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ACESSIBILIDADE NO TRANSPORTE COLETIVO PÚBLICO COMO DIREITO A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

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Curso: DIREITO
ACESSIBILIDADE NO TRANSPORTE COLETIVO PÚBLICO COMO DIREITO A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Autor
Problematização
Algumas cidades brasileiras, em especial, as capitais e seu entorno, receberam um grande fluxo de pessoas em busca de oportunidade de trabalho. Esse crescimento populacional não foi acompanhado da necessária infraestrutura de serviços públicos, capaz de oferecer condições mínimas de vida digna a estes migrantes. Eles se fixaram na periferia das grandes cidades, em moradias precárias, nem sempre atendidas pelo serviço de abastecimento de água e de pavimentação, necessitando percorrer longas distâncias para realizar suas atividades cotidianas: trabalho, educação, consumo.
Neste contexto, destaca-se os problemas relacionados ao transporte público coletivo, em razão de o acesso a este serviço possibilitar menor ou maior grau de mobilidade urbana. A mobilidade urbana é a capacidade de as pessoas se descolarem nos centros urbanos e realizarem as atividades normais da vida. De modo que, um sistema de transporte público que não considera as necessidades especiais, por exemplo, da população cadeirante ou com mobilidade reduzida e daqueles que não compreendem o mundo a partir dos sinais visuais ou auditivos padrão, não pode ser considerado acessível.
Objetivo geral
Analisar, sob o prisma do princípio da dignidade da pessoa humana, a acessibilidade no transporte público coletivo.
Objetivos específicos
Compreender o conceito de acessibilidade;
Identificar quais requisitos o transporte público coletivo deve atender para ser considerado acessível;
Relacionar o direito a acessibilidade ao direito a dignidade da pessoa humana.
Justificativa
O art. 8º, inciso I, do Decreto nº 5.296/2004, define acessibilidade como a “condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida”.
Isto porque, a pessoa com necessidade especial, como titular dos direitos conferidos pela Constituição Federal, deve poder, com autonomia total ou sob a assistência de cuidador, circular e fazer uso da cidade, como qualquer outro cidadão.
A NBR 1422, define as exigências que devem ser atendidas pelos veículos de transporte coletivo de passageiros para que possam ser considerados acessíveis, como, por exemplo, possuir piso baixo ou rebaixável, de modo a permitir o embarque de pessoas com mobilidade reduzida; e, elevadores e espaços para cadeiras de rodas.
A liberdade, que inclui o direito de ir e vir, é um dos valores mais caros a sociedade; tanto é que, aqueles que praticam fatos tipificados como crimes, são punidos com a privação de sua liberdade, por meio de penas de reclusão ou detenção.
Conforme Moraes (2016, p. 74) a dignidade da pessoa humana é a ideia fundante que une os direitos e garantias fundamentais. A dignidade “[…] é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, [...] constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar […]”. A dignidade humana traduz, portanto, a ideia de que o ser humano deve ser respeitado pelos demais e pelo Estado em sua existência, material e espiritual, sendo vedado sujeitá-lo a condições degradantes.
Assim, adaptar os veículos de transporte público coletivos as necessidades de pessoas portadoras de deficiência permite que elas possam circular pelo espaço público, respeitando-as enquanto seres humanos, permitindo-lhes viver como qualquer outra pessoa que não possua limitações físicas.
Introdução
A acessibilidade no transporte coletivo público, entendida como a capacidade de o sistema permitir o descolamento de pessoas portadoras de necessidades especiais no ambiente urbano, é uma expressão do direito a dignidade da pessoa humana. Isto porque, não se pode conceber que o indivíduo que possua limitações físicas seja impedido de circular pelo espaço urbano pela incapacidade dos veículos de transporte coletivo atenderem as necessidades desta população, tais como elevadores, plataforma rebaixável, sinais sonoros e luminosos. Posto que todos são iguais perante a lei, possuindo os mesmos direitos que as pessoas sem limitações físicas.
Neste sentido, o presente trabalho, partindo da constatação das dificuldades enfrentadas pelas pessoas portadoras de necessidades especiais no uso do transporte urbano, tendo assim, seu direito de liberdade e a dignidade da pessoa humana restringido, analisará a acessibilidade no transporte público coletivo.
Para alcançar este objetivo será necessário conceituar o que se denomina acessibilidade, identificando suas implicações e regulamentação, de modo a conhecer os requisitos que o transporte público coletivo deve atender para ser considerado acessível. Bem como, relacionar o direito a acessibilidade ao direito a dignidade da pessoa humana.
A hipótese é a de que, um sistema de transporte coletivo urbano atenderá aos postulados do princípio da dignidade da pessoa humana se for acessível.
De modo que o trabalho será dividido em três momentos: o conceito de acessibilidade e sua relação com o direito a liberdade e a igualdade; a regulamentação do direito a acessibilidade, por meio de normas que especificam características de que os veículos de transporte coletivo devem ser dotadas; e, a realização do princípio da dignidade da pessoa humana por meio de um transporte coletivo urbano acessível.
Desenvolvimento
Acessibilidade: liberdade e a igualdade para a população portadora de necessidades especiais
O Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004, estabelece normas de caráter geral e critérios para fomentar a acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Dirigindo-se a todos as pessoas, físicas ou jurídicas, que pretendam realizar obras de destinação pública ou coletiva, incluídos os projetos de natureza arquitetônica, urbanística, de comunicação, de informação, de transporte coletivo.
O art. 5º, do Decreto 5.296, estabelece que os órgãos da administração pública, as empresas que prestam serviços públicos e as instituições financeiras devem proporcionar atendimento prioritário às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. As pessoas portadoras de deficiência são aquelas que possuem alguma limitação ou incapacidade para o desempenho de atividade, podendo ser de natureza física, auditiva, visual ou mental.
Conforme o § 1º, inciso I, do art. 5º do Decreto 2.296, considera-se pessoa com deficiência física, aquela que possui “[…] alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física […]”. Aqui incluídas as pessoas que não conseguem movimentar as pernas; que tem os movimentos dos membros inferiores parcialmente comprometidos; amputados; paralisia cerebral; nanismo; ou qualquer outra deformidade congênita ou adquirida, que dificulte a realização das atividades cotidianas. A deficiência auditiva é a condição do indivíduo que tem “[…] perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais […]”. A deficiência visual, por sua vez, caracteriza-se pela cegueira ou baixa visão; e a deficiência mental, pelo desenvolvimento intelectual inferior à média da população, manifestado antes dos dezoito anos, que implique limitação em duas ou mais das seguintes habilidades: comunicação; cuidado pessoal; habilidades sociais; utilização dos recursos da comunidade; saúde e segurança; habilidades acadêmicas; lazer; e trabalho. Considera-se deficiência múltipla, a condição de pessoa em que se associam duas ou mais deficiências.
O inciso II, do § 1º, do art. 5º do Decreto 2.296, considera pessoa com mobilidade reduzida, aquela que apresenta dificuldade de movimentar-se, de forma permanente ou temporária, com diminuição na sua mobilidade, flexibilidade, coordenação motora e percepção. O § 2º do referido dispositivo, inclui no rol de pessoas que possuem direito ao atendimento prioritário,àquelas com idade igual ou superior a sessenta anos, as gestantes, lactantes e pessoas com criança de colo.
O atendimento prioritário compreende tanto o tratamento diferenciado – assentos de uso preferencial, espaços e instalações acessíveis, mobiliário adaptado aos cadeirantes, intérpretes em LIBRAS, capacitação de pessoal para atendimento às pessoas com deficiência visual, mental e múltipla, bem como às pessoas idosas, área de embarque e desembarque especial para pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, sinalização de orientação no ambiente, admissão e permanência de cão-guia durante o atendimento; quanto o atendimento imediato, entendido como aquele anterior a qualquer outro, concluído o que estiver em andamento.
De todo o exposto, compreende-se que, dadas as características de determinados grupos de indivíduos – portadores de deficiências, com mobilidade reduzida, idosos, gestantes, lactantes, pessoas com crianças de colo, seu acesso aos serviços e ao espaço público não se dão do mesmo modo que o das pessoas sem as limitações mencionadas, motivo pelo qual, foi necessário criar normas que pudessem reduzir as assimetrias existentes no atendimento e circulação destas pessoas pelo ambiente coletivo.
O art. 8º, inciso I, do Decreto nº 5.296/2004, define acessibilidade como a premissa para a utilização segura e autônoma, de forma total ou mediante assistência, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, “[…] dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação [...]”.
De forma que, a acessibilidade garante, não só o direito a liberdade, permitindo o deslocamento das pessoas portadoras de necessidades especiais pelos espaços públicos e coletivos; mas, também, cria mecanismos para efetivar o direito a igualdade, na medida em que trata essa população respeitando suas diferenças. Isto é assim porque o princípio da igualdade informa o sistema jurídico nacional com a noção de que deve-se tratar os iguais na medida da sua igualdade e, os desiguais, na proporção de suas desigualdades.
A acessibilidade e o transporte público
O Decreto 5.296, no art. 8º, inciso II, define barreiras, como qualquer impedimento ou obstáculo que restrinja ou negue “[…] o acesso, a liberdade de movimento, a circulação com segurança e a possibilidade de as pessoas se comunicarem ou terem acesso à informação […]”.
As barreiras enfrentadas pelas pessoas portadoras de necessidades especiais podem ser urbanísticas – aquelas existentes nas vias e nos espaços de uso público, tais como falta de rampas para acesso à calçada e passeio público irregular; nas edificações – portas estreitas, ausência de rampas e elevadores; nos transportes – inexistência ou espaço inadequado para cadeira de rodas.
Segundo a NBR 14022, que trata da acessibilidade em veículos de características urbanas para o transporte coletivo de passageiros, os pontos de parada, embarque, desembarque, os terminais, os veículos, enfim, o conjunto do equipamento público utilizado no sistema de transporte coletivo, deve estar adaptado para atender as necessidades das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.
Assim, os pontos de parada, devem ser compatíveis com a tecnologia veicular adotada. Ou seja, independentemente da posição onde se encontre, no veículo, o piso baixo, o ponto de parada deve permitir o embarque do cadeirante ou da pessoa com mobilidade reduzida.
A imagem abaixo ilustra as posições onde se pode encontrar o piso baixo nos veículos de transporte coletivo:
Fonte: NBR 14022, p. 7
Os terminais devem ter assentos disponíveis para uso das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, que devem estar localizados próximos ao ponto de embarque, identificados e sinalizados, em percentual não inferior a 20% do total disponibilizado. (NBR 14022, p. 8)
Quanto aos veículos, determina a NBR 14022 (p. 8-9), que nenhum obstáculo na entrada e na saída do veículo, que impeça o acesso das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, pode existir. De modo que o veículo, para ser considerado acessível, deve possuir piso baixo; ou, se possuir piso alto, deve poder ser acessado por meio de plataforma de embarque e desembarque adequada a altura do veículo; ou, ainda, possuindo piso alto, deve estar equipado com plataforma elevatória veicular. Sendo sempre preferível as alternativas que proporcionem o embarque da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida de forma autônoma no veículo; de forma que a plataforma elevatória veicular somente deve ser considerada quando impossível a viabilidade das alternativas anteriores.
Especificamente em relação aos cadeirantes, os veículos de transporte coletivo devem contar com uma área de giro. A área de giro é um espaço livre no interior do veículo, com circunferência de 1,2 metro, que permita ao cadeirante manobrar, girar e deslocar a cadeira de rodas, de modo a acomodar-se na área reservada para si, conforme a figura abaixo:
Fonte: NBR 14022, p. 10
Os aspectos acima apresentados, são exemplos de adaptações que o sistema de transporte coletivo deve apresentar para ser considerado acessível.
A efetivação do princípio da dignidade da pessoa humana por meio de um transporte coletivo urbano acessível
Mendes (2017. p. 1171) afirma que somente é possível definir o conteúdo do princípio da dignidade da pessoa humana, a partir do “[...] exame sistemático das disposições constitucionais integrantes do modelo constitucional [...] e sempre à luz de um caso concreto”. Mendes explica que é a partir do conjunto das normas de determinado sistema constitucional e das relações de interdependência entre os direitos e garantias fundamentais por ele consagrados, que se identificam as disposições essenciais, fundantes, daquele Estado. Esses valores sobre os quais o Estado é construído, estabelecem os parâmetros de avaliação do que, no caso concreto, se pode considerar dignidade da pessoa humana.
A partir das considerações feitas, observando-se o sistema de transporte coletivo, percebe-se grande evolução social e de efetividade dos direitos consagrados pela Constituição Federal. Isto porque, as necessidades especiais das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida passaram a ganhar visibilidade e ser objeto de políticas públicas e legislações específicas em passado recente; o Decreto 5.296, por exemplo, é de 2004.
Promover as adaptações necessárias para que as pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida possam utilizar o transporte público coletivo, sem dúvida, foi uma conquista importante para a cidadania destas pessoas. Pois, ser cidadão, pressupõe, que a pessoa possa viver em sociedade gozando de todas as prerrogativas conferidas aqueles que pertencem a determinado Estado.
Se um cadeirante precisa ficar confinado aos limites da sua residência, porque o passeio e as vias públicas não lhe permitem transitar; ou, se permite, não consegue percorrer o trajeto necessário em razão da distância e da falta de transporte público, então, lhe são negados direitos básicos. Não só sua liberdade é tolida, mas também seu acesso à saúde, a educação, ao lazer. O transporte público permite a inserção das pessoas portadoras de deficiência e com mobilidade reduzida na vida da cidade, de forma autônoma, podendo, elas próprias, realizarem as atividades cotidianas, comuns a qualquer pessoa. Essa liberdade, de poder determinar-se com autonomia, é algo valioso e que deve ser encarado com seriedade pelos poderes públicos e merece especial proteção do direito.
Metodologia
O método utilizado foi o indutivo, pois partiu-se da análise do conceito de acessibilidade, da definição legal de pessoa portadora de deficiência e de mobilidade reduzida, passando pela definição de tratamento prioritário; bem como, pela regulamentação das características que o transporte público deve ostentar para ser considerado acessível; para, ao final, concluir pela efetividade ou não do princípio da dignidadeda pessoa humanada.
Para tanto, utilizou-se a pesquisa bibliográfica, em especial, em doutrinas de direito constitucional; bem como, a consulta a legislação infraconstitucional e norma regulamentadora.
Resultados
O objetivo do presente trabalho foi analisar a acessibilidade no transporte público coletivo sob a ótica do princípio da dignidade da pessoa humana. Para alcançar tal objetivo foi necessário compreender o conceito de acessibilidade, identificar os requisitos que o transporte coletivo público deve atender para ser considerado acessível e relacionar o direito a acessibilidade as diretrizes constitucionais de proteção da dignidade da pessoa humana.
Desta forma, identificou-se que o conceito de acessibilidade é definido pelo art. 8º, inciso I, do Decreto nº 5.296/2004, o qual caracteriza acessibilidade como um pressuposto para a utilização segura e autônoma dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, de forma total ou mediante assistência, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Portanto, o conceito de acessibilidade engloba não só o acesso as edificações e ao mobiliário, por meio, por exemplo, de rampas, elevadores, portas amplas, mas, também, ao transporte público e a comunicação e informação. O conceito de acessibilidade deve ser aplicado em todas as circunstâncias em que uma pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida encontre uma barreira para o exercício de algum direito. De modo que não pode ser considerado taxativo, mas exemplificativo, identificando hipóteses de aplicação do conceito, mas não se restringindo a elas.
No que tange ao direito a acessibilidade no transporte coletivo público, um conceito que se sobressaiu na pesquisa é o de “barreira”. Uma barreira é qualquer impedimento ou obstáculo que diminua ou retire o direito ao acesso, a liberdade de movimento, a circulação com segurança, a comunicação ou a informação. Aqui se inclui, exemplificativamente, o desnível das vias públicas, telefones sem tecnologia adaptada as necessidades de pessoas com deficiência visual e veículos de transporte coletivo não adaptados, sem espaço para cadeirantes, sem piso rebaixado.
Entre outras normas, a NBR 14022, trata da acessibilidade em veículos de características urbanas para o transporte coletivo de passageiros, disciplinando sobre os pontos de parada, embarque, desembarque, os terminais, os veículos, enfim, o conjunto do equipamento público utilizado no sistema de transporte coletivo, estabelecendo diretrizes para atender as necessidades das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.
O presente trabalho não pretendeu esgotar o tema, mas tão somente apresentar exemplos de adaptações que o sistema de transporte coletivo deve apresentar para ser considerado acessível, efetivando o princípio da dignidade da pessoa humana.
O conteúdo do princípio da dignidade da pessoa humana é de difícil caracterização em razão de sua amplitude. O que se pode afirmar sobre tal princípio é que ele sempre será melhor caracterizado analisando-se o caso concreto à luz das diretrizes constitucionais.
Neste sentido, as necessidades especiais das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida passaram a ganhar visibilidade e ser objeto de políticas públicas e legislações específicas em passado recente e ulterior a Constituição Federal de 1988.
As pessoas portadoras de necessidades especiais ficavam “escondidas” e, portanto, as dificuldades por elas enfrentadas para acessar os direitos conferidos a todos pela Constituição não eram divulgadas e, muito menos, consideradas na organização dos serviços e das políticas públicas. É com a luta destas pessoas e de suas famílias que a sociedade passa a exigir dos poderes públicos políticas que permitam sua inserção. A adaptabilidade do transporte coletivo público é um exemplo destas exigências, portanto.
O transporte público permite que as pessoas portadoras de deficiência e com mobilidade reduzida se insiram na vida da cidade, de forma autônoma ou mediante assistência. Através da acessibilidade do transporte público esse grupo de pessoas podem realizar as atividades cotidianas, comuns a qualquer indivíduo, como ir a um posto de saúde ou a uma loja. Essa liberdade é um direito inerente a qualquer ser humano e deve ser encarado com seriedade pelos poderes públicos e merece especial proteção do direito.
Em suma, a acessibilidade garante, não só o direito a liberdade, permitindo o deslocamento das pessoas portadoras de necessidades especiais pelos espaços públicos e coletivos; mas, também, cria mecanismos para efetivar o direito a igualdade, na medida em que trata essa população respeitando suas diferenças. Ou seja, consagra a ideia de que igualdade é tratar os iguais de forma igual e os desiguais, na proporção de suas desigualdades.
Conclusão
A problemática que perpassa o presente trabalho foi a identificação de que existe uma parcela da população – as pessoas portadoras de necessidades especiais ou com mobilidade reduzida – que não têm as mesmas condições de acesso à cidade e aos serviços públicos que a outra parcela. O crescimento desordenado das cidades, empurrou a população para a periferia, requerendo a conformação de um sistema de transporte que possibilitasse o seu acesso aos demais pontos do espaço urbano. Quando se pensa nas pessoas portadoras de necessidades especiais e com mobilidade reduzida, o acesso à cidade e aos serviços públicos se mostra mais precário, pois exige que o sistema de transporte público seja adaptado as peculiaridades desta população.
Por outro lado, a Constituição Federal determina que seja respeitada a dignidade da pessoa humana. O que leva ao questionamento sobre a efetividade deste princípio, quando considerada a realidade acima narrada.
Nesta análise encontra-se o debate sobre a acessibilidade, considerada como a possibilidade de as pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida superarem as barreiras existentes nos espaços públicos. Daí a necessidade de normas que disciplinem a superação destas barreiras, efetivando-se os direitos constitucionalmente assegurados a todos os cidadãos.
Assim, é possível afirmar que as políticas públicas de acessibilidade, em especial, aquelas direcionadas a adaptação do transporte público coletivo as necessidades das pessoas portadoras de deficiência e com mobilidade reduzida, atendem ao princípio da dignidade da pessoa humana, pois consagram a noção de respeito as diferenças. Ou seja, a igualdade não pode ser apenas formal, mas deve ser sentida na realidade da vida.
O presente trabalho, portanto, apresenta as diretrizes gerais que devem nortear o serviço de transporte público coletivo para ser considerado acessível, sem a pretensão de exaurir o tema.
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm> Acesso em 03/05/2021.
BRASIL. Decreto 5.296 de 02 de dezembro de 2004. 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm> Acesso em 05/05/2021.
MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
NBR 14022. Acessibilidade em veículos de características urbanas para o transporte coletivo de passageiros. 2006. Disponível em: <https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwjmjrLa77XwAhXxrpUCHfMlAU0QFjAIegQIERAD&url=http%3A%2F%2Fwww.inmetro.gov.br%2Fportalrbmlq%2Fdocumentos_disponiveis%2Fplanfisc%2FNbr14022.pdf&usg=AOvVaw2wFbFSdOp12-h6LOS9lgEx> Acesso em: 05/05/2021
SHIAKU, Aline Cristine. Transporte público em Uberlândia: apropriação de princípios de cidades inteligentes. Dissertação (Mestrado Profissional), Universidade Federal de Uberlândia. Programa de Pós-graduação em Gestão Organizacional. Uberlândia, 2020.

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