa atua em um espaço de tempo de dez anos. Essa legislação também trata da gestão democrática implementada na escola, enfatizando metas para a utilização mais ampla desse modelo de gestão, definindo conceitos já presentes nas outras legislações. “Especificamente sobre a gestão democrática, o PNE institui a meta 22 – definir, em cada sistema de ensino, normas de gestão democrática do ensino público, com a participação da comunidade” (MILITÃO, 2019), p.9). Um ponto importante analisado por Carvalho (2015) são as estratégias da meta 19 da Nova PNE, que retrata um conceito presente na gestão democrática que é a participação da comunidade, onde esta deve acompanhar as práticas da gestão escolar, mas não apenas de forma distante ou de forma observadora, mas participando ativamente desse processo. Mas o autor explica também que essa questão é complexa, o que explicaria também o porquê da gestão democrática ainda não conseguiu ser implementada no Brasil, pois é necessária não apenas a participação ativa da comunidade, mas também necessita-se dar as condições para que isso corra, como a especialização sobre a gestão escolar, conhecendo como funciona o corpo escolar, “pois sem saber como funcionam a práticas administrativa 37 da escola, os meandros que envolvem as políticas públicas em educação e o limite de sua autoridade como membro constituinte corre riscos” (CARVALHO, 2015, p.48). O contexto da democratização ocorrido durante a promulgação da Constituição Federal de 1988 e ao qual segundo Tramontina et al (2020) foi o primeiro documento a oficializar a gestão democrática no Brasil veio com o objetivo de mudar a configuração política e social do país, ainda com resquícios de caráter centralizador e autoritário, tendo o objetivo de criar um sistema mais transparente e participativo, que pudesse aproximar as instâncias da sociedade e na educação, havia a forte presença de uma autoridade solitária, que ficava responsável pela tomada de decisões segundo suas percepções e interesses. Levando isso em consideração, a constituição federal proporcionou um novo modelo de gestão escolar. O questionamento que Militão (2019) fazem sobre a Plano Nacional de Educação é que esta também é óbvia, limitadora e pouco inovadora, não permitindo mais uma vez a maior ampliação do uso da gestão no Brasil. “Tal qual a LDB/96, o PNE trata de maneira muito tímida da temática da gestão democrática, bem como a restringe ao ensino público e remete aos sistemas de ensino a sua posterior definição/regulamentação” (MILITÃO, 2019), p.9). Tramontina et al (2020) explica que a legislação brasileira do sistema de ensino já abordadas (LDD/96, PNE e a CF/88) contam com uma perspectiva de abordar a gestão democrática escolar em um nível nacional, visando integrar as ações de planejamento educacional. Além dessas legislações já conhecidas, os municípios também apresentam participação nesse processo e também são convidados a criar sua própria PNE, com a diferença de que esta vai se especificar de acordo com as características das localidades e também “para integrar as políticas e propostas da educação com a União e Estado” (TRAMONTINA ET AL, 2020, p.31). O Plano Nacional de Educação estimula a criação de modalidades de participação democrática no ambiente escolar e uma dessas alternativas são os Conselhos Escolares, que possibilitaria maior participação da comunidade escolar nas decisões da escola, não deixando isso a cargo somente do diretor, o que pode aumentar a representação dos diversos grupos no contexto escolar, mas isso não significa a existência da gestão democrática na escola, pois a instituição precisaria cumprir outras atribuições que estão relacionadas com esse modelo de gestão. “Uma das formas de participação democrática estimulada no PNE são os conselhos 38 escolares. A existência de conselho escolar não é garantia para a efetivação de uma gestão democrática nas escolas” (CARVALHO, 2015, p.48). Essa definição de um Plano Nacional de Educação a nível municipal segundo Tramontina et al (2020) é definida na Lei Orgânica Municipal e conta com a interação entre o Estado e a sociedade, “com representação de todos os setores e entidades, com base nos princípios constitucionais de autonomia e regime de colaboração entre os entes federativos” (TRAMONTINA ET AL, 2020, p.31). O conselho escolar nas disposições do Plano Nacional de Educação não está relacionado somente com a manutenção da escola, mas também a uma maior participação da administração escolar, tendo como foco a gestão diretiva, pedagógica e financeira da escola e isso segundo Carvalho (2015) poderia ter como consequência a melhora no processo de ensino aprendizagem dos alunos. O conselho escolar também conta com atribuições importantes, que estão interligadas com a gestão democrática, como a definição das atribuições e atividades de cada um dos entes escolares, que melhoraria os processos escolares. “Entre as atividades dos conselheiros, estão por exemplo, definir e fiscalizar a aplicação dos recursos destinados à escola e discutir o projeto político pedagógico com a direção e os professores” (CARVALHO,2015, p.49). As metas presentes nesse documento visam os objetivos específicos e locais e conta com a participação de três entes: o poder público municipal, os representantes das escolas e a sociedade civil. “A gestão democrática do ensino público municipal dar-se-á através da participação dos profissionais da educação e da comunidade escolar, na elaboração do projeto político pedagógico da instituição” (TRAMONTINA ET AL, 2020, p.33). Uma das questões também discutidas por Carvalho (2015) em relação a gestão democrática no Brasil é a autonomia, um conceito que também é complexo e confuso no Brasil, porque muitas vezes a autonomia no serviço público no Brasil é entendido como privatização dessa modalidade de ensino no país, o que cria diversos empecilhos contra esse conceito. “É preciso estar atento a definição de autonomia, pois as atuais políticas na educação pública podem carregar um viés para a criação de condições que conduzam a um sistema de quase mercado na educação pública do país” (CARVALHO, 2015, p.49). 39 Uma das críticas que Tramontina et al (2020) apresenta sobre o modelo de gestão democrática municipal é a sua restrição e limitação, que muitas vezes está relacionada somente com a criação e participação do projeto político pedagógico, e contempla às vezes a formação dos Conselhos Escolares, mas a democratização do espaço escolar é mais ampla e diversificada, pois isso possibilita a discussão de diversos conceitos como “estender o atendimento, assegurar maiores recursos para a escola pública, transformar a qualidade do ensino que é oferecido e fazer da educação um serviço público” (TRAMONTINA ET AL, 2020, p.33). A meta 19 da Nova PNE está repleta de inciativas que tem como foco a gestão democrática e uma delas está relacionada com a formação dos diretores e gestores, que funcionaria como uma possibilidade de mudanças na gestão e maior utilização do modelo da meritocracia no sistema de ensino, mas existem segundo Carvalho (2015) discursos de que essa formação dos profissionais da educação seria “uma intenção de um possível ‘adestramento’ desses sujeitos de uma administração gerencial das escolas” (CARVALHO, 2015, p.49). Os questionamentos apresentados por Tramontina et al (2020) sobre as restrições da gestão democrática na legislação municipal está relacionada não somente com a participação dos entes sociais ligados a educação, mas também possibilitar que esses entes contribuam ativamente nesse processo, envolvendo a todos om o objetivo de alcançar a melhoria no ensino e no processo de ensino aprendizagem. “Torna-se necessário a participação de todos na construção da colegialidade, possibilitando o poder de decisão aos sujeitos” (TRAMONTINA ET AL, 2020, p.34). Gomes (2015) traça a gestão democrática presente no Plano Nacional de Educação (PNE), onde nos primeiros dez (10) anos de existência desse plano (2001- 2014), conhecido também como PNE I, previsto na lei 10.172/2001 tinha um capitulo que abordava a gestão democrática na educação a partir de metas relacionadas com o financiamento, pois os modelos de gestão escolar conta com financiamento diferente, pois a gestão democrática no meio escolar é diferente e mais complexa do que o antigo modelo de gerenciamento escolar, pois conta com princípios como a maior participação da comunidade, dentre outras questões já citadas e por isso, necessita de mais recursos a serem aplicados para alcançar os objetivos, como melhorar a qualidade da educação e maior profissionalização dos processos 40 educacionais. “Nos termos na PNE I, a gestão democrática se materializa, quanto aos sistemas de ensino, na forma dos conselhos de educação” (GOMES, 2015, p.143). O fortalecimento da gestão democrática a nível municipal necessita segundo Tramontina et al (2020) de aproximação entre diversos segmentos que fazem parte do meio escolar, como o incentivo a organização estudantil e maior participação dos pais e a efetivação da gestão democrática a partir do fortalecimento dos órgãos municipais, que possam acompanhar a implementação desse modelo de gestão. Em relação aos Conselhos de Educação, que segundo Gomes (2015) é a materialização da gestão democrática na educação, está relacionado com o conceito de representatividade, isto é, diversos setores educacionais participam do processo da gestão pedagógica e essas funções são compartilhadas, não ficando a cargo de somente uma pessoa. A importância do Conselho escolar se deve a participação da sociedade, além “da adoção de formas de escolha de direção escolar que associe garantia de competência, compromisso com a proposta pedagógica emanada dos conselhos escolares, representatividade e liderança” (GOMES, 2015, p.144). Tramontina et al (2020) explica também que a interação entre esses setores escolares seria uma ação importante e que possibilitaria benefícios no gerenciamento escolar, o que “contribuiria para a efetivação de um processo democrático dentro da escola a nível municipal, com o intuito de que todos possam participar das tomadas de decisões ativamente” (TRAMONTINA ET AL, 2020, p.34). O Plano Nacional de Educação determinou, além da maior participação dos estados e municípios no processo de implementação da gestão democrática no meio escolar, também inseriu em seu artigo 9 sobre prazos de tempos para alcançar metas e objetivos relacionados com esse modelo de gestão. A implementação da gestão democrática no contexto municipal segundo Tramontina et al (2020) possibilitaria diversos benefícios, como o fortalecimento dos conselhos de educação e assim, descentralizar as ações, possibilitando melhor eficácia nos projetos a serem implementados visando uma gestão mais eficiente da instituição escolar. “Sob essa perspectiva, tem-se a descentralização de recursos que fornecem autonomia financeira e administrativa para o gestor dentro da escola, junto aos seus pares” (TRAMONTINA ET AL, 2020, p.34). E além de determinar esses prazos, que era de até dois anos, essa proposta também trouxe algumas estratégias, que foram anexadas as demais metas da PNE 41 já definidas. A primeira estratégia era que as localidades que conseguissem aprovar leis especificas relacionadas com a gestão democrática na educação, como nomeação de diretores e gestores a partir de uma seleção e não por indicação ou comissão, teria prioridade no repasse de recursos. A segunda estratégia “trata da realização de prova nacional para subsidiar o provimento dos cargos de diretores escolares. Ambas as ideias foram mantidas no texto final” (GOMES, 2015, p.145). Tramontina et al (2020) detalha que o Projeto Político Pedagógico deve conter em seus objetivos a preocupação em criar um processo de participação que envolva todos os entes ligados a escola, criando o envolvimento de todos no processo gerencial da instituição, isso deve ser posto neste documento. Quando esses princípios estão presentes no PPP, percebe-se “o compromisso com a educação de qualidade, o conhecimento e as habilidades da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), envolvendo toda a comunidade no processo de tomada de decisões” (TRAMONTINA ET AL, 2020, p.34). 42 4 A GESTÃO DEMOCRÁTICA EM ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DE ITAPECURU MIRIM: O ESTUDO DE CASO DA UNIDADE ESCOLAR PROFESSORA MARIA DAS DORES CARDOSO DA CRUZ Neste capitulo, será apresentado sobre as características da escola Professora Maria das Dores da Cruz, escola municipal situada no município de Itapecuru Mirim e depois será feita a análise de três documentos escolares, detectando a presença ou não da gestão democrática na prática educacional local. 4.1 Caracterização da Escola O trabalho foi desenvolvido no município de Itapecuru Mirim, situado no Maranhão, tendo como objeto de estudo a escola Professora Maria das Dores da Cruz, uma escola municipal de ensinoregular de ensino fundamental anos iniciais e finais e educação de jovens e adultos. A instituição está localizada no bairro rodoviária, na rua Henrique Frazão s/n. A escola Professora Maria das Dores da Cruz é uma instituição de ensino municipal que se encontra em funcionamento na zona urbana de Itapecuru Mirim, que conta com autorização do conselho municipal de educação para funcionar como uma instituição que oferta ensino público para a localidade. Ela conta com ensino regular, com turmas do ensino fundamental inicial e anos finais, cada uma dessas turmas sendo ofertadas em meio período. Também conta com turmas do EJA (educação de jovens e adultos), tanto com anos iniciais quanto finais e conta com projetos complementares, como apoio escolar em diversas disciplinas, como matemática, português leitura e teatro e conta com projetos esportivos, como futebol e futsal. Em relação a estrutura física, a escola não conta com acessibilidade, isto é, ela não é acessível para pessoas com deficiência. Além disso, a escola não conta com biblioteca, laboratório de informática, laboratório de ciências, sala de leitura, quadra de esportes, tendo uma estrutura de pequeno porte, o que limita a produção de atividades mais elaboradas na escola. Em relação a comunidade escolar da escola Professora Maria das Dores da Cruz é formada, em sua grande maioria, por pessoas de baixo nível socioeconômico. São lavradores, auxiliares de serviços gerais, comerciários, diaristas, professores e outros trabalhadores braçais, sendo que grande parte destes depende do auxílio de 43 programas de transferência de renda do Governo Federal, subsistindo, portanto, com menos de um salário mínimo. A maior parte do alunado atendido é oriunda da zona urbana, fazendo uso de transporte escolar apenas uma pequena porcentagem de moradores da zona rural. O nível de escolaridade dos pais em sua maioria é de Ensino Fundamental e Médio e todos os professores são graduados e especializados. Os professores, direção e equipe pedagógica são residentes na zona urbana. Existe problemas em relação à frequência dos alunos e cumprimento dos horários, percebeu-se segundo a direção da escola uma melhora ainda, mas ainda há alunos que normalmente desistem no decorrer do ano ou reprovam por faltas. Além da notável ausência dos seus pais ou responsáveis quando solicitados a comparecerem à escola. Além disso chegam atrasados frequentemente e a família, na maioria dos casos, se revela muito omissa. Há o entendimento por parte dos professores e funcionários de que há um declínio de valores morais, religiosos, materiais e intelectuais que não são verificados em grande parte do alunado. Assim, sugere-se que tais situações venham do âmbito familiar em virtude da fragilização destes vínculos. Oriundos de uma comunidade com pouco acesso aos serviços públicos de qualidade os alunos precisam, além dos conteúdos sistematicamente organizados e conhecimentos científicos, de muita atenção, respeito e amor. A escola busca, então, estreitar o relacionamento com a comunidade para que haja uma interação entre família e escola, facilitando o desenvolvimento do aluno, sua aprendizagem e suas competências, promovendo vários momentos para conversas, palestras, e apresentação de projetos. A escola apresenta vários problemas que dificultam as atividades educacionais tais como: ✓ Salas de aulas são muito quentes; ✓ Problemas com o teto no período chuvoso, dificultando aprendizagem dos alunos; ✓ Faltam um refeitório e uma biblioteca ✓ Não há livros e nem material didático suficiente para suprir as necessidades dos professores e alunos. Atualmente a escola conta com seis salas de aula que funcionam nos turnos matutino e vespertino, um pátio descoberto, um banheiro feminino e um banheiro 44 masculino, um banheiro adaptado para pessoas com deficiências, um banheiro social, uma cantina, uma secretaria, um almoxarifado, um auditório, um depósito onde se guarda a merenda escolar. 4.2 A Gestão Democrática na Unidade Escolar Professora Maria Das Dores Cardoso Da Cruz em Itapecuru Mirim Foram selecionados três documentos da gestão para entender sobre a gestão democrática sendo aplicada ou com uma tentativa de aplicabilidade em um contexto regional, local. A escolha desses documentos se deu devido à importância que eles contam no ambiente escolar, contando com poder decisório e direcionamento de ações para o funcionamento da escola e o alcance dos objetivos pedagógicos. Outro motivo para a escolha é que esses foram os documentos obtidos na escola e se fossem ofertados outros, a análise teria sido ainda mais ampla. 4.2.1 Plano de ação Uma das principais características que se pode perceber em relação ao plano de ação escolar que esteja alinhado à gestão democrática é abordagem em seu documento de todas as dimensões do ambiente escolar, como a dimensão social, pedagógica e administrativa, mostrando que a escola é um espaço complexo, diversificado e dinâmico e deve ser compreendido como um espaço ativo de difusão de aprendizagem e conhecimentos. A dimensão social busca entender sobre a comunidade ao qual a escola está inserida, tendo como foco aproximar os conteúdos escolares da realidade dos alunos, algo que é inerente a gestão democrática, de se afastar do ensino ligado ao tecnicismo, que era algo ligado a um repasse de conhecimentos apenas para ensinar, sem a preocupação com o processo de ensino aprendizagem dos alunos. Tem que haver a integração entre os entes escolares. [...] a inovação emancipatória é um processo de vivência democrática à medida que todos os segmentos que compõem a comunidade escolar e acadêmica participam dela, tendo compromisso com seu acompanhamento e, principalmente, nas escolhas da trilha que a instituição irá seguir. Dessa forma caminhos e descaminhos, acertos e erros não serão mais da responsabilidade da direção ou da equipe organizadora, mas do todo que será responsável por recuperar o caráter público, democrático, participativo da educação (VEIGA, 2003, p.279). 45 Em relação ao plano de ação da escola Maria das Dores Cardoso da Cruz, não se percebe no documento da escola que há referências sobre a dimensão social. Ele se prende muito a organização gerencial dos recursos e das atividades realizadas pela escola, algo que se aproxima com o caráter tecnicista da gestão escolar utilizada durante o século XX. A escola tem como foco a educação infantil e o ensino fundamental, onde as práticas pedagógicas devem ser norteadas na educação infantil pela interação e a brincadeira, pois as diretrizes presentes no currículo da educação infantil preconizam que a educação infantil. “O conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças, de modo a promover o desenvolvimento integral” das crianças, (BRASIL, 2009, p.12). O plano de ação da escola não apresenta esses conceitos, ele é apenas um norteador de atividades que devem ser realizadas pelos professores, como produção de material educativo e as reuniões que serão realizadas sobre definir atividades e o uso de recursos. Essa falta da dimensão social no plano de ação da escola Maria das Dores Cardoso da Cruz não deixa claro se a gestão escolar presente na instituição é democrática, pois esse documento é um instrumento utilizado para dinamizar os processos escolares e assim, propiciar ações que efetivamente resolvam problemáticas e tornem a escola um lugar ativo de processos de ensino aprendizagem e não se percebe de forma mais sistemática e ampliada sobre os critérios de acompanhamento e avaliação. Eles existem, mas são pouco explorados e limitados para a atuação escolar no meio social. A criação do plano de ação visando a dimensão pedagógica precisa entender inicialmente qual é o ensino ofertado na escola. Em relação a escola Professora Maria das Dores