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Direito Natural e o Caso dos Exploradores de Cavernas

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Posicionamento sobre a condenação ou absolvição dos réus sobre o crime de homicídio, pautado em teorias Jusfilosóficas. (Livro: O caso dos Exploradores de Cavernas- Lon Fuller. Publicado em 1949)
Parecer:
Começo então meu posicionamento sobre a condenação dos réus de forma direta; está claro que os mesmos não devem ser condenados e a decisão do juiz de primeira vara, e do poder executivo, deve ser revogada. Durante a leitura do livro foram a mim apresentados 5 pontos de vistas de excelentes juízes fictícios, cada um com diferente arguição e ponto de vista referente ao caso, contudo, admito que sinto-me muito mais atraído ao parecer o juiz Foster e do juiz Handy. De adiantamento, devo expressar minha enorme admiração pelo poder de argumentação dos juízes Trupenny, Tatting e Keen, entretanto seus votos pareceram-me quase que completamente engessados na carta fria da lei, desconsiderando completamente a realidade do caso; o Estado de Natureza no qual estavam presentes. De certo que o parecer do juiz Foster já exemplificou e caracterizou brilhantemente o fator anteriormente citado, e em consonância a tal redigirei meu voto. Considero, particularmente, uma absurdidade o fato de que os colegas juízes decidiram negligenciar a realidade; é público e notório que a situação vivenciada por estes homens perpassava e em muito as questões que regem a sociedade normativa padrão. Obviamente que este fato não tem em nenhum âmbito relação com a distância que os mesmos estavam da sociedade, e sim pela condição que permeava o momento que se localizavam. Uma vez que tal situação estabeleceu-se, nossas leis normativas de Newgarth (Estado Fictício criado pelo autor) não tem quaisquer Jurisprudência, afinal foi estabelecido o Estado de Natureza entre eles, regido pelo Direito Natural, este imutável e invariável.
 Por conseguinte, entende-se por Direito natural todo aquele conjunto de leis que não tem a necessidade de compilação escrita, pois estão presentes e inerentes em qualquer ser humano. Com o estabelecimento de nossas residências, de nossas instituições e de nossa sociedade “civilizada”, passamos a comutar outras leis por meio de legislações, de modo que se possa ordenar a sociedade. Contudo é fato que o Direito Natural não desapareceu, apenas deixou de ser vigente momentaneamente por conta do estabelecimento da sociedade “civilizada”, suspendendo então o Estado de Natureza e nos sujeitando a um “Estado de Civilização”, logo, sem o Estado de Natureza, mesmo esse não deixando de existir, não há a aplicabilidade do Direito Natural. Não obstante a isso, é de suma entender que os juízes que avaliaram o caso dos exploradores de caverna estão regidos pelo “Estado de Civilização”, então, de mesmo modo que o Estado de Natureza não se aplica a nós, o Estado de Civilização não deve de forma alguma ter aplicabilidade para o caso destes mineiros.
 Em sequência, é importante entender quais leis estão previstas no Direito Natural. Estas, que em sua maioria fazem parte da inerência humana, tanto regem a nossa sociedade civilizada, quanto a que os mineiros se encontravam. Entre essas leis tem-se destaque no dever obrigatório da atuação da seleção natural, esta que por si só engloba várias vertentes, como o estado de competição, a busca por alimentos, a necessidade de se adaptar, ser melhor que seu concorrente e a procura da sobrevivência. Vertentes estas, todas, estavam presentes na realidade que se encontravam os exploradores. É primordial entender que o Estado de civilização é atingido com clara organização social, no qual todos os indivíduos não precisam buscar as necessidades que comutam na Seleção Natural, como por exemplo a luta pela vida. Sem a luta pela vida, não há necessidade, dadas as devidas adaptações, da luta pelo alimentado, por território e por reprodução. Claro que de certa forma essas vertentes citadas ainda se encontram na nossa sociedade, porém de forma “civilizada”. Por conseguinte, sem a luta pela vida no âmbito do Estado de Natureza, saímos verdadeiramente do estado animalesco humano para o estado de humanidade “civilizada”. Tomando como gancho, percebe-se então que os réus não só estavam sob o âmbito do Direito Natural, como também se encontravam num estado animalesco humano, uma vez que não havia comida nem água, estavam completamente ao léu. Nenhuma lei do Direito Civilizado poderia ter ajudado estes homens naquele momento, somente a lei da competição pela vida, na esfera do Direito Natural, poderia salvá-los.
 De certo, é claro que o ato de canibalismo nos espanta, afinal não é algo recorrente em nosso dia-dia e é considerado crime conforme comuta nossa legislação, contudo, este espanto se dá porque nós, que vivemos no Estado de Civilização, em grande maioria não precisamos sair de casa para caçar após semanas sem comer e com nenhuma previsão de quando comerá novamente. Não obstante, trago outro fundamento importante para o meu argumento; a fome. Esta, que fora, sem sombra de dúvida, a grande força revolucionária da humanidade, estava fortemente presente na situação que se encontravam os réus, e também na Revolução Francesa. Sendo a fome o principal motivo para os camponeses se revoltarem contra a nobreza e cometerem atos “cruéis” com os nobres. 
Contudo vocês devem se perguntar; o que a fome vivenciada pelos revolucionários franceses tem a ver com a fome vivenciada pelos exploradores? E essa resposta não está desinente nas entrelinhas. A principal semelhança entre as duas situações citadas, a dos exploradores e dos camponeses em 1789, é que quando confrontados com a fome extrema, os homens cometeram atos cruéis e terríveis contra outra(s) pessoa(s), dado que se encontravam numa condição de vida ou morte e intensa subnutrição. Entretanto, a principal diferença entre os dois casos é que a história se lembra das motivações da Revolução Francesa como louváveis e revolucionárias, concordando completamente com camponeses e seus atos de crueldade, e no âmbito dos exploradores, dependendo da decisão desta corte, os réus serão condenados à morte e acusados de homicídio pelas mesmas motivações que um dia foram louváveis e justificadas, a fome e a morte eminente. 
Visto tudo isto, percebe-se que o estado em que os réus se encontravam era de extrema necessidade, de vida ou morte, e não havia nenhuma outa saída para a sobrevivência da maioria se não a morte de um dos 5 exploradores. Inclusive, esta morte não foi simplesmente executada à força, e sim fruto de um acordo, ou contrato, realizado entre os réus que, dependendo do número que fosse sorteado em um dado, um deles haveria de morrer para a sobrevivência de todos. Nota-se, então, que mesmo sob o Estado de Natureza e sob a Animalescidade humana, estes homens não se renderam de imediato às leis Direito Natural e ainda tentaram, com êxito, um acordo “civilizado”. É notório também que Wethmore, o mineiro que morreu em detrimento da vida de seus companheiros, sabia de tal condição e inclusive concordava com o contrato feito entre eles.
 Logo, de forma conclusiva, encerro meu parecer sobre o caso em discordância à condenação destes homens, uma vez que eles não estavam regidos ao nosso Estado de Civilização e legislações, e sim regidos pelo Estado de Natureza, no âmbito do Direito Natural, pautado à luz do Direito que então era vigente. Infere-se, portanto, que seja revogada a decisão do juiz em primeira instancia, e do poder executivo, que votaram pela manutenção da pena. Que os réus sejam absolvidos e declarados inocentes referente ao crime de homicídio.

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