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PROFESSOR PESQUISADOR EM MATEMÁTICA E FÍSICA Faculdade de Minas 2 Sumário 1 Matemática ................................................................................................ 4 1.1 Introdução ........................................................................................... 4 1.2 A formação inicial de professores de matemática ............................... 6 1.3 O licenciando pesquisador ................................................................ 13 2 Física ....................................................................................................... 19 2.1 Introdução ......................................................................................... 19 2.2 A importância da formação de um professor(a) pesquisador(a)........ 20 2.3 O que tratam as DCN dos cursos de licenciatura em ciências naturais .......................................................................................................... 25 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 27 Faculdade de Minas 3 FACULESTE A história do Instituto Faculeste, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Faculeste, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Faculeste tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. Faculdade de Minas 4 1 Matemática 1.1 Introdução Após um movimento na educação brasileira que buscou discutir as concepções de aprendizagem e suas implicações para a formação de nossos alunos, estamos vendo, a cada dia mais, uma grande movimentação dos educadores no sentido de discutir a formação desses profissionais que são responsáveis pela educação, qual seja o professor. Assim, a formação de professores, tem sido alvo de diversos debates entre os educadores, inclusive entre acadêmicos, envolvidos com a formação inicial ou continuada. Esse debate tem questionado os currículos dos cursos de Pedagogia e Licenciaturas e as estratégias utilizadas nos programas de formação continuada. Anterior a este movimento de reformulação dos currículos, os cursos de formação inicial docente fundamentavam-se no modelo de racionalidade técnica em que os conteúdos específicos sobrepunham aos conteúdos metodológicos, uma vez que, considerava-se que o verdadeiro conhecimento residia nas teorias técnicas da ciência básica aplicada. Gonçalves e Gonçalves (1998) ressaltam que antes encontrávamos uma ênfase em conteúdos com incidência mínima de questões que procuravam analisar as abordagens do processo de ensinar e aprender. Mais recentemente, tivemos uma inversão dessa ênfase, quando desapareceram as questões de conteúdo, dando lugar, unicamente a questões pedagógicas. Segundo esses autores essa segregação de conteúdos é desnecessária uma vez que esses conhecimentos (conteúdos específicos e pedagógicos) devem ser construídos nas relações de ensino aprendizagem. Sendo assim, afirmam “Consideramos que não é possível dicotomizar. Não significa que o licenciado tenha que aprender primeiro o conteúdo específico para depois desenvolver o conhecimento pedagógico. Este tipo de conhecimento vai se construir na relação com que ele aprende, manifestando suas formas de pensar, seus conhecimentos anteriores, seus conflitos”. Faculdade de Minas 5 Há muito tempo discute-se a disjunção entre o trabalho do professor de matemática e os resultados de pesquisa em educação matemática. Criticam-se os pesquisadores como indivíduos que, com o objetivo de atingir rigor metodológico, reduzem a complexidade da sala de aula. Controlam-se as variáveis humanas, criando-se grupos de controle e grupos experimentais. Os resultados são conclusões aparentemente pouco úteis para o professor de sala de aula. A linguagem esotérica utilizada nos ensaios, as conexões rígidas a certas correntes teóricas, e a falta de implicações para a prática, condenam os resultados das pesquisas a permanecerem influentes apenas no âmbito acadêmico. O uso e abuso da palavra pesquisa nas sociedades modernas merece uma reflexão sobre o próprio conceito de pesquisa. Muitos cursos de graduação e, praticamente, todos de pós-graduação, têm como obrigatória a disciplina Metodologia de Pesquisa, muitas vezes com um outro nome. As escolas fundamentais mais avançadas envolvem seus alunos, mesmo antes que saibam ler e escrever, em projetos de pesquisa individual e coletiva. Para nós, indivíduos da vida acadêmica, pesquisa é parte do nosso dia-a-dia. Discute-se a validade de uma pesquisa, fala-se em métodos de pesquisa e em linhas de pesquisa. Trabalhos publicados devem ser enquadrados em linhas de pesquisa já declaradas, desestimulando a atuação do pesquisador em áreas fora da sua especialidade, o que é vital para a academia. Muitas vezes, alega-se falta de experiência e competência do pesquisador na nova área. Para os alunos, a situação é ainda mais asfixiante. O jovem que se inicia na pesquisa deve deixar bem claro, antes mesmo de dar início ao trabalho, qual a metodologia que vai seguir, qual a questão que pretende responder. O resultado é manietar o jovem na exploração do novo, e o mesmo se passa com o pesquisador estabelecido. No meio acadêmico, o que tem sido considerado uma boa pesquisa é, muitas vezes, o reflexo da inserção equivocada, na educação, de um conceito descontextualizado de qualidade. Faculdade de Minas 6 As pesquisas atuais são, em linhas gerais, classificadas em duas grandes vertentes: pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa. Essencialmente, a primeira delas lida com grande número de indivíduos, recorrendo aos métodos estatísticos para a análise de dados coletados de maneiras diversas, inclusive mesmo entrevistas. Essa é a pesquisa que comparece nos indicadores de opinião pública e tendência de voto, tão frequentes no cotidiano. Chamá-la de pesquisa estatística ou pesquisa positivista é ainda comum. No correr do século XX, a pesquisa quantitativa firmou- se na Educação, particularmente nos Estados Unidos da América, recebendo um grande impulso com a fundação, em 1916, da American Educational Research Association [AERA]. Até recentemente, pesquisa era entendida como pesquisa quantitativa, particularmente na Educação Matemática. Há cerca de duas décadas a pesquisa qualitativa, também chamada pesquisa naturalística, começa a ser valorizada, como a mais adequada para pesquisa em por acadêmicos, muitas vezes vêem o professor como sujeito da pesquisa. Os resultados são, em geral, relatados criticando o conhecimento dos professores e a sua ação. Cria-se assim uma cultura de suspeita e desentendimento entre os educadores matemáticos residentes no mundo acadêmico e os educadores matemáticos com ação nas salas de aula do mundo escolar. 1.2 A formação inicial de professores de matemáticaOBJETIVO · Discutir alguns dilemas da profissão e da formação inicial Em um de seus artigos, o pesquisador português João Pedro da Ponte (2002, p. 3) denuncia: A formação inicial de professores recebe com frequência comentários muito críticos de diversos sectores. Os professores universitários das áreas de especialidade consideram que os jovens professores não saem devidamente preparados nas matérias que irão ensinar. Os professores da área de educação lamentam que tudo o que ensinam acaba por ser “varrido” pelo conservadorismo da prática de ensino. Os novos professores lamentam que nada do que aprendem na formação inicial lhes serviu para Faculdade de Minas 7 alguma coisa e que só na prática profissional aprenderam o que é importante. Os professores já em serviço também acham, muitas vezes, que os jovens professores não vêm devidamente preparados no que seria mais necessário. Na sociedade, em geral, parece existir uma grande desconfiança em relação à qualidade da formação inicial de professores. Não há dúvida que existe um mal estar em relação a esta questão, como acontece, aliás, em relação a (quase) tudo o que se passa na educação em geral. No trecho acima, o autor aponta entraves específicos da formação de professores de Matemática que não se apresentam como um privilégio apenas do caso português. De fato, os mesmos problemas atingem de modo substancial o modelo de formação inicial do professor de Matemática aqui no Brasil. Note-se que o autor faz referência a dois grupos de formadores de professores: o primeiro refere-se aos formadores da área específica; enquanto o segundo grupo trata dos profissionais da área da Educação. Vamos destacar o seguinte trecho: os professores já em serviço também acham, muitas vezes, que os jovens professores não vêm devidamente preparados no que seria mais necessário. Da declaração sustentada por João Pedro da Ponte podemos concluir várias coisas pertinentes à formação, todavia a que achamos mais importante é a preparação e instrumentalização do futuro docente em teorias que não explicam e/ou são utilizadas diretamente em seu ofício diário. Certamente que não tencionamos assumir aqui uma posição reducionista que prioriza o estudo apenas daquilo que é efetivamente utilizado em sala de aula pelo professor na escola. Se assim tivesse sido nossa opção, a primeira medida seria eliminar todas as disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral, Variável Complexa, Estruturas Algébricas, etc. Por outro lado, se existe um Currículo de Matemática, existem também grupos específicos especialistas da área da Matemática Pura que determinam, por influência dos paradigmas internacionais, o que deve ser estudado em um curso de Faculdade de Minas 8 graduação em Matemática. Schubring (2003, p. 12) nos fornece uma perspectiva histórica interessante ao lembrar que: Embora mudanças estruturais nos sistemas educacionais de alguns estados europeus já tivessem em endamento, as reformas curriculares, por volta de 1900, estavam muito atrasadas. A instrução matemática era particularmente afetada pelas tensões estruturais agora visíveis nos sistemas educacionais, tensões essas induzidas pelas profundas transformações na sociedade em geral; dentro das estruturas tradicionais, a matemática costumava servir como um paradigma para o pensamento lógico, de modo que os conteúdos eram usualmente bastante elementares e os métodos de ensino enfatizavam aspectos formais; a matemática escolar tinha um caráter estático e desligado das aplicações práticas.Por outro lado, a industria e o comercio demandavam não apenas uma instrução matemática mais ampla, mas também conhecimentos mais modernos e avançados que servissem de base para aplicações tecnicas. Por enquanto não pretendemos discutir estas e outras questões relacionadas ao currículo de Matemática. Sendo assim, destacamos outros elementos que merecem atenção no ambiente de formação e que são destacados por Lapert & Ball (1998, apud VISEU, 2008, p. 62) quando indicam que: As práticas de ensino predominantes na formação inicial de professores assentam no pressuposto de que a teoria transmitida aos candidatos lhes será útil um dia, em contextos que irão encontrar na sua prática de ensino, não os preparando para a compreensão dos problemas profissionais e para a tomada de decisões em situações particulares da sala de aula. Para estas autoras, há outras razões além das apontadas acima que fazem com que os programas de formação tenham pouco impacto na preparação dos futuros professores para ensinar Matemática, tais como (i) não atender às crenças, concepções e conhecimentos que os futuros professores possuem; Faculdade de Minas 9 (ii) transmitir a percepção de que para ensinar não é necessário um conhecimento profissional específico, sendo pouco mais preciso do que senso comum; (iii) não evidenciar a importância do conhecimento didático; (iv) não estabelecer a ligação entre a teoria e a prática; e (v) dar pouca atenção à prática profissional. O desenho esquemático da figura abaixo nos proporciona a uma das razões apontadas por Lapert & Ball, quando salientam a ligação entre teoria e prática. Observando o diagrama, prevemos algumas dificuldades, uma vez que os conteúdos matemáticos no Brasil não são fornecidos ao licenciando com uma grande ênfase ou preocupação com ensino. Por exemplo, o caso dos conteúdos de Geometria Plana que são bastante extensos, entretanto, na graduação, aparentemente, tudo parece ser visto em um semestre. Assim, o aluno precisa percorrer sozinho a seguinte trajetória: Aprender Geometria para si → Aprender para explicar / convencer o outro → Aprender como ensinar / operacionalizar o conteúdo em sala de aula O percurso acima está longe de ser atingido, pelo menos em grande parte, em um curso de licenciatura, o que se caracteriza um sério problema que deve ser pensado por formadores e formandos. Na figura abaixo, ilustramos a concepção de curso de formação de professores de Matemática em Portugal. Faculdade de Minas 10 Reparamos uma presença marcante de uma Didática direcionada ao ensino de conteúdos específicos de Matemática integrando os currículos de formação na Europa. Sua necessidade pode ser evidenciada pelo fato de mobilizarmos „modelos mentais‟ distintos quando raciocinamos em termos de Aritmética, Álgebra e Geometria. Num largo sentido, as formas específicas de raciocínios nestes ramos da Matemática apresentam características em comum. Neste sentido, Brousseau & Gibel (2005, p. 17) definem um raciocínio como uma relação R entre dois elementos A e B tal que: A denota a condição ou um fato observado, que poderia ser contigente em circunstâncias particulares; B é uma consequência, uma decisão ou fato previsto; R é uma relação, uma regra, ou, geralmente, algo aceito como conhecido. A relação R conduz a ação do pensamento segundo em que a condição A seja satisfeita ou o fato representado por A assuma posição, para se poder predizer B, prever B ou estabelecer que B é verdade. Faculdade de Minas 11 Além disso, um raciocínio contém: Um agente E (aluno ou professor) que usa a relação R; Um projeto, deteminado pela situação S que requer o uso desta relação. Além de ilustrar e identificar os elementos essenciais em uma forma de raciocínio em Matemática, Brousseau & Gibel diferenciam níveis diversificados de manifestação das relações entre A, B, R, E e S. De fato, Brousseau & Gibel (2005, p. 18) identificam três níveis ou categorias de raciocínios, a saber: NÍVEL 1 ( N1 ): É definido como um raciocínio que é não formulado de modo explícito, porém pode ser pode ser tomado como um assunto ou alvo de suas ações e constrói um modelo de ação para o sujeito; NÍVEL2 ( N2 ): É definido como um raciocínio ainda incompleto, do ponto de vista formal, porém com lacunas que podem ser consideradas preenchidas de modo implícito por meio de ações do sujeito numa situação em que uma formulação completa não parece ser justificada. NÍVEL 3 (N3 ): É definido como um raciocínio completamente formal baseado em uma sequência correta de inferências, com referência explícita aos elementos pertinentes da situação ou um conhecimento partilhado por uma classe. O fazer do professor é hoje compreendido segundo várias concepções, mas por muito tempo se compreendeu que o professor da Educação Básica poderia ser definido unicamente como o profissional que ministra aulas e que relaciona ou instrumentaliza os alunos para as aulas em qualquer que seja a área de estudo. Num outro polo, compreendia-se que apenas o professor universitário deveria (ou poderia) ser pesquisador, isto é, somente a este tipo de professor caberia a atividade de reunir informações sobre um determinado problema ou assunto, analisá-las utilizando o método científico e então, gerar conhecimento. Contudo, na atualidade, tem vigorado a ideia de que a docência e a pesquisa são atividades que se articulam e se complementam, assim, o professor-pesquisador deve atuar em todo e qualquer nível de ensino. Faculdade de Minas 12 Nesta linha de pensamento Freire diz que: Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino, continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 2008, p.29). Seguindo o raciocínio de Freire, podemos dizer que o professor é pesquisador e que a pesquisa faz parte do professor, mas, segundo Lima (2007), a proposta de docente pesquisador, enquanto tendência pedagógica, somente chegou ao Brasil a partir de meados de 1990. Hoje ela se encontra presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais para as licenciaturas, que em seu Art. 2º, item IV, afirma que a organização curricular das licenciaturas deve voltar-se, inclusive, para o aprimoramento em práticas investigativas (BRASIL, 2002). Por esta via, analisa Pamplona (2013, p.55), nas Diretrizes Curriculares ... se firma a ideia de que o cotidiano escolar deva ser objeto de pesquisa dos próprios professores, pois se tem observado que, de modo geral, quando as investigações são levadas a cabo somente por acadêmicos, elas têm pouco ou nenhum reflexo sobre a sala de aula. (...) Entretanto, esta reconfiguração da função docente implica mudanças na formação inicial, no sentido de trazer a pesquisa para as licenciaturas, permitindo que os futuros professores passem a incorporar a postura crítica e investigativa que o permita investigar os complexos fenômenos que envolvem o ensino e aprendizagem. Este mesmo documento também preconiza, no Art. 3º, que a pesquisa é essencial aos cursos de formação. Em vista disto, um dos desafios lançados aos professores das licenciaturas refere-se à criação de espaços e de momentos por meio dos quais os licenciandos possam vivenciar a pesquisa. Para tanto, segundo André, é necessário que “a pesquisa se torne um eixo ou um núcleo do curso, ou seja, integre o projeto de formação inicial e continuada da instituição construído pelos Faculdade de Minas 13 seus participantes, levando em conta os recursos e as condições disponíveis” (ANDRÉ, 2011, p.61). Esta tem sido a tônica do curso de Licenciatura em Matemática do CUA/UFMT, e decorre desta prática a necessidade de analisar o real impacto dos esforços empreendidos. Para tanto, formulamos a questão de pesquisa: como os diferentes espaços do Curso de Licenciatura em Matemática do CUA/UFMT têm desenvolvido competências relacionadas com o processo de investigação em Educação Matemática? Esta tem sido a questão abordada em nosso trabalho, cujo objetivo geral é: analisar como diferentes instâncias, tais como a participação de pesquisas como parte disciplinar, do Estágio Supervisionado, ou como parte de diferentes programas ligados à licenciatura têm contribuído para que o licenciando torne-se pesquisador. Dele decorrem os seguintes objetivos específicos: Analisar como a vinculação das disciplinas didático-pedagógicas, em especial o Estágio Supervisionado, a programas de ensino, pesquisa e/ou extensão contribui para a formação e o aprimoramento da prática investigativa. Avaliar se e como a pesquisa realizada ao longo do curso contribui para a integração do futuro professor na comunidade de prática dos pesquisadores em Educação Matemática. Verificar a necessidade de adequação ou mudanças nas estratégias do curso de Matemática para a construção da identidade do professor pesquisador. 1.3 O licenciando pesquisador No Curso de Licenciatura em Matemática da UFMT, Campus do Araguaia, foi tomada como referência para a maior parte das práticas de estruturação do Curso a ideia da aprendizagem como um fenômeno situado, construído social e historicamente pelas pessoas em atividade no e com o mundo, a partir da Teoria da Aprendizagem Situada em Comunidades de Prática. Faculdade de Minas 14 A perspectiva situada de Lave e Wenger (1991) entende a aprendizagem como uma experiência que faz parte integrante da participação em comunidades de prática. A participação é algo emergente e intencional que não pode ser prescrito nem legislado; é, no entanto, possível pensar em modos de enriquecer a atmosfera da comunidade onde se pretende promover determinadas formas de participação. (MATTOS et all, 2003) Por isto, compreendemos que alguém vai tornando-se professor desde o momento que ingressa no curso de licenciatura, visto que passa a fazer parte de uma comunidade (que é um grupo de pessoas que se reconhecem mutuamente como associadas a determinados fazeres e está inerentemente relacionado a uma prática social), começa a apropriar-se de um domínio (é uma base comum de trabalho, que auxilia a criar e desenvolver uma identidade) e a envolverse com uma prática (que se refere ao conhecimento específico que a comunidade desenvolve, partilha e mantém). Segundo Pamplona (2009), Wenger (2001) afirma ainda que a “aprendizagem na prática” inclui os processos de desenvolvimento de formas de compromisso mútuo; de compreensão e ajuste de fazeres; e de desenvolvimento do repertório (estilos e discursos). O autor firma também que aprendizagem é o que muda nossa capacidade de participar da prática, visto que ela traz a compreensão de porque fazemos e quais são os recursos que temos a nossa disposição para fazê-lo. A aprendizagem tem, então, a ver com o desenvolvimento de nossa prática e com nossa capacidade de negociar significados. Ela não pode ser compreendida apenas como aquisição de recursos, hábitos e capacidade, mas sim como transformação de uma identidade. Segundo Pamplona (2009), outra ideia importante na comunidade de prática é a de “ser membro”, de pertencer a um conjunto. Um dos modos de pertença que ele considera fundamental é o engajamento. O engajamento nasce de um desejo de inclusão, emerge da interação e encontro de iniciativas (SANTOS, 2004) e permite que as pessoas identifiquem seus parceiros, percebendo o que os liga, os significados que estão associados às suas práticas. Faculdade de Minas 15 Em vista do exposto, em nosso contexto de trabalho, tendo o estudante da licenciatura em Matemática se engajado, de fato, em seu curso, buscando atuar na comunidade, apreender seu repertório e assumir compromissos, ele é também compreendido como um professor de Matemática, ainda que seja um “membro periférico” destacomunidade. E, como tal, este professor, desde o momento em que inicia o Curso, é incentivado a fazer pesquisas sobre o contexto educacional de modo geral e sobre a prática docente de modo particular. Mas, de modo especial, é durante o Estágio Supervisionado que o licenciando toma contato com a ideia de reflexão sobre a própria prática, afinal, para Klein (2006), na medida em que o professor reflete sobre sua prática, re-significa suas teorias e busca compreender as bases de seu pensamento, ele torna-se um pesquisador de sua ação, e poderá modificá-la com mais propriedade. Mas, para Nóvoa, falar sobre professor pesquisador é citar o professor reflexivo, pois: O professor pesquisador e o professor reflexivo, no fundo, correspondem a correntes (conceitos) diferentes para dizer a mesma coisa. São nomes distintos, maneiras diferentes dos teóricos da literatura pedagógica abordarem uma mesma realidade. A realidade é que o professor pesquisador é aquele que pesquisa ou que reflete sobre a sua prática. Portanto, aqui estamos dentro do paradigma do professor reflexivo. É evidente que podemos encontrar dezenas de textos para explicar a diferença entre esses conceitos, mas creio que, no fundo, no fundo, eles fazem parte de um mesmo movimento de preocupação com um professor que é um professor indagador, que é um professor que assume a sua própria realidade escolar como um objeto de pesquisa, como objeto de reflexão, como objeto de análise. (NÓVOA, 2001, Sp) Permeia a ideia de que, nesse processo de reflexão sobre a própria prática, o professor se constrói como sujeito; sujeito de sua prática e de seu conhecimento gerado a partir da associação entre prática e teoria. Contudo, em geral, quando se fala sobre o professor pesquisar a própria prática, nada se coloca sobre o professor em formação inicial, mas sim sobre o professor em exercício. Por exemplo, Lima e Nacarato (2009) pontuam que Faculdade de Minas 16 ...principalmente em Educação Matemática, em que se vêm destacando dois movimentos de professores que pesquisam a própria prática: 1) o(a) professor(a) da escola básica, por iniciativa própria e/ou como participante de grupos colaborativos, investiga problemas emergentes em suas salas de aula e, tendo o grupo como contexto para discussão e divulgação de suas investigações, gera histórias e/ou narrativas de aulas. (...); 2) o(a) professor(a), de qualquer nível de ensino, ao ingressar num programa de pós-graduação, toma a sua própria prática como objeto de investigação. (...) Porém, tanto em uma quanto em outra modalidade, o processo ainda está em construção - metodológica e teoricamente. Entretanto, tendo-nos pautado na Teoria da Aprendizagem Situada em Comunidades de Prática, também faz sentido pensar no licenciando como pesquisador da própria prática e estimular este tipo de atividade no decorrer da graduação. Mas como encaminhar os trabalhos neste sentido? Pamplona (2013, p.56) sugere que: ... é importante que o licenciando participe de projetos de Iniciação Científica, de Monitoria, de Atividades de Extensão, de programas como o PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) e o PET (Programa de Educação Tutorial) dentre outras. Isto é, a ideia é a de que o professor em formação vivencie, de modo contínuo e intenso, situações que lhes viabilizem uma participação ativa e uma postura investigativa de observação, de formulação de questões, de uso de instrumentos de coleta de dados, de cotejamento com um referencial teórico capaz de fazer a mediação entre o vivenciado e o sistematizado. Enfim, é importante que o licenciando torne-se, ao longo de sua formação, um profissional autônomo e construtor de saberes, investigador de sua prática e dos demais fenômenos que a envolvem. Daí a nossa proposta de que a primeira autora deste trabalho, que ao longo de sua graduação envolveu-se em várias das atividades acima citadas, pudesse rever analiticamente todos os trabalhos que realizou durante o curso de modo a revelar como cada um destes momentos/trabalhos contribuiu para torná-la uma professora pesquisadora. Para tanto, metodologicamente, temos optado por um trabalho no formato multipaper. Faculdade de Minas 17 Alguns grupos de pesquisa procuram convidar os professores a se integrarem, como pesquisadores, nos projetos de pesquisa em sala de aula. Uma relação colaborativa se estabelece, e o professor de matemática encontra uma voz e agência no grupo de pesquisa (veja por exemplo, Ferreira, 2003; Geraldi et al, 1998; Schifter & Fosnot, 1993; Mathematical Sciences Education Board, 2002). Alguns pesquisadores consideram essa prática um trabalho de socialização do professor de matemática no mundo da pesquisa. Esses professores passam a construir um papel para a pesquisa na sua prática pedagógica, tornando a pesquisa um elemento essencial à sua vida profissional. De acordo com Goldsmith e Schfter (1997) a ação do professor se modifica conforme ele altera o seu foco, dando maior atenção ao pensamento e à ação do aluno do que aos detalhes de sua própria ação e sua prática. Em outras palavras, o professor passa a “escutar” os seus alunos, dando-lhes voz e agência na sua própria na sua própria aprendizagem. Esses professores passam a entender o pensamento dos alunos como o seu guia, direcionando os seus objetivos e as suas decisões curriculares e metodológicas. A disposição do professor a escutar os seus alunos de forma a lhes dar voz e agência é o elemento fundamental ao caracterizar o professor pesquisador (D‟Ambrósio, 2002). Esse professor coleta dados na forma de produções de seus alunos, observações das ações dos alunos, conversas com seus alunos, e analisando tudo, procura entender a estória da aprendizagem de cada aluno. Acreditamos que a formação de professores é o momento de começar a criar a disposição para ouvir os alunos e analisar o que se pode aprender dos mesmos. Propomos atividades na formação de professores que enfatizem o ato de se “ouvir” os alunos. O trabalho de pesquisa realizado por D‟Ambrósio (a aparecer) sugere que os futuros professores tendem a utilizar uma forma de escutar avaliativa. Fazem uma pergunta aos alunos e esperam uma resposta que julgam corretas ou incorretas. Concluem Faculdade de Minas 18 então que a criança entende ou não o conceito matemática revelado pela questão. Essa atitude avaliativa é resultante de toda experiência de ensino vivida pelo futuro professor. Por outro lado, o professor experiente, que acredita que seus alunos constroem o conhecimento matemático baseado nas experiências, tanto em sala de aula como em sua vida fora da escola, tendem a escutar seus alunos de forma hermenêutica. Ou seja, esses professores construtivistas analisam a voz do aluno, sua voz pessoal e a voz da disciplina, tentando entender as construções de seus alunos e assim planejar a direção de suas ações pedagógicas e curriculares. De acordo com Davis (1999), existe uma forma de se ouvir intermediária, chamada interpretativa. Esse ouvir ocorre quando o professor atende à voz do aluno, mas ainda interpreta essa voz em comparação com a voz da disciplina. Esse professor tenta dar razão aos alunos, contando que essa razão esteja de acordo com o seu conhecimento formal de matemática. Esse professor não altera sua visão do que vem a ser correto na matemática para acomodar o conhecimento do aluno. Essas três formas de ouvir, a avaliativa, a interpretativa e a hermenêutica, utilizadas por professores em sala de aula, constituem um contínuo de aprendizagem pela qual passam os professores ao se tornarem mais atentos à voz do aluno e, conseqüentemente, mais fiéis a um ensino construtivista. Entendemos o professor-pesquisador como aquele que encara a pesquisa como o ato de construir novas idéias e entendimentos,ou seja, uma ação que resulta em aprendizagem. A pesquisa pode gerar nova compreensão sobre a matemática de seus alunos, sobre a realidade de sua sala de aula, sobre a sua prática pedagógica, sobre a qualidade de seu currículo, sobre a matemática em si, ou sobre a aprendizagem matemática. Esses são apenas alguns exemplos do que um professor-pesquisador poderá modificar no seu esquema de compreensão como resultado do ato de pesquisar. Porém, ainda não tivemos sucesso em desenvolver uma coletânea a de oportunidades para o futuro professor assumir o papel de professor-pesquisador. Temos ainda muito a explorar nessa difícil jornada para Faculdade de Minas 19 encontrar um caminho que nos leve à formação do professor-pesquisador na formação inicial de nossos professores. 2 Física 2.1 Introdução Pesquisa pode ser definida como um processo por meio do qual o pesquisador adquire ou produz um conhecimento. Assim, para Neto e Maciel (2009), a pesquisa educacional compreende a capacidade de o professor pesquisador elaborar e construir conhecimento por si próprio, uma construção pessoal que também pode ser coletiva, mas que sempre traz benefícios para o coletivo. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) propõe que as instituições de ensino superior dos cursos de licenciatura, formem educadores capazes de ir à busca do conhecimento, desenvolver competências e habilidades para que esses professores atuem no campo da pesquisa, integrando teoria e prática, procurando refletir sobre suas ações e transformá-la Como componente indispensável à formação do professor, a pesquisa é atualmente discutida em diversas obras científicas, bem como em leis, projetos e planos governamentais devido à importância atribuída a esse nos últimos anos. O professor como pesquisador torna-se uma proposta a ser implementada como sendo uma atividade fundamental para o exercício do magistério. De acordo com Ludke (2001, p. 26) [...] essas ideias só tiveram penetração significativa entre os professores brasileiros na década de 80, quando as análises de caráter exclusivamente macroestrutural e de denúncia do caráter reprodutor do sistema educativo começam a ser questionadas por abordagens que reconhecem a presença da contradição no cotidiano escolar e os sujeitos como co- autores da história. Faculdade de Minas 20 No Brasil, essa reflexão sobre professores pesquisadores, aparece como autocrítica das universidades devido ao distanciamento das práticas e dos desafios encontrados nas escolas. De acordo com Neto e Maciel (2009) o papel da pesquisa é descobrir, criar e produzir conhecimento com o objetivo de intervir e transformar a realidade, visto que é a partir da curiosidade e da vontade de saber que o espírito científico se mobiliza. Bachelard (1996) diz que o espírito científico se forma ao tempo que se reforma, assim, a pesquisa torna-se fundamental para a construção do conhecimento, pois é ela que torna o aprender um processo criativo. Não realizá- la reduz o professor a um mero transmissor de conhecimento. 2.2 A importância da formação de um professor(a) pesquisador(a) A formação do professor deve se dar a partir de uma prática reflexiva, pois como Schön (1983), apud Ludke (2001) defende, o professor engajado na prática docente reflete tanto sobre suas práticas como também na sua aplicação e nos resultados obtidos, não se limitando a apenas preparar aulas, ele será capaz de extrair elementos para melhorá-la. Concernente a esta ideia, pode-se mencionar Freire (1996, p. 43) ao destacar que “A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer ... É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”. Não basta somente conhecer a realidade, é preciso refletir de forma crítica e transformá-la em prol de aperfeiçoar a prática pedagógica, melhorando o processo de ensino e aprendizagem. Tardif (2011) elucida que o saber docente é formado de saberes oriundos da formação profissional (das ciências da educação e pedagogia) e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais. Assim, a pesquisa deve ser considerada parte do saber profissional, essencial para formar bons professores que não saibam Faculdade de Minas 21 apenas sua disciplina, mas também como ensiná-la de forma a atender as diferentes necessidades dos alunos. A respeito dos saberes docentes, Charlot (2005) esclarece que o saber da prática ou conhecimentos sobre a prática é também um saber específico e são produzidos pela pesquisa, essa é uma forma de mediação entre duas lógicas, a da prática e a do discurso. Para o autor, formar professores é trabalhar os saberes e as práticas em diversos níveis e situá-los em pontos que podem se articular lógicas que são e serão heterogêneas. As características de formação e as condições de trabalho dos professores dificultam a associação entre teoria, prática e reflexão, bem como a partilha da produção dos saberes específicos do seu próprio trabalho. Assim, para Tardif (2011), faz-se necessário à implementação de novos modelos de formação profissional que proporcionem uma troca constante entre a prática profissional e a formação teórica, entre a experiência concreta nas salas de aula e a pesquisa, entre os professores e os formadores universitários. Esse modelo está relacionado à formação dos profissionais da educação, e rompe com o modelo tradicional que separava o mundo do trabalho (lugar de mobilização), do mundo da pesquisa (lugar de produção) e do mundo escolar (lugar de comunicação dos saberes e competências). Os educadores e os pesquisadores, o corpo docente e a comunidade científica tornam-se dois grupos cada vez mais distintos, destinados a tarefas especializadas de transmissão e de produção dos saberes sem nenhuma relação entre si. Ora, é exatamente tal fenômeno que parece caracterizar a evolução atual das instituições universitárias, que caminham em direção a uma crescente separação das missões de pesquisa e de ensino. (TARDIF, 2011, p. 35) A formação inicial deve propiciar ao futuro professor um contato direto com as realidades das salas de aula, religar a teoria e prática que é normalmente separado nesse período, e a formação continuada deve possibilitar a identificação de Faculdade de Minas 22 problemas e de suas respectivas soluções que visem facilitar a aprendizagem dos discentes. Estes problemas, segundo Astolfi e Develay (1990, p. 118), “podem constituir a ossatura de uma formação que visaria resolver segundo as metodologias da pesquisa em educação, e mais particularmente as da pesquisação.” Dessa forma, a pesquisação é a produção concreta de mudanças na qual ocorre a teorização da ação com o intuito de construir modelos e conceitos interligados á prática pedagógica dos professores, conforme (ASTOLFI e DEVELAY, 1990, p.120): As problemáticas de pesquisações assim abordadas no período da formação conduziriam os professores - é a hipótese forte que introduz a vontade de pensar uma formação pela pesquisa e não somente uma formação à pesquisa - a uma maior capacidade de análise das situações e das tomadas de decisões, graças ao olhar clínico que teriam de lançar sobre as situações que encontram. A questão da profissionalização docente para Ludke (2001) vem sendo discutida perante a imposição cada vez maior de saberes e atributos, e a complexidade do seu perfil profissional. O professor assume diversos papéis dentro da escola e frente a essa demanda de novas habilidades, a autora cita como questões apontadas pelas pesquisas brasileiras a incorporação de cultura de referências dos alunos, a operacionalização da transposição didática, o desenvolvimento de uma prática reflexiva,transformação da organização escolar incorporando pais e comunidades nesse processo, trabalho coletivo, participação direta nas reformas curriculares, entre outras... Segundo André (2001), a maioria das pesquisas continua sendo produzida nos programas de pós-graduação strictu sensu, no entanto, as temáticas privilegiadas e as formas de desenvolvimento desses estudos estão se modificando, nas décadas de 60 a 70, o interesse eram experimentos realizados em laboratórios, nas décadas de 80 a 90, as preocupações dos pesquisadores voltaram-se para o cotidiano da escola e da sala de aula, ocorrendo uma grande valorização do olhar de dentro, Faculdade de Minas 23 surgindo diversos trabalhos em que se analisa a experiência do professor ou em que este realiza a pesquisa com a ajuda dos participantes. Os programas de formação de professores, para Zeichner (1993), não devem abandonar o componente teórico, mas sim relacionar esses estudos a prática dos futuros professores, tornando-os profissionais reflexivos, o que nos leva a concordar com Demo (1991, p. 14) quando afirma que “Quem ensina carece pesquisar; quem pesquisa carece ensinar. Professor que apenas ensina jamais o foi.” Os professores que são inseridos desde sua formação inicial em cursos e práticas de pesquisas, ou até mesmo em programas de aperfeiçoamento, terão um olhar mais positivo na realização de pesquisas em sala de aula, tendo em vista que pesquisar é uma habilidade e competência essencial ao educador. Para Sacristán e Gómez (2000), o objetivo destes programas deve ser preparar os docentes para perspectivas críticas sobre as relações, a escola e as desigualdades sociais, para que dentro das atividades cotidianas na sala de aula e na própria escola, sejam criados mecanismos para tentar corrigir essas desigualdades, assumindo um compromisso moral e social. Ainda para Sácristan (1998), a formação de professores precisa dotá-los de saberes práticos nos níveis e áreas do currículo que vão atuar, auxiliá-los a fundamentar esses saberes, para assim desenvolver nos futuros professores habilidades para desenvolver, avaliar e promover práticas adequadas as diferentes necessidades dos alunos. Apesar da valorização da prática de pesquisa pelos professores, ela ainda é pouco encontrada na formação docente, essa é uma das explicações para a concepção de que só é realizada na academia, por isso a resistência de muito professores de nível fundamental em realizá-la, para Zeichner (1998) muitos acadêmicos nas universidades rejeitam a pesquisa dos professores das escolas por considerá-la trivial e irrelevante para seus trabalhos. Além de que, para esse autor, há uma negação da legitimidade dos conhecimentos gerados por essas pesquisas. Faculdade de Minas 24 Ludke (2001) afirma que falar em produção de conhecimento pelo professor ainda é tabu, pois as condições concretas do trabalho desses profissionais tornam improváveis as possibilidades de a pesquisa ser inserida no perfil profissional desses docentes que atuam no ensino fundamental e médio, tornando-se um fardo impossível de se carregar, além das resistências entre acadêmicos e formadores em admitir essa possibilidade. Enquanto não houver uma valorização e as autoridades não priorizarem a educação, investindo na qualificação docente na melhoria dos salários, essa realidade torna-se distante, por isso faz-se necessário, além da inclusão da pesquisa na formação docente, verificar se as condições de trabalho desses professores estão adequadas a essa prática. Pesquisar torna o professor capaz de elaborar e construir, a partir do conhecimento produzido por outros, seu próprio conhecimento. A pesquisa possui uma estreita relação com a prática pedagógica, com o objetivo de buscar a qualidade dessas práticas, para facilitar a aprendizagem dos alunos, é o instrumento fundamental para uma prática reflexiva. Partindo do pressuposto que a pesquisa é um dos pilares da formação, tanto a inicial quanto a continuada dos professores, faz-se necessário que os cursos de formação docente ofereçam condições para esses futuros profissionais relacionarem teoria e prática de forma dialética. Dessa forma, a pesquisa capaz de gerar conhecimento, interliga a estas duas instâncias, e faz com que os professores reavaliem suas práticas, reflita-as e as transformem. Considera-se hoje a pesquisa como recurso indispensável ao trabalho do professor, para todos os professores de qualquer disciplina e em todos os níveis. Portanto, atualmente os estudos mostram que existe a necessidade de que os professores tenham uma formação que valorize a pesquisa como instrumento a favor de suas práticas, pois essa formação profissional para um professor pesquisador favorece a aplicação dessas práticas de maneira mais eficaz, uma vez que proporciona condições de interferir, modificar e melhorar sua ação pedagógica, tornando esse profissional um ser crítico, apto a fazer comparações de diferentes métodos de Faculdade de Minas 25 ensino, contrapor teorias, interagir com seus alunos, refletir sobre problemas encontrados no cotidiano da sala de aula e produzir novos conhecimentos. 2.3 O que tratam as DCN dos cursos de licenciatura em ciências naturais Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), normas obrigatórias para a educação, orientam o planejamento curricular das escolas e os sistemas de ensino, são fixadas pelo Conselho Nacional de Educação. No tocante a formação do professor para pesquisa, as DCN dos cursos de graduação da área de ciências naturais (Ciências Biológicas, Física e Química) afirmam que os estudantes, no decorrer de seus cursos, precisam ser estimulados a buscar o conhecimento por si só, participar de projetos de pesquisa e grupos de estudo para discussões acadêmicas, realizar ações extensionistas, escrever, apresentar e defender seus achados, ser capaz de questionar problemas e buscar soluções criativas. Segundo a DCN de Ciências Biológicas (2001), atuar em pesquisa nas diferentes áreas e divulgar os resultados dessas investigações difundindo e ampliando o conhecimento são habilidades e competências que devem ser construídas na formação acadêmica, assim como o DCN de Física (2001), afirma que o físico deve incluir a atitude de investigação em todas as suas atividades e associá-la a diferentes formas e objetivos de trabalho de acordo com a sua área de atuação, desenvolvendo a habilidade de apresentar resultados científicos em diferentes formas, como relatórios, seminários, trabalhos para publicação e palestras. Os licenciandos em Química, para DCN (2001), precisam adquirir habilidades que os capacitem para a preparação e desenvolvimento de recursos didáticos que auxiliem em sua prática, avaliar a qualidade do material disponível no mercado, além de atuar como pesquisador no ensino de Química. As propostas das DCN, no tocante a formação para pesquisa, são comuns a todas as licenciaturas em ciências naturais, ressaltando a importância desta para a preparação de docentes capazes de refletir e criticar a sua prática. Faculdade de Minas 26 Dessa forma as DCN propõem que os cursos de licenciatura em ciências naturais devem formar educadores conscientes de suas responsabilidades sociais, proporcionar a formação de competência na produção de conhecimentos, estimulando diversas atividades complementares, além do estágio curricular, que propiciem a interação teoria-prática. Assim, as diretrizes curriculares devem ajudar às instituições superiores a elaboração de currículos próprios adequados à formação de cidadãos e profissionais capazes de modificar a aprendizagem continuamente, reestruturando e criando novos conhecimentos, enfrentando com eficácia os desafios encontrados no caminho. Faculdade de Minas 27REFERÊNCIAS ANDRÉ, M. (org.). 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