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Esmeraldo Rosário Muerelocona Factores do surgimento da indústria em Moçambique no período da economia do mercado (de 1990 até tempos actuais) (Licenciatura em Ensino de Geografia com Habilitações Em Turismo) Universidade Rovuma Extensão de Niassa 2021 Esmeraldo Rosário Muerelocona Factores do surgimento da indústria em Moçambique no período da economia do mercado (de 1990 até tempos actuais) (Licenciatura em Ensino de Geografia com Habilitações Em Turismo) Trabalho da Disciplina de Geografia da Indústria, de Carácter Avaliativo, a Ser Entregue ao Departamento de Geociências, sob Orientação do Prof. Doutor: Joaquim Miranda Maloa Universidade Rovuma Extensão de Niassa 2021 Índice 1. Introdução.................................................................................................................. 3 1.1. Objectivos .............................................................................................................. 3 1.1.1. Geral ................................................................................................................... 3 1.1.2. Específicos ......................................................................................................... 3 1.2. Metodologias ......................................................................................................... 3 2. Factores do surgimento da indústria em Moçambique no período da economia do mercado (de 1990 até tempos actuais) .............................................................................. 4 2.1. Breve historial da indústria em Moçambique nos anos 1900 ................................ 4 2.2. Indústrias em Moçambique nos tempos actuais .................................................... 6 2.3. Desenvolvimento industrial a partir do sector extractivo: a relação entre ligações e agência .............................................................................................................................. 7 2.4. Desenvolvimento industrial em Moçambique ....................................................... 7 2.5. A Origem das Actuais Capacidades Industriais de Moçambique.......................... 8 3. Conclusão ................................................................................................................ 10 4. Referências Bibliográficas ...................................................................................... 11 3 1. Introdução O presente trabalho faz menção aos factores do surgimento de indústria em Moçambique no período da economia do mercado, no período entre 1990 até aos tempos actuais. O tema enquadra-se na disciplina de Geografia da Industria. De frisar que os anos que se seguiram à Independência foram caracterizados por uma recessão económica profunda. O Governo moçambicano introduziu mudanças radicais, incluindo a nacionalização e socialização dos principais meios de produção e infra-estruturas económicas e sociais. A agricultura, que absorve a maior parte dos recursos humanos do País, foi concebida como a base do desenvolvimento e a indústria o factor dinamizador; mas os esforços de reestruturação da economia, segundo moldes de economia socialista fortemente controlada pelo Estado, não conduziram à recuperação económica preconizada pelo Governo. 1.1. Objectivos 1.1.1. Geral Conhecer os factores do surgimento da indústria em Moçambique no período da economia do mercado (de 1990 até tempos actuais). 1.1.2. Específicos Descrever a história da indústria em Moçambique nos anos 1900; Caracterizar o processo de industrialização em Moçambique nos tempos actuais; Mencionar os níveis de desenvolvimento no sector industrial em Moçambique. Analisar o desenvolvimento industrial a partir do sector extractivo e a relação entre ligações e agência. 1.2. Metodologias Para que fosse possível a compilação, selecção e a execução do presente trabalho, com vista a alcançar os objectivos e metas acima traçados fez-se uma pesquisa bibliográfica que culminou com a compilação e execução do trabalho final. 4 2. Factores do surgimento da indústria em Moçambique no período da economia do mercado (de 1990 até tempos actuais) 2.1. Breve historial da indústria em Moçambique nos anos 1900 TYLER et al (1999), “em 1975, Moçambique era a oitava potência industrial em África com uma base industrial relativamente diversificada”. A origem da indústria de construção em Moçambique pode ser datada da década de 1930, quando foram estabelecidas as primeiras pequenas empresas produtoras de cimento e tijolos no país. A estratégia económica Portuguesa dos anos 30 reservou um papel especial para as colónias Africanas, incluindo Moçambique, como uma reserva de mão-de-obra barata, um fornecedor de matérias-primas, um mercado para bens industriais, e uma importante base de investimento e emprego para os Portugueses. As autoridades Portuguesas adoptaram medidas deliberadas para o estabelecimento da primeira geração de empresas comerciais e industriais em Moçambique. De acordo com TYLER et al (1999), “a independência de Moçambique em 1975 e a adopção de uma economia de planificação central levou a uma sistemática intervenção Estatal em assuntos económicos.” Os incentivos para o investimento do sector privado foram suprimidos, causando um êxodo em grande escala de capital humano e físico, com consequências devastadoras a longo-prazo para as capacidades industriais do país. Nessa altura, o Governo reforçou a centralização, criou empresas estatais e fortaleceu os mecanismos de controlo de preços de modo a controlar a alocação de recursos escassos na economia. O Governo nacionalizou as indústrias do cimento, ferro e aço. Também criou empresas regionais estatais de construção civil sob a tutela do Ministério das Obras Públicas. Em 1977, o Governo anunciou a nacionalização do mercado imobiliário. Para resolver o problema da escassez de mão-de-obra qualificada, o Governo aumentou as despesas no sector da educação, e estabeleceu esquemas de estágios em parceira com a Rússia e Cuba. Apesar das reformas económicas terem conseguido aumentar o produto nacional bruto e o nível de emprego até 1981, em 1983 tornou-se claro que as mudanças políticas implementadas eram insustentáveis, levando a dispendiosas distorções na alocação de recursos e especialmente à ruptura da produção na cadeia de valor da indústria de construção. Além disso, as reformas económicas não cumpriram o seu declarado 5 objectivo de reverter os efeitos de longo prazo da proibição colonial no desenvolvimento dos negócios domésticos, não tendo conseguido criar um sistema de aprendizagem e capacitação de trabalhadores e gestores orientados por competências (QUINTELLA, 2013). A produção rural sofreu drasticamente durante este período, reduzindo o fornecimento de matérias-primas para a indústria de construção, bem como, a procura pela produção industrial. A produção de chá, caju, algodão e açúcar, as principais exportações do país na altura da independência, caíram drasticamente (ROSS, 2014). Ainda ROSS (2014) enfatiza que, “o efeito combinado da redução da oferta de matérias- primas produzidas localmente, do acesso limitado a reservas internacionais associado ao declínio das exportações e da queda da procura por habitação e infra-estruturas, levou a indústria de construção à beira do colapso.” Em 1987, a indústria do cimento, apesar de pequena, estava a trabalhar a menos de 50% da sua capacidade. Os sectores da construção civil e pesada estavam estagnados, sobrevivendo de subsídios estatais e concursos públicos, apesar de ainda empregarem uma proporção significativa de mão-de-obra redundante. Além disso, a guerra, juntamente com desastres naturais, destruíramas poucas infra-estruturas que restavam e interromperam a estrutura rodoviária existente. A logística, experiência acumulada, e conhecimento de mercado da era colonial nos sectores de construção civil e pesada tinham, de facto, sofrido um segundo choque adverso, seguido do já mencionado êxodo massivo de mão-de-obra qualificada. Para além disto, a nacionalização do mercado imobiliário em 1977 bloqueou um canal potencial para o desenvolvimento das competências empresariais nacionais, assim como uma importante fonte de capital e crescimento económico. Moçambique aderiu ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional em 1984. Seguiu- se a introdução de um Programa de Reabilitação Económica (SAPs) em 1987, e a criação de uma Constituição virada para o mercado, em 1990. Para a indústria de construção, a privatização e liberalização do Programa de Reabilitação Económica implicou não só mudanças em termos de posse de activos, mas também: Maior exposição à competição global; Emergência de um mercado imobiliário competitivo; e Nova oportunidade para parcerias com capital privado estrangeiro. 6 Apesar disso, ficou claro que competir num ambiente industrial global requeria um certo número de activos, instrumentos e competências que as empresas Moçambicanas não tiveram oportunidade de desenvolver. Apesar do forte dinamismo e de um grande potencial de procura interna, estas empresas depararam-se sempre com barreiras institucionais, tecnológicas e outras, que limitaram seriamente o seu crescimento. 2.2. Indústrias em Moçambique nos tempos actuais Para LALL (2001) & UNIDO (2002), “o desenvolvimento de competitividade industrial é essencialmente a capacidade de os países aumentarem a sua presença em mercados domésticos e internacionais ao mesmo tempo que desenvolvem os seus sectores industriais com um nível cada vez mais elevado de valor agregado e de incorporação de tecnologia.” Ainda AMSDEN (2001) diz que, “a indústria manufactureira (também referida como indústria transformadora) é apontada como um importante impulsionador da competitividade industrial, dada a sua capacidade de multiplicar ligações produtivas dentro da economia.” Moçambique e África do Sul, em particular, apesar da elevada dependência do complexo mineral-energético, apresentam diferentes padrões de desindustrialização prematura. Por um lado, Moçambique possui uma base produtiva e tecnológica de tal modo fraca que o aumento significativo da demanda originado pela entrada de elevados influxos de investimento directo estrangeiro (IDE), na forma de megaprojectos, tem sido suprido maioritariamente através de importações. Por outro lado, a África do Sul conseguiu desenvolver a sua indústria de equipamentos e máquinas a partir de fortes ligações a montante com indústria de mineração, apesar de enfrentar actualmente uma redução significativa da demanda também a nível doméstico (FESSEHAIE, 2015). Curiosamente, durante as últimas duas décadas, as relações económicas entre Moçambique e a África do Sul concentraram-se em torno do comércio e investimento, com ligações crescentes em torno da indústria de equipamentos, máquinas, peças e outros bens de capital, dado o crescimento fundamentalmente intensivo em capital da economia de Moçambique. Portanto, a criação de capacidades industriais neste segmento da indústria manufactureira representa uma oportunidade de substituir importações a partir do complexo mineral- energético com fortes complementaridades com outros sectores como a agricultura e a construção de infra-estruturas (incluindo as ferroviárias e portuárias). 7 2.3. Desenvolvimento industrial a partir do sector extractivo: a relação entre ligações e agência Parafraseando AMSDEN (2001) & Chang (2002), “uma das características fundamentais do processo de desenvolvimento económico é a criação de competitividade industrial induzida pela expansão da indústria manufactureira, como evidenciado tanto pela experiência das primeiras economias a industrializarem-se bem como pelo caso dos países asiáticos que tiveram uma industrialização tardia.” O desenvolvimento de competitividade industrial, por seu turno, envolve um processo de recomposição sectorial do sistema económico através de transição intersectorial, ou seja, um movimento entre sectores, saindo de sectores de baixa a média produtividade para sectores de alta produtividade, e de aprofundamento intra-sectorial, onde há um movimento dentro de cada sector, de subsectores de baixo valor agregado para subsectores de alto valor agregado. A dinâmica de criação de capacidades industriais dentro de uma economia está ligada às dinâmicas mais gerais de mudanças estruturais que se manifestam) e que são críticas para a transição e para o aprofundamento sectorial (ANDREONI, 2013). 2.4. Desenvolvimento industrial em Moçambique HIDALGO, HAUSMANN & DASGUPTA, 2009; LALL, 1992, “o cabaz de exportações de um país é ilustrativo das capacidades produtivas neles existentes, e quanto mais complexos ou sofisticados os produtos exportados, mais avançadas são as capacidades dentro da economia.” No caso da economia de Moçambique, o cabaz de exportações é dominado por um número bastante reduzido de commodities do complexo mineral-energético (alumínio, gás, carvão, energia eléctrica e minérios diversos), seguido de commodities agrícolas (açúcar, algodão, banana, castanha-de-caju e madeira), revelando o carácter subdesenvolvido do tecido industrial doméstico dado que estes produtos são exportados sem ou com baixo nível de processamento. De facto, esta estrutura das exportações reflecte a orientação do IDE para a exploração de recursos naturais, particularmente na forma de grandes ou megaprojectos, incluindo o boom de influxos de IDE no País entre 2010 e 2013 associado às descobertas de vastas reservas de carvão e gás no Centro e Norte de Moçambique. De facto, a queda dos preços das commodities entre 2014 e 2016 e o congelamento da ajuda externa motivada pelo escândalo da dívida ilícita desencadearam uma profunda crise 8 macroeconómica, demonstrada pelo significativo declínio nos influxos de IDE e das exportações e, consequentemente, no PIB. Portanto, esta dependência excessiva de fluxos externos de capital e exportações de commodities primárias implica que a economia é altamente vulnerável a choques nos preços internacionais e, consequentemente, a crises cíclicas de acumulação (CASTEL-BRANCO & OSSEMANE, 2010). 2.5. A Origem das Actuais Capacidades Industriais de Moçambique Um ponto de referência útil é conseguido através da análise de países como a Etiópia, Gana, Tanzânia e Zâmbia, países cujos perfis das suas empresas e indústrias líderes são analisados em volumes anteriores. Todos estes países apresentam uma discriminação similar em termos de empresas industriais líderes. Cerca de metade das empresas são originárias do sector privado, cerca de um quarto são de origem estrangeira, e cerca de um quarto iniciou a sua actividade como empresas do sector público. Para HEDGES (1999), “Moçambique apresenta um padrão diferente. Durante o século XIX e início do século XX as autoridades coloniais desincentivaram as actividades industriais em Moçambique, uma vez que pretendiam eliminar a concorrência às empresas industriais portuguesas e preservar as ambições de industrialização de Portugal.” Em meados da década de 1950 as autoridades coloniais tiveram uma mudança de política, permitindo que um número crescente de empresas de produção surgissem em Moçambique, 9 de modo a acomodar a crescente população de colonos portugueses, reduzir os custos de exportação e absorver o excedente de equipamento industrial em segunda mão de Portugal (HEDGES, 1999). O trajecto mais comum, no caso de empresas de Moçambique (sendo aplicável à maioria das empresas mais antigas), é referente a empresas que iniciarama sua actividade como empresas de propriedade privada, criadas pela um ou mais indivíduos de nacionalidade estrangeira (em muitos casos, portuguesa); posteriormente à independência moçambicana, estas empresas foram nacionalizadas, e possivelmente fundidas com outras empresas similares; e, finalmente, na década de 1990, foram privatizadas. Em muitos casos, empresas originárias em Moçambique não foram fundadas por uma pessoa singular residente em Moçambique, mas como uma filial de uma empresa portuguesa (ou outra estrangeira). Num pequeno número de casos, a empresa nacionalizada havia sido formada, através da junção de várias pequenas empresas de propriedade privada. Este padrão de eventos aplica-se a quase um terço das empresas industriais de Moçambique. O segundo maior grupo das principais empresas industriais são empresas jovens, que foram fundadas no início como empresas industriais no período pós-independência; estas empresas representam 11 das 40 empresas industriais líderes aqui analisadas. 10 3. Conclusão Através da pesquisa realizada conclui-se que Moçambique nos dias actuais regista um crescimento da área industrial, apesar de existir um crescente mercado de manutenção e reparação associado à indústria de equipamentos e máquinas no complexo mineral-energético em Moçambique, a geração de ligações e capacidades industriais não é automática. A presença de empresas sul-africanas estabelecidas na indústria face às fracas capacidades produtivas e tecnológicas das empresas moçambicanas significa que estas últimas não conseguem aceder às oportunidades de mercado existentes. Os constrangimentos enfrentados pelas empresas manufactureiras em Moçambique evidenciam que a reversão do processo de desindustrialização prematura com base no sector extractivo requer acções estrategicamente coordenadas através da política industrial para gerar incentivos ao investimento na modernização das capacidades industriais, particularmente através do apoio à articulação entre diferentes mercados domésticos e regionais, ao surgimento de mercados domésticos de matérias-primas (como fundições para fabricação de peças sobressalentes, por exemplo), da capacitação da força de trabalho e de criação de fontes de financiamento de longo prazo. O padrão actual de ligações a montante com os megaprojectos que favorecem as empresas sul-africanas gera elevadas tensões sociais e económicas decorrentes de desequilíbrios em termos de capacidade produtiva e poder de barganha com megaprojectos. Consequentemente, um ponto que emerge da pesquisa é a necessidade de se discutir as condições necessárias para a criação de parcerias estratégicas e produtivas entre empresas moçambicanas e sul-africanas no contexto do sector extractivo em Moçambique para promover a transferência de tecnologia, a agregação de valor e a geração de emprego local. 11 4. Referências Bibliográficas AMSDEN, A.H. The Rise of “The Rest”: challenges to the west from late-industrializing economies. Oxford: Oxford University Press. 2002. ANDREONI, A. Manufacturing Development Structural Change and Production Capabilities Dynamics. PhD. University of Cambridge. 2013. CASTEL-BRANCO, C.N. & OSSEMANE, R. Crises cíclicas e desafios de transformação do padrão de crescimento económico em Moçambique. In Luís de Brito et al. (orgs), Desafios para Moçambique 2010. Maputo: IESE, 41-82. 2010. CHANG, H-J. Kicking away the Ladder: Development Strategy in Historical Perspective. Londres: Anthem. 2002. FESSEHAIE, J. Regional Industrialisation Research Project: case study on the mining capital equipment value chain in South Africa and Zambia. 2015. <Disponível em: https://papers.ssrn.com/abstract=2716029> - consultado a 03 de Agosto de 2021. LALL, S. Competitiveness indices and developing countries: an economic evaluation of the global competitiveness report. World Development, 29 (9), 1501-1525. 2001. QUINTELLA, R. Elaboração de Estratégia e Política Industrial para o Sector da Construção em Moçambique, The International Growth Center (IGC). mimeo. 2013. ROSS, M. D. C., et al. Mozambique Rising: Building a New Tomorrow, International Monetary Fund. 2014. UNIDO. Industry and Trade in a Global Economy With Special Reference to Sub-Saharan Africa. New York: United Nations. 2000.
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