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Catalogação elaborada na Fonte. Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável: Rosiane Maria - CRB-14/1588 U588s Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Saúde Pública. Curso de Atenção Integral à Saúde das Mulheres – Modalidade a Distância. Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres [Recurso eletrônico] / Universidade Federal de Santa Catarina. Organizadores: Mariana Santos Felisbino Mendes; Cássia Elena Soares. - Florianópolis: UFSC, 2017. 82 p. : il. color. Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br Conteúdo do módulo: Unidade 1 – Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde. – Unidade 2 – Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades. – Unidade 3 – Saúde sexual e saúde reprodutiva na atenção básica. ISBN: 978-85-8267-106-1 1. Saúde sexual e reprodutiva. 2. Atenção básica. 3. Saúde das mulheres. I. UFSC. II. Mendes, Mariana Santos Felisbino. III. Soares, Cássia Elena. IV. Título. CDU: 612.6 5 GOVERNO FEDERAL Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde (SAS) Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas Coordenação-Geral de Saúde das Mulheres Universidade Federal de Santa Catarina Reitor: Luiz Carlos Cancellier de Olivo Vice-Reitora: Alacoque Lorenzini Erdmann Pró-Reitor de Pós-Graduação: Sérgio Fernando Torres de Freitas Pró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto Soares Pró-Reitor de Extensão: Rogério Cid Bastos Centro de Ciências da Saúde Diretora: Isabela de Carlos Back Vice-Diretor: Ricardo de Sousa Vieira Departamento de Saúde Pública Chefe do Departamento: Fabrício Augusto Menegon Subchefe do Departamento: Maria Cristina Marino Calvo Coordenadora do Curso de Capacitação: Elza Berger Salema Coelho Créditos 6 EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE Coordenação-Geral de Saúde das Mulheres Caroline Schweitzer de Oliveira Célia Adriana Nicolotti Maria Esther de Albuquerque Vilela Thais Fonseca Veloso De Oliveira Gestora geral do Projeto Elza Berger Salema Coelho Equipe de produção editorial Carolina Carvalho Bolsoni Deise Warmling Elza Berger Salema Coelho Larissa Pruner Marques Sabrina Blasius Faust Equipe executiva Dalvan Antonio de Campos Gisélida Vieira Patrícia Castro Sheila Rubia Lindner Tcharlies Schmitz Thiago Ângelo Gelaim Consultoria técnica Carmem Regina Delziovo Créditos 7 AUTORIA DO MÓDULO Mariana Santos Felisbino-Mendes Cássia Elena Soares Assessoria pedagógica Márcia Regina Luz Identidade visual e Projeto gráfico Pedro Paulo Delpino Diagramação Paulo Roberto da Silva Esquemáticos Laura Martins Rodrigues Naiane Cristina Salvi Ajustes e finalização Adriano Schmidt Reibnitz Design instrucional, revisão de língua portuguesa e ABNT Eduard Marquardt Fonte para imagens e esquemáticos Fotolia Créditos 8 9 Este módulo traz conteúdos importantes para a atenção às mulheres e parcerias no contexto da Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva (SSSR). Foram construídas três unidades a partir das quais você poderá reconhecer os problemas atuais nesse campo de prática e as melhores evidências e recomendações, respeitando os direitos sexuais e reprodutivos das usuárias e suas parcerias, quando presentes. Na unidade 1 são abordados os principais marcos históricos e políticos, internacionais e nacionais, que organizam a atenção à Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva. Além disso, re- lembramos os direitos sexuais e reprodutivos que devem sempre ser respeitados, norteando a prática. Na sequência, a unidade 2 aborda a construção de gênero e a sexualidade feminina, além de revisitar as Infecções Sexualmente Transmis- síveis (ISTs) e o planejamento reprodutivo, atu- alizando seus conhecimentos para aplicá-los na Atenção Básica. Para finalizar, a unidade 3 elenca estratégias de abordagem para a SSSR tendo em vista as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres A discussão deste conteúdo visa fortalecer suas habilidades e conhecimentos para resol- ver os problemas na atenção às usuárias. 10 Neste módulo o aluno deverá reconhecer a Saúde Sexual e a Saúde Reprodutiva como direito à saúde das mulheres, assim como as intercorrências mais comuns deste tema e as estratégias de abordagem na Atenção Básica. Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres Objetivos de aprendizagem para este Módulo Ao final deste módulo, você deverá ser ca- paz de reconhecer a Saúde Sexual e a Saúde Reprodutiva como direito à saúde, identificar e tratar as Infecções Sexualmente Trans- missíveis, conhecer os diferentes métodos anticoncepcionais e as estratégias de abor- dagem na Atenção Básica, tendo em vista as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Carga horária de estudo recomendada para este módulo 30 horas 11 Unidade 1 – UN1 Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde 12 1.1 Marcos internacionais e nacionais 14 1.2 Impactos nos ciclos de vida 19 1.3 Influências das construções de gênero 21 1.4 As expressões da sexualidade feminina 22 Unidade 2 – UN2 Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades 26 2.1 Ciclos de vida e vulnerabilidades 28 2.2 Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) 34 2.3 Atenção ao planejamento reprodutivo 47 Unidade 3 – UN3 Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva na Atenção Básica 59 3.1 Estratégias para garantir a atenção à Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva 62 3.2 Papel dos profissionais da Atenção Básica 64 3.3 Corresponsabilização dos homens 69 3.4 Organização do serviço de saúde em rede 70 Resumo do módulo 75 Referências 77 Sobre as autoras 81 Sumário 12 UN1 Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde 13 14 14 UN1 Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres A Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva (SSSR) é questão de preocupação global, uma vez que se trata de um tema que envolve questões de direitos humanos e saúde. Seu impacto ultra- passa o indivíduo, família e sociedade, e pode- mos afirmar, além disso, que não existe área na saúde na qual as iniquidades sejam tão marcantes (COOK; DICKENS; FATALLA, 2003). Além dos direitos sexuais e reprodutivos, as questões de gênero e a sexualidade feminina atuam como pilares desta primeira unidade, pois são fundamentos imprescindíveis que devem o tempo todo nortear a prática neste campo. Assim, o objetivo desta unidade é discutir os direitos, a SSSR, tomando por base as diretri- zes do Sistema Único de Saúde (SUS) e a Po- lítica Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM). 1.1 Marcos internacionais e nacionais Ao abordar a Saúde Sexual e Saúde Repro- dutiva (SSSR), é necessário revisitar alguns marcos legais que envolvem os direitos sexuais e reprodutivos. São documentos in- ternacionais e nacionais que contribuíram para o avanço nesta área e que norteiam as práticas voltadas para tal. No cenário internacional, em 1948, com a publicação da Declaração Universal dos Di- reitos Humanos pela Organização das Na- ções Unidas (ONU), estabeleceu-se como direitos fundamentais “o direito à vida, à ali- mentação, à saúde, à moradia, à educação, ao afeto, os direitos sexuais e os direitos re- produtivos” (ONU, 1948). Apesar do reconhecimento desses direitos como fundamentais, somente em 1994 a dis- cussão sobre os direitos sexuais e reproduti- vos, bem como ao conceito de saúde sexual e reprodutiva, foi retomada em nível internacio- nal. Neste ano, a Conferência Internacional da ONU sobre População e Desenvolvimento, que ocorreu no Cairo, Egito, constituiu-se como marco dentro do contexto da SSSR, uma vez que reafirmou e conferiu um papel primordial à saúde, aos direitos sexuais eaos direitos reprodutivos, abandonando a ênfase na ne- cessidade de limitar o crescimento populacio- nal como forma de combater a pobreza e as 15 15 UN1 Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres desigualdades, focalizando no desenvolvi- mento do ser humano (OMS, 1994; BRASIL, 2013). Fonte: elaborado pelos autores Marcos Internacionais Marcos Nacionais 1948 Declaração Universal dos Direitos Humanos 1970 Explosão demográfica 1984 Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) 1988 Constituição Federal do Brasil 1994 Conferência Internacional da ONU sobre População e Desenvolvimento (CIPD) - Cairo 2015 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 1995 IV Conferência Muncial sobre a Mulher - Pequim 1996 Lei do Planejamento Familiar 2000 Conferência do Milênio, Organização das Nações Unidas 2005 Política Nacional dos Direitos Sexuais e dos Direitos Reprodutivos MS/2005 2007 Programa “Mais Saúde: Direito de Todos” 2011 Rede Cegonha 2004 Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) Marcos Internacionais e Nacionais da Saúde sexual e saúde reprodutiva Abaixo, tem-se uma linha do tempo que ilus- tra e resume os marcos principais, continue acompanhando. No ano seguinte, 1995, ocorreu a IV Conferên- cia Mundial sobre a Mulher, em Pequim, China, na qual se avançou na definição dos direitos 16 16 UN1 Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres sexuais e direitos reprodutivos como Direitos Humanos (ONU, 1995; BRASIL, 2013). Enten- de-se que as conferências de Cairo e Beijing contribuíram para que abordagens coercitivas de controle de natalidade fossem oficialmen- te banidas, para que o planejamento repro- dutivo fosse de livre escolha dos indivíduos e casais, para que as mulheres se tornassem parceiras igualitárias em todas as decisões no âmbito da família, e, por fim, para que as mulheres formalmente tomassem posse dos seus destinos. Ambas as conferências foram fortemente influenciadas por movimentos fe- ministas da época, que lutaram e discutiram ativamente durante os eventos. No ano 2000, a Conferência do Milênio, tam- bém organizada pela ONU, foi um evento que estabeleceu uma agenda de compromisso denominada Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Essa agenda foi compos- ta por oito objetivos a serem alcançados até 2015, e dentre eles, quatro possuíam relação direta com a saúde sexual e com a saúde reprodutiva: a promoção da igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; a melhoria da saúde materna; o combate ao HIV/AIDS, malária e outras doenças, e a re- dução da mortalidade infantil (PNUD, 2004; BRASIL, 2013). Observa-se que apesar de não ter sido cumprida em sua totalidade, a agenda se constituiu como um grande estí- mulo e compromisso para todas as nações envolvidas e alguns avanços foram alcan- çados: diminuição da desnutrição infantil, redução da mortalidade de crianças meno- res de cinco anos e melhora discreta na ra- zão de mortalidade materna (VICTORA et al., 2011). Em 2015, essa agenda foi revista e atuali- zada em 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas a serem al- cançadas até 2030 (ONU, 2015). Nesta nova versão atualizada da agenda, observa-se um ODS específico no contexto da Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva: “Objetivo 5 – Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”, e, dentre as me- tas, um número maior de itens relacionados aos direitos, além da Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva. Figura 1 – As reivindicações das conferências de Cairo e Beijing: direitos das mulheres 17 17 UN1 Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres “Transformando nosso mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, leia o documento na ín- tegra em: <https://nacoesunidas.org/ wp-content/uploads/2015/10/agenda- 2030-pt-br.pdf>. Você sabe quais são os diretos sexuais e os direitos reprodutivos? Acompanhe no esque- mático abaixo: Concomitantemente a esses acontecimentos e compromissos internacionais, no cenário nacional, na década de 1970, destaca-se uma explosão demográfica com um forte conflito entre as estratégias de planejamento reprodu- tivo e o controle de natalidade, levando a uma prática descontrolada da esterilização femini- na (SOUZA et al., 2010). As políticas voltadas à mulher desde a década de 1960 possuem enfoque na assistência ao ciclo gravídico puerperal, observando-se uma incorporação da saúde da mulher às políticas nacionais de saúde com programas referentes a esta temá- tica (SOUZA et al., 2010). Importante! Em 1984 lançou-se a pri- meira política de saúde da mulher do país que buscava olhá-la como protago- nista da sua própria saúde, denominada Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) (BRASIL, 1984). Essa proposta contou com participação ativa do movimento feminista e apresentava uma abordagem global da saúde da mu- lher em todas as fases do seu ciclo vital, e não apenas no ciclo gravídico puerpe- ral (SOUZA et al., 2010; BRASIL, 2013). Mais adiante, em 1988, com a promulgação da Constituição Federal do Brasil, estabeleceu-se no Título VII da Ordem Social – Capítulo VII, arti- go 226, § 7o deste documento, a responsabilida- de do Estado no que se refere ao planejamento familiar (BRASIL, 1988). Apesar desse avanço, somente em 1996, promulgou-se a Lei no 9263 que regulamenta esse § 7o do artigo 226 da Constituição Federal, também conhecida como Lei do Planejamento Familiar, regularizando o exercício das medidas de planejamento familiar DIREITOS REPRODUTIVOS • Direito das pessoas decidirem, de forma livre e responsável, se querem ou não ter filhos, quantos filhos desejam ter e em que momento de suas vidas. • Direito de acesso a informações, meios, métodos e técnicas para ter ou não ter filhos. • Direito de exercer a sexualidade e a reprodução livre de discriminação, imposição e violência. DIREITOS SEXUAIS • Viver e expressar livremente a sexualidade e orientação sexual sem violência, discriminações e imposições, e com total respeito pelo corpo do(a) parceiro(a). • Escolher o(a) parceiro(a) sexual e se quer ou não ter relação sexual. • Viver plenamente a sexualidade sem medo, vergonha, culpa e falsas crenças, e independentemente de estado civil, idade ou condição física. • Ter relação sexual, independentemente da reprodução. • Sexo seguro para prevenção da gravidez e de infecções sexualmente transmissíveis (IST) e AIDS. • Serviços de saúde que garantam privacidade, sigilo e um atendimento de qualidade, sem discriminação, bem como à informação e à educação sexual e reprodutiva. 18 18 UN1 Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres no país, bem como estabelecendo a proibição de qualquer ação que visasse controle demográfi- co (BRASIL, 1996). Destaca-se que desrespeitar o que está previsto nessa lei significa estar su- jeito a penalidades. Em 1948 foi estabelecido como direito humano os direitos sexuais e reprodu- tivos, e na Constituição Brasileira, de 1988, o planejamento familiar. Entre- tanto, somente 12 anos depois a lei no 9263 regulamentou o planejamento fa- miliar no Brasil, proibindo ações de con- trole demográfico. Como são as ações de planejamento reprodutivo oferecidas na sua unidade? A partir do ano 2000 observou-se um esforço e investimento para promover a ampliação da oferta de métodos anticoncepcionais reversí- veis no Sistema Único de Saúde (SUS), aumen- tando o número de métodos contraceptivos disponíveis para a Atenção Básica (BRASIL, 2013). Na sequência, em 2004, lançou-se a Po- lítica Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher(PNAISM) que incorporou o enfoque de Gênero e a Promoção da Saúde à política inte- gral anteriormente proposta, ampliando a as- sistência aos grupos historicamente excluídos das políticas públicas nas suas especificidades e necessidades, dentre elas as mulheres ne- gras e indígenas (BRASIL, 2004). A PNAISM é a política, vigente nos dias atuais, que reflete o compromisso com a implemen- tação de ações de saúde que contribuam para a garantia dos direitos humanos das mulhe- res e reduzam a morbimortalidade por cau- sas preveníveis e evitáveis. Também enfatiza a melhoria da atenção obstétrica, o planeja- mento reprodutivo, a atenção ao abortamento inseguro e às mulheres e às adolescentes em situação de violência doméstica e sexual. Em 2005 foi publicada a Política Nacional dos Direitos Sexuais e dos Direitos Reprodutivos, com os seguintes propósitos: ampliar a oferta de métodos anticoncepcionais reversíveis no SUS; incentivar à implementação de ativida- des educativas em saúde sexual e saúde re- produtiva para usuários(as) da rede SUS; ca- pacitar os profissionais da Atenção Básica em saúde sexual e saúde reprodutiva; ampliar o acesso à esterilização cirúrgica voluntária (la- queadura tubária e vasectomia) no SUS; im- plantar e implementar redes integradas para atenção às mulheres e aos adolescentes em situação de violência doméstica e sexual; am- pliar os serviços de referência para a interrup- ção legal da gestação, garantia de atenção humanizada e qualificada às mulheres em situação de abortamento, entre outras ações (BRASIL, 2013). Figura 2 – A Política Nacional dos Direitos Sexuais e dos Direitos Reprodutivos, de 2005 Fonte: Universo da Mulher (2017). Em 2007, com o lançamento do Programa “Mais Saúde: Direito de Todos”, como parte do Programa de Aceleração do Crescimento, 19 19 UN1 Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres o Ministério da Saúde promoveu a expansão das ações do planejamento reprodutivo (BRA- SIL, 2013) e, em 2011, criou a estratégia Rede Cegonha. Um dos princípios que integram a Rede Cegonha é a garantia dos direitos se- xuais e dos direitos reprodutivos de mulheres, homens, jovens e adolescentes. Uma das suas diretrizes é a garantia de acesso às ações do planejamento reprodutivo (BRASIL, 2011). As- sim, a Rede Cegonha, instituída no âmbito do SUS, consiste numa rede de cuidados que visa assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como à criança o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis (BRASIL, 2011). 1.2 Impactos nos ciclos de vida Na atenção em âmbito da Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva (SSSR), observamos fre- quentemente uma prática que oferece, às mulheres, serviços e cuidados referentes à reprodução, e, aos homens, informações e cuidados para com a sexualidade (PINHEI- RO; COUTO, 2013). Com todas as transfor- mações sociais e os avanços das políticas públicas de saúde, é urgente a necessidade de mudança dessa prática marcada por mi- tos, desigualdade de gênero e cerceamento dos direitos sexuais e reprodutivos, princi- palmente das mulheres. Dentre as áreas a serem abordadas na Aten- ção Básica, a Saúde Sexual e Saúde Reprodu- tiva tem destaque, constituindo-se uma área prioritária devendo ser norteada pelos direi- tos sexuais e reprodutivos, considerando as diferentes conformações familiares, espe- cialmente para adolescentes, que muitas ve- zes estão à margem da atenção à saúde nessa questão (BRASIL, 2013). Tendo em vista o conceito ampliado de saúde como completo bem-estar físico, mental, so- cial e espiritual (WHO, 1946; WHO, 1998), en- tende-se por saúde reprodutiva a capacidade de uma pessoa em manter uma vida sexual responsável, satisfatória, segura, bem como de ter condições de reproduzir e liberdade para decidir se, como e com que frequência fazê-lo, bem como regular sua fertilidade e experienciar um parto e nascimento seguro, com desfechos positivos (WHO, 1988; OMS, 1994; BRASIL, 2013). Trata-se de um conceito relativamente recente que recebeu atenção na Conferência do Cairo, citada anteriormente. A saúde reprodutiva inclui a saúde sexual, e o conceito de saúde sexual, também tendo-se em vista o conceito ampliado de saúde, deve incluir os seguintes componentes: capacida- de de aproveitar mutuamente os relaciona- mentos sexuais, estar livre de abuso, coerção e assédio sexual, prevenir-se contra ISTs e ter sucesso em alcançar ou evitar a gravidez (COOK; DICKENS; FATALLA, 2003). Uma mulher por volta dos 50 anos de idade é geralmente negligenciada na prática clíni- ca em relação à sua Saúde Sexual e Saúde Figura 3 – A saúde sexual deve ser contemplada em todas as fases da vida ESTÁGIOS DE VIDA DA MULHER Estágios de vida da mulher 20 20 UN1 Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres Reprodutiva, pois pode estar vivendo o final da sua vida reprodutiva e por isso tem uma série de sintomas e queixas relacionadas ao clima- tério. Muitas vezes, sabe pouco sobre isto, e muito menos recebe os cuidados dos quais se beneficiaria nessa fase da vida. Isso se dá pelo enfoque reprodutivo das ações, muito comu- mente concentradas em pré-natal e puerpério. Estudo recente demonstra que são essas as mulheres que estão em atraso com as ações de rastreamento do câncer de mama e colo uterino, mulheres idosas, que têm baixa es- colaridade, que moram nas regiões mais po- bres do país, sem companheiro, desnutridas, e que possuem outros comportamentos ne- gativos em saúde (TIENSOLI et al., 2015). Figura 4 – Idosas e Adolescentes também devem receber atenção à Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva Por outro lado, as adolescentes que iniciam sua vida sexual também precisam de infor- mações relacionadas ao funcionamento do seu corpo, menstruação, desejo, relação se- xual segura, ISTs, gravidez, prevenção e méto- dos contraceptivos. Recentemente, vivencia- mos uma grande resistência à aceitação da vacinação contra o HPV em meninas de 9 a 13 anos, muitas vezes relacionadas à desin- formação do que exatamente seria a vacina, a doença e a prevenção da mesma. Esta in- formação nos remete a necessidade de abor- dagem e informação aos pais e responsáveis pelas adolescentes, pois quando melhor infor- mados, os pais não se opõem e reconhecem os benefícios na vacinação (OSIS; DUARTE; SOUSA, 2014). Estas são situações que têm sido ob- servadas na prática em Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva, mas que pode- riam ser evitadas com uma atenção pautada pelos direitos sexuais e re- produtivos, bem como pelo reconhe- cimento da educação em saúde como fundamental às práticas avançadas na Atenção Básica. Este âmbito de gran- de aproximação da população com a equipe de saúde da família, e des- ta com o território vivo, permite uma atenção à SSSR em todos os ciclos de vida, tendo a educação em saúde como forte aliada no empoderamento das mulheres em relação ao seu corpo, suas transformações, cuidado e deci- sões. Pare e reflita se esses exemplos são próximos da sua realidade. Relembramos que a atenção em Saúde Sexu- al e Saúde Reprodutiva deve ser abrangente e englobar várias ações inter-relacionadas (BRASIL, 2013), confira no quadro a seguir: 21 21 UN1 Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres Mas para atuar na ampliação da atenção a Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva é impor- tante reconhecer as questões de gênero re- lacionadas e os impactos para a saúde das mulheres, como veremos no ponto a seguir. 1.3 Influências das construções de gênero A construção do gênero leva em considera- ção papéis, atitudes e regras sociais, entre outros aspectos, para caracterizar mulheres e homens muito além do que a observaçãodomésticos e cuidados com os filhos, casa e parceria. Aos homens, o papel do provedor e chefia familiar seria mais “adequado”, dada a sua racionalidade e praticidade frente às dificuldades e problemas cotidianos. A força física, outra característica muito associada ao universo masculino, muitas vezes é em- pregada para a obtenção da obediência ou ato sexual contra a vontade da mulher e par- ceira (MACHIN et al., 2011; UFSC, 2016). Importante! A violência contra mulher nem sempre deixa marcas físicas. Con- tudo, os danos psicológicos e morais muitas vezes deixam marcas tão pro- fundas que influenciam direta ou indire- tamente a saúde de suas vítimas (BRA- SIL, 2011; GUEDES, 2009). Muitas vezes a depressão, adição ou o desinteresse sexual da mulher pode estar vinculado à situação de violência psicológica, moral e física por parte da parceria. A descoberta masculina de sua função no pro- cesso de reprodução parece surgir também como um fator que naturaliza a submissão e passividade das mulheres frente aos homens (VITIELLO, 1998; WEREBE, 1998). Ações inter-relacionadas entre Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva ÎÎ Planejamento reprodutivo ÎÎ Educação para o exercício da sexualidade ÎÎ Cuidados frente a sofrimentos psicoemocionais ÎÎ Assistência pré-concepcional, pré e pós-natal e maternidade segura ÎÎ Cuidados com o climatério ÎÎ Prevenção de agravos reprodutivos e sexuais (ISTs, câncer, abortos provocados, violência doméstica e sexual, dentre outros) ÎÎ Proteção contra efeitos nocivos do ambiente e serviços de saúde sobre a saúde reprodutiva e sexual da genitália (sexo biológico) nos mostra. Baseia-se em um processamento elaborado de questões sociais e culturais que orienta o que é ser mulher e homem na nossa socie- dade. O comportamento e o modo de agir, que parecem tão “naturais” para cada gêne- ro, é na verdade ensinado desde a mais ten- ra idade (BRASIL, 2011; JESUS, 2012). Algumas características como fragilida- de, emoção e sensibilidade, muito asso- ciadas à feminilidade, tornariam a mulher “naturalmente” mais apta aos afazeres 22 22 UN1 Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres A mulher moderna que foge desses padrões sociais (que prioriza a carreira profissional, não quer casar, não quer filhos, interesse se- xual pelo mesmo gênero, entre outros) e que acompanha a sociedade ocidental há gera- ções ainda enfrenta preconceito, na maioria. Na questão da SSSR esses estereótipos sur- gem claramente quando o uso de métodos anticoncepcionais ainda aparecem como uma função da mulher, desta forma a gravidez seria um problema da mulher. Ou, a sugestão por parte da mulher do uso do preservativo a ex- põe a dúvidas por parte do homem sobre a sua fidelidade. A liberdade do exercício da sexu- alidade está mais ligada aos homens, assim como a expectativa de que sua bagagem de experiência e repertório sexual seja maior que o da mulher. Os profissionais de saúde necessitam es- tar preparados para a atenção a esses direi- tos fundamentais das mulheres no exercício amplo da sua sexualidade, contemplando as especificidades dos diferentes grupos e suas necessidades. Figura 5 – O uso de contraceptivos é de responsabilidade de ambas as partes As influências culturais e o preconcei- to podem estar presentes durante os diferentes atendimentos efetuados na Unidade Básica de Saúde. Você con- segue garantir os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres nos seus atendimentos? 1.4 As expressões da sexualidade feminina Segundo a OMS (1975), a sexualidade humana é uma necessi- dade básica e um aspecto do ser huma- no que não pode ser separado de outros aspectos da vida. A sexualidade não é sinônimo de relação sexual e não se limita à presença ou não de orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso. É energia que motiva encontrar o amor, contato e intimidade, e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das pessoas e como estas tocam e são to- cadas. É ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual; ela influencia pensamen- tos, sentimentos, ações e interações e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental. Ao listar a sexualidade como um dos indicado- res de saúde, a OMS contribuiu na visibilidade do tema. Infelizmente, por longos anos, a se- xualidade feminina esteve associada à função reprodutiva. Com o surgimento da pílula anti- concepcional na década de 1960 abriu-se a perspectiva para as mulheres de desvincular o ato sexual da função reprodutiva, inclusive uma possível gravidez indesejada, e, mais além, ao possibilitar a liberdade do ato sexual para obtenção de prazer. No entanto, fatores morais e religiosos, muito presentes em nossa cultura, 23 23 UN1 Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres limitaram e ainda limitam a exploração da sexualidade por parte das mulheres (ABDO, 2001). Para melhor compreensão das expressões de sexualidade feminina, faz-se necessário o do- mínio de alguns conceitos, tais como identi- dade de gênero e orientação sexual. À sensação interna de pertencimento a um determinado gênero é o que chamamos de identidade de gênero. Está refletida no modo de apresentar-se e em como se quer ser re- conhecido socialmente. Todas as vivências familiares, sociais, religiosas, de diferentes grupos por onde se circulou, experiências po- sitivas ou negativas marcam e influenciam essa certeza interior de ser mulher ou homem (JESUS, 2012). Com base na identidade de gê- nero podem-se classificar os indivíduos em dois grupos distintos. Quando existe concor- dância entre o sexo biológico e a identidade de gênero, temos o indivíduo cisgênero. E quando não há essa concordância, temos transgênero (transexuais, travestis etc.) (JESUS, 2012). Outra definição importante é da orienta- ção sexual. Nada mais é do que a atração afetivo-sexual entre as pessoas. Para os he- terossexuais a atração ocorrerá pelo gêne- ro oposto, os homossexuais por pessoas do mesmo gênero e os bissexuais por ambos os gêneros. Cabe aqui lembrar os assexuais, que não têm interesse sexual por qualquer gênero e os pansexuais, cujo interesse afetivo sexual não depende do gênero (JESUS, 2012; COSTA, 2005; SANTOS, 2010). A identidade de gênero e a orientação sexual são totalmente distin- tas, porém caminham juntas no exercício da sexualidade. Para o entendimento e acolhimento de inúme- ras angústias e queixas sexuais das mulheres no serviço de saúde, é importante também conhecer o chamado ciclo de resposta sexual, que nos mostra as fases que as mulheres vivem durante um encontro sexual. Para ilustrar essas fases, os estudos observa- cionais de Masters e Johnson sobre as reações do corpo durante o ato sexual os levaram a pro- por em 1970 um modelo de resposta sexual de quatro fases composto por EXCITAÇÃO – PLA- TÔ – ORGASMO – RESOLUÇÃO, baseado em respostas fisiológicas distintas em cada uma dessas fases (ABDO, 2001). Mais tarde, Kaplan surge com a proposta de acrescentar a fase de desejo no início do modelo inicial, publicada em 1987 pela Associação Psiquiátrica Americana (APA) no terceiro Manual Diagnóstico e Estatís- tico, revisado (DSM-III-R) (ABDO, 2001). O ciclo linear de resposta sexual modifica- do (DESEJO – EXCITAÇÃO – ORGASMO – RESOLUÇÃO) durante longo período era utili- zado como padrão para a avaliação de pos- síveis disfunções sexuais tanto em homens como mulheres. Somente em 1998 surgiria a publicação de um modelo mais dirigido às mulheres, proposto por Rosemary Basson, psiquiatra canadense. Em seus estudos sobre sexualidade feminina, Basson observou que a maioria das mulheres não seria funcional, conforme o modelo linear até então vigente, e que apesar disso as mes- mas sentiam-se extremamente satisfeitas sexualmente. Com base nessas observações, propôs o modelo circular de respostasexual. Conforme este ciclo, o intercurso sexual não iniciaria necessariamente pelo desejo (mais presente nos relacionamentos recen- tes). Para inúmeras mulheres, a excitação 24 24 UN1 Saúde sexual e saúde reprodutiva: um direito à saúde Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres subjetiva (sensação de sentir-se excita- da) ocorreria antes de desejar o ato sexual conscientemente. A excitação pode ser de- sencadeada por uma série de motivações (geralmente de cunho emocional), fazendo o desejo surgir e exercer um reforço positivo para mais excitação. O orgasmo não é uma fase obrigatória em todas as relações sexu- ais, conforme Basson. Um encontro sexual que reafirme a intimidade entre as parcerias e a ausência de dor poderia ser o desfecho positivo e suficiente para deixar a mulher disposta a um novo ato sexual (BASSON, 2008). Importante! Nos últimos anos, o estudo da sexualidade feminina ganhou força. O novo modelo de resposta sexual che- gou para mostrar que existem diferen- ças importantes no modo como homens e mulheres agem e reagem durante um encontro sexual. Estar atualizado com essas informações é fundamental para bem orientarmos as pacientes e evitar- mos inclusive a iatrogenia. Intimidade emocional Desejo sexual “espontâneo” Neutralidade sexual Estímulo sexual Excitação sexual Desejo e excitação sexual Satisfação emocional e física Modelo circular de resposta sexual Adaptado de: BASSON, 2008. Fonte: BASSON (2008). Como profissionais de saúde, precisamos ter claro que ainda há muito a ser desvendado no campo da sexualidade feminina, e novos avan- ços surgem a cada momento, a fim de atender às demandas cada vez maiores para os ques- tionamentos das mulheres da atualidade. Continue seus estudos com a próxima uni- dade e reconheça algumas estratégias para ampliar o acesso ao planejamento reproduti- vo, da sexualidade e da reprodução humana, além das descobertas mais recentes sobre as Infecções Sexualmente Transmissíveis. Para aprofundar seus conhecimentos no contexto dos marcos teóricos e direi- tos sexuais e reprodutivos, indicamos: CORRÊA, S.; ALVES, J. E. D.; JANNUZZI, P. M. Direitos e Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva: marco teórico-conceitual e sistema de indicadores”. Disponível em: <http://www.abep.nepo.unicamp. br/docs/outraspub/ind_mun_saude_ sex_rep/ind_mun_saude_sex_rep_capi- tulo1_p27a62.pdf>. Caso tenha interesse em ler um pouco mais sobre a existência de um modelo estereotipado de gênero que acarreta a (re)produção de desigualdades entre homens e mulheres na assistência a saúde, leia: MACHIN, R. Concepções de gênero, masculinidade e cuidados em saúde: estudo com profissionais de saúde da atenção primária. Disponível em: <http://www.repositorio.unifesp.br/ handle/11600/6684>. 25 25 26 UN2 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades 27 28 28 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 Esta unidade relembra especificidades e vul- nerabilidades relacionadas à Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva (SSSR) das mulheres e al- gumas estratégias para ampliar o acesso ao planejamento reprodutivo como um exercício individual, livre e responsável, da sexualida- de e da reprodução humana. Inclui evidências científicas mais recentes sobre as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e sobre o planejamento reprodutivo. 2.1 Ciclos de vida e vulnerabilidades Convidamos você a reconhecer algumas es- pecificidades e vulnerabilidades na Saúde Se- xual e Saúde Reprodutiva nos diferentes ciclos de vida das mulheres e em grupos específi- cos, incluindo estratégias para a atenção no contexto da Atenção Básica. Adolescência Período de vida compreendido entre os 10 e 19 anos, em que grandes mudanças físi- cas, psicológicas e sociais ocorrem. Lidar com um novo corpo, e que já apresenta ca- pacidade reprodutiva está longe de ser uma tarefa fácil (BRASIL, 2011). Nessa fase de vida a urgência em viver diferentes experiên- cias, pertencer a um grupo ao mesmo tempo em que os riscos parecem não existir, mar- cam a adolescência. A gravidez nesse mo- mento provoca profundas alterações do pla- nejamento do futuro, pois aumenta a chance da evasão escolar, entrada precoce no mer- cado de trabalho sem qualificação adequada e a assumir responsabilidades para as quais não se está preparado (BRASIL, 2013). Figura 6 – A adolescência: lidar com um novo corpo Precisamos de um serviço de saúde que aco- lha adolescentes e possa orientar quanto ao exercício da sexualidade com cuidados de pre- venção de doenças e gravidez indesejada e não 29 29 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 planejada, dar acesso aos métodos anticon- cepcionais e estimular o respeito nas relações afetivas, repudiando a violência. Vale lembrar que ações voltadas para esse público podem ser mais efetivas quando aplicadas nos locais mais frequentados por eles (escolas, por exem- plo) do que aguardar pela demanda espontâ- nea (BRASIL, 2013). Climatério e Menopausa Fase da vida das mulheres caracterizada pelo progressivo declínio até a ausência da capa- cidade reprodutiva (BRASIL, 2013). Em asso- ciação, mudanças físicas, emocionais, sociais e familiares podem gerar inseguranças e an- gústias às mulheres. Os avanços da medicina e os cuidados de prevenção contribuíram para um aumento significativo e progressivo dessa população de mulheres com mais idade. O preconceito envolvendo a sexualidade após uma determinada idade pode causar sérios danos a esse grupo. A vida sexual pode sofrer algumas modificações, como a diminuição da frequência e intensidade. Porém, sem dúvida pode e deve ser ativa (BRASIL, 2013). Figura 7 – A menopausa é um período que merece espe- cial atenção no atendimento O atendimento a ser realizado pela Aten- ção Básica (AB) deve abordar a vivência da sexualidade de maneira saudável, acolher possíveis queixas e dar os devidos encami- nhamentos quando necessário, bem como a prevenção para Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). População negra Os sistemas de informação ainda pecam em não proporcionar dados mais fidedignos sobre a população negra. Observa-se, em dados gerais, um menor grau de instrução, poder aquisitivo e acesso a serviços de boa qualidade (BRASIL, 2011). Em comparação com a população branca, alguns agravos em saúde aparecem em maior proporção, como mortalidade materna e infantil e violência (BRASIL, 2011; BRASIL, 2010a). O racismo, que insiste em persistir nos dias atuais em nossa sociedade, é um fator que causa danos à saúde. O racismo institucional deve ser combatido energicamente, pois traz grandes prejuízos a essa população ao lhe difi- cultar acesso a serviços, atendimentos e medi- camentos (BRASIL, 2011). Serviços de saúde atentos às necessidades da população negra, proporcionando atenção de qualidade, sem dúvida contribuirão na geração de números mais positivos nas estatísticas específicas. 30 30 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 População de mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais A visibilidade social do grupo de mulheres lés- bicas, bissexuais e transexuais cresceu tão ex- pressivamente que fomentou a criação de uma política própria: Política Nacional de Saúde In- tegral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. O uso do nome social nos ser- viços de saúde foi uma importante conquista para esta população (BRASIL, 2011). A diversidade quanto à orientação sexual e identidade de gênero não devem dificultar ou impossibilitaro acesso aos serviços de saúde. Infelizmente, o preconceito e a discri- minação, também presentes nas instituições de saúde, afastam as usuárias desse grupo. O preconceito e violência, muitas vezes vi- venciados primeiramente no âmbito fami- liar, provocam abandono do lar, êxodo esco- lar, entrada precoce no mercado de trabalho (em muitos casos por baixa escolaridade e pelo próprio preconceito acabam por encon- trar na prostituição um meio de sustento) e maior chance de depressão, suicídio e uso de drogas (BRASIL, 2013). No tocante ao atendimento às mulheres lébiscas e bissexuais, a generalização da orientação sexual como heterossexual por parte de alguns profissionais de saúde pode afastar e inibir este público da procura por atendimento em saúde. Outro aspecto a Figura 8 – A Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais é um dos fortes indícios do crescimento deste grupo, com demandas em saúde específicas 31 31 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 considerar é o imaginário comum de que essa população específica estaria menos susceptível a adquirir ISTs. Trata-se de garantir o acesso a consultas gine- cológicas regulares para prevenção de câncer de colo uterino e mama, dar orientações sobre as práticas sexuais seguras em relações ho- moafetivas (higiene das mãos e unhas, sempre cortadas e limpas; uso de luvas em penetração manual; sexo oral com proteção; preservativo em acessórios sexuais, e não compartilhar o acessório com o mesmo preservativo; risco da relação sexual durante o período menstrual). Ainda para este público, não se deve medir es- forços para evitar ISTs e ainda acolher, se for a demanda, por acesso a serviços especializa- dos em reprodução assistida (BRASIL, 2013; BRASIL, 2014; SANTOS, 2010). A capacitação dos profissionais de saúde sobre a temática da diversidade sexual e dos direitos sexuais deve ser constante. O envolvimento dos movimentos LGBTs com os serviços de saúde pode facilitar a adesão e aproximação dessa população às unidades de Atenção Básica, quer seja para trabalhar sob o foco da prevenção, como garantir o acesso por outras demandas. Para essa população, demonstradamente com maior vulnerabilidade e menor acesso aos servi- ços de saúde, deve-se organizar e implementar um conjunto de ações de promoção da saúde e prevenção que vão além da oferta de preser- vativos. É preciso abordar por exemplo, acesso facilitado para testar ISTs e HIV, acolhimento e atendimento livre de discriminação nas unida- des de Atenção Básica e centros de testagens, bem como promover a humanização da assis- tência à saúde dessas usuárias. População indígena Adequar os princípios da Saúde Sexual e Saú- de Reprodutiva (SSSR) com as diferentes cul- turas da população indígena constitui-se em um enorme desafio. No contexto da Atenção Básica, a saúde indíge- na está vinculada à Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI). Entre as suas atribuições está desenvolver ações de atenção integral à saúde indígena e educação em saúde, em consonân- cia com as políticas e os programas do SUS, e observando as práticas de saúde tradicionais indígenas. Para executar essas ações, conta com estrutura administrativa dos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), tendo como base a ocupação geográfica das comuni- dades indígenas que abrangem mais de um mu- nicípio, e, em alguns casos, mais de um estado. Além dos DSEIs, há, ainda, os Polos Base, Casas de Saúde Indígena (Casais) e Unidades Básicas de saúde. Diversidade cultural Idioma Localização das aldeias Iniciação sexual e gravidez precoce Intervalo curtos entre as gestações Dificuldades no atendimento às mulheres indígenas Importante! No seu município há popula- ção indígena? Se sim, procure conhecer a equipe que atua com esta população integrando as ações desenvolvidas, quais as estratégias para trabalhar com as mulheres, trocando experiências. Você poderá conhecer as práticas de saúde tradicionais voltadas para as mulheres que são diferentes nos muitos povos indígenas do país. 32 32 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 Para compreender melhor o Subsistema da Atenção Indígena acompanhe a imagem abaixo: Figura 9 – Entenda o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS) Fonte: SESAI (2012) Ministério da Saúde: é o órgão do Poder Executivo Federal responsá- vel pela organização e elaboração de planos e políticas voltados para a promoção, prevenção e assistência à saúde dos brasileiros. SESAI: área do Ministério da Saúde criada para coordenar e executar o processo de gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena em todo território nacional. DSEI: Distrito Sanitário especial Indígena é a unidade gestora descen- tralizada do subsistema e responde pela execução das ações básicas de saúde em área indígena. No Brasil são 34 DSEIs. Polo base: os 349 Polos Base existentes em todo pais, juntamente com os 966 postos de saúde, são as bases da atuação das equipes de saúde. Os Polos Base são classificados em Tipo I (localizados em terras indígenas) e Tipo II (localizado no município de referência). EMSI: As Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena são compostas por médicos, enfermeiros, odontólogos e auxiliares, além dos Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e os Agentes Indígenas de Saneamento (AI- SAN). Os agentes moram em aldeias e são indicados pelos Conselhos Locais de Saúde Indígena. Em 2011 houve um redimensionamento do quadro de pessoal das equipes no país. O total de trabalhadores sal- tou de 8.975 para 12.248 contratados, o que representa um aumento de 43% no número de profissionais contratados. CASAI: No Brasil são 75 Casas de Saúde Indígena. A CASAI garante alojamento, alimentação e atendimento de enfermagem aos pacien- tes e acompanhantes, respeitando as especificidades culturas. Além disso, presta assistência farmacêutica e apoia o DSEI na articulação da rede de referência de Média e Alta Complexidade. 33 33 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 População de trabalhadoras do sexo A relação profissional e comercial, em que práticas sexuais são negociadas por dinheiro ou outros benefícios, é exercida principalmen- te por mulheres. Ao longo do tempo observou- -se a organização da população de mulheres trabalhadoras do sexo em busca da garantia de direitos básicos e reconhecimento da ativi- dade como profissão. A baixa escolaridade, a necessidade financeira e a dificuldade de per- suasão no uso de preservativo pela clientela as tornam mais expostas às doenças trans- mitidas por via sexual. Estão ainda mais ex- postas à violência e abuso de drogas (BRASIL, 2013; FIGUEIREDO, 2010). Os profissionais da Atenção Básica devem es- tar preparados para acolher as trabalhadoras do sexo sem discriminação, disponibilizando todos os serviços que sejam de necessidade da usuária profissional do sexo. Ações edu- cativas voltadas para informação sobre ISTs e meios de prevenção (uso correto e acesso facilitado aos preservativos), riscos do uso de drogas e dar acesso à redução de dano podem ser ofertados e facilitados para esse grupo específico. Trabalhadoras do campo, da floresta e das águas As mulheres do campo, da floresta e das águas fazem parte de uma população bastan- te heterogênea, constituída por trabalhado- ras assalariadas e temporárias, agricultoras familiares, camponesas, trabalhadoras rurais assentadas ou acampadas, comunidades tra- dicionais (ribeirinhas, quilombolas), pescado- ras artesanais e marisqueiras, que habitam e utilizamreservas extrativistas em áreas de florestas ou aquáticas e atingidas por barra- gens (BRASIL, 2013; BRASIL, 2015). Figura 10 – As mulheres extrativistas possuem especifici- dades em saúde que devem ser observadas Este grupo populacional é afetado diretamen- te pela dificuldade de acesso aos serviços de saúde e por problemas de saúde ou acidentes decorrentes do trabalho que exercem (exposi- ção aos agrotóxicos, exposição solar e outras intempéries, violência) (BRASIL, 2015). O uso de saberes populares nos cuidados em saúde também está presente nesses gru- pos por questões culturais e pela dificuldade de acesso aos serviços de saúde (BRASIL, 2015). A desigualdade nas relações de gê- nero também está presente na vida familiar (violência doméstica), ao dificultar acesso a direitos como educação e na diferenciação de trabalho (BRASIL, 2015). Para uma atenção em SSSR adequada às necessidades desta população, são ne- cessárias estratégias para alcançar os mais distantes grupos, ter conhecimen- to das condições de vida local e promover ações preventivas (coletas de preventivo e exame de mamas, ISTs) e assistenciais frequentes na própria comunidade, faci- litando o acesso e acolhendo a deman- da específica do maior número de usuárias possível. 34 34 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 Mulheres vivendo com HIV e AIDS É cada vez mais significativo o número de mulheres adultas e jovens portadoras do HIV. Muitas destas jovens adquiriram o ví- rus por transmissão vertical, e muitas ou- tras pelo sexo sem uso de preservativo, mas por meio de acompanhamento e suporte de medicamentos adequado podem ter um planejamento de vida. É necessário acolher no serviço de saúde a mulher portadora do vírus, pois o medo e a discriminação, faz com que, uma pessoa se afaste de outras, inclusive daquelas com contato mais íntimo (BRASIL, 2008). Para essas pessoas existe a possibilidade de vida sexual saudável e segura (incluindo aqui as parcerias sorodiscordantes), bem como a possibilidade de planejamento de gestações (BRASIL, 2008). Para as mulheres que não desejam engravidar há a necessidade de reforçar a importância da dupla proteção (uso de preservativo além do uso de outro método anticoncepcional) para si (prevenção de ISTs) e para a parceria (trans- missão do HIV) (BRASIL, 2008). É importante que você e sua equipe pesqui- sem e conversem sobre o assunto, e este- jam capacitados para fornecer informações e dispor de um atendimento de qualidade, por uso adequado de todos os protocolos na as- sistência das mulheres e jovens vivendo com HIV e AIDS, inclusive nos cuidados durante o pré-natal, parto e puerpério. Figura 11 – Pessoas vivendo com HIV podem ter uma vida saudável A seguir, dentro do contexto da Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva destacamos as infecções sexualmente transmissíveis. Abordaremos as evidências científicas atuais para atenção a estas doenças, com enfoque voltado para as mulheres. 2.2 Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) Conforme a OMS (2013), mais de um milhão de pessoas adquirem uma IST diariamente no mundo (BRASIL, 2015). Em função das graves complicações em mulheres, RNs e por ser fa- tor de risco na transmissão do HIV, há um em- penho mundial no combate a essas doenças. Na Atenção Básica deve-se promover o aco- lhimento com privacidade dos casos de pos- sível ISTs, sem julgamento morais,, a fim de facilitar o diagnóstico (inclusive de possível ISTs associadas), tratamento e prevenção. Atentar para o fato de que alguns grupos po- pulacionais necessitam de atenção e abor- dagem específica, entre eles as profissionais do sexo, as mulheres em situação de rua e as usuárias de drogas, além das mulheres trans que apresentam maior prevalência de IST. E nos casos sintomáticos, deve-se priorizar o atendimento buscando o vínculo com a usu- ária e a segurança da mesma, de modo que o tratamento seja iniciado imediatamente. 35 35 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 As ISTs apresentam diversidade na etiologia e quadro clínico. Podem manifestar-se com corrimento vaginal e úlceras ou até não apre- sentar sintomas. As gestantes devem receber especial atenção para prevenir a transmissão vertical de sífilis, hepatites e HIV. A principal forma de transmissão é a sexual, porém, não se pode deixar de citar a contaminação san- guínea e a vertical (mãe-filho). Também é comum apresentarem-se em asso- ciação com outra IST. Sendo que os fatores so- cioeconômicos, comportamentais, questões de gênero, culturais e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde influenciam desde o surgi- mento até a manutenção das ISTs. A principal forma de prevenção é o uso cor- reto e regular de método de barreira (preser- vativo masculino ou feminino) na relação se- xual. Porém, o número de pessoas que usam o preservativo associado a outro método anticoncepcional ou isoladamente é muito baixo, principalmente nos relacionamentos considerados estáveis. Deve-se lembrar ainda que algumas ISTs são de notificação compulsória: infecção pelo HIV, infecção pelo HIV em gestantes, parturiente ou puérpera e criança exposta ao risco de trans- missão vertical do HIV, AIDS, sífilis adquirida, sífilis em gestantes ou congênita, hepatites B e C, conforme portaria nº 204, de 17 de feve- reiro de 2016. Acompanhe no esquemático abaixo a triagem para ISTs que deve ser realizado no pré-natal. HIV Sífilis Hepatite B Hepatite C Na primeira consulta de pré-natal (ideal no primeiro e terceiro trimestre). No momento da internação para o parto (independente de tê-lo feito no pré-natal) deverá ser realizada testagem por ocasião da internação para o parto. Triagem para ISTs no Pré-Natal Na primeira consulta pré-natal (ideal no primeiro e terceiro trimestre) e no momento da internação para o parto (independente de tê-lo feito no pré-natal. Na primeira consulta de pré-natal. Caso não tenha realizado pré-natal deverá realizar a testagem por ocasião da internação para o parto. Testagem em gestantes de risco (infecção pelo HIV, usuárias de drogas, transfusão ou transplantes antes de 1993, hemodiálise, profissionais de saúde com histórico e acidente com material biológico e alterações de exames da função hepática sem outras causas). 36 36 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 Na atenção à saúde das mulheres e às IST, algumas atividades são de responsabilidade da equipe de Atenção Básica (BRASIL, 2015). Acompanhe: Lembre-se que a Unidade Básica de Saúde precisa disponibilizar Testes Rá- pidos para HIV, Sífilis, Hepatites B e C. Você pode acessar mais informações sobre os testes rápidos para diagnósti- co de sífilis, HIV, Hepatites B e C aces- sando: <http://www.aids.gov.br/pagina/ testes_rapidos>. Para o planejamento do acompanha- mento da mulher durante o ciclo grávi- dico puerperal, médicos e enfermeiros podem consultar as recomendações que estão publicadas no Caderno de Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco, que apresenta detalhadamen- te todas as ações. Está disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publi- cacoes/cadernos_atencao_basica_32_ prenatal.pdf>. Caso você tenha alguma dúvida com relação às ações que pode realizar para diagnóstico e tratamento das IST você poderá acessar o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Se- xualmente Transmissíveis publicado em 2015 pelo Ministério da Saúde que está disponível em: <http://www.aids. gov.br/sites/default/files/anexos/publi- cacao/2015/58357/pcdt_ist_01_2016_ web_pdf_99415.pdf>. ÎÎ Garantir o acolhimento e realizar atividadesde informação e educação em saúde. ÎÎ Realizar consulta imediata no caso de úlceras genitais, corrimentos genitais e de verrugas anogenitais. ÎÎ Realizar coleta de material cérvico-vaginal para exames laboratoriais. ÎÎ Realizar testagem rápida e/ou coleta de sangue e solicitação de exames para sífilis, HIV e hepatites B e C, nos casos de IST. ÎÎ Realizar tratamento das mulheres com IST e suas parcerias sexuais. ÎÎ Seguir o protocolo do MS para prevenção da transmissão vertical de HIV, sífilis e hepatites virais. ÎÎ Notificar as IST, conforme a portaria nº 204/2017. Os demais agravos são notificados de acordo com recomendações dos estados/municípios, quando existentes. ÎÎ Comunicar as parcerias sexuais do caso-índice para tratamento conforme protocolo. ÎÎ Referir os casos de IST complicadas e/ou não resolvidas para unidades que disponham de especialistas e mais recursos laboratoriais. ÎÎ Referir os casos de dor pélvica com sangramento vaginal, casos com indicação de avaliação cirúrgica ou quadros mais graves para unidades com ginecologista e/ou que disponham de atendimento cirúrgico. Atenção à saúde das mulheres com IST 37 37 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 Figura 12 – Mais de um milhão de pessoas adquirem uma IST diariamente no mundo A seguir são elencadas algumas estratégias para a atenção integral às mulheres com IST na abordagem da prevenção combina- da. Destaca-se a prevenção individual e co- letiva, a oferta de diagnóstico e tratamento para as ISTs assintomáticas e o manejo das IST sintomáticas com uso de fluxogramas (BRASIL, 2015). Prevenção individual e coletiva ÎÎ Informação e educação em saúde. ÎÎ Preservativo masculino e feminino. ÎÎ Gel lubrificante. ÎÎ Busca adequada e acesso a serviços de saúde. ÎÎ Prevenção da transmissão vertical do HIV, sífilis e hepatites virais. ÎÎ Vacinação para HBV e HPV. ÎÎ Profilaxia pós-exposição ao HIV, quando indicada. ÎÎ Profilaxia pré-exposição ao HIV, quando indicada. ÎÎ Profilaxia pós-exposição às IST em violência sexual. ÎÎ Redução de danos. Oferta de diagnóstico e tratamento para IST assintomáticas (com laboratório) ÎÎ Triagem para sífilis, gonorreia, clamídia, hepatites vi- rais B e C e HIV para mulheres com IST e populações- -chave (profissionais do sexo, mulheres que usam drogas), quando disponível. ÎÎ Testagem de rotina para diagnóstico de HIV, sífilis e hepatite B durante o pré-natal e parto, conforme re- comenda os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêu- ticos (PCDT4 e PCDT IST) do Ministério da Saúde para prevenção da transmissão vertical. ÎÎ Tratamento das infecções identificadas. Manejo de IST sintomáticas com uso de fluxogramas (com e sem laboratório) ÎÎ Condutas baseadas em fluxogramas. ÎÎ Queixa de síndrome específica. ÎÎ Anamnese e exame físico. ÎÎ Diagnóstico com e sem laboratório. ÎÎ Tratamento etiológico ou baseado na clínica (para os principais agentes causadores da síndrome). O serviço de saúde ao qual você pertence está atento e proporciona o diagnóstico e tratamento das ISTs? Tanto o diagnósti- co quanto o tratamento ocorrem em tem- po oportuno? Conseguem diagnosticar e tratar as parcerias sexuais? 2.2.1 Algumas abordagem das ISTs assintomáticas Doenças como sífilis latente, cervicites por gonorreia e clamídia, hepatites B e C e HIV são mais frequentemente assintomáticas, e com- plicações como infertilidade, AIDS, sífilis con- gênita e cirrose hepática podem ocorrer caso o diagnóstico demore a ser realizado. As assintomáticas ocorrem com mais frequên- cia no caso de mulheres, nas jovens, nas mulhe- res trans e nas profissionais do sexo, grupos que muitas vezes têm mais dificuldade em acessar os serviços de saúde. Essas populações, assim como as usuárias de drogas e gestantes, devem ser priorizadas para a realização de exames diagnósticos. 38 38 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 Acompanhe no próximo esquemático, algumas doenças assintomáticas com possíveis manifestações clínicas e tratamento. Doença Manifestação clínica Tratamento Gonorréia Cervicite (geralmente assintomática). Quando apresenta sintomas: dispareunia, disúria, sangramento intermenstrual. As principais complicações são: dor pélvica, Doença Inflamatória Pélvica (DIP), gravidez ectópica e infertilidade. Ciprofloxacin 500 mg, 1 cp, VO, dose única associado a azitromicina 500 mg, 2 cps, vo dose única ou ceftriaxona 500 mg, IM, dose única ou (outra cefalosporina de 3a geração) associado a azitromicina 500 mg, 2 cps, VO, Dose Unica. Importante: Está contraindicado o uso da ciprofloxacina em meno- res de 18 anos e gestantes. Também está contraindicado o seu uso nos estados de MG, RJ, SP onde observou-se cepas resistentes. Há indicação ainda de Ceftriaxona como medicação de escolha nas infecção por gonoco devido a alta resistência à classe das quinolonas. Clamídia Cervicite (geralmente assintomática). Quando apresenta sintomas: dispareunia, disúria, sangramento intermenstrual. As principais complicações são: dor pélvica, Doença Inflamatória Pélvica (DIP), gravidez ectópica e infertilidade. Azitromicina 500 mg, 2 cps, VO, dose única ou doxiciclina 100 mg, VO, 2x/d por 7 dias (contraindicado na gestante) ou amoxicilina 500 mg, VO, 3x/d por 7 dias. Hepatite B Hepatite B aguda e a crônica são oligossintomáticas. Cerca de 30% dos adultos tem a forma ictérica na hepatite B aguda. Para abordagem de tratamento e profilaxia de hepatite B em gestan- tes, consultar o PCDT de Prevenção de Transmissão Vertical, dispo- nível em: <www.aids.gov.br/pcdt>. Hepatite C A hepatite viral C aguda apresenta evolução subclínica: cerca de 80% dos ca- sos têm apresentação assintomática e anictérica, o que dificulta o diagnóstico. A minoria dos pacientes eventualmente apresenta icterícia. Acessar o Protocolo Clínico e diretrizes Terapêuticas para Hepatite C e Co-infecções, disponível em: <www.aids.gov.br/pcdt>. HIV Primeira fase (infecção aguda): sintomas e sinais inespecíficos da primeira a terceira semana da contaminação a chamada Síndrome Retroviral Aguda – SRA, que cursa com febre, mialgia, adenopatia, faringite, exantema e cefaléia. A soroconversão (surgi- mento de anticorpos anti-HIV) geralmente ocorre após a quarta semana da infecção. Segunda fase: assintomática, que podem durar muitos anos, dependendo da car- ga viral e imunidade da pessoa infectada. O surgimento das doenças oportunistas e neoplasias define a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Dentre as in- fecções oportunistas destacam-se: tuberculose pulmonar atípica ou disseminada, pneumocistose, neurotoxoplasmose, meningite criptocócica e retinite por citome- galovírus. As neoplasias que mais ocorrem são: linfoma não Hodgkin, sarcoma de Kaposi e câncer de colo uterino em mulheres jovens. Acesse: Protocolo Clínico e Diretrizes para manejo da infecção pelo HIV em Adultos. Disponível em <http://www.aids.gov.br/pcdt>. Fonte: Brasil (2015). 39 39 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 Em gestantes com diagnóstico de gonorreia há maior risco de: parto prematuro, ruptu- ra prematura de membrana amniótica, óbito fetal, restrição de crescimento intrauterino e febre puerperal. No recém-nascido (RN) pode acarretar conjuntivite, artrite, sepses, abces- so em couro cabeludo, pneumonia, meningite, endocardite e estomatite. A infecção por clamídia na gestante pode- rá desencadear trabalho de parto prematuro, ruptura prematura de membrana amniótica e endometrite puerperal. No RN pode ser res- ponsável por pneumonia e conjuntivite. Figura 13 – As ISTs são especialmente perigosas quan- do afetam mulheres grávidas Em relaçãoà hepatite B, nos RNs de mães HBsAg reagente deve-se administrar imuno- globulina específica para o vírus da hepatite B (HBIg) e a vacina nas primeiras 12 horas de vida. A vacina da Hepatite B entrou para a lista do calendário básico de vacinação desde 1998 para menores de um ano e ampliou para me- nores de 20 anos desde 2001. Recomenda-se a vacina para todas as gestantes HBsAg não reagentes em qualquer trimestre da gestação. Está indicada a investigação de hepatite C em gestantes, pessoas que receberam transfusão de sangue ou hemoderivados ou transplanta- dos antes de 1993, nascidos antes de 1975, usuárias de drogas, mulheres tatuadas ou com piercing, mulheres em hemodiálise ou com doença hepática, procedimentos com possí- vel contaminação com sangue (odontológico, manicure e pedicure) que não respeitam aos cuidados de biossegurança necessários, além das que se expõe ao sexo desprotegido. Em gestantes, o acompanhamento da carga viral de HIV é muito importante, pois mostra o risco da transmissão vertical ocorrer. Por isto está indicada a terapia antirretroviral em todas as gestantes infectadas pelo HIV, bem como, a manutenção por toda a vida da mulher, e não apenas no parto e puerpério. O Brasil adota a estratégia de tratamento para todos, independentemente da situação clínica da pessoa. Sabe-se que o risco de transmissão é muito baixo (cerca de 1%) nos casos em que a carga viral inferior a 1.000 cópias/mL em gestante em uso de antirretrovirais e muito mais baixo nos casos onde a carga viral seja indetectável. As gestantes deverão realizar a contagem de carga viral em três momentos: na primeira consulta de pré-natal, entre 2 a 4 semanas após a introdução ou a troca do es- quema com os antirretrovirais e em torno das 34 semanas de gestação para determinar a via de parto. Todas as gestantes em iní- cio de terapia antiretroviral têm indicação de realização de genotipagem pré-tratamento. Para mais informações sobre gestantes vivendo com HIV/AIDS acesse: Protoco- lo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para prevenção de Transmissão Vertical de HIV, Sífilis e Hepatites virais 2015. Dis- ponível em <www.aids.gov.br/pcdt>. A infecção aguda apresenta aumento das ami- notransferases, anti-HBc IgM (mais precoce, 40 40 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 marcador do início da infecção) e IgG (mais tardio e permanece reagente ao longo da vida). O diagnóstico da infectividade da do- ença é realizado pela análise do HBeAg. O surgimento de anticorpos específicos para HBeAg e para o HBsAg indicam resolução fa- vorável da infecção. Importante! Os testes rápidos (TR) constituem imunoensaios cromatográ- ficos de execução simples, que podem ser realizados em até 30 minutos e não necessitam de estrutura laboratorial. Contudo, dependendo da amostra tra- balhada, podem ser necessários cuida- dos de biossegurança. Os TR são funda- mentais para a ampliação do acesso ao diagnóstico e aumentam a resolutivida- de do sistema. Além disso, permitem a imediata intervenção nos casos que re- querem tratamento. Se você ainda não está capacitado para realizar os testes rápidos, acesse o site <www.telelab. aids.gov.br>. As informações que você acompanhará no quadro 1 podem ajudar você e sua equipe na interpretação de ISTs assintomáticas. Quadro 1 – Interpretação dos resultados sorológicos (Ag-Ab) para hepatite B Testes sorológicos Resultados Interpretação HBsAg Anti-HBc total Anti-HBs Não Reagente Não Reagente Não Reagente Ausência de contato prévio com o HBV. Susceptível a infecção pelo HBV. HBsAg Anti-HBc total Anti-HBs Não Reagente Reagente Reagente Imune após infecção pelo HBV HBsAg Anti-HBc total Anti-HBs Não Reagente Não Reagente Reagente Imune após vacinação contra o HBV. HBsAg Anti-HBc total Anti-HBs Reagente Reagente Não Reagente Infecção pelo HBV Fonte: Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais/SVS/MS (2016). Para interpretação dos resultados sorológi- cos (Ag-Ab) para hepatite B, você e sua equipe podem se basear neste quadro. Não esqueça que o diálogo e a investigação com a usuá- ria são essenciais para um diagnóstico com respeito e garantia do direito ao tratamento. Vamos em frente! 2.2.2 ISTs sintomáticas Para facilitar a abordagem das IST sintomá- ticas, dividem-se as infecções por quadros sindrômicos para as mulheres: corrimento va- ginal, corrimento uretral, úlcera anogenital e verruga anogenital. 41 41 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 Acompanhe o quadro abaixo, que expõe mais detalhes sobre cada uma das ISTs sintomáticas. Quadro 2 – Detalhes das ISTs sintomáticas Síndrome Doenças Agente etiológico Diagnóstico Sinais/Manifestações clínicas Tratamento Corrimento vaginal Tricomoníase T. vaginalis Presença de proto- zoários móveis em amostra de ectocér- vice (Gram, a fresco). Abundante corrimento amarelado ou esverdeado e bolhoso, prurido vulvar e hiperemia da mucosa. Pode ainda apresentar queixas urinárias. Metronidazol 400 mg, 5 cps, VO,DU(- total de 2g) OU metronidazol 250 mg, 2x/d, VO, por 7 dias. Em gestantes de primeiro trimestre optar por Clinda- micina 300 mg, VO, 2x/d por 7 dias. Úlceras genitais Herpes genital O HSV 2 é o agente mais relacionado às lesões genitais mas pode ser causado tam- bém pelo HSV 1 (mais associado às lesões perio- riais) em menor proporção. Isolamento do vírus em cultura de tecido do material coletado das vesículas (mais rico em vírus), es- fregaço corados por Giemsa ou método Papanicolau, PCR e imunofluorescência (estes dois últimos com alta especifici- dade). Primoinfecção: Sintomatologia mais exuberan- te com lesões eritemato-papulosas que evoluem para vesículas dolorosas e múltiplas. Período de incubação de 6 dias. Geralmente acompanha o quadro: febre, mal-estar, mialgia e disúria. Em 50% dos casos há linfadenomegalia inguinal bi- lateral. Nas mulheres pode afetar o colo vindo a apresentar corrimento vaginal. Pode durar de 2 a 3 semanas. O vírus costuma alojar-se nos nervos periféricos sensoriais após a cura. Quadros de recorrência: Costumam ser mais leves associado a pródromos (prurido,ardência,- mialgia,fisgadas). São desencadeados por fatores que provocam diminuição da imunidade (estres- se, infecções e uso prolongado de antibióticos, por exemplo). As lesões podem ser cutâneas e / ou mucosas. Tendem a regredir em 7 a 10 dias. Primoinfecção: Aciclovir 200 mg, 2 cps, VO, 3x/d, por 7 dias OU Aciclovir 200 mg, 1 cp, VO, 5x/d por 7 dias. Recidiva: Aciclovir 200 mg, 2 cps, VO, 3x/d por 5 dias OU Aciclovir 200 mg, 1 cp, VO , 5x/d por 5 dias. Supressão de Herpes Genital (6 ou mais episódios ao ano): Aciclovir, 200mg, 2 cps,VO, 2x/d por 6 meses até 2a. 42 42 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 Síndrome Doenças Agente etiológico Diagnóstico Sinais/Manifestações clínicas Tratamento Cancróide H a e m o p h i l u s ducreyi Identificação do agente em esfregaço de material obtido da base da úlcera ou as- pirado do bulbão co- rado pelo Gram. Nas mulheres as lesões,quando ocorrem, são mais frequentemente na fúrcula e grandes e pe- quenos lábios. São lesões múltiplas ou única, dolorosas, irre- gulares, com contornos eritemato-edematosos e fundo irregular, coberto com exsudato necrótico, amarelado e fétido. Ao fundo presença de tecido de granulação com sangramento fácil. Azitromicina 500 mg, 2 cps, VO, DU OU Ceftriaxona 500 mg, IM, DU OU Ciprofloxacina 500 mg, 1 cp, VO, 2x/d por 3 dias (contraindicados em ges- tantes, lactantes e crianças). Linfogranuloma venéreo Chamydia tra- chomatissoroti- pos L1, L2 e L3 Isolamento do agente em culturas do raspa- do da lesão inicial ou aspirado do bulbão. O método mais preci- so é o PCR Manifesta-se por linfadenopatia inguinal e/ou femo- ral. Apresenta três fases distintas: Inoculação: Inicia por pápula, pústula ou exulcera- ção indolor desaparecendo sem deixar sequelas. Na mulher localiza-se na parede vaginal posterior, colo uterino, fúrcula e outras regiões dos genitais. A adenopatia dependerá do local da inoculação. Como sequela ocorre supuração e fistulização por orifícios múltiplos. Proctite e proctocolite hemorrá- gica podem ocorrer pelas lesões em região anal. Glossite ulcerativa difusa com linfadenopatia regio- nal pode ocorrer por contato orogenital. Sintomas gerais: febre, mal-estar, anorexia, emagrecimento, artralgia, sudorese noturna e meningismo. Elefan- tíase genital por obstrução linfática crônica. Na mu- lher este fenômeno chama-se estiomene. Outros: fístulas retais, vaginais, vesicais e estenose retal. Doxiciclina 100 mg, 2x/d por 21 dias (contraindicado em gestantes) OU Azitromicina 500 mg, 2 cps, VO, 1 x/ sem por 3 semanas. Se sintomáticas tratar conforme o esquema anterior. Se assintomáticas: Azitromicina 500 mg, 2 cps, VO, DU OU Doxiciclina 100 mg, 1 cp, VO, 2x/d por 7 dias. 43 43 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 Síndrome Doenças Agente etiológico Diagnóstico Sinais/Manifestações clínicas Tratamento Verrugas anogenitais HPV Clínico na fase das lesões visíveis e con- firmado por biópsia ou por colpocitologia oncótica do colo ute- rino, citologia oncóti- ca anal, colposcopia, anuscopia e histolo- gia. Três formas distintas: Latente: A infecção pelo HPV não apresenta qual- quer manifestação. Pode nunca vir a apresentar lesões. O único modo de detectar o HPV é através de diagnóstico laboratorial (exames de bioloiga molecular por detecção do DNA viral) Subclínica: Quando as lesões serão visíveis ape- nas por meio de papanicolau, colposcopia e/ou histologia. Detectam-se lesões precursoras do câncer e colo uterino: Lesão intraepitelial de bai- xo grau (LSIL) e Lesão intraepitelial de alto grau (HSIL). Clínica: Verruga ou condiloma acuminado. São lesões única ou múltiplas, coloração variável e exofíticas. Estão associadas aos tipos não onco- gênicos. Na mulher localizam-se na vulva, perí- neo, perianal, vagina e colo Ácido Tricloroacético 80 a 90% (ATA) 1x/ sem até 8 a 10 semanas nas lesões. Podofilina 10 a 25% 1x/sem até o de- saparecimento das lesões. Contrain- dicado na gestação. Eletrocauterização: Remoção da lesão por meio de eletrocautério. Crioterapia: Remoção da lesão por destruição térmica da lesão. Exérese cirúrgica: Remoção da lesão com uso de bisturi, tesoura ou cureta sob anestesia local. Fonte: Brasil (2015). Depois de acompanhar este quadro com as prin- cipais IST sintomáticas, como identificá-las e o tratamento, gostaríamos de lembrar que o HPV é um DNA vírus, que apresentam mais de 200 sorotipos sendo 40 responsáveis por lesões anogenitais e pelo menos 20 sorotipos estão relacionados ao câncer de colo uteri- no. Pode ser encontrado em outros locais em menor frequência e causar câncer também no ânus, vulva, vagina, orofaringe, laringe e boca. Os tipos de baixo risco oncogênico es- tão presentes em lesões benignas e lesões intrepiteliais de baixo grau: tipos 6, 11, 40, 42, 43, 44, 54, 61, 70, 72, 81 e CP6108. Os ti- pos de alto grau oncogênico estão presentes nas lesões intraepiteliais de alto grau e nos carcinomas: 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 68, 73 e 82. No Herpes Genital as mulheres que apresentam úlcera genital estão altamente susceptíveis a transmitir ou adquirir HIV. Em uma mesma lesão pode-se vir a encontrar associação de agen- tes. Estão extremamente associadas a ISTs 44 44 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 nas mulheres sexualmente ativas (principal- mente jovens), podendo, contudo, estar relacio- nadas a outras causas e patologias, como cân- cer, drogas, dermatite de contato, dentre outras. Nos casos de herpes genital na gestação os riscos são maiores na primoinfecção e quan- do ocorrem no final da gestação. O feto corre mais risco quando há infecção ativa no mo- mento do parto e se a via for vaginal. Há reco- mendação de via alta quando há lesão ativa. O tratamento tem por objetivo reduzir a inten- sidade e duração do episódio. Em gestantes o tratamento é o mesmo independente do trimestre da gestação. Primoinfecção é a primeira infeção pro- vocada por uma bactéria ou por um vírus, sem que existam necessariamente ma- nifestações clínicas (INFOPEDIA, 2017). Nos casos de verrugas anogenitais por HPV além da via sexual de transmissão temos a via vertical, esta responsável por papilomatose recorrente de laringe em crianças e RNs com condilomatose genital verificada por ocasião do nascimento. Importante! A cada nova parceria o ris- co de adquirir o HPV é de 15 a 25%. E na maioria dos casos a infecção é tran- sitória e auto-limitada, não causando danos. Verifica-se uma frequência maior em mu- lheres jovens. Em torno de 20 anos é o tempo médio de um sorotipo de alto grau oncogênico de HPV desenvolver o câncer cervical. A prevenção do HPV pode ser feito através do uso de preservativo masculino ou o fe- minino. Desde 2014, instituiu-se a vacina- ção contra o HPV pelo Ministério da Saúde, fazendo parte do Calendário Nacional de Vacinação. A vacina é quadrivalente contra o HPV 6,11,16 e 18 sendo efetiva na pre- venção de verrugas anogenitais como le- sões precursoras do câncer de colo uterino, vulva, vagina e anal. O Ministério daSaúde (MS) recomenda a colpocitologia oncótica em todas as mulheres entre 25 a 64 anos de idade que tem vida sexual ativa ou já ti- veram. As diretrizes do MS orientam dois exames normais num intervalo de um ano e depois a cada três anos. Para as mulheres vivendo com HIV/Aids, o re- comendado são exames semestrais por um ano, que se normais passam a ser realizados uma vez por ano. Devido à importância que vem ganhando nos últimos tempos, a seguir discutiremos de forma isolada, a sífilis, acompanhe. Sífilis A erradicação da sífilis congênita é uma preo- cupação mundial que conta com os esforços da OMS, OPAS e MS. O Comitê Regional para Validação da Eliminação da Transmissão Ma- terno-Infantil de HIV e Sífilis definido pela OPAS em 2014 certifica os países que conseguem al- cançar alguns números. O Brasil lançou como resposta a Agenda da Sífilis Congênita. Acom- panhe no esquemático da próxima página. 45 45 Saúde sexual e saúde reprodutiva no contexto das especificidades e vulnerabilidades Saúde sexual e saúde reprodutiva das mulheres UN2 O lançamento da Rede Cegonha foi em 2011 pelo Governo Federal, que entre seus objetivos busca facilitar o diagnóstico e tratamento por meio de testes rápidos em gestantes, princi- palmente o de HIV e sífilis. Em 2013 ocorreu um aumento das notifica- ções dos casos de sífilis em gestantes em função da implantação da Rede Cegonha, que proporcionou acesso mais facilitado ao diag- nóstico por meio dos testes rápidos. A taxa de detecção de sífilis naquele ano foi de 7,4 ca- sos em gestantes para cada 1000 nascidos vi- vos. O novo boletim epidemiológico referente a sífilis (2016), identificou que a sífilis adquiri- da teve um aumento de 32,7%, a sífilis em ges- tantes 20,9% e congênita, de 19%, entre 2014 e 2015. Em 2015, a taxa de detecção foi 11,2 casos por 1000 nascidos vivos em gestantes e a sífilis congênita 6,5 por 1000 nascidos vivos. Ressalta-se ainda que o incremento entre os anos de 2013 e 2014 foi de 26,77% e entre os anos de 2014 e 2015 foi de 20,91% no número
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