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Psicologia Social II - Identidade (Aula 4)

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PSICOLOGIA SOCIAL II 
Aula 4 - Identidade 
• O conceito de identidade é bastante diverso e trabalhado de distintas formas, em diversas disciplinas como antropologia, sociologia e 
psicologia. Isto torna o conceito multifacetado e, por conta disso, bastante complexo estudá-lo. Contudo, apesar das dificuldades, esse 
conceito é muito relevante para a disciplina e se faz necessário conhecer como a psicologia social o tem utilizado. 
• Nesta aula, vamos abordar a categoria identidade a partir dos autores Antônio da Costa Ciampa e Stuart Hall. Você poderá acompanhar as 
discussões sobre conceito de identidade, personagem, encontro com a diferença, identidade pessoal e identidade social. 
Objetivos 
• Conceber a categoria identidade a partir dos autores Antônio da Costa Ciampa e Stuart Hall; 
• Avaliar como a categoria identidade pode ser utilizada como ferramenta para a psicologia social. 
 
Conceito de Identidade 
• O tema de identidade em geral nos remete à forma como é feita a apresentação individual. 
• Você já reparou em como as pessoas são apresentadas em programas de televisão? 
• Imagine a seguinte situação: Você está caminhando pelo seu município e um repórter do principal jornal da sua cidade o(a) aborda para 
uma entrevista que irá tratar dos problemas da sua cidade. Como você se identificaria para o repórter? Quais elementos estão presentes 
na sua resposta? 
• Um exemplo é quando algumas pessoas se identificam como membros de determinada família, utilizando o sobrenome. A família da qual 
as pessoas fazem parte serve como referência de reconhecimento das pessoas em determinada região. Por outro lado, nas histórias em 
quadrinhos, é comum encontrarmos heróis que possuem uma identidade secreta. Afinal, o que isso significa quanto ao modo como ele 
lida com o mundo a sua volta? E você, por acaso age da mesma maneira em casa e no seu trabalho? Será que as pessoas que você 
conhece (mãe, chefe, colega de trabalho, amigo etc.) descreveriam você do mesmo modo? 
• Para a psicologia social, o conceito de identidade representa e produz sentimentos que o indivíduo desenvolve a respeito de si e que é 
uma construção que ocorre na interação social, a partir das histórias individuais, características particulares e no contexto de uma 
determinada cultura. 
Identidade e a Relação do Indivíduo com a Sociedade 
• A questão que se coloca para a psicologia social é: Como compreender esta interação na direção de uma compreensão de identidade? 
• Um dos principais estudos em psicologia social sobre o conceito de identidade foi a pesquisa realizada pelo professor Antonio da Costa 
Ciampa, em 1977, com o tema “A identidade social e suas relações com a ideologia”. Posteriormente, em 1993, na obra A Estória do 
Severino e a História da Severina: um ensaio de Psicologia Social, este conceito é discutido como um processo, em constante movimento. 
Neste caso, a noção de identidade passa a ser entendida como o próprio processo de identificação. 
Comentário - Ciampa (2001) apresenta a ideia de que a identidade se constitui como uma representação de um momento histórico; é parte do 
tempo, do lugar, da família de origem e da vida que o indivíduo vive. 
• Essa proposta de compreensão de identidade contraria as teorias apresentadas até a década de 1980, que entendiam a identidade como 
estática, enquanto o autor destaca a importância das relações sociais, afirmando que, ao compreendermos a identidade, se compreende 
a relação do indivíduo com a sociedade. 
• Para Ciampa (2001), identidade é metamorfose, e a expressão dessa metamorfose ocorre por meio de personagens que representamos 
socialmente. Nas palavras do autor: [...] podemos dizer que as personagens são momentos da identidade, degraus que se sucedem, 
círculos que se voltam sobre si em um movimento, ao mesmo tempo, de progressão e de regressão... Ao mesmo tempo, como o concreto 
é a síntese de múltiplas e distintas determinações, o desenvolvimento da identidade de alguém é determinado pelas condições históricas, 
sociais, materiais dadas, aí incluídas as condições do próprio indivíduo. CIAMPA, 2001, p. 198. Portanto, cada indivíduo apresenta-se 
como autor de diferentes personagens, sendo impossível que o indivíduo se apresente em sua totalidade. O estudo da identidade do 
indivíduo também não pode estar dissociado do estudo da sociedade; caso contrário, teríamos um ser a-histórico, desconectado do 
contexto de vida. 
• Outro autor que discute a categoria identidade como ferramenta de análise é Stuart Hall (2005), um sociólogo jamaicano que trabalhou 
na Inglaterra, vivenciando diferentes culturas. Hall faz uma discussão a partir da proposição de uma crise de identidade, investigando os 
caminhos percorridos por essa crise e propondo novos olhares para o tema: A questão da identidade está sendo extensamente discutida 
na teoria social. Em essência, o argumento é o seguinte: as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão 
em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como sujeito unificado. HALL, 2005, p. 
7 
• Enquanto o pensamento clássico parte de uma compreensão de mundo em que o sujeito não tem dependência ou relação com a 
realidade em que está inserido, Hall (2005) assume que a construção subjetiva das identidades tem relação direta com a realidade que é 
vivenciada pelo sujeito. Portanto, o ser humano não nasce com uma identidade já definida; o desenvolvimento da identidade está 
vinculado ao processo de inserção na cultura. 
Identificação: Um Processo Provisório? 
• Ainda segundo Hall, o próprio processo de identificação tornou-se provisório, transformado continuamente em relação às formas pelas 
quais somos identificados. Identidade será então: Algo formado ao longo do tempo através de processos inconscientes, e não algo inato, 
existente na consciência no momento do nascimento... Ela permanece sempre incompleta, e está sempre em “processo”, sempre sendo 
formada... 
Assim, em vez de falar da identidade como uma coisa acabada, deveríamos falar de identificação e vê-la como um processo em 
andamento. HALL, 2005, p. 24 
• Para Hall (2005), as sociedades modernas se caracterizam por uma mudança estrutural no final do século XX. Ocorreu uma fragmentação 
das referências culturais de gênero, sexualidade, etnia, raça, classe e nacionalidade que forneciam referências sólidas para a identificação. 
Em outras palavras, mudaram, também, as nossas identidades. 
• O contexto social e indivíduo se misturam, oportunizando uma concepção de sujeito, agora como: [...] previamente vivido como tendo 
uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas 
vezes contraditórias ou não resolvidas [...]. 
Esse processo produz o sujeito pós-moderno, conceptualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A 
identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos 
representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. HALL, 2005, p. 12-13 
• A abordagem culturalista presente em seus estudos privilegia as variadas posições que um sujeito adota em sua trajetória e sua 
fragmentação. 
• Os autores dessa perspectiva defendem também que transformações sociais repercutem nas identidades pessoais, posto que a ideia de si 
próprio pode perder a estabilidade nesse período de transformações. Um exemplo disso nos é dado por Sergio Gomes da Silva (2006), no 
seu texto A crise da masculinidade: uma crítica à identidade de gênero e à literatura masculinista, quando fala: [...] a atual crise da 
masculinidade, compreendendo-a como um mal-estar, um conflito identitário originado a partir do movimento feminista e que encontra 
ecos não só na primeira crise como também no culto à masculinidade ocorrido no século XIX. 
 
Tipos de Identidade 
• Stuart Hall (2005) define três tipos de identidade em diferentesmomentos históricos: 
➢ Identidade do sujeito do iluminismo - Possui uma visão individualista do sujeito. 
➢ Identidade do sujeito sociológico - Considerada na sua compreensão da complexidade do mundo moderno, a relação com outras 
pessoas e como isso reflete sobre elas. Também pontua que a cultura tem um papel de mediação. 
➢ Identidade do sujeito pós-moderno - Enfatiza a identidade como um processo de transformação contínua, rejeitando a compreensão 
de algo fixo ou permanente. 
• Essa introdução a alguns autores sobre o tema objetiva apresentar a forma como a categoria identidade tem sido utilizada na psicologia 
através de dois autores próximos da psicologia social. Contudo, esta categoria é utilizada de diferentes maneiras. 
• A própria etimologia contribui para isso, já que a origem da palavra identidade vem do latim, idem, que significa “o mesmo”. Assim, é 
importante se perguntar: Por que estudar identidade, uma vez que a própria palavra não abarca a processualidade desse fenômeno? 
Stuart Hall (2004, p. 104) se posiciona sobre essa questão: [...] uma vez que eles não foram dialeticamente superados e que não existem 
outros conceitos, inteiramente diferentes, que possam substituí-los, não existe nada a fazer senão continuar a se pensar com eles – 
embora agora em suas formas destotalizadas e desconstruídas, não se trabalhando mais no paradigma no qual eles foram originalmente 
gerados. 
• O conceito de identidade vai muito além da psicologia. Disciplinas como filosofia, antropologia e comunicação também se debruçam 
sobre esta ideia e são responsáveis por pesquisas e teorizações acerca dessa temática. 
• Por conta da complexidade e variedade de abordagens possíveis para tratar desse tema, utilizaremos como base da nossa aula o texto O 
papel da diferença na construção da identidade, de Marian Ferrari (2006). 
• Vamos abordar alguns pontos importantes dessa discussão, a saber: personagem, encontro com a diferença, identidade pessoal e 
identidade social. Importante destacar que esse texto está alinhado com a compreensão de identidade do psicólogo Antonio Carlos 
Ciampa, que citamos anteriormente. 
 
Personagem 
• Como vimos, as formas como nossas identidades são construídas não são um processo individual; elas são também influenciadas pela 
ideologia dominante na sociedade em que estamos inseridos. As ideias de nossa cultura influenciam diretamente as personagens que 
construímos e que nos atravessam. Lembrando que “personagem” é conceito do psicólogo social Ciampa (1987), que se refere à 
atualização social de modos de ser decorrentes das interações vividas. 
• O conceito de personagem mostra que Ciampa (1987) entende a identidade como um processo em constante transformação, utilizando o 
termo metamorfose para caracterizá-la. 
Exemplo - Para explicar o complexo movimento dialético da construção da identidade, Ciampa utiliza como exemplo o nosso nome completo. 
Ele é formado por prenome e sobrenome. O primeiro nos identifica, nos torna únicos; o segundo nos coloca como membro de uma família, a 
nossa unicidade perde força. É nessa relação entre igualdade e diferença, singularização e simbiose que formamos nossa identidade. 
• A maneira como Ciampa estuda e teoriza sobre identidade é alinhada com a perspectiva sócio-histórica, posto que os aspectos históricos 
e dialéticos estão presentes na sua escrita. Contudo, percebe-se que a compreensão de um sujeito cada vez mais isolado e individual tem 
ganhado espaço. Isto é resultado do que Jurandir Freire Costa (1989) chama de cultura do narcisismo. Santi (2005, p. 200) explica que 
essa cultura: [...] não é aquela na qual as referências sólidas acabam de se perder, mas aquela na qual a instabilidade de longa data torna-
se insuportável e leva à busca de refúgios que possam parecer mais sólidos e seguros. 
 
Encontro com a diferença 
• Quando falamos da construção da identidade, o encontro com o outro é fundamental. 
Exemplo - Se na sua construção identitária você se define como mulher, é porque existe um homem; se você se define como negro, é porque 
existem brancos, indígenas e amarelos. 
• Nós não nos definimos, por exemplo, como terráqueos, pois nas nossas relações sociais não criamos laços com extraterrestres. Esses são 
simples exemplos para mostrar que na construção de uma identidade – seja ela coletiva ou pessoal – é necessário o outro para termos os 
parâmetros do nosso próprio processo identitário. Contudo, na nossa sociedade atual, como ocorre essa convivência com o outro? Em 
vez de ser entendida como potência de vida, a diferença está ligada ao medo, ao terror, e tendemos a nos afastar do encontro com tudo 
que não é o nosso próprio reflexo. Por isso a reflexão da cultura do narcisismo é tão relevante quando falamos de identidade. Enquanto 
parte de um corpo social, ao negarmos o encontro com o outro, perdemos a nossa capacidade de nos ampliar. 
• Ferrari (2006, p. 6) nos alerta que: Introjetam-se como traços superegoicos valores cuja principal ameaça é o isolamento, a exclusão 
através da perda de amor do outro. Diante destas condições, os laços de confiança, de inventividade e de exploração do desconhecido 
não têm espaço para se realizar. Logo, a singularidade necessária ao processo de individuação não acontece. 
• O que se percebe é que a dicotomia individual/ social é artificial, posto que o primeiro se constrói na vivência social. Mas isso significa 
dizer que não existe identidade pessoal? Claro que não! O que precisa ficar claro é que a identidade pessoal se constrói dentro de um 
sistema de relações sociais preexistente a nossa própria vida. Assim, a identidade pessoal se ergue na criação de múltiplas máscaras que, 
apesar de serem feitas em sociedade, são realizadas de maneira singular. Assim, não podemos jamais confundir que, ao afirmar o caráter 
relacional da identidade, estamos negando a existência de uma identidade pessoal. 
 
Constante Construção 
• Strey (1998) denuncia que a dicotomia entre identidade pessoal e identidade social é falsa, posto que elas são concomitantes, se 
constroem juntas, ao mesmo tempo. 
• O indivíduo ocupa um duplo papel de personagem e autor de sua própria identidade – personagem, pois ele interpreta a sua própria 
história – e autor, já que essa história também é escrita por ele. 
• O fato de, no senso comum, termos, de maneira bem sólida, a ideia de que a identidade é algo estático, dificulta bastante a compreensão 
mais ampla conforme abordado nas pesquisas em psicologia. 
• A letra da famosa Modinha para Gabriela, de Dorival Caymmi, eternizada por Gal Costa, diz assim: 
➢ Eu nasci assim, eu cresci assim 
E sou mesmo assim, vou ser sempre assim 
Gabriela, sempre Gabriela 
Quem me batizou, quem me nomeou 
Pouco me importou, é assim que eu sou 
Gabriela, sempre Gabriela 
• Essa letra passa não só a ideia de que a identidade é imutável e fixa, como também de que a influência externa em nada afeta esse 
processo, como podemos ver nos versos: 
➢ Quem me batizou, quem me nomeou 
Pouco me importou, é assim que eu sou 
• Na realidade, a identidade não é algo acabado; é uma constante construção, que se inicia com o começo da vida e termina com a nossa 
morte. Assim, ao estudarmos a identidade por uma perspectiva sócio-histórica, temos como desafio ir contra uma lógica predominante 
em nossa cultura: 
➢ A de um indivíduo natural, que possui uma essência que determina seus afetos, comportamentos e compreensão da realidade, 
fazendo desse um outro desafio quando decidimos estudar o complexo conceito de identidade. 
• Um exemplo de pesquisa em psicologia que utiliza o conceito de identidade como categoria de análise pode ser encontrado no 
artigo Relações raciais no Brasil e a construção da identidade da pessoa negra. 
• Nesse artigo, os autores, Márcia Cristina Costa Pinto e Ricardo Franklin Ferreira (2014), fazem uma reflexão sobre o processo de 
construção da identidade da pessoa negra em meio às relações raciais brasileiras, estudando um percurso histórico desdea época do 
Brasil Colônia até o período republicano. Nessa pesquisa são abordados conceitos como a ideologia do branqueamento, ocorrida no final 
do século XIX e o mito da democracia racial, ideal desenvolvida em meados do século XX. 
• As autoras sustentam que o caminho para uma conscientização e formação da identidade negra articulada a valores positivos é um 
processo a ser construído. 
• A categoria identidade tem sua importância e influência para a autoestima e a maneira de existir, sendo, portanto, fundamental para a 
compreensão dos processos de como a pessoa negra desenvolve sua identidade, principalmente em contextos sociais adversos, nos quais 
ocorre discriminação. Em propostas semelhantes a esta, a psicologia pode contribuir com diferentes abordagens de fenômenos subjetivos 
ligados ao processo de construção da identidade da pessoa negra e de sua autoestima. Cabe, portanto, à psicologia, assumindo o seu 
compromisso social de melhoria das condições de vida, auxiliar na criação de espaços para a expressão dos sentimentos que são 
produzidos no confronto com o preconceito e a discriminação racial. 
• O tema de relações raciais ainda é pouco explorado pela psicologia no Brasil, e a categoria de identidade pode ser um caminho para 
fomentar discussões e pesquisas nessa área.

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