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1 MANUAL DE BICHO-FURÃO MEDIDAS PARA O CONTROLE SUSTENTÁVEL MANUAL DE BICHO-FURÃO MEDIDAS PARA O CONTROLE SUSTENTÁVEL José Maurício S. Bento (Esalq/USP - Departamento de Entomologia e Acaralogia) José Roberto P. Parra (Esalq/USP - Departamento de Entomologia e Acaralogia) Pedro Takao Yamamoto (Esalq/USP - Departamento de Entomologia e Acaralogia) Edição 1 Araraquara (SP) Fundecitrus 2019 Copyright© Fundecitrus, 2019 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, arma- zenada em um sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou quaisquer outros sem a autorização dos autores e sem dar os devidos créditos. Edição: Jaqueline Ribas Revisão: Beatriz Flório Projeto gráfico: Valmir Campos Fotos e Ilustração: Arquivo Fundecitrus, Adriano Carvalho e Pedro Takao Yamamoto E-mail: comunicacao@fundecitrus.com.br Endereço eletrônico: www.fundecitrus.com.br Araraquara, SP – 2019 Impresso no Brasil Bento, José Mauricio S. Manual de bicho furão: medidas essenciais de controle/ José Mauricio S. Bento; José Roberto P. Parra; Pedro Takao Yamamoto. – Araraquara: Fundecitrus, 2019. 19 p. ISBN: 978-85-68170-08-3 1. Citricultura 2. Bicho furão I. Parra, José Roberto P. II. Yamamoto, Pedro Takao III. Título CDD: 632.7 B478m Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Fundecitrus 5 5 O manual do bicho-furão: medidas para o controle sus- tentável, editado pelo Fundecitrus, traz informações sobre a ocorrência do inseto e seu ciclo de vida, os sintomas dos frutos atacados e comparações com os causados pelas mos- cas-das-frutas. Também detalha os métodos de monitora- mento correlacionando o período do ano com as variedades, explica como colocar em prática, traz indicações de controle diante de três níveis de captura de insetos nas armadilhas, apresenta diferentes formas de controle e orientações para cuidados adicionais. APRESENTAÇÃO: 7 7 BICHO-FURÃO Gymnandrosoma aurantianum Até o final da década de 1980, o bicho-furão (Gymnandrosoma aurantia- num) era considerado uma praga esporádica, sem grande importância para a citricultura. Entretanto, com o aparecimento da doença CVC (clorose variegada dos citros), ou amarelinho, causada pela bactéria Xylella fastidiosa, transmitida por cigarrinhas, passou-se a fazer um intenso controle químico que promoveu a morte de inimigos naturais e permitiu o aumento populacional do bicho-furão. Nesta época, as perdas estimadas pelo ataque do bicho-furão foram de US$ 50 milhões por ano, havendo a necessidade de estudos bioecológicos da praga para controlá-la racionalmente. No início da década de 2000, foi disponibilizado o feromônio “Ferocitrus Furão” ao citricultor, que indicava o momento correto de controle da praga. Os resultados desta tecnologia foram surpreendentes. Trabalhos mostraram que o uso deste feromônio pelos citricultores paulistas evitou perdas de US$ 1,3 bilhão no período de 2002 a 2012. Entretanto, com o aparecimento do greening (huanglongbing/HLB) em 2004, tornou-se necessário fazer um controle mais intenso para combater o psilídeo Diaphorina citri, inseto transmissor da doença. Aplicações mais frequentes po- dem ter causado desequilíbrios biológicos e ocasionado uma nova explosão populacional nos últimos anos, com prejuízos estimados na ordem de US$ 80 milhões anuais. Este manual traz as principais medidas de manejo desenvolvidas nos últimos anos baseando-se na bioecologia do bicho-furão e no uso do feromônio, assim como detalhes do monitoramento para se ter um controle eficiente da praga. FUNDECITRUS I BICHO-FURÃO MEDIDAS PARA O CONTROLE SUSTENTÁVEL8 O bicho-furão (Gymnandrosoma aurantianum) é uma mariposa que deposita ovos em frutos maduros, provocando o seu apodrecimento e queda. Quando a infestação é precoce e as populações altas, os frutos verdes também podem ser atacados. O inseto ocorre durante todo o ano, com população reduzida no outono em virtu- de da menor disponibilidade de frutos, principalmente maduros. OCORRÊNCIA DO INSETO BARRETOS (8,3) BEBEDOURO (7,3) ARARAQUARA (7,2) SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (8,2) LIMEIRA (7,1) Em áreas de clima quente pode haver um número maior de gerações OCORRÊNCIA POR REGIÃO (Nº MÉDIO DE GERAÇÕES/ANO) 9 9 O ciclo de vida dura de 32 a 60 dias e é mais rápido em regiões quentes (tempe- ratura média de 30ºC é a ideal para seu desenvolvimento). CICLO DE VIDA 4. Pupa - 9 a 21 dias 2. Ovo - 3 a 5 dias 3. Lagarta - 14 a 30 dias Ciclo de vida 1. Mariposa - 14 a 21 dias A fêmea (mariposa) coloca apenas um ovo por fruto, geralmente ao entardecer (a partir das 17 horas), período ideal para o controle. Cada fêmea pode colocar até 200 ovos durante o ciclo, preferencialmente em frutos que estão a 1 m ou 2 m do solo. Dos ovos, saem lagartas de cabeça escura, que após caminharem pelo fruto por aproximadamente 4 horas, penetram e alimentam-se da polpa, induzindo o seu apodrecimento. Antes que o fruto caia, as lagartas tecem um fio para descerem ao solo, onde passam para a fase de pupa. Algumas vezes, a pupação pode ocorrer no fruto. FUNDECITRUS I BICHO-FURÃO MEDIDAS PARA O CONTROLE SUSTENTÁVEL10 Os frutos atacados pelo bicho-furão tornam-se mais amarelos que os de- mais, o que facilita a detecção. Os frutos atacados, em sua maioria, caem. O orifício de penetração da lagar- ta fica evidente e observam-se secre- ções, que são restos de alimentação e excremento. Esse excremento endure- ce e fica bem visível, grudado à abertu- ra da casca. Não é difícil confundir o ataque do bi- cho-furão com o das moscas-das frutas. Saber a diferença ajuda na escolha do método de controle adequado. As moscas-das-frutas atacam pre- ferencialmente frutos maduros. O local da fruta atacado fica mole e apodrecido, enquanto pelo bicho-furão torna-se en- durecido. A larva é de coloração esbran- quiçada e não tem pernas. A principal diferença entre o ataque do bicho-furão e das moscas-das-frutas é que, após penetrar no fruto, ele libera excrementos e restos de alimentos para fora da casca. A lagarta apresenta per- nas, linhas de cerdas e pintas no dorso e é de coloração creme a marrom. SINTOMAS Fruto atacado por bicho-furão: praga libera excrementos para a parte externa do fruto que endurecem a casca 11 11 Fruto atacado pelas moscas-das-frutas: local fica mole e apodrecido FUNDECITRUS I BICHO-FURÃO MEDIDAS PARA O CONTROLE SUSTENTÁVEL12 Pesquisas indicam que é melhor mo- nitorar a população de adultos, impedin- do que as mariposas coloquem ovos nos frutos e ocorra eclosão das lagartas. As- sim, o monitoramento e controle das ma- riposas evitam danos nos frutos, pois é característica dessa praga ter aumentos populacionais muito rápidos, que impe- dem o sucesso do controle quando ba- seado em número de frutos atacados. Para maior eficiência do controle, foi desenvolvido um método de monitora- mento de mariposas do bicho-furão por meio de feromônio sexual sintetizado em pastilhas. O feromônio atrai os machos para a armadilha. Em propriedades com plantio de va- riedades de diferentes épocas de matura- ção e colheita, o monitoramento deve ser iniciado na mudança de coloração dos frutos e estender-se até a colheita. ATENÇÃO Em épocas secas, o citricultor pode observar número alto de insetos cap- turados na armadilha sem haver danos nos frutos. Isso ocorre porque a capa- MONITORAMENTO É uma substância química produzida pelas fêmeas que serve para atrair os machos para o acasalamento PASTILHA COM FEROMÔNIO cidade do bicho-furão de colocar ovos é reduzida com umidade relativa abaixo de 50%. Nesse caso, consulte um enge- nheiro agrônomo. 13 13 Kit com a armadilha e a pastilha deve ser instalado no campo para monitoramento do bicho-furão FUNDECITRUS I BICHO FURÃO MEDIDAS ESSENCIAISDE CONTROLE ÉPOCA DE OCORRÊNCIA E MONITORAMENTO Monitoramento JAN Hamlin Westin Pera Valência Natal JULMAI NOVMAR SETFEV AGOJUN DEZABR OUT 14 15 15 10 ha ÁREA Cada armadilha cobre uma área de 10 hectares (com até 6 mil plantas). LOCAL Elas devem ser colocadas nos pontei- ros das árvores, onde o bicho-furão aca- sala, e trocadas a cada 30 dias. ESPAÇAMENTO Para monitorar a praga, deve-se co- COMO FAZER O feromônio é comercializado na forma de um kit que contém uma pastilha com o composto e uma armadilha com paredes revestidas com cola para captura dos insetos. A montagem da armadilha é bastante simples. locar uma armadilha a cada 350 m. Cada armadilha tem um raio de ação de 175 m. NÍVEL DE CONTROLE O monitoramento é feito por meio do registro do número de adultos coletados nas armadilhas a cada sete dias. O con- trole deve ser realizado conforme a faixa de cores. Após a contagem, os insetos devem ser retirados (com um graveto, por exemplo) de dentro da armadilha. 10 ha 350 m FUNDECITRUS I BICHO-FURÃO MEDIDAS PARA O CONTROLE SUSTENTÁVEL16 Conheça melhor cada faixa de cor e o que fazer em cada caso: NÍVEL DE CONTROLE Faixa verde – LIVRE (captura de até 5 machos/armadilha/se- mana): neste caso, a faixa verde demonstra que existe uma baixa incidência da praga na área e o produtor não precisa tomar medidas de controle no momento, mas deve continuar avaliando semanalmente a armadilha para acompanhar a flu- tuação da praga. Faixa vermelha – CONTROLE (captura de 9 ou mais machos/ armadilha/semana): indica que a área está com alta infes- tação da praga. Neste caso, o produtor necessita realizar o controle imediatamente, pois a população da praga está alta e poderá causar perdas significativas de frutos na área. Faixa amarela – ATENÇÃO (captura de 6 a 8 machos/arma- dilha/semana): neste caso, a faixa amarela demonstra que a área está sob risco, mas que a população da praga pode cair ou subir, dependendo das condições locais de clima e inimigos naturais. Se na próxima semana a captura ficar no- vamente entre 6 e 8 (faixa amarela – atenção), ou for acima de 8 (faixa vermelha – controle), o produtor deve então con- trolar a praga. Se a captura for de até 5 machos/armadilha, o produtor não precisa realizar o controle. Nesse caso, deve continuar fazendo a avaliação semanal. 17 17 MONTAGEM DA ARMADILHA A montagem da armadilha é bem simples. Siga as instruções como indicado: Com o auxílio dos dedos da mão que segura a armadilha na parte de baixo, vire as abas laterais para dentro da armadilha, fechando as janelas laterais. Cuidado para não amassar e não dobrar as janelas laterais, o que implicará na deformação da armadilha, difi- cultando a captura dos insetos e diminuindo a vida útil da mesma. Tire a pastilha do Ferocitrus Furão do papel alumínio, com cuida- do para não danificar ou remover o papel e a película plástica. Coloque-a no centro, localizada na parte debaixo da armadilha, conforme indicado na figura. Puxe a dobra de baixo da armadilha, fazendo com que ela ad- quira o formato de um losango, com cuidado para não puxar muito a ponto das laterais se encontrarem. Segure a dobra de cima da armadilha com uma das mãos e com a outra abra as abas da parte de baixo da armadilha para as laterais. 1. 2. 3. 4. FUNDECITRUS I BICHO-FURÃO MEDIDAS PARA O CONTROLE SUSTENTÁVEL18 CONTROLE DO INSETO Podem ser utilizados produtos químicos, biológicos ou reguladores de crescimen- to de insetos: Momento de controle Onde pulverizar Controle químico Reguladores de crescimento Controle biológico A aplicação de qualquer método de controle escolhido deve ser realizada ao entardecer, horário em que a praga acasala e coloca ovos. As pulverizações devem ser realizadas somente nos talhões que atingirem o nível de controle. O controle químico visa eliminar os adultos e/ou lagartas em “trânsito”. Os inseticidas devem ser utilizados nos focos iniciais da praga. Visando aos adultos e lagartas, podem ser utilizados os piretroides beta-ciflutrina, bifen- trina, etofenproxi, fenpropatrina e zeta-cipermetrina, os fosforados fosmete e malationa e as espinosinas. Os reguladores de crescimento têm efeito em lagartas em “trânsito”. Nes- se grupo podem ser utilizadas as benzoilureias diflubenzuron e tefluben- zuron e a diacilhidrazina tebufenozide. A vantagem desses produtos é que são mais seletivos aos inimigos naturais, preservando aranhas, formigas e ácaros. Para uso dos produtos biológicos, como o Bacillus thuringiensis, é preciso esperar a postura e fazer o controle antes que a lagarta penetre no fruto. A pulverização deve ser realizada em cobertura, de sete a oito dias após atingir o nível de controle. A segunda aplicação deve ser realizada de 20 a 30 dias após a primeira. O período de controle pode ser ampliado com a mistura com óleos vegetais ou minerais. 19 19 Além das aplicações de inseticidas, o citricultor deve tomar alguns cuidados adi- cionais para controlar o bicho-furão: CUIDADOS ADICIONAIS RETIRAR OS FRUTOS ATACADOS Com o objetivo de interromper o ciclo de vida do inseto, todos os frutos atacados, tanto os que estiverem nas árvores quanto os que já caíram, devem ser apanhados. Embora a maioria dos frutos que cai das árvores não tenha a lagarta, pois ela já desceu ao solo para passar à fase de pupa, recomenda-se, para maior segurança, que eles sejam também recolhidos e triturados ou enterrados. COLHER MAIS RÁPIDO Caso haja o ataque do bicho-furão, a colheita deve ser feita o mais rapidamente possível, para evitar que a população da praga cresça. A mariposa costuma passar de talhões com fru- tos maduros e mais velhos para outros com frutos em fase de amadurecimento. TRITURAR OU ENTERRAR Os frutos atacados devem ser triturados ou enterrados. A trituração requer máquina específica e a calda resultante pode ser usada como fonte de nutrientes para a planta e deve ser jogada nas ruas do pomar. Se jogada sob a saia das árvores, na sombra, pode favorecer o crescimento do fungo Penicillium. Ele provoca o apodrecimento do fruto na planta. Sem máquina de triturar, a solução é enterrar os frutos no meio das ruas do pomar. Sobre eles, a camada de terra deve ser de, no mínimo, 30 centímetros, para que as lagartas não cheguem à superfície. FUNDECITRUS I BICHO-FURÃO MEDIDAS PARA O CONTROLE SUSTENTÁVEL20 Av. Dr. Adhemar Pereira de Barros, 201 Vila Melhado, Araraquara/SP 16 3301 7000 / 0800 112155 www.fundecitrus.com.br
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