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GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS DE SAÚDE Eduardo Neves da Cruz de Souza Qualidade de vida nas organizações de saúde Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar qualidade de vida nas organizações da saúde e identificar os principais elementos associados. Identificar ações de interferência e melhoria da qualidade de vida em organizações de saúde. Descrever ações simples e rotineiras que podem influenciar posi- tivamente na melhora da qualidade de vida dos trabalhadores nas organizações. Introdução Ao longo da história, o ambiente de trabalho sempre foi motivo de risco; porém, as incapacidades estão continuamente sendo mais bem contro- ladas por meio de diversas tecnologias, propiciando ao trabalhador um ambiente mais seguro e confortável. Na vida cotidiana dos trabalhadores, há um aumento progressivo da busca pelo conforto e melhor condição de vida. No entanto, o risco à saúde pelo excesso de trabalho, entre outros fatores, parece ser impeditivo da satisfação de necessidades e de desejos cada vez mais exigentes na vida em sociedade. Essa relação entre trabalho e qualidade de vida é destacada quando existe relação direta entre ambas, refletindo para melhor ou pior a vida de cada indivíduo. Percebe-se ainda que o trabalho associado ao prazer acaba sendo um elemento importante para gerar qualidade de vida. Diante disso, o presente capítulo irá tratar de forma clara e objetiva a qualidade de vida nas organizações de saúde, visando identificar os principais elementos associados ao tema. Além disso, serão examinadas as ações de interferência e melhoria da qualidade de vida em organi- zações de saúde e ações simples e rotineiras que podem influenciar positivamente na melhora da qualidade de vida dos trabalhadores em organizações do setor. Qualidade de vida nas organizações de saúde O conceito de qualidade de vida vem sendo utilizado constantemente nos campos da saúde e do trabalho com o objetivo de identifi car indicadores que possam ser modifi cados pela implementação de políticas de saúde ou estraté- gias de gestão empresarial. Muitos são os fatores que afetam a qualidade de vida do ser humano moderno, entre eles o meio ambiente físico, sua condição psíquica e suas relações sociais, que ainda pode ser subdivididos em: condições ambientais, família, saúde, cultura, lazer, educação, políticas governamentais, o próprio indivíduo e o trabalho. Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu qualidade de vida como a percepção do indivíduo em relação a sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (SEIDL; ZANNON, 2004). Entretanto, não há um consenso quanto à definição da qualidade de vida no trabalho, mas podemos entendê-la como um programa que visa facilitar e satisfazer as necessidades do trabalhador ao desenvolver suas atividades na organização, tendo como ideia básica o fato de que as pessoas são mais pro- dutivas quanto mais estiverem satisfeitas e envolvidas com o próprio trabalho. Nesse contexto, Assunção e Oliveira (2012) identificaram dimensões que descrevem a qualidade de vida, sendo o nível de bem-estar no ambiente de trabalho: valor intrínseco do trabalho; desenvolvimento de competências e habilidades para a carreira; igualdade de gênero; saúde e segurança; inclusão e acesso ao mercado de trabalho. Entre os fatores que contribuem para a qualidade de vida de um indivíduo, o trabalho talvez seja um dos mais marcantes por dois motivos: é por meio do trabalho que as pessoas conseguem ter acesso à educação, à cultura e ao lazer; e, de um modo geral, o indivíduo passa a maior parte ativa de seu tempo trabalhando. A qualidade de vida no trabalho está diretamente relacionada à satisfação e ao bem-estar do indivíduo na execução de suas tarefas e é indis- pensável no que diz respeito à produtividade e à competitividade, fatores sem os quais uma organização não sobreviveria no mercado (BITTENCOURT et al., 2010). Qualidade de vida nas organizações de saúde2 Ações de melhoria para qualidade de vida nas organizações de saúde Os profi ssionais da saúde atuam em condições que há muito tempo têm sido consideradas inadequadas, devido às especifi cidades do ambiente e às ativi- dades insalubres por eles executadas. O desgaste físico e emocional, a baixa remuneração e o desprestígio social são fatores associados às condições de trabalho do enfermeiro, que vêm refl etindo negativamente na qualidade da assistência prestada ao cliente, levando ao abandono da profi ssão e à con- sequente escassez de profi ssionais no mercado de trabalho (BECK; BUDÓ; GONZÁLES, 2006). Os achados de inúmeros estudos sobre o estresse e a qualidade de vida no trabalho dos profissionais da área da saúde revelam que sua saúde física e psicológica apresenta algum grau de comprometimento, tais como: dores crônicas, insatisfação com o sono, dependência de medicamentos, depressão, entre outros. No caso específico de médicos e enfermeiros, altos esforços, demandas físicas, psicológicas e a insegurança no trabalho repercutem na qualidade de sua vida laboral (BITTENCOURT et al., 2010). A deficiente estrutura física das dependências hospitalares e a falta de recursos materiais adequados se destacam entre os fatores estressantes para quem atua no setor. Tal situação compromete a segurança do trabalhador e a assistência prestada ao paciente (CECAGNO et al., 2012). Consequentemente, a estrutura física das dependências hospitalares tam- bém é considerada significativa para a qualidade de vida da equipe de saúde, afinal, estes profissionais permanecem grande parte de suas vidas no local de trabalho, e este deveria proporcionar-lhes oportunidade de desempenhar suas funções num ambiente que tivesse estrutura física apropriada, evitando prejuízos à sua saúde, ou seja, com espaço adequado para descansar com segurança, tranquilidade e local específico para realizar as suas refeições. A insatisfação com a remuneração devido aos baixos salários oferecidos às categorias também é destacada entre os fatores prejudiciais. Em virtude disso, a maioria dos trabalhadores da saúde, em especial da enfermagem, é obrigada a optar por mais de um emprego, o que leva essas categorias a permanecerem no ambiente dos serviços de saúde a maior parte do tempo de suas vidas produtivas. As duplas jornadas de trabalho enfrentadas para melhora da renda aumen- tam o tempo de exposição dos profissionais aos riscos existentes nos hospitais. Na percepção dos profissionais, uma remuneração financeira digna constitui um fator significativo na determinação da motivação para o trabalho e satis- 3Qualidade de vida nas organizações de saúde fação com a qualidade de vida. A remuneração condizente com as atividades exercidas adquire um significado importante para o trabalhador, pois, além de responder às necessidades básicas, assume um papel de reconhecimento pelas ações desenvolvidas (CECAGNO et al., 2012). O trabalho no período noturno é uma opção permeada por necessidades financeiras, servindo para se adequar aos horários de diferentes vínculos empregatícios. A influência disso na qualidade de vida dos enfermeiros é evidenciada pela existência de fatores relacionados a aspectos físicos, psíquicos e sociais. A alteração no padrão do sono destacou-se como fator significativo para os desgastes de natureza física e psíquica, além de acarretar em prejuízos relacionados com o aspecto social, por influenciar no convívio familiar e na disponibilidade para atividades sociais (DANTAS; GÓIS; SILVA, 2009). A síndrome de burnout é uma doença que causa a sensação de exaustão completa no trabalho, inferioridade em relação aos demais colegas, isolamento, angústia para ir trabalhar e a impressão de que nada do que você faz é satisfatório. Sendo assim, o burnout no trabalho se refere a quadros críticos deestresse acentuado que geram consequências negativas para o profissional e, em alguns casos, para as organizações como um todo. Ações simples e rotineiras para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores nas organizações Todo o processo de trabalho no ambiente hospitalar está envolvido com in- tervenções que em sua maioria são desgastantes e estressantes. Isso exige a todo momento análise crítica e destreza manual, já que não existe margem alguma para erros e falhas. Como se não bastasse, tais ambientes costumam apresentar um excesso de cobrança e avaliação. Este processo de trabalho maçante ainda inclui fatores como a difi culdade de se manter positivo com a equipe multiprofi ssional, prestar um trabalho alinhado as políticas que determinam toda a prática e assistência de saúde, o que pode ser ainda mais cansativo devido à falta de recursos materiais e humanos adequados geram Qualidade de vida nas organizações de saúde4 insatisfação no trabalho e afetam diretamente a qualidade de vida de todos os envolvidos (SEIDL; ZANNON, 2004). Sendo assim, as ações diárias no trabalho influenciam diretamente na qua- lidade de vida laboral dos profissionais de saúde no ambiente hospitalar, devido aos elementos físicos e psicológicos a que estão expostos, como a deficiente estrutura ambiental e falta de materiais, a insatisfação com a remuneração, o comprometimento da qualidade de vida no trabalho, as jornadas duplas de trabalho, a sobrecarga das atividades, o dimensionamento de pessoal, o processo de trabalho desgastante, o trabalho noturno, a ausência de reconhecimento profissional e os acidentes de trabalho (BITTENCOURT et al., 2010). Diante deste contexto, recomenda-se a implantação de políticas e pro- gramas institucionais que visem a qualidade de vida dos profissionais, em especial os de enfermagem, buscando, mediante ações internas, preparar física e psiquicamente os trabalhadores, resultando em melhoria da qualidade de vida dos profissionais de enfermagem e da assistência prestada (DANTAS; GÓIS; SILVA, 2009). É essencial, portanto, a construção de espaços para refletir e planejar ações adequadas que visem atender às demandas referentes à qualidade de vida no trabalho no ambiente hospitalar, visto que os fatores identificados são referidos por integrantes das equipes de trabalho. Projetar essa identificação para outros setores do campo da saúde ocupacional também poderá ser útil como forma de acentuar a presença e o desempenho do profissional no ambiente de trabalho. Acessando o link a seguir, você encontrará um exemplo de síndrome de burnout entre enfermeiros de um hospital geral da cidade do Recife. https://qrgo.page.link/3WVUX 5Qualidade de vida nas organizações de saúde ASSUNÇÃO, A. A.; OLIVEIRA, D. A. Intensificação do trabalho e saúde dos professores. Educação & Sociedade, v. 30, n. 107, p. 349−372, 2012. Disponível em: http://www.scielo. br/pdf/es/v30n107/03.pdf. Acesso em: 8 jun. 2019. BECK, C. L. C.; BUDÓ, M. L. D.; GONZÁLES, R. M. B. A qualidade de vida na concepção de um grupo de professoras de enfermagem: elementos para reflexão. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 33, n. 4, p. 348−354, 2006. Disponível em: http://www.scielo. br/pdf/reeusp/v33n4/v33n4a04.pdf. Acesso em: 8 jun. 2019. BITTENCOURT, Z. Z. L. C. et al. Qualidade de vida em transplantados renais: importância do enxerto funcionante. Revista de Saúde Pública, v. 38, n. 5, p. 732−734, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v38n5/21764.pdf. Acesso em: 8 jun. 2019. CECAGNO, D. et al. Qualidade de vida e o trabalho sob a ótica do enfermeiro. Cogitare Enfermagem, v. 7, n. 2, p. 54−59, 2012. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/cogitare/ article/view/1669/1395. Acesso em: 8 jun. 2019. DANTAS, R. A. S.; GÓIS, C. F. L.; SILVA, L. M. Utilização da versão adaptada da escala de qualidade de vida de Flanagan em pacientes cardíacos. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 13, n. 1, p. 15−20, 2009. 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