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SM-M4-Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres

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Catalogação elaborada na Fonte.
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável: 
Rosiane Maria - CRB-14/1588
U588s Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de 
 Saúde Pública. Curso de Atenção Integral à Saúde das Mulheres – Modalidade a Distância.
 Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres [Recurso eletrônico] / Universidade 
 Federal de Santa Catarina. Organizadores: Mariana Santos Felisbino Mendes; Cássia Elena 
 Soares. - Florianópolis: UFSC, 2017.
 82 p. : il. color. 
 Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br 
 Conteúdo do módulo: Unidade 1 – Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde. 
 – Unidade 2 – Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e 
 vulnerabilidades. – Unidade 3 – Saúde sexual e saúde reprodutiva na atenção básica.
 ISBN: 978-85-8267-106-1
 1. Saúde sexual e reprodutiva. 2. Atenção básica. 3. Saúde das mulheres. I. UFSC. II. Mendes, 
 Mariana Santos Felisbino. III. Soares, Cássia Elena. IV. Título. 
CDU: 612.6
 5 
GOVERNO FEDERAL
Ministério da Saúde
Secretaria de Atenção à Saúde (SAS)
Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas
Coordenação-Geral de Saúde das Mulheres
Universidade Federal de Santa Catarina
Reitor: Luiz Carlos Cancellier de Olivo
Vice-Reitora: Alacoque Lorenzini Erdmann
Pró-Reitor de Pós-Graduação: Sérgio Fernando Torres de Freitas
Pró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto Soares
Pró-Reitor de Extensão: Rogério Cid Bastos
Centro de Ciências da Saúde
Diretora: Isabela de Carlos Back
Vice-Diretor: Ricardo de Sousa Vieira
Departamento de Saúde Pública
Chefe do Departamento: Fabrício Augusto Menegon
Subchefe do Departamento: Maria Cristina Marino Calvo 
Coordenadora do 
Curso de Capacitação: Elza Berger Salema Coelho
Créditos
 6 
EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
Coordenação-Geral de Saúde das Mulheres
 Caroline Schweitzer de Oliveira
 Célia Adriana Nicolotti
 Maria Esther de Albuquerque Vilela
 Thais Fonseca Veloso De Oliveira
Gestora geral do Projeto
 Elza Berger Salema Coelho
Equipe de produção editorial
 Carolina Carvalho Bolsoni
 Deise Warmling
 Elza Berger Salema Coelho
 Larissa Pruner Marques
 Sabrina Blasius Faust
Equipe executiva
 Dalvan Antonio de Campos
 Gisélida Vieira 
 Patrícia Castro 
 Sheila Rubia Lindner 
 Tcharlies Schmitz
 Thiago Ângelo Gelaim
 
Consultoria técnica
 Carmem Regina Delziovo
Créditos
 7 
AUTORIA DO MÓDULO
 Mariana Santos Felisbino-Mendes
 Cássia Elena Soares
Assessoria pedagógica
 Márcia Regina Luz 
Identidade visual e Projeto gráfico 
 Pedro Paulo Delpino 
Diagramação 
 Paulo Roberto da Silva
Esquemáticos
 Laura Martins Rodrigues
 Naiane Cristina Salvi
Ajustes e finalização
 Adriano Schmidt Reibnitz
Design instrucional, revisão de 
língua portuguesa e ABNT 
 Eduard Marquardt
Fonte para imagens e esquemáticos
 Fotolia
Créditos
 8 
 9 
Este módulo traz conteúdos importantes para 
a atenção às mulheres e parcerias no contexto 
da Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva (SSSR). 
Foram construídas três unidades a partir das 
quais você poderá reconhecer os problemas 
atuais nesse campo de prática e as melhores 
evidências e recomendações, respeitando os 
direitos sexuais e reprodutivos das usuárias e 
suas parcerias, quando presentes. 
Na unidade 1 são abordados os principais 
marcos históricos e políticos, internacionais e 
nacionais, que organizam a atenção à Saúde 
Sexual e Saúde Reprodutiva. Além disso, re-
lembramos os direitos sexuais e reprodutivos 
que devem sempre ser respeitados, norteando 
a prática. 
Na sequência, a unidade 2 aborda a construção 
de gênero e a sexualidade feminina, além de 
revisitar as Infecções Sexualmente Transmis-
síveis (ISTs) e o planejamento reprodutivo, atu-
alizando seus conhecimentos para aplicá-los 
na Atenção Básica. 
Para finalizar, a unidade 3 elenca estratégias 
de abordagem para a SSSR tendo em vista as 
diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). 
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
A discussão deste conteúdo visa fortalecer 
suas habilidades e conhecimentos para resol-
ver os problemas na atenção às usuárias. 
 10 
Neste módulo o aluno deverá reconhecer a 
Saúde Sexual e a Saúde Reprodutiva como 
direito à saúde das mulheres, assim como as 
intercorrências mais comuns deste tema e as 
estratégias de abordagem na Atenção Básica.
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
Objetivos de aprendizagem para este 
Módulo
Ao final deste módulo, você deverá ser ca-
paz de reconhecer a Saúde Sexual e a Saúde 
Reprodutiva como direito à saúde, identificar 
e tratar as Infecções Sexualmente Trans-
missíveis, conhecer os diferentes métodos 
anticoncepcionais e as estratégias de abor-
dagem na Atenção Básica, tendo em vista as 
diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Carga horária de estudo recomendada 
para este módulo
30 horas
 11 
Unidade 1 – UN1
Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde 12
1.1 Marcos internacionais e nacionais 14
1.2 Impactos nos ciclos de vida 19
1.3 Influências das construções de gênero 21
1.4 As expressões da sexualidade feminina 22
Unidade 2 – UN2
Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades 26
2.1 Ciclos de vida e vulnerabilidades 28
2.2 Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) 34
2.3 Atenção ao planejamento reprodutivo 47
Unidade 3 – UN3
Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva na Atenção Básica 59
3.1 Estratégias para garantir a atenção à Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva 62
3.2 Papel dos profissionais da Atenção Básica 64
3.3 Corresponsabilização dos homens 69
3.4 Organização do serviço de saúde em rede 70
Resumo do módulo 75
Referências 77
Sobre as autoras 81
Sumário
 12 
UN1
Saúde sexual e saúde reprodutiva: 
um direito à saúde
 13 
 14  14 
UN1 Saúde sexual e saúde 
reprodutiva: um direito 
à saúde
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
A Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva (SSSR) é 
questão de preocupação global, uma vez que 
se trata de um tema que envolve questões de 
direitos humanos e saúde. Seu impacto ultra-
passa o indivíduo, família e sociedade, e pode-
mos afirmar, além disso, que não existe área 
na saúde na qual as iniquidades sejam tão 
marcantes (COOK; DICKENS; FATALLA, 2003).
Além dos direitos sexuais e reprodutivos, as 
questões de gênero e a sexualidade feminina 
atuam como pilares desta primeira unidade, 
pois são fundamentos imprescindíveis que 
devem o tempo todo nortear a prática neste 
campo.
Assim, o objetivo desta unidade é discutir os 
direitos, a SSSR, tomando por base as diretri-
zes do Sistema Único de Saúde (SUS) e a Po-
lítica Nacional de Atenção Integral à Saúde da 
Mulher (PNAISM).
1.1 Marcos internacionais e 
 nacionais
Ao abordar a Saúde Sexual e Saúde Repro-
dutiva (SSSR), é necessário revisitar alguns 
marcos legais que envolvem os direitos 
sexuais e reprodutivos. São documentos in-
ternacionais e nacionais que contribuíram 
para o avanço nesta área e que norteiam as 
práticas voltadas para tal. 
No cenário internacional, em 1948, com a 
publicação da Declaração Universal dos Di-
reitos Humanos pela Organização das Na-
ções Unidas (ONU), estabeleceu-se como 
direitos fundamentais “o direito à vida, à ali-
mentação, à saúde, à moradia, à educação, 
ao afeto, os direitos sexuais e os direitos re-
produtivos” (ONU, 1948). 
Apesar do reconhecimento desses direitos 
como fundamentais, somente em 1994 a dis-
cussão sobre os direitos sexuais e reproduti-
vos, bem como ao conceito de saúde sexual e 
reprodutiva, foi retomada em nível internacio-
nal. Neste ano, a Conferência Internacional da 
ONU sobre População e Desenvolvimento, que 
ocorreu no Cairo, Egito, constituiu-se como 
marco dentro do contexto da SSSR, uma vez 
que reafirmou e conferiu um papel primordial 
à saúde, aos direitos sexuais eaos direitos 
reprodutivos, abandonando a ênfase na ne-
cessidade de limitar o crescimento populacio-
nal como forma de combater a pobreza e as 
 15  15 
UN1 Saúde sexual e saúde 
reprodutiva: um direito 
à saúde
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
desigualdades, focalizando no desenvolvi-
mento do ser humano (OMS, 1994; BRASIL, 
2013).
Fonte: elaborado pelos autores
Marcos
Internacionais
Marcos
Nacionais
1948
Declaração Universal
dos Direitos Humanos
1970
Explosão demográfica
1984
Programa de Atenção Integral à
Saúde da Mulher (PAISM)
1988
Constituição Federal
do Brasil
1994
Conferência Internacional
da ONU sobre População e
Desenvolvimento (CIPD) - Cairo
2015
Objetivos de
Desenvolvimento
Sustentável
1995
IV Conferência Muncial
sobre a Mulher - Pequim
1996
Lei do Planejamento
Familiar
2000
Conferência do Milênio,
Organização das Nações Unidas
2005
Política Nacional dos
Direitos Sexuais e dos
Direitos Reprodutivos
MS/2005
2007
Programa “Mais Saúde:
Direito de Todos”
2011
Rede Cegonha
2004
Política Nacional de
Atenção Integral à
Saúde da Mulher
(PNAISM)
Marcos Internacionais e Nacionais da Saúde sexual e saúde reprodutiva
Abaixo, tem-se uma linha do tempo que ilus-
tra e resume os marcos principais, continue 
acompanhando.
No ano seguinte, 1995, ocorreu a IV Conferên-
cia Mundial sobre a Mulher, em Pequim, China, 
na qual se avançou na definição dos direitos 
 16  16 
UN1 Saúde sexual e saúde 
reprodutiva: um direito 
à saúde
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
sexuais e direitos reprodutivos como Direitos 
Humanos (ONU, 1995; BRASIL, 2013). Enten-
de-se que as conferências de Cairo e Beijing 
contribuíram para que abordagens coercitivas 
de controle de natalidade fossem oficialmen-
te banidas, para que o planejamento repro-
dutivo fosse de livre escolha dos indivíduos 
e casais, para que as mulheres se tornassem 
parceiras igualitárias em todas as decisões 
no âmbito da família, e, por fim, para que as 
mulheres formalmente tomassem posse dos 
seus destinos. Ambas as conferências foram 
fortemente influenciadas por movimentos fe-
ministas da época, que lutaram e discutiram 
ativamente durante os eventos.
No ano 2000, a Conferência do Milênio, tam-
bém organizada pela ONU, foi um evento que 
estabeleceu uma agenda de compromisso 
denominada Objetivos de Desenvolvimento 
do Milênio (ODM). Essa agenda foi compos-
ta por oito objetivos a serem alcançados 
até 2015, e dentre eles, quatro possuíam 
relação direta com a saúde sexual e com a 
saúde reprodutiva: a promoção da igualdade 
entre os sexos e a autonomia das mulheres; 
a melhoria da saúde materna; o combate ao 
HIV/AIDS, malária e outras doenças, e a re-
dução da mortalidade infantil (PNUD, 2004; 
BRASIL, 2013). Observa-se que apesar de 
não ter sido cumprida em sua totalidade, a 
agenda se constituiu como um grande estí-
mulo e compromisso para todas as nações 
envolvidas e alguns avanços foram alcan-
çados: diminuição da desnutrição infantil, 
redução da mortalidade de crianças meno-
res de cinco anos e melhora discreta na ra-
zão de mortalidade materna (VICTORA et al., 
2011). 
Em 2015, essa agenda foi revista e atuali-
zada em 17 Objetivos de Desenvolvimento 
Sustentável (ODS) e 169 metas a serem al-
cançadas até 2030 (ONU, 2015). Nesta nova 
versão atualizada da agenda, observa-se um 
ODS específico no contexto da Saúde Sexual 
e Saúde Reprodutiva: “Objetivo 5 – Alcançar 
a igualdade de gênero e empoderar todas 
as mulheres e meninas”, e, dentre as me-
tas, um número maior de itens relacionados 
aos direitos, além da Saúde Sexual e Saúde 
Reprodutiva.
Figura 1 – As reivindicações das conferências de Cairo e Beijing: direitos das mulheres
 
 17  17 
UN1 Saúde sexual e saúde 
reprodutiva: um direito 
à saúde
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
“Transformando nosso mundo: a 
Agenda 2030 para o Desenvolvimento 
Sustentável”, leia o documento na ín-
tegra em: <https://nacoesunidas.org/
wp-content/uploads/2015/10/agenda-
2030-pt-br.pdf>.
Você sabe quais são os diretos sexuais e os 
direitos reprodutivos? Acompanhe no esque-
mático abaixo:
Concomitantemente a esses acontecimentos 
e compromissos internacionais, no cenário 
nacional, na década de 1970, destaca-se uma 
explosão demográfica com um forte conflito 
entre as estratégias de planejamento reprodu-
tivo e o controle de natalidade, levando a uma 
prática descontrolada da esterilização femini-
na (SOUZA et al., 2010). As políticas voltadas 
à mulher desde a década de 1960 possuem 
enfoque na assistência ao ciclo gravídico 
puerperal, observando-se uma incorporação 
da saúde da mulher às políticas nacionais de 
saúde com programas referentes a esta temá-
tica (SOUZA et al., 2010).
Importante! Em 1984 lançou-se a pri-
meira política de saúde da mulher do 
país que buscava olhá-la como protago-
nista da sua própria saúde, denominada 
Programa de Atenção Integral à Saúde 
da Mulher (PAISM) (BRASIL, 1984). Essa 
proposta contou com participação ativa 
do movimento feminista e apresentava 
uma abordagem global da saúde da mu-
lher em todas as fases do seu ciclo vital, 
e não apenas no ciclo gravídico puerpe-
ral (SOUZA et al., 2010; BRASIL, 2013).
Mais adiante, em 1988, com a promulgação da 
Constituição Federal do Brasil, estabeleceu-se 
no Título VII da Ordem Social – Capítulo VII, arti-
go 226, § 7o deste documento, a responsabilida-
de do Estado no que se refere ao planejamento 
familiar (BRASIL, 1988). Apesar desse avanço, 
somente em 1996, promulgou-se a Lei no 9263 
que regulamenta esse § 7o do artigo 226 da 
Constituição Federal, também conhecida como 
Lei do Planejamento Familiar, regularizando o 
exercício das medidas de planejamento familiar 
DIREITOS REPRODUTIVOS
• Direito das pessoas decidirem, de 
forma livre e responsável, se querem 
ou não ter filhos, quantos filhos 
desejam ter e em que momento de 
suas vidas.
• Direito de acesso a informações, 
meios, métodos e técnicas para ter 
ou não ter filhos. 
• Direito de exercer a sexualidade e a 
reprodução livre de discriminação, 
imposição e violência.
DIREITOS SEXUAIS
• Viver e expressar livremente a sexualidade e orientação sexual 
sem violência, discriminações e imposições, e com total respeito 
pelo corpo do(a) parceiro(a). 
• Escolher o(a) parceiro(a) sexual e se quer ou não ter relação 
sexual. 
• Viver plenamente a sexualidade sem medo, vergonha, culpa e 
falsas crenças, e independentemente de estado civil, idade ou 
condição física. 
• Ter relação sexual, independentemente da reprodução. 
• Sexo seguro para prevenção da gravidez e de infecções 
sexualmente transmissíveis (IST) e AIDS. 
• Serviços de saúde que garantam privacidade, sigilo e um 
atendimento de qualidade, sem discriminação, bem como à 
informação e à educação sexual e reprodutiva.
 18  18 
UN1 Saúde sexual e saúde 
reprodutiva: um direito 
à saúde
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
no país, bem como estabelecendo a proibição de 
qualquer ação que visasse controle demográfi-
co (BRASIL, 1996). Destaca-se que desrespeitar 
o que está previsto nessa lei significa estar su-
jeito a penalidades. 
Em 1948 foi estabelecido como direito 
humano os direitos sexuais e reprodu-
tivos, e na Constituição Brasileira, de 
1988, o planejamento familiar. Entre-
tanto, somente 12 anos depois a lei no 
9263 regulamentou o planejamento fa-
miliar no Brasil, proibindo ações de con-
trole demográfico. Como são as ações 
de planejamento reprodutivo oferecidas 
na sua unidade?
A partir do ano 2000 observou-se um esforço 
e investimento para promover a ampliação da 
oferta de métodos anticoncepcionais reversí-
veis no Sistema Único de Saúde (SUS), aumen-
tando o número de métodos contraceptivos 
disponíveis para a Atenção Básica (BRASIL, 
2013). Na sequência, em 2004, lançou-se a Po-
lítica Nacional de Atenção Integral à Saúde da 
Mulher(PNAISM) que incorporou o enfoque de 
Gênero e a Promoção da Saúde à política inte-
gral anteriormente proposta, ampliando a as-
sistência aos grupos historicamente excluídos 
das políticas públicas nas suas especificidades 
e necessidades, dentre elas as mulheres ne-
gras e indígenas (BRASIL, 2004). 
A PNAISM é a política, vigente nos dias atuais, 
que reflete o compromisso com a implemen-
tação de ações de saúde que contribuam para 
a garantia dos direitos humanos das mulhe-
res e reduzam a morbimortalidade por cau-
sas preveníveis e evitáveis. Também enfatiza 
a melhoria da atenção obstétrica, o planeja-
mento reprodutivo, a atenção ao abortamento 
inseguro e às mulheres e às adolescentes em 
situação de violência doméstica e sexual. 
Em 2005 foi publicada a Política Nacional dos 
Direitos Sexuais e dos Direitos Reprodutivos, 
com os seguintes propósitos: ampliar a oferta 
de métodos anticoncepcionais reversíveis no 
SUS; incentivar à implementação de ativida-
des educativas em saúde sexual e saúde re-
produtiva para usuários(as) da rede SUS; ca-
pacitar os profissionais da Atenção Básica em 
saúde sexual e saúde reprodutiva; ampliar o 
acesso à esterilização cirúrgica voluntária (la-
queadura tubária e vasectomia) no SUS; im-
plantar e implementar redes integradas para 
atenção às mulheres e aos adolescentes em 
situação de violência doméstica e sexual; am-
pliar os serviços de referência para a interrup-
ção legal da gestação, garantia de atenção 
humanizada e qualificada às mulheres em 
situação de abortamento, entre outras ações 
(BRASIL, 2013). 
Figura 2 – A Política Nacional dos Direitos Sexuais e dos 
Direitos Reprodutivos, de 2005
Fonte: Universo da Mulher (2017).
Em 2007, com o lançamento do Programa 
“Mais Saúde: Direito de Todos”, como parte 
do Programa de Aceleração do Crescimento, 
 19  19 
UN1 Saúde sexual e saúde 
reprodutiva: um direito 
à saúde
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
o Ministério da Saúde promoveu a expansão 
das ações do planejamento reprodutivo (BRA-
SIL, 2013) e, em 2011, criou a estratégia Rede 
Cegonha. Um dos princípios que integram a 
Rede Cegonha é a garantia dos direitos se-
xuais e dos direitos reprodutivos de mulheres, 
homens, jovens e adolescentes. Uma das suas 
diretrizes é a garantia de acesso às ações do 
planejamento reprodutivo (BRASIL, 2011). As-
sim, a Rede Cegonha, instituída no âmbito do 
SUS, consiste numa rede de cuidados que visa 
assegurar à mulher o direito ao planejamento 
reprodutivo à atenção humanizada à gravidez, 
ao parto e ao puerpério, bem como à criança o 
direito ao nascimento seguro e ao crescimento 
e desenvolvimento saudáveis (BRASIL, 2011).
1.2 Impactos nos ciclos de vida
Na atenção em âmbito da Saúde Sexual e 
Saúde Reprodutiva (SSSR), observamos fre-
quentemente uma prática que oferece, às 
mulheres, serviços e cuidados referentes à 
reprodução, e, aos homens, informações e 
cuidados para com a sexualidade (PINHEI-
RO; COUTO, 2013). Com todas as transfor-
mações sociais e os avanços das políticas 
públicas de saúde, é urgente a necessidade 
de mudança dessa prática marcada por mi-
tos, desigualdade de gênero e cerceamento 
dos direitos sexuais e reprodutivos, princi-
palmente das mulheres. 
Dentre as áreas a serem abordadas na Aten-
ção Básica, a Saúde Sexual e Saúde Reprodu-
tiva tem destaque, constituindo-se uma área 
prioritária devendo ser norteada pelos direi-
tos sexuais e reprodutivos, considerando as 
diferentes conformações familiares, espe-
cialmente para adolescentes, que muitas ve-
zes estão à margem da atenção à saúde nessa 
questão (BRASIL, 2013).
Tendo em vista o conceito ampliado de saúde 
como completo bem-estar físico, mental, so-
cial e espiritual (WHO, 1946; WHO, 1998), en-
tende-se por saúde reprodutiva a capacidade 
de uma pessoa em manter uma vida sexual 
responsável, satisfatória, segura, bem como 
de ter condições de reproduzir e liberdade 
para decidir se, como e com que frequência 
fazê-lo, bem como regular sua fertilidade e 
experienciar um parto e nascimento seguro, 
com desfechos positivos (WHO, 1988; OMS, 
1994; BRASIL, 2013). Trata-se de um conceito 
relativamente recente que recebeu atenção na 
Conferência do Cairo, citada anteriormente. 
A saúde reprodutiva inclui a saúde sexual, e o 
conceito de saúde sexual, também tendo-se 
em vista o conceito ampliado de saúde, deve 
incluir os seguintes componentes: capacida-
de de aproveitar mutuamente os relaciona-
mentos sexuais, estar livre de abuso, coerção 
e assédio sexual, prevenir-se contra ISTs e 
ter sucesso em alcançar ou evitar a gravidez 
(COOK; DICKENS; FATALLA, 2003).
Uma mulher por volta dos 50 anos de idade 
é geralmente negligenciada na prática clíni-
ca em relação à sua Saúde Sexual e Saúde 
Figura 3 – A saúde sexual deve ser contemplada em todas 
as fases da vida
ESTÁGIOS DE
VIDA DA MULHER
Estágios de vida da mulher
 20  20 
UN1 Saúde sexual e saúde 
reprodutiva: um direito 
à saúde
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
Reprodutiva, pois pode estar vivendo o final da 
sua vida reprodutiva e por isso tem uma série 
de sintomas e queixas relacionadas ao clima-
tério. Muitas vezes, sabe pouco sobre isto, e 
muito menos recebe os cuidados dos quais se 
beneficiaria nessa fase da vida. Isso se dá pelo 
enfoque reprodutivo das ações, muito comu-
mente concentradas em pré-natal e puerpério. 
Estudo recente demonstra que são essas as 
mulheres que estão em atraso com as ações 
de rastreamento do câncer de mama e colo 
uterino, mulheres idosas, que têm baixa es-
colaridade, que moram nas regiões mais po-
bres do país, sem companheiro, desnutridas, 
e que possuem outros comportamentos ne-
gativos em saúde (TIENSOLI et al., 2015). 
Figura 4 – Idosas e Adolescentes também devem receber 
atenção à Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva
Por outro lado, as adolescentes que iniciam 
sua vida sexual também precisam de infor-
mações relacionadas ao funcionamento do 
seu corpo, menstruação, desejo, relação se-
xual segura, ISTs, gravidez, prevenção e méto-
dos contraceptivos. Recentemente, vivencia-
mos uma grande resistência à aceitação da 
vacinação contra o HPV em meninas de 9 a 
13 anos, muitas vezes relacionadas à desin-
formação do que exatamente seria a vacina, 
a doença e a prevenção da mesma. Esta in-
formação nos remete a necessidade de abor-
dagem e informação aos pais e responsáveis 
pelas adolescentes, pois quando melhor infor-
mados, os pais não se opõem e reconhecem 
os benefícios na vacinação (OSIS; DUARTE; 
SOUSA, 2014).
Estas são situações que têm sido ob-
servadas na prática em Saúde Sexual 
e Saúde Reprodutiva, mas que pode-
riam ser evitadas com uma atenção 
pautada pelos direitos sexuais e re-
produtivos, bem como pelo reconhe-
cimento da educação em saúde como 
fundamental às práticas avançadas na 
Atenção Básica. Este âmbito de gran-
de aproximação da população com 
a equipe de saúde da família, e des-
ta com o território vivo, permite uma 
atenção à SSSR em todos os ciclos 
de vida, tendo a educação em saúde 
como forte aliada no empoderamento 
das mulheres em relação ao seu corpo, 
suas transformações, cuidado e deci-
sões. Pare e reflita se esses exemplos 
são próximos da sua realidade.
Relembramos que a atenção em Saúde Sexu-
al e Saúde Reprodutiva deve ser abrangente 
e englobar várias ações inter-relacionadas 
(BRASIL, 2013), confira no quadro a seguir:
 21  21 
UN1 Saúde sexual e saúde 
reprodutiva: um direito 
à saúde
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
Mas para atuar na ampliação da atenção a 
Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva é impor-
tante reconhecer as questões de gênero re-
lacionadas e os impactos para a saúde das 
mulheres, como veremos no ponto a seguir.
1.3 Influências das construções 
 de gênero
A construção do gênero leva em considera-
ção papéis, atitudes e regras sociais, entre 
outros aspectos, para caracterizar mulheres 
e homens muito além do que a observaçãodomésticos e cuidados com os filhos, casa e 
parceria. Aos homens, o papel do provedor e 
chefia familiar seria mais “adequado”, dada 
a sua racionalidade e praticidade frente às 
dificuldades e problemas cotidianos. A força 
física, outra característica muito associada 
ao universo masculino, muitas vezes é em-
pregada para a obtenção da obediência ou 
ato sexual contra a vontade da mulher e par-
ceira (MACHIN et al., 2011; UFSC, 2016). 
Importante! A violência contra mulher 
nem sempre deixa marcas físicas. Con-
tudo, os danos psicológicos e morais 
muitas vezes deixam marcas tão pro-
fundas que influenciam direta ou indire-
tamente a saúde de suas vítimas (BRA-
SIL, 2011; GUEDES, 2009). Muitas vezes 
a depressão, adição ou o desinteresse 
sexual da mulher pode estar vinculado à 
situação de violência psicológica, moral 
e física por parte da parceria. 
A descoberta masculina de sua função no pro-
cesso de reprodução parece surgir também 
como um fator que naturaliza a submissão e 
passividade das mulheres frente aos homens 
(VITIELLO, 1998; WEREBE, 1998). 
Ações inter-relacionadas entre Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva
ÎÎ Planejamento reprodutivo
ÎÎ Educação para o exercício da sexualidade
ÎÎ Cuidados frente a sofrimentos psicoemocionais
ÎÎ Assistência pré-concepcional, pré e pós-natal e maternidade segura
ÎÎ Cuidados com o climatério
ÎÎ Prevenção de agravos reprodutivos e sexuais (ISTs, câncer, abortos provocados, violência 
doméstica e sexual, dentre outros)
ÎÎ Proteção contra efeitos nocivos do ambiente e serviços de saúde sobre a saúde reprodutiva 
e sexual
da genitália (sexo biológico) nos mostra. 
Baseia-se em um processamento elaborado 
de questões sociais e culturais que orienta o 
que é ser mulher e homem na nossa socie-
dade. O comportamento e o modo de agir, 
que parecem tão “naturais” para cada gêne-
ro, é na verdade ensinado desde a mais ten-
ra idade (BRASIL, 2011; JESUS, 2012). 
Algumas características como fragilida-
de, emoção e sensibilidade, muito asso-
ciadas à feminilidade, tornariam a mulher 
“naturalmente” mais apta aos afazeres 
 22  22 
UN1 Saúde sexual e saúde 
reprodutiva: um direito 
à saúde
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
A mulher moderna que foge desses padrões 
sociais (que prioriza a carreira profissional, 
não quer casar, não quer filhos, interesse se-
xual pelo mesmo gênero, entre outros) e que 
acompanha a sociedade ocidental há gera-
ções ainda enfrenta preconceito, na maioria.
Na questão da SSSR esses estereótipos sur-
gem claramente quando o uso de métodos 
anticoncepcionais ainda aparecem como uma 
função da mulher, desta forma a gravidez seria 
um problema da mulher. Ou, a sugestão por 
parte da mulher do uso do preservativo a ex-
põe a dúvidas por parte do homem sobre a sua 
fidelidade. A liberdade do exercício da sexu-
alidade está mais ligada aos homens, assim 
como a expectativa de que sua bagagem de 
experiência e repertório sexual seja maior que 
o da mulher. 
Os profissionais de saúde necessitam es-
tar preparados para a atenção a esses direi-
tos fundamentais das mulheres no exercício 
amplo da sua sexualidade, contemplando as 
especificidades dos diferentes grupos e suas 
necessidades.
Figura 5 – O uso de contraceptivos é de responsabilidade 
de ambas as partes
As influências culturais e o preconcei-
to podem estar presentes durante os 
diferentes atendimentos efetuados na 
Unidade Básica de Saúde. Você con-
segue garantir os direitos sexuais e 
reprodutivos das mulheres nos seus 
atendimentos? 
1.4 As expressões da sexualidade 
 feminina 
Segundo a OMS (1975), 
a sexualidade humana é uma necessi-
dade básica e um aspecto do ser huma-
no que não pode ser separado de outros 
aspectos da vida. A sexualidade não é 
sinônimo de relação sexual e não se 
limita à presença ou não de orgasmo. 
Sexualidade é muito mais do que isso. 
É energia que motiva encontrar o amor, 
contato e intimidade, e se expressa na 
forma de sentir, nos movimentos das 
pessoas e como estas tocam e são to-
cadas. É ser-se sensual e ao mesmo 
tempo sexual; ela influencia pensamen-
tos, sentimentos, ações e interações 
e, por isso, influencia também a nossa 
saúde física e mental. 
Ao listar a sexualidade como um dos indicado-
res de saúde, a OMS contribuiu na visibilidade 
do tema. Infelizmente, por longos anos, a se-
xualidade feminina esteve associada à função 
reprodutiva. Com o surgimento da pílula anti-
concepcional na década de 1960 abriu-se a 
perspectiva para as mulheres de desvincular o 
ato sexual da função reprodutiva, inclusive uma 
possível gravidez indesejada, e, mais além, 
ao possibilitar a liberdade do ato sexual para 
obtenção de prazer. No entanto, fatores morais 
e religiosos, muito presentes em nossa cultura, 
 23  23 
UN1 Saúde sexual e saúde 
reprodutiva: um direito 
à saúde
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
limitaram e ainda limitam a exploração da 
sexualidade por parte das mulheres (ABDO, 
2001). 
Para melhor compreensão das expressões de 
sexualidade feminina, faz-se necessário o do-
mínio de alguns conceitos, tais como identi-
dade de gênero e orientação sexual. 
À sensação interna de pertencimento a um 
determinado gênero é o que chamamos de 
identidade de gênero. Está refletida no modo 
de apresentar-se e em como se quer ser re-
conhecido socialmente. Todas as vivências 
familiares, sociais, religiosas, de diferentes 
grupos por onde se circulou, experiências po-
sitivas ou negativas marcam e influenciam 
essa certeza interior de ser mulher ou homem 
(JESUS, 2012). Com base na identidade de gê-
nero podem-se classificar os indivíduos em 
dois grupos distintos. Quando existe concor-
dância entre o sexo biológico e a identidade de 
gênero, temos o indivíduo cisgênero. E quando 
não há essa concordância, temos transgênero 
(transexuais, travestis etc.) (JESUS, 2012).
Outra definição importante é da orienta-
ção sexual. Nada mais é do que a atração 
afetivo-sexual entre as pessoas. Para os he-
terossexuais a atração ocorrerá pelo gêne-
ro oposto, os homossexuais por pessoas do 
mesmo gênero e os bissexuais por ambos os 
gêneros. Cabe aqui lembrar os assexuais, que 
não têm interesse sexual por qualquer gênero 
e os pansexuais, cujo interesse afetivo sexual 
não depende do gênero (JESUS, 2012; COSTA, 
2005; SANTOS, 2010). A identidade de gênero 
e a orientação sexual são totalmente distin-
tas, porém caminham juntas no exercício da 
sexualidade.
Para o entendimento e acolhimento de inúme-
ras angústias e queixas sexuais das mulheres 
no serviço de saúde, é importante também 
conhecer o chamado ciclo de resposta sexual, 
que nos mostra as fases que as mulheres 
vivem durante um encontro sexual.
Para ilustrar essas fases, os estudos observa-
cionais de Masters e Johnson sobre as reações 
do corpo durante o ato sexual os levaram a pro-
por em 1970 um modelo de resposta sexual de 
quatro fases composto por EXCITAÇÃO – PLA-
TÔ – ORGASMO – RESOLUÇÃO, baseado em 
respostas fisiológicas distintas em cada uma 
dessas fases (ABDO, 2001). Mais tarde, Kaplan 
surge com a proposta de acrescentar a fase de 
desejo no início do modelo inicial, publicada em 
1987 pela Associação Psiquiátrica Americana 
(APA) no terceiro Manual Diagnóstico e Estatís-
tico, revisado (DSM-III-R) (ABDO, 2001). 
O ciclo linear de resposta sexual modifica-
do (DESEJO – EXCITAÇÃO – ORGASMO – 
RESOLUÇÃO) durante longo período era utili-
zado como padrão para a avaliação de pos-
síveis disfunções sexuais tanto em homens 
como mulheres. Somente em 1998 surgiria 
a publicação de um modelo mais dirigido às 
mulheres, proposto por Rosemary Basson, 
psiquiatra canadense.
Em seus estudos sobre sexualidade feminina, 
Basson observou que a maioria das mulheres 
não seria funcional, conforme o modelo linear 
até então vigente, e que apesar disso as mes-
mas sentiam-se extremamente satisfeitas 
sexualmente. Com base nessas observações, 
propôs o modelo circular de respostasexual.
Conforme este ciclo, o intercurso sexual 
não iniciaria necessariamente pelo desejo 
(mais presente nos relacionamentos recen-
tes). Para inúmeras mulheres, a excitação 
 24  24 
UN1 Saúde sexual e saúde 
reprodutiva: um direito 
à saúde
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
subjetiva (sensação de sentir-se excita-
da) ocorreria antes de desejar o ato sexual 
conscientemente. A excitação pode ser de-
sencadeada por uma série de motivações 
(geralmente de cunho emocional), fazendo o 
desejo surgir e exercer um reforço positivo 
para mais excitação. O orgasmo não é uma 
fase obrigatória em todas as relações sexu-
ais, conforme Basson. Um encontro sexual 
que reafirme a intimidade entre as parcerias 
e a ausência de dor poderia ser o desfecho 
positivo e suficiente para deixar a mulher 
disposta a um novo ato sexual (BASSON, 
2008). 
Importante! Nos últimos anos, o estudo 
da sexualidade feminina ganhou força. 
O novo modelo de resposta sexual che-
gou para mostrar que existem diferen-
ças importantes no modo como homens 
e mulheres agem e reagem durante um 
encontro sexual. Estar atualizado com 
essas informações é fundamental para 
bem orientarmos as pacientes e evitar-
mos inclusive a iatrogenia.
Intimidade
emocional
Desejo sexual
“espontâneo”
Neutralidade
sexual
Estímulo
sexual
Excitação
sexual
Desejo e
excitação sexual
Satisfação
emocional e física
Modelo circular de resposta sexual
Adaptado de: BASSON, 2008.
Fonte: BASSON (2008).
Como profissionais de saúde, precisamos ter 
claro que ainda há muito a ser desvendado no 
campo da sexualidade feminina, e novos avan-
ços surgem a cada momento, a fim de atender 
às demandas cada vez maiores para os ques-
tionamentos das mulheres da atualidade. 
Continue seus estudos com a próxima uni-
dade e reconheça algumas estratégias para 
ampliar o acesso ao planejamento reproduti-
vo, da sexualidade e da reprodução humana, 
além das descobertas mais recentes sobre as 
Infecções Sexualmente Transmissíveis. 
Para aprofundar seus conhecimentos 
no contexto dos marcos teóricos e direi-
tos sexuais e reprodutivos, indicamos:
CORRÊA, S.; ALVES, J. E. D.; JANNUZZI, 
P. M. Direitos e Saúde Sexual e Saúde 
Reprodutiva: marco teórico-conceitual 
e sistema de indicadores”. Disponível 
em: <http://www.abep.nepo.unicamp.
br/docs/outraspub/ind_mun_saude_
sex_rep/ind_mun_saude_sex_rep_capi-
tulo1_p27a62.pdf>. 
Caso tenha interesse em ler um pouco 
mais sobre a existência de um modelo 
estereotipado de gênero que acarreta 
a (re)produção de desigualdades entre 
homens e mulheres na assistência a 
saúde, leia:
MACHIN, R. Concepções de gênero, 
masculinidade e cuidados em saúde: 
estudo com profissionais de saúde 
da atenção primária. Disponível em: 
<http://www.repositorio.unifesp.br/
handle/11600/6684>.
 25  25 
 26 
UN2
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
no contexto das especificidades e 
vulnerabilidades
 27 
 28  28 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
Esta unidade relembra especificidades e vul-
nerabilidades relacionadas à Saúde Sexual e 
Saúde Reprodutiva (SSSR) das mulheres e al-
gumas estratégias para ampliar o acesso ao 
planejamento reprodutivo como um exercício 
individual, livre e responsável, da sexualida-
de e da reprodução humana. Inclui evidências 
científicas mais recentes sobre as Infecções 
Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e sobre o 
planejamento reprodutivo. 
2.1 Ciclos de vida e vulnerabilidades
Convidamos você a reconhecer algumas es-
pecificidades e vulnerabilidades na Saúde Se-
xual e Saúde Reprodutiva nos diferentes ciclos 
de vida das mulheres e em grupos específi-
cos, incluindo estratégias para a atenção no 
contexto da Atenção Básica.
Adolescência
Período de vida compreendido entre os 10 
e 19 anos, em que grandes mudanças físi-
cas, psicológicas e sociais ocorrem. Lidar 
com um novo corpo, e que já apresenta ca-
pacidade reprodutiva está longe de ser uma 
tarefa fácil (BRASIL, 2011). Nessa fase de 
vida a urgência em viver diferentes experiên-
cias, pertencer a um grupo ao mesmo tempo 
em que os riscos parecem não existir, mar-
cam a adolescência. A gravidez nesse mo-
mento provoca profundas alterações do pla-
nejamento do futuro, pois aumenta a chance 
da evasão escolar, entrada precoce no mer-
cado de trabalho sem qualificação adequada 
e a assumir responsabilidades para as quais 
não se está preparado (BRASIL, 2013). 
Figura 6 – A adolescência: lidar com um novo corpo
Precisamos de um serviço de saúde que aco-
lha adolescentes e possa orientar quanto ao 
exercício da sexualidade com cuidados de pre-
venção de doenças e gravidez indesejada e não 
 29  29 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
planejada, dar acesso aos métodos anticon-
cepcionais e estimular o respeito nas relações 
afetivas, repudiando a violência. Vale lembrar 
que ações voltadas para esse público podem 
ser mais efetivas quando aplicadas nos locais 
mais frequentados por eles (escolas, por exem-
plo) do que aguardar pela demanda espontâ-
nea (BRASIL, 2013).
Climatério e Menopausa
Fase da vida das mulheres caracterizada pelo 
progressivo declínio até a ausência da capa-
cidade reprodutiva (BRASIL, 2013). Em asso-
ciação, mudanças físicas, emocionais, sociais 
e familiares podem gerar inseguranças e an-
gústias às mulheres. Os avanços da medicina 
e os cuidados de prevenção contribuíram para 
um aumento significativo e progressivo dessa 
população de mulheres com mais idade.
O preconceito envolvendo a sexualidade após 
uma determinada idade pode causar sérios 
danos a esse grupo. A vida sexual pode sofrer 
algumas modificações, como a diminuição da 
frequência e intensidade. Porém, sem dúvida 
pode e deve ser ativa (BRASIL, 2013). 
Figura 7 – A menopausa é um período que merece espe-
cial atenção no atendimento
O atendimento a ser realizado pela Aten-
ção Básica (AB) deve abordar a vivência da 
sexualidade de maneira saudável, acolher 
possíveis queixas e dar os devidos encami-
nhamentos quando necessário, bem como 
a prevenção para Infecções Sexualmente 
Transmissíveis (IST).
População negra
Os sistemas de informação ainda pecam 
em não proporcionar dados mais fidedignos 
sobre a população negra. Observa-se, em 
dados gerais, um menor grau de instrução, 
poder aquisitivo e acesso a serviços de boa 
qualidade (BRASIL, 2011). Em comparação 
com a população branca, alguns agravos em 
saúde aparecem em maior proporção, como 
mortalidade materna e infantil e violência 
(BRASIL, 2011; BRASIL, 2010a).
O racismo, que insiste em persistir nos dias 
atuais em nossa sociedade, é um fator que 
causa danos à saúde. O racismo institucional 
deve ser combatido energicamente, pois traz 
grandes prejuízos a essa população ao lhe difi-
cultar acesso a serviços, atendimentos e medi-
camentos (BRASIL, 2011). 
Serviços de saúde atentos às necessidades da 
população negra, proporcionando atenção de 
qualidade, sem dúvida contribuirão na geração 
de números mais positivos nas estatísticas 
específicas.
 30  30 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
População de mulheres lésbicas, 
bissexuais e transexuais
A visibilidade social do grupo de mulheres lés-
bicas, bissexuais e transexuais cresceu tão ex-
pressivamente que fomentou a criação de uma 
política própria: Política Nacional de Saúde In-
tegral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis 
e Transexuais. O uso do nome social nos ser-
viços de saúde foi uma importante conquista 
para esta população (BRASIL, 2011). 
A diversidade quanto à orientação sexual e 
identidade de gênero não devem dificultar 
ou impossibilitaro acesso aos serviços de 
saúde. Infelizmente, o preconceito e a discri-
minação, também presentes nas instituições 
de saúde, afastam as usuárias desse grupo. 
O preconceito e violência, muitas vezes vi-
venciados primeiramente no âmbito fami-
liar, provocam abandono do lar, êxodo esco-
lar, entrada precoce no mercado de trabalho 
(em muitos casos por baixa escolaridade e 
pelo próprio preconceito acabam por encon-
trar na prostituição um meio de sustento) 
e maior chance de depressão, suicídio e uso 
de drogas (BRASIL, 2013).
No tocante ao atendimento às mulheres 
lébiscas e bissexuais, a generalização da 
orientação sexual como heterossexual por 
parte de alguns profissionais de saúde pode 
afastar e inibir este público da procura por 
atendimento em saúde. Outro aspecto a 
Figura 8 – A Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais é um dos fortes indícios do crescimento deste grupo, com demandas em saúde 
específicas
 31  31 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
considerar é o imaginário comum de que 
essa população específica estaria menos 
susceptível a adquirir ISTs. 
Trata-se de garantir o acesso a consultas gine-
cológicas regulares para prevenção de câncer 
de colo uterino e mama, dar orientações sobre 
as práticas sexuais seguras em relações ho-
moafetivas (higiene das mãos e unhas, sempre 
cortadas e limpas; uso de luvas em penetração 
manual; sexo oral com proteção; preservativo 
em acessórios sexuais, e não compartilhar o 
acessório com o mesmo preservativo; risco da 
relação sexual durante o período menstrual). 
Ainda para este público, não se deve medir es-
forços para evitar ISTs e ainda acolher, se for 
a demanda, por acesso a serviços especializa-
dos em reprodução assistida (BRASIL, 2013; 
BRASIL, 2014; SANTOS, 2010).
 
A capacitação dos profissionais de saúde sobre 
a temática da diversidade sexual e dos direitos 
sexuais deve ser constante. O envolvimento dos 
movimentos LGBTs com os serviços de saúde 
pode facilitar a adesão e aproximação dessa 
população às unidades de Atenção Básica, quer 
seja para trabalhar sob o foco da prevenção, 
como garantir o acesso por outras demandas. 
Para essa população, demonstradamente com 
maior vulnerabilidade e menor acesso aos servi-
ços de saúde, deve-se organizar e implementar 
um conjunto de ações de promoção da saúde 
e prevenção que vão além da oferta de preser-
vativos. É preciso abordar por exemplo, acesso 
facilitado para testar ISTs e HIV, acolhimento e 
atendimento livre de discriminação nas unida-
des de Atenção Básica e centros de testagens, 
bem como promover a humanização da assis-
tência à saúde dessas usuárias.
População indígena
Adequar os princípios da Saúde Sexual e Saú-
de Reprodutiva (SSSR) com as diferentes cul-
turas da população indígena constitui-se em 
um enorme desafio.
No contexto da Atenção Básica, a saúde indíge-
na está vinculada à Secretaria Especial de Saúde 
Indígena (SESAI). Entre as suas atribuições está 
desenvolver ações de atenção integral à saúde 
indígena e educação em saúde, em consonân-
cia com as políticas e os programas do SUS, e 
observando as práticas de saúde tradicionais 
indígenas. Para executar essas ações, conta 
com estrutura administrativa dos 34 Distritos 
Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), tendo 
como base a ocupação geográfica das comuni-
dades indígenas que abrangem mais de um mu-
nicípio, e, em alguns casos, mais de um estado. 
Além dos DSEIs, há, ainda, os Polos Base, Casas 
de Saúde Indígena (Casais) e Unidades Básicas 
de saúde. 
Diversidade
cultural
Idioma
Localização
das aldeias
Iniciação sexual
e gravidez precoce 
Intervalo curtos
entre as gestações
Dificuldades no
atendimento às
mulheres indígenas
Importante! No seu município há popula-
ção indígena? Se sim, procure conhecer 
a equipe que atua com esta população 
integrando as ações desenvolvidas, 
quais as estratégias para trabalhar com 
as mulheres, trocando experiências. 
Você poderá conhecer as práticas de 
saúde tradicionais voltadas para as 
mulheres que são diferentes nos muitos 
povos indígenas do país.
 32  32 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
Para compreender melhor o Subsistema da Atenção Indígena acompanhe a imagem abaixo:
Figura 9 – Entenda o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena 
Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS)
Fonte: SESAI (2012)
Ministério da Saúde: é o órgão do Poder Executivo Federal responsá-
vel pela organização e elaboração de planos e políticas voltados para 
a promoção, prevenção e assistência à saúde dos brasileiros.
SESAI: área do Ministério da Saúde criada para coordenar e executar 
o processo de gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena em 
todo território nacional.
DSEI: Distrito Sanitário especial Indígena é a unidade gestora descen-
tralizada do subsistema e responde pela execução das ações básicas 
de saúde em área indígena. No Brasil são 34 DSEIs.
Polo base: os 349 Polos Base existentes em todo pais, juntamente 
com os 966 postos de saúde, são as bases da atuação das equipes 
de saúde. Os Polos Base são classificados em Tipo I (localizados em 
terras indígenas) e Tipo II (localizado no município de referência).
EMSI: As Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena são compostas 
por médicos, enfermeiros, odontólogos e auxiliares, além dos Agentes 
Indígenas de Saúde (AIS) e os Agentes Indígenas de Saneamento (AI-
SAN). Os agentes moram em aldeias e são indicados pelos Conselhos 
Locais de Saúde Indígena. Em 2011 houve um redimensionamento do 
quadro de pessoal das equipes no país. O total de trabalhadores sal-
tou de 8.975 para 12.248 contratados, o que representa um aumento 
de 43% no número de profissionais contratados.
CASAI: No Brasil são 75 Casas de Saúde Indígena. A CASAI garante 
alojamento, alimentação e atendimento de enfermagem aos pacien-
tes e acompanhantes, respeitando as especificidades culturas. Além 
disso, presta assistência farmacêutica e apoia o DSEI na articulação 
da rede de referência de Média e Alta Complexidade.
 33  33 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
População de trabalhadoras do sexo
A relação profissional e comercial, em que 
práticas sexuais são negociadas por dinheiro 
ou outros benefícios, é exercida principalmen-
te por mulheres. Ao longo do tempo observou-
-se a organização da população de mulheres 
trabalhadoras do sexo em busca da garantia 
de direitos básicos e reconhecimento da ativi-
dade como profissão. A baixa escolaridade, a 
necessidade financeira e a dificuldade de per-
suasão no uso de preservativo pela clientela 
as tornam mais expostas às doenças trans-
mitidas por via sexual. Estão ainda mais ex-
postas à violência e abuso de drogas (BRASIL, 
2013; FIGUEIREDO, 2010).
Os profissionais da Atenção Básica devem es-
tar preparados para acolher as trabalhadoras 
do sexo sem discriminação, disponibilizando 
todos os serviços que sejam de necessidade 
da usuária profissional do sexo. Ações edu-
cativas voltadas para informação sobre ISTs 
e meios de prevenção (uso correto e acesso 
facilitado aos preservativos), riscos do uso de 
drogas e dar acesso à redução de dano podem 
ser ofertados e facilitados para esse grupo 
específico.
Trabalhadoras do campo, da floresta 
e das águas 
As mulheres do campo, da floresta e das 
águas fazem parte de uma população bastan-
te heterogênea, constituída por trabalhado-
ras assalariadas e temporárias, agricultoras 
familiares, camponesas, trabalhadoras rurais 
assentadas ou acampadas, comunidades tra-
dicionais (ribeirinhas, quilombolas), pescado-
ras artesanais e marisqueiras, que habitam 
e utilizamreservas extrativistas em áreas de 
florestas ou aquáticas e atingidas por barra-
gens (BRASIL, 2013; BRASIL, 2015).
Figura 10 – As mulheres extrativistas possuem especifici-
dades em saúde que devem ser observadas
Este grupo populacional é afetado diretamen-
te pela dificuldade de acesso aos serviços de 
saúde e por problemas de saúde ou acidentes 
decorrentes do trabalho que exercem (exposi-
ção aos agrotóxicos, exposição solar e outras 
intempéries, violência) (BRASIL, 2015). 
O uso de saberes populares nos cuidados 
em saúde também está presente nesses gru-
pos por questões culturais e pela dificuldade 
de acesso aos serviços de saúde (BRASIL, 
2015). A desigualdade nas relações de gê-
nero também está presente na vida familiar 
(violência doméstica), ao dificultar acesso a 
direitos como educação e na diferenciação de 
trabalho (BRASIL, 2015).
Para uma atenção em SSSR adequada às 
necessidades desta população, são ne-
cessárias estratégias para alcançar os 
mais distantes grupos, ter conhecimen-
to das condições de vida local e promover 
ações preventivas (coletas de preventivo 
e exame de mamas, ISTs) e assistenciais 
frequentes na própria comunidade, faci-
litando o acesso e acolhendo a deman-
da específica do maior número de usuárias 
possível. 
 34  34 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
Mulheres vivendo com HIV e AIDS
É cada vez mais significativo o número de 
mulheres adultas e jovens portadoras do 
HIV. Muitas destas jovens adquiriram o ví-
rus por transmissão vertical, e muitas ou-
tras pelo sexo sem uso de preservativo, mas 
por meio de acompanhamento e suporte 
de medicamentos adequado podem ter um 
planejamento de vida. É necessário acolher 
no serviço de saúde a mulher portadora do 
vírus, pois o medo e a discriminação, faz 
com que, uma pessoa se afaste de outras, 
inclusive daquelas com contato mais íntimo 
(BRASIL, 2008).
Para essas pessoas existe a possibilidade de 
vida sexual saudável e segura (incluindo aqui 
as parcerias sorodiscordantes), bem como a 
possibilidade de planejamento de gestações 
(BRASIL, 2008). 
Para as mulheres que não desejam engravidar 
há a necessidade de reforçar a importância da 
dupla proteção (uso de preservativo além do 
uso de outro método anticoncepcional) para si 
(prevenção de ISTs) e para a parceria (trans-
missão do HIV) (BRASIL, 2008).
É importante que você e sua equipe pesqui-
sem e conversem sobre o assunto, e este-
jam capacitados para fornecer informações 
e dispor de um atendimento de qualidade, por 
uso adequado de todos os protocolos na as-
sistência das mulheres e jovens vivendo com 
HIV e AIDS, inclusive nos cuidados durante o 
pré-natal, parto e puerpério. 
Figura 11 – Pessoas vivendo com HIV podem ter uma vida 
saudável
A seguir, dentro do contexto da Saúde Sexual e 
Saúde Reprodutiva destacamos as infecções 
sexualmente transmissíveis. Abordaremos as 
evidências científicas atuais para atenção a 
estas doenças, com enfoque voltado para as 
mulheres. 
2.2 Infecções Sexualmente 
 Transmissíveis (ISTs) 
Conforme a OMS (2013), mais de um milhão 
de pessoas adquirem uma IST diariamente no 
mundo (BRASIL, 2015). Em função das graves 
complicações em mulheres, RNs e por ser fa-
tor de risco na transmissão do HIV, há um em-
penho mundial no combate a essas doenças. 
Na Atenção Básica deve-se promover o aco-
lhimento com privacidade dos casos de pos-
sível ISTs, sem julgamento morais,, a fim de 
facilitar o diagnóstico (inclusive de possível 
ISTs associadas), tratamento e prevenção. 
Atentar para o fato de que alguns grupos po-
pulacionais necessitam de atenção e abor-
dagem específica, entre eles as profissionais 
do sexo, as mulheres em situação de rua e as 
usuárias de drogas, além das mulheres trans 
que apresentam maior prevalência de IST. E 
nos casos sintomáticos, deve-se priorizar o 
atendimento buscando o vínculo com a usu-
ária e a segurança da mesma, de modo que o 
tratamento seja iniciado imediatamente.
 35  35 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
As ISTs apresentam diversidade na etiologia 
e quadro clínico. Podem manifestar-se com 
corrimento vaginal e úlceras ou até não apre-
sentar sintomas. As gestantes devem receber 
especial atenção para prevenir a transmissão 
vertical de sífilis, hepatites e HIV. A principal 
forma de transmissão é a sexual, porém, não 
se pode deixar de citar a contaminação san-
guínea e a vertical (mãe-filho).
Também é comum apresentarem-se em asso-
ciação com outra IST. Sendo que os fatores so-
cioeconômicos, comportamentais, questões de 
gênero, culturais e a dificuldade de acesso aos 
serviços de saúde influenciam desde o surgi-
mento até a manutenção das ISTs. 
A principal forma de prevenção é o uso cor-
reto e regular de método de barreira (preser-
vativo masculino ou feminino) na relação se-
xual. Porém, o número de pessoas que usam 
o preservativo associado a outro método 
anticoncepcional ou isoladamente é muito 
baixo, principalmente nos relacionamentos 
considerados estáveis.
Deve-se lembrar ainda que algumas ISTs são 
de notificação compulsória: infecção pelo HIV, 
infecção pelo HIV em gestantes, parturiente ou 
puérpera e criança exposta ao risco de trans-
missão vertical do HIV, AIDS, sífilis adquirida, 
sífilis em gestantes ou congênita, hepatites B 
e C, conforme portaria nº 204, de 17 de feve-
reiro de 2016.
Acompanhe no esquemático abaixo a triagem 
para ISTs que deve ser realizado no pré-natal.
HIV
Sífilis
Hepatite B
Hepatite C
Na primeira consulta de pré-natal (ideal no primeiro e terceiro trimestre).
No momento da internação para o parto (independente de tê-lo feito no 
pré-natal) deverá ser realizada testagem por ocasião da internação para 
o parto.
Triagem para ISTs no Pré-Natal
Na primeira consulta pré-natal (ideal no primeiro e terceiro trimestre) e 
no momento da internação para o parto (independente de tê-lo feito no
pré-natal.
Na primeira consulta de pré-natal. Caso não tenha realizado pré-natal 
deverá realizar a testagem por ocasião da internação para o parto.
Testagem em gestantes de risco (infecção pelo HIV, usuárias de drogas,
transfusão ou transplantes antes de 1993, hemodiálise, profissionais de 
saúde com histórico e acidente com material biológico e alterações de 
exames da função hepática sem outras causas).
 36  36 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
Na atenção à saúde das mulheres e às IST, algumas atividades são de responsabilidade da equipe 
de Atenção Básica (BRASIL, 2015). Acompanhe:
Lembre-se que a Unidade Básica de 
Saúde precisa disponibilizar Testes Rá-
pidos para HIV, Sífilis, Hepatites B e C. 
Você pode acessar mais informações 
sobre os testes rápidos para diagnósti-
co de sífilis, HIV, Hepatites B e C aces-
sando: <http://www.aids.gov.br/pagina/
testes_rapidos>.
Para o planejamento do acompanha-
mento da mulher durante o ciclo grávi-
dico puerperal, médicos e enfermeiros 
podem consultar as recomendações 
que estão publicadas no Caderno de 
Atenção ao Pré-Natal de Baixo 
Risco, que apresenta detalhadamen-
te todas as ações. Está disponível em: 
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publi-
cacoes/cadernos_atencao_basica_32_
prenatal.pdf>.
Caso você tenha alguma dúvida com 
relação às ações que pode realizar para 
diagnóstico e tratamento das IST você 
poderá acessar o Protocolo Clínico e 
Diretrizes Terapêuticas para Atenção 
Integral às Pessoas com Infecções Se-
xualmente Transmissíveis publicado 
em 2015 pelo Ministério da Saúde que 
está disponível em: <http://www.aids.
gov.br/sites/default/files/anexos/publi-
cacao/2015/58357/pcdt_ist_01_2016_
web_pdf_99415.pdf>.
ÎÎ Garantir o acolhimento e realizar atividadesde informação e educação em saúde.
ÎÎ Realizar consulta imediata no caso de úlceras genitais, corrimentos genitais e de verrugas 
anogenitais.
ÎÎ Realizar coleta de material cérvico-vaginal para exames laboratoriais.
ÎÎ Realizar testagem rápida e/ou coleta de sangue e solicitação de exames para sífilis, HIV e 
hepatites B e C, nos casos de IST.
ÎÎ Realizar tratamento das mulheres com IST e suas parcerias sexuais.
ÎÎ Seguir o protocolo do MS para prevenção da transmissão vertical de HIV, sífilis e hepatites 
virais.
ÎÎ Notificar as IST, conforme a portaria nº 204/2017. Os demais agravos são notificados de 
acordo com recomendações dos estados/municípios, quando existentes.
ÎÎ Comunicar as parcerias sexuais do caso-índice para tratamento conforme protocolo.
ÎÎ Referir os casos de IST complicadas e/ou não resolvidas para unidades que disponham de 
especialistas e mais recursos laboratoriais.
ÎÎ Referir os casos de dor pélvica com sangramento vaginal, casos com indicação de avaliação 
cirúrgica ou quadros mais graves para unidades com ginecologista e/ou que disponham de 
atendimento cirúrgico.
Atenção à saúde das mulheres com IST 
 37  37 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
Figura 12 – Mais de um milhão de pessoas adquirem uma 
IST diariamente no mundo
 
A seguir são elencadas algumas estratégias 
para a atenção integral às mulheres com 
IST na abordagem da prevenção combina-
da. Destaca-se a prevenção individual e co-
letiva, a oferta de diagnóstico e tratamento 
para as ISTs assintomáticas e o manejo das 
IST sintomáticas com uso de fluxogramas 
(BRASIL, 2015).
Prevenção individual e coletiva
ÎÎ Informação e educação em saúde.
ÎÎ Preservativo masculino e feminino.
ÎÎ Gel lubrificante.
ÎÎ Busca adequada e acesso a serviços de saúde.
ÎÎ Prevenção da transmissão vertical do HIV, sífilis e 
hepatites virais.
ÎÎ Vacinação para HBV e HPV.
ÎÎ Profilaxia pós-exposição ao HIV, quando indicada.
ÎÎ Profilaxia pré-exposição ao HIV, quando indicada.
ÎÎ Profilaxia pós-exposição às IST em violência sexual.
ÎÎ Redução de danos.
Oferta de diagnóstico e tratamento para IST 
assintomáticas (com laboratório)
ÎÎ Triagem para sífilis, gonorreia, clamídia, hepatites vi-
rais B e C e HIV para mulheres com IST e populações-
-chave (profissionais do sexo, mulheres que usam 
drogas), quando disponível.
ÎÎ Testagem de rotina para diagnóstico de HIV, sífilis e 
hepatite B durante o pré-natal e parto, conforme re-
comenda os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêu-
ticos (PCDT4 e PCDT IST) do Ministério da Saúde para 
prevenção da transmissão vertical.
ÎÎ Tratamento das infecções identificadas.
Manejo de IST sintomáticas com uso de 
fluxogramas (com e sem laboratório)
ÎÎ Condutas baseadas em fluxogramas.
ÎÎ Queixa de síndrome específica.
ÎÎ Anamnese e exame físico.
ÎÎ Diagnóstico com e sem laboratório.
ÎÎ Tratamento etiológico ou baseado na clínica (para 
os principais agentes causadores da síndrome).
O serviço de saúde ao qual você pertence 
está atento e proporciona o diagnóstico e 
tratamento das ISTs? Tanto o diagnósti-
co quanto o tratamento ocorrem em tem-
po oportuno? Conseguem diagnosticar e 
tratar as parcerias sexuais?
2.2.1 Algumas abordagem das ISTs 
 assintomáticas
Doenças como sífilis latente, cervicites por 
gonorreia e clamídia, hepatites B e C e HIV são 
mais frequentemente assintomáticas, e com-
plicações como infertilidade, AIDS, sífilis con-
gênita e cirrose hepática podem ocorrer caso 
o diagnóstico demore a ser realizado. 
As assintomáticas ocorrem com mais frequên-
cia no caso de mulheres, nas jovens, nas mulhe-
res trans e nas profissionais do sexo, grupos que 
muitas vezes têm mais dificuldade em acessar 
os serviços de saúde. Essas populações, assim 
como as usuárias de drogas e gestantes, devem 
ser priorizadas para a realização de exames 
diagnósticos.
 38  38 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
Acompanhe no próximo esquemático, algumas doenças assintomáticas com possíveis manifestações clínicas e tratamento.
Doença Manifestação clínica Tratamento
Gonorréia
Cervicite (geralmente assintomática). 
Quando apresenta sintomas: dispareunia, disúria, sangramento intermenstrual.
As principais complicações são: dor pélvica, Doença Inflamatória Pélvica (DIP), 
gravidez ectópica e infertilidade.
Ciprofloxacin 500 mg, 1 cp, VO, dose única associado a azitromicina 
500 mg, 2 cps, vo dose única ou ceftriaxona 500 mg, IM, dose única 
ou (outra cefalosporina de 3a geração) associado a azitromicina 500 
mg, 2 cps, VO, Dose Unica. 
Importante: Está contraindicado o uso da ciprofloxacina em meno-
res de 18 anos e gestantes. Também está contraindicado o seu uso 
nos estados de MG, RJ, SP onde observou-se cepas resistentes. 
Há indicação ainda de Ceftriaxona como medicação de escolha 
nas infecção por gonoco devido a alta resistência à classe das 
quinolonas.
Clamídia
Cervicite (geralmente assintomática). 
Quando apresenta sintomas: dispareunia, disúria, sangramento intermenstrual.
As principais complicações são: dor pélvica, Doença Inflamatória Pélvica (DIP), 
gravidez ectópica e infertilidade.
Azitromicina 500 mg, 2 cps, VO, dose única ou doxiciclina 100 mg, 
VO, 2x/d por 7 dias (contraindicado na gestante) ou amoxicilina 500 
mg, VO, 3x/d por 7 dias.
Hepatite B Hepatite B aguda e a crônica são oligossintomáticas. Cerca de 30% dos adultos tem a forma ictérica na hepatite B aguda.
Para abordagem de tratamento e profilaxia de hepatite B em gestan-
tes, consultar o PCDT de Prevenção de Transmissão Vertical, dispo-
nível em: <www.aids.gov.br/pcdt>.
Hepatite C
A hepatite viral C aguda apresenta evolução subclínica: cerca de 80% dos ca-
sos têm apresentação assintomática e anictérica, o que dificulta o diagnóstico. 
A minoria dos pacientes eventualmente apresenta icterícia. 
Acessar o Protocolo Clínico e diretrizes Terapêuticas para Hepatite C 
e Co-infecções, disponível em: <www.aids.gov.br/pcdt>.
HIV
Primeira fase (infecção aguda): sintomas e sinais inespecíficos da primeira a terceira 
semana da contaminação a chamada Síndrome Retroviral Aguda – SRA, que cursa 
com febre, mialgia, adenopatia, faringite, exantema e cefaléia. A soroconversão (surgi-
mento de anticorpos anti-HIV) geralmente ocorre após a quarta semana da infecção. 
Segunda fase: assintomática, que podem durar muitos anos, dependendo da car-
ga viral e imunidade da pessoa infectada. O surgimento das doenças oportunistas 
e neoplasias define a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Dentre as in-
fecções oportunistas destacam-se: tuberculose pulmonar atípica ou disseminada, 
pneumocistose, neurotoxoplasmose, meningite criptocócica e retinite por citome-
galovírus. As neoplasias que mais ocorrem são: linfoma não Hodgkin, sarcoma de 
Kaposi e câncer de colo uterino em mulheres jovens.
Acesse: Protocolo Clínico e Diretrizes para manejo da infecção pelo 
HIV em Adultos. Disponível em <http://www.aids.gov.br/pcdt>.
Fonte: Brasil (2015).
 39  39 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
Em gestantes com diagnóstico de gonorreia 
há maior risco de: parto prematuro, ruptu-
ra prematura de membrana amniótica, óbito 
fetal, restrição de crescimento intrauterino e 
febre puerperal. No recém-nascido (RN) pode 
acarretar conjuntivite, artrite, sepses, abces-
so em couro cabeludo, pneumonia, meningite, 
endocardite e estomatite.
A infecção por clamídia na gestante pode-
rá desencadear trabalho de parto prematuro, 
ruptura prematura de membrana amniótica e 
endometrite puerperal. No RN pode ser res-
ponsável por pneumonia e conjuntivite.
Figura 13 – As ISTs são especialmente perigosas quan-
do afetam mulheres grávidas
Em relaçãoà hepatite B, nos RNs de mães 
HBsAg reagente deve-se administrar imuno-
globulina específica para o vírus da hepatite 
B (HBIg) e a vacina nas primeiras 12 horas de 
vida. A vacina da Hepatite B entrou para a lista 
do calendário básico de vacinação desde 1998 
para menores de um ano e ampliou para me-
nores de 20 anos desde 2001. Recomenda-se 
a vacina para todas as gestantes HBsAg não 
reagentes em qualquer trimestre da gestação.
Está indicada a investigação de hepatite C em 
gestantes, pessoas que receberam transfusão 
de sangue ou hemoderivados ou transplanta-
dos antes de 1993, nascidos antes de 1975, 
usuárias de drogas, mulheres tatuadas ou com 
piercing, mulheres em hemodiálise ou com 
doença hepática, procedimentos com possí-
vel contaminação com sangue (odontológico, 
manicure e pedicure) que não respeitam aos 
cuidados de biossegurança necessários, além 
das que se expõe ao sexo desprotegido.
Em gestantes, o acompanhamento da carga 
viral de HIV é muito importante, pois mostra 
o risco da transmissão vertical ocorrer. Por 
isto está indicada a terapia antirretroviral em 
todas as gestantes infectadas pelo HIV, bem 
como, a manutenção por toda a vida da mulher, 
e não apenas no parto e puerpério. O Brasil 
adota a estratégia de tratamento para todos, 
independentemente da situação clínica da 
pessoa. Sabe-se que o risco de transmissão 
é muito baixo (cerca de 1%) nos casos em que 
a carga viral inferior a 1.000 cópias/mL em 
gestante em uso de antirretrovirais e muito 
mais baixo nos casos onde a carga viral seja 
indetectável. As gestantes deverão realizar a 
contagem de carga viral em três momentos: 
na primeira consulta de pré-natal, entre 2 a 4 
semanas após a introdução ou a troca do es-
quema com os antirretrovirais e em torno das 
34 semanas de gestação para determinar 
a via de parto. Todas as gestantes em iní-
cio de terapia antiretroviral têm indicação de 
realização de genotipagem pré-tratamento.
Para mais informações sobre gestantes 
vivendo com HIV/AIDS acesse: Protoco-
lo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para 
prevenção de Transmissão Vertical de 
HIV, Sífilis e Hepatites virais 2015. Dis-
ponível em <www.aids.gov.br/pcdt>.
A infecção aguda apresenta aumento das ami-
notransferases, anti-HBc IgM (mais precoce, 
 40  40 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
marcador do início da infecção) e IgG (mais 
tardio e permanece reagente ao longo da 
vida). O diagnóstico da infectividade da do-
ença é realizado pela análise do HBeAg. O 
surgimento de anticorpos específicos para 
HBeAg e para o HBsAg indicam resolução fa-
vorável da infecção.
Importante! Os testes rápidos (TR) 
constituem imunoensaios cromatográ-
ficos de execução simples, que podem 
ser realizados em até 30 minutos e não 
necessitam de estrutura laboratorial. 
Contudo, dependendo da amostra tra-
balhada, podem ser necessários cuida-
dos de biossegurança. Os TR são funda-
mentais para a ampliação do acesso ao 
diagnóstico e aumentam a resolutivida-
de do sistema. Além disso, permitem a 
imediata intervenção nos casos que re-
querem tratamento. Se você ainda não 
está capacitado para realizar os testes 
rápidos, acesse o site <www.telelab.
aids.gov.br>.
As informações que você acompanhará no 
quadro 1 podem ajudar você e sua equipe na 
interpretação de ISTs assintomáticas. 
Quadro 1 – Interpretação dos resultados sorológicos (Ag-Ab) para hepatite B
Testes 
sorológicos Resultados Interpretação
HBsAg 
Anti-HBc total 
Anti-HBs
Não Reagente 
Não Reagente 
Não Reagente
Ausência de contato prévio com o HBV.
Susceptível a infecção pelo HBV.
HBsAg 
Anti-HBc total 
Anti-HBs
Não Reagente 
Reagente 
Reagente
Imune após infecção pelo HBV
HBsAg 
Anti-HBc total 
Anti-HBs
Não Reagente 
Não Reagente 
Reagente
Imune após vacinação contra o HBV.
HBsAg 
Anti-HBc total 
Anti-HBs
Reagente
Reagente
Não Reagente
Infecção pelo HBV
Fonte: Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais/SVS/MS (2016). 
Para interpretação dos resultados sorológi-
cos (Ag-Ab) para hepatite B, você e sua equipe 
podem se basear neste quadro. Não esqueça 
que o diálogo e a investigação com a usuá-
ria são essenciais para um diagnóstico com 
respeito e garantia do direito ao tratamento. 
Vamos em frente!
2.2.2 ISTs sintomáticas
Para facilitar a abordagem das IST sintomá-
ticas, dividem-se as infecções por quadros 
sindrômicos para as mulheres: corrimento va-
ginal, corrimento uretral, úlcera anogenital e 
verruga anogenital. 
 41  41 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
Acompanhe o quadro abaixo, que expõe mais detalhes sobre cada uma das ISTs sintomáticas.
Quadro 2 – Detalhes das ISTs sintomáticas
Síndrome Doenças Agente etiológico Diagnóstico Sinais/Manifestações clínicas Tratamento
Corrimento 
vaginal
Tricomoníase T. vaginalis Presença de proto-
zoários móveis em 
amostra de ectocér-
vice (Gram, a fresco).
Abundante corrimento amarelado ou esverdeado 
e bolhoso, prurido vulvar e hiperemia da mucosa. 
Pode ainda apresentar queixas urinárias.
Metronidazol 400 mg, 5 cps, VO,DU(-
total de 2g) OU metronidazol 250 mg, 
2x/d, VO, por 7 dias. Em gestantes de 
primeiro trimestre optar por Clinda-
micina 300 mg, VO, 2x/d por 7 dias.
Úlceras 
genitais
Herpes genital O HSV 2 é o 
agente mais 
relacionado às 
lesões genitais 
mas pode ser 
causado tam-
bém pelo HSV 1 
(mais associado 
às lesões perio-
riais) em menor 
proporção. 
Isolamento do vírus 
em cultura de tecido 
do material coletado 
das vesículas (mais 
rico em vírus), es-
fregaço corados por 
Giemsa ou método 
Papanicolau, PCR e 
imunofluorescência 
(estes dois últimos 
com alta especifici- 
dade).
Primoinfecção: Sintomatologia mais exuberan-
te com lesões eritemato-papulosas que evoluem 
para vesículas dolorosas e múltiplas. Período de 
incubação de 6 dias. Geralmente acompanha o 
quadro: febre, mal-estar, mialgia e disúria. Em 
50% dos casos há linfadenomegalia inguinal bi-
lateral. Nas mulheres pode afetar o colo vindo a 
apresentar corrimento vaginal. Pode durar de 2 a 
3 semanas. O vírus costuma alojar-se nos nervos 
periféricos sensoriais após a cura. 
Quadros de recorrência: Costumam ser mais 
leves associado a pródromos (prurido,ardência,-
mialgia,fisgadas). São desencadeados por fatores 
que provocam diminuição da imunidade (estres-
se, infecções e uso prolongado de antibióticos, 
por exemplo). As lesões podem ser cutâneas e /
ou mucosas. Tendem a regredir em 7 a 10 dias.
Primoinfecção: Aciclovir 200 mg, 2 
cps, VO, 3x/d, por 7 dias OU Aciclovir 
200 mg, 1 cp, VO, 5x/d por 7 dias.
Recidiva: Aciclovir 200 mg, 2 cps, 
VO, 3x/d por 5 dias OU Aciclovir 200 
mg, 1 cp, VO , 5x/d por 5 dias.
Supressão de Herpes Genital (6 ou 
mais episódios ao ano): Aciclovir, 
200mg, 2 cps,VO, 2x/d por 6 meses 
até 2a.
 42  42 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
Síndrome Doenças Agente etiológico Diagnóstico Sinais/Manifestações clínicas Tratamento
Cancróide H a e m o p h i l u s 
ducreyi
Identificação do 
agente em esfregaço 
de material obtido da 
base da úlcera ou as-
pirado do bulbão co-
rado pelo Gram.
Nas mulheres as lesões,quando ocorrem, são 
mais frequentemente na fúrcula e grandes e pe-
quenos lábios. 
São lesões múltiplas ou única, dolorosas, irre-
gulares, com contornos eritemato-edematosos e 
fundo irregular, coberto com exsudato necrótico, 
amarelado e fétido. Ao fundo presença de tecido 
de granulação com sangramento fácil.
Azitromicina 500 mg, 2 cps, VO, DU 
OU Ceftriaxona 500 mg, IM, DU OU 
Ciprofloxacina 500 mg, 1 cp, VO, 2x/d 
por 3 dias (contraindicados em ges-
tantes, lactantes e crianças). 
Linfogranuloma 
venéreo
Chamydia tra-
chomatissoroti-
pos L1, L2 e L3
Isolamento do agente 
em culturas do raspa-
do da lesão inicial ou 
aspirado do bulbão. 
O método mais preci-
so é o PCR
Manifesta-se por linfadenopatia inguinal e/ou femo-
ral. Apresenta três fases distintas:
Inoculação: Inicia por pápula, pústula ou exulcera-
ção indolor desaparecendo sem deixar sequelas. 
Na mulher localiza-se na parede vaginal posterior, 
colo uterino, fúrcula e outras regiões dos genitais. 
A adenopatia dependerá do local da inoculação. 
Como sequela ocorre supuração e fistulização por 
orifícios múltiplos. Proctite e proctocolite hemorrá-
gica podem ocorrer pelas lesões em região anal. 
Glossite ulcerativa difusa com linfadenopatia regio-
nal pode ocorrer por contato orogenital. Sintomas 
gerais: febre, mal-estar, anorexia, emagrecimento, 
artralgia, sudorese noturna e meningismo. Elefan-
tíase genital por obstrução linfática crônica. Na mu-
lher este fenômeno chama-se estiomene. Outros: 
fístulas retais, vaginais, vesicais e estenose retal. 
Doxiciclina 100 mg, 2x/d por 21 dias 
(contraindicado em gestantes) OU 
Azitromicina 500 mg, 2 cps, VO, 1 x/
sem por 3 semanas. Se sintomáticas 
tratar conforme o esquema anterior. 
Se assintomáticas: Azitromicina 500 
mg, 2 cps, VO, DU OU Doxiciclina 
100 mg, 1 cp, VO, 2x/d por 7 dias. 
 43  43 
Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
UN2
Síndrome Doenças Agente etiológico Diagnóstico Sinais/Manifestações clínicas Tratamento
Verrugas 
anogenitais
HPV Clínico na fase das 
lesões visíveis e con-
firmado por biópsia 
ou por colpocitologia 
oncótica do colo ute-
rino, citologia oncóti-
ca anal, colposcopia, 
anuscopia e histolo-
gia.
Três formas distintas: 
Latente: A infecção pelo HPV não apresenta qual-
quer manifestação. Pode nunca vir a apresentar 
lesões. O único modo de detectar o HPV é através 
de diagnóstico laboratorial (exames de bioloiga 
molecular por detecção do DNA viral)
Subclínica: Quando as lesões serão visíveis ape-
nas por meio de papanicolau, colposcopia e/ou 
histologia. Detectam-se lesões precursoras do 
câncer e colo uterino: Lesão intraepitelial de bai-
xo grau (LSIL) e Lesão intraepitelial de alto grau 
(HSIL).
Clínica: Verruga ou condiloma acuminado. São 
lesões única ou múltiplas, coloração variável e 
exofíticas. Estão associadas aos tipos não onco-
gênicos. Na mulher localizam-se na vulva, perí-
neo, perianal, vagina e colo
Ácido
Tricloroacético 80 a 90% (ATA) 1x/
sem até 8 a 10 semanas nas lesões.
Podofilina 10 a 25% 1x/sem até o de-
saparecimento das lesões. Contrain-
dicado na gestação.
Eletrocauterização: Remoção da 
lesão por meio de eletrocautério.
Crioterapia: Remoção da lesão por 
destruição térmica da lesão. 
Exérese cirúrgica: Remoção da lesão 
com uso de bisturi, tesoura ou cureta 
sob anestesia local.
Fonte: Brasil (2015).
Depois de acompanhar este quadro com as prin-
cipais IST sintomáticas, como identificá-las 
e o tratamento, gostaríamos de lembrar que 
o HPV é um DNA vírus, que apresentam mais 
de 200 sorotipos sendo 40 responsáveis por 
lesões anogenitais e pelo menos 20 sorotipos 
estão relacionados ao câncer de colo uteri-
no. Pode ser encontrado em outros locais em 
menor frequência e causar câncer também 
no ânus, vulva, vagina, orofaringe, laringe e 
boca. Os tipos de baixo risco oncogênico es-
tão presentes em lesões benignas e lesões 
intrepiteliais de baixo grau: tipos 6, 11, 40, 
42, 43, 44, 54, 61, 70, 72, 81 e CP6108. Os ti-
pos de alto grau oncogênico estão presentes 
nas lesões intraepiteliais de alto grau e nos 
carcinomas: 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 
56, 58, 59, 68, 73 e 82.
No Herpes Genital as mulheres que apresentam 
úlcera genital estão altamente susceptíveis a 
transmitir ou adquirir HIV. Em uma mesma lesão 
pode-se vir a encontrar associação de agen-
tes. Estão extremamente associadas a ISTs 
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Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
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nas mulheres sexualmente ativas (principal-
mente jovens), podendo, contudo, estar relacio-
nadas a outras causas e patologias, como cân-
cer, drogas, dermatite de contato, dentre outras. 
Nos casos de herpes genital na gestação os 
riscos são maiores na primoinfecção e quan-
do ocorrem no final da gestação. O feto corre 
mais risco quando há infecção ativa no mo-
mento do parto e se a via for vaginal. Há reco-
mendação de via alta quando há lesão ativa. 
O tratamento tem por objetivo reduzir a inten-
sidade e duração do episódio. Em gestantes 
o tratamento é o mesmo independente do 
trimestre da gestação.
Primoinfecção é a primeira infeção pro-
vocada por uma bactéria ou por um vírus, 
sem que existam necessariamente ma-
nifestações clínicas (INFOPEDIA, 2017).
Nos casos de verrugas anogenitais por HPV 
além da via sexual de transmissão temos a via 
vertical, esta responsável por papilomatose 
recorrente de laringe em crianças e RNs com 
condilomatose genital verificada por ocasião 
do nascimento. 
Importante! A cada nova parceria o ris-
co de adquirir o HPV é de 15 a 25%. E 
na maioria dos casos a infecção é tran-
sitória e auto-limitada, não causando 
danos. 
Verifica-se uma frequência maior em mu-
lheres jovens. Em torno de 20 anos é o 
tempo médio de um sorotipo de alto grau 
oncogênico de HPV desenvolver o câncer 
cervical. 
A prevenção do HPV pode ser feito através 
do uso de preservativo masculino ou o fe-
minino. Desde 2014, instituiu-se a vacina-
ção contra o HPV pelo Ministério da Saúde, 
fazendo parte do Calendário Nacional de 
Vacinação. A vacina é quadrivalente contra 
o HPV 6,11,16 e 18 sendo efetiva na pre-
venção de verrugas anogenitais como le-
sões precursoras do câncer de colo uterino, 
vulva, vagina e anal. O Ministério daSaúde 
(MS) recomenda a colpocitologia oncótica 
em todas as mulheres entre 25 a 64 anos 
de idade que tem vida sexual ativa ou já ti-
veram. As diretrizes do MS orientam dois 
exames normais num intervalo de um ano e 
depois a cada três anos. 
Para as mulheres vivendo com HIV/Aids, o re-
comendado são exames semestrais por um 
ano, que se normais passam a ser realizados 
uma vez por ano.
Devido à importância que vem ganhando nos 
últimos tempos, a seguir discutiremos de 
forma isolada, a sífilis, acompanhe. 
Sífilis
A erradicação da sífilis congênita é uma preo-
cupação mundial que conta com os esforços 
da OMS, OPAS e MS. O Comitê Regional para 
Validação da Eliminação da Transmissão Ma-
terno-Infantil de HIV e Sífilis definido pela OPAS 
em 2014 certifica os países que conseguem al-
cançar alguns números. O Brasil lançou como 
resposta a Agenda da Sífilis Congênita. Acom-
panhe no esquemático da próxima página. 
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Saúde sexual e saúde 
reprodutiva no contexto 
das especificidades e 
vulnerabilidades
Saúde sexual e saúde reprodutiva 
das mulheres
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O lançamento da Rede Cegonha foi em 2011 
pelo Governo Federal, que entre seus objetivos 
busca facilitar o diagnóstico e tratamento por 
meio de testes rápidos em gestantes, princi-
palmente o de HIV e sífilis. 
Em 2013 ocorreu um aumento das notifica-
ções dos casos de sífilis em gestantes em 
função da implantação da Rede Cegonha, que 
proporcionou acesso mais facilitado ao diag-
nóstico por meio dos testes rápidos. A taxa de 
detecção de sífilis naquele ano foi de 7,4 ca-
sos em gestantes para cada 1000 nascidos vi-
vos. O novo boletim epidemiológico referente 
a sífilis (2016), identificou que a sífilis adquiri-
da teve um aumento de 32,7%, a sífilis em ges-
tantes 20,9% e congênita, de 19%, entre 2014 
e 2015. Em 2015, a taxa de detecção foi 11,2 
casos por 1000 nascidos vivos em gestantes e 
a sífilis congênita 6,5 por 1000 nascidos vivos. 
Ressalta-se ainda que o incremento entre os 
anos de 2013 e 2014 foi de 26,77% e entre os 
anos de 2014 e 2015 foi de 20,91% no número

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