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Psicologia Social II - Estudos de Gênero e Psicologia (Aula 5)

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PSICOLOGIA SOCIAL II 
Aula 5 - Estudos de Gênero e Psicologia 
• O conceito de gênero não se reduz ao feminismo, mas tem sua origem através das lutas do movimento feminista. Nesta aula, vamos 
verificar como este conceito é utilizado por estudiosos e também sua utilização pela psicologia social. 
• É fundamental a compreensão do conceito como ferramenta de análise social que atende aos princípios de uma psicologia comprometida 
com a transformação social e com os direitos humanos 
Objetivos 
• Identificar a origem dos estudos de gênero; 
• Definir gênero na psicologia social; 
• Examinar como o conceito de gênero pode ser utilizado para análise na psicologia social 
 
Premissa 
• Uma cena ainda comum na família brasileira pode ser retratada no diálogo de uma mãe com a filha, quando a mãe diz: Minha filha, venha 
aprender a fazer isso (cozinhar, lavar, cuidar da casa etc.) [...], pois um dia você irá casar. Se a filha, indignada em perceber que apenas ela 
foi convocada para o trabalho doméstico enquanto o irmão está livre em casa, se queixa com a mãe, reclamando ser injusto ou não 
entender por que apenas ela é obrigada a fazer tais tarefas, sua atitude reflete uma problematização da noção de gênero em sua família. 
Ela está colocando em questão a expectativa de comportamento que a mãe tem sobre ela. Por outro lado, até 1990 era raro encontrar 
um homem caminhando com roupas de cor rosa. Essa cor estava associada ao estereótipo feminino ou homoafetivo, o que poderia 
representar uma desqualificação de sua moral, na percepção masculina da época. Até mesmo as ofensas também refletem expectativas 
sociais. 
• Ofensas dirigidas ao homem 
➢ Mulherzinha 
➢ Bichinha 
➢ Afeminado 
➢ Viado 
• Ofensas dirigidas à mulher 
➢ Piranha 
➢ Vadia 
➢ Biscate 
➢ Puta 
• O que se espera manter com essas desqualificações? Quais comportamentos se quer evitar? O conceito de subjetividade, compreendido 
como modos de ser, de experimentar os afetos, de se relacionar, parte do princípio de que não existe algo que pré-determine os 
comportamentos complexos, os modos de vida de cada pessoa. O que não significa negar as diferenças biológicas, que afinal existem, 
mas apenas como potencialidade. Contudo, o que será feito com as condições em que se experiencia a vida, ou mesmo como serão 
vivenciadas as potencialidades, é próprio da cultura. Dito de outro modo, a mulher tem útero. Sua condição biológica oportuniza 
vivências que não são possibilidades para a pessoa do sexo masculino. Entretanto, o que ela fará a partir da sua condição de pessoa que 
tem útero não está predeterminado, mas será significado nas interações que experienciar, ou seja, será próprio de sua cultura. 
 
Estudo de Relações 
• Colaboram para determinadas percepções e expectativas sobre os sexos reflete o modo como a cultura se organiza, podendo revelar 
discursos e práticas que servem para sustentar desigualdades, hierarquias entre os sexos e, até mesmo, violência. 
Exemplo - Bastaria lembrar que o código civil brasileiro de 1916 vigorou por 86 anos, como exemplo de legislação que institucionalizava a 
desigualdade e a hierarquia. Neste período de vigência, até a década de 1960 a mulher precisava de autorização do marido para poder 
trabalhar. (CABRAL, 2008) 
• Seria ingênuo pensar que as práticas culturais tão fortemente definidas, inclusive legais, não tenham ainda efeitos nas relações de hoje. 
 
Estudos Sobre a Mulher 
• Coincidiram com o início da primeira onda do Movimento Feminista, na década de 1960 nos Estados Unidos e no Reino Unido, que 
centrava suas lutas e reivindicações na mulher pela igualdade de direitos. Este, no entanto, não era um movimento para todas as 
mulheres, e sim para as burguesas, brancas e de classe média/ alta. 
• Segundo Sardenberg (2004), somente a partir da metade da década de 1970, o objeto de estudo sofreu modificações, passando de 
“mulher” para “mulheres”, incluindo, também, as negras e de camadas populares. 
Atenção - O intuito era o de tratar de diferentes situações culturais e sociais e responder às opressões de raça e de classe, observando as 
diferentes realidades experienciadas por cada uma delas. 
• Mesmo diante dessa ampliação, Sardenberg (2004) sinaliza a ausência, naquela época, de um objeto de estudo unânime para as 
feministas acadêmicas e militantes. De acordo com a autora, isso só aconteceu no final da década de 1970, com a conceitualização do 
termo “gênero” que, numa perspectiva feminista, permitiu abarcar relações de poder sobre o masculino e o feminino, bem como 
especificidades marcadas por características histórico-culturais, possibilitando discutir também os objetos de estudo anteriores. 
• Inicialmente, gênero era uma palavra usada como construção social das identidades sexuais, descrevendo o que é socialmente 
construído. Nessa concepção, de acordo com Sardenberg (2004), o sexo era tido como natural e a-histórico. Foi Gayle Rubin, um 
antropólogo cultural americano, quem, na década de 1970, propôs o conceito de sistema sexo/ gênero. Ele enfocou a relação existente 
entre essas duas categorias, ao conceituar esse sistema como “um conjunto de arranjos através dos quais uma sociedade transforma a 
sexualidade biológica em produtos da atividade humana e na qual essas necessidades sexuais transformadas são satisfeitas” (1975, p. 2), 
referindo-se à normatização social que incide e molda cada sexo. 
 
Estudos de Gênero 
• Nas décadas de 1970 e 1980, surgiram discussões feministas sobre o emprego de gênero, que começaram a reavaliar as explicações 
correntes da vida social apoiadas na experiência de mulheres. 
• De acordo com Sorj (1992), esses estudos envolviam duas dimensões: 
➢ A ideia de que o gênero seria um atributo social institucionalizado. 
➢ A noção de que o poder estaria distribuído de modo desigual entre os sexos, subordinando a mulher. 
• A partir do lançamento do artigo Gênero: uma categoria útil para análise histórica, Joan W. Scott (1990) tem sido forte referência em 
pesquisas sobre gênero. A autora realiza um resgate histórico do termo “gênero” e do uso que as feministas nele engendraram, 
caracterizando-o como “uma maneira de referir-se à organização social da relação entre os sexos”. (SCOTT, 1990, p. 2) 
• Carrara et al. (2010) apresentam duas características fundamentais no conceito de gênero, a partir dos quais essa sessão baseará: 
➢ Sua arbitrariedade cultural – ou seja, ele só pode ser compreendido em relação a uma cultura específica, sendo-lhe atribuídos 
sentidos distintos a partir do contexto sociocultural em que se manifesta; 
➢ O caráter necessariamente relacional das categorias de gênero: só é possível conceber o feminino em relação ao masculino, e vice-
versa. 
• Conforme apontado, o advento do movimento feminista e as incursões acerca do gênero mobilizaram estudiosas a inscrever as mulheres 
no aprendizado da história das transformações sociais, visibilizando aquelas que foram propositadamente apagadas dos acontecimentos 
históricos sociais. Vejamos agora contribuições de outros autores: 
➢ Scott – Esse autor atenta para a dimensão de classe e sua relação com as categorias raça e gênero, e problematiza uma suposta 
paridade: o conceito de classe, baseado na teoria marxista, implica considerações sobre determinações econômicas e mudanças 
históricas, enquanto que gênero e raça não implicam o mesmo propósito. Segundo a autora, “no caso de gênero, o seu uso 
comporta um elenco tanto de posições teóricas quanto de simples referências descritivas às relações entre os sexos”. (SCOTT, 1990, 
p. 4). Assim, mesmo que se parta de epistemes distintas, ao pensar gênero enquanto categoria relacional, torna-se imprescindível 
destacar aspectos como raça e classe e, assim, dimensionar as relações de poder e como elas se expressam. “O conceito de gênero, 
hoje corrente em páginas de jornais e textos que orientam as políticas públicas, nasceu de um diálogo entre o movimento feminista 
e suas teóricas, e as pesquisadoras das disciplinas de história,sociologia, antropologia, ciência política, demografia, entre outras.” 
CARRARA, et al., 2010, p. 15 
➢ Gayle Rubin ( 1993) - Outra importante contribuição para o campo dos estudos de gênero partiu da já citada antropóloga que definiu 
como sistema sexo/ gênero a dinâmica que transforma a percepção da diferença “biológica” em produtos da cultura. Para essa 
autora, tal sistema atravessaria a constituição e o destino dos corpos, criando a distinção entre homens e mulheres e a consequente 
dominação masculina. 
➢ Butler (2003) - Para esse autor, gênero foi concebido, originalmente, em oposição a sexo, com a finalidade de questionar a 
construção de que a biologia é o destino, e isto sugeria uma descontinuidade entre corpos sexuados e gêneros culturalmente 
construídos. Posteriormente, o gênero deixou de ser visto apenas como diferença sexual e passou a ser considerado uma categoria 
múltipla e relacional que abarca códigos linguísticos institucionalizados e representações políticas e culturais. 
➢ Sardenberg (2004) - Afirma que o gênero emergiu como um conceito, dentro das grandes ideias que causaram impacto no cenário 
intelectual do final do século XX, abrindo caminho para a desconstrução e a desnaturalização do masculino e do “feminino” — visto 
que a noção do que é ser homem ou mulher também varia de acordo com o tempo e a cultura. Portanto, o gênero passa a ser 
considerado um instrumento de transformação crítica e social. 
➢ Flax (1992) – Também concorda que um dos principais focos dos estudos feministas é a desnaturalização do gênero, ou seja, a noção 
de que ele deve ser desconstruído como essência, na perspectiva biológica, para ser entendido como relacional. Tal conceituação 
incita a reflexões e processos mais complexos e instáveis. Assim, segundo a autora: A não ser que vejamos o gênero como relação 
social, e não como oposição de seres inerentemente diferentes, não seremos capazes de identificar as variedades e limitações de 
diferentes poderes e opressões de mulheres (ou de homens) dentro de sociedades específicas. FLAX, 1992, p. 246 
• As discussões apresentadas têm fortalecido o campo dos estudos culturais e intensificado as críticas às propostas teóricas que 
propunham a determinação de sujeitos a partir do sexo biológico, como a Teoria dos papéis sexuais, de Talcott Parsons e Robert Bales, de 
1955. Vamos continuar analisando as contribuições de diferentes autores: 
➢ Carrara et al. (2010, p. 37) - Afirmam que o trabalho de Parsons e Bales “enfatizava a importância da família e da divisão de tarefas 
entre homens e mulheres para o estabelecimento de papéis complementares que regulavam o funcionamento da ordem social”. 
➢ Bourdieu (2014) - Apresenta a relação entre gêneros como assimétrica. Embora o sociólogo não utilize gênero a partir da categoria 
scottiana, evidencia as características relacionais entre feminino e masculino. O autor apresentou, com base em sua pesquisa com a 
sociedade Cabila, na Argélia, os modos como a construção da masculinidade implicavam em atributos de poder que se expressavam 
numa relação de dominação desta sobre a feminilidade. 
➢ Daniel Welzer-Lang – Acerca da dominação masculina, o sociólogo Daniel Welzer-Lang apresenta: É assim que parece haver 
atualmente um consenso para designar as relações homens/ mulheres como relações sociais de sexo. Dito de outra forma, a 
dominação não deve ser analisada como um bloco monolítico no qual tudo está dado, no qual as relações se reproduzem ao 
idêntico. Mas a análise, tanto global quanto a que se interessa por um campo específico ou por interações particulares, deve 
articular o quadro global, societário (a dominação masculina), e as lutas objetivas ou subjetivas das mulheres e de seus aliados que 
visam a transformar as relações sociais de sexo, logo a modificar a dominação masculina. WELZER-LANG, 2011, p. 461 
• Cabe destacar que essa relação de dominação se expressa a partir da afirmação de uma hegemonia de gênero, que é racializada, 
heterossexualizada, localizada em um território e classe específicos. Sobre isso, Carrara et al. (2010) apresentam a leitura de Michel 
Kimmel sobre a construção da hegemonia masculina: Para Michael Kimmel (1998), o ideal hegemônico de masculinidade é construído ao 
mesmo tempo e em oposição às outras formas de ser homem, geralmente questionadas ou desvalorizadas. Nesse processo entram em 
jogo outros elementos, como classe social, inserção profissional, sexualidade, raça, geração. O exemplo mais acabado da masculinidade 
hegemônica seria o self made man, modelo norte-americano de homem branco, de classe média, bem-sucedido econômica e 
profissionalmente. p. 37 
• Os primeiros estudos sobre gênero no âmbito da Psicologia Social foram pouco expressivos e buscavam identificar as diferenças entre 
homens e mulheres em pesquisas experimentais de laboratório e de campo, referindo-se a sexo e não a gênero. (STREY, 2001) De lá para 
cá, muito se caminhou na Psicologia Social (especialmente após o período de crise da psicologia social), e novos olhares sobre essa 
temática foram surgindo. Eis que então, numa proposição pós-modernista para os estudos sobre gênero na Psicologia Social, adota-se o 
dialogismo e o construtivismo nas suas análises, focalizando as interações com diferentes racionalidades. 
• É essencial pensar a contextualização e a importância da dimensão histórica na produção do conhecimento, enfatizando a dimensão 
simbólica da produção de significados. (OLIVEIRA; AMÂNCIO, 2006) 
• Segundo Nogueira (2001, p. 21), a psicologia: Assume o gênero como construção social, um sistema de significados que se constrói e se 
organiza nas interações, e que governa o acesso ao poder e aos recursos. Não é, pois, um atributo individual, mas uma forma de dar 
sentido às transações: ele não existe nas pessoas, mas sim nas relações. Com base nessas considerações, podemos entender como, a 
partir de uma perspectiva de gênero, homens e mulheres assumem comportamentos e papéis normativos culturalmente estabelecidos e 
desiguais em termos de poder e importância. 
• As mulheres internalizam a sua subordinação e desvalorização com base em discursos sociais institucionalizados que trazem implicações 
diretas na sua constituição de sujeito. Assim como os homens também são diretamente afetados por tais discursos, tendo repercussões 
na sua subjetividade. 
 
Contraponto 
• Cabe, portanto, à Psicologia, enquanto compromisso social com a categoria, com a sociedade e com os direitos humanos, quando estiver 
diante dessas diferenças entre homens e mulheres, atuar promovendo discursos alternativos que questionem o discurso dominante. Ela 
deve identificar e desconstruir estruturas sociais e práticas pessoais e profissionais que sustentam o sexismo e funcionam como 
instrumentos de controle social. 
• As famílias, assim como as escolas, são locais fundamentais para reforçar ou atenuar as diferenças de gênero e suas marcas. Por isso, é 
esesencial que as pessoas adultas que lidam com crianças percebam e tenham consciência disso para poderem contribuir na estimulação 
traços, gostos e aptidões não restritos aos atributos de um ou outro gênero. 
Exemplo - Por que não estimular os meninos, por exemplo, para que sejam carinhosos, cuidadosos, gentis, sensíveis e expressem medo e dor? 
Quem disse que “homem não chora”? As meninas, por sua vez, podem ser incentivadas a praticar esportes, a gostar de carros e motos, ser 
destemidas, aguerridas. 
• Tal aprendizado das regras culturais nos constrói como pessoas, como homens ou mulheres. Colaborar para a formação de um mundo 
justo, em que haja equidade de gênero, inclui estarmos atentos para não educar meninos e meninas de maneiras radicalmente distintas. 
Por isso, precisamos estar atentos e sempre questionar, para que possamos contribuir para a desconstrução desses papéis rígidos de 
gênero, em vez de atuar na perpetuação deles. (CARRARA et al., 2010) 
• Se a socialização ocorre não a partir da categoria geral decrianças, mas por categorias específicas (os estereótipos) de meninos ou 
meninas, quais diferenciações em termos de gênero são possíveis encontrar neste contexto? 
• Estudar essas diferenciações se faz importante, na medida em que elas desempenham papéis essenciais nas manutenções das 
desigualdades de gênero existentes na nossa sociedade. 
• Meninos e meninas crescem sendo direcionados ao que podem e não podem fazer, ao que a sociedade espera de cada um deles. Assim, 
vemos os homens inseridos nas carreiras tecnológicas por exemplo, vemos as mulheres querendo casar e ter filhos, entre outros. 
• Devemos prestar atenção no quanto a socialização de gênero é insidiosa. Oferecer aos meninos e aos rapazes apenas espadas, armas, 
roupas de luta, adereços de guerra, carros, jogos eletrônicos, que os incitem à violência, é facultar como único caminho para a sua 
socialização a agressividade. Assim como o uso do corpo como instrumento de luta, a supervalorização do gosto pela velocidade e pela 
superação de limites. 
Ou ainda, de modo mais sutil, oferecer apenas aos meninos bola, bicicleta e skate, por exemplo, indica-lhes que o espaço público é deles. 
Ao passo que dar às meninas somente miniaturas de utensílios domésticos (ferro de passar roupa, cozinha com panelinhas, bonecas, 
batedeira de bolo, máquina de lavar roupa etc.) é determinar-lhes o espaço privado, o espaço doméstico. 
O que se quer enfatizar é que nos jogos com bonecas, fogõezinhos, panelinhas e ferrinhos de passar, as garotas, da infância à 
adolescência, vão se familiarizando com o trabalho doméstico, como se não houvesse alternativa às mulheres que não o interesse com o 
cuidado do lar e de filhos/as. CARRARA et al., 2010 p. 21 
• Os modelos de homem e de mulher que as crianças têm à sua volta, na família e na escola, apresentados por pessoas adultas, influenciam 
a construção de suas referências de gênero. 
• Quando as crianças entram para a escola, já foram ensinadas pela família e por outros grupos da sociedade quais são os “brinquedos de 
menino” e quais são os “brinquedos de menina”, e esses ensinamentos são ainda reforçados pelos educadores. 
• É preciso perceber que as diversas esferas que compõem a vida social, como a família e a escola, participam ativamente da perpetuação 
de tais relações. (CARRARA et al., 2010) Uma interessante discussão neste tema é feita por Nara Maria Batista Cardoso (2019), no 
texto Psicologia e relações de gênero: a socialização do gênero feminino e suas implicações na violência conjugal em relação às mulheres. 
Atenção - Nesse texto, a autora discute as noções de violência e gênero, abordando como discursos de uma essência ou natureza que pré-
determine os comportamentos ou papéis sociais por vezes fazem ocultar a violência de uma relação, muitas vezes apenas denunciada ou 
socorrida quando ocorre a violência física. 
• Afinal, como a dominação do homem na relação com a mulher é uma característica dos relacionamentos violentos, torna-se mais 
adequado falar em violência de gênero do que em crime passional, que reflete a noção de um excesso de afetos, paixões, que poderia se 
sobrepor à razão. Neste segundo, a ação seria sobre o controle dos afetos, sem discussão das relações, hierarquias ou dominação do 
outro, vista como natural. 
• É interessante notar quando a autora afirma que “a naturalização dos papéis designados às mulheres faz com que se torne invis ível a 
regulação hierárquica dos sentimentos, dos sexos, do uso do dinheiro, do processo de tomada de decisões, ocultando as relações de 
poder na família”. (CARDOSO, 2008, p. 262) 
• Portanto, o conceito de gênero na análise das relações sociais colabora para a desnaturalização de práticas e saberes sobre os sexos que 
servem para a sustentação de relações hierárquicas, condições que oportunizam a violência e a exploração do outro. 
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