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Aula 9

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02/10 – Aula 9: Responsabilidade Civil do Estado.
	Quadro:
Responsabilidade Civil do Estado
1 A teoria do risco administrativo
1.1 O forte componente jurisprudencial
1.2 Irrelevância da licitude do ato estatal
1.3 Atos de império e atos de gestão: distinção superada
2 Quem são os agentes públicos?
2.1 Alargamento conceitual e questões conexas
3 Danos causados por pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos
3.1 As chaves hermenêuticas relevantes
3.2 Distinguindo atividade econômica de serviço público
3.3 Serviços públicos sociais
4 Excludentes da responsabilidade civil estatal
5 Excludentes da ilicitude da ação ou omissão estatal
6 Responsabilidade estatal por ato de outrem: subsidiariedade ou solidariedade?
7 Responsabilidade civil do Estado por atos legislativos
7.1 As distorções funcionais do Legislativo e as manifestações populares
7.2 Atos normativos estatais como origem de danos indenizáveis
7.3 Responsabilidade civil e dever de legislar: casos de omissão legislativa
7.4 Imunidade parlamentar
7.4.1 Responsabilidade do Estado pelos atos praticados à luz da imunidade material
8 Responsabilidade civil por atos judiciários
8.1 Prisões indevidas: dificuldades e critérios hermenêuticos
8.2 Pode haver responsabilidade civil do magistrado pelos danos?
8.3 A coisa julgada é óbice à indenização por erro judicial?
9 Responsabilidade civil do Estado por omissão
9.1 Polêmica doutrinária e jurisprudencial: responsabilidade subjetiva ou objetiva?
9.2 O nexo causal na responsabilidade civil por omissão
9.2.1 O Estado tinha o dever de evitar o dano?
9.2.2 A responsabilidade civil estatal por danos ligados à violência urbana
	CAPÍTULO III
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
1. A TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO
Pela magnitude das funções estatais – sobretudo num país continental, como o Brasil –, as ocasiões e possibilidades do Estado causar danos aos cidadãos são imensas. Não só aos cidadãos, mas também, naturalmente, às pessoas jurídicas (imaginemos que a Polícia Federal, cumprindo mandado judicial de busca e apreensão, equivoca-se quanto ao endereço, e apreende computadores de outra empresa, cujos dados são perdidos). Não só agindo (realizando concursos públicos fraudulentos), mas também deixando de agir (imaginemos que a ausência de fiscalização de uma obra esteja ligada, em nexo de causalidade, ao seu desabamento, atingindo outros moradores. Ou, como ocorre
com frequência, tragédias no trânsito decorrentes de falhas na sinalização ou buracos na rodovia. Ou ainda pela ausência de atendimento em hospital público). Em grande parte dos casos, os cidadãos pouco ou nada podem fazer diante dos danos causados (pensemos na mais dramática hipótese: cidadão preso por engano e esquecido, por anos, na cadeia).
1.1. O FORTE COMPONENTE JURISPRUDENCIAL
A responsabilidade civil traz consigo uma flexibilidade orgânica, isto é, ela trabalha com conceitos abertos, cláusulas gerais, conceitos jurídicos indeterminados (o juiz, para decidir um caso de responsabilidade civil, deve apreciar se houve ou não um dano; se o dano é relevante; se há nexo causal entre o dano e a ação ou omissão; e, em caso afirmativo, de quanto deve ser a indenização). Sem falar dos casos em que a vítima invoca agressões à dignidade humana, abusos de direito, danos causados em virtude de atividades perigosas. Ou pede indenizações que, além de compensar, tenham efeito pedagógico, ou que punam o agressor naqueles casos em que houve brutal menosprezo à pessoa humana.
1.2. IRRELEVÂNCIA DA LICITUDE DO ATO ESTATAL
No Brasil, a responsabilidade civil – seja do Estado, seja dos particulares – não resulta apenas de atos ilícitos. O Código Civil, explicitamente, prevê a responsabilidade civil decorrente de atos em estado de necessidade (Código Civil, art. 929) e também em legítima defesa (Código Civil, art. 930, parágrafo único). Embora preveja esse dever de indenizar, o mesmo Código reconhece que tanto o estado de necessidade como a legítima defesa são atos lícitos (Código Civil, art. 188, I e II). Voltaremos ao tema adiante.
1.3. ATOS DE IMPÉRIO E ATOS DE GESTÃO: DISTINÇÃO SUPERADA
É antiga e conhecida a distinção entre atos de império (acta jure imperii) e atos de gestão (acta jure gestionis). Nos primeiros, atos de império, o Estado atua valendo-se do poder estatal, naquelas funções em que se reconhece poder diferenciado ao Estado (legislar, julgar, utilizar as forças armadas etc.). Nos segundos, atos de gestão, o Estado atua como um particular atuaria (dirigindo um carro, alugando um imóvel, contratando um show etc.).
Em ambas as situações podem ocorrer danos. O Estado pode julgar errado e encarcerar por décadas um inocente (ato de império). O Estado pode, dirigindo um veículo (através do agente público), cruzar um sinal vermelho e causar gravíssimo acidente (ato de gestão). É preciso deixar claro que, no direito interno, em matéria de responsabilidade civil do Estado, a distinção não tem nenhuma pertinência. Hoje, portanto, no direito brasileiro, tanto atos de império (legislar, julgar etc.), como atos de gestão (dirigir um carro, alugar um imóvel), podem fazer surgir a responsabilidade civil do Estado
2. QUEM SÃO OS AGENTES PÚBLICOS?
Fundamental, na responsabilidade civil do Estado, é definir quem são os agentes públicos. Se o Estado responde civilmente, responde pelas ações ou omissões dos agentes públicos. A expressão agentes públicos não constava das cartas constitucionais anteriores. Foi uma das inovações da Constituição de 1988, que substituiu a expressão funcionários públicos pela expressão agentes públicos. Um dos juristas que propuseram, com ênfase, a mudança, foi o admirável Miguel Seabra Fagundes. Havia, na verdade, certa crítica doutrinária, desde meados do século passado, alertando que a expressão funcionário público não era a mais adequada. A expressão, no rigor conceitual, poderia fazer crer que necessitávamos, para imputar a responsabilidade civil do Estado, de alguém com vínculo estatutário com a administração, tendo sido submetido a concurso público e percebendo vencimentos. Nada disso é necessário, basta que tenhamos o desempenho de uma função pública.
2.1. ALARGAMENTO CONCEITUAL E QUESTÕES CONEXAS
A tendência, conforme frisamos, é ampliar o conceito de agente público. Em outras palavras, a tendência é interpretar extensivamente o rol de pessoas por cujos atos ou omissões o Estado civilmente responde. Até onde vai esta ampliação? Mesmo os chamados terceirizados, agentes sem vínculo de trabalho com a administração, podem fazer surgir a responsabilidade do Estado? Se, no passado, poderia haver polêmica doutrinária em relação à classificação dos terceirizados como agentes públicos, de modo a atrair a responsabilidade civil do Estado, hoje a questão parece tranquila, afirmando-se, de modo claro, essa possibilidade.
3. DANOS CAUSADOS POR PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO PRESTADORAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS
3.1. AS CHAVES HERMENÊUTICAS RELEVANTES
Existem atividades que não podem ser delegadas pelo poder público (emissão de moeda, forças armadas, diplomacia). Existem outras que podem e são delegadas aos particulares (telefonia, transporte urbano etc.). É preciso dizer que não há, no século XXI, a clareza que havia no passado no que diz respeito a atividades privativas do Estado. A linha de divisão ficou tênue. Atividades que antes sequer se imaginava a possibilidade de serem transferidas aos particulares hoje são, como ocorre nos presídios (que, reconheça-se, são presídios incomparavelmente melhores, à luz da dignidade humana e da segurança, do que os presídios administrados exclusivamente pelo Estado).
O conceito de serviço público é importante para o nosso tema porque, ao disciplinar a responsabilidade civil do Estado, o art. 37, § 6º, da Constituição fala em pessoas jurídicas de direito privado “prestadoras de serviços públicos”. Há, portanto, em relação a elas, um regime diferenciado nos danos que causarem aos cidadãos. Pontua, com razão, Santos de Aragão que “o preceito denota a importânciada qualificação, ou não, de determinada atividade como serviço público já que lhe estabelece um regime específico de responsabilidade civil”.
3.2. DISTINGUINDO ATIVIDADE ECONÔMICA DE SERVIÇO PÚBLICO
Doutrina e jurisprudência distinguem o serviço público da atividade econômica explorada pelo Estado. Exemplos de atividade econômica explorada pelo Estado: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Petrobras. Há concorrência com outras empresas privadas. A eles se aplica o art. 173, § 1º, da CF (sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto às obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias; mandatos e avaliação de desempenho dos administradores; exigência de funcionamento dos conselhos de administração e fiscal e, também, em razão do caráter público que possuem, licitação para contratação de obras e serviços). Lembrando ainda que as empresas públicas e as sociedades de economia mista não podem gozar de privilégios não extensivos às do setor privado. Portanto, se as empresas públicas e as sociedades de economia mista prestam serviços públicos, a responsabilidade delas é objetiva. Já se as empresas públicas e as sociedades de economia mista desenvolvem atividade econômica, submetem-se ao regime jurídico próprio das demais empresas privadas.
3.3. SERVIÇOS PÚBLICOS SOCIAIS
Quando prestados pelo Estado, saúde e educação se caracterizam como serviços públicos sociais. Quando prestados por particulares, não são serviços públicos. São serviços de relevância social. Cabe observar que não há delegação estatal em relação a colégios ou faculdades. O exercício do serviço independe de concessão. Não há contrato administrativo. Há, é verdade, intensa regulação, pela relevância social da matéria. Mas não se trata de setor reservado ao Estado.
4. EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL ESTATAL
Responsabilidade objetiva significa, conceitualmente, que havendo dano, e estando tal dano ligado pela causalidade à ação ou omissão do ente objetivamente responsável, o dever se indenizar se impõe. A menos que o responsável demonstre o rompimento do nexo causal, provando as excludentes de responsabilidade civil. Daí se percebe a relevância do tema. O Estado, quando chamado a responder por eventuais danos, invoca (judicialmente) as excludentes de responsabilidade civil com certa frequência. Trata-se de uma das poucas defesas possíveis, sobretudo quando os fatos são incontroversos. Se estivermos diante de alguma excludente de responsabilidade civil, o Estado não indeniza a vítima. E não indeniza porque houve a ruptura do nexo causal.
5. EXCLUDENTES DA ILICITUDE DA AÇÃO OU OMISSÃO ESTATAL
As excludentes de ilicitude não se confundem com as excludentes de responsabilidade civil. As excludentes de responsabilidade civil, mencionadas no item anterior (caso fortuito ou força maior, culpa exclusiva da vítima, por exemplo), afastam a responsabilidade civil, porque rompem o nexo causal. Já as excludentes de ilicitude nem sempre provocam esse resultado. As excludentes de ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular de direito e estrito cumprimento de dever legal) excluem a contrariedade ao direito da conduta, a ilicitude do ato. Isso, porém, não significa que esteja excluído o dever de indenizar. Vejamos brevemente as situações possíveis.
Quem pratica um ato em legítima defesa pratica um ato lícito (CC, art. 188, I). O Código Civil explicitamente afastou a ilicitude do ato. Sob o prisma civil, haverá dever de indenizar, se alguém, agindo em legítima defesa, causou um dano a outrem? A resposta será: depende. Se o dano foi causado ao próprio agressor, não haverá dever de indenizar. Se, porém, a vítima, ao exercer a legítima defesa, atinge outra pessoa que não o agressor (aberratio ictus), haverá dever de reparar o dano (CC, art. 930, parágrafo único).
6. RESPONSABILIDADE ESTATAL POR ATO DE OUTREM: SUBSIDIARIEDADE OU SOLIDARIEDADE?
A jurisprudência predominante no STJ entende que haverá responsabilidade civil do Estado, em matéria ambiental, quando a omissão do dever de fiscalizar for determinante para a concretização ou agravamento do dano.
Trata-se, porém, de responsabilidade subsidiária, cuja execução poderá ser promovida caso o degradador direto não cumpra a obrigação. Qualquer que seja a razão para que o degradador direto não cumprir a obrigação, o Estado responde. Assim, “seja por total ou parcial exaurimento patrimonial ou insolvência, seja por impossibilidade ou incapacidade, por qualquer razão, inclusive técnica, de cumprimento da prestação judicialmente imposta, assegurado, sempre, o direito de regresso (art. 934 do Código Civil), com a desconsideração da personalidade jurídica, conforme preceitua o art. 50 do Código Civil” (STJ, REsp 1.071.741, 2ª T., Min. Herman Benjamin, DJ 16.12.2010).
Em se tratando de danos causados por titular de cartório, a responsabilidade do Estado é subsidiária (STJ, REsp 1.087.862, Rel. Min. Herman Benjamin). A responsabilidade dos notários se equipara às das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos. Os serviços dos notários são exercidos por delegação estatal.
7. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR ATOS LEGISLATIVOS
7.1. AS DISTORÇÕES FUNCIONAIS DO LEGISLATIVO E AS MANIFESTAÇÕES POPULARES
Podemos pensar que os direitos fundamentais têm seu conteúdo definido não por modelos etéreos e apriorísticos, mas pelo diálogo social. Nesse sentido, a norma constitucional de hoje, porém, por certo não é aquela de 1988. A Constituição de 1988 não é a mesma de sua promulgação. Não falamos, obviamente, apenas das 73 emendas que alteraram – e por vezes deturparam – o seu texto. Falamos, isto sim, da construção diária e vivida: dos horizontes de sentido que o texto constitucional passou a ter para os brasileiros. Hoje é lugar comum falar, com Häberle, da sociedade
aberta dos intérpretes da Constituição, o que inclui intérpretes que não são aqueles que habitualmente associamos à hermenêutica jurídica. Seu campo é mais vasto, mais amplo. Seja como for, algo é certo, e parece irreversível: percebe-se, de modo crescente, a existência, na sociedade contemporânea, de espaços próprios da sociedade civil – espaços públicos, mas não estatais.
7.2. ATOS NORMATIVOS ESTATAIS COMO ORIGEM DE DANOS INDENIZÁVEIS
Não parece haver maiores disputas doutrinárias quanto à possibilidade da lei inconstitucional causar danos. Aceita-se, assim, que haja responsabilidade civil do Estado relativamente à lei inconstitucional. Para isso, contudo, exige-se a prévia declaração de inconstitucionalidade. O STF já afirmou que “a prerrogativa de legislar outorgada ao Estado constitui atribuição jurídica essencialmente limitada, ainda que o momento de abstrata instauração normativa possa repousar em juízo meramente político ou discricionário do legislador” (STF, ADI-MC 1.407-DF, Rel. Min. Celso de Mello, Pleno, DJ 24.11.2000).
7.3. RESPONSABILIDADE CIVIL E DEVER DE LEGISLAR: CASOS DE OMISSÃO LEGISLATIVA
O STF, em mais de uma ocasião, foi chamado a analisar a questão. A jurisprudência brasileira tem analisado o tema sobretudo a propósito de leis que tratam de reajustes de vencimentos de servidores públicos. Há porém um amplíssimo campo que se abre em relação ao dever de legislar, que eventualmente se impõe ao Estado. A Constituição pode ser desrespeitada de várias formas – umas delas é deixando de editar certas leis. Pontes de Miranda, aludindo ao desrespeito disfarçado (e, por isso mesmo, mais perigoso) à Constituição, desabafava: “Se o direito penal fosse mais realista, seria esse o crime maior.”
7.4. IMUNIDADE PARLAMENTAR
Os danos causados pelos parlamentares, no exercício de sua função, excluem a responsabilidade civil? Em outras palavras: a imunidade parlamentar, materialmente falando, limita-se à esfera penal? Ou engloba, também, a responsabilidade civil? O STF, na tradição jurisprudencial brasileira, sempre respondeu de modo afirmativo, argumentando que a inviolabilidade parlamentar elide não apenas a imputabilidade penal do parlamentar,mas também a sua responsabilidade civil por danos oriundos da manifestação coberta pela imunidade ou pela divulgação dela (STF, RE 210.917, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Pleno, DJ 18.6.2000). Afasta-se, portanto, a possibilidade de responsabilização civil.
7.4.1. RESPONSABILIDADE DO ESTADO PELOS ATOS PRATICADOS À LUZ DA IMUNIDADE MATERIAL
Hoje seria realmente contraditório e mesmo incompreensível sustentar que, havendo dano indenizável, o Estado não responde. Aguiar Dias recorda que a responsabilidade civil do Estado evolui no sentido de existir sempre que há ruptura da igualdade dos cidadãos diante dos encargos públicos.102 Lembremos que estamos falando de autores que escreveram numa época em que as garantias democráticas (quando existiam) eram bastante frágeis, não havia desenvolvimento da teoria dos direitos fundamentais, a própria responsabilidade objetiva do Estado era mais uma promessa do que uma realidade.
8. RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATOS JUDICIÁRIOS
A jurisprudência reconheceu se tratar do mais grave atentado à dignidade humana já acontecido na sociedade brasileira. A Ministra Denise Arruda diagnosticou: “Mostra simplesmente uma falha generalizada do Poder Executivo, do Ministério Público e do Poder Judiciário.” O Ministro Teori Zavascki lamentou: “Esse homem morreu e assistiu sua morte no cárcere.” O processo de indenização se arrastou por mais de dez anos, e, embora o STJ tenha concedido vultosa indenização – cerca de dois milhões de reais, entre danos morais e materiais –, o ex-mecânico, cego e tuberculoso, morreu justamente no dia em que soube que ela seria liberada. A ficção, às vezes, perde para a vida em ironia.
8.1. PRISÕES INDEVIDAS: DIFICULDADES E CRITÉRIOS HERMENÊUTICOS
Se é certo que nem toda prisão que não for seguida de decisão condenatória definitiva gera responsabilidade civil perante o Estado, há casos, contudo, em que o dever de indenizar se configura. As circunstâncias devem iluminar as soluções, banhadas em razoabilidade. O tema, enfim, é difícil e exige cautela. Nem toda prisão cautelar posteriormente revogada (ou reformada) dará ensejo à indenização. Cremos que, como princípio hermenêutico, deve-se assentar o seguinte: “Se o agente não foi, ele mesmo, fonte do risco da aparência de indícios da prática de um facto criminoso não deverá recair sobre si o ônus da suportar todos os custos da privação da liberdade sem qualquer posterior reparação.”A conclusão está de acordo com os princípios que expusemos neste livro: a primazia do interesse da vítima e a solidariedade social.
8.2. PODE HAVER RESPONSABILIDADE CIVIL DO MAGISTRADO PELOS DANOS?
Em regra o magistrado não responde pelos danos que advierem de sua decisão. Apenas em circunstâncias muito excepcionais isso se fará possível. A regra no Brasil é a responsabilidade objetiva do Estado e subjetiva do agente público. O Estado, depois de indenizar a vítima, deverá propor ação de regresso contra o agente, provando-lhe a culpa. Há casos, porém, em que a legislação não se satisfaz apenas com a prova de culpa (negligência, imperícia e imprudência), exigindo o dolo para que haja responsabiliza- ção pessoal do agente público. O juiz responde pessoalmente por danos (materiais ou morais) quando, no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude. O mesmo vale para o membro do Ministério Público. O Código de Processo Civil, no art. 133, estabelece: “Responderá por perdas e danos o juiz, quando: I – no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude.” A Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Lei Complementar nº 35/79), no art. 49, repetindo o dispositivo, prescreve: “Responderá por perdas e danos o magistrado, quando: I – no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude.” Em relação ao Ministério Público, o CPC, art. 85, consigna: “O órgão do Ministério Público será civilmente responsável quando, no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude.” É preciso lembrar que a fraude, sendo intencional, confunde-se com o dolo.
8.3. A COISA JULGADA É ÓBICE À INDENIZAÇÃO POR ERRO JUDICIAL?
Os argumentos de parte a parte são sólidos e consistentes. Ponhamos a questão em termos simples: a desconstituição do julgado – onde estaria o erro judicial – é antecedente necessário da ação de indenização? Digamos que um inocente foi condenado em processo criminal. Para que seja proposta a ação de indenização (danos morais e materiais), é preciso esperar a desconstituição do julgado criminal, através da revisão criminal? Cremos que a resposta será negativa. A desconstituição do julgado causador de dano, seja civil ou criminal, não é imprescindível.
9. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR OMISSÃO
9.1. POLÊMICA DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL: RESPONSABILIDADE SUBJETIVA OU OBJETIVA?
O STJ, atualmente, tende a trilhar a concepção subjetivista na omissão estatal. São muitos os julgados nesse sentido. O que nos parece indevido, nos acórdãos, não é a adoção dessa ou daquela linha teórica (somos livres para interpretar o direito à luz de nossas convicções e percursos argumentativos próprios, é afinal de contas uma das belezas do direito). O que nos parece indevido é a afirmação, feita em certas ementas, de que a matéria é pacífica – absolutamente não é. Nem na doutrina nem na jurisprudência. O STF, em muitos acórdãos, adota visão oposta, como se verá adiante.
9.2. O NEXO CAUSAL NA RESPONSABILIDADE CIVIL POR OMISSÃO
Conforme frisamos anteriormente, o Brasil – em relação ao nexo causal – adotou a teoria do dano direto e imediato (STJ, REsp 858.511, Rel. p/ acórdão Min. Teori Zavascki, 1ª T., DJ 15.9.2008). O STJ explicitamente reconheceu que a teoria adotada no Brasil, em relação ao nexo causal, é a teoria do dano direto e imediato, também chamada teoria da interrupção do nexo causal. Nessa ordem de ideias, é preciso verificar se houve outras causas, além da omissão do poder público, que foram a causa direta e imediata do dano.129 Na omissão fica claro que o nexo causal é um vínculo lógico-normativo (STJ, REsp 858.511, Rel. Min. Teori Zavascki, 1ª T., DJ 15.9.2008). Se as normas jurídicas não estabelecessem o nexo de imputação entre a omissão e o dever de indenizar, não haveria efeito a partir da omissão. Se o nexo causal é questão das mais relevantes em qualquer análise da responsabilidade civil, nos casos de danos ligados a omissões, ele é ainda mais definidor e mais complexo. Não é simples nem fácil caracterizar com clareza o nexo causal que liga a omissão ao dano.
9.2.1. O ESTADO TINHA O DEVER DE EVITAR O DANO?
O Estado, por algumas omissões, não por todas. Não é possível responsabilizar o Estado – diz-se – porque, num bairro escuro e vazio, quatro indivíduos espancaram covardemente alguém até a morte. O Estado não é um segurador universal, argumenta-se, não pode responder por todos os danos, por todos os crimes. Já seria diferente a situação se o preso tivesse sido arrebatado da delegacia e linchado na rua – como terrivelmente aconteceu no Nordeste, há pouco tempo. Ou mesmo se acontece um linchamento frente a policiais impassíveis. Nestes dois últimos casos, concretiza-se, precisa-se, delimita-se o nexo causal entre a omissão estatal e o dano.
9.2.2. A RESPONSABILIDADE CIVIL ESTATAL POR DANOS LIGADOS À VIOLÊNCIA URBANA
O STJ reconheceu a responsabilidade do Estado pelo estupro de menor, mesmo que o estupro não tenha partido de agente estatal. O estupro, no caso, ocorreu no retorno da garota para casa, tendo sido liberada antes do horário do fim das aulas em virtude da ausência de professor. A demanda foi negada tanto em primeira como em segunda instância. O STJ, no entanto, reformou o acórdão, impondo a responsabilidade estatal.
Também no STF a teoria da responsabilidade estatal pelos danos relacionados à segurança pública começa a se esboçar. A Suprema Corte entendeu configurada grave omissão, permanente e reiterada, do Estado de Pernambuco, em “prestar o adequado serviço de policiamento ostensivo, nos locais notoriamente possível de práticas criminosas violentas, o que também ocorreria em diversos outrosEstados da Federação. Em razão disso, o cidadão teria o direito de exigir do Estado – o qual não poderia se demitir das consequências que resultariam do cumprimento do seu dever constitucional de prover segurança pública – a contraprestação da falta desse serviço”.
Ressaltou-se que situações configuradoras de falta de serviço podem acarretar a responsabilidade civil objetiva do Poder Público, considerado o dever de prestação pelo Estado, a necessária existência de causa e efeito, ou seja, a omissão administrativa e o dano sofrido pela vítima, e que, no caso, estariam presentes todos os elementos que compõem a estrutura dessa responsabilidade (STF, STA 223-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário, j. 14.4.2008).
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