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______________________ 1 Professor do Departamento de Agricultura/UFLA, Lavras-MG. 2 Aluno de Pós-Graduação do Departamento de Agricultura /UFLA. 3 Professor do Departamento de Biologia/UNIMONTE, Montes Claros-MG. RECOMENDAÇÕES BÁSICAS PARA A CULTURA DO MARACUJAZEIRO-AZEDO José Darlan Ramos1 Rafael Pio2 Paulo Sérgio Nascimento Lopes3 1 IMPORTÂNCIA DA CULTURA O maracujazeiro-azedo ou “amarelo” é uma frutífera de grande importância no setor agrícola, com frutos de excelentes qualidades e grande aceitação no mercado mundial. O Brasil é o maior produtor desta fruta, com mais de 33.000 hectares cultivados, distribuídos em quase todos os estados brasileiros, destacando-se São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pará, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Espírito Santo e Goiás. Na região sul do estado de Minas Gerais, com predominância de pequenas propriedades rurais, o maracujazeiro-azedo é uma excelente opção de renda, tendo em vista a grande demanda por essa fruta na região. 6 2 PRODUÇÃO E PRODUTIVIDADE A produção de frutas do maracujazeiro-azedo pode-se iniciar-se aos 8 meses após o plantio da muda no local definitivo. A produtividade pode chegar até 70 toneladas/ha nos 3 anos de cultivo, podendo, no segundo ano, atingir até 40 toneladas/ha. Essas estimativas de produtividades são possíveis de acordo com o manejo realizado pelo produtor, desde a utilização de irrigação, tratos culturais adequados e polinização artificial. 3 COMERCIALIZAÇÃO E RENTABILIDADE A rentabilidade da cultura pode variar em função do nível tecnológico do produtor e do destino da produção (indústria e/ou fruta fresca). Para um produtor iniciante na cultura, sugere-se uma reflexão sobre os seguintes pontos: destino da produção; cotações de preços nos últimos quatro ou cinco anos; seguir todas as recomendações técnicas de cultivo; saber que o mercado de fruta fresca de maracujá é limitado, tornando-se interessante associar-se a alguma indústria ou comércio local que lhe garanta a compra do produto. 7 Em geral, a agroindústria tem se destacado como compradora no mercado de frutas, assumindo grande importância na comercialização do maracujá. Os atacadistas têm sido os intermediários entre o produtor e o consumidor final, que recebem os produtos embalados em caixas tipo “K” ou papelão ondulado, com capacidade de 13 kg de maracujá. Os canais de distribuição mais comuns são as feiras livres e os sacolões de frutas. 4 ESCOLHA DA VARIEDADE Existem algumas seleções e híbridos com sementes disponíveis comercialmente. As principais são: Híbridos IAC: desenvolvidas pelo IAC (Instituto Agronômico de Campinas), tendo como principais características, a uniformidade das frutas, bom rendimento de suco, alto teor de açúcares, polpa alaranjada e boa produtividade; Seleção Sul Brasil: selecionadas nas condições de São Paulo, visando principalmente ao mercado de fruta fresca. Produz, na maioria, frutas grandes, ovaladas e boa produtividade. No entanto, apresenta baixo rendimento de suco e teores de açúcares; Seleção Maguary ou Araguari: desenvolvidas nas condições do Triângulo Mineiro, apresentando, como principais características, o alto rendimento de suco e teores de açúcares, além da boa produtividade e rusticidade. Como foi desenvolvido para atender ao 8 mercado industrial, apresenta frutos desuniformes em tamanho e cor da casca; Seleções EMBRAPA: a EMBRAPA vem desenvolvendo algumas variedades e híbridos, destacando o ‘roxo australiano’ e o ‘vermelhão’. 5 CLIMA Para um desenvolvimento satisfatório, o maracujazeiro exige temperaturas que variam de 23º a 25°C, 900 a 1.500 mm de chuvas anuais bem distribuídas e comprimento do dia de, pelo menos, 11 horas. Temperaturas inferiores a 12°C, por mais de 5 horas consecutivas, provocam a queda de botões florais e de frutos jovens. Devem ser evitados locais com incidências de geadas. 6 SOLO O maracujazeiro-azedo adapta-se bem aos diversos tipos de solos, porém, é necessário que o mesmo seja profundo e tenha, principalmente, boa drenagem. Essa frutífera não suporta encharcamento, ainda que, por curto período, pois, tal ocorrência pode favorecer o ataque de fungos. Estes, penetrando por ferimentos no sistema radicular da planta, causam a doença denominada de “podridão do pé”, causada pelo fungo Phytophthora sp. Em solos muitos argilosos, com drenagem deficiente ou quando a cultura for 9 irrigada, recomendam-se algumas precauções complementares, a exemplo de plantios em camalhões. 7 PROPAGAÇÃO A propagação desta frutífera pode ser feita por sementes, estaquia ou enxertia. O meio mais utilizado nos plantios comerciais ainda é a propagação por sementes. 7.1 Extração das sementes Um dos processos utilizados para a extração das sementes é a realização de um corte da casca da fruta e a retirada da polpa com uma colher. A separação das sementes da mucilagem é feita colocando-as para fermentar em um balde plástico, por 3 a 5 dias. Após, lavar em água corrente e secar à sombra por 2 dias. Outro processo é a retirada da mucilagem utilizando-se 1% de cal hidratada (1 g de cal hidratada por kg de sementes). Misturam-se as sementes com a cal e lavam-se em uma peneira fina por várias vezes. As sementes, depois de secas à sombra, devem ser colocadas para germinar em saquinhos ou tubetes, ou podem ainda ser armazenadas em geladeira (temperatura de 4 a 5°C). 10 7.2 Semeadura Em condições de clima adequado durante o ano todo, com utilização de irrigação e sem ocorrência de geadas, é possível realizar o plantio durante o ano inteiro. Nas condições da região sudeste, o plantio poderá ser realizado em duas épocas. Na primeira época, a muda será produzida dois meses antes da estação chuvosa, ou seja, a semeadura em setembro/novembro e plantio em novembro/janeiro, permitindo obter uma safra de julho a agosto. Na segunda época, a semeadura deve ser realizada de dezembro/janeiro, para que a muda seja levada ao campo em fevereiro/março, com a safra iniciada em outubro, prolongando-se até o final de junho do ano seguinte. A semeadura pode ser feita em sacos plásticos de 10 X 25 cm ou 18 X 30 cm, podendo-se utilizar também os tubetes ou as bandejas. Quando se utilizar sacos plásticos, o substrato pode ser composto de três partes de solo e uma parte de esterco de galinha curtido. Deve-se adicionar a cada metro cúbico dessa mistura 5,0 kg de superfosfato simples e 0,5 kg de cloreto de potássio. Se a opção for a utilização de tubetes ou bandejas de isopor para a obtenção das mudas, recomendam-se tubetes com dimensões de 12 cm de comprimento por 3 cm no diâmetro maior, com volume de 50 ml. As bandejas devem ser constituídas de 72 células (mais utilizada) em formato piramidal, contendo um volume de 75 ml por célula. Neste caso, o substrato recomendado é a vermiculita, contendo macro e micronutrientes. É importante salientar que, para a utilização de tubetes e bandejas, é necessário uma estrutura plástica ou estufa. Essa estrutura, além de manter um ambiente adequado, visa proteger o substrato de chuvas e manter uma 11 temperatura adequada. Como a quantidade de substrato em cada recipiente é pequena, ocorrendo rápido esgotamento dos nutrientes dos mesmos, torna- se necessária uma reposição. Essa deve ser feita por meio de regas semanais, contendo 200 g de nitrocálcio e 35 g de cloreto de potássio, dissolvidos em 10 litros d’água, seguida de uma a penas com água para promover a lavagem das folhas, evitando-se assim danos às folhas mais jovens. Semear 3 sementes por recipiente, a uma profundidade de 0,5 a 1,0 cm, cobrindo-se com o próprio substrato. Quando a muda atingir 3 a 5 cm de altura, realiza-se o desbate,deixando apenas uma muda mais vigorosa por recipiente. Recomenda-se a aplicação quinzenal de fungicidas, tais como o cobre Sandoz Br ou Recop (15 g em 10 litros d’água), prevenindo o ataque de doenças, como a antracnose e cladosporiose. Em geral, as mudas estarão prontas para o plantio definitivo no campo quando apresentarem uma altura de 15 a 25 cm, que corresponde ao período de 45 a 60 dias após a semeadura. 7.3 Irrigação diante a formação da muda Do semeio à germinação : 2 vezes/dia Da germinação até 15 dias : 1 vez/dia Dos 15 dias até transplantio : em dias alternados ou conforme a necessidade. 12 8 IMPLANTAÇÃO DO POMAR É recomendável um planejamento bem feito antes da implantação do pomar. É necessário conhecer o histórico da área, principalmente com relação à ocorrência de nematóides, fusariose e morte prematura. 8.1 Correção e preparo do solo Antes do plantio, deve-se realizar análise do solo para constatar se há deficiências nutricionais e verificar também a necessidade de calagem. A faixa ideal de pH para o maracujazeiro-azedo é de 5,6 a 6,2 e o índice de saturação de bases (V) de 60% a 80%. Para o estabelecimento do pomar, as primeiras operações a serem feitas são a roçagem, destoca, aração e gradagem. A partir dos resultados da análise do solo, é possível concluir sobre as necessidades de calagem e adubações. No caso da calagem, aplica-se metade da quantidade necessária com a aração e outra metade com a gradagem, realizada a uma profundidade de 15 a 30 cm, para facilitar a incorporação. 8.2 Espaçamento O espaçamento mais utilizado é de 3 m entre fileiras e 5 m entre plantas. Pode-se utilizar também o sistema de fileiras duplas quando se deseja fazer o consórcio com espécies perenes, conforme o esquema a seguir: 13 -------------------------------------------------- fileiras simples de maracujá ------------------------------------------------ +++++++++++++++++++++++++ fileiras de espécie perene -------------------------------------------------- fileiras simples de maracujá -------------------------------------------------- É importante ressaltar que o maracujazeiro se consorcia bem com mamão, abacaxi, citros, graviola, feijão, amendoim e algumas hortaliças, com exceção das cucurbitáceas. 8.3 Sistema de condução Antes de iniciar a implantação, é necessário definir qual será o sistema de condução a ser utilizado. São conhecidos vários sistemas de condução para o maracujazeiro, mas, até o momento, os mais utilizados são a espaldeira vertical e a latada. O sistema de condução em espaldeira vertical é feito utilizando-se um único fio de arame liso galvanizado n° 12 colocado a 1,8 m de altura no ápice dos mourões de madeira, que devem ser colocados a uma distância máxima de 10 m um do outro. Entre estes mourões, deve-se colocar materiais mais baratos, como bambu, ripões e madeira branca, utilizados a cada 2,5 ou 3,3 m. Deve-se fincar a uma profundidade de, no máximo, 40 a 50 cm. Recomenda-se que as espaldeiras tenham até 120 m de 14 comprimento. Os esticadores nas extremidades da espaldeira devem ser fincados e inclinados para fora, a uma profundidade de 0,8 a 1 m, amarrando as extremidades do fio principal na base dos esticadores. A condução no tipo latada beneficia a produtividade na primeira safra e facilita o controle do mato no seu interior. É utilizado em regiões onde a cultura é replantada todos os anos, devido a problemas de doenças nas plantas. As latadas são feitas por arames traçados a 1,80 m de altura, suportados por mourões distanciados a cada 5 m, permitindo o trânsito de pessoas em seu interior, formando-se um “telhado”. Apresenta alto custo, mas é compensado em regiões que apresentam elevadas populações de polinizadores naturais, alcançando elevadas produtividades. 8.4 Coveamento ou sulcamento O plantio pode ser feito diretamente em sulcos com 30 a 40 cm de profundidade ou em covas de 50 x 50 x 50 ou 60 x 60 x 60 cm de profundidade. As covas podem ser feitas manual ou mecanicamente, com enxadões, cavadeiras ou perfuratrizes tratorizadas. Não se recomenda a utilização de perfuratrizes em solos mais argilosos, devido à compactação e ao espelhamento da cova, provocados por esse equipamento. 15 8.5 Preparo e adubação das covas A adubação das covas ou dos sulcos deve ser feita, de preferência, 60 dias antes do plantio. Na adubação das covas, colocam-se de 5 a 10 litros de esterco de galinha; 1 kg de superfosfato simples ou 500 g de superfosfato triplo; 200 g e calcário dolomitico e 30 g de uma mistura de micronutrientes (FTE BR-12). 8.6. Plantio O plantio deve ser realizado à tarde, evitando o ressecamento da muda. Outra prática importante é a construção de uma bacia de 60 cm. Essa bacia deve ser coberta com capim seco sem sementes, sendo, logo em seguida, irrigada. Para proteção e condução da muda deve-se amarrar com cuidado um barbante de algodão no “pé-da-planta” (tutor), esticando-se até o fio da espaldeira. 9 IRRIGAÇÃO A irrigação é uma técnica que pode antecipar a produção, prolongando o período produtivo e contribui para o aumento de sua produtividade. O método por gotejamento é o mais utilizado, disponibilizando água para a raiz sem causar o encharcamento e umidade excessiva. O método de irrigação por aspersão, quando utilizado, apresenta o inconveniente de manter elevada umidade na parte aérea, favorecendo o 16 aparecimento de doenças e dificultando o seu controle, além de prejudicar a polinização. 10 TRATOS CULTURAIS 10.1 Podas a) Poda de formação Após o plantio, a muda do maracujazeiro-azedo pode emitir várias brotações laterais que precisam ser removidas a cada 15 dias, deixando-se apenas a haste principal. Ao atingir o fio de arame, a ponta do ramo deve ser podada imediatamente após sua fixação no arame por suas gavinhas. De 10 a 15 dias após a desponta do ramo principal, surgem várias brotações laterais. Selecionam-se, destas, as duas mais vigorosas e mais próximas do fio de arame e conduzindo-as sobre o arame em sentidos opostos, retirando- se as demais brotações. Quando cada uma dessas brotações atingirem a próxima planta (comprimento de 1,5-2 m) realiza-se nova desponta, para que novos ramos sejam emitidos ao longo do ramo, formando uma espécie de cortina. b) Poda de frutificação Após esses ramos produzirem a primeira safra, devem ser novamente podados a 40 cm do fio, pois o maracujazeiro-azedo só frutifica nos ramos novos. Se não fizer a poda de frutificação ou renovação, os ramos frutíferos 17 serão emitidos próximos ao chão e a produtividade será menor. Após a segunda safra, repete-se esta operação. Figura 1: Poda de formação Figura 2: Penteamento e poda de frutificação ou renovação 18 10.2 Adubação de formação Até as mudas iniciarem o processo de frutificação, que normalmente acontece cerca de 8 meses após o plantio, deve-se aplicar a adubação de formação, conforme o seguinte esquema: 30 dias após o plantio: 10 g de sulfato de amônia por planta 60 dias após o plantio: 20 g de sulfato de amônia por planta 90 dias após o plantio: 40 g de sulfato de amônia + 10 g de cloreto de potássio por planta 120 dias após o plantio: 45 g de sulfato de amônia + 15 g de cloreto de potássio por planta 150 dias após o plantio: 60 a 80 g de sulfato de amônia + 20 g de cloreto de potássio por planta, a cada 30 dias Quando aparecerem os primeiros frutos, aplicar, por planta, 800 g de superfosfato simples + 50 g de micronutrientes (FTE-BR 12), de uma vez em sulcos de 20 a 30 cm de profundidade e, a cada 45 dias, uma mistura de 100 g de sulfato de amônia + 100 g de cloreto de potássio por planta. Se oplantio não for irrigado, a adubação deve ser realizada no período chuvoso, ou seja, de novembro a abril. 10.3 Adubação de produção A adubação deve ser realizada a partir do 2° ano de instalação do pomar (2° safra). Neste período, a adubação visa atender às exigências nutricionais, tanto para a manutenção da planta como para a exportação de nutrientes para os frutos. A adubação deve se fundamentar nas exigências 19 nutricionais da planta, avaliadas pelas análises anuais de solo, sendo realizadas entre agosto e setembro. A adubação de manutenção para o estado de Minas Gerais deve ser realizada conforme a tabela a seguir. Tabela 1: Quantidades de N, P e K aplicadas para a 2° e 3° safras (5° Aproximação) Época Doses de N Baixa Média Alta Baixa Média Alta -----------Doses de P2O5----------- -----------Doses de K2O----------- -----------------------------------------------------g/planta-------------------------------------------------------- Novembro 40 0 0 0 90 60 30 Janeiro 40 90 60 30 90 60 30 Março 60 0 0 0 90 60 30 TOTAL 140 90 60 30 270 180 90 A adubação deve ser parcelada para nitrogênio e potássio em três vezes (novembro, janeiro e março) e fósforo de uma vez só, no mês de janeiro. 10.4 Controle de plantas daninhas O controle das plantas daninhas pode ser feito por meio de capinas nas linhas de plantio (0,8 m de cada lado) e o uso de roçadeira nas entrelinhas, deixando a cobertura morta para manter a umidade do solo. O uso de herbicidas pode ser uma boa alternativa, entretanto, deve ser empregado com bastante critério. Podem ser utilizados o glifosate, o Diuron, o Paraquat e o Diquat. 20 11 POLINIZAÇÃO A planta do maracujazeiro-azedo é auto-incompatível, sendo, então, dependente da polinização cruzada (polens das flores de outras plantas de maracujazeiro-azedo) para o desenvolvimento do fruto. 11.1 Agentes polinizadores Entre os insetos que visitam as flores do maracujazeiro-azedo, a mamangava (Xylocopa spp) é o mais importante agente polinizador. Dessa forma, devem-se proporcionar condições locais para estimular a sua multiplicação e atrativos para aumentar a sua visitação nas proximidades das plantas, como a colocação de madeiras moles ou tocos de árvores, que são materiais onde habitualmente elas fazem seus ninhos. Deve-se ainda proceder ao plantio de espécies vegetais que produzam flores (manjericão, girassol, crotalaria). 11.2 Polinização artificial Devido à polinização ser inteiramente dependente dos agentes polinizadores, sua eficiência pode comprometer a frutificação. Foi comprovado que a polinização artificial aumenta o pegamento de frutas, quando comparada às condições naturais (pelos agentes polinizadores). A polinização artificial consiste em se retirar o pólen das anteras de uma flor e colocá-lo no estigma da flor de outra planta. Na prática, isto é feito tocando-se os órgãos reprodutivos da flor com a ponta dos dedos, em 21 um movimento ascendente. Isso serve para sujá-los com o pólen existente nas anteras e depositá-los nos estigmas da flor de outra planta. No início da operação, deve-se ter o cuidado de coletar o pólen de diferentes flores distantes uma das outras, para, então, iniciar a operação de forma contínua a partir das 13:00 horas (horário de máxima abertura das flores). A polinização artificial sempre melhorará os resultados obtidos relativos à polinização natural, mas é uma operação cara. Ela envolve um número elevado de pessoas por área, mas o resultado obtido com o aumento da produção pode ser compensador. Sempre que houver carência de mamangavas, nos picos de florescimento e em plantações muito extensas, a polinização artificial deve ser realizada manualmente. Não é necessário haver grande preocupação quanto ao aproveitamento de muitas flores por planta, mas, é importante a repetição da polinização artificial por diversas vezes, ao longo do período de florescimento da cultura, principalmente nos picos da florada. Há necessidade do pólen permanecer seco por um período de duas horas no mínimo. Portanto, o processo manual não é eficiente, se ocorrerem chuvas ou pulverizações nesse intervalo de tempo. 22 Figura 3: Polinização artificial 12 PRINCIPAIS PRAGAS a) Lesmas Atacam as mudas destruindo-as totalmente, principalmente durante o período chuvoso. A medida de controle mais eficaz é não deixar a mudas em contato com o solo, produzindo-as em tubetes ou bandejas de isopor suspensos. Esta praga ataca apenas as mudas, não causando problemas nas plantas no campo. 23 b) Cupins Esta praga tem preferência por plantas em formação, causando descascamento de todo o colo da planta. Como medida de controle, recomenda-se fazer preventivamente, a cada 15 ou 20 dias, a rega das plantas com inseticida à base de imidaclopid (Confidor a 30 g/100 litros de água) ou outros inseticidas de ação cupinicida. c) Lagarta Agraulis vanillae vanillae Atacam tanto a muda em viveiro como no campo. São de hábitos isolados, têm coloração cinza e uma faixa clara sobre as costas. Medem até 3,5 cm de comprimento e possuem cerdas ou espinhos. O inseto adulto é uma borboleta de coloração alaranjada com pinta escura sobre as asas. O controle pode ser feito por catação manual ou pela aplicação de inseticidas, como Lebaycid 500 (100 ml/ 100 litros de água). d) Lagarta Dione juno juno São lagartas escuras, com cerdas no dorso, que atacam principalmente as plantas adultas de maracujazeiro-azedo no período de fevereiro à março. São encontradas sempre agregadas umas às outras. O inseto adulto é uma borboleta de coloração alaranjada, com algumas listras escuras nas asas. O controle pode ser feito por catação manual, ou pela aplicação de inseticidas fosforados ou biológicos, no caso de alta infestação, como Cartap BR 500 e Thiobel (120g/100 litros de água). 24 e) Formigas cortadeiras As formigas cortadeiras destroem principalmente as mudas recém- plantadas no campo, mas também atacam pomares adultos. Em ataques mais severos, destroem praticamente toda a área foliar das plantas. Como medida de controle, recomenda-se a utilização de iscas, como Mirex, ou a utilização de termonebulizador. f) Vaquinhas Atacam as mudas em viveiros e as plantas no campo danificando os botões florais, as folhas e os frutos. O período de maior infestação vai de janeiro a maio. g) Percevejos Atacam os botões florais e frutas do maracujazeiro-azedo, provocando deformações e murchamento. O controle pode ser feito pela aplicação de inseticidas, como Lebaycid 500 (100 ml/100 litros de água). h) Mosca-do-botão-floral Essa praga ocorre de janeiro a junho, provocando o apodrecimento dos botões florais. As perdas podem chegar a 65%. O controle pode ser feito com 3 ou 4 aplicações semanais durante a safra, de um só lado da espaldeira, com pincelamento utilizando-se iscas a base de trichlorfon (300 ml/100 litros de água) + 5 kg de açúcar ou melaço + 5 litros de leite. 25 13 PRINCIPAIS DOENÇAS a) Antracnose Essa doença ataca todos os órgãos da parte aérea da planta. Em folhas e ramos, causa secamento; em frutas, surgem grandes áreas depressivas, com conseqüente apodrecimento da parte interna da polpa. O tratamento preventivo pode ser feito realizando-se pulverizações com fungicidas à base de cobre, como a calda bordalesa a 1%, alternadas com aplicações de uma mistura feita com um oxicloreto de cobre (como o Recop SC a 4% e um produto à base de mancozeb, Dithane PM a 2%, Dithane SC a 0,36% ou Manzate Br a 2% do produto comercial). Aplicar a intervalos de 15 ou 20 dias. Importante: não adicionar fertilizante foliar ou outro defensivo à calda. O tratamento curativo pode ser feito utilizando-se pulverizaçõesquinzenais com Benlate 500 a 0,05%, Cercobin 700 PM a 0,07% ou Tecto 600 a 0,09% do produto comercial. b) Cladosporiose ou verrugose O ataque desse fungo provoca, nas frutas, verrugas de forma arredondada e, nos ramos, cancro também de forma arredondada. As condições favoráveis para o desenvolvimento desta doença são a alta umidade e temperaturas amenas. Como tratamentos preventivos, utilizar o mesmo descrito para a antracnose. O tratamento curativo é realizado com aplicações de fungicidas, como Orthocid 500 a 0,24%, Captam 500 a 0,2%, Dacobre PM a 0,35% do produto comercial, em duas pulverizações espaçadas de 15 dias. 26 c) Mancha oleosa bacteriana Esta doença ataca folhas, ramos, flores e frutas. O controle é feito por meio da aquisição de sementes e mudas sadias, emprego de adubação equilibrada (evitar excesso de nitrogênio), uso de quebra-ventos, evitar trânsito no pomar e não utilizar equipamentos para tratamento fitossanitário de alta pressão. O controle químico só é feito em casos extremos de alta incidência da doença. Para isso, recomendam-se somente duas pulverizações anuais com antibióticos (Agrimicina 240 g/100 litros ou Mycoshied 200 g/100 litros de água). d) Murcha de fusarium O primeiro sintoma desta doença consiste no apodrecimento da planta, podendo ocorrer em qualquer época do ano. O caule se mantém ereto, mesmo sem sua fixação por gavinhas, devido à rigidez dos tecidos. Em seguida, ocorre o apodrecimento da região do colo e, conseqüentemente, morte de todas as raízes. O controle se dá pela localização e erradicação do foco e de até duas plantas sadias em volta das plantas afetadas. Devem-se abrir valas de isolamento de 20 cm de profundidade, revolvendo o solo da área e aplicar cal virgem. Pulverizar o colo da planta e as raízes no momento do plantio e a região do colo 20 dias depois com hidróxido de cobre (300 g/100 litros de água) ou Benomil (150 g/100 litros de água). Ocorrendo chuvas no período, diminuir o intervalo entre as aplicações. 27 e) Podridão do colo e das raízes A podridão do colo e das raízes é também causada por fungos de solo, que ocasionam a morte lenta da planta, precedida por um amarelecimento foliar. O sintoma característico é o surgimento na região do colo, logo acima da superfície, de rachaduras longitudinais, enquanto as raízes médias e finas ficam escurecidas. No caso de aparecimento de plantas doentes, o controle deve ser feito, principalmente, no período de outubro a março, quando ocorre maior disseminação da doença. Deve-se pulverizar as plantas com o inseticida Fosetyl-Al (250 g/100 litros de água). O melhor método de controle é evitar o plantio em áreas em que já ocorreu essa doença e só utilizar mudas com ótimo estado fitossanitário. f) Morte prematura de plantas É normal a ocorrência da morte das plantas em plena idade produtiva, geralmente em reboleiras, atingindo de 4 a 5 plantas em uma única linha. Como ainda não foi possível identificar o patógeno causador dessa doença, a única forma de controle é evitar o plantio onde verificou-se a sua incidência. Recomenda-se também fazer o plantio de outras culturas, como milho, feijão e girassol, por, no mínimo, 2 anos. 28 g) Viroses Os sintomas são caracterizados pela formação de manchas amarelas, também denominadas de “mosaicos”, encarquilhamento, deformações e redução no tamanho das folhas e frutas. Na maioria das ocorrências, as frutas tornam-se endurecidas, com a casca grossa e com pouca polpa. As plantas ficam raquíticas e reduzem drasticamente a produtividade. Como medida de controle, recomenda-se o plantio de mudas de boa procedência e sadias, e controlar pulgões no pomar. Todas as plantas com sintomas de viroses devem ser erradicadas. 14 COLHEITA E PÓS-COLHEITA 14.1 Ponto de colheita O fruto do maracujazeiro-azedo deve ser colhido quando apresentar coloração da casca amarelada. A fruta pode cair da planta quando está bem madura, prejudicando assim suas características externas, devendo ser colhida antes com uma tesoura. a) Indústria Efetuar a colheita, semanalmente, de todas as frutas caídas e daquelas ainda presas à planta. Em seguida, colocá-las em sacos especiais, mantendo-as sempre à sombra, sendo remetidas ao destino o mais rápido possível. 29 Frutas atacadas por pragas e doenças ou imprestáveis para comercialização, deverão ser retiradas da lavoura e enterradas. b) Mercado de frutas frescas A colheita deve ser realizada em consonância com os dias favoráveis de comercialização, normalmente duas a três vezes por semana. As frutas devem ser retiradas da planta com aproximadamente 70% da casca amarelada, evitando manuseio excessivos e quedas bruscas das embalagens. Os utensílios utilizados na colheita (sacos, caixas e ferramentas) não devem ser misturados com aqueles de transporte. Deve-se evitar transitar ou utilizar no pomar embalagens provenientes de outros pomares, notadamente aquelas vindas de outros centros de comercialização. 14.2 Classificação As frutas do maracujazeiro-azedo podem ser classificadas, quanto à sua aparência externa e ao tamanho, em três categorias (CEASA): Classe A: frutas sem manchas na casca, sem qualquer deformação e com peso acima de 250 g. Classe B: frutas sem manchas na casca, sem qualquer deformação e com peso entre 120 a 249 g. Classe C: frutas com peso menor que 120 g, podendo apresentar mancha na casca ou não. Outro tipo de classificação adotada pela CEAGESP é segundo os tipos A, B e C. Estes correspondem a tamanhos decrescentes das frutas de 30 maracujá, que vão de 75 frutas por caixa para o tipo A, de 75 a 90 para o B e de mais de 90 para o C. 15 CUSTO DE PRODUÇÃO O custo de produção preconizado objetiva a obtenção de uma maior produtividade por área, resultando, conseqüentemente, em um maior retorno econômico da cultura. O custo de implantação e manutenção no 1º ano de 1 hectare com um bom nível tecnológico, gira em torno de 1.500 (sem irrigação) e 3.000 US$ (com o uso de sistema de irrigação). Os custos de produção no segundo e terceiro ano são de US$ 520 a 650 e US$ 500 a 600, respectivamente. A rentabilidade da cultura pode variar em função do nível tecnológico do produtor e do destino da produção (indústria e/ou fruta fresca). Em geral, o preço pago pela indústria está em torno de US$ 0,10- 0,35/kg e o preço da caixa da fruta fresca (16 kg) pode variar US$ 8,0 a 20,0, em função da época e ou da quantidade ofertada. Grande parte da colheita do maracujá-azedo no Brasil se concentra nos meses de outubro a junho, com variações de acordo com as diferentes regiões. Os preços mais altos são alcançados nos meses de agosto a dezembro, coincidindo com a época de menor oferta. É importante ressaltar uma queda acentuada nos preços no período que vai de maio até o início de agosto, em função da concorrência com outras frutas da época. 31 Quadro 1 Custo operacional para a produção de 1 ha de maracujá-azedo (espaçamento 3 X 5 m) e manutenção do 1° ano (1° safra). Discriminação Unid. Quantid. 1. SERVIÇOS -calagem h/m 11 -aração e gradagem h/m 04 -marcação da área h/h 06 -coveamento p/ estacas h/h 100 -coveamento p/ mudas h/h 100 -adubação de covas h/h 04 -espaldeira h/h 96 -plantio das mudas h/h 06 -tutoramento (1 fio de arame) h/h 24 -poda de condução h/h 20 -capina manual h/h 128 -roçagem h/m 06 -aplicação de defensivos h/h 20 -adubação de cobertura h/h 16 -polinização h/h 400 -colheita h/h 250 32 Quadro 1 Continuação. Discriminação Unid. Quantid. 2. INSUMOS -mudas un. 700 -calcário (transp.) t 02 -sulfato de amônia kg 123 -superfosfato simples kg 666 -cloreto de potássio kg 30 -esterco de curral t 12 -formicida (isca) kg02 -fungicida kg 06 -inseticida L 06 -espalhante adesivo L 01 -arame liso n° 10 ou 12 Rolo 02,5 -cordão Rolo 02 -grampo kg 02 -estacas un. 667 -caixa tipo K un. 1500 33 Quadro 2 Custo operacional para a produção de 1 ha (2° ano) de maracujá- azedo (espaçamento 3 X 5 m). Discriminação Unid. Quantid. 1. SERVIÇOS -poda h/h 40 -capina manual h/h 80 -roçagem h/m 12 -adubação de cobertura h/h 16 -polinização h/h 400 -pulverização h/h 60 -colheita h/h 250 2. INSUMOS -uréia kg 300 -superfosfato simples kg 80 -cloreto de potássio kg 150 -fungicida kg 06 -inseticida L 06 34 Quadro 3 Custo operacional para a produção de 1 ha (3° ano) de maracujá- azedo (espaçamento 3 X 5 m). Discriminação Unid. Quantid. 1. SERVIÇOS -poda h/h 40 -capina manual h/h 80 -roçagem h/m 12 -adubação de cobertura h/h 16 -polinização h/h 400 -pulverização h/h 60 -colheita h/h 250 2. INSUMOS -uréia Kg 300 -superfosfato simples Kg 80 -cloreto de potássio Kg 150 -fungicida Kg 06 -inseticida L 06 Fonte: Instituto de Economia Agrícola, 1999. 35 16 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BRASIL. Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária. Maracujá para exportação: aspectos técnicos da produção. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1996. 64 p. (EMBRAPA-SPI Publicações Técnicas FRUPEX, 19). BRASIL. Ministério da Integração Nacional; Secretaria da Infra-Estrutura Hídrica. Maracujá. Brasília, 2002. 8p. (FrutiSéries, 2). BRUCKNER, C.M.; PICANÇO, M.C. Maracujá: tecnologia de produção, pós-colheita, agroindústria, mercado. Porto Alegre: Cinco Continentes Editora, 2001. v.1. 472p. COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais: 5ª aproximação. Viçosa, 1999. 359 p. INFORME AGROPECUÁRIO. A Cultura do maracujazeiro. Belo Horizonte: EPAMIG, 2000. v.3. n.25. 88p. LIMA, A. A. de. Por que plantar maracujá? Cruz das Almas: EMBRAPA-CNPMF, 1993. 2 p. (EMBRAPA-CNPMF. FOCO, n.85). MELETTI, L. M. M.; MAIA, M. L. Maracujá: produção e comercialização. Campinas: IAC, 1999. 64 p. (CICA Boletim técnico, 181). PIZA JUNIOR, C. T. de. A cultura do maracujá. Campinas: CATI, 1991. 71 p. RAMOS, J. D. Cultura do maracujazeiro. Aracaju: SUDAP/LOPEA/ EEB, 1986. 16 p. SANTOS FILHO, H. P. Murchas do maracujazeiro. Cruz das Almas: EMBRAPA-CNPMF, 1993. 2 p. (EMBRAPA CNPMF. FOCO, 75). SÃO JOSÉ, A. R. (Ed.). Maracujá, produção e mercado. Vitória da Conquista: DFZ/UESB, 1994. 255 p. 36 SÃO JOSÉ, A. R.; FERREIRA, F. R.; VAS, R. L. (Coord.). A cultura do maracujá no Brasil. Jaboticabal: FUNEP, 1991. 247 p. SÃO PAULO. Secretaria da Agricultura e Abastecimento. Destino dos hortigranjeiros comercializados na CEAGESP, entreporto terminal São Paulo. 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