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Hematologia - 8º semestre - UNIFTC Nícia Torres Estrela Linfom� d� Hodgki�: Doença de Hodgkin (DH): inicialmente descrita em 1832 por Thomas Hodgkin, ao analisar a autópsia de 7 pacientes com aumento importante de cadeias linfonodais e do baço. 2 picos de incidência: ● 1º: 20-30 anos de idade; ● 2º: 50-60 anos de idade. Leve predomínio no sexo masculino (1,3 : 1). Principal tipo histológico: esclerose nodular ⇒ + comum em mulheres jovens. PATOLOGIA E PATOGÊNESE: Histopatologia e marcadores: Doença de Hodgkin é uma das poucas neoplasias em que a célula tumoral representa a minoria da população celular (1-5%). Célula de Reed-Stenberg: é o clone neoplásico da doença, mas NÃO é patognomônico ⇒ células idênticas ou semelhantes podem ser encontradas nos linfonodos de pacientes com ● Mononucleose infecciosa; ● Carcinomas; ● Sarcomas; ● Linfomas não Hodgkin Linfomas não Hodgkin de grandes células podem se assemelhar histopatologicamente à doença de Hodgkin. ● Marcadores que confirmam diagnóstico de Hodking: CD15 (Leu-M1) e CD30 (Ki-1). ○ CD15: marcador de granulócitos; ○ CD30: linfócitos B ou T ativados. Tipos histológicos: ● Esclerose nodular: mais comum (65%), mas não exclusiva. Manifesta com adenopatia cervical e/ou assintomática em adultos jovens. Segundo melhor prognóstico. ● Celularidade mista: 2º mais comum (25%), típico em homens adultos. Sintomas frequentes (febre, perda ponderal e sudorese) costumam ser diagnosticados em estágio mais avançado. Associado ao vírus Epstein-Barr (70%) e é o subtipo mais comum no LH em pacientes HIV positivos com aids. ● Rico em linfócitos: menos comum (< 5%) e de pior prognóstico (+ agressivo e rapidamente fatal). Apresenta febre, pancitopenia, linfocitopenia e anormalidades nas provas de função hepática, mesmo sem linfadenopatia. Predominantemente subdiafragmática, com acometimento hepático, esplênico, retroperitoneal e da medula óssea. Mais comum em idosos ou em pacientes HIV positivos com aids e também associado ao vírus Epstein-Barr. Classificação OMS (imunofenotipagem): 1. LH Clássico (LHC): marcadores CD15 e CD30 positivos. Há 4 subtipos (esclerose nodular, celularidade mista, rico em linfócitos e depleção linfocitária); 2. LH com Predomínio Linfocitário (LHPL): marcadores de linfócitos B (CD20). ATENÇÃO!!! a imunofenotipagem não nos fornece a origem neoplásica das células de Reed-Sternberg. Referência: Medcurso 2020 Hematologia - 8º semestre - UNIFTC Nícia Torres Estrela O LH é um tipo especial de linfoma B ⇒ mutações no clone neoplásico que levaram à perda dos marcadores de superfície dos linfócitos B. APRESENTAÇÃO CLÍNICA E LABORATÓRIO: LH é diagnóstico diferencial extremamente importante das adenomegalias periféricas cervicais e das massas mediastinais. Adenomegalia: ● Manifestação mais frequente; ● Linfonodos acometidos: móveis e elásticos, > 1,5-2 cm e persistentes. ● Eventualmente: endurecidos pela fibrose associada. ● Cadeias mais acometidas: cervical e supraclavicular, mas qualquer sítio de linfonodos pode estar envolvido. ● Comprometimento mediastinal: frequente e de forma isolada. Se em grandes dimensões, pode colapsar lobos do pulmão (atelectasia compressiva); ● Distribuição linfonodal centrípeta (diferente dos linfomas não Hodking); ● Padrão de disseminação: contiguidade (90%) ⇒ linfonodos acometidos a partir de cadeias adjacentes. Evolução de disseminação: ○ 1. Cervicais; ○ 2. Supraclaviculares; ○ 3. Mediastinais/hilares; ○ 4. Abdominais superiores/baço; ○ 5. Abdominais inferiores; ○ 6. Inguinais; ○ 7. Hematogênica (fígado ‒ medula óssea). Esplenomegalia: ● 10-15% dos casos ao diagnóstico; ● Não há correlação direta entre aumento do baço e seu comprometimento. ● 50% dos pacientes: o baço não é acometido na histopatologia; ● 36% dos casos: acometimento esplênico na ausência de esplenomegalia. ● Acometimento esplênico mais comum: adenomegalias subdiafragmáticas, sintomas B e pacientes com subtipo celularidade mista. Comprometimento extranodal: ● Qualquer local; ● Menos comum do que nos linfomas não Hodgkin; ● Raro ocorrer de forma isolada; ● Disseminação hematogênica: fígado e medula óssea (associada com doença avançada, sintomas B e histologia desfavorável); ● Contiguidade: pulmões ⇒ acometimento pulmonar não ocorre na ausência de doença mediastinal e hilar. "Sintomas B": ● Febre, sudorese noturna e perda ponderal > 10%; ● Causa: liberação de mediadores inflamatórios pelas células neoplásicas e pelo sistema imunológico do paciente; ○ IL-1: febre; ○ TNF-alfa: perda de peso (caquexia); ● Possuem valor prognóstico; ● 35% dos pacientes; ● Mais comuns: subtipo celularidade mista; ● Febre: sem padrão definido; ● Febre de Pel-Ebstein: pode acontecer e é bastante sugestiva de linfoma ⇒ dias de febre alta alternados com dias sem febre. Sintomas clássicos sem relação com o prognóstico: NÃO são classificadas como “B” ● Prurido: pode preceder a adenopatia; Referência: Medcurso 2020 Hematologia - 8º semestre - UNIFTC Nícia Torres Estrela ● Dor nos linfonodos: desencadeada pela ingestão de bebidas alcoólicas (característica da doença). Achados laboratoriais: inespecíficos ● Discreta anemia normocítica normocrômica (anemia de doença crônica); ● Leve leucocitose: pode chegar a ter valores > 25.000/mm³ (reação leucemoide); ● Leve linfopenia; ● Leve monocitose; ● Leve eosinofilia: achado frequente, principalmente naqueles que manifestam prurido. Se muito acentuada, pode indicar síndrome paraneoplásica. ● Leve trombocitose; ● VHS, LDH sérico e níveis de beta-2-microglobulina: achados elevados, principalmente nos estágios mais avançados ⇒ usados como fator prognóstico e acompanhamento do tratamento (elevações sugerindo recaída da doença); ● Enzimas hepáticas (especialmente a fosfatase alcalina): elevadas em poucos pacientes e podem ou não indicar acometimento hepático pelo LH. DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO: Diagnóstico: histopatológico dos linfonodos acometidos ⇒ escolher o linfonodo mais representativo para biopsiar. Retirar totalmente. Confirmação diagnóstica: achado de células de Reed-Sternberg, cercadas por um "pano de fundo" de linfócitos, plasmócitos, histiócitos e eosinófilos. Casos duvidosos: realizar imunohistoquímica ⇒ revela o padrão CD15 e CD30. Estágio da doença: ● Determinado à época do diagnóstico; ● Determinante da terapia; ● Acompanhamento dos resultados da terapêutica empregada; ● Classificação mais usada: Ann Arbor; Estadiamento clínico ou EC: ● História e exame clínicos; ● Biópsia linfonodal; ● Exames de imagem; ● Biópsia de medula óssea bilateral. Estadiamento patológico ou EP: ● Laparotomia exploradora com esplenectomia (estudo do baço) ⇒ raramente indicada, apenas em doença infradiafragmática ou oculta em que a biópsia guiada por TC ou por USG não possa ser realizada OU ineficiente. ● Biópsias dos linfonodos abdominais (para estudo). Procedimentos recomendados para o estadiamento da Doença de Hodgkin: 1. Biópsia com material adequado (hematopatologista experiente). Referência: Medcurso 2020 Hematologia - 8º semestre - UNIFTC Nícia Torres Estrela 2. Biópsia de medula óssea e de sítios extranodais suspeitos (ex.: fígado, osso, pulmão, pele). Além de análise citológica de qualquer derrame seroso (ex.: pleural, pericárdico). 3. História e exame físico detalhados. Atenção aos sintomas B e às cadeias linfonodais acometidas, tamanho do fígado, baço e inspeção do anel de Waldeyer. 4. Exames laboratoriais de rotina: hemograma completo, VHS, função hepática, função renal. 5. Radiografia de tórax PA e perfil (avaliar presença de massa bulky, isto é, > 30% do diâmetro torácico). 6. TC de pescoço, tórax, abdome e pelve. 7. PET-scan, cintilografia com gálio 67: cintilografia foi substituída pelo PET-scan (sensibilidade maior e PET negativo serve para afastar a doença em atividade). TRATAMENTO E PROGNÓSTICO: Principais ferramentas no tratamento: quimioterapia e radioterapia ⇒ MENOSefeitos adversos a curto e longo prazo. 2ª linha de tratamento (recidivas quimioterapia): transplante autólogo de células hematopoiéticas. 3ª linha de tratamento (recidivas após o transplante autólogo): brentuximabe vedotina (Adcetris®). Considerar ao escolher o tratamento: ● Estágio da doença (principal determinante); ● Estado clínico do paciente; ● Presença de outras patologias associadas. Radioterapia: Efeitos adversos imediatos: boca seca, alteração do paladar, faringite, náusea, tosse seca, dermatite ⇒ desaparecem rapidamente. Efeitos após 1-3 meses: ● Sinal de Lhermitte (mais comum - 15%): sensação de choque, irradiando pelas costas e membros inferiores após a flexão da cabeça⇒ costuma desaparecer em poucos meses; ● Pneumonite; ● Pericardite. Efeitos tardios: hipotireoidismo, infertilidade (irradiação pélvica) e neoplasias secundárias (após > 10 anos do tratamento - carcinoma de pulmão e carcinoma de mama). Tipos de radioterapia (RT) utilizados no LH: ● RT de "campo envolvido": apenas da região clinicamente envolvida na doença; ● RT "em manto": toda a região cervical, supraclavicular, mediastinal e axilar; ● RT de "campo estendido": campo de manto + andar superior do abdome (para-aórtico + baço); ● RT em "Y" invertido: pelve + andar superior do abdome (para-aórtico + baço); ● RT total: manto + andar superior do abdome + pelve. Quimioterapia: Referência: Medcurso 2020 Hematologia - 8º semestre - UNIFTC Nícia Torres Estrela Esquema ABVD: pouco mielotóxico, não costuma trazer maiores sequelas tardias e não é leucemogênico. ● Adriamicina (doxorrubicina) 25 mg/m² ● Bleomicina 10 mg/m² ● Vinblastina 6 mg/m² ● Dacarbazina 375 mg/m² ● Uma dose de cada uma das 4 drogas (um ciclo) a cada 15 dias, em pelo menos 4 ciclos. Estágio 1 e 2 (“doença precoce”): Chance de cura: entre 80-90%, na ausência de critérios de prognóstico desfavoráveis. Prognóstico "favorável" (todos os seguintes): ● Idade < 50 anos; ● Esclerose nodular; ● Ausência de sintomas B; ● < 3 cadeias linfoides acometidas; ● Ausência de doença volumosa (bulky); ● VHS < 50 mm/h. Prognóstico "desfavorável" (pelo menos um dos seguintes): ● Idade > 50 anos; ● Celularidade mista; ● Sintomas B; ● > 3 cadeias acometidas; ● Doença volumosa (bulky); ● VHS > 50 mm/h ou VHS > 30 mm/h na vigência de sintomas B. Tratamento de 1ª linha (com prognóstico favorável): ● 2 ciclos de ABVD (quimioterapia) + ● Radioterapia de campo envolvido 30 Gy. Estágio 3 e 4 (“doença avançada”) OU Estágio precoce com prognóstico “desfavorável”: Terapia de escolha: ● 6 ciclos de ABVD (no mínimo): pelo menos 2 ciclos após remissão da doença; ● Radioterapia 30 Gy⇒ de "campo envolvido" só é feita sob massas linfonodais volumosas ("bulky"). Esquemas alternativos: mais eficazes que ABVD, entretanto, mais tóxicos, com agentes alquilantes e menor sobrevida. ● BEACOPP; ● STANFORD V Tratamento de recidiva: Recidivas (doença residual pós-terapia): primeiros 3 anos. Recidiva após 1 ano: ● 1ª escolha: novo esquema ABVD; ● Se não responder adequadamente: transplante autólogo de células hematopoiéticas⇒ chance de cura de 50-60% e < 5% de mortalidade. Recidiva dentro de 1 ano após a 1ª quimioterapia ou não remitir após a QT: ● Conduta de maior eficácia: quimioterapia de resgate (esquema DHAP, ver capítulo de LNH) + transplante autólogo. ● Pacientes não candidatos a transplante autólogo: gemcitabina 1.250 mg/m² IV semanal Recidiva após o transplante autólogo: brentuximabe vedotina ⇒ excelentes taxas de resposta! Referência: Medcurso 2020
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