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Neuropsicologia INTRODUÇÃO Especialidade em psicologia que associa o estudo detalhado do sistema nervoso à análise do comportamento humano e dos processos psicológicos. Buscando compreender como o cérebro influencia em nossas funções cognitivas que incluem: Atenção; Memória; Capacidade de julgamento; Raciocínio; Comportamento; Emoções. Através dela é possível identificar se as alterações de comportamento e das funções cognitivas de uma pessoa correspondem ao esperado para a idade ou para o contexto psicossocial do momento. INÍCIO DAS NEUROCIÊNCIAS Há evidências que sugerem que até mesmo nossos ancestrais pré-históricos compreendiam que o encéfalo era vital para a vida. Registros arqueológicos incluem muitos crânios de hominídeos, datando de um milhão de anos atrás, ou mais, e que apresentam sinais de traumatismo craniano fatal, provavelmente causado por outros hominídeos. Há cerca de 7 mil anos, as pessoas já perfuravam os crânios uns dos outros (um processo denominado trepanação), evidentemente não com o objetivo de matar, mas de curar. Esses crânios mostram sinais de cicatrização pós- operatória, indicando que esse procedimento teria sido executado em indivíduos vivos e não em um ritual ocorrido pós-morte. Alguns indivíduos aparentemente sobreviveram a múltiplas cirurgias cranianas. Não está claro o que os cirurgiões dessas épocas esperavam conseguir, embora se tenha especulado que esse procedimento poderia ser utilizado para tratar cefaleias ou transtornos mentais, talvez oferecendo aos maus espíritos uma rota de escape. FRANZ JOSEPH GALL (1757-1828) Médico e neuroanatomista alemão, analisa as conformações da cabeça atribuindo as faculdades mentais e/ou aptidões às protuberâncias existentes na caixa craniana; apresentou um mapa contendo 35 faculdades intelectuais e emocionais. Surge o localizacionismo. Faz o primeiro dos famosos mapas do cérebro humano, dividindo a superfície do crânio em 27 fatias, distinguindo tanto funções psíquicas quanto motrizes. Usando um método precário, ainda assim acertou as áreas das palavras e da memória das palavras, localizada na região frontal do cérebro. Assim, Gall abriu o caminho das localizações cerebrais De acordo com Gall e seus seguidores, diferentes traços do comportamento humano estariam relacionados com o tamanho de diferentes partes do crânio. FRENOLOGIA Pseudociência que usa medidas do crânio humano para determinar traços de personalidade, talentos e habilidade mental. Esta teoria, desenvolvida por Franz Joseph Gall, tornou- se popular no século 19 durante a era vitoriana. Suas ideias contribuiriam para outras teorias emergentes, como evolução e sociologia. A frenologia é considerada uma pseudociência porque suas afirmações não são baseadas em fatos científicos. Sua lista original de 26 órgãos é a seguinte: (1) instinto de reprodução; (2) amor dos pais; (3) fidelidade; (4) legítima defesa; (5) assassinato; (6) astúcia; (7) senso de propriedade; (8) orgulho; (9) ambição e vaidade; (10) cautela; (11) aptidão educacional; (12) sensação de localização; (13) memória; (14) memória verbal; (15) idioma; (16) percepção de cores; (17) talento musical; (18) aritmética, contagem e tempo; (19) habilidade mecânica; (20) sabedoria; (21) lucidez metafísica; (22) sagacidade, causalidade e senso de inferência; (23) talento poético; (24) boa natureza, compaixão e senso moral; (25) imitar; (26) e senso de Deus e religião. A frenologia era usada para dar conselhos de carreira em perspectiva para crianças pequenas, para encontrar amantes compatíveis e para garantir que um funcionário em potencial fosse honesto. PAUL BROCA (1824-1880) Foi atribuído ao mérito de influenciar a opinião da comunidade científica em relação ao estabelecimento da localização das funções cerebrais. Broca foi apresentado a um paciente que compreendia a linguagem, mas era incapaz de falar. Após a morte do paciente, em 1861, ele examinou cuidadosamente o encéfalo deste e encontrou uma lesão no lobo frontal esquerdo. Com base nesse caso e em muitos outros casos semelhantes, Broca concluiu que essa região do cérebro humano era especificamente responsável pela produção da fala. “Nós falamos com o hemisfério esquerdo”. CARL WERNICKE (1848-1904) Lesão no córtex temporal do hemisfério cerebral esquerdo Afasia de Wernicke A palavra “afasia” vem do grego aphasia, e significa “enfraquecimento ou perda da faculdade de transmissão ou compreensão das ideias em qualquer de suas formas, sem lesão dos órgãos vocais." Como a afasia é um distúrbio da linguagem, e não um déficit sensorial ou motor, tanto a linguagem falada quanto a escrita são afetadas. Lesões na área de Wernicke são responsáveis por causar a famosa afasia de Wernicke, ou afasia sensorial. Ela ocorre por lesões nos giros angular, supra-marginal ou temporal superior do hemisfério dominante. O paciente com afasia de Wernicke tipicamente tem uma fala fluente, mas o discurso é caracterizado por erros parafásicos, com escolha incorreta de palavras e mistura de sílabas, sendo referido como uma “salada de palavras”. O paciente tem dificuldade de compreender o que é dito a ele e não consegue repetir. CASO PHINEAS GAGE (1823-1861) Phineas Gage era um jovem americano comum de 25 anos, até que, em 1848, uma explosão acidental durante a construção de trilhos colocou uma barra de ferro de um metro atravessando seu crânio de forma bizarra. Mas ele não morreu. Phineas passou por tempos difíceis durante a recuperação após a remoção e quase faleceu de um abcesso (infecção na ferida, que de acordo com os registros chegou a ter 250mL de pus, líquido resultante do metabolismo de bactérias, fragmentos de células e sangue). Após quase três meses sob cuidados médicos, Phineas voltou para casa dos pais e começava a retornar para as tarefas do cotidiano, aguentando meia jornada de trabalho. Porém, a mãe dele logo notou que parte da memória dele parecia prejudicada, apesar de segundo os relatos do médico, a memória, capacidade de aprendizado e força motora de Gage ter sido inalterada. Com o passar do tempo, o comportamento de Gage já não era mais o mesmo de antes do acidente. Gage parecia ter perdido parte do tato social, e se tornou agressivo, explosivo e até mesmo profano. O antes doce rapaz, se tornou inconsequente e rude e abandonara os planos para o futuro, não tendo constituído família. Ele não conseguiu recuperar o emprego, e por anos se tornou uma espécie de museu ambulante, afinal como um homem tem o cérebro atravessado por uma barra e ousa sobreviver? Sem maiores danos? Era um caso tão notório, que por dois anos a comunidade médica se recusava em acreditar! Como o caso ocorreu no interior, o médico que acompanhou Phineas, John Harlow, teve que atestar a autenticidade perante advogados. John e Phineas também viajaram para Boston rumo a faculdade de medicina para expor o caso. O caso de Phineas Gage deu material para dois fortes temas de pesquisa e debate no século seguinte: a personalidade como produto do cérebro com as relações mente-cérebro e funções localizadas em áreas específicas do cérebro. Afinal, se um acidente é capaz de mudar como uma pessoa age no cotidiano por danificar o cérebro, a personalidade está então armazenada na cabeça. Alguns afirmam que o caso de Gage serviu como rompante para o desenvolvimento da psicocirurgia e até da lobotomia, entretanto sem evidências concretas. Foram os relatos do caso de Phineas que voltaram a atenção de cientistas para o lobo frontal como região associada a características da personalidade, além da possibilidade de sobrevivência após uma lesão tão brusca que de acordo com o médico, “derramava cérebro” quando eletossia. Ganhando atenção principalmente com o fim da frenologia, uma pseudociência que buscava investigar a forma física do crânio e do cérebro e, a partir desses dados, atribuir o quão inteligente ou capaz uma pessoa poderia ser. A frenologia foi muito usada para sustentar o racismo e ideologias de supremacia branca, mas com o aumento de evidências de que não passava de pseudociência (ou seja, com as posteriores análises dos relatos médicos do acidente e sobrevida de Phineas, se instalava a “Era Localista” da neurociência). Antes do caso de Phineas, Herbert Spencer já propunha que cada região do cérebro poderia ter uma designada função e dizia “Localização da função é a lei de toda organização”. Entretanto, devido as poucas evidências e relatos concretos sobre Phineas, os que eram contra os localistas também se aproveitaram do caso para promover que “Phineas teria tido a destruição dos centros da fala sem nunca ter tido prejuízo de linguagem ou fala”. Atualmente, o acidente de Phineas já foi simulado em computadores por pelo menos dois grupos de pesquisa. Em 2004, a reconstrução apontava que o dano teria sido nos dois “lados” do cérebro, mas em uma versão 3D mais recente apenas o lado esquerdo foi afetado. A análise mais recente, em 2012, estima que ele perdeu cerca de 15% de massa cerebral, tendo a barra de ferro levado parte do córtex e parte dos núcleos internos do cérebro. Isso justifica as alterações de comportamento e perdas de memória, afinal foram danificadas regiões como o córtex pré- frontal que é parte importante na tomada de decisões e planejamento. ALEKSANDER LURIA (1902-1977) É considerado o pai da Neuropsicologia. Sua teoria deve-se ao fato de se poder compreender o sistema nervoso como sendo um Sistema de Unidades Funcionais. A primeira unidade funcional regula o tono, a vigília e os estados mentais; a segunda unidade obtém, processa e armazena as informações que chegam do mundo exterior e a terceira unidade se encarrega de programar, regular e verificar a atividade mental OLIVER SACKS (1933-2015) Neurologista e escritor, teve seus estudos com pacientes neurológicos popularizados. Tornaram- se livros e filmes, sendo os mais famosos o homem que confundiu sua mulher com um chapéu e tempo de despertar. NEUROPSICOLOGIA NO BRASIL Neuropsicologia chega ao Brasil através das práticas da neurologia. Em São Paulo, o médico pediatra Antônio Branco Lefévre, considerado patrono e fundador da Neuropsicologia brasileira, defendeu em 1950 a tese intitulada "Contribuição para a psicopatologia da afasia em crianças", inaugurando um campo de produção científica e de práticas que pouco a pouco vêm se apurando no país. No ano de 1975 criou, na Clínica Neurológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o Setor de Atividade Nervosa Superior, marcado pela interdisciplinaridade e pela aproximação com a psicologia, notadamente através de Beatriz Helena Lefévre que, nos anos 1980, publicou o livro Neuropsicologia Infantil. Nessa mesma época, a psicóloga Cândida Helena Pires de Camargo introduziu a Neuropsicologia no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Em parceria com o Professor Raul Marino Junior, implementaram a avaliação neuropsicológica de pacientes com epilepsia e outros transtornos neurológicos. A interdisciplinaridade é a característica central da Neuropsicologia brasileira desde seus primórdios. A formação acontecia através de grupos de estudo que atraíam profissionais de diferentes áreas, tais como a Neurologia, a Psicologia, a Psiquiatria, a Fonoaudiologia e, posteriormente a Fisioterapia e a Terapia Ocupacional. Inúmeros estudos foram realizados e deles decorreram diversas publicações científicas. A neurologista paulistana Irene Abromovich escreveu o primeiro trabalho sobre apraxias bucofaciais, e a fonoaudióloga gaúcha, Maria Alice de Mattos Pimenta Parente, publicou em 1974 um estudo com pacientes afásicos da Escola Paulista de Medicina, ampliando as inter-relações entre a Neuropsicologia e a fonoaudiologia, sendo essa outra característica central da Neuropsicologia brasileira. A prática neuropsicológica no Brasil vem avançando a passos largos, por meio de intervenções em consultórios particulares e serviços interdisciplinares, de caráter público e privado, em especial naqueles vinculados a Instituições Públicas de Ensino. A formação e atuação do profissional psicólogo nas práticas neuropsicológicas ganhou impulso adicional a partir do ano de 2004, quando o Conselho Federal de Psicologia (CFP), através da resolução 002/2004, reconheceu a Neuropsicologia como especialidade em Psicologia para a finalidade de concessão e registro do título de especialista. De acordo com a referida Resolução, o neuropsicólogo é o profissional que "atua no diagnóstico, no acompanhamento, no tratamento e na pesquisa da cognição, das emoções, da personalidade e do comportamento sob o enfoque da relação entre estes aspectos e o funcionamento cerebral. Utiliza-se para isso de conhecimentos teóricos angariados pelas neurociências e pela prática clínica, com metodologia estabelecida experimental ou clinicamente. Utiliza instrumentos especificamente padronizados para avaliação das funções neuropsicológicas envolvendo principalmente habilidades de atenção, percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem, habilidades acadêmicas, processamento da informação, visuoconstrução, afeto, funções motoras e executivas. O profissional da psicologia que deseja obter o registro de especialista deve comprovar mais de cinco anos de experiência profissional na área, ou ter sido aprovado em concurso de provas e títulos, ou ter realizado um curso de especialização na área (curso este que deve contemplar 500 horas de atividade, estágios não incluídos). INTRODUÇÃO INÍCIO DAS NEUROCIÊNCIAS Franz Joseph Gall (1757-1828) Paul Broca (1824-1880) Carl Wernicke (1848-1904) Caso Phineas Gage (1823-1861) Aleksander Luria (1902-1977) Oliver Sacks (1933-2015) Neuropsicologia no Brasil
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