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Anamnese INTRODUÇÃO A anamnese significa trazer de volta à mente todos os fatos relacionados com a doença e o paciente. De início, deve-se ressaltar que, a anamnese é a parte mais importante da medicina, visto que, a anamnese é o núcleo em torno do qual se desenvolve a relação médico-paciente, que, por sua vez, é o principal pilar do trabalho do médico. Além disso, é cada vez mais evidente que o progresso tecnológico somente é bem utilizado se o lado humano da medicina é preservado. Com isso, conclui-se que, cabe à anamnese uma posição ímpar, insubstituível, dentro da prática médica. A anamnese, se for bem feita, resulta em decisões diagnósticas e terapêuticas corretas, porém, se malfeita, desencadeia uma série de consequências negativas, as quais não podem ser compensadas com a realização de exames complementares, por mais sofisticados que sejam. Ainda, vale ressaltar que, uma das principais causas da perda de qualidade do trabalho médico é justamente a redução do tempo dedicado a anamnese. Em suma, a anamnese é uma entrevista e é o melhor instrumento para fazer a triagem e analisar os sintomas, reconhecer problemas de saúde e preocupações e registrar as maneiras como a pessoa responde a essas situações, permitindo aventar hipóteses diagnósticas consistentes, além de abrir espaço para a promoção da saúde. POSSIBILIDADES E OBJETIVOS DA ANAMNESE à Estabelecer condições para uma adequada relação médico-paciente; à Conhecer, por meio da identificação, os determinantes epidemiológicos que influenciam o processo saúde-doença de cada paciente; à Fazer a história clínica, registrando, detalhada e cronologicamente, os problemas de saúde do paciente; à Registrar e desenvolver práticas de promoção da saúde; à Avaliar o estado de saúde passado e presente do paciente, conhecendo os fatores pessoais, familiares e ambientais que influenciam seu processo saúde-doença; à Conhecer os hábitos de vida do paciente, bem como suas condições socioeconômicas e culturais; à Avaliar, de maneira clara, os sintomas de cada sistema corporal. MANEIRAS DE SE FAZER ANAMNESE A anamnese pode ser conduzida das seguintes maneiras: à Deixar o paciente relatar, livre e espontaneamente, suas queixas sem nenhuma interferência, limitando-se a ouvi-lo; à De outra maneira, denominada anamnese dirigida, o médico, tendo em mente um esquema básico, conduz a entrevista mais objetivamente. O uso dessa técnica exige rigor técnico e cuidado na sua exposição, de modo a não se deixar levar por ideias preconcebidas; à Outra maneira, é o médico deixar, inicialmente, o paciente relatar de maneira espontânea suas queixas, para depois conduzir a entrevista de modo mais objetivo. A história clínica, portanto, não é o simples registro de uma conversa. É mais do que isso: é o resultado de uma entrevista com objetivo explícito, conduzido pelo examinador e cujo conteúdo foi elaborado criticamente por ele. Pode-se afirmar que, a anamnese é a parte mais difícil do método clínico, mas também a mais importante. Para fazer uma entrevista de boa qualidade, antes de tudo o médico deve estar interessado no que o paciente tem a dizer. Ao mesmo tempo, é necessário demonstrar compreensão e desejo de ser útil à aquela pessoa. TEMPO DA ANAMNESE Os estudantes que estão fazendo sua iniciação clínica gastam horas para entrevistar um paciente, pois são obrigados a seguir roteiros longos, preestabelecidos; é necessário que seja assim, pois nessa fase, precisam percorrer todo o caminho para conhece-lo, para que somente após isso possam criam “atalhos” sem perder a qualidade da entrevista. Nas doenças agudas ou de início recente, em geral apresentando poucos sintomas, é perfeitamente possível conseguir uma história clínica de boa qualidade em 10 minutos, ao passo que nas doenças de longa duração, com sintomatologia variada, não se gastarão menos do que 30 a 60 minutos. à Em qualquer situação, aproveita-se, também, o momento em que está sendo executado o exame físico para novas Beatriz Loureiro Referência: PORTO, C.C. Semiologia Médica. 8ed. Rio de Janeiro. Guanabara, 2019. indagações, muitas delas despertadas pela observação do paciente. A pressa é o defeito da técnica mais grosseiro que se pode cometer durante a obtenção da história. Este erro pode ter graves consequências no atendimento aos pacientes. OBSERVAÇÃO: Há muitas doenças cujos diagnósticos são feitos quase exclusivamente pela história, como, por exemplo, epilepsia, enxaqueca e neuralgia do trigêmeo, isso sem falar dos transtornos psiquiátricos, cujo diagnóstico apoia-se integralmente nos dados da anamnese. Muitas vezes, alguns dados da anamnese tornam-se mais claros se voltarmos a eles durante o exame físico do paciente. RECOMENDAÇÕES PRÁTICAS PARA SE FAZER UMA BOA ANAMNESE à É no primeiro contato que reside a melhor oportunidade para fundamentar uma boa relação entre o médico e o paciente; à Cumprimente o paciente, perguntando logo o nome dele e dizendo-lhe o seu. Não use termos como “vovô”, “vozinho”, “vozinha” para as pessoas idosas; à Demonstre atenção ao que o paciente está falando e procure identificar de pronto alguma condição especial, como dor, sonolência, ansiedade, hostilidade, tristeza, confusão mental, para que se saiba a maneira de conduzir a entrevista; à Conhecer e compreender as condições socioculturais do paciente representa uma ajuda inestimável para reconhecer a doença e entender o paciente; à Perspicácia e tato são qualidades indispensáveis para a obtenção de dados sobre doenças estigmatizantes ou distúrbios que afetam a intimidade da pessoa; à Ter sempre o cuidado de não sugestionar o paciente com perguntas que surgem de ideias preconcebidas; à O tempo reservado à anamnese distingue o médico competente do incompetente, o qual tende a transferir para as máquinas e o laboratório a responsabilidade do diagnóstico; à Sintomas bem investigados e mais bem compreendidos abrem caminho para um exame físico objetivo; à A causa mais frequente de erro diagnóstico é uma história clínica mal obtida; à Obtida as queixas, estas devem ser elaboradas mentalmente pelo médico, de modo a encontrar o desenrolar lógico dos acontecimentos, que é a base do raciocínio clínico; à Os dados fornecidos pelos exames complementares nunca corrigem as falhas e as omissões cometidas na anamnese; à Somente a anamnese possibilita ao médico uma visão de conjunto do paciente, indispensável para a prática de uma medicina de excelência. SEMIOTÉCNICA DA ANAMNESE A anamnese se inicia com a pergunta do tipo “o que o senhor está sentindo?”, “qual é o seu problema?”. O médico tem de estar com vontade de ajudar o paciente a relatar seus padecimentos. Para conseguir tal intento, Bickley e Szilagyi (2010) sugerem que o examinador utilize uma ou mais das seguintes técnicas: apoio, facilitação, reflexão, esclarecimento, confrontação, interpretação, respostas empáticas e silêncio. ELEMENTOS COMPONENTES DA ANAMNESE A anamnese é classicamente desdobrada nas seguintes partes: identificação, queixa principal, história da doença atual (HDA), interrogatório sintomatológico (IS), antecedentes pessoais e familiares, hábitos e estilo de vida, condições socioeconômicas e culturais. IDENTIFICAÇÃO A identificação é o perfil sociodemográfico do paciente que permite a interpretação de dados individuais e coletivos. Apresentam múltiplos interesses; o primeiro deles é de iniciar o relacionamento com o paciente, saber o nome de uma pessoa é indispensável para que se comece um processo de comunicação em nível afetivo. Além do interesse clínico, também dos pontos de vista pericial, sanitário e médico-trabalhista, esses dados são de relevância para o médico. A data em que é feita a anamnese é sempre importante e, quando as condições clínicas modificam-se com rapidez, convém acrescentar a hora. Os elementos descritos a seguir são obrigatórios.NOME Primeiro dado da identificação. “Paciente do leito 5” ou “aquele caso de cirrose hepática da Enfermaria 7” são expressões que jamais devem ser usadas para caracterizar uma pessoa. IDADE Cada grupo etário tem a sua própria doença, e bastaria essa assertiva para tornar clara a importância da idade. Beatriz Loureiro A todo momento, o raciocínio diagnóstico se apoia nesse dado e, quando se fala em “em doenças próprias da infância”, está se consagrando o significado do fator idade no processo de adoecimento. Além disso, no contexto da anamnese, a relação médico-paciente apresenta peculiaridades de acordo com as diferentes faixas etárias. SEXO/GÊNERO Há enfermidades que só ocorrem em determinado sexo, como a hemofilia, transmitida pelas mulheres, mas que só aparece nos homens. Também, existem doenças específicas para cada sexo no que se refere aos órgãos sexuais. As doenças endócrinas adquirem muitas particularidades em função desse fator. COR/ETNIA Embora não sejam coisas exatamente iguais, na prática elas se confundem. No Brasil, onde existe uma intensa mistura de etnias, é preferível o registro da cor da pele como faz o IBGE usando-se a seguinte nomenclatura: à Cor branca; à Cor parda; à Cor preta. A influência da etnia no processo do adoecimento conta com muitos exemplos; o mais conhecido é o da anemia falciforme, uma alteração sanguínea específica dos negros, mas que, em virtude da miscigenação, pode ocorrer em pessoas de outra cor. Outro exemplo é a hipertensão arterial, que mostra comportamento evolutivo diferente nos pacientes negros: além de ser mais frequente nesse grupo, a hipertensão arterial apresenta maior gravidade, com lesões renais mais intensas e maior incidência de acidentes vasculares encefálicos. Em contrapartida, pessoas de cor branca estão mais predispostas aos cânceres de pele. ESTADO CIVÍL É de suma importância o reconhecimento do estado civil, além das DSTs, aspectos médico-trabalhistas e periciais podem estar envolvidos, e o conhecimento do estado civil passa a ser um dado valioso. PROFISSÃO Doenças ocupacionais. É um dado de crescente importância na prática média e, sobre ele teceremos algumas considerações em conjunto com o item que se segue. • Local de Trabalho Não basta registrar a ocupação atual. Faz-se necessário indagar sobre outras atividades já exercidas em épocas anteriores. Por isso, nos prontuários, devem constar os itens profissão e local de trabalho na identificação, e os itens ocupação atual e ocupações anteriores nos hábitos de vida. Em algumas ocasiões, existe uma forte relação direta entre o trabalho do indivíduo e a doença que lhe acometeu. EXEMPLO: Indivíduos que trabalham em pedreiras ou minas podem sofrer uma doença pulmonar determinada por substâncias inaladas ao exercerem sua profissão à pneumoconiose. Locais empoeirados ou enfumaçados à agravam os padecimentos dos portadores de asma brônquica, bronquite brônquica, enfisema pulmonar e DPOC. NATURALIDADE Local onde o paciente nasceu. PROCEDÊNCIA Importante para doenças infecciosas/parasitárias. Ainda, ao atender a um paciente que mora em Goiânia (GO), mas que anteriormente residiu em Belém (PA), deve-se registrar esta última localidade como a procedência. Em casos de pacientes em trânsito, a procedência confunde- se com a residência, dependendo do referencial. Por exemplo: no caso de um executivo que reside em São Paulo (SP) e faz uma viagem de negócios para Recife (PE), caso seja atendido em um hospital em Recife, sua procedência será São Paulo. Caso procure uma assistência médica logo depois de seu retorno a São Paulo, sua procedência será Recife. OBSERVAÇÃO: É sempre importante perguntar ao paciente se o mesmo viajou recentemente quando houver desconfiança de, por exemplo, malária e Doença de Chagas. RESIDÊNCIA Anota-se a residência atual. Nesse local, deve ser incluído o endereço do paciente. NOME DA MÃE Anotar o nome da mãe do paciente é uma regra comum nos serviços de saúde no sentido de diferenciar os pacientes homônimos. NOME DO RESPONSÁVEL, CUIDADOR E/OU ACOMPANHANTE Beatriz Loureiro O registro do nome do responsável, cuidador e/ou acompanhante de crianças, adolescentes, pessoas idosas, tutelados ou incapazes (problemas de cognição, por exemplo) faz-se necessário para que se firme a relação de corresponsabilidade ética no processo de tratamento do paciente. RELIGIÃO A religião à qual o paciente se filia tem relevância no processo saúde-doença. Alguns dados bastante objetivos, como a proibição à hemotransfusão em testemunhas de Jeová e o não uso de carnes pelos fiéis da Igreja Adventista, têm uma repercussão importante no planejamento terapêutico. FILIAÇÃO A ÓRGÃOS/INSTITUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS E PLANOS DE SAÚDE Ter conhecimento desse fato possibilita o correto encaminhamento para exames complementares, outros especialistas ou mesmo a hospitais, nos casos de internação. QUEIXA PRINCIPAL OU MOTIVO DA CONSULTA Neste ponto, registra-se o motivo que levou o paciente a procurar o médico, repetindo, se possível, as expressões por ele utilizadas. Se trata de uma afirmação breve e espontânea, geralmente um sinal ou um sintoma, nas próprias palavras da pessoa que expressa o motivo da consulta. Pode ser uma anotação entre aspas para indicar que se trata das palavras exatas do paciente. Sinal à é um dado objetivo notado pelo paciente e observado pelo examinador ou por exames. Sintoma à é uma sensação subjetiva anormal percebida pelo paciente e não observada pelo examinador. Mas, vale ressaltar que, caso o paciente disser que seu problema é “pressão alta” ou “menopausa”, deve-se procurar esclarecer o sintoma que ficou subentendido sob outra denominação. Às vezes, o paciente já recebeu de um médico o diagnóstico de uma doença. Neste caso, o motivo da consulta pode ser baseado naquele diagnóstico obtido pelo próprio paciente em um site da internet. Portanto, algumas vezes é razoável o registro de um diagnóstico como motivo da consulta. Por exemplo, se o paciente falar “meu problema é hemorroida”, deve-se colocar “sangramento pelo ânus”. Não raramente, uma pessoa pode enumerar “vários motivos” para procurar assistência médica. O motivo mais importante pode não ser o que ela enunciou primeiro. Para se identificar a queixa principal, nesse caso, deve-se perguntar o que a levou a procurar atendimento médico ou o que mais a incomoda. Quando o paciente chega ao médico encaminhado por outro colega ou outra instituição da área da saúde, no item correspondente à “queixa principal” registra-se de modo especial o motivo da consulta. Por exemplo: para um jovem que teve vários surtos de doença reumática, com ou sem sequelas cardíacas, e que vai ser submetido a uma amigdalectomia e é encaminhado ao clínico ou cardiologista para averiguação da existência de “atividade reumática” ou alteração cardiovascular que impeça a execução da operação proposta, registra-se, como motivo da consulta: “Avaliação pré-operatória de amigdalectomia. O paciente já teve vários surtos de doença reumática”. SUGESTÕES PARA OBTER A “QUEIXA PRINCIPAL” à Qual o motivo da consulta? à Por que o (a) senhor (a) me procurou? à O que o (a) senhor (a) está sentindo? à O que o (a) está incomodando? EXEMPLOS DE “QUEIXA PRINCIPAL” à Dor de ouvido, dor no peito há duas horas, exame da admissão para o trabalho. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL A história da doença atual (HDA) é um registro cronológico e detalhado do motivo que levou o paciente a procurar assistência médica, desde o seu início até a data atual. A HDA é a parte principal da anamnese e costuma ser mestra para chegar ao diagnóstico. NORMAS PARA SE OBTER UMA BOA HDA à Deixe que o paciente fale sobre sua doença; à Identifique o sintoma-guia; à Descreva o sintoma-guia com suas características e analise-o minuciosamente; à Verifique se a históriaobtida tem começo, meio e fim; à Não induza respostas; à Apure evolução, exames e tratamentos realizados em relação à doença atual; Beatriz Loureiro à Resuma a história que obteve para o paciente, a fim de ele possa confirmar ou corrigir algum dado ou acrescentar alguma coisa. SINTOMA-GUIA Sintoma-guia não é necessariamente o mais antigo, mas tal atributo deve ser sempre levado em conta. Não é obrigatório que seja a primeira queixa relatada pelo paciente, porém, isso também não pode ser menosprezado. Nem é, tampouco, de maneira sistemática, o sintoma mais realçado pelo paciente. Na verdade, não é existe uma regra fixa para determinar o sintoma-guia. Como orientação geral, o profissional deve escolher como sintoma-guia a queixa de mais longa duração, o sintoma mais salientado pelo paciente ou tomar como sintoma-guia a “queixa principal”. O passo seguinte é determinar a época em que teve início aquele sintoma. A pergunta padrão pode ser “quando o senhor começou a sentir isso?” Nem sempre o paciente consegue se lembrar de datas exatas, mas, dentro do razoável, é indispensável estabelecer a época provável do início do sintoma. Nas doenças de início recente, os acontecimentos a elas relacionadas ainda estão vivos na memória e será fácil recordá-los, ordenando-os cronologicamente. Em contrapartida, afecções de longa duração e de começo insidioso com múltiplas manifestações causam maior dificuldade. Nesses casos mais complexos, é válido utilizar-se de certos artifícios, procurando relacionar os sintomas com eventos fáceis de serem lembrados (casamento, gravidez, mudanças, acidentes). O terceiro passo consiste em investigar a maneira como evoluiu o sintoma. Muitas perguntas devem ser feitas, e cada sintoma tem características semiológicas próprias. Constrói- se uma história clínica com base no modo como evoluem os sintomas. Concomitantemente com a análise da evolução do sintoma- guia, o examinador estabelece as correlações e as inter- relações com outras queixas. A análise do sintoma-guia e dos outros sintomas termina com a obtenção de informações sobre como eles estão no presente momento. Visto em conjunto esse esquema básico para a confecção da anamnese, verifica-se que a meta almejada é obter uma história que tenha início, meio e fim. Fica claro, também, que cada história clínica bem-feita tem um fio condutor. Apesar das dificuldades iniciais, o estudante deve esforçar-se para fazer uma história que tenha o sintoma-guia como espinha dorsal, enquanto os outros sintomas se articulam com ele para formar um conjunto compreensível e lógico. As principais histórias são sempre repletas de omissões por faltar ao estudante conhecimentos sobre as doenças. Por isso, espera-se apenas que ele consiga delinear a “espinha dorsal” da história e que, com o passar do tempo, torne-se capaz de conseguir a reconstituição de uma história clínica, por mais complexa que seja. ESQUEMA PARA ANÁLISE DE UM SINTOMA Os elementos que compõem o esquema para análise de qualquer sintoma são: à Início; à Características do sintoma; à Fatores de melhora ou piora; à Relação com outras queixas; à Evolução; à Situação atual. INTERROGATÓRIO SINTOMÁTICO Essa parte da anamnese, denominada também anamnese especial ou revisão dos sistemas, constitui, na verdade, um complemento da história da doença atual. O interrogatório sintomatológico documenta a existência ou ausência de sintomas comuns relacionados com cada um dos principais sistemas corporais. à A principal utilidade prática do interrogatório sintomatológico reside no fato de permitir ao médico levantar possibilidades e reconhecer enfermidades que não guardam relação com o quadro sintomatológico registrado na HDA. Por exemplo: o relato de um paciente conduziu ao diagnóstico de gastrite e, no IS, houve referência a edema dos membros inferiores. Esse sintoma pode despertar uma nova hipótese diagnóstica que vai culminar no encontro de uma cirrose. Em outras ocasiões, é no IS que se origina a suspeita diagnóstica mais importante. Essa possibilidade pode ser ilustrada com o caso de um paciente que procurou o médico concentrando a sua preocupação em uma impotência sexual. Ao ser feita a revisão dos sistemas, vieram à tona os sintomas polidpsia, poliúria e emagrecimento, queixas às quais o paciente não havia dado importância. No entanto, a partir delas o médico levantou a suspeita de diabetes melito. OBSERVAÇÃO: Antes de começar o IS, explique como você irá fazer uma revisão da “cabeça aos pés”, mesmo não tendo relação com o sistema que o motivou a procura-lo. Para tirar o máximo proveito das atividades práticas, registre os sintomas presentes e os negados pelo paciente. Beatriz Loureiro Inicie a avaliação de cada sistema corporal com essas perguntas gerais. Exemplos: “como estão seus olhos e visão?”, “como anda sua digestão?” ou “seu intestino funciona regularmente?”. Não induza respostas com perguntas que afirmem ou neguem o sintoma, como por exemplo: “o senhor está com falta de ar, não é” ou “o senhor não está com falta de ar, não é mesmo?”. Nesse caso, o correto é apenas questionar: “o senhor sente falta de ar?”. ANTECEDENTES PESSOAIS Considera-se a avaliação do estado de saúde passado e presente do paciente, conhecendo fatores pessoais e familiares que influenciam seu processo saúde-doença. Em crianças e indivíduos de baixa idade, a análise dos antecedentes pessoais costuma ser feita com mais facilidade do que em outras faixas etárias. Às vezes, uma hipótese diagnóstica leva o examinador a uma indagação mais minuciosa de algum aspecto da vida pregressa. Por exemplo: ao se identificar uma cardiopatia congênita, investiga-se a possível ocorrência de rubéola na mãe durante o primeiro trimestre da gravidez. O interesse dessa indagação é por saber-se que essa virose costuma causar defeitos congênitos em elevada proporção dos casos. Antecedentes pessoas fisiológicos: GESTAÇÃO E NASCIMENTO à Como decorreu a gravidez; à Uso de medicamentos ou radiações sofridas pela genitora; à Virose durante a gestação; à Condições de parte (normal, fórceps, cesariana); à Estado da criança ao nascer; à Ordem do nascimento (se é primogênito, segundo filho); à Número de irmãos. DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E NEURAL à Dentição: informações sobre a primeira e segunda dentições, registrando-se a época em que apareceu o primeiro dente; à Engatinhar e andar: anotar as idades em que essas atividades tiveram início; à Fala: quando começou a pronunciar as primeiras palavras; à Desenvolvimento físico: peso e tamanho ao nascer e posteriores medidas. Averiguar sobre o desenvolvimento comparativamente com os irmãos; à Controle dos esfíncteres; à Aproveitamento escolar. DESENVOLVIMENTO SEXUAL à Puberdade: estabelecer época de seu início; à Menarca: estabelecer idade da primeira menstruação; à Sexarca: estabelecer idade da primeira relação sexual; à Menopausa (última menstruação): estabelecer época do seu aparecimento; à Orientação sexual: atualmente, usam-se siglas como HSM, HSH, HSMH, MSM, MSHM, em que: H, homem; M, mulher e S, faz sexo com. Antecedentes pessoais patológicos: DOENÇAS SOFRIDAS PELO PACIENTE Começando-se pelas mais comuns na infância (sarampo, varicela, coqueluche, caxumba, doença reumática, amigdalites) e passando às da vida adulta (pneumonia, hepatite, malária, pleurite, tuberculose, hipertensão arterial, diabetes, entre outras). Pode ser que o paciente não saiba informar o diagnóstico, mas consegue se lembrar de determinado sintoma ou sinal que teve importância para ele, como icterícia e febre prolongada. Faz-se, então, um retrospecto de todos os sistemas, dirigindo ao paciente perguntas relativas às doenças mais frequentes de cada um. ALERGIAS Quando se depara com um caso de doença alérgica, essa investigação passa a ter relevância especial, mas, independente disso,é possível e útil tomar conhecimento da existência de alergias e alimentos, medicamentos e outras substâncias. Se o paciente já sofreu de afecções de fundo alérgico (eczema, urticária, asma), esse fato merece registro. CIRURGIAS E OUTRAS INTERVENÇÕES Anotam-se as intervenções cirúrgicas, referindo-se os motivos que a determinaram. Havendo possibilidade, registrar a data, o tipo de cirurgia, o diagnóstico que a justificou e o nome do hospital onde foi realizada. TRAUMATISMO Beatriz Loureiro É necessário indagar sobre o acidente em si e sobre as consequências deste. A correlação entre um padecimento atual e um traumatismo anterior pode ser sugerida pelo paciente sem muita consistência. Nesses casos, a investigação anamnésica necessita ser detalhada para que o examinador tire uma conclusão própria a respeito da existência ou não da correlação sugerida. TRANSFUSÕES SANGUÍNEAS Anotar número de transfusões, quando ocorreu, onde e por quê. HISTÓRIA OBSTÉTRICA Anotar o número de gestações (G), de partos (P), de abortos (A), de prematuros e de cesarianas (C) (G_P_A_C). Neste item, caso o paciente seja do sexo masculino, indaga-se o número de filhos, enfatizando-se a importância da paternidade. VACINAS Anotar as vacinas (qual, época da aplicação). MEDICAMENTOS EM USO Anotar nomes, posologia, motivo, quem prescreveu. ANTECEDENTES FAMILIARES Os antecedentes começam com a menção ao estado de saúde (quando vivos) dos pais e irmãos do paciente. Se for casado, inclui-se o cônjuge e, se tiver filhos, estes são referidos. Não se esquecer dos avós, tios e primos paternos e maternos do paciente. Se tiver algum doente na família, esclarecer a natureza da enfermidade. Em caso de falecimento, deve-se perguntar a causa do óbito e a idade em que ocorreu. Pergunta-se sistematicamente sobre a existência de enxaqueca, diabetes, tuberculose, hipertensão arterial, câncer, doenças alérgicas, doença arterial coronariana (infarto agudo do miocárdio, angina de peito), AVC, dislipidemias, úlcera péptica, colelitíase e varizes, que são as doenças com caráter familiar mais comuns. Quando o paciente é portador de uma doença de caráter hereditário (hemofilia, anemia falciforme, rins policísticos, erros metabólicos), torna-se imprescindível um levantamento genealógico mais rigoroso e, nesse caso, recorre-se às técnicas de investigação genética. HÁBITOS DE VIDA ALIMENTAÇÃO No exame físico, serão estudados os parâmetros para avaliar o estado de nutrição do paciente; todavia, os primeiros dados a serem obtidos são os seus hábitos alimentares. Toma-se como referencia o que seria a alimentação adequada para aquela pessoa em função da idade, do sexo e do trabalho desempenhado. Induz-se o paciente a discriminar sua alimentação habitual, especificando, tanto quanto possível, o tipo e a quantidade dos alimentos ingeridos (anamnese alimentar). OCUPAÇÃO ATUAL E OCUPAÇÕES ANTERIORES Deve-se questionar e obter informações tanto da ocupação atual quando das ocupações anteriores exercidas pelo paciente. ATIVIDADES FÍSICAS Deve-se questionar qual tipo de exercício físico realiza, a frequência, duração e tempo de prática. CONSUMO DE TABACO Deve-se questionar o tipo, quantidade, frequência, duração, abstinência e se já tentou parar de fumar. CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS Deve-se registrar o tipo de bebida e a quantidade habitualmente ingerida, bem como frequência, duração do vício e abstinência (se já tentou parar de beber). USO DE ANABOLIZANTES E ANFITAMINAS O uso de anabolizantes levam à dependência e estão correlacionadas com doenças cardíacas, renais, hepáticas, endócrinas e neurológicas. A utilização de anfetaminas, de maneira indiscriminada, leva à dependência química e, comprovadamente, causa prejuízos à saúde. Alguns sedativos também causam dependência química e devem ser sempre investigados. CONSUMO DE DROGAS ILÍCITAS Não deixar de questionar sobre tipo de droga, quantidade habitualmente ingerida, frequência, duração do vício e abstinência. CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E CULTURAIS HABITAÇÃO Beatriz Loureiro à Zona Rural: Casa de alvenaria? Saneamento? à Zona Urbana: Favelas? Quantidade de cômodos? Coleta de lixo? Contato com pessoas doentes? Queimadas? CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS Situação profissional, renda, dependência econômica. Todo médico precisa conhecer as possibilidades econômicas do paciente, principalmente sua capacidade financeira para comprar medicamentos e realizar exames complementares. CONDIÇÕES CULTURAIS à Religiosidade, tradições, crenças, medicina popular, grau de alfabetização. Sempre respeitar! VIDA CONJUGAL E RELACIONAMENTO FAMILIAR Investiga-se o relacionamento entre pais e filhos, entre irmãos e entre os cônjuges. Beatriz Loureiro
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