Buscar

Direito Administrativo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 53 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

03 de março de 2020
Direito Administrativo (DA)
Há alguns conteúdos que desde já precisamos saber que são importantes:
· Classificação de atos administrativos
Atos administrativos são apenas uma das espécies de atos praticados pela administração, a qual também pode praticar atos políticos, privados e materiais (também chamados de atos administrativos).
Então, os atos administrativos são aqueles praticados no exercício da função administrativa, no exercício do DPub, e ensejando a manifestação de vontade do Estado. Em outras palavras, este ato é uma manifestação da vontade funcional apta a gerar efeitos jurídicos, produzida no exercício da função administrativa. (Marçal Justen Filho.)
Por sua vez, os atos administrativos poderão ser qualificados quanto a diversas questões e, também, serão subdivididos em espécies. 
Ler mais: https://www.trilhante.com.br/curso/atos-administrativos/aula/classificacoes-dos-atos-administrativos-1-e-2-1
· Omissão administrativa / Omissão da Adm. Pública / Silêncio administrativo
“O silêncio não é ato jurídico. Por isto, evidentemente, não pode ser ato administrativo. Este é uma declaração jurídica. Quem se absteve de declarar, pois, silenciou, não declarou nada e por isto não praticou ato administrativo algum. Tal omissão é um 'fato jurídico' e, in casu, um 'fato jurídico administrativo'. Nada importa que a lei haja atribuído determinado efeito ao silêncio: o de conceder ou negar. Este efeito resultará do fato da omissão, como imputação legal, e não de algum presumido ato, razão por que é de rejeitar a posição dos que consideram ter aí existido um 'ato tácito'.” (Celso Antônio Bandeira de Mello)
· Agente público x Servidor público
O agente público é todo aquele que presta qualquer tipo de serviço ao Estado, funções públicas, no sentido mais amplo possível dessa expressão, significando qualquer atividade pública. A Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92) conceitua agente público como “todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior”. Trata-se, pois, de um gênero do qual são espécies o servidor público, o empregado público, o terceirizado e o contratado por tempo determinado.
Servidores públicos são ocupantes de cargo de provimento efetivo ou cargo em comissão, regidos pela Lei nº 8.112/90 e são passíveis de responsabilização administrativa, apurada mediante processo administrativo disciplinar ou sindicância de rito punitivo.
A única forma de Provimento Originário é a nomeação, que pode ser realizada em caráter Efetivo ou para Cargos de Provimento em Comissão. 
Nomeação - Cargo Efetivo: pressupõe a aprovação em concurso público de provas ou de provas e Títulos.
O empregado público pode ter duas acepções:
a) Ocupante de emprego público na administração direta, autarquias e fundações, nos termos da Lei 9.962/2000, contratados sob regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A rescisão desses contratos, em ato unilateral da administração, deve ser precedida de procedimento administrativo, com garantias ao empregado de participação na produção de provas, ampla defesa e julgamento impessoal.
b) Ocupante de emprego público na administração pública indireta, nas empresas públicas, nas sociedades de economia mista e nas fundações públicas de direito privado. Também são contratados sob regime da CLT.
O agente público contratado por tempo determinado desempenha funções públicas desvinculadas de cargos ou de empregos públicos, de forma precária e temporária, como os contratados por tempo determinado para necessidade temporária de interesse público, desobrigados de concurso público. Regulados pela Lei nº 8.745, de 09/12/93, não se sujeitam aos dispositivos da Lei nº 8.112/90.
· Qual é a essência do direito administrativo?
O interesse público (que é bem dinâmico).
· O DA é regido especialmente por normas princípios!!!!!!!!!
04 de março de 2020
Tema 1. Fundamentos de Direito Público (DPub)
Introdução
Onde se encontra o DA sob o viés da ciência política?
O DA é uma disciplina jurídica que está inserida no ramo público do Direito, portanto, está sujeita a um conjunto de princípios próprios do Direito Público (DPub) – distintos do Direito Privado.
Não analisamos o DA a partir da dogmática jurídica porque o conteúdo do DA varia no tempo e espaço conforme o modelo de estado e a forma de gerir Adm. Pública (AP) (veremos a seguir). Então, ele aproxima-se mais da ciência política, pois está muito mais ligado às noções de Estado do que aos institutos da dogmática jurídica. 
Dicotomia da ciência política: Direito Público (DPub) x Direito Privado (DPriv)
A ciência política é tradicionalmente dividida por esta dicotomia, sendo que o DA se encontra no DPub. Mas, hoje, reconhece-se que a separação não é estanque, já que os dois ramos se interpenetram, como ocorre na constitucionalização do Direito Civil, por exemplo, que exige a função social da propriedade privada!
	
	Direito Público
	Direito Privado
	1
	Coletividade
	Particular
	2
	Os interesses da coletividade são os interesses públicos.
	Os interesses do particular são os interesses individuais.
	3
	Os interesses públicos são regidos pela publicidade.
É direito do cidadão a publicidade dos atos do Estado. Todos os cidadãos têm o direito de obter dos órgãos públicos informações de seu interesse (privado ou coletivo). 
Art. 5º, XXXIII da CF:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
(...)
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;         (Regulamento) (Vide Lei nº 12.527, de 2011)
Isto quer dizer que a regra no âmbito do Direito e interesses públicos é a publicidade. É claro que ela pode ser restringida em determinadas situações, como nas que trazem risco ao Estado ou a qualquer pessoa no tocante a sua honra, intimidade ou privacidade, se forem divulgadas, por exemplo. 
	Os interesses particulares são regidos pela intimidade, restrição, individualidade. 
Já a regra no âmbito do privado é a intimidade, a qual é constitucionalmente protegida. 
	4
	As relações e decisões travadas do âmbito do Direito Público (DPub) se dão a partir da ideia de legalidade, isto é, só se pode fazer o que tiver prévia e expressamente autorizado pela lei. 
Como o Estado se submete à ordem jurídica, por óbvio que ele também não pode fazer aquilo que é proibido. Mas, além disso, não há liberdade para agir como o particular o tem, portanto, as relações deste DPub devem agir conforme a lei. 
Então o Estado só pode expedir atos em absoluta conformidade com a lei. O professor Celso Antônio diz que na AP não há liberdade nem vontade pessoal, isto é, o que o administrador público decide e realiza deve estar conforme a lei, devem ser secundum legem (= devem ser atos que decorrem da lei, por ela expressamente prevista, de aplicação autorizada). O silêncio da lei representa vedação para agir. 
Desta forma, a legalidade se difere aqui do Direito Privado. No DPub, legalidade significa “agir conforme a lei que expressamente autoriza”. No DPriv, quer dizer “agir dentro da esfera que não é proibida pela lei”. 
	As relações jurídicas privadas estão pautadas no princípio da autonomia da vontade, isto é, na liberdade de agir. 
As relações jurídicas dos particulares são realizadas na dimensão da autonomia, isto é, os particulares são livres para praticar tudo o que não estiver proibido por lei. 
	5
	Como os interesses aqui são públicos, devem ser regidos pelo poder e autoridade do Estado. 
A rigor, o Estadonão titulariza interesses públicos. O titular dos interesses públicos geridos pelo Estado é a própria coletividade. Com isso, o Estado apenas detém o dever de gerir e cuidar dos interesses alheios. E para bem fazê-lo, o Estado necessita de poderes extraordinários que lhe conferem uma condição de autoridade.
Trata-se de uma relação de verticalidade, sendo que o Estado ocupa uma posição superior ao do cidadão. Até certo momento esta perspectiva foi vista como autoritária, por isso, durante muito tempo o Direito Administrativo foi visto como um Direito autoritário, um Direito do Estado. E por que é assim? Porque o Estado tem a finalidade de atender aos direitos dos cidadãos. 
	Outro princípio que rege as relações jurídicas privadas é a igualdade entre as partes.
Trata-se de uma relação horizontal. 
Deve-se prezar pela igualdade entre as partes porque pressupõe-se que nas relações privadas cada um pode agir conforme seus interesses. É por isso que se houver muita vantagem para uma das partes em algum contrato, por exemplo, esta relação é considerada abusiva.
	6
	Exercício de função (administrativa)
A fundação é o dever que se coloca para o agente público que maneja poderes instrumentais que se realiza na condição de autoridade. 
A racionalidade do DPub se difere muito do Direito Privado. Este último trata de interesses individuais e particulares, que são regidos pela autonomia e igualdade. Mas nada disso existe no DPub porque o objeto da racionalidade é muito distinto, sendo o interesse alheio, da coletividade, que, portanto, pressupõem ampla transparência e publicidade dos interesses. 
	
O professor Carlos Ari Sundfeld traduzirá estas ideias como sendo os princípios gerais do DPub!!!
Art. 37 da CF:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:             (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (...)(LIMPE)
Regulação jurídica do Poder Político
Direito Administrativo e os modelos de Estado
O DA varia conforme o modelo de Estado que é adotado em cada país e cada época. 
Estado Absolutista
O Estado Absolutista era caracterizado pelo poder ilimitado do monarca, isto é, pela centralização do poder real (de tributação, do exército, de polícia etc.) e ausência de controle por outras instituições ou cidadãos, os quais, aliás, nem existiam sob este prisma ainda, já que não existiam sujeitos de direitos que podem opor-se às autoridades. 
É certo que este Estado foi herança da visão de que o monarca era escolhido por Deus, portanto, nunca errava, então não deveria ter seus poderes limitados. 
Enquanto da duração do Estado Absolutista, ainda não se falava em DA. 
“Quando, na mesma pessoa ou no mesmo corpo de Magistratura, o Poder Legislativo é reunido ao Executivo, não há liberdade. Porque pode temer-se que o mesmo Monarca ou mesmo o Senado faça leis tirânicas para executá-las tiranicamente. Também não haverá liberdade se o Poder de Julgar não estiver separado do Legislativo e do Executivo. Se estivesse junto com o Legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário: pois o Juiz seria o Legislador. Se estivesse junto com o Executivo, o Juiz poderia ter a força de um opressor. Estaria tudo perdido se um mesmo homem, ou um mesmo corpo de principais ou nobres, ou do Povo, exercesse estes três poderes: o de fazer as leis; o de executar as resoluções públicas; e o de julgar os crimes ou as demandas dos particulares (MONTESQUIEU, 2000, p.167 - MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron de. Do Espírito das Leis. São Paulo: Saraiva, 2000.)”
Estado de Direito 
Os movimentos sociais do século XVIII (Iluminismo e Revolução Francesa) trouxeram a mudança do Estado Absolutista para o Estado de Direito.
Especialmente pela RF, surgiu o princípio da tripartição de poderes e da legalidade. Houve, então, a descentralização do poder político, passando a ser dividido em três diferentes órgãos que têm funções típicas, mas que funcionam de forma harmônica e independentes entre si e que também devem ser submetidos a um sistema de freios e contrapesos (Montesquieu). 
Os poderes são independentes porque nenhum depende ou manda no outro. Não existe um chefe de um poder sobre outro poder. Cada um tem seu próprio chefe. Não há hierarquia entre os poderes.
E os poderes são harmônicos por causa dos checks and balances (freios e contrapesos) que são limitações recíprocas previstas constitucionalmente para o exercício regular das funções de cada um. 
O poder estatal também passa a ser regulado pelo princípio da legalidade. O parlamento legislativo, que representava a vontade do povo (há controvérsias aqui né!!!! Quem sabe desde lá só representavam os poderes de sua própria classe mesmo! ), expedia comandos normativos que deveria submeter os cidadãos e os outros poderes do Estado. E o se objetivava aqui? Limitação de poder do monarca e conquista de direitos fundamentais. Assim, passa-se a ter um controle jurídico do poder estatal que dita ordens, mas também se submete a elas. 
Então, o Direito Administrativo nasce a partir da regulação jurídica e limitação do poder político, o qual se dá com os princípios da separação de poderes e legalidade para que os direitos dos cidadãos sejam protegidos.
Em outras palavras, o Direito Administrativo surgiu para proteção de direitos individuais (e não para proteger os interesses da autoridade do Estado)!!!! 
Estado Liberal
O Estado Liberal era o Estado de mínima intervenção, preocupando-se apenas com efetiva garantia da ordem da propriedade. Desta forma, a atividade legislativa foi muito difundida aqui, já que se pregava a igualdade (formal), liberdade, fraternidade. 
Mas, o Estado mínimo se demonstrou incapaz de garantir a igualdade material e felicidade coletiva. Portanto, as necessidades sociais exigiram que o Estado passasse a ter que garantir direitos que não importavam para economia. 
Estado Social
Então, o Estado teve que sair do papel de expectador para passar a atuar e gerir em prol dos interesses sociais nas áreas de saúde, energia elétrica, educação, serviço de rádio etc. Por isso, a administração pública ampliou-se quando da modificação do Estado Liberal para Estado Social. 
No Brasil, na década de 30, o serviço público também se ampliou bastante, gerindo saneamento, saúde, setor rodoviário etc. 
Mas, este modelo de Estado também entrou em crise devido à Crise do Petróleo dos anos 70, que atingiu o Brasil em 80 e impôs grandes reformas no aparelho administrativo do Estado nos anos 90.
Estado Social Democrático de Direito 
Assim, o novo modelo de Estado surgido a partir da crise do Estado Social foi o Estado Democrático de Direito. 
Há quem diga que o Brasil nem sequer atingiu o ápice Estado Social, pois ele nunca chegou a satisfazer e financiar as necessidades coletivas. Mas, ainda assim ele também entrou em crise aqui. 
Então, qual é o modelo de Estado que a CF/88 traz e que perdura até hoje?
Vejamos o artigo 1º da CF:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;         (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Por que, então, Estado Social Democrático de Direito?
Justamente por conta dos fundamentos expressos pela CF, especialmente a dignidade da pessoa humana. Ademais, os objetivos do Estado, constados no artigo 3º da CF implicitamente expõem o Estado Social:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimentonacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Ademais, vejamos o que diz o artigo 175 da CF:
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.
Serviço público é atividade típica da AP dada, no âmbito do Poder Executivo, que tem como finalidade garantir a satisfação das necessidades coletivas. O serviço público é a atividade que o Poder Público normatizou como necessário e fundamental para satisfação das necessidades sociais. 
Os serviços públicos, são aqueles prestados diretamente à comunidade pela Administração depois de definida a sua essencialidade e necessidade. Assim, pode se dizer que o serviço público corresponde a uma atividade de interesse público que visa atender as necessidades coletivas.
Dentre todos os serviços prestados pela Administração Pública, aquele mais importante é o chamado serviço público essencial, que são àqueles serviços ou atividades indispensáveis a sobrevivência do ser humano. Estão eles dispostos no artigo 10 da Lei 7.783/89:
            Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais:
            I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis;
            II - assistência médica e hospitalar;
            III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos;
            IV - funerários;
            V - transporte coletivo;
            VI - captação e tratamento de esgoto e lixo;
            VII - telecomunicações;
            VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares;
            IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais;
            X - controle de tráfego aéreo;
            XI - compensação bancária.
O direito a receber o serviço público essencial é direito subjetivo e cívico dos cidadãos.
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2699/Os-servicos-publicos
A CF/88 também prevê que a prestação do serviço público poderá ser prestada de forma direta (pelo próprio Estado) ou indireta (por empresas particulares que possam prestá-las por meio de concessão ou permissão). 
Assim, a partir da leitura destes artigos, não há dúvidas de que o Estado apresentado pela CF/88 é um Estado Social Democrático de Direito, pois busca-se prover as necessidades da sociedade.
Mas, também é certo que a crise de 80 levou o Estado Social a se alterar, tendo privatizações, criação de novas figuras na AP brasileira (as agências reguladoras), terceiro setor. O objetivo aqui era diminuir os papeis do Estado. 
Aliás, no atual momento também estamos vivendo novas grandes mudanças por meio das grandes reformas (trabalhista, previdenciária, administrativa etc.). Esta nova onda de privatizações está seguindo novamente para os caminhos de um Estado Liberal. Muitos afirmam que não, que não é um Estado mínimo, é um Estado Neoliberal, que refine suas atividades típicas. 
Em suma:
- O DA nasce a partir do momento que há a regulação do poder central pelos princípios da tripartição de poderes e legalidade. 
- O conteúdo do DA varia no tempo e espaço conforme o modelo de Estado apresentado. 
Personalidade Jurídica do Estado
No âmbito do Direito Administrativo, o Estado tem personalidade jurídica própria, isto é, uma pessoa jurídica de DPub. E o que isso quer dizer?
Que o Estado é um sujeito de direitos e obrigações. (o professor Hermes Gabardo diz que o Estado não titulariza direitos porque, a rigor, ele apenas maneja os interesses alheio, portanto, os titulares do interesse público é a coletividade).
Mas, dizer que o Estado tem personalidade jurídica própria ao manejar os direitos dos cidadãos quer dizer que o Estado responde ativa (administrativamente) e passivamente (judicialmente). 
E o Estado é pessoa jurídica de DPub porque se submete a princípios que são próprios do DPub: racionalidade, publicidade, autoridade, legalidade, controle etc. 
Dizer que o Estado tem personalidade jurídica própria, então, significa que ele é uma pessoa jurídica de DPub, a qual é descentralizada. 
Descentralização x Desconcentração
Paremos, neste momento, para nos atentar à questão dos termos “descentralização” e “desconcentração”.
Em suas essências, os dois vocábulos tratam da mesma coisa: tirar do centro, dividir, repartir etc.
Em termos de DA, a divisão da qual trataremos aqui se refere a uma divisão de competência / atribuição. 
DesCEntralização 
A pessoa jurídica é dividida, criando outros entes, que também são pessoas jurídicas (sujeitos de direitos e obrigações) e que responderão por suas atividades em nome próprio. Então, a descentralização transfere as suas atividades a outra entidade, que também tem personalidade jurídica. 
A descentralização caracteriza-se por:
- CE Criar entidades (outras personalidades jurídicas);
- Não há hierarquia;
- As entidades são especializadas na prestação de determinado serviço;
Descentralização política 
Aqui ocorre a divisão da competência política, da atribuição de legislar. 
No Estado brasileiro, os seguintes têm capacidade de legislar:
- União tem capacidade política para legislar no nível da República Federativa do Brasil. 
- Estados
- Municípios
- DF
O professor Carlos Ari Sundfeld defende que princípio da igualdade rege a ideia das pessoas. Isto quer dizer que não há hierarquia entre os entes; cada qual tem sua competência política descentralizada nos termos que a CF/88 estabelece.
Ver mais sobre as competências legislativas (privativas, concorrentes, comuns): https://www.aprovaconcursos.com.br/noticias/2015/09/06/dicas-reparticao-de-competencias-cf88/
Descentralização administrativa
A descentralização, isto é, a separação de competências, também ocorre no âmbito administrativo.
Administração Pública Direta (APD)
- União tem capacidade administrativa para prestação de serviços públicos, realização de atividade econômica, realização do poder de polícia e qualquer outra atividade que compita ao Poder Executivo. 
- Estados
- Municípios
- DF
Administração Pública Indireta (API)
Em algumas situações, é preciso descentralizar determinada competência para que outra entidade, portanto, outra pessoa jurídica, realize esta atividade. 
Algumas serão pessoas jurídicas de DPub e outras de Direito Privado.
Daí teremos as autarquias, FP, SEC, EP:
Outras divisões como esta também ocorrerão nos níveis dos estados, municípios e DF. 
ENTE Entidade Pessoa Jurídica
A desCEntralização pode ser feita de duas maneiras:
a) Por outorga:
Transfere-se a titularidade do serviço. É feita por meio de lei. Exemplo de atuação feita por meio da administração indireta: IMBAMA. 
b) Por delegação:
Transfere-se apenas a execução do serviço. É feita por meio de contrato ou ato particular. É feita por meio de concessão ou permissão de serviço público. Exemplo: companhias de energia elétrica. 
DesCOncentração administrativa 
A desconcentração é uma divisão meramente administrativa em órgãos, sendo que a divisão ocorre dentro da mesma pessoa jurídica, a fim de melhorar sua organização. 
Apenas a entidade tem personalidade jurídica, os órgãos não. É uma espécie de distribuição interna de competência. 
A desconcentração caracteriza-se por:
- CO Criar órgãos;
- Hierarquia: os órgãos são subordinados a mesma entidade (que é quem tem personalidade jurídica); 
- Distribuição de competências ocorre dentro da mesma personalidade jurídica. 
Órgão é parte de um ente, fruto da desconcentração. 
É como o COrpohumano, a cabeça dá o comando e os órgãos obedecem!!
Exemplo:
A União, dotada de personalidade jurídica, desconcentra alguns serviços em alguns ministérios (que são os órgãos). Cada qual tem uma gestão administrativa em razão da matéria que lhe foi acometida. Dentro da mesma pessoa jurídica, então, há a divisão da competência administrativa. 
Comparação entre descentralização e desconcentração
	Descentralização 
	Desconcentração 
	Cria entidades
	Cria órgãos 
	Não há hierarquia
	Há hierarquia
	As entidades têm personalidade jurídica própria. 
	Órgãos não têm personalidade jurídica
Exemplo: INSS
A União descentraliza seu poder para o INSS, ou seja, ela cria a entidade INSS que é dotada de personalidade jurídica. 
Já o INSS transfere alguns de seus poderes para órgãos a ele subordinados. Aqui ocorre a desconcentração. 
10 de março de 2020
Princípios Gerais do Direito Público
A racionalidade do DPub é distinta do Direito Privado. O texto do professor Carlos Ari Sundfeld é texto base desta aula. E ele fala de alguns princípios que regem o DA.
Os princípios são:
1. Autoridade pública 
2. Submissão do Estado à ordem jurídica 
3. Função 
4. Igualdade dos indivíduos perante o Estado 
5. Devido processo 
6. Responsabilidade objetiva 
7. Publicidade 
8. Igualdade das pessoas políticas 
1. Princípio da Autoridade Pública
Como vimos na aula passada, o DA não tem lugar em regimes totalitários porque no modelo de Estado absolutista, os atos estatais (atos do poder público), não poderiam ser controlados já que a característica deste Estado é a não-limitação do poder estatal.
O DA surge a partir do momento em que se começa ter um controle do poder estatal. Portanto, é justamente no momento em que os Estados se abrem para a democracia, que o DA desabrocha.
O DA é uma disciplina que se insere no ramo público do Direito, sendo que o objeto de estudo é a tutela dos interesses da coletividade, assim, o conjunto de normas que dá identidade ao DA é um conjunto de normas especiais, então o DA se assenta na autoridade do Estado. Isto porque, para gerir interesses alheios, o Estado precisa de poderes especiais que lhe confiram a posição de autoridade em relação dos particulares para que seja possível a proteção dos interesses públicos. 
Exemplo de uma desapropriação: 
Como ela poderia ser feita se o Estado não tivesse autoridade sobre os particulares? Então, o princípio da autoridade pública é um princípio basilar do regime jurídico de DPub e, também, é um princípio que se singulariza no DA. 
No âmbito do Direito Privado não há relação autoridade/superioridade de uma parte em relação a outra. Lá, as relações privadas se tratavam na horizontalidade, isto é, na igualdade. No âmbito do DPub as relações travam-se na verticalidade em razão do princípio autoridade pública do Estado, o qual decorre do dever de o Estado tutelar interesses alheios. 
2. Princípio da Submissão do Estado à ordem jurídica
A condição de autoridade do Estado para tutela dos interesses coletivos se coloca para o cumprimento de um dever. Mas, estes poderes especiais do Estado são limitados. Isto quer dizer que o regime de autoridade pública existente dentro do Estado de Direito faz com que ele próprio deva submeter-se à ordem jurídica. Aqui encontra-se uma diferença do poder do Estado hoje em relação ao poder autoritário.
Em se tratando do DA, especificamente, a submissão do Estado à ordem jurídica se expressa através do princípio da legalidade.
Portanto, o princípio da submissão do Estado à ordem jurídica se pauta no fato de que o Estado dita a ordem jurídica por meio do Poder Legislativo, mas o Estado, em sua faceta da administração e jurisdição, se submete à mesma ordem jurídica que ditou. Aqui está a limitação do poder da autoridade pública. 
E onde encontra-se o cidadão aqui? Onde está a garantia do cidadão frente ao exercício da autoridade pública?
No controle do poder estatal. O Estado, no exercício de sua autoridade pública, é colocado para agir em prol dos interesses coletivos. Mas este interesse público nada mais é do que o interesse individual, isto é, do próprio indivíduo como membro da coletividade. Então, a limitação do exercício da autoridade pública se dá exatamente para proteção de direitos individuais, porque é para tutela de nossos interesses e direitos individuais que o Estado detém poderes especiais.
O professor Romeo diz que o Estado é um aparelhamento estatal (estrutura organizada de entidades e órgãos administrativos) que se identifica, basicamente, pela AP (ainda que também possa ser visto no Legislativo e Judiciário) e que é estruturada para realização do bem comum. Então, o interesse público nunca pode ser diferente do interesse individual de cada cidadão. Isso porque a autoridade do Estado só lhe é conferida para o cumprimento de um dever: tutela dos interesses e direitos individuais. 
3. Princípio da Função
O professor Carlos Ari fala do princípio da função estatal porque as atividades estatais, que são realizadas pelo Estado, são realizadas como uma função. Por sua vez, esta função implica um dever jurídico, que no caso do Estado é de tutela dos interesses coletivos. 
Em suma sobre os três princípios acima:
O Estado se submete ao princípio da autoridade pública que lhe confere poderes especiais, poderes estes que são necessários para tutela dos interesses que estão a cargo do Estado (interesses coletivos), mas que não são ilimitados, pois o Estado, no exercício de sua autoridade pública, se submete à ordem jurídica. Por sua vez, esta ordem jurídica, que é ditada pelo Estado, submete a ele mesmo à limitação do poder estatal a fim de que se protejam os direitos individuais. 
Ademais, os poderes especiais do Estado, que são controlados e limitados, são assim colocados para o Estado porque o exercício das atividades estatais implica num DEVER jurídico de garantir o interesse público. Em outras palavras, a função administrativa contida no princípio da função implica num dever que é conferido para alguém para tutela do interesse alheio.
4. Princípio da Igualdade dos indivíduos perante o Estado 
No exercício da autoridade pública do Estado, dentro da submissão do Estado à ordem jurídica no cumprimento do seu dever de garantir o interesse público, o Estado exercita seus poderes. Por sua vez, os particulares, em relação ao Estado, são tratados a partir do princípio da igualdade. Então é princípio fundamental do DPub a igualdade entre os particulares perante o Estado.
No DA, a igualdade entre os particulares perante o Estado está explicitada pelo princípio da isonomia e da impessoalidade. O Princípio da isonomia veda o tratamento discriminatório e implica atribuir tratamento igualitário a todos. 
Neste momento, podemos nos perguntar, então, como fica a isonomia perante a direitos diferenciados, como o direito dos idosos da gratuidade no transporte, ou o tratamento especial dado à criança ou ao adolescente, por exemplo? 
Os concursos públicos, por exemplo, explicitam concretamente os princípios da isonomia, impessoalidade e moralidade. Isto porque, para ocupar um cargo de provimento efetivo, todos devem se submeter a um processo de seleção objetivo e impessoal: todos se submetem a provas em igualdade de condições. 
Então, como explicar a regra constitucional do artigo 37, inciso VIII, da CF/88, por exemplo, que estabelece um percentual de vagas para pessoas com deficiência? 
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:             (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 
(...)
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão;
E as cotas? Como explicá-las?
Estas situações estariam ferindo o princípio da isonomia? Claro que não, pois aqui fala-se em igualdade material, não apenas formal!!! 
A vedaçãoimposta pelo princípio da isonomia é em relação a discriminação negativa (e não em relação a discriminação positiva). 
Segundo a concepção aristotélica, tratar a todos igualmente significa tratar os iguais de modo igual e os desiguais de modo desigual na medida de suas desigualdades. 
Então, é fundamental que no DA se leve em consideração a MOTIVAÇÃO do tratamento desigual, diferenciado!! Quando alguém é tratado de forma desigual, olha-se para a justificativa que a autoridade dá para ter agido de tal forma!!!
Para Ingo Sarlet o direito à igualdade na CF/88 tem dois sentidos (que abrangem três dimensões):
- Sentido negativo (PROIBIDA)
· Dimensão 1: proibição do arbítrio, vedando diferenciações injustificadas e tratamento igualitário para situações manifestamente desiguais;
Exemplo: se um professor reprovasse um aluno arbitrariamente porque ele resolveu que apenas tantos alunos passariam em sua matéria e os outros estariam reprovados.
· Dimensão 2: proibição da discriminação, de distinções baseadas em categorias meramente subjetivas;
Exemplo: se um professor reprovasse alunos que não votaram no Cabo Daciolo.
LEMBREMOS QUE O DIREITO A IGUALDADE É PRINCÍPIO, NÃO REGRA, ENTÃO HÁ EXCEÇÕES. Como o dress code exigido pelos tribunais, por exemplo, no caso em que os advogados que fazem sustentação oral: eles devem estar de terno. 
- Sentido positivo (INCENTIVADA)
· Dimensão 3: obrigação de tratamento diferenciado com vistas à compensação de uma desigualdade de oportunidades, o que pressupõe a eliminação, pelo Poder Público, de desigualdades de natureza social, econômica e cultural.
Exemplo: Lei Maria da Penha, cotas, porcentagem de vagas para deficientes etc. 
5. Princípio da Devido processo
O Estado, uma vez sujeito à ordem jurídica, também está sujeito a assegurar o devido processo legal em sua relação com os particulares. Justamente por seu papel de autoridade pública que pode, por muitas vezes, invadir a esfera privada do particular (na liberdade ou propriedade, por exemplo), o Estado deve garantir a todos um processo justo. 
O devido processo legal é um direito e garantia fundamentais, explicitamente previsto no artigo 5º, inciso LIV da CF/88:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...) 
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
Barroso fala que ele é um princípio-garantia porque é um direito do cidadão e, também, uma garantia sua em face dos poderes estatais. Esta garantia se refere ao fato de que, em suas relações com os particulares, o Estado observará regras materiais e formais para garantia do devido processo legal. 
Professor Romeo resume o princípio do devido processo legal aplicado ao processo administrativo como um processo justo que obedece às regras materiais e às formalidades legais para garantia da justeza da decisão (= da maior correção da decisão a ser proferida).
6. Princípio da Responsabilidade objetiva
O Estado, em sua relação com os particulares, ao causar-lhes dano, responde por eles. Esta resposta do Estado é um dever jurídico que o Estado deve dar à sociedade a fim de compensar pecuniariamente os danos morais e materiais ocasionalmente acarretados a algum particular. 
É importante frisar que a CF/88 reconhece a possibilidade de responsabilização do Estado não apenas em razão de danos materiais que sejam causados aos particulares, mas também os danos morais. 
A responsabilidade objetiva do Estado é um princípio de DPub que está expressamente previsto no artigo 37 § 6º da CF/88:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:             (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
(...) 
§ 6º As pessoas jurídicas de DPub e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
Ela é uma responsabilidade objetiva e ampla, que se caracteriza pelo dever que se coloca ao Estado de ressarcir pecuniariamente os prejuízos causados aos particulares, sejam os prejuízos materiais ou morais. Também sejam por ação ou omissão do Estado. Ou ainda que sejam resultado de um agir lícito do Estado que visava o benefício coletivo.
Exemplo: 
Suponhamos que uma grande obra de saneamento básico (o Estado está agindo licitamente e em benefício da coletividade aqui) ocasione danos a particulares. O Estado terá o dever de ressarci-los. 
Lembremos que a diferença da RO para Responsabilidade Subjetiva é que na primeira não há necessidade de comprovação de dolo ou culpa do Estado, basta que a vítima comprove relação de causalidade entre a ação/omissão do Estado e o dano suportado. 
Outro diferencial da RO do Estado e da RO no Direito Privado é que o Estado tem o dever de ressarcir o lesado, ainda que tenha agido licitamente.
Então, o princípio da RO é uma contraface ao princípio da autoridade: é justamente pelo fato de que o Estado age munido de autoridade que ele deve responder por seus atos se causar danos ao particular no exercício de sua autoridade pública. (Estudaremos isso de forma mais aprofundada mais futuramente. Nem sempre foi assim a responsabilidade do Estado. Várias teorias foram criadas para justificar a responsabilidade objetiva atual do Estado, sendo que já houve um momento em que vigorou a irresponsabilidade do Estado.)
7. Princípio da Publicidade 
Publicidade e transparência são voltadas ao DPub em contraposição à intimidade e privacidade, que são a regra no âmbito dos particulares.
O princípio da publicidade é um princípio fundamental do DPub que implica no dever de transparência e publicidade das decisões estatais cujo objeto é os interesses públicos.
A publicidade é, portanto, a regra no âmbito público. Mas, há algumas situações em que o Estado pode estabelecer o sigilo das informações e não as publicar. Quando isso ocorrerá?
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;         (Regulamento) (Vide Lei nº 12.527, de 2011)
Estes podem ser os casos em que há informações de menores de idade no processo, ou processos em que há investigações policiais etc. 
No que se refere aos atos da AP, a discussão é um pouco mais acirrada. Alguns defendem que os gastos e remunerações de servidores públicos deveriam ser publicados, por exemplo. Outros afirmam que isto viola o direito à intimidade deles.
De qualquer forma, esta discussão já chegou ao STF, que já decidiu pela publicização das informações.
Houve ponderação entre os princípios da publicidade (art. 37, XXXIII da CF/88) e da intimidade (art. 37, IV da CF/88) aqui, mas o que legitima a publicação das informações é o fato de que o inciso XXXIII a limita apenas nos casos em que seja “imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”.
Na opinião da professa, em todos os casos, o problema não está na divulgação dos valores, mas no nome dos servidores.
8. Princípio da Igualdade das pessoas políticas
Primeiramente, lembremos que o Estado é uma pessoa jurídica de DPub. No Direito brasileiro a organização estatal é descentralizada, tanto no quesito político quanto no quesito administrativo. 
Então, na descentralização política (descentralização da competência legislativa) há a criação de pessoas jurídicas com capacidade política. Estas são as pessoas políticas, as quais são a União, Estados, Municípios e DF.
É importante sabermos que esta divisão de competências não se dá poruma relação de hierarquia, portanto, não existe subordinação na relação entre estas pessoas, justamente pelo princípio da igualdade das pessoas políticas. A relação existente é de COORDENAÇÃO política no tocante à matéria sobre qual cada um legisla, a qual é prevista pela CF/88, mas não de hierarquia. 
Isso significa que uma lei federal não é superior a uma lei estadual e uma lei estadual não é superior a uma lei municipal. Mais uma vez: dada a autonomia política dos entes federativos (já que o Brasil é uma Federação), a competência política destes entes dada pela CF/88 é dada em razão da matéria, não de hierarquia. 
Somos uma federação por segregação, centralizador (discutido pela doutrina), simétrico no tocante às competências, assimétrico no tocante à origem, atípico e temos um federalismo de cooperação, o qual se refere ao federalismo que tem uma relação solidária das competências, ou seja, há competências separadas e outras concorrentes: 
· Competências comuns: todos os entes federados possuem. Exemplo: competência tributária; todos os entes federados possuem competência tributária, mesmo que elas variem. 
· Competências concorrentes: entre estados e união.
Essa divisão de competências não existe no Federalismo Dual, mas existe algo parecido no Federalismo de Integração. 
Exemplos: teve origem na Alemanha. Hoje é o adotado pelo Brasil e os EUA depois de 1929. 
Há muitas críticas que dizem que o Brasil se aproxima muito de um Federalismo de Integração porque a União tem tanto poder que precisou fazer um Ministério das Cidades para que estas possam negociar o dinheiro que precisam com a União. O pouco tributo arrecadado pelos municípios vem de IPTU, ISS e ITBI.
Isto supostamente aconteceria menos com os estados, mas o tanto que eles devem à União também faz com que eles acabem se submetendo a ela. 
Há muitas pessoas que defendem mais dinheiro para os municípios, mas na prática este dinheiro não é repassado. 
Mas e se houver matérias comuns sobre as quais se produzam leis contraditórias? Como ocorreu no caso do fumo de cigarros, por exemplo, em que tinham leis federais e municipais legislando sobre o assunto? Se assim o for, discutir-se-á no STF quem de fato tem competência para legislar sobre o assunto em questão. 
Este é um dos motivos pelo qual não se tem uma codificação do DA!! Seu objeto de estudo é a AP que realiza a função de garantir o interesse público, estando submetida a um conjunto de normas especiais (que é o regime jurídico administrativo) e cujas decisões no exercício dessa função estão sujeitas a controle (controle este que é judiciário, já que toda decisão administrativa pode ser submetida ao crivo do judiciário, pois ela não é definitiva), implica que cada ente federativo expeça seu conjunto de normas. 
Exemplo:
A matéria dos servidores públicos. No plano federal há o estatuto do servidor público federal, que é uma norma editada pela União. 
Além deste, cada estado-membro tem seu estatuto próprio. Inclusive, o estado do Paraná abriu uma consulta pública para a sociedade paraense opinar sobre o que deve constar no código de ética do servidor público do Paraná. 
Os municípios também têm seus estatutos.
É certo que todos eles devem seguir a raiz que a CF/88 porque ela é a norma de superior hierarquia em relação a todos os outros. 
É por causa das autonomias políticas das entidades federativas que é tão difícil que haja a codificação do DA. É por isso, também, que o DA é trabalhado a partir de um regime próprio de princípios que tem, segundo a professora Irene Nohara, uma acentuada sistematicidade. Isto quer dizer que há um sistema de normas que dão ao DA sua identidade, a qual não pode ser identificada meramente pela não de legislação como ocorre nas outras áreas, dada a autonomia política das pessoas políticas.
Mais uma vez lembremos que a competência das pessoas políticas é separada em razão de suas matérias e não de hierarquia. Portanto, a divisão política do Estado é dada expressamente pelo texto constitucional.
E se a lei é nacional (que não é a mesma coisa que federal)? 
A lei geral de licitações, por exemplo, foi expedida pela União e estabelece o regime das licitações que deve ser seguido por estados e municípios. Então, ela não é uma lei federal, mas nacional, pois a CF/88 estabeleceu que cabe a União legislar sobre normas gerais de licitação. Entretanto, acontecerá que os estados e municípios também têm leis especificas sobre licitação, o que também foi previsto pela CF/88. (É uma bagunça mesmo!!! Tanto que o Paraná tem 4 ADIs no Supremo discutindo se ele avançou ou não em legislar sobre matérias que eram da União. Veremos isso no segundo semestre!!!)
Então, a partir dos princípios Gerais do DPub, qual é conceito de DA?
O DA é uma disciplina que se insere no ramo do DPub, que tem por objeto o estudo das atividades que são desempenhadas pelo conjunto de órgãos e entidades administrativas. Estas atividades são qualificadas como desempenho de função. Então, podemos dizer que o DA tem por objeto de estudo o exercício da função administrativa. Esta função administrativa implica o exercício de um dever jurídico de garantir, proteger os interesses da coletividade. A garantia dos interesses da coletividade se dá pela execução de comandos normativos (isso porque a atividade administrativa é infralegal, então o que o gestor público realiza para garantir o interesse público é uma atividade de execução da lei. Isto quer dizer que “administrar é aplicar a lei de ofício” – Fagundes.), se submete a um regime jurídico próprio, que é o regime jurídico de DPub (regido pelos princípios gerais vistos nesta aula) e se sujeita ao controle de legitimidade pelo Poder Judiciário. Isso porque no exercício da função administrativa, as decisões estatais que são proferidas como fruto da função administrativa não são definitivas, são limitadas, pois podem ser controladas pelo Poder Judiciário. Então, se uma parte se sentir ofendida/lesada por uma decisão administrativa, ela poderá contrastar tal decisão no Judiciário. 
Desta forma, o DA é importante para todos que vivem em sociedade, pois ele permeia todas as relações de quem nela vive, portanto é essencial para a cidadania seja exercida. 
Exemplos de assuntos que são travados do âmbito do DA:
- Remuneração de servidores públicos;
- Desabamento de morros;
Conclusões 
O Direito Administrativo como disciplina que surge da regulação jurídica do poder político. O poder não é ilimitado, é controlado, e os limites desse poder estão dispostos na Constituição. 
Segundo Caio Tácito: o direito administrativo é fruto de um processo de autolimitação do Estado, na medida em que se institucionaliza e, por via de consequência, gera controles sobre sua própria atividade. Segundo ele, “o direito constitucional e o direito administrativo se imbricam na prestação efetiva do Estado de Direito” e, “por essa forma, sobre as bases constitucionais se construirá a presença do direito administrativo.” (RDA, vol. 232, p. 53-58) 
Referencial bibliográfico:
BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. Direito Administrativo. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 23ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 14ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 27ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2010
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de Direito Administrativo. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de Direito Público. 4. ed., São Paulo: Malheiros, 2001. VER RESUMO NO ARQUIVO: “RESUMO FUNDAMENTOS DE DIREITO PÚBLICO”
Bibliografia complementar:
BACELLAR FILHO, Romeu Felipe (coord.). Direito Administrativo Contemporâneo. Belo Horizonte: Fórum, 2004.
BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. Direito Administrativo e Novo Código Civil. Belo Horizonte: Fórum, 2007.
CARVALHO, Raquel Melo Urbano de. Curso de Direito Administrativo – Parte Geral, Intervenção do Estado e Estrutura da Administração. Salvador: Editora Jus Podivm,2009.
NOVAIS, Jorge Reis. Contributo para uma teoria do estado de direito. Coimbra: Coimbra, 1987.
TÁCITO, Caio. A constituição e o direito administrativo. In: Revista de direito administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, 232:53-58.
11 de março de 2020
Tema 2. Conceituação, história e metodologia do Direito Administrativo
 Jurisdição Administrativa
Noções básicas sobre a Administração Pública
Introdução
Esclarecimentos introdutórios
Já vimos que o conteúdo do DA e sua identificação a partir da concepção político-ideológica do Estado varia no tempo e no espaço. 
Durante muito tempo, pretendeu-se identificar o DA como sendo uma disciplina cujo objeto de estudo era a AP. Veremos que uma das correntes históricas fala justamente isso, mas também veremos que este conceito não é suficiente porque pensando nos modelos de Estado, vemos que o DA só nasce e se consolida no momento em que a há um controle por meio da regulação jurídica do poder central. É certo que no modelo Absolutista de Estado já era possível identificar um conjunto de órgãos administrativos, isto é, uma estrutura aparelhada para realizar as atividades estatais – este aparelhamento é, inclusive, bem próximo do conceito orgânico de AP que se tem hoje. Mas, acontece que só esta ideia não é o suficiente para realmente caracterizar o que é o DA, pois ele só passa a existir efetivamente quando a limitação do poder estatal passa a existir e buscar a proteção dos direitos fundamentais individuais.
Então, o conceito e o conteúdo do DA vão muito além da própria noção de AP, pois com ela não se confunde. É certo que a AP é objeto de estudo do DA, mas o DA não se esgota nisso. Lembremos, aliás, que seu conteúdo varia de acordo com o modelo de Estado adotado. 
Desenvolvimento
Contribuições do direito comparado
É importante trabalharmos aqui a contribuição do Direito comparado ao Direito Administrativo Brasileiro (DAB).
Direito Administrativo Francês (DAF)
O DAB tem origem no DAF, pois vários institutos do DAB vêm da concepção francesa de DA. 
O DAF tem um conteúdo mais dinâmico que o DAB, sendo que tem construção jurisprudencial.
Uma importante característica do DAF é seu sistema dual de jurisdição:
Isso não existe no Brasil, desde a CF/88 adotamos uma jurisdição una, isto quer dizer que só o Judiciário tem o poder de decidir os conflitos com força de jurisdição. 
Art. 5º, inciso XXXV da CF/88:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Já na França, em razão da desconfiança trazida pelo antigo regime em relação ao Judiciário, desenvolveu-se:
- Um Poder Judiciário, que é a justiça comum, incumbida de dirimir os conflitos travados entre os particulares e;
- Uma JURISDIÇÃO ADMINISTRATIVA, que é um órgão administrativo, inserido na estrutura do Poder Executivo, e que tem independência para decidir com força de jurisdição conflitos travados entre particulares e administração pública francesa. 
Este sistema de jurisdição diferenciado se originou do sentimento generalizado de desconfiança em relação ao Poder Judiciário, vez que os revolucionários não queriam que as decisões do Executivo pudessem ser revistas e modificadas pelo Poder Judiciário. 
No início de sua criação, em 1799, ela era apenas um CONSELHO DE ESTADO, portanto, tinha apenas função de assessoramento – justiça retida – e suas decisões eram encaminhadas ao Chefe de Estado, portanto, era um órgão subordinado ao governo. Somente em 1872, com a Lei de 24 de maio de 1872, ganhou autonomia, deixou de realizar a justiça retida ou reservada ao próprio rei, passando a exercer a justiça delegada, na qual a Administração-contenciosa é separada da Administração-parte – independência e legitimidade.
E quando há conflito de competências?
Então, o Tribunal de Conflitos decide onde a demanda deve ser processada. Este é órgão francês que tem poder de decidir os conflitos entre a ordem administrativa (Conselho de Estado) e a ordem judiciária (Tribunal de Cassação).
Então, a distinção da justiça francesa para brasileira se dá pelo fato de que no Brasil, todos os conflitos contenciosos serão julgados pelo Poder Judiciário (ainda que façam parte deles o Poder Público, a Fazenda Pública, o Poder estadual, municipal ou a União). 
Reflexão crítica sobre o sistema dual de jurisdição (parcialidade x especialização)
No que toca a parcialidade, a crítica é: será que o Conselho de Estado francês, que tem uma jurisdição administrativa, mas que é um órgão integrado ao PE, é independente o suficiente para decidir sobre questões que envolvem a AP francesa?
Por outro lado, o aspecto positivo deste órgão é que suas decisões são altamente especializadas, pois quem o compõe são pessoas com conhecimento técnico (não necessariamente advogados, mas pessoas com notório saber jurídico, contábil, de administração etc.). É desta forma que deve ser preenchido o Tribunal de Contas aqui no Brasil!!!
Mas, de qualquer forma, o questionamento sobre a (in)dependência deste órgão não pode ser ignorado.
Os institutos do DAF têm sua identificação e conteúdos essencialmente das formulações trazidas pelo Conselho de Estado francês.
Exemplo:
A ideia de serviço público como atividade estatal típica da AP (conjunto de órgãos que integram o Poder Executivo) foi criada a partir da formulação jurisprudencial do julgado do caso Blanco. 
Este caso tratou do atropelamento da menina Agnès Blanco, em 1873, em Bordeaux, na França. Agnès foi atropelada por uma vagonete da Companhia Nacional de Manufatura de Tabaco, de exploração do Estado. O pai da menina acionou a justiça, com um pedido de indenização, alegando a responsabilidade civil do Estado por prejuízos causados a terceiros, em face das atividades de seus agentes. O pedido chegou ao Conselho de Estado Francês, que decidiu pela responsabilização do Estado pela reparação dos danos causados à menina atropelada. http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=69265
O Tribunal de Conflitos decidiu que a demanda deste caso deveria ser processada e julgada no contencioso administrativo, não porque quem a atropelou era parte de uma companhia estatal, mas porque esta companhia realizava uma atividade de interesse geral, de alcance social que só era prestado pelo poder público. Vê-se aqui o conceito sociológico de serviço público, o qual também é trabalhado no Direito brasileiro hoje, justamente com origem francesa. (Característica do DAF que influenciou o DAB!!!)
Outra importante característica do DAF é a Responsabilidade Objetiva:
Outro instituto trabalhado no DAB que vem de formulações do Conselho de Estado francês é a noção de responsabilidade objetiva do Estado. 
Foi do próprio caso Blanco que a ideia de responsabilidade subjetiva foi revista. O conselho de Estado entendeu que o regime do Estado é diferente do particular, então, a partir disso, começou-se a desenrolar a objetivação da responsabilidade.
O próprio regime jurídico administrativo que é assentado no sistema de prerrogativas (poderes e autoridade do Estado em relação aos particulares) e sujeições (limitações especiais ao exercício dos poderes) advém do Conselho de Estado francês. 
Direito Administrativo Alemão (DAA)
Importante característica do DAA é a Teoria do Fisco:
Embora já superada, esta contribuição do DAA influenciou o DAB em produções doutrinárias e pragmáticas por meio da Teoria do Fisco de Otto Mayer no que se refere a ideia de se limitar (ou pelo menos tentar limitar, ainda que não tenha dado muito certo!) os atos praticados pelo Estado. 
No momento em que os movimentos sociais começaram a eclodir para superar o modelo de Estado absolutista, desenvolveu-se a ficção jurídica do Fisco, o qual era concebido como uma pessoa jurídica de Direito Privado que praticava atos de gestão: em sua prática reconhecia-sea limitação e responsabilidade do Estado. Em contrapartida, na execução dos atos de império (que eram praticados pelo monarca) permanecia-se a ideia do não-controle e não-limitação porque acreditava-se no poder divino do monarca. Esta ficção jurídica do Fisco acabou sendo superada por dois principais motivos:
- Não é possível se estabelecer que o Estado, que é uma pessoa jurídica, tenha dupla personalidade: ou ele deve ser uma pessoa jurídica de DPub ou de Direito Privado;
- Era muito difícil identificar o que era ato de gestão e o que era ato de império. Então, como os dois se confundiam muito, tudo acabava ficando igualmente sem controle no final das contas. 
Direito Administrativo Italiano (DAI)
Importante característica do DAI é o Poder Extroverso:
Lembremos que a ideia de autoridade é um princípio geral de DPub, então o Estado (poder público), em suas relações com os particulares, figura num polo hierarquicamente superior, tanto é que tais relações se dão no plano da verticalidade. 
Mas, como é que esta autoridade é exteriorizada? Os atos expedidos pelo Estado têm atributos (como a presunção de legalidade e veracidade, por exemplo) que se impõem independentemente da vontade dos particulares. Isto quer dizer que quando o Estado decide, ele não precisa da concordância dos particulares para que seus atos tenham efeitos jurídicos imediatos. Pela ideia de autoridade, os atos do poder público consubstanciam o poder extroverso do Estado. O Estado expede atos com fundamento em seu poder que extravasa da pessoa que emitiu o ato para atingir terceiros. 
Exemplo:
Quando o Estado autua um motorista que descumpriu uma norma de trânsito, como a de dirigir embriagado, por exemplo, ele pode aprender sua carteira, o veículo, dar multa etc. O Estado tem o poder direto para fazer isso, não precisa de autorização judicial para expedir este ato, o qual já produz efeitos jurídicos imediatos e concretos pela condição de autoridade que é dada ao Estado, com fundamento no interesse público de segurança. 
Então, a atividade do Estado, que é um dever, que se exercita pela ideia de autoridade, está sempre voltada para atender uma finalidade pública, não para punir as pessoas à toa. Unilateralidade do ato administrativo.
Outra importante característica do DAF é a distinção entre interesse público primário e secundário: 
Esta distinção é fundamental no que concerne o Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado. 
O sistema de prerrogativas (poderes especiais) e sujeições que veremos mais para frente teve origem aqui. 
O interesse público primário é o verdadeiro interesse a que se destina a Administração Pública, pois este alcança o interesse da coletividade e possui supremacia sobre o particular, já no que diz respeito ao interesse público secundário este visa o interesse patrimonial do Estado.
Compreensão do Direito Administrativo Brasileiro (DAB) através das correntes teóricas
Critério Legalista
A fim de se definir o conteúdo e objeto do DA, alguns sustentavam que ele tem por objeto de estudo as leis administrativas. Aqui destaca-se como primeira lei administrativa a Lei de Pluviose, a qual organizou a AP francesa.
"O ato de nascimento do direito administrativo é geralmente encontrado na lei de 28 do pluviose do ano VIII (1800) que, pela primeira vez, deu à administração pública uma organização juridicamente garantida e exteriormente obrigatória" I. (Guido Zanobini - Corso di Diritto Amministrativo - 5" edição - 1947 - vol. I, p. 33.)
Mas o DA não se esgota na interpretação e aplicação das leis administrativas, então este critério não é suficiente. É claro que um dos objetos de estudo do DA é as leis, mas ele não se esgota nelas.
Critério das Relações Jurídicas
Sustentava que o DA era a disciplina jurídica que tinha objeto de estudo as relações jurídicas tratavas entre Estado e cidadão.
Mas este critério é amplo demais porque tais relações são objeto de outras disciplinas também, como no Direito de Família, Trabalho, Tributário (embora este seja um braço do DA) etc. 
Então, não serviu usar de um critério tão amplo para explicar o objeto de estudo do DA. 
Correntes Negativistas
Este critério foi superado rapidamente dada sua ausência de cientificidade. Para esta corrente, seria objeto de estudo do DA tudo aquilo que não fosse objeto dos outros ramos do Direito. 
Mas pretender explicar um instituto pautando-se naquilo que ele não é não faz muito sentido, pois isso não esclarece muita coisa!!!
Critério da Administração Pública – Oswaldo Aranha Bandeira de Mello:
Ele apresentou dois critérios que poderiam explicar o objeto de estudo do DA:
Critério subjetivo (quem?):	
O objeto de estudo do AD é o Poder Executivo, pois é aqui que se insere a AP. Então, analisar-se-ia o PE a partir da ideia orgânico-formal (conjunto de órgãos e entidades administrativas que se localizam preponderantemente no PE).
Critério material (o que?):	
O objeto de estudo do AD é uma atividade, sendo que a atividade típica estatal é o serviço público.
Para ele, em consonância com o conceito sociológico advindo da escola francesa, o serviço público é uma atividade estatal de caráter geral para satisfação de necessidades sociais, isto é, serve para atender uma finalidade estatal. 
Em suma, para Mello, é objeto e conteúdo do DA é um conjunto de órgãos administrativos que se localizam no âmbito do PE e que realizam atividades estatais de serviço público. 
Todavia, o conteúdo do DA ainda vai além desta definição, pois não é só o serviço público que toca o DA, isto é, o serviço público não é a única atividade material do DA. O conjunto de órgãos que integram o PE também realizam atividades:
- De polícia administrativa;
- Fiscalização;
- Atividades excepcionais previstas pela CF/88 para que o Estado ele realize atividades econômicas, as quais, por excelência realizada pela iniciativa privada. (Vê-las-emos futuramente, mas saibamos que algumas delas são Banco do Brasil, Caixa, Petrobrás etc.);
- Fomento estatal. O Estado realiza certas atividades a fim de estimular o particular a realizar outras atividades. 
Então, pudemos perceber que o critério dele também não é o mais adequado, pois também é muito reducionista. Além disso, o exercício da atividade administrativa tal como ela é concebida não se esgota no PE, já que também há atividades administrativas que são encontradas nos âmbitos do Poder Legislativo e Judiciário. 
Conceito e objeto do Direito Administrativo – Professora Maria Sylvia 
Segundo ela, o objeto do DA deve ser analisado a partir do critério de dimensões:
Dimensão Orgânica
O DA tem por objeto de estudo uma atividade estatal, isto é, uma atividade típica de Estado. Administrar.
Dimensão da Atividade Administrativa
Quais são as atividades típicas do Estado? As funções estatais típicas são repartidas em três diferentes poderes que as exercem de modo harmônico e independente. 
Qual é o objeto de estudo do DA, então? A atividade típica exercida pelo Poder Executivo, que é a administração. 
E o que é administrar? O que é Atividade Administrativa? 
	Poder Legislativo
	Poder Executivo
	Poder Judiciário
	LEI é o ato típico do PL. 
	ATO ADMINISTRATIVO é o ato típico do PE.
	SENTENÇA e ACÓRDÃO são os atos típicos do PJ.
	Ato normativo cogentes (imperativos).
Os efeitos destes atos normativos são gerais e abstratos, então, se impõem a todos genericamente. 
Valor formal: só a lei pode inovar o ordenamento jurídico, então, pela função legislativa há inovação da ordem jurídica.
	A atividade administrativa é uma atividade de execução da lei, então, o poder público só pode realizar atos que estão de acordo com o que a lei expressamente estabelece.
É uma atividade infralegal.
É uma atividade realizada independentemente de provocação dos particulares, pois é uma atividade do qual o Estado é parte. Em outras palavras, é uma atividade praticada pela parte / parcialidade. 
O Estado produz atos jurídicos de efeitos concretos e imediatos. Os agentes públicos podem ser assim expedidos porque fazem parte de um regime jurídico que é própriodo DPub, pautado em prerrogativas (poderes) e sujeições, que não encontram equivalentes no Direito Privado. 
Os atos do PE não são definitivos. Isto porque:
- A própria AP pode voltar atrás da decisão tomada, por conta de da prerrogativa de autotutela que o Estado tem. 
- A decisão administrativa pode ser revista pelo PJ.
Por estes dois motivos diz-se que a atividade administrativa não é definitiva porque está sujeita à controle de legitimidade. Tanto pelo controle interno (autotutela), ou pelo controle externo (judiciário). 
	Atividade exercida pelo PJ de aplicação da lei com objetivo de pacificação conflitos.
Só age mediante provocação e pode anular atos administrativos. 
O juiz não parte no exercício da função jurisdicional, então o PE age a partir do princípio da imparcialidade. 
Decisões judiciais são caracterizadas pela definitividade (findos os prazos recursais, podem se tornar imutáveis). A imutabilidade das decisões decorre da coisa julgada. 
Lembremos que esta tripartição não é rígida!! O que há, segundo o professor Emerson Gabardo, é o princípio da especialização das funções: cada poder realiza de modo preponderante a função que lhe é típica, mas também realizam outras funções atipicamente. 
	
	Poder Judiciário
	Poder Legislativo
	Poder Executivo
	Função típica
	Julgar
	Legislar
	Administrar
	Função atípica –extraordinariamente pode acontecer que o Poder exorbite a sua função típica e invada outro poder.
	Judiciário administra CNJ.
E legislou quando o STF manifestou que o Art. 52, 10 sofreu mutação constitucional.
	O Legislativo julga Impeachments e CPIs.
Administra na gestão dos interesses da Câmara ou Senado. 
	O Executivo legisla em caso de Medida Provisória.
Administra na gestão dos interesses dos tribunais ou STF.
Nosso sistema é complexo porque ele divide os poderes, mas também não permite que se faça o que quiser com ele, nem que ele seja exorbitado como bem se quer. Se isso for feito, outro poder poderá limitar/reprimir essa atuação.
Então a CF busca um equilíbrio entre os poderes e não permite que eles ajam até o limite de suas funções. Talvez quem tenha mais liberdade a respeito disso seja o Poder Judiciário. Até porque o Poder Legislativo e o Poder Executivo encontram fundamento na soberania popular. Já o Poder Judiciário fundamenta-se da fundamentação de suas próprias decisões, então ele tende a ter um poder mais amplo. Em 1988 isso não era assim. Isso se desenvolveu de lá para cá.
· Judicialização da política ou Politização do Judiciário são termos que se referem a um desequilíbrio na separação de poderes em que o Poder Judiciário (STF) começa a invadir demasiadamente as questões políticas. Há várias pesquisas que tentam sistematizar como é que o STF vem se comportando. Também como o Poder Legislativo vem se comportando e porque ele é inerte em relação a algumas questões das quais o STF tem se manifestado. Se é legitimo ou não que o STF faça isso etc.
Por exemplo: Legalização das drogas. Esse é um caso que até eu me formar já vai ter sido decidido. Por enquanto só houve um voto, do Barroso, que foi a favor. Ele votou pela descriminalização do uso e de cultivo de maconha. Houve o pedido de vista, por isso ainda não seguiu. O fato é, isso é uma questão política ou jurídica? Se for política, existe uma lei antidrogas muito clara. Mas o Barroso afirma que isso também é uma questão jurídica porque é uma questão constitucional de liberdade individual. A extensão da validade ou não desse argumento depende do que se escolhe como teoria da decisão judicial. 
Dimensão do Regime Jurídico
O DA tem como objeto a atividade administrativa, que se submete a um regime jurídico próprio, peculiar, que confere prerrogativas e sujeitos ao Estado, por conta do DPub. 
Dimensão Teleológica
O DA surgiu como instrumento de proteção de direitos individuais fundamentais. 
DA é a disciplina jurídica que deve servir à garantia da felicidade da vida – Professor Paulo Neves!!!! A ideia dele pode ser perfeitamente vinculada à ideia de que o DA cuida da atividade estatal de cumprimento da lei e execução de atividades que satisfaçam as necessidades coletivas, submetida a um regime jurídico de DPub com fim de proteção de direitos fundamentais.
Então, um conceito que pode ser formulado a partir destas dimensões é: o DA é a disciplina jurídica que se insere no ramo público do Direito que tem por objeto de estudo a atividade administrativa, que consubstancia a função administrativa, ou seja, o dever jurídico de atender ao interesse público submetida a um regime jurídico peculiar de DPub para a proteção de direitos fundamentais.
Noções básicas sobre a Administração Pública retiradas da visão da Professora Maria Sylvia 
Pode-se dizer que Administração Pública tem dois sentidos técnicos: 
SENTIDO SUBJETIVO, FORMAL OU ORGÂNICO: indica o conjunto de órgãos e pessoas jurídicas aos quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado; 
SENTIDO OBJETIVO, MATERIAL OU FUNCIONAL: usado no contexto de função administrativa ou de atividade desempenhada sob regime de direito público para a consecução de interesses coletivos.
	Perspectiva Ampla
(Sentido Amplo)
	Sentido subjetivo
Entes que exercem a função administrativa
	Pessoas 
Jurídicas 
Órgãos governamentais 
Agentes Públicos 
	Pessoas 
Jurídicas 
Órgãos administrativos
Agentes Administrativos
	Sentido objetivo
Natureza da atividade
	Função Política – fixação de diretrizes gerais, direção suprema do Estado (nomeação de Ministro; nomeação de CPI, declaração de guerra e de paz, atos decisórios que impliquem o estabelecimento de metas, de diretrizes, de planos governamentais). 
	Função Administrativa – emanação de atos de produção jurídica complementar à lei, aplicação concreta da lei, realização concreta de interesses coletivos: serviço público, fomento, polícia, intervenção do estado na propriedade. 
	Perspectiva Estrita
(Sentido Estrito)
	Sentido subjetivo
	Pessoas 
Jurídicas 
Órgãos administrativos 
Agentes Administrativos 
	Sentido objetivo
	Função Administrativa
Conclusões
O conteúdo do Direito Administrativo varia no tempo e no espaço, conforme o tipo de Estado adotado. No chamado Estado de Polícia, em que a finalidade era apenas assegurar a ordem pública, o objeto do Direito Administrativo é bem menos amplo, porque menor é a interferência estatal no domínio da atividade privada. O Estado de Bem-Estar é um Estado mais atuante; ele não se limita a manter a ordem pública, mas desenvolve inúmeras atividades na área da saúde, educação, assistência e previdência social, cultura, sempre com o objetivo de promover o bem-estar coletivo. Aqui, o Direito Administrativo amplia o seu conteúdo porque aumenta a interferência do Estado na vida dos indivíduos; há um crescimento da máquina estatal e do campo de incidência da burocracia administrativa. Amplia-se o próprio conceito de serviço público, pois o Estado assume e submete ao regime publicístico atividades antes reservadas aos particulares. Século XXI: nem o Estado Liberal conseguiu cumprir sua falsa promessa de liberdade e igualdade; muito menos o Estado Social foi capaz de assegurar a igualdade por meio da implementação de condições matérias de vida - crise do Estado Social – e o Estado Democrático já nasce ameaçado por uma nova ordem mundial que põe em cheque o modelo de Estado adotado universalmente – crescimento do neoliberalismo – tentativa de desconstrução do Estado de Bem-Estar Social. 
Finalmente, dentro de tudo que se expôs, pode-se conceituar o Direito administrativo como o ramo do direito que estuda a atividade administrativa, exercida pelo Estado ou por quem lhe faça às vezes, caracterizada pela presunção de legitimidade que garante a auto-executoriedade dos atos, submetida a um regime jurídico específico e que tem por função a proteção do núcleo de direitos fundamentais. 
Referencial bibliográfico: 
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 31ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. 
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 33ª.ed. São Paulo: Malheiros, 2016. NOHARA, Irene Patrícia. Direito Administrativo. 9a. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
Bibliografia Complementar: 
BACELLAR FILHO, Romeu Felipe (coord.). Direito Administrativo Contemporâneo. Belo Horizonte: Fórum, 2004. 
BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. Direito Administrativo e Novo Código Civil. Belo Horizonte: Fórum, 2007. 
BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. A jurisdição administrativa no direito comparado: confrontações entre o sistema francês e o brasileiro. In: BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. Reflexões sobre Direito Administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2009, p. 59-78. VER RESUMO NO ARQUIVO: RESUMO A JURISDIÇÃO ADMINISTRATIVA NO DIREITO
CARVALHO, Raquel Melo Urbano de. Curso de Direito Administrativo – Parte Geral, Intervenção do Estado e Estrutura da Administração. Salvador: Editora Jus Podivm, 2009. 
TÁCITO, Caio. A constituição e o direito administrativo. In: Revista de direito administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, 232:53-58. 
Tema 03: Regime Jurídico Administrativo (RJA) – ONLINE
17/03/2020
O que for do material, estará nesta cor. O que for transcrição do vídeo estará em preto. 
1. Introdução
1.1 Conceito de Direito Administrativo
Ramo do direito público que estuda a atividade administrativa, exercida pelo Estado ou por quem lhe faça as vezes, caracterizada pela presunção de legitimidade que garante a auto executoriedade dos atos, submetida a um regime jurídico específico e que tem por função a proteção do núcleo de direitos fundamentais. É um ramo do direito público que disciplina o exercício da função administrativa, concebida com a atividade exercida no cumprimento do dever de alcançar o interesse público, através do uso de poderes instrumentais necessários para tal fim. 
Mais resumidamente, o DA é um ramo do DPub que tem como objeto de estudo a função administrativa, que tem características próprias porque se submete a um regime jurídico específico: o regime jurídico de DPub. É este regime, que contorna o DA como disciplina jurídica, que estudaremos nesta aula. 
 
1.2. Regime Jurídico Administrativo: 
Saibamos que o regime jurídico administrativo é composto por um conjunto de princípios que dão identidade e autonomia jurídico-científica a esta determinada disciplina. 
É o conjunto dos princípios, de matriz constitucional, que determinam a compreensão de todo o Direito Administrativo. Uma disciplina jurídica se revela como autônoma quando a ela corresponde um conjunto de normas (regras e princípios) que lhe dão identidade, guardando tais normas, entre si, uma correlação lógica de coerência e unidade que compõem um sistema. 
O estudo do regime jurídico administrativo deve partir da noção de função administrativa, que se traduz no cerne, no conteúdo do regime jurídico administrativo. 
No DAB, o autor que primeiramente sistematizou o RJA foi o Celso Antônio de Melo, portanto, utilizaremos a lição dele para estudarmos a estrutura fundamental do RJA. Ele identificou dois princípios como estruturantes RJA.
Nas palavras do material, o Direito Administrativo é uma disciplina normativa peculiar que se delineia, fundamentalmente, em função da consagração de dois princípios que constituem a fonte matriz do sistema, a saber: 
- Princípio da Supremacia do Interesse Público (sobre o Interesse Privado)
- Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público
Princípio da Supremacia do Interesse Público (sobre o Interesse Privado)
Neste princípio temos que o interesse público prepondera sobre o interesse individual (especialmente se houver uma situação de conflito entre eles). 
Aqui identificamos as prerrogativas (os poderes) que são conferidos à administração pública na realização de suas atividades, isto é, na realização da função administrativa. 
É importantíssimo notarmos que os poderes são conferidos à ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, ao órgão administrativo incumbido de realizar a função administrativa. Os poderes não são conferidos ao agente público, pois ele apenas exterioriza a vontade da lei, que é justamente realizar o interesse público. 
Não se pode confundir o exercício destes poderes como sendo uma prerrogativa atribuída ao próprio agente. Os poderes são meros instrumentos conferidos ao órgão público e a AP para que ela possa dar conta de suas múltiplas atividades. Daí dizermos que estes poderes são meramente instrumentais para o cumprimento de uma dada finalidade, que é atender o interesse público.
Este princípio prevê as prerrogativas da AP, que se exterioriza a partir de poderes especiais conferidos à administração pública, que não encontram equivalentes no âmbito do DPriv. 
Estes poderes se identificam pela posição privilegiada que a AP ostenta em relação aos particulares.
EXEMPLO: Prazos diferenciados para a Fazenda Pública no processo, como a outros órgãos públicos. Aqui, vemos que a AP ostenta um privilégio processual.
Outro exemplo, quando a AP precisa cobrar eventuais créditos tributários de particulares, ela manifesta essa prerrogativa mediante a execução fiscal, um procedimento de execução diferenciado. De mesmo modo, para pagar os seus débitos o seu regime é diferenciado: regime do precatório requisitório. Quando condenado a pagar um valor em juízo, ele inscreve esse débito em um sistema cronológico que programa esse pagamento para o exercício financeiro seguinte.
Logo, este princípio implica na superioridade do interesse da coletividade, sendo este o norte de toda a atuação estatal. Deste princípio decorrem: 
a) Posição privilegiada do órgão:
O órgão incumbido de zelar pelo interesse público e de exprimi-lo nas relações com os particulares fica em posição de privilégio, recebendo benefícios que a ordem jurídica confere a fim de assegurar conveniente proteção aos interesses públicos.
Exemplos:
- Presunção de veracidade e legitimidade dos atos administrativos; 
- Maiores prazos para intervenção em processos judiciais; 
- Prazos especiais de prescrição, etc.
Estudemos os exemplos:
Presunção de legalidade e veracidade dos atos administrativos
A condição de autoridade da AP se verifica pela possiblidade de expedição de atos que já tem efeitos jurídicos imediatos e concretos, independentemente da vontade dos particulares porque tais atos são presumidos como legais e verdadeiros. Então, a presunção de legalidade e veracidade dos atos administrativos é uma consequência do Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado.
Dentre os atos que podem ser expedidos pela AP, podemos destacar:
· Atos dotados de alta executoriedade
Estes são os atos que a AP põe em execução diretamente, sem precisar, por exemplo, recorrer ao poder judiciário para impor seu cumprimento. É um poder de aplicar sansões administrativas em razão de comportamentos que sejam apurados como infrações administrativas.Estes poderes são transferidos a administração pública para que ela possa bem atender o interesse público. Não seria possível a AP atender ao interesse público de segurança no trânsito, por exemplo, se a cada infração constatada pelo agente público de trânsito o poder público tivesse que ingressar com uma medida judicial para sancionar o particular infrator.
Exemplos:
- Poder de polícia;
- Poder de polícia de trânsito;
- Poder de polícia sanitária.
Como desdobramentos do Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado destacam-se também os privilégios de ordem processual da AP em juízo:
Prazo em dobro
O prazo em dobro que a Fazenda Pública tem para recorrer nos processos. Ela tem este privilégio em razão do Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado.
Aqui vemos que a AP ostenta em relação aos particulares uma condição privilegiada para cobrar seus créditos devidos pelos particulares em juízo, onde ela se vale de um procedimento diferenciado de execução fiscal. 
Instituto da prescrição administrativa
O Decreto 20.910/1932 estabelece que todas as demandas a serem propostas em face da Fazenda Pública se submetem a um prazo prescricional de 5 anos. 
Este prazo é chamado de prescrição administrativa. 
Este é outro desdobramento

Continue navegando