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O poder ação e objeto da Ciência Política

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Ana Luiza Bittencourt 
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO 
O poder – ação e objeto da Ciência Política 
- O poder é um potencial que se atualiza em ação, de sorte que se pode apreender o conceito 
de poder a partir do modelo de ação que o subjaz, com profícuas consequências para o embate 
acerca da extensão do objeto da Ciência Política. 
- Os estudiosos dedicados à Ciência Política têm-se debatido em torno da questão: o que é 
política? 
- Para Aristóteles, política é a organização da pólis, da unidade política. 
- Para Weber, a política é baseada no poder, o qual é a capacidade de disposição sobre os meios 
que permitam influenciar a vontade do outro. Já a política é definida por ele como uma atividade 
humana relacionada ao exercício do poder, colocando-a no âmbito do Estado, uma vez que este 
detém o monopólio do poder (político), ou seja, o monopólio do uso legítimo da coação. A 
definição weberiana de poder vem de um modelo teleológico de ação, em que se pressupõe 
que os indivíduos estabelecem objetivos e escolhem os meios apropriados para realizá-los 
(racionalidade estratégica), vinculando o sucesso da ação à sua capacidade de provocar no 
mundo o estado de coisas desejado, o que depende da vontade do outro, e, por isso mesmo, 
deve o ator ter à sua disposição meios que o induzam ao comportamento desejado – o poder. 
- Para Easton, política é a alocação de valores imperativos: recursos materiais e valores 
imateriais. 
- Para Karl Schimitt, política é a relação amigo-inimigo em que só existe um vencedor, pois só 
um ganha a guerra e só um ganha determinado cargo. 
- A política é o uso do poder político em que se decide quais fins individuais devem ser discutidos 
e decididos coletivamente. 
- Política seria então, segundo Gianturco: um conjunto de ações coercitivas para decidir sobre 
fins coletivizados. 
Fins coletivos x fins coletivizados 
- Fim coletivo: um grupo pode se unir voluntariamente em um fim coletivo. 
- Fim coletivizado: aquele que certo grupo é imposto a cumprir. Ex.: soldado que vai à uma 
guerra, pode não querer, mas não tem escolha. 
Política e sociedade 
- Para Mises, política não coincide com a sociedade e a coerção é até o oposto da sua sociedade: 
é sua negação. A violência é a negação da desorganização pacífica do tecido social. 
- A sociedade é o conjunto das relações sociais, sendo que as relações políticas são mais restritas. 
Já a política é um subconjunto da sociedade. 
- Bobbio diz que: “o fim da política não significa o fim de qualquer organização social. Significa 
pura e simplesmente fim daquela forma de organização social que se baseia no uso exclusivo do 
poder coativo.” 
Os fins da política 
- Para Weber, política é uma atividade humana que utiliza como meio a coerção para atingir 
quaisquer fins (bem comum, justiça, igualdade, dominação, dinheiro). O único fim da política é 
a manutenção da ordem (feita por meio da coerção). O objetivo comum a todas as atividades 
políticas seria a posse e a manutenção do poder político, mas trata-se de um fim intermediário 
no caminho para alcançar um dos fins superiores. 
- Por outro lado, Hannah Arendt define poder se aproximando da origem etimológica do termo 
política (pólis), de tudo que é urbano, que diz respeito à cidade, reconhecendo então o exercício 
da política para além dos limites estatais, livre da violência e do caráter estratégico, típicos das 
ações estatais. 
- Essa autora parte de um modelo político de ação que afirma o poder como o resultado da 
capacidade humana de unir-se a outros e atuar em concordância com eles, formando uma 
vontade comum, como uma comunicação orientada para o entendimento recíproco, inerente à 
comunicação linguística. O poder representa a capacidade humana de construção do coletivo, 
diferindo, portanto, da violência, que é o exercício cotidiano do arbítrio sobre os indivíduos de 
modo a que percam sua pluralidade. 
- Este é o dilema acerca da extensão do objeto da Ciência Política > força estatal e coerção x 
vontade comum e construção do coletivo pela comunicação. 
- Habermas pode trazer a junção dessas ideias. Para ele, a ação política é comunicativa, mas 
também estratégica. O poder político tem, para ele, duas dimensões: uma comunicativa, 
relacionada com sua gestação (origem, criação), que se desenvolve na esfera pública e outra 
estratégica, relacionada com sua gestão, que ocorre no Estado. 
- Então a Ciência Política não está limitada aos estudos do Estado, embora seja também essa sua 
tarefa, mas deve lançar olhos sobre a sociedade civil.

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