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An o7o E nsi no Fu nd am en tal He nri qu e H erc ula no Reli gião 4o MO MEN TO 50 Religião em diálogo – 70 ano Liderança e direitos humanos Marcha em Porto Alegre pede o fim da intolerância religiosa Pelo oitavo ano, a Marcha pela Vida e Liberdade Religiosa percorreu as principais ruas da capital gaúcha. “Intolerância religiosa é a face mais perversa do racismo”, disse Baba Diba de Iemanjá, sacerdote africanista e presidente do Conselho do Povo de Terreiro do Rio Grande do Sul, durante a Marcha pela Vida e Liberdade Religiosa, que percorreu as ruas do centro de Porto Alegre. É o oitavo ano que a caminhada ocorre na capital gaúcha no Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Africanista: Nome dado às pessoas que se dedicam a estudar assuntos li- gados ao continen- te africano, como a história, a cultura, os povos, etc. 4 MOMENT O Reprodução. 51 Religião em diálogo – 70 ano Liderança e direitos humanos Ao som de tambores, com vestimentas brancas e cantorias, diversos terreiros do Rio Grande do Sul se encontraram no Largo Glênio Peres e seguiram até o Largo Zumbi dos Palma- res. “(A marcha) surgiu como ato político para dar visibilidade à intolerância religiosa e à luta pela reivindicação de direitos, direitos sociais, pela garantia do Estado laico e também para tentar diálogo com as outas religiões”, informou Baba Diba. O dia 21 de janeiro é uma referência a ataques sofridos por Mãe Gilda, que teve a casa apedrejada e o marido agredido ver- balmente. Gildásia dos Santos, nome de registro, não suportou os ataques e, após enfartar, faleceu em 21 de janeiro de 2000. Baba Diba lembrou os ataques incendiários em terreiros do entorno do Distrito Federal. Foram pelo menos três no ano passado. “Quanto mais avançamos em política pública, em discussões que tentam aproximar as tradições, o racismo muda de status e passa de velado à revelado. Aqui ainda não incendiaram terreiros, mas no País, já. Por isso, precisamos estar nas ruas e fazer desse dia o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.” A então ministra da Mulher, Igualdade Racial e Direitos Hu- manos, Nilma Lino, participou da marcha e destacou o evento como um momento de celebração da força ancestral africana. “Ainda temos de lutar muito pela tolerância religiosa. O Brasil é uma democracia, um País de diversos, e todos os credos e religiões têm de ser respeitados e ter lugar”, acrescentou a ministra. Sobre os ataques ocorridos no Distrito Federal, Nilma Lino afirmou que a Ouvidoria do órgão tem acompanhado o caso e prestado atendimento às vítimas. A funcionária pública Júlia Kolatayó, 37 anos, não falava de religiosidade. “A sociedade nos julga pelos olhares. Agora que tenho militado bastante na questão social e na religião africana, tenho conseguido me afirmar mais, mas é bem difícil, porque já perdi emprego, cargo, cursos.” Ela foi batizada com 25 anos e sofreu resistência da família quando decidiu mudar de religião. Baba Diba de Iemanjá luta contra o crime de ódio em todas as religiões e é incen- tivador das lideranças lai- cas na preservação da vida e dos direitos humanos, faz palestras sobre o combate à intolerância religiosa em escolas e foi candidato a deputado estadual. Segundo a ministra Nilma Lino, o Brasil é um País de diversos e todos os credos têm de ser respeitados. Re pr od uç ão . Re pr od uç ão . 52 Religião em diálogo – 70 ano Embora não seja de religião africana, o analista de sistemas Alexandre Hahn disse que também enfrenta preconceitos por conta da religião de bruxaria Wicca. “Não é todo lugar e mo- mento que posso dizer que sou bruxo. Quando digo, a primeira pergunta que vem à cabeça é se faço magia negra. Magia não tem cor. Se vou numa entrevista de emprego, pentagrama é sempre dentro da camiseta. Não posso mostrar. Uso aqui hoje, mas não posso usar em todo lugar.” Políticas públicas Desde 2009, o Plano Nacional de Direitos Humanos esta- beleceu entre os objetivos estratégicos o respeito às diferen- tes crenças, liberdade de culto e a laicidade do Estado. Nesse sentido, foi criado o Comitê Nacional de Respeito à Diversidade Religiosa (CNRDR). A iniciativa é referência para o desenvol- vimento de ações que assegurem o direito dos cidadãos de exercer as práticas religiosas. Desse modo, foram criados Comitês Estaduais no Amazo- nas, em Minas Gerais e Tocantins, o Comitê Distrital, o Conselho Estadual de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa do Rio de Janeiro e o Fórum Inter-Religioso de São Paulo. Nesses espa- ços, há a elaboração de estratégias para promover o respeito às crenças religiosas. Além disso, em alguns estados foram instaladas delegacias especializadas nesse tipo de crime. É o caso do Distrito Federal, Piauí, Pará e Mato Grosso. A maior parte das queixas veio do Rio de Janeiro, Amapá e Espírito Santo. Contudo, há estados que seguem na contra- mão desse crescimento ao incentivar medidas de combate ao preconceito. É o caso do Distrito Federal, onde foi instituído o Dia Distrital de Combate à Intolerância Religiosa, comemorado no dia 25 de outubro. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-01/marcha-em-porto-alegre- -pede-o-fim-da-intolerancia-religiosa. Acesso em: 18/04/2019. 53 Religião em diálogo – 70 ano 1. Além dos adeptos das religiões de matriz africana, que são as mais desrespeitadas no Brasil, segundo a Unesco, os praticantes de outras manifestações religiosas também se sentem perseguidos. Em seu ponto de vista, existe alguma importância na união dos grupos religiosos como aconteceu na Marcha? Espera-se que os alunos compreendam que aqueles que sofrem agressões por qual- quer motivo necessitam expor tais crimes e exigir seus direitos, tendo em vista que a Constituição Federal garante a liberdade religiosa. Com a união desses grupos, é possível pensarmos em uma sociedade cada vez mais igualitária e que luta por um bem comum. Observe o trecho a seguir retirado da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) para responder às questões 2 e 3. “Artigo XVIII: Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, cons- ciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.” Disponível em: https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf. Acesso em: 18/04/2019. 2. O que você entende sobre o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião ao qual o Artigo XVIII se refere? Espera-se que os alunos compreendam que é a liberdade que todos os indivíduos têm de manter e defender sua posição diante um fato, ou um ponto de vista, indepen- dentemente da pespectiva dos demais. Exercitando o que aprendemos 54 Religião em diálogo – 70 ano 3. Esse artigo nos diz que temos a “liberdade de mudar de religião ou crença e a liber- dade de manifestar essa religião ou crença, no ensino, na prática, no culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular”. O que você com- preende desse trecho? Justifique sua resposta. Espera-se que os alunos compreendam que o Artigo XVIII protege os crentes teístas, não teístas e ateus, e que não necessariamente é preciso ir a uma igreja ou comunidade religiosa para expressar sua fé, pois as pessoas são livres para vivenciá-la como preferiram. Para a questão 4, observe a tirinha a seguir: 4. Na tirinha, Armandinho cita o Artigo I da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), promulgada em 1948. Ao analisar a tirinha, quais impressões você pode res- gatar do primeiro quadrinho? Os alunos podem destacar que a Declaração estabelece que todos somos membros de uma única comunidade e todos temos os mesmos direitos, ou que todos temos o princípio da dignidade, isto é, um valor moral e espiritual inerente a todas as pessoas e que deve ser respeitado.5. Faça uma pesquisa sobre a etimologia da palavra fraterno e aplique ao seu dia a dia. Pense em formas e maneiras de ser fraterno com as pessoas à sua volta e como co- locar em prática a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Espera-se que os alunos respondam que fraternidade vem da palavra fraternitas, que quer dizer parentesco como de irmão, mesma família. Quanto às maneiras de colocar em prática a Dudh, pode ser cedendo o lugar às pessoas mais necessitadas em meios de transporte público, obedecendo aos mais velhos, etc. Disponível em: http://www.upa.unicamp.br/sites/default/files/inline-images/img_hq_DH_001.jpg . Acesso em: 23/10/2019. 55 Religião em diálogo – 70 ano “Quando não há, entre os homens liberdade de pensamento, não existe liberdade.” Voltaire Vulnerabilidade religiosa e social Em pleno século XXI, muito depois das revoluções industriais, que trouxeram consigo novas formas de compreender o mundo e as pessoas, parece que ainda mantemos cos- tumes que remontam a épocas anteriores. Tais costumes acompanham as pessoas onde quer que elas estejam. Das ruas foram para Internet, e, com seu fácil compartilhamento e exposição, o preconceito ficou ainda mais fácil de ser disseminado. Qual a diferença entre preconceito, racismo e discriminação? Preconceito - É uma opinião que formamos das pessoas antes de conhecê-las. É um julgamento apressado, superficial e muito perigoso, pois, em vez de melhorar a nossa vida e a da socie- dade, acaba trazendo muitas situações complicadas e até mesmo violentas. Racismo - As pessoas que não conseguem deixar de ser preconceituosas podem vir a se tornar racistas. Um racista acredita que existem raças superiores às outras, o que é grande tolice, pois, na espécie humana, não podemos dizer que existam raças; a cor da pele, a forma do nariz, o tipo do cabelo, o tipo do sangue, o formato e a cor dos olhos, a espessura dos lábios não são suficientes para estabelecer diferentes raças entre os seres humanos, que biologicamente são iguais em quase tudo, restando pequenas diferenças externas pouco importantes e que não servem para fazer com que uns sejam superiores ou inferiores aos outros. Discriminação - A pessoa que faz isso, geralmente, quer valorizar a si próprio e diminuir os demais, mesmo “de brincadeira”. É insegura porque não tem capacidade de conviver com os outros e aceitar as diferenças naturais entre os seres humanos. Os preconceituosos e racistas têm dificuldades em aceitar e conviver com a diferença, e, às vezes, suas atitudes chegam ao delírio. Como são medrosos e inseguros, projetam sobre os outros que são inferiores a eles e que não podem ter os mesmos direitos — quando os racistas e preconceituosos agem dessa maneira, estão tratando os que eles julgam como inferiores a eles de maneira discriminatória. Discriminação é, portanto, tratar os outros com inferioridade, julgando-se superior. Flávia Cunha Lima, professora de História do CEFAPRO – Cuiabá. Atua com temas específicos da disciplina de História e Educação na perspectiva dos Diretos Humanos. 56 Religião em diálogo – 70 ano Aquela que discrimina direta e explicitamente uma pessoa ou grupo de pessoas. Aquela que não é explícita, aparece velada em algum comentário ou comportamento. Exemplos como os que foram registrados nesses tweets são muito comuns — infelizmente — no nosso dia a dia. Nesses comentários, traços físicos são motivo de piadas, e as mulheres objetificadas, como no tweet que diz “não sou tuas nega”. São expressões que carregam postu- ras, muitas vezes, preconceituosas, remontando ao tempo da escravidão, no qual as pessoas negras eram maltratadas e exploradas sexualmente. Esse tipo de preconceito velado, ou seja, ações que são praticadas de maneira não evidente, está presente nos costumes brasileiros, que, graças à educação e ao empoderamento dos negros, estão sendo desconstruídos. Quando falamos em intolerância, podemos dividir em duas práticas, as visíveis e as invisíveis: “Meu bem, veja bem, eu não sou tuas nega.” Cabelo ruim é igual bandido. Se não tá preso,ta armado! SeguirMomentos Notificações Mensagens Atreladas ao senso comum, expressões racistas povoam a Internet e os meios vin- culados a ela. Veja a reprodução dos tweets a seguir: Disponível em: https://abcpublica.org.br/tag/racismo/. Acesso em:14/11/2019. Adaptado. Disponível em: https://abcpublica.org.br/intolerancias-nas-redes-um-problema-crescente/. Acesso em: 14/11/2019. Adaptado. 57 Religião em diálogo – 70 ano Intolerância visível A intolerância visível é fácil de ser percebida, pois tem um alvo direto e objetivo. Como exemplos dela, podemos citar agressões, frases de ódio ou usadas em forma de “piada”. Segundo o Conselho Estadual de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa do Rio de Janeiro, a intolerância visível corresponde a 72% das denúncias de intolerância no estado. Atualmente, o meio digital tem facilitado essas ações, no entanto, graças aos programas de proteção, os agressores têm sido punidos legalmente. Intolerância invisível De forma sutil ou até imperceptível, a intolerância invisível se manifesta socialmente em meio a comentários e expressões populares. Por ser “invisível”, reproduzimos tais expressões e perpetuamos as barreiras culturais que foram construídas durante os anos. Podemos identificá-la em expressões como: “a coisa ficou preta”; “magia negra”; “não sou tuas nega”; “chuta que é macumba”, etc. São inúmeros os comentários reproduzidos sem que seus autores se deem conta de que estão ofendendo uma grande parcela da sociedade brasileira. Precisamos ficar atentos às nossas falas para não propagarmos mais preconceito e intolerância, pois só teremos um País justo, igualitário e inclusivo quando desconstruirmos os estereótipos coloniais e percebermos que todos somos iguais. Observe os dados registrados pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República: 75 58 27 22 8 6 5 15 denúncia a cada 3 dias. denúncias com religião não informada. dos episódios relatados envolveram violência física. Fonte: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Adaptado. Fiés de religião de matriz africana são as principais vítimas de discriminação 58 Religião em diálogo – 70 ano Essa imagem foi registrada próximo a uma estação de metrô na cidade do Rio de Janeiro. Esses crimes aparecem nas ruas. Como um grito que não se escuta, as ameaças e palavras grosseiras apenas mostram o quanto necessitamos aprender a respeitar o di- ferente e compreender que o outro apenas quer viver sua vida em paz e manifestar sua religião de modo que o conforta e o deixa feliz. Reprodução. Racismo institucional impede o desenvolvimento do indivíduo e do grupo ao qual está inserido A professora Ana Lúcia, da Universidade Federal do Tocantins, respondeu a algumas perguntas sobre o racismo institucional que vivemos no Brasil ao site da Presidência da República, veja um trecho. Como se caracteriza o racismo institucional? Ana Lúcia - O racismo institucional caracteriza-se pela perpetuação de uma série de práticas discriminatórias que viola direitos das pessoas com base em critérios injustificados e injustos, tais como a raça, a idade, a opção religiosa e outros. Órgãos públicos e instituições estatais também podem operar de forma discriminatória e racialmente excludente. Quando o Estado não promove ações para a garantia dos direitos das populações mais afetadas pelo racismo; quando não investe em ações de promoção da igualdade racial; quando não faz o devido enfrentamento ao racismo; quando se omite e não pune órgãos ou pessoas que agem direta ou indiretamente para a manu- tenção da desigualdade de gênero, raça e etnia no País, estamos diante do racismo institucional. Como se materializa essa prática de racismo institucional? Ana Lúcia - O racismo institucional impede que comunidades nativas tenham a posse de suas terras e de seus territórios e possam produzir o alimento de que necessitam,por exemplo. As comunidades negras rurais e os agricultores familiares encontram enormes dificuldades de acessar as políticas públicas que lhes permitem investir na produção de alimentos em qualida- de, diversidade e quantidade suficiente para o sustento de suas famílias. Por isso, os índices de insegurança alimentar leve, moderada e grave são muito mais elevados quando se comparam brancos e não brancos. No caso das populações negras urbanas, o feminicídio, a violência da cidade, a fragilidade das políticas públicas de saúde e educação e o alto custo dos alimentos restringem a escolha de alimentos compatíveis com sua cultura alimentar. 59 Religião em diálogo – 70 ano Mesmo diante de tanta barbárie e atos contra a promoção da vida humana, muitas pessoas lutam pela resistência de sua fé e por dias em que não seja necessário se es- conder por pertencer a uma minoria social. Observatório Legislativo da Intervenção Federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro No ano de 2018, como forma de intervenção, foi criado o Observatório Legislativo da Intervenção Federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro (Olerj). Seu objetivo é recolher informações e elaborar dados referentes à segurança pública no Rio de Janeiro de modo a elaborar propostas que solucionem os problemas. Veja a análise que fizeram dos casos de intolerância religiosa no Rio de Janeiro. Em maio de 2019, o Centro Espírita Caboclo Pena Branca, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, foi vandalizado e chegou a ter alguns quartos incendiados. Imagens de santos foram quebradas e uma frase pichada na parede deixou um alerta: “Fora, macumbeiros, aqui não é lugar de macumba”. A cidade do Rio de Janeiro tem presenciado cenas de violência e depredações contra pessoas e templos religiosos de matriz africana, como o candomblé e a umbanda. Nos últimos dois anos, pelo menos oito terreiros foram depredados em Nova Iguaçu. Os bairros com o maior número de atos de vandalismo foram Cabuçu e Parque Flora. O motivo é torpe, pois tem profunda raiz em preconceitos, falta de conhecimento e de respeito à liberdade de expressão de pessoas que professam diferentes crenças e religiões. São atos de intolerância religiosa. 1- Os números da intolerância Em matéria publicada pela Agência Brasil, os casos de intolerância religiosa no Esta- do do Rio de Janeiro no período correspondente aos meses de janeiro a março de 2018 tiveram um aumento de 56%, comparando ao primeiro trimestre do ano de 2017. Re pr od uç ão . 60 Religião em diálogo – 70 ano De acordo com os dados da Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI), houve um aumento de 16 para 25 denúncias no mes- mo período. Ainda segundo a secretaria, do início de 2017 até o dia 20 de abril de 2019, foram contabilizados 112 casos e mais de 900 ações de atendimento. O município do Rio aparece com maior número de denúncias, 55%, seguido por Nova Iguaçu e Duque de Caxias, ambos na Baixada Fluminense, com 12,5% e 5,3%, respectivamente. De acordo com as denúncias, o tipo de violência mais praticado é a discriminação, com índices de 32%, seguido de depredação de templos e imagens, com 20%, e difamação, com 10,8%. Os maiores alvos são a religião do candomblé, com 30%, e a umbanda, com 22%. Segundo o representante da Coordenadoria de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa, é preciso denunciar para que os órgãos de segurança sejam informados, pois, com os registros, é possível dar visibilidade às ocorrências, disponibilizando informa- ções concretas para a sociedade, a fim de mobilizar e chamar atenção para a prática desses crimes. Lei 7.855/18 Em janeiro de 2018, foi sancionada a Lei 7.855, de autoria dos deputados André Ceciliano e Carlos Minc. A lei determina que as ocorrências policiais motivadas por into- lerância religiosa deverão ser registradas obrigatoriamente sob o artigo 208 do Código Penal brasileiro. O artigo define como crime: “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; im- pedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso.” A Lei 7.855/18 determina que os crimes contra intolerância religiosa serão tipificados, cabendo às delegacias do Estado do Rio classificar como casos de intolerância religiosa aqueles em que os praticantes de crenças forem vítimas de agressões por preconceito, com penalidades de até 20 mil reais para líderes religiosos ou representantes de institui- ções que incentivem atos de intolerância contra outra fé. O deputado Carlos Minc apontou, ainda, a importância da lei para o registro e aná- lise de dados sobre intolerância religiosa: “Atualmente, o caso de uma pessoa agredida em função de sua religião consta no registro de ocorrência como uma agressão comum. Registrando o fato por intolerância, o Instituto de Segurança Pública (ISP) fará a estatística e conseguirá propor políticas públicas de prevenção. Dessa forma nós conseguiremos pautar ações efetivas para acabar com esse massacre que vem ocorrendo no estado.” Disponível em: http://olerj.camara.leg.br/retratos-da-intervencao/intolerancia-religiosa. Acesso em: 18/04/2019. 61 Religião em diálogo – 70 ano 1. Como é possível perceber, a intolerância religiosa contra as comunidades religiosas de matriz africana acontece e se repete constantemente. Diante disso, quais as for- mas de combater esses crimes? Espera-se que os alunos compreendam que, por meio da educação, muitos estereó- tipos são quebrados. Observe a postagem que a atriz Sheron Menezzes fez usando uma rede social em resposta a comentários racistas em uma de suas publicações. Depois, responda às questões 2 e 3. 2. A Internet oferece grande acesso à informação, à cultura e ao entretenimento. Uma das grandes ferramentas usadas pelas pessoas é compartilhar seu ponto de vista, no entanto algumas pessoas se utilizam dessa ferramenta para ofender e discriminar. Por que a Internet favorece a disseminação de crimes contra os Direitos Humanos? Espera-se que os alunos compreendam que muitas pessoas pensam que não serão en- contradas, ou que, por criarem um perfil falso, nunca chegaram a eles. Algumas pessoas sentem-se encorajadas de agredir outras tendo em vista que não há um contato físico direto. 3. Sheron Menezes foi prudente em postar a agressão recebida? Justifique sua resposta. Espera-se que os alunos entendam que a Internet também promove a unidade, e é muito importante informar às autoridades policiais e governamentais os ataques so- fridos, para que mais campanhas públicas de conscientizaçao sejam feitas. Trabalhando o tema Desprezíveis racistas, não adianta entrar na minha página e escrever absurdos, xingamentos e agressões, pois vão ter que engolir a mim e a tantas outras pessoas negras em nosso país! Já esperava por isso depois do que fizeram com minhas amigas e colegas, então quero lhes dizer que saiam da frente com sua inveja, pois estamos passando com nosso cabelo maravilhoso, com a nossa linda cor, nossa beleza, nossa educação e inteligência. Não adianta colocar uma máscara de macaco no meu rosto ou tentar me ofender porque isso não me atinge! Fui treinada desde criança. E sei o meu valor! Mas esses comentários atingem milhões de pessoas no Brasil e por essas pessoas que eu resolvi me manifestar. Tomarei as providencias cabíveis na justiça 62 Religião em diálogo – 70 ano 4. O Ministério Público Federal (MPF) criou uma campanha para denunciar os crimes de racismo e intolerância que surgem na rede. Veja a seguir: Em seu caderno, faça uma pesquisa sobre o Disque 100. Procure descobrir o ano de criação, os órgãos que envolve, etc. e comente com seus colegas as informações recolhidas. Depois, toda a sala deverá montar um painel como o do MPF e exibir em algum local público na escola. 5. As manifestações como a Marcha em Porto Alegre, postagens em redes sociais ou o uso do Disque 100 podem ajudar a acabar com os crimes de racismo e intolerânciareligiosa em nosso país? Espera-se que os alunos entendam que é necessário fazer-se ouvir para que os agressores sejam punidos. Assim, aos poucos, vamos acabando com a cultura de ódio em nosso país e ensinando as novas gerações a importância da tolerância e respeito mútuos. 6. No ano de 2016, o Ministério da Educação e Ciência (MEC), por meio do Exame Nacio- nal do Ensino Médio (Enem), pediu para que os candidatos escrevessem uma redação falando sobre Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil. Em seu cader- no, sob a orientação de seu professor, escreva um texto que aponte caminhos para combatermos esse mal que assola nossa sociedade. Você pode usar nosso livro para auxiliar a sua produção. Resposta pessoal. 63 Religião em diálogo – 70 ano Arte nas ruas O grafite é conhecido por ser uma forma de manifestação artística em espaços pú- blicos. A definição mais comum diz que o grafite é um tipo de inscrição feita em paredes. Existem relatos e vestígios dessa arte desde o Império Romano, em forma de poesia, desenhos, etc. Despontou na Idade Contemporânea na década de 1970, em Nova York, Estados Unidos. Alguns jovens começaram a deixar suas marcas nos espaços públicos da cidade como ruas e metrô, e, algum tempo depois, esses traços aprimoraram-se com técnicas e desenhos. Esta manifestação está ligada a vários movimentos sociais, em especial o hip-hop, que tem quatro elementos como marcas registradas: o break, o grafite, o DJ e o MC. Para esse movimento, o grafite expressa toda a forma de opressão vivida, principalmente, pelos menos favorecidos, ou seja, a arte expressada no grafite tem como base a realidade social. O grafite tomou forma no Brasil no final da década de 1970, na cidade de São Paulo. Os artistas brasileiros que usavam o grafite como forma de expressão na época não se contentaram em apenas reproduzir o grafite estadunidense, então começaram a incre- mentar a arte com elementos do Brasil que demonstravam a realidade vivenciada no País. O estilo do grafite brasileiro é reconhecido entre os melhores de todo o mundo. Disponível em: http://www.fl.com.br/index.php/1218/arte-nas-ruas-os-melhores-grafiteiros-mundo. Acesso em: 15/08/2019. Adaptado. Agora é sua vez 64 Religião em diálogo – 70 ano Título: O inferno somos nós - do ódio à cultura de paz Autores: Leandro Karnal e Monja Coen Editora: Papirus 7 Mares Sinopse: Em tempos adversos como o que vivemos, de crise, pre- conceito e intolerância, como transformar o ódio em compreensão do outro em suas diferenças? Como sair de um cenário de violência e construir uma cultura de paz? Os autores lembram que o medo pode estar na origem da violência e apontam como o conheci- mento, de si e do outro, é capaz de produzir uma nova atitude na sociedade, menos agressiva e mais acolhedora. A grafitagem acontece também como um grito social das minorias que sofrem com a opressão. Geralmente é atrelada a algum discurso político, como na imagem vista neste momento. Nela há um pedido de paz e de tolerância entre as religiões. O que você acha de ser grafiteiro(a) por um dia? Mas não vamos pintar as paredes da escola, vamos pintar em cartolinas e fixá-las nas paredes da sua escola, preferencialmente em locais onde todos possam ver e aprender aquilo que aprendemos. Para isso, vamos precisar de: cartolina, tintas coloridas, pin- céis, giz de cera, lápis de cor, glitter. Você pode usar o conhecimento que constuímos durante todo nosso ano letivo e expressá-lo por meio da arte. A violência religiosa tem que acabar, e você é chamado a conscientizar outras pessoas de que a paz começa conosco. Re pr od uç ão AlessandroB iascioli | shutterstock.com
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